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processos neuróticos - Luiz José Veríssimo

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1 
 
 
Processos neuróticos1 
Estudo e fichamento do Prof. Luiz José Veríssimo Os tipos nesse tipo de letra ou [entre 
colchetes] são observações do professor. 
 
 
Para Perls, a fuga da conscientização e a consequente rigidez da percepção e o 
comportamento são os maiores obstáculos ao crescimento psicológico (Fadiman e Frager, 
p. 138-392). 
 
As funções e contato e fuga são cruciais na determinação da existência de um 
indivíduo; um aspecto de contato e fuga do meio ambiente inclui o relacionamento com 
outras pessoas. Na verdade, o sentido de pertinência a um grupo é o nosso principal 
impulso de sobrevivência psicológica. (Fad. e Frag, p. 139) 
O homem que pode viver em contato íntimo com sua sociedade, sem ser tragado por ela 
nem dela completamente afastado, é um homem bem integrado. É auto-suficiente, porque 
compreende a relação entre si e a sociedade, como as partes do corpo parecem 
compreender, instintivamente, sua relação com o corpo como um todo (Perls, 1988, p. 40). 
 
 Neurose = “quando um indivíduo se torna incapaz de alterar suas técnicas de 
manipulação e interação (com o meio) é que surge a neurose (Perls citado por Rodrigues, p. 
123). 
Os neuróticos: (Fadiman e Frager, p. 138-39; Rodrigues, p. 123 e Perls, citado por Rodrigues) 
 interrompem seu próprio crescimento. 
 não podem ver claramente suas próprias necessidades, e, portanto, não podem 
 satisfazê-las. 
 E, tampouco, podem distinguir de forma apropriada entre eles e o resto do mundo. 
 Em consequência, são incapazes de encontrar e manter um equilíbrio adequado entre 
 eles próprios e o resto do mundo. Tendem a ver a sociedade como maior que a [sua] 
 vida e a si mesmos como menores. A forma que este desequilíbrio geralmente toma 
 é a pessoa sentir que os limites sociais e ambientais penetram muito fundo dentro 
 dela mesma. 
A neurose consiste em manobras defensivas destinadas ao equilíbrio e proteção 
contra este mundo invasor. 
 
 Mecanismos neuróticos básicos (distúrbios de limites) 
Confluência, introjeção, projeção, retroflexão, deflexão. 
Eles raramente operam isolados uns dos outros, embora as pessoas equilibrem suas 
tendências neuróticas entre esses quatro mecanismos em variadas proporções. 
A função crucial que todos esses mecanismos preenchem é a confusão na 
discriminação de limites. 
Dada esta confusão de limites, o bem-estar de um indivíduo definido como capacidade 
de ser autoapoiado e autorregulado é seriamente limitado. 
 
 
 
1 Termo usado por Perls em “A Abordagem Gestáltica”. 2ª ed. São Paulo: Summus, 1988. 
2 Teorias da Personalidade. São Paulo: Harbra, 1986. 
2 
 
 
1) Confluência (é a confusão entre o eu e o outro) (Veríssimo) 
Na minha opinião a confluência abarca a introjeção, a projeção e, por vezes, a 
retroflexão (Veríssimo). 
Na confluência, os indivíduos não experienciam nenhum limite entre eles mesmos e 
o meio ambiente. Assim, torna impossível um ritmo saudável de contato e de fuga, visto 
que tanto o contanto quanto a fuga envolvem um outro. Esse mecanismo também 
impossibilita a tolerância das diferenças entre as pessoas, uma vez que os indivíduos que 
experienciam a confluência não podem aceitar um senso de limites e, portanto, a 
diferenciação entre si mesmos e as outras pessoas (Fadiman e Frager, p. 138) 
A confluência é um fantasma perseguido pelas pessoas que querem reduzir a 
diferença para moderar a experiência perturbadora da novidade e da diversidade. É uma 
medida paliativa através da qual se parte em busca da concordância superficial, um contrato 
para não balançar o barco (Polster, p. 95). 
O bom contato, por outro lado, mesmo nas uniões mais profundas, retém o senso 
aumentado e profundo do outro com quem o contato está sendo feito (Polster, p. 95). 
A ruptura da confluência pode acarretar uma ansiedade acompanhada em geral de 
culpa, podendo atingir níveis de decomposição psicótica (Ginger3 citado por Rodrigues, 
págs. 123-24) 
O indivíduo vai para onde o vento sopra. Isso envolve pouco gasto de energia em 
escolhas pessoais; ele tem somente de entregar-se às tendências do ambiente e deixar que 
elas o carreguem (Polster, p. 79). [Nesse âmbito,] A opinião de todos é a minha, eu me 
confundo com uma imagem, um ídolo, uma causa, podendo surgir o sectarismo político, o 
fanatismo religioso, onde o “eu” precisa ser ditado, expresso pelo outro, com uma grande 
carga de energia depositada nesta ligação (Rodrigues, p. 123). 
Desta forma o indivíduo embarca em seu acordo assimétrico com a sociedade; ele se 
comportará, se conformará e fará todas as coisas que pensa que a sociedade demanda; ele 
nem mesmo terá pensamentos ou adotará ideais ou metas, a não ser aquelas que a sociedade 
aprova ou fomente. (...) Não há [realização] intrínseca naquilo que ele faz, pois as suas 
ações são determinadas por um outro desconhecido, que é quem eventualmente faz 
com que ele tenha valor (Polster, 97). 
 
