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Formalismo Russo e Estruturalismo – Aproximação Uma das principais contribuições do formalismo russo é o conceito de literariedade, ou seja, trata-se de uma busca pelas regras da linguagem literária, aquilo que permite defini-la em oposição ao que não é literário. Ainda no caminho do Formalismo Russo, o Estruturalismo buscava modelos explicativos de cada um dos gêneros de literatura. Contudo os críticos estruturalistas omitiam as suas opiniões ideológicas, recusando ou evitando o juízo de valor, o que torna discutível sobre o comprometimento científico da obra literária. Outro conceito importante, trabalhado pelos formalistas, é o conceito de fundo-forma, uma espécie de recipiente em que se vaza depois um conteúdo. Processando a obra como totalidade dinâmica, cujo, os elementos estão todos integrados. Elementos cognitivos, ideológico, emocionais e de outras ordens, onde estão presentes na forma, e que não podem ser analisados ou valorizados sem um corpo artístico, sendo estudados em sua totalidade. Então, o formalismo reduziu as formas literárias a um material sonoro de informe, porque desprezava o significante das palavras. Assim os críticos formalistas negavam o conteúdo da arte, apenas se preocupando com a forma. Embora existam muitas diferenças entre o formalismo russo e o estruturalismo, é preciso destacar também seus pontos comuns. Por exemplo, Roman Jakobson tem como principal objetivo definir e explicar por que uma mensagem verbal artística é diferente de mensagens artísticas não-verbais, e desta forma, Jakobson dá continuidade a grande parte das preocupações já tratadas pelos demais formalistas russos, principalmente a descoberta de que a poesia se constrói linguisticamente a partir da relação motivada que estabelece entre o som e o sentido. E mais tarde, essa relação é ampliada para além do nível sonoro, englobando todos os demais níveis da linguagem, principalmente a gramática. Em diante, influenciado por Peirce, Jakobson passa a questionar o postulado comumente aceito entre os estruturalistas, segundo o qual a relação entre significante e significado é sempre arbitrária, como pretendia Saussure. Jakobson passa a definir a mensagem poética como aquela em que predominam as relações motivadas ou icônicas da linguagem não-arbitrária. Dentre dois tipos de iconismo postulados por Peirce, a imagem e o diagrama, Jakobson acredita que é o segundo que prevalece na poesia. Outro exemplo é a obra de Propp que foi retomada por Roland Barthes no artigo - Introdução à análise estrutural da narrativa em 1966. Dessa forma, podemos constatar que, apesar das diferenças existentes entre os formalistas e os estruturalistas, estes continuaram as pesquisas iniciadas por aqueles. Acontecendo, até certo ponto, uma relação de contribuição e complementação entre as críticas formalista e estruturalista. Do formalismo russo ao estruturalismo, cabe fazer algumas considerações quanto a essas denominações que usamos. No que se refere ao formalismo russo, seus representantes divergem em relação a um ou vários pontos, e, muitas vezes, até se contradizem completamente. Importante lembrar que os teóricos “formalistas” foram assim denominados por seus adversários, enquanto no estruturalismo ocorre uma, se é que podemos dizer assim, autorrotulação. Seria, talvez, mais correto falar em formalismos, assim como em estruturalismos. B. Eikhenbaum procurava evidenciar o convencionalismo que caracteriza o termo “formal”, e, consequentemente, demonstra como a nomeação “formalismo” também. Como ele diz, “o nome de „método formal‟, solidamente ligado a este movimento, deve ser compreendido como um chamado convencional, como um termo histórico, e não devemos tomá-lo como uma definição justa” (EIKHENBAUM, 1971, p.5). E é justamente por isso que Eikhenbaum deixa claro que “o chamado „método formal‟ não resulta da constituição de um sistema „metodológico‟ particular, mas dos esforços para a criação de uma ciência autônoma e concreta”. Não é sem motivo que ele abre o seu texto Teoria do “Método Formal” com uma epígrafe na qual cita A. P. de Candolle: “o pior na minha opinião é aquele que representa a ciência como obra pronta” (EIKENBAUM, 1971, p. 3). A oposição em relação à estilística é o que aproximará os formalistas da linguística