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Cap 1 Introdução

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ALEXOPOULOS, C.J.; MIMS, C.W. & BLACKWELL, M. 1996. Introductory Mycology. New York: John Wiley & Sons, Inc. 865p.
(TRADUÇÃO LIVRE, USO INTERNO)
CAPÍTULO I Reino Fungi
Introdução aos fungos e seus significados para os humanos
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Três e meio milênios atrás, quando a lenda aconteceu, o herói grego Perseu, confirmando um oráculo, matou acidentalmente seu avô, Acrísio, do qual ele foi o sucessor no trono de Argos. Então, de acordo com Pausanias: “Quando Perseu voltou a Argos, envergonhado pela notoriedade do homicídio, ele persuadiu Megapentes, filho de Proteu, a trocar de reinos entre eles. Assim, quando ele recebeu o reino de Proteu ele fundou Micenas, porque a cobertura (mykes) de sua espada tinha caído, e ele considerou isto como um sinal para criar uma cidade. Eu também tenho ouvido que estando sedento ele tomou de um cogumelo (mykes) e enchendo-o de água, bebeu, estando saciado, ele deu a este lugar o nome de Micenas”.
	Então, uma das maiores civilizações já conhecidas, a mice-neana, pode ter sido denominada por um cogumelo legendário. Derivada da mesma palavra grega, micologia (mykes=cogumelo + logos=discurso), etimologicamente é o estudo dos fungos. E, realmente, foi assim que a micologia começou no passado, os cogumelos estão entre os maiores fungos e atrairam a atenção dos naturalistas antes dos microscópios ou da utilização de quaisquer tipos de lentes. Com a invenção do microscópio, por van Leeuwenhoek no século XVII, começou o estudo sistemático dos fungos, e o homem que ficou com a honra de ser chamado o fundador da ciência da micologia é Pier Antonio Micheli, um botânico italiano que em 1729, publicou a obra Nova Plantarum Genera, na qual está incluida sua pesquisa com fungos.
	Mas o que são fungos? Definir os exatos limites do grupo é muito difícil. Tradicionalmente os biológos vêm definindo-os como organismos eucarióticos, aclo-rofilados e produtores de esporos, com nutrição absortiva, que geralmente reproduzem-se asse-xuada e sexuadamente e cujas estuturas somáticas filamentosas, conhecidas como hifas, são rodeadas por paredes celulares. Esta é, talvez, uma definição tão boa quanto qualquer outra, mas como todas definições não é clara. Além do mais, progressivamente em anos recentes, vem tornando-se evidente que os organismos considerados como fungos não são proximamente relacionados. Isto tem alertado alguns autores (Bruns et al, 1991) a usar o termo “fungi” em um sentido geral e “Fungi” especialmente para os assim chamados fungos verdadeiros, que parecem estar relacionados entre si. Neste texto, nós daremos uma abordagem muito ampla e iremos discutir todos os grandes grupos de organismos que tem sido chamados de fungos através dos anos, bem como outros organismos como os slime molds (mofos limosos), que historicamente tem sido estudados por micólogos. Para ajudar na identificação de grupos formais, nós usamos a convenção popular de colocar em itálico todos os nomes científicos relacionados com as categorias taxonômicas.
	Neste livro, nós colocamos os fungos verdadeiros no reino Fungi, que inclui os filos Chytridiomycota, Zygomycota, Ascomycota e Basidiomycota. Filos adicionais que serão considerados incluem Myx-omycota, Dictiosteliomycota, Acrasi-omycota e Plasmodio-phoromycota dos protistas polifiléticos e os filos de Stramenopila, Oomycota, Labyrinthul-omycota e Hyphochytridiomycota (ver Cap. 3). O resto deste capítulo serve primariamente como uma introdução aos membros do reino Fungi. Incluidas neste reino estão formas comumente conhecidas como cogumelos, boletos, orelhas de pau, mildios pulverulentos, fungos do pão, leveduras, morelas, trufas e as ferrugens (rust) e carvões (smut), só para nomear alguns.