 Detalhamento 
A pessoa que vive num processo de confluência, sem uma diferenciação clara, evita 
as discordâncias e as benéficas trocas advindas de pontos de vista diferentes: só há 
perpétuo consentimento. (...) Ocorre, então o “encaixe” de papéis, pois se há pessoas 
que se submetem aos outros, é porque há outros que desejam submeter pessoas. (o 
jogo do opressor x oprimido). 
Ocorrem acordos implícitos do tipo “eu não brigo com você, você não briga 
comigo”. (...) Pode ocorrer então a quebra do acordo implícito com o surgimento 
simultâneo da culpa por parte de quem não agiu como fantasiou que o outro desejaria 
(Rodrigues). O indivíduo confluente não faz as coisas simplesmente porque gosta, ele 
não mantém um contato suficiente consigo mesmo para saber quando ele gosta do que faz. 
Ele se concentra principalmente em saber o que os outros gostam (Polster, 97). 
Isso é o que acontece em muitos casamentos, quando os esposos finalmente se 
enfastiam um do outro (Polster, 95). (...) A afirmação de uma esposa: “eu não sei por que 
ele se foi, nós nunca tivemos uma briga durante todos os nossos anos de casamento”, ou a 
afirmação de um pai, “Mas ele era uma boa criança, nunca respondeu!”, sugerem mais um 
relacionamento frágil do que vigoroso. A continuidade não depende de uma harmonia 
nunca interrompida, mas sé pontuada ocasionalmente pela discórdia (Polster, 96). 
 
3 Ginger, Serge e Ginger, Anne. Gestalt: uma terapia do contato. São Paulo: Summus, 1995. 
3 
 
 
Duas chaves para se descobrirem relacionamentos confluentes perturbados são 
sentimentos frequentes de culpa ou ressentimento (Polster, 96). 
Assim, quando a recompensa [pelos esforços de se adequar ao mundo externo] não 
vem numa medida suficiente, o indivíduo se torna magoado, ressentido ou desconfiado e 
firmemente convencido de que “as pessoas não são boas coisa nenhuma!” Ou, em vez 
disso, ele pode voltar-se contra si mesmo e suspeitar de que, se tivesse tentado com mais 
empenho, ou se tivesse feito tal-ou-tal coisa ele teria conseguido (Polster, 97) 
Quando uma das partes de um contrato confluente sente que violou a confluência, 
ela se sente obrigada a se desculpar ou a fazer uma restituição pela quebra do contrato. 
Pode não saber por que, mas sente que transgrediu e acredita que a compensação, a punição 
ou a expiação estão em pauta. Pode procurar isto, pedindo ou submetendo-se humildemente 
a um tratamento, repreensão ou alienação severos. Pode também tentar dar a si mesma este 
tratamento punitivo através do comportamento retroflexivo [veja adiante a definição de 
retroflexão], onde trata a si mesma cruelmente através da autodegradação,humilhação ou 
sentindo-se sem valor ou má. A culpa é um dos sinais principais de que a confluência 
foi perturbada (Polster, 96). 
A outra parte, que sente ter sofrido uma transgressão, experiencia indignação e 
ressentimento justificados. Está ferida e ofendida. Foi traída, injustiçada, ofendida; tem 
alguma coisa que vem do ofensor. Exige que o “transgressor” no mínimo se sinta culpado 
pelo que fez, e que sejam feitos vigorosos esforços de desculpas e uma reparação. Pode 
também retrofletir, numa tentativa de fornecer algo do que deseja do outro. Assim, ele 
sente pena de si mesmo e se perde em autocompaixão e comiseração. (...) Para tornar sua 
posição mais suportável, e ele se faz mais miserável e merecedor de dó, o que, na verdade, 
só o deixa mais ressentido. Sempre a mesma coisa, construindo indefinidamente uma 
espiral de miséria e recriminação (Polster, 96-7). 
 
