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TEMPERATURA, CALOR E AS LEIS DA TERMODINAˆMICA 1. Temperatura e a Lei Zero da Termodinaˆmica • Uma descric¸a˜o quantitativa dos fenoˆmenos te´rmicos requer a defini- c¸a˜o cuidadosa de termos como temperatura, calor e energia interna. • O conceito de temperatura e´ frequentemente associado com o qua˜o quente ou frio sentimos um objeto quando o tocamos, isto e´, nos- sos sentidos fornecem uma indicac¸a˜o qualitativa da temperatura. No entanto, uma indicac¸a˜o quantitativa confia´vel da temperatura de um objeto/sistema so´ pode ser obtida atrave´s de termoˆmetros. • Sabemos que dois objetos que inicialmente esta˜o a temperaturas dife- rentes eventualmente alcanc¸am uma temperatura intermedia´ria quan- 1 do colocados em contato um com o outro − na verdade, se dois ob- jetos com diferentes temperaturas sa˜o colocados em um container que os isola termicamente do resto do mundo, de modo que um ob- jeto interage apenas com o outro, havera´ troca de energia entre eles, mesmo que os objetos na˜o estejam inicialmente em contato fı´sico. Dizemos enta˜o que dois objetos esta˜o em contato te´rmico um com o outro se energia pode ser trocada entre eles. • A energia transferida de um objeto para outro como resultado da dife- renc¸a de temperatura entre os objetos e´ denominada calor. • Equlı´brio te´rmico e´ a situac¸a˜o na qual dois objetos em contato te´rmico cessam a troca de calor. • Vamos considerar dois objetos, A e B, que na˜o esta˜o em contato te´rmico, e um terceiro objeto, C, que sera´ nosso termoˆmetro. De- sejamos enta˜o determinar se A e B esta˜o em equilı´brio te´rmico um com o outro. • Primeiramente, C e´ colocado em contato te´rmico com A ate´ que o equilı´brio seja alcanc¸ado. A leitura do termoˆmetro e´ enta˜o registrada. Em seguida, C e´ colocado em contato te´rmico com B, e a leitura do termoˆmetro e´ novamente registrada apo´s o equilı´brio te´rmico ter sido alcanc¸ado. Se as duas leituras registradas sa˜o iguais, enta˜o podemos afirmar que A e B esta˜o em equilı´brio te´rmico um com o outro. Lei Zero da Termodinaˆmica: se dois objetos A e B esta˜o separada- mente em equilı´brio te´rmico com um terceiro objeto C, enta˜o A e B esta˜o em equilı´brio te´rmico um com o outro. • A Lei Zero e´ extremamente importante pois nos permite definir tem- peratura. Podemos pensar na temperatura como a propriedade que determina se um objeto esta´ em equilı´brio te´rmico com outro: dois objetos em equilı´brio te´rmico teˆm a mesma temperatura. 2. Termoˆmetros e as Escalas de Temperatura • Termoˆmetros sa˜o dispositivos utilizados para definir e medir tempe- ratura. • Todos os termoˆmetros sa˜o baseados no princı´pio de que alguma pro- priedade fı´sica do sistema varia conforme a temperatura do sistema muda. Algumas dessas propriedades fı´sicas sa˜o (1) o volume de um lı´quido; (2) o comprimento de um so´lido; (3) a pressa˜o de um ga´s com volume constante; (4) o volume de um ga´s com pressa˜o constante; (5) a resisteˆncia ele´trica de um condutor; (6) a cor de um objeto. • Portanto, para uma dada substaˆncia e um intervalo de temperatura, uma escala de temperatura pode ser estabelecida com base em qual- quer uma das propriedades fı´sicas acima. • O termoˆmetro mais comum consiste em um volume de lı´quido (geral- mente mercu´rio ou a´lcool) que se expande dentro de um tubo de vidro quando aquecido. Qualquer mudanc¸a de temperatura pode enta˜o ser definida como sendo proporcional a` variac¸a˜o do comprimento da