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O que fazer para não repetirmos as mesmas histórias ano a ano? Muito já se estudou e se publicou sobre as Lesões por Esforços Repetitivos (LER) ou Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho (DORT). Os estudos mais consistentes evidenciam o papel preponderante dos aspectos da organização do trabalho e dos métodos gerenciais na ocorrência e agravamento das LER/DORT, cuja violência é cada vez mais admitida como um recurso para aumentar o poder de dominação dos trabalhadores pelo medo da discriminação e da perda do emprego. Décadas depois de reconhecidas pelos Ministérios da Saúde e da Previdência Social, as LER/DORT continuam a figurar entre as doenças ocupacionais que mais geram incapacidade produtiva prolongada, sem que as situações laborais que contribuem decisivamente para a sua ocorrência e agravamento tenham sido objeto de quaisquer mudanças. As histórias se repetem. Trabalhadores impelidos pela exigência crescente de produtividade e metas inalcançáveis, desdobram-se além de seus limites físicos e psicológicos para manterem-se em seus empregos, abafando e ignorando os sinais de alerta de dores e outros sintomas, que vão se tornando cada vez mais intensos até interferirem não só em sua capacidade de trabalhar, como de manter as atividades da rotina familiar. Afastam-se do trabalho e enfrentam uma maratona de procedimentos previdenciários normativos e fragmentados, que na prática lhes impõem gradativamente a marginalização do mercado de trabalho formal. Acabam sendo diagnosticados tardiamente, pois além de sentirem medo de discriminação, enfrentam aparatos internos das empresas que os contêm com medicações e medidas paliativas. Além disso, encontram um sistema de saúde público ou privado despreparado para a abordagem da dor crônica; enfrentam tratamentos prolongados e penosos pouco eficazes e muitos obstáculos em ter reconhecimento formal da natureza ocupacional destas doenças, a despeito dos dispositivos legais. As dificuldades de acesso aos direitos previdenciários provocam mais sofrimento com a solidão e falta de amparo no retorno ao trabalho e com as humilhações impingidas por não mais conseguirem manter o desempenho exigido. Em meses ou anos tornam-se “trabalhadores com restrições”, levando ainda o rótulo de “pessoas suscetíveis” ou de “não conscientes de seus limites”, responsabilizadas pelo seu adoecimento, sem que se questione o trabalho adoecedor ou a inefetividade das instituições de Estado supostamente protetoras, o que se constitui manifestação de violência aos direitos fundamentais do trabalhador. Inúmeros são os desdobramentos negativos para a saúde e vida desses trabalhadores e suas famílias: sociais, econômicos, físicos e mentais, com destaque para as depressões. Neste ano teremos a 4ª Conferência Nacional de Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora, organizada pelo Conselho Nacional de Saúde, cujo documento referência é a Política Nacional de Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora (Portaria MS 1.823/2012). Excelente oportunidade para se aprofundar o significado da atenção integral à saúde do trabalhador e a centralidade da vigilância à sua saúde. Num país que apregoa liderança no enfoque social de seu crescimento e desenvolvimento econômico, e que situa o acesso integral e universal à saúde, as ações para a prevenção de acidentes e adoecimentos no trabalho deveriam ser integradas às discussões das políticas econômicas e de emprego nos setores da indústria, comércio, serviços e agricultura. Clama-se para que a atenção à saúde dos trabalhadores brasileiros de fato se constitua no centro de políticas de proteção da vida humana, e que as ações de promoção e