saussuriana. E essa ligação entre ambos pode ser comprovada pela própria disposição, por parte de alguns estruturalistas, em atribuir aos formalistas o papel de colaboradores importantes, cuja contribuição foi bastante significativa. Um exemplo é o texto: A Herança Metodológica do Formalismo de TODOROV. Aspecto social da arte e da literatura segundo Adorno e Benjamin. Várias são as definições de artes, mas para Adorno: arte é a mediação do mundo com crítica. Ou seja, arte é uma forma de representa o mundo, porém, com a crítica necessária. A crítica já vem no bojo da verdadeira arte, segundo Adorno. E ao ler, ver ou ouvir alguma arte é necessário que haja algum desconforto, afinal onde há crítica, se espera que mexa em alguma estrutura do homem em relação a dominação ou exploração. Segundo Adorno, quando a arte entra na Indústria Cultural, a reprodução técnica transforma a arte em bem de consumo. Sendo bem de consumo, a arte passa a ser apêndice de outra atividade. Ademais, passa a ter um caráter de objeto indispensável para determinado gupo social. Assim, as relações entre a arte e a sociedade são recíprocas e dinâmicas. Tanto o campo social influencia a produção artística, como a arte condiciona o contexto social. Porém a Indústria Cultural destrói a cultura erudita e a reprodução técnica. Domesticando ambas a seu favor. Mas como se domestica a arte? A forma mais conhecida é através da repetição, por exemplo, quando uma multidão canta as mesmas frases críticas durante meses, que depois, de um determinado tempo, a crítica passa a não fazer mais sentido, se amortiza para ser consumida. Os consumidores da Indústria Cultural pensam que consumir é ser soberano, portanto, Adorno verifica que são obedientes e escravos de um sistema que obriga o consumo de um determinado tipo de “arte”. Já Benjamin parte do pressuposto de que obras de arte sempre foram reproduzidas e que a reprodução técnica é de qualidade superior do que a reprodução manual. Talvez os únicos a produzirem obras de arte tenham sido os gregos. Com os gregos, o valor do ritual e da aura que envolve a obra de arte tem um valor supremo. Com a reprodução técnica, há a destruição da aura. Quando a aura da obra de arte é destruída, é também tirado de cima de si o peso da tradição, sendo então possível atualizá-la. Adorno faz uma pequena ironia neste ponto e diz que, se segundo Benjamin, a Indústria Cultural destrói a aura, ela a cobre com névoa, a névoa de uma ordem esclerosada. Mas Benjamin vê a destruição da aura das obras de arte como a possibilidade de arrancá-las de sua existência parasitária que é o ritual. Ao visarem a produção em série e a homogeneização, as técnicas de reprodução sacrificam a distinção entre o caráter da própria obra de arte e do sistema social. Consequentemente, se a técnica passa a exercer imenso poder sobre a sociedade, é graças, ao fato de que as circunstâncias que favorecem tal poder são planejadas pelo poder dos economicamente favorecidos sobre a própria sociedade de classes. Em decorrência, a racionalidade da técnica identifica-se com a mentalidade do próprio domínio. A sociedade vive uma “ilusão da totalidade”, adquirida pela falsidade e a mentira da coisa pronta, polida e acabada. A sociedade criou uma tendência de reproduzir o mesmo método de apropriação do objeto manipulável chamado arte. Transformando a arte junto a outros domínios da sociedade, como a política, para seu próprio interesse de poder. Então,para ter forças contra uma sociedade gananciosa e de concorrência, a arte precisa ser inútil em sua forma, uma inutilidade radical para resistir ao poder da falsa integração, que na verdade segrega a sociedade de forma arquitetada e ministrada ao favor dos interesses políticos e econômicos de um determinado grupo social. Benjamin complementa essa ideia salientando a importância do papel do artista no sentido de promover a reflexão do leitor para com o texto artístico estingando o leitor a discussão, despertando o leitor-social a ter uma visão crítica dos acontecimentos político-ideológio, participando de sua plena cidadania. Senão, a arte acaba se integrando na rotina das mercadorias. E sua autonomia, conquistada as duras penas, se volta contra ela, sendo levada também a ser veículo ideológico do poder social.
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