 Dificuldades que podem gerar e estimular um comportamento confluente 
A criança espancada, sufocada, abusada sexualmente, mantida por longos períodos de 
privação (sede, fome, frio, ganhar bons tratos atenção), de uma maneira geral, com mães 
hiper rígidas, abusivamente autoritárias e invasivas (a chamada “mãe fálica) são algumas 
das características detectadas em crianças ou adultos que se alienam das próprias sensações 
(Rodrigues, p. 124). 
 
 “Antídotos”4 para a confluência 
O contato, a diferenciação e a articulação [consigo próprio]. O indivíduo deve 
começar a experienciar escolhas, necessidades e sentimentos que são seus e que não têm 
que coincidir com os de outras pessoas. Ele deve aprender que pode encarar o terror da 
separação destas pessoas e ainda permanecer vivo. 
Perguntas do tipo: “O que você sente agora? “O que você quer agora?” ou “o que 
você está fazendo agora?” podem ajudá-lo a focalizar as suas próprias direções. Lidar com 
as sensações que resultam destas perguntas [também é importante]. Dizer em voz alta as 
suas expectativas, em primeiro lugar ao seu terapeuta, talvez, e finalmente às pessoas às 
quais estas satisfações são demandadas, pode ser o primeiro passo para a identificação de 
tentativas encobertas de relacionamentos confluentes (Polster, 97-98). 
 
 
 
 
 
 
 
4 Expressão dos autores Miriam e Erving Polster. 
4 
 
 
 A integração do indivíduo com o meio social 
Um indivíduo pode escolher propositalmente minimizar as diferenças para permanecer na 
pista de um objetivo mais importante e para resistir à imobilidade irrelevante. A anulação 
do estilo pessoal próprio para a realização de um papel determinado numa atividade de 
equipe, como uma formação num time de futebol ou como cantar num coral, etc., é uma 
doação temporária do eu para a unidade maior. Isso difere da confluência porque o senso 
de eu do indivíduo é figural. Ele permanece definido através do seu assentimento pessoal e 
da clareza da sua consciência de si mesmo e do seu ambiente. Ele escolhe focalizar um 
elemento5 do processo de grupo (Polster, p. 95). 
 
 Estudo de caso 
Portia tentou corajosamente viver um tipo de vida que seu marido sentia como ideal 
para uma boa esposa e mãe, e assim mesmo ela estava sufocada pela infelicidade. Sam, da 
sua parte, trabalhava para propiciar generosamente a ela benefícios materiais e era um 
marido amoroso e tolerante. Apesar disso, Portia estava sendo estrangulada pela ficção que 
ela e seu marido alimentavam: a afirmação sempre deveria vir do marido e da família e, se 
uma mulher conseguisse isto, deveria se dar por satisfeita. Uma tarde, em resposta à minha 
pergunta “O que você sente agora?”, Portia replicou “Eu me sinto como uma bolha!”. Ela 
sentia que tudo o que fazia era em resposta às necessidades de outras pessoas: ser chofer de 
seus filhos e de seu marido, ir às aulas de pilotagem de seu marido quando ele estava fora 
da cidade e tomar notas para ele, e não agir descontroladamente em relação a problemas 
com um dos filhos. diferir do marido a colocava em pânico. Ela gritava e ficava com dores 
de cabeça. A medida que se conscientizou de que não poderia aceitar como seus os 
padrões de seu marido, Portia começou a se sentir inconfortavelmente ressentida para com 
Sam e nervosa consigo mesma, por concordar humildemente com estas condições. A cada 
vez que reclamava dele, ela se sentia ainda mais culpada, como se estivesse fazendo 
exigências injustas. Sam ressentiu-se, achando que seu amor e os confortos materiais que 
ele proporcionava a ela não pareciam lhe trazer felicidade. Ele também sentiu-se culpado 
porque suspeitou, tendo incluído isto no contrato, de que em algum ponto ele era 
responsável por não dar mais a ela. embora houvesse dor na reiteração que Portia fez ao 
marido, de suas necessidades, e apesar de o que ele ouviu dela fosse doloroso, os dois 
começaram a elaborar um novo modo de vida. Ela entrou para a universidade e Sam 
abandonou um emprego numa outra cidade, até que ela pudesse acabar o seu curso (Polster, 
98). 
 