	Os fungos constituem um grupo muito grande de organismos encontados em virtualmente qualquer nicho ecológico. Hawksworth (1991) estimou que tendo como base o mundo inteiro existem cerca de 1.5 millhão de espécies de fungos. Todavia, atualmente, foram descritas cerca de 69.000 espécies. A tremenda discrepância entre os números de espécies conhecidas versus espécies estimadas parece relacionar-se ao fato de que a amostragem dos fungos em muitas partes do mundo, mais notavelmente em regiões tropicais e subtropicais, tem sido extremamente inadequada. Atualmente há um tremendo interesse e, na verdade, um sentido de urgência sobre a documentação do mundo dos fungos. Isto ocorre ao mesmo tempo em que começamos a ver registros referentes ao alarmante decréscimo tanto no número total de espécies, quanto na quantidade de espécies individuais na Europa (Cherfas, 1991). No caso das regiões tropicais e subtropicais seria de fato uma tragédia a perda de espécies por extinção antes de havermos determinado que elas existem. Isto é, todavia, mais que uma inquietação filosófica ou ética. Os fungos são recursos extremamente valiosos de produtos naturais, incluindo vários antibióticos, e têm também um grande potencial como controle biológicos para muitas pestes graves. Como enfatizado por Hawksworth (1991), “o mundo não descrito dos fungos pode ser vizualizado como um recurso potencial massivo que espera ser compreendido”. 
Importância dos fungos
	O estudo sistemático dos fungos tem somente 250 anos de idade, mas as manifestações deste grupo de organismos vêm sendo conhecidas a milhares de anos - desde que o primeiro brinde foi proposto com uma concha cheia de vinho e a primeira forma de pão fermentado foi assado. Apesar de sabermos, atualmente, que a fermentação é realizada por fungos unicelulares, conhecidos como leveduras, os egípcios consideravam fermentação como uma dádiva, do grande deus Osíris, ao mundo dos homens. Os antigos gregos e romanos veneravam Dionísio e Baco e celebravam Dionísias e Bacanalias, grandes festivais nos quais o vinho era distribuído livremente. Os romanos atribuíam o aparecimento de cogumelos e trufas ao lançamento de raios, por Júpiter, para a terra. Mesmo nos tempos modernos, os povos nativos do México e Guatemala acreditam que o aparecimento de certos fungos tais como a agárico das moscas (Amanita muscaria) está relacionado com raios e trovões. O papel desempenhado pelos cogumelos na religião e mitologia dos povos endêmicos do México e Guatemala está bem documentado por Lowy (1971, 1974, 1977), e o uso do cogumelo alucinógeno Psilocybe cubensis nos ritos religiosos de algumas partes do México tem sido descrito de forma interessante por vários autores incluindo Wasson (1980) e Wasson et al (1974). Muitos outros exemplos, da associação dos fungos com o supernatural por povos primitivos através do mundo, podem ser encontrado em Wasson & Wasson (1957). Um caso registrado para o USA envolve o uso de figuras espirituais entalhadas a partir de grandes esporóforos duros da espécie degradadora de madeira Fomitopsis officinalis, por alguns povos indígenas da costa nordeste (Blanchette at al., 1992). Estas esculturas aparentemente foram colocadas em tumbas de xamãs como guardiões. Esporóforos deste mesmo fungo são utilizados como medicamento por povos nativos da américa do Norte (Blanchette at al., 1992). Neste aspecto é interessante notar também, o que foi originalmente descrito com “nacos de fungos antibióticos enfileirados em cordões de couro“ foram encontrados com os restos congelados do homem da Idade da Pedra descoberto em um glacial derretido nos Alpes italianos (Rensberg, 1992). Tem sido registrado que este material consiste de frutificações/corpos frutíferos de Piptoporus betulinus e que este material teria sido usado como pavio para fazer fogo, e não com finalidade medicinal (Chapela & Lizon, 1993); todavia, este assunto não está esclarecido. Para informações adicionais em alguns dos curiosos aspectos das relações dos homens com os fungos e outros organismos ver o pequeno livro de Findlay (1982), chamado Fungi: Folklore, Fiction & Fact e o de Brodie (1978) Fungi - Delight of Curiosity.