co- luna do lı´quido. • O termoˆmetro pode ser calibrado ao ser colocado em contato te´rmico com sistemas naturais que permanecem a temperatura constante. Dois exemplos sa˜o: – Mistura de a´gua e gelo em equilı´brio te´rmico (1 atm) − na escala Celsius, tal mistura e´ definida como tendo temperatura de 0◦C, isto e´, e´ o zero da escala (ponto de fusa˜o da a´gua); – Mistura de a´gua e vapor em equilı´brio te´rmico (1 atm) − esse sis- tema possui temperatura de 100◦C na escala Celsius (ponto de ebulic¸a˜o da a´gua). Figura: diagrama de fases da a´gua. • Entretanto, os termoˆmetros calibrados atrave´s do me´todo descrito acima apresentam va´rios problemas: discrepaˆncias nas leituras dos termoˆmetros quando lı´quidos diferentes sa˜o utilizados para medir a temperatura de um mesmo sistema; intervalos limitados de tempe- ratura nos quais os termoˆmetros podem ser utilizados; etc. • Os problemas acima foram contornados com a invenc¸a˜o de um termoˆ- metro universal, cujas leituras sa˜o independentes da substaˆncia uti- lizada. Um exemplo desse tipo de dispositivo e´ o termoˆmetro de ga´s a volume constante. • As leituras de temperatura fornecidas por um termoˆmetro de ga´s sa˜o aproximadamente independentes da substaˆncia utilizada no termoˆme- tro. Uma versa˜o do termoˆmetro de ga´s a volume constante e´ mostrada na figura abaixo. • Experimentos indicam que as leituras do termoˆmetro de ga´s a vo- lume constante sa˜o aproximadamente independentes do tipo de ga´s utilizado, contanto que a pressa˜o do ga´s seja baixa e a temperatura esteja muito acima daquela na qual o ga´s se liquefaz. A concordaˆncia entre as medidas realizadas com termoˆmetros que utilizam gases diferentes melhora a` medida que a pressa˜o e´ reduzida. • O termoˆmetro de ga´s a volume constante era inicialmente calibrado da seguinte maneira: o recipiente contendo ga´s era colocado em con- tato com a´gua no seu ponto de congelamento, e posteriormente com a´gua no seu ponto de ebulic¸a˜o, com o nı´vel de mercu´rio no reser- vato´rio sendo ajustado em cada situac¸a˜o para que o topo da coluna de mercu´rio em A estivesse ajustado ao zero da escala (o volume do ga´s deve permanecer constante). A altura hmedida em cada situac¸a˜o fornece a pressa˜o do ga´s. Com os dois pontos (p, T ) medidos para um dado ga´s, podemos trac¸ar uma curva de calibrac¸a˜o. Figura: curva de calibrac¸a˜o para um ga´s e para treˆs gases diferentes. • Agora vamos supor que as temperaturas sejam medidas com termoˆ- metros contendo diferentes gases a presso˜es iniciais diferentes (figura acima). Se as curvas obtidas forem estendidas para temperaturas negativas, observa-se que temperatura para a qual p = 0 e´ T = −273,15◦C para as treˆs curvas. Por essa raza˜o, o zero da escala de temperatura absoluta e´ exatamente TC = −273,15◦C, e a con- versa˜o entre as escalas absoluta e Celsius e´ dada por T = TC +273,15 ◦, (1) onde T e´ medida em kelvin (K), a unidade de temperatura absoluta no SI. • A escala absoluta de temperatura e´ baseada em um u´nico ponto fixo, o ponto triplo da a´gua, o qual e´ definido por uma combinac¸a˜o u´nica de temperatura e pressa˜o na qual a´gua no estado lı´quido, gasoso e so´lido (gelo) coexistem em equilı´brio. O ponto triplo ocorre a uma temperatura de aproximadamente 0,01◦C e a uma pressa˜o de 4,58 mmHg. 3. Descric¸a˜o Macrosco´pica de um Ga´s Ideal • Vamos agora examinar as propriedades de um ga´s de massa m con- finado em um container de volume V e mantido a uma pressa˜o p e temperatura T . • A