 
2) Introjeção (é o engolir tudo) 
Os indivíduos incorporam padrões, atitudes e modos de agir e pensar que não são 
deles próprios e que não assimilam ou digerem o suficiente para torná-lo s seus (Fadiman e 
Frager, p. 138). 
À propósito da introjeção na psicologia infantil: a introjeção é o processo 
primário de internalização de crenças, valores e pensamentos transmitidos pelos pais, pela 
cultura e pois outros ambientes significativos no quais a criança vive. (...) A introjeção é 
uma mensagem que ouvimos sobre nós mesmos ou uma ordem que recebemos de nosso 
pais, desde criança, e “engolimos” sem assimilar (Sheila Antony, 2010, p. 92).] 
Considerações de Luiz Veríssimo: 
A introjeção implica: 
 assimilar as coisas do outro como sendo as suas. 
 ver a si mesmo a partir do outro 
 
5 Daí o aspecto “figural” (?) 
5 
 
 
 querer aderir ao desejo do outro 
 querer tomar para si o que é do outro 
 querer ser como o outro (Cf. Sartre: ser-para-outro) 
Norma básica: “Eu devo ser como acho que o outro quer que eu seja” (= tornar-se um 
espelho do outro). 
Introjeção 
Enquanto a energia for dirigida relativamente para incorporação dos estímulos ambientais, 
indiscriminadamente, sem que o organismo especifique necessidades ou preferências, 
haverá apenas introjeções, uma forma de aprendizagem na qual o indivíduo engole 
modelos e, durante o crescimento, não se capacita para selecioná-los e criticá-los, 
resistindo às pressões ambientais (Pimentel, 2003, p. 50). 
Os bebês introjetam prontamente porque não têm dentes; isto é, eles não podem 
desafiar um palestrante ou fazer perguntas antes de engolir. Os bebês podem cuspir, e 
fazem isto, mas este é um ato grosseiro, não uma análise sutil daquilo que é apresentado. 
Em termos desenvolvimentais, a introjeção é adequada para um bebê de seis meses, mas 
menos adequada para um adolescente de dezesseis anos. Portanto, nos adultos a introjeção 
é uma falha [pode ser uma falha] em fazer perguntas, expressar dúvidas, mastigar e 
saborear. É um modo de engolir inteiro, engolir sem mastigar. (Note que no contexto de 
poder interpessoal e político desequilibrado, é provável e muito mais seguro engolir um 
ambiente rigidamente autoritário, em que o questionamento é visto como uma forma de 
insubordinação.) (Joseph Zinker. 2001, p. 32). 
O introjetor investe a sua energia numa incorporação passiva daquilo que o 
ambiente fornece. (...) Ele despende pouco esforço na especificação de suas necessidades 
ou preferências. (...) quando o mundo se comporta inconsistentemente com as suas 
necessidades, ele deve devotar a sua energia no sentido de semanter contente, aceitando as 
coisas como as encontra (Polster, 79). (...) É como se a coisa que existisse fosse 
inviolável; ele não vai mudá-la; deve aceitá-la tal qual ela vem a ele. (...) A vida é somente 
uma variação daquilo que ele já experienciou, armando-o com um escudo contra qualquer 
coisa nova. (...) A impaciência para engolir alguma coisa, a preguiça em ter que [elaborar o 
que entra em interação com ele] ou a avidez em obter o máximo tão rapidamente quanto 
possível – todas essas tendências levam à introjeção (Polster, 83). 
Dificuldade em distinguir entre o que realmente sentem e o que os outros querem 
que eles sintam – ou simplesmente o que os outros sentem (Fadiman e Frager, p. 138). 
São as opiniões dos outros, as escolhas dos outros, os gostos dos outros, em situações 
quando o que deveria estar sendo contatado seria sua própria opinião, escolha ou gosto. 
Aparecem frases como “sinto, mas não deveria sentir isso!”( a energia é travada); “Percebo; 
mas, acho que sou má/mau quando penso nisso...” (Rodrigues, p. 125). 
A pessoa que interage através de suas introjeções tem uma grande dificuldade 
em lidar com a palavra “eu”. Assumir o que quer, o que o “eu” deseja – implica em 
diferenciar o si mesmo do mundo (Rodrigues, p. 125). 
Os “deveria”[fazer isso, fazer aquilo] começam cedo (na tenra idade) e 
frequentemente são pouco congruentes com aquilo que a criança sente como necessidades 
suas. (...) A confiança de uma criança é esgotada por autoridades externas, cujos 
julgamentos se fortalecem, destruindo a sua identidade nítida e deixando-a aberta para os 
conquistadores adultos que ocupam o território. (...) Desta forma o corpo estranho governa, 
mantendo facilmente a pessoa doente (...), impedida a cada vez que seu sistema de valores 
de segunda mão se mostra irresponsivo às suas necessidades correntes (Polster, p. 80). 
A pessoa que tem engolido todos os valores dos seus pais, da sua escola e da sua 
sociedade exige que a vida continue sendo como antes. Quando o mundo que lhe cerca 
se modifica, ela é presa fácil para a ansiedade e parte para a atitude defensiva. (...) Sua 
manipulação da própria energia opera em apoio aos padrões introjetados, (...) com seu senso 
6 
 