	Com respeito ao folclore e a mística geral sobre fungos, poderíamos mencionar o tópico da bioluminiscência destes organismos.As estruturas reprodutivas produzidas por algumas espécies e, em alguns casos, a madeira permeada por hifas pode na verdade dar uma luz visível causando-lhes brilho na escuridão. este brilho fosforescente tem há muito tempo fascinado e assustado os humanos, e muito tem sido escrito a respeito disso (Glawe & Solberg, 1989). Observações sobre fungos luminescentes podem ser encontradas já em Aristóteles (Harvey, 1957). Aparentemente, as pessoas têm usado peças de madeira bioluminescente para marcar seus sinais à noite, e existem registros de soldados fixando pedaços de madeira luminosa em seus elmos para serem vistos pelos outros durante à noite (Glawe & Solberg, 1989). Nos EUA o brilho produzido pela biolumi-nescência desses fungos tem sido chamado de “foxfire”. Para informação de algumas espécies bioluminescentes nos EUA ver O’Kane et al. (1990). Uma das espécies mais conhecidas é o chamado cogumelo Jack-O-Lantern, cujas lamelas laranjas brillham na escuridão.
	Desafortunadamente, para a disciplina da micologia, poucos indivíduos se dão conta de quão intimamente suas vidas estão ligadas com as vidas dos fungos. Todavia, pode-se dizer verdadeiramente que dificilmente passa um dia no qual todos nós não sejamos beneficiados ou prejudicados, direta ou indiretamente, por estes habitantes do microcosmo. Por exemplo, se você tem um pouco mais que 50 anos, provavelmente é difícil comprender como muitas vidas tem sido salvas pela penicilina. Este antibiótico não esteve amplamente disponível, até seu desenvolvimento ter sido acelerado pela II Guerra Mundial. Pelo menos um proeminente micólogo foi salvo da meningite justamente quando o antibiótico tornou-se disponível. Antes do advento da penicilina, uma infecção, mesmo de uma arranhadura, poderia levar à amputação de um membro ou mesmo à morte. É possível que voce também tenha sobrevivido para estudar fungos devido a um antibiótico fúngico. É óbvio que os indivíduos que estudam fungos devem fazer um trabalho mais eficiente de educação do público em geral, sobre a importância desses organismos. Talvez o primeiro passo seja simplesmente divulgar e aumentar, sobretudo, o conhecimento do público a respeito dos fungos. Um exemplo de um evento recente que, provavelmente, fez mais neste sentido do que qualquer outro em muitos anos, foi o registro de Smith et al. (1992) em Armillaria bulbosa (= Armillaria gallica), uma espécie parasita facultativa de raízes de árvores, que pode estar entre os maiores e mais velhos organismos vivos. Este registro não foi unicamente realçado na mídia científica (Brazier, 1992; Gould, 1992), mas também foi amplamento divulgado em jornais dos EUA e Grã-Bretanha. Basicamente, o que Smith et al. (1992) relataram foi que um clone de Armillaria bulbosa - denominado popularmente com “fungus humongous” - que ocupa um mínimo de 30 acres em uma floresta de Michigan e o soma pesa cerca de 10 toneladas6.
6. Um clone muito maior de Armillaria ostoyae em “ponderosa pine” determinado por critérios de incompatibilidade vegetativa foi registrado previamente no estado de Washington (Shaw & Roth, 1976) mas não recebeu a mesma atenção que este.