equac¸a˜o que relaciona essas treˆs varia´veis termodinaˆmicas, chama- da de equac¸a˜o de estado, e´ em geral muito complicada. No entanto, se o ga´s e´ mantido a uma pressa˜o muito baixa e a uma temperatura relativamente alta (o ga´s na˜o pode sofrer condensac¸a˜o), a equac¸a˜o de estado e´ bem simples e pode ser obtida experimentalmente. Esse tipo de ga´s e´ chamado de ga´s ideal. • O conceito de ga´s ideal implica na auseˆncia de interac¸a˜o entre as mole´culas que formam o ga´s, com as mesmas podendo interagir ape- nas por colisa˜o. Ale´m disso, o volume total das mole´culas pode ser considerado desprezı´vel quando comparado ao volume do container (ga´s com baixa densidade). • E´ conveniente expressarmos a quantidade de ga´s em um dado vo- lume em termos do nu´mero de moles n: 1 mol de uma dada substaˆn- cia e´ aquantidade da substaˆncia que conte´m NA = 6,022 × 1023 partı´culas constituintes (a´tomos ou mole´culas). • O nu´mero de moles n de qualquer substaˆncia esta´ relacionado com a massa da substaˆncia atrave´s da expressa˜o n = m M , (2) onde M e´ a massa molar da substaˆncia (geralmente dada em g/mol). • Suponha enta˜o que um ga´s ideal esteja confinado em um container cilı´ndrico cujo volume pode variar atrave´s do movimento de um pista˜o (figura abaixo). Se na˜o houver vazamento, a massa (ou o nu´mero de moles) do ga´s permanece constante. • Para esse sistema, experimentos fornecem observac¸o˜es que podem ser descritas por uma u´nica equac¸a˜o, a lei dos gases ideais, pV = nRT, (3) onde R = 8,315 J/mol.K e´ a constante universal dos gases e T e´ a temperatura absoluta em kelvins. • Agora que ja´ apresentamos a equac¸a˜o de estado, podemos definir formalmente um ga´s ideal: um ga´s ideal e´ aquele para o qual pV/nT permanece constante para todas as presso˜es. • A lei dos gases ideais tambe´m pode ser expressa em termos do nu´mero total de mole´culas N : N = nNA, logo pV = nRT = N NA RT → pV = NkBT, (4) onde kB = R/NA = 1,28×10−23 J/K e´ a constante de Boltzmann. Exemplo 1: Um ga´s ideal ocupa um volume de 100 cm3 a uma tem- peratura de 20◦C e uma pressa˜o de 100 Pa. Encontre o nu´mero de moles de ga´s no container. Quantas mole´culas esta˜o no container? Queremos calcular n, logo: n = pV RT = (100)(100× 10−6) (8,315)(20 + 273) = 4,10× 10−6, isto e´, 4,1× 10−6 mol. Calculando agora o nu´mero de mole´culas no container: N = nNA = (4,1 × 10−6)(6,022 × 1023) = 24,69 × 1017 = 2,47 × 1018 mole´culas. Exemplo 2: Uma lata de spray contendo ga´s com o dobro da pressa˜o atmosfe´rica (202 kPa) e com volume de 125 cm3 esta´ a uma tem- peratura de 22◦C. A lata e´ enta˜o atirada em uma fogueira. Quando a temperatura do ga´s na lata atinge 195◦C, qual e´ a pressa˜o dentro da lata? Assuma que qualquer variac¸a˜o de volume da lata pode ser desprezada. Se assumirmos que ga´s na˜o escapa da lata quando ela e´ atirada na fogueira, o nu´mero de moles na lata permanece constante e enta˜o podemos escrever nR = pV/T =constante, logo piVi Ti = pfVf Tf . Como o volume de ga´s permanece constante, Vf = Vi, e enta˜o pf = Tf Ti pi = (195+ 273) (22 + 273) (202× 103) = = (468) (295) (2,02× 105) = 3,20× 105, i.e., pf = 320 kPa. Refereˆncias: • Chaves, A. Fı´sica Ba´sica, vol. II. Rio de Janeiro: LTC, 2007. • Halliday, D.; Resnick, R.; Walker, J. Fundamentos de Fı´sica, Vol. II, 8. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2009. • Livi, C.P. Fundamentos de Fenoˆmenos de Transporte. Rio de Janeiro: LTC, 2008.
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