 
de certo e errado, que passa de geração a geração. (...) A pessoa paga um alto preço porque 
abandonou o seu senso de livre escolha na vida (Polster, p. 80). 
A introjeção pode constituir uma força desintegradora da personalidade, uma vez 
que quando os conceitos e as atitudes engolidos são incompatíveis uns com os outros, os 
indivíduos introjetivos se tornarão divididos (Fadiman e Frager, p. 138). 
 
 Lidando com o mundo 
 Quando o ajustamento das interações com as necessidades próprias falha o 
indivíduo deve, não somente selecionar aquilo que quer e com o que está tentando se 
identificar, como também deve resistir às pressões e influências que insistirão em 
sugestioná-lo e que ele não quer. É aqui que a luta começa (Polster, 81). 
 [Por outro lado, observamos o seguinte processo:] Em certas idades em que a luta é 
drasticamente intensificada, como aos dois anos e novamente na adolescência, o indivíduo 
começa a se ressentir tão fortemente contra as incursões vindas do exterior, que chega 
mesmo a querer sacrificar a sabedoria em favor de uma afirmação do predomínio do seu 
próprio sistema de escolha. (...) em primeiro lugar eu, depois o meu bem-estar, diz ele 
(Polster, 81). 
 
 Elaborando a introjeção 
Elaborando a neurose: implica aprender a lidar com a agressividade (Rodrigues, p. 
125), eu diria a assertividade (ou, pelo menos transformar a agressividade em 
assertividade) (Veríssimo). Ter sua própria escolha, eventualmente representará “deixar de 
cumprir a escolha de alguém”. Isso deixará mamãe zangada, papai aborrecido, patrão 
contrariado, esposa ou marido chateados, etc. (Rodrigues, p. 125). 
 