A idade deste micélio foi estimada em mais de 1500 anos. Este trabalho, com certeza, tem estimulado muita discussão sobre qual seria a exata definição de um indivíduo (Gould, 1992), e apesar do quanto possa ou não ser satisfatório, comparar esse clone de Armillaria bulbosa a baleias, “giant redwoods” (Conífera) e “bristle cone pines”, tem sido excitante ver um fungo discutido em referência a tais notáveis criaturas.
	Na fig 1-4 apresenta-se uma visão geral, ou sumário de muitas das atividades dos fungos que nos afetam, de forma benéfica ou não. A maioria dos tópicos realçados nessa figura será considerada individualmente em vários lugares desse livro. Nesse capítulo introdutório sobre tudo, só queremos introduzi-los em alguns desses tópicos. Como podemos ver na figura, o papel mais importante desempenhado pelos fungos na nossa ecosfera não está identificado especificamente. Sem dúvida, contudo, os fungos são os agentes mais importantes de degradação na Terra. Isso é particularmente verdadeiro em ecossistemas florestais onde os fungos são os principais agentes que decompõem celulose e lignina, os componentes primários da madeira. Na realidade, a produção de biomassa em um ecossistema florestal é longamente controlada por fungos degradadores de madeira, com esses organismos determinando as taxas de quais nutrientes são liberados de volta ao ecossistema seguindo a morte das árvores. Gilbertson (1980), em sua interessante revisão das atividades de fungos degradadores de madeira em florestas nos EUA, discutiu a importância dos resíduos de podridão castanha na manutenção das florestas de coníferas do oeste dos EUA. Os resíduos são deixados após a decomposição da celulose por certos fungos.
	Além de sua importância como decompositores em ecossistemas florestais, os fungos são responsáveis pela destruição de uma ampla variedade de produtos da madeira, incluindo madeira de construção, dormentes de estrada de ferro, postes de energia elétrica. Ao menos que sejam protegidos da umidade ou tratados com preservantes, serão certamente atacados por vários fungos degradadores de madeira. Os custos associados com nossos esforços para proteger os produtos de madeira da degradação estão desequilibrados. Uma espécie famosa degradadora de madeira é Serpula lacrimans, que causa um dano conhecido comumente como podridão seca. Quando se usavam barcos de guerra de madeira, esse fungo foi a maior causa de degradação desses navios (Findley, 1982). Nesse aspecto James Sowerby (1757-1822) é citado por ter sido o primeiro consultor micólogo, tendo sido contratado pela Marinha Real para reduzir as perdas por podridão dos navios de guerra britânicos. Mesmo hoje em dia S. lacrimans é ainda importante, principalmente na Europa, onde a podridão seca causa tremendos danos em elementos estruturais de madeira e nos pisos em casas e outras construções. Seus efeitos destrutivos são comparáveis aos causados por termitas nas estruturas de madeira nos EUA.
