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CARLA DE SOUZA ZAMPIER Capitulo III - Renovação, Regeneração e Reparo dos Tecidos Reparo – refere-se à restauração da arquitetura tecidual e da função após uma lesão; ● Regeneração – tecidos que são capazes de restituir os componentes lesados e essencialmente retornar ao seu estado normal; ● Cicatrização – os tecidos lesados são incapazes de uma reconstituição completa, ou as estruturas de suporte do tecido estão gravemente danificadas, sendo que o processo de reparo ocorre por deposição de tecido conjuntivo (fibroso); ● Fibrose – utilizado para descrever a deposição extensiva de colágeno que ocorre nos pulmões, fígado, rins e outros órgãos, como uma consequência da inflamação crônica, ou no miocárdio após necrose isquêmica extensa (enfarte); - Se a fibrose desenvolve-se numa área de tecido ocupada por um exsudado inflamatório, chama-se organização (ex.: pneumonia organizada que afeta o pulmão). O controlo da proliferação celular: A proliferação dos remanescentes do tecido lesado, das células endoteliais vasculares e dos fibroblastos é coordenada por proteínas que são coletivamente chamadas fatores de crescimento. Ciclo celular: Os processos-chave na proliferação das células são a replicação do DNA e a mitose; - A proliferação celular é regulada por ciclinas que, quando conjugadas com CDK’s, regulam a fosforização de proteínas envolvidas na progressão do ciclo celular, levando à replicação do DNA e à mitose; ● O ciclo celular consiste numa série de etapas nas quais a célula confere a precisão dos processos e instrui a si mesma a prosseguir para a próxima etapa; ● É rigorosamente regulado por estimuladores e inibidores e contém pontos de controle intrínsecos para evitar a replicação de células anormais. Capacidade proliferativa dos tecidos: Tecidos lábeis ● As células lábeis estão continuamente a ser perdidas e repostas pela maturação das células-tronco e pela proliferação das células maduras; ● Ex.: células hematopoiéticas da medula óssea; epitélios de superfície; epitélio cubóide dos ductos que drenam órgãos exócrinos; epitélio colunar do TGI, útero e tubas uterinas; epitélio de transição do trato urinário; Tecidos estáveis ● Possuem células quiescentes (estão na fase G0 do ciclo celular); ● Possuem somente uma atividade replicativa mínima no seu estado normal; ●Estas células são capazes de proliferar em resposta a uma lesão ou perda de massa tecidual; ● Ex.: parênquima da maioria dos tecidos sólidos; células endoteliais, fibroblastos e as células musculares lisas; ● Com a exceção do fígado, estes tecidos possuem uma capacidade limitada para se regenerar após uma lesão. Tecidos permanentes ● As células destes tecidos são consideradas terminalmente diferenciadas e não proliferativas na vida pós-natal; ● Ex.: neurônios e miócitos; ● Uma lesão no cérebro ou no coração é irreversível e resulta numa cicatriz. Células-tronco: Os tecidos que se dividem continuamente contêm células-tronco que se diferenciam para repor as células perdidas e manter a homeostasia tecidual; ● As células-tronco são caracterizadas por duas propriedades importantes: capacidade de auto-regeneração e replicação assimétrica; ● As células-tronco de embriões (células estaminais) são pluripotentes; os tecidos adultos, particularmente a medula óssea, contêm células-tronco adultas capazes de gerar múltiplas linhagens celulares. Mecanismos de sinalização dos receptores dos fatores de crescimento: - Sinalização autocrina: uma substância age predominantemente (ou exclusivamente) na célula que a secreta (ex.: resposta imune, hiperplasia epitelial compensatória); - Sinalização paracrina: uma substância afeta as células que estão na adjacência imediata da célula que a libertou (ex.: resposta inflamatória e cicatrização da ferida); - Sinalização endócrina: uma substância reguladora (ex.: hormônio) é libertada na corrente sanguínea e age em células-alvo à distância; - Receptores com atividade de quinase intrínseca (ex.: EGF e HGF); - Receptores acoplados à proteína G-7; - Receptores sem ação enzimática intrínseca; Matriz extracelular (MEC) e interações entre a célula e a matriz: ● O reparo do tecido não depende somente da atividade dos fatores de crescimento, mas também de interações entre as células e os componentes da MEC; ● A MEC é um complexo macromolecular dinâmico, de remodelação constante, sintetizado localmente, que se organiza numa rede que circunda as células; ● Por fornecer um substrato para a adesão celular e servir como um reservatório para fatores de crescimento, a MEC regula a proliferação, o movimento e a diferenciação das células existentes dentro dela; A MEC existe sob duas formas básicas: - Matriz intersticial: entras as células, constituída de colágenos e várias glicoproteínas; - Membrana basal: subjacente ao epitélio e que circunda os vasos sanguíneos. Papéis da matriz extracelular: ● Suporte mecânico; ● Controlo do crescimento celular e manutenção da diferenciação celular; ● Arcabouço para renovação tecidual; ● Estabelecimento de micro-ambientes teciduais; ● Armazenamento e apresentação de moléculas reguladoras. Componentes da matriz extracelular: ● Proteínas estruturais fibrosas; ● Géis hidratados com água; ● Glicoproteínas adesivas. A MEC inata é necessária para a regeneração tecidual, e se a MEC estiver danificada o reparo só poderá ser realizado pela formação de cicatriz. Célula e regeneração tecidual: ● A renovação celular ocorre continuamente nos tecidos lábeis (ex.: medula óssea); ● A renovação das células hematopoiéticas é conduzida por fatores de crescimento chamados de fatores estimulantes de colônias (CSFs), que são produzidos em resposta ao consumo aumentado ou perda de células sanguíneas; ● Não se sabe se os fatores de crescimento desempenham algum papel na renovação do epitélio lábil; ● A regeneração pode ocorrer nos órgãos parenquimatosos com populações de células estáveis, que é geralmente um processo limitado, exceto no fígado; ● A regeneração extensiva ou a hiperplasia compensatória podem ocorrer somente se o tecido residual estiver estrutural e funcionalmente intacto, como após uma ressecção cirúrgica; Reparo por tecido conjuntivo: ● O reparo ocorre pela reposição das células não-regeneráveis por tecido conjuntivo, ou por uma combinação de regeneração de algumas células e formação de cicatriz; ● O termo “tecido de granulação” (tipo especializado de tecido, característico da cicatrização) é derivado da sua aparência granular, rosada e de consistência mole, tal como é visto sob a crosta da ferida cutânea; - O seu aspecto histológico é caracterizado pela proliferação de fibroblastos e capilares neoformados, delicados, de paredes finas (angiogenese), na MEC fraca; - Então, o tecido de granulação acumula progressivamente matriz de tecido conjuntivo, resultando na formação de uma cicatriz, que se pode remodelar com o tempo; ● O reparo por deposição de tecido conjuntivo consiste em quatro processos seqüenciais: formação de novos vasos sanguíneos (angiogenese); migração e proliferação de fibroblastos; deposição de MEC (formação de cicatriz); e maturação e reorganização do tecido fibroso (remodelação). Migração de fibroblastos e deposição da MEC (formação de cicatriz): ● A formação de cicatriz desenvolve-se na rede de tecido de granulação com vasos neo formados e MEC fraca que se desenvolve inicialmente no local de reparo; ● Ocorre em duas etapas: migração e proliferação de fibroblastos para o local de lesão e deposição de MEC por estas células; ● Os macrófagos são constituintes celulares importantes do tecido de granulação e elaboram inúmeros mediadores que induzem a proliferação dos fibroblastos e a produção de MEC; ● Conforme a cicatrização progride, o número de fibroblastos proliferastes e vasos novos diminui; no entanto, os fibroblastos assumem progressivamente um fenótipo mais sintético e, consequentemente, há um aumento de deposição da MEC; ● A acumulação da rede de colágeno depende não só doaumento da síntese, mas também da diminuição da degradação do colágeno; ● O arcabouço de tecido de granulação evolui para uma cicatriz composta de fibroblastos fusiformes inativos, colágeno denso, fragmentos de tecido elástico e outros componentes da MEC; ● Conforme a cicatriz amadurece, há uma regressão vascular progressiva e o tecido de granulação altamente vascularizado transforma-se numa cicatriz pálida, basicamente avascular. Cicatrização da ferida cutânea: ● As fases principais da cicatrização cutânea são: inflamação, formação de tecido de granulação e remodelação da MEC; ● As feridas cutâneas podem cicatrizar por união primária (primeira intenção) ou união secundária (segunda intenção); - A cicatrização por primeira intenção consiste numa incisão cirúrgica limpa, não-infectada, aproximada por suturas cirúrgicas; - Na cicatrização por segunda intenção, a reação inflamatória é mais intensa, existe um tecido de granulação abundante e a cicatriz contrai-se pela ação dos miofibroblastos, seguido da acumulação de MEC e a formação de uma cicatrização grande. Aspectos patológicos do reparo: ● A cicatrização da ferida pode ser alterada por muitas condições, particularmente pela infecção e pelo diabetes; ● O tipo, o volume e a localização da lesão são fatores importantes para a cicatrização; ● A produção excessiva da MEC pode causar quiloides na pele; ● A estimulação persistente da síntese do colágeno nas doenças inflamatórias crônicas leva à fibrose do tecido.
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