 
3) Projeção Não ver a si, e responsabilizar o outro pelo que é próprio (Veríssimo) 
Num certo sentido, é o oposto da introjeção. A projeção é a tendência a responsabilizar os 
outros pelo que se origina em si mesmo. Envolve um repúdio [rejeição] de seus próprios 
impulsos, desejos e comportamentos, colocando fora [no outro, no ambiente, numa causa 
exterior] o que pertence a si próprio (Fadiman, p. 138). 
O projetor rejeita aspectos de si mesmo, atribuindo-os ao ambiente. [cf. má-fé sartreana] 
(Polster, p. 79). Ele não aceita seus sentimentos e ações porque “não deveria” sentir ou agir 
daquela forma. Então, ele não reconhece a si mesmo, e em vez disso atribui o que faz ou 
sente a outra pessoa (Polster, 85). Vivendo de um modo que lança para o exterior, para 
outros, as caraterísticas que lhe são próprias e inaceitas, o indivíduo estará agindo de forma 
projetiva (Pimentel, 2003, p. 50) 
A pessoa não reconhece que são suas própria ideias ou fantasias que estão sendo percebidas, 
e as reconhece como vindas do meio (Rodrigues, p. 126). 
Exemplo: Carlos suspeita de que alguém está ressentido com ele, ou está tentando seduzi-
lo: é uma invenção baseada no fato não-aceito de que ele quer se comportar desta maneira 
em relação a outra pessoa. Enquanto o introjetor abandona o seu senso de identidade, o 
projetor o lança fora [o projeta] pouco a pouco (Polster, 85). 
[O sentimento básico é o de que] há sempre uma falta, um vazio, e a pessoa 
normalmente se queixa de querer algo que nem ela sabe o que é. A busca pela satisfação 
torna-se frenética, compulsiva, sempre pensando na próxima refeição, pois, esta comida 
presente “já foi” e o que interessa é o que virá. Tudo é para ela, tudo é em volta dela tudo é 
sobre ela. A pessoa vive um egotismo (Rodrigues, p. 127). 
 
 
 
7 
 
 
 Nem sempre a projeção é “negativa” 
A projeção não é invariavelmente não promotora de contato. A projeção é uma reação 
humana natural. Estar-se apto a extrapolar aquilo que se conhece ou intui a respeito de si 
mesmo como verdadeiro também para os outros é um reconhecimento da reciprocidade 
humana (Polster, p. 87). 
 
 
4) Retroflexão 
Retroflexão significa que alguma função que originalmente é dirigida do indivíduo para o 
mundo, muda sua direção e se volta para o originador. 
Um exemplo é o narcisista, uma pessoa que, em vez de dirigir seu amor para fora, para um 
objeto, se apaixona por si mesmo. 
Sempre que um verbo é usado em conexão com um pronome reflexivo, podemos procurar 
uma retroflexão: se uma pessoa fala para “si mesma’, assim o faz em vez de falar com outra 
pessoa. Se uma garota desiludida com o namorado, mata a “si mesma”, assim o faz porque 
seu suicídio é um substituto para o homicídio ou assassinato (Perls, 2002, p. 181). 
Indivíduos retroflexores voltam-se contra si mesmos, e, ao invés de dirigir suas energias 
para mudança e manipulação de seu meio ambiente, dirigem essas energias para si próprios 
(Fadiman e Frager, p. 139). 
O indivíduo volta para si o que gostaria de fazer a alguma outra pessoa (“meu estômago fica 
queimando de raiva”) ou faz a si mesmo que ele gostaria que alguém fizesse a ele (“faço um 
monte de dívidas comprando roupa nova toda vez que brigo com o meu namorado...”) 
(Rodrigues, p. 126). 
Estabelecendo comportamentos em que os impulsos negativos e positivos são voltados 
contra si próprios, abandonando qualquer tentativa de influenciar o ambiente, tornando-se 
uma unidade separada e autossuficiente, por ter introjetado e generalizado a regra de que 
ninguém poderá alimentá-lo psicologicamente, o indivíduo romperá o contato, criando uma 
defesa retroflexora (Pimentel, 2003, p. 50-51). 
A retroflexão era um mecanismo pelo qual as pessoas seguravam aquilo que tinham medo 
de expressar para os outros – como segurar a raiva ou conter uma expressão de amor(Enquanto na primeira posição, faço a mim mesmo aquilo que desejo a você; no segundo 
caso, dou a mim mesmo aquilo que desejo que você me dê (como afagar meu cabelo, 
segurar minha mão e assim por diante (Nota 4, p. 48)). (Joseph Zinker. 2001, p. 32). 
Embora este fosse claramente um fenômeno interacional “Eu contenho aquilo que 
desejo fazer para você”, o trabalho real de Perls não estava focado na ameaça interacional 
que provocava a contenção, mas em aprender como desfazer a retroflexão por meio do 
movimento e de outras expressões (Joseph Zinker. 2001, p. 33). 
Retroflexão no corpo 
A retroflexão não era apenas uma transação cerebral de baixa voltagem, sem awareness, 
mas uma energia que contraía os músculos e que era contida, provocando uma dor física 
real e diversos sintomas secundários como dores de cabeça (Joseph Zinker. 2001, p. 33). 
Técnicas 
Ele ajudava seus pacientes e alunos a expressar a raiva diante de uma cadeira vazia (o Outro 
imaginário, como por exemplo um dos pais) (Joseph Zinker. 2001, p. 33). 
Mais técnicas e dinâmicas – veja Zinker, p. 33 e segs. 
 