	Devido a capacidade dos fungos em utilizar substratos muito diferentes, como alimento, eles são capazes de atacar inúmeros produtos utilizados por nós, incluindo tecidos, couro, vários produtos do petróleo (incluindo certos combustíveis e lubrificantes) e é claro, a maioria de todos víveres. Em nossos esforços pera proteger nossos alimentos dos fungos - e é claro das bactérias- nós empregamos uma variedade de acessos incluindo secagem, salgagem, congelamento, aquecimento, enlatados, irradiação e o uso de aditivos químicos. Além de simplesmente danificar alimentos, certas espécies de fungos também produzem substâncias tóxicas conhecidas como micotoxinas em certos materiais vegetais que são consumidos diretamente por como alimento ou como ração para nossos animais. Exemplos particularmente notáveis são as ocratoxinas produzidas em grãos de cereais por Aspergillus ochraceus e Penicillium viridicatum, as aflatoxinas produzidas por Aspergillus flavus e A. parasiticus em várias nozes e grãos (amendoins, pecãs, milho e millet), e a fumonisinas produzidas em milho por Fusarium moniliforme. As ocratoxinas têm sido implicadas em um tipo de atrofia renal humana endêmica na Bulgária, România e Iugoslávia (Mantle & McHugh, 1993), enquanto aflatoxinas têm sido relacionadas a causar câncer em todas as espécies de animais testadas e estão entre os mais potentes compostos carcinogênicos já identificados (Ames et al., 1987). O consenso atual parece indicar que as aflatoxinas também causam câncer hepático em humanos, e atualmente esses compostos são as únicas micotoxinas reguladas nos alimentos nos EUA. Interessante é que as aflatoxinas não se apresentam somente sobre materiais vegetais, mas também em alimentos de origem animal, como carne, ovos e produtos lácteos. As fumonisinas, só recentemente, têm começado a receber atenção, mas estão começando a ser implicadas em câncer esofageal humano, uma enfermidadeneurologica fatal de cavalos, e uma condição respiratória fatal em porcos. Todas essas condições são o resultado do consumo de milho contaminado por F. moniliforme. Inúmeras otras espécies de Fusarium também são conhecidas por produzir outras potentes toxinas, algumas das quais são citadas como tendo sido usadas nas agentes biológicos nas guerras no Vietnam e Afganistão.
	Com relação às micotoxinas também poderia ser mencionado Claviceps purpurea, uma espécie que será considerada em detalhe no capítulo 12. Esse organismo ataca várias gramíneas, incluindo o centeio, produzindo pequenas estruturas resistentes e escuras chamadas esclerócios nas porções férteis do hospedeiro. Essas estruturas contêm diversos tipos de alcalóides tóxicos que causam vasoconstrição e afetam o sistema nervoso central. Elas são venenosas, não unicamente para herbívoros, silvestres ou domes-ticados, que as ingerem quando estão pastando, mas também para humanos que comem pão de centeio contaminado com os esclerócios. Devido aos métodos impróprios para remover os esclerócios durante a limpeza do centeio antes da fabricação da farinha, os humanos sofreram no passado uma horrível enfermidade chamada de fogo de Santo Antônio ou Fogo Santo. Foi assim denominada porque os indivíduos que a apresentavam sentiam as partes de seu corpo pegando fogo, devido ao inadequado fluxo sanguíneo. Muitos morreram de forma terrivel devido à doença, principalmente em países em que o consumo de pão de centeio era alto. Matossian (1989) tem sugerido que as esporádicas erupções de ergotismo, o nome comum para o envenenamento resultante das toxinas de C. purpurea, podem ter sido responsáveis pelas taxas de baixa natalidade e alta mortalidade, do século XIV ao XVIII, na Europa e nos EUA. Entre outras coisas, os produtos químicos dos esclerócios do fungo podem induzir abortos. Interessante é que alguns desses produtos agora são extraídos e usados medicinalmente para induzir contrações, prevenir hemorragias durante o parto e diminuir a dor da enchaqueca. Para a obtenção de grandes números de esclerócios para a extração comercial dos produtos químicos, plantas de centeio, em certas partes do mundo, são intencionalmente inoculadas com os esporos do patógeno.
	Com relação aos compostos importantes para uso na medicina, os fungos têm provado ser um grupo de organismos extremamente importan-te. O mais famoso grupo, de compostos já descobertos, é claro, são os agentes antibacterianos conhecidos como penicilinas. Inicialmente a penicilina foi obtida com fins comerciais do mofo Penicillium chrysogenum. Detalhes relacionados à descoberta das propriedades antibacteriológicas deste mofo, pelo microbiologista britânico Alexander Fleming em 1928 e o subsequente desenvolvimento da penicilina como a primeira droga milagrosa, pode tornar-se uma leitura fascinante (Wilson, 1976; Macfarland, 1984; Hobby, 1985). Em nossa atenta leitura da literatura, estavamos interessados em encontrar quanto de trabalho havia sido feito no desenvolvimento da droga, no início da década de 40, foi conduzido no U.S. Departamento de Agricultura dos EUA (USDA) em Peoria, Illinois, e que o mais importante “strain” de P. crysogenum usado nesse trabalho pioneiro foi encontrado em um melão verde (cantaloupe) mofado encontrado em um mercado em Peoria. Outro importante grupo de compostos fúngicos relacionados às penicilinas são as cefalosporinas, produzidas por Cephalosporium acremonium. Essses compostos, como as penicilinas, matam as bactérias por inibir as enzimas envolvidas na biossíntese de parede.