assistência à saúde sejam objeto de atenção política dentro e fora dos pontos de produção de bens e serviços. E que o desenvolvimento sustentável do Brasil contemple a garantia também da reabilitação e da reinserção ao trabalho daqueles que sofrem com limitações físicas e mentais. É inaceitável que medidas normativas isoladas continuem sendo tomadas pelas diferentes pastas governamentais em inúmeras comissões, que supostamente asseguram participação ampla e controle social. É necessário que haja uma avaliação integrada que defina as reais prioridades de ação pública. Sem mudanças efetivas nas condições e organização do trabalho, não teremos prevenção de acidentes, doenças, incapacidades e tampouco reabilitação. Para que essas mudanças ocorram é necessário e urgente que a democracia alcance o interior das empresas, garantindo aos trabalhadores o direito à organização nos locais de trabalho e o seu papel de protagonistas principais nas questões que dizem respeito ao seu trabalho, à sua saúde e à sua vida. É dentro dessa concepção que as LER/DORT podem ser enfrentadas de forma efetiva, revertendo o quadro atual de sofrimento e exclusão de milhares de homens e mulheres do mercado de trabalho em plena idade produtiva. Subscrevem: Agda Aparecida Delía - Socióloga, pesquisadora em Saúde do Trabalhador Adryanna Cardim de Almeida - Sanitarista - CESAT/Bahia Alexandre Jacobina - DIVAST/CESAT Salvador/ Bahia Ana Soraya Vilasboas Bomfim – Fundacentro/ Bahia Andréa Garboggini Melo Andrade – DIVAST/CESAT Bahia Claudia Rejane Lima – DIEESE/ São Paulo Cristiane Queiroz Barbeiro Lima – Fundacentro/ São Paulo Daniela Sanches Tavares – Fundacentro/ São Paulo Eclea Spiridião Bravo – CEREST/ Piracicaba Edith Seligmann-Silva – Faculdade de Medicina/ USP Eduardo Fernandes Santana - Faculdade Maurício de Nassau / Faculdade de Tecnologias e Ciências – Salvador/Bahia Eliana Pintor – CEREST/ São Bernardo do Campo Francesca de Brito Magalhães - DIVAST/CESAT e CEREST Salvador/Bahia Ildeberto Muniz de Almeida - Faculdade de Medicina/ UNESP Jamir J. Sardá Jr. - Psicólogo do espaço da ATM e Baia Sul centro da Dor. Curso de Psicologia da Universidade do Vale do Itajaí - SC Janete Silva- CEREST/ Santo André Jorge Henrique Saldanha - Universidade Federal da Bahia José Carlos do Carmo – SRTE/SP e CEREST Estadual de SP José Marçal Jackson Filho – Fundacentro/ Rio de Janeiro Juliana Andrade Oliveira – Fundacentro/ São Paulo Kátia M. Costa-Black - Universidade de Pretória/ África do Sul Laura Soares Martins Nogueira – Fundacentro/ Pará Mara Alice Batista Conti Takahashi – Socióloga do CEREST/Piracicaba Marcia Hespanhol Bernardo – Pontifícia Universidade Católica/ Campinas Marcos de Oliveira Sabino – CEREST/ Campinas Margarida Maria Silveira Barreto - Núcleo de Estudos Psicossociais da Dialética Exclusão/Inclusão Social - NEXIN-PUC/SP Maria Cláudia Gatto Cardia - Universidade Federal da Paraíba Maria Cristina Gonzaga – Fundacentro/ São Paulo Maria Dionísia do Amaral Dias - Faculdade de Medicina / UNESP Maria Maeno – Fundacentro/ São Paulo Mirian Pedrollo Silvestre – CEREST/ Campinas Monica Angelim Gomes de Lima – Universidade Federal da Bahia Renata Paparelli – Pontifícia Universidade Católica/ SP Rita de Cássia Peralta Carvalho – DIVAST/CESAT Bahia Roberto Carlos Ruiz – Médico consultor em Saúde do Trabalhador Robson da Fonseca Neves – Departamento de Fisioterapia - UFPB Simone Alves dos Santos – CEREST Estadual, DVST e Coordenação Estadual da Saúde do Trabalhador da SES/SP Tereza Luiza Ferreira dos Santos – Fundacentro/ São Paulo Thais Helena de Carvalho Barreira – Fundacentro/ São Paulo Vera Lúcia Salerno – Departamento de Saúde Coletiva FCM Unicamp
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