 
 
 
8 
 
 
 Estudo de caso (Polster, p. 88-9) 
Suponha-se uma criança que cresce num lar onde as pessoas, embora não totalmente hostis, 
sejam insensíveis e inacessíveis às suas manipulações naturais. Quando ela chora, não há 
um colo em que possa se abrigar. Carinhos e cuidados são ainda mais difíceis de acontecer. 
 Logo ela aprende a se mimar e aliviar por si mesmo, solicitando pouco de qualquer 
outra pessoa. Mais tarde, ela escolhe para si a melhor comida e a prepara carinhosamente. 
Compra para si roupas finas. Gosta de automóveis confortáveis. Quer somente os 
ambientes cuidadosamente selecionados. 
Com todo este [amor narcísico] ela ainda acredita na sua introjeção genérica “meus pais não 
me darão nenhuma atenção”. (...) ao manter a introjeção sem nenhuma crítica, “Ninguém 
me dará atenção”, ela é compelida a replicar, “então eu tenho que fazê-lo para mim 
mesma.” 
Aqui cabe um comentário Rodrigues para a retroflexão: De alguma maneira há uma 
mensagem de que o que ela recebeu (ação) não foi suficiente (energia insatisfatória), 
gerando uma forma rígida de esperar do mundo uma igual incapacidade de satisfazê-la. 
 
 Nem sempre a retroflexão é não recomendável 
Uma mãe aperta os seus punhos fechados contra a sua testa, e ao fazer isso, refreia-se antes 
de espancar o seu filho (Polster, p. 89). O pensamento também pode ser considerado 
retroflexão: é como se o indivíduo estivesse conversando consigo mesmo (Polster, p. 90), e 
também é uma extensão contínua entre observador e observado (Polster, p. 88). 
 
 
5) Deflexão = “esfriamento”: é como se a pessoa que deflete não estivesse realmente ali 
(Rodrigues, p. 125). Parece-me um tipo de embotamento dos afetos. Evitar o contato 
(Veríssimo) . A deflexão é uma manobra para se desviar de um contato direto com uma 
outra pessoa. É uma forma de retirar o calor do contato real (Polster, p. 93). 
A fala é intelectualizada demais, ou impessoal demais, ou com muitas palavras e pouco 
sentimento. Temos aqui as pessoas com as quais falamos, mas parece que não nos escutam, ou 
pessoas para as quais damos os mais finos presentes, mas não demonstram uma emoção, como 
se não fosse ela quem recebeu (Rodrigues, p. 125), [a partir daqui Polster] mostrando-se polido 
em vez de direto, usando linguagem estereotipada em vez de linguagem original, (...) falando-se 
sobre o passado quando o presente é mais relevante, falando-se a respeito em vez de falar para, 
ignorando-se a importância daquilo que a outra pessoa acabou de dizer (Polster, 93). 
A pessoa dilui sua energia, retirando dela toda a intensidade, banalizando seus 
momentos de emoção mais fortes. Polster, p. 93: a pessoa age como se possuísse uma 
blindagem invisível, frequentemente experiencia a si mesmo como indiferente, aborrecido, 
confuso, inútil, cínico, não amado, sem importância, deslocado. 
 A pessoa, quando defletida, não colhe os frutos da sua atividade. As coisas 
simplesmente não acontecem. A pessoa fala e se sente mal recebida ou mal compreendida. 
Suas interações negam fogo, não realizando aquilo que ela poderia razoavelmente esperar. 
Muito embora um indivíduo possa se comunicar de uma forma válida ou acurada, se ele não 
atingir a outra pessoa, ele não será sentido plenamente (Polster, p. 94). 
 Deflexão “positiva” 
Quando duas nações estão tensas uma com a outra, e precisam “esfriar” os ânimos. A 
linguagem da diplomacia. 
No plano interpessoal, quando evitamos ser cruéis e excessivamente rudes através da nossa 
expressão (de raiva, do problema, acerca do outro...). (Veríssimo) Posso querer lhe xingar 
no ápice da minha raiva, isto não necessariamente caracteriza os meus sentimento 
posteriores para com você. Em momentos em que não posso ainda dispor de confiança, 
tempo e conhecimento mútuo, a deflexão da raiva pode ser sábia e necessária (Polster, p. 
93). 
9 
 