	Um outro composto fúngico importante, que literalmente tem explodido sobre a cena biomédica em anos recentes, é a ciclosporina. Sob os nomes fantasias de Sandimman e Sandimmune, este composto é um agente imunodepressor extrema-mente efetivo. Devido a disponibilidade da ciclosporina, certos transplantes de órgãos são considerados hoje como procedimentos de rotina. Essse composto foi descoberto no início dos anos 70 em Cylindrocarpon lucidum e Tolypocladium inflatum (Borel, 1982), dois fungos que foram isolados de mostras do solo. Enquanto a descoberta de novos compostos de origem fúngica, medicamento-samente importantes, tem diminuido nos últimos anos, há pouca dúvida que muitas outras drogas fúngicas esperam ser descobertas na natureza. Por exemplo, recentemente (Stone, 1993) pesquisadores em Montana isolaram uma nova espécie fúngica que é capaz de produzir taxol, uma droga normalmente obtida da casca de uma árvore de teixo de suprimento limitado, que tem mostrado ser promissor no tratamento de câncer ovariano. Todavia esse registro não havia sido substanciado até a edição desse livro. No momento em que você lê esse capítulo, muitos indivíduos - a maioria empregados em companhias farmacêuticas - estão devotando muito tempo, esforço e dinheiro para pesquisar fungos que produzam produtos químicos aproveitáveis (ATCC, 1991).
	Historicamente, inúmeros fungos, incluindo corpos frutíferos de fungos ramificados, têm sido usados em medicina natural (herbal medicine). O fungo degradador de madeira Ganoderma lucidum é um exemplo, que está sendo cultivado atualmente, por seus benefícios médicos. Esporos de “puffballs” também têm sido usados como “styptic” na Europa, e esta pode ter sido a proposta daqueles que foram encontrados armazenados, desde os tempos romanos, no muro de Hadrian na Grã Bretanha. Na América do Norte, micélios de Fomitopsis officinalis, de madeira em decomposição, foram utilizados por madeireiros para parar a hemorragia de ferimentos com machadinha (Gilbertson, 1980).
	Através da história há evidências indicando que uma variedade, de diferentes fungos, tem sido consumidas pelos humanos como alimento. Até a ingestão de corpos frutíferos de um mofo limoso plasmodial tem sido registrada em Vera Cruz (México). O cultivo de cogumelos como alimentos começou a ser registrado desde 600 A.C. na China (Chang, 1993). O cultivo de cogumelos na Europa parece haver começado na França ao redor de 1650. Espalhou-se por outros países europeus e entrou provavelmente no Estados Unidos, através da Inglaterra em 1870. Desde então, a produção comercial de cogumelos tem se tornado uma indústria muito grande e lucrativa, não só nos EUA, mas também no México e sudeste asiático, sendo que a produção mundial de cogumelos comestíveis foi de mais de 3,7 milhões de toneladas, considerando o período de 12 meses de 1989-1990 (Chang, 1993). O fato de que vários tipos de cogumelos possam crescer em substratos baratos comumente considerados como materiais de sobra, tais como, adubo, caules de tabaco, palha de trigo e arroz e serragem, tem sido noticiado por criativos e industriosos empresários. Nos EUA a maioria dos produtores tem se concentrado em Agaricus brunnescens (= A. bisporus) e esta espécie é a mais facilmente encontrada à venda nas mercearias, bem como sobre pizzas. Todavia, em anos recentes uma variedade de outras espécies com nomes vulgares como shiitake, oyster, enokitake e cogumelo da palha, vem crescendo comercialmente e são encontradas nos mercados. Algumas dessas espécies são encontradas em “kits de cogumelos”, para aqueles que querem produzí-los em casa. Além de apresentarem um sabor particular, os cogumelos têm um significativo valor nutricional (Buswell & Chang, 1993). Por exemplo, o Indice Nutricional - uma medida para o conteúdo de aminoácidos essenciais em alimentos - para A. brunnescens, é mais alto do que o de todos vegetais, excepto espinafre e feijão de soja. Vários cogumelos também têm sido registrados por suas propriedades medicinais, que variam de efeito antitumoral até hipocolesterolêmico (Buswell & Chang, 1993). Certas espécies também têm sido consideradas como afrodisíacas e afastariam a velhice (Findlay, 1982; Claydon, 1984; Flynn, 1991). Informações sobre técnicas de cultivo e utilidades de várias espécies de cogumelos comestíveis são encontradas em Stamets (1993).