 
 
Considerações de Luiz José Veríssimo 
Essas formas nos estimulam a observar comportamentos típicos: 
a) ficar sempre cobrando, reclamando, querendo mais das situações, dos outros. É a 
filosofia do “nunca está bom” 
b) Permanecer sempre correndo atrás do outro, ou seja, tentando desesperadamente 
corresponder à expectativa de agradar o outro, ou, o que dá no mesmo, não se sentir 
rejeitado. O outro costuma desvalorizar quem assim procede, ao mesmo tempo que tenta 
manter essa relação dependente. Assim, cria-se um ciclo vicioso: eu, dominador, não te 
valorizo, e você, que quer me agradar estará, dessa forma, sempre tentando justamente me 
agradar. 
c) Considerar que somente o sujeito mesmo é capaz de suprir suas necessidades. 
 Ou seja, a rigidez está em achar que, em todo mundo, não há ninguém que seja capaz de 
realizar trocas satisfatórias com o indivíduo. Ela se basta. É a filosofia do “não conto com 
ninguém”. Por isso não me envolvo, me defendo das frustrações inerentes a qualquer 
relação, pois implicam lidar com o inusitado e com a diferença. 
Os mecanismos neuróticos descritos desenvolvem um processo pelo qual a pessoa se coloca 
sempre (...) exercendo um controle rígido e excessivo no mundo fora dela [ou interior], 
pensando em todas as possibilidades para prevenir futuros fracassos ou possíveis surpresas. 
Impõe tanto sua vontade e desejos [ou permite se sujeitar e anular], que deixa de prestar atenção 
ao meio circundante [a trocas saudáveis entre suas necessidades e o meio, na fluência do 
contato-afastamento], usufruindo pouco e sem vibração com resultado de suas manipulações, 
tendo muita dificuldade em dar e receber (Ribeiro6 citado por Rodrigues, p. 127). 
 
As sessões que são feitas junto com a família 
As sessões com a família são o momento do processo terapêutico em que podemos 
exercitar a comunicação autêntica, 
investigar o nível de confluência, 
[investigar] os papéis designados e assumidos (as projeções) [projeções ou introjeções], 
procurando articulações com as necessidades insatisfeitas, 
os introjetos (alguns mitos familiares), 
as mensagens implícitas e os bloqueios do contato representativos da dinâmica familiar e da 
criança (Sheila Antony, 2010, p. 101). 
 
 
 
Bibliografia 
ANTONY, Sheila (Org.). A clínica gestáltica com crianças. Caminhos do crescimento. São Paulo: 
Summus, 2010. 
MAYER, Elizabeth Lloyd [dic]. Frederick S. Perls e a Gestalt-Terapia. In FADIMAN, James e 
FRAGER, Robert. Teorias da Personalidade. São Paulo: Harbra, 1986. 
PIMENTEL, Adelma. Psicodiagnóstico em Gestalt-terapia. São Paulo: Summus, 2003. 
POLSTER, Erving e POLSTER, Miriam. Gestalt Terapia Integrada. Belo Horizonte: Interlivros, 1979. 
RODRIGUES, Hugo Elidio. Introdução à GestaltTerapia. 2a ed. Petrópolis: Vozes, , 2002. 
ZINKER. A busca da elegância em psicoterapia. Uma abordagem gestáltica com casais, famílias e 
sistemas íntimos. São Paulo: Summus, 2001. 
 
6 Ribeiro, Jorge Ponciano. Gestalt-terapia: refazendo um caminho. São Paulo; Summus, 1997.

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