	Ainda no tópico de fungos comestíveis, necessitamos mencionar as trufas e morelas, duas formas que são muitissimoapreciadas por seu sabor. As trufas estão associadas com as raízes de certas árvores e produzem seus pequenos esporóforos turbiformes no solo. Em certas partes da Europa as trufas estão associadas com o carvalho, e são utilizados porcos e cães para coletá-las. As trufas européias são vendidas nos mercados a centenas de doláres a libra (= 453,59 g). conhecidas vulgarmente como cogumelos-esponja, por sua aparência, os esporóforos de morelas são produzidos na natureza unicamente por poucas semanas na primavera e em certas regiões geográficas. Em muitas aréas, nos EUA a procura por morelas tem se tornado uma atividade de lazer popular, e certas pessoas planejam suas férias para que coincidam com a estação das morelas. Os cientistas vêm tentando domesticá-las a um longo tempo, e agora, parecem haver conseguido, já que morelas comerciais, não silvestres, estão à disposição em restaurantes e mercearias. Para maiores informações sobre morelas ler Smith (1988).
	Antes de sairmos do tópico dos cogumelos comestíveis, deveríamos mencionar o matsutake ou cogumelo dos pinheiros (Tricholoma magnivelare) que é comum em algumas partes do oeste dos EUA. Recentemente, algumas pessoas têm começado a coletar os esporóforos desse fungo em uma escala massiva para exportá-lo para o Japão, onde é pago um alto preço. Coletas em grande escala dessa espécie têm levado a inquietações ecológicas, e existem registros atuais de “roubos de fungos” por indivíduos armados, tanto em parques nacionais, quanto estaduais. Esses tipos de eventos associados às preocupações sobre a coleta de fungos alucinógenos para uso pessoal ou venda, tem dado aos caçadores de fungos, uma espécie de “má fama” nos EUA. Entretanto muitas pessoas que adoram coletar, identificar e em alguns casos comer cogumelos silvestres, são cidadãos responsáveis. Muitos são membros de Clubes Micológicos amadores locais, e essas organizações têm feito muito para educar o público sobre fungos através da realização de workshops e organizando saídas de coleta conhecidas como “forays”. Nesse aspecto, a Sociedade Norte Americana de Micologia publica o jornal MacIlvania que é lido pelos amadores mais sérios.
	Com relação a cogumelos silvestres, necessitamos enfatizar que nem todas espécies são boas para comer e que inúmeras são venenosas (Lincoff & Mitchel, 1977; Ammirati et al., 1985; Bresinsky & Besl, 1990). Infelizmente, incidentes com cogumelos venenosos parecem estar em aumento nos EUA. É só ler o jornal regularmente para confirmar esse fato. Qualquer iniciante, portanto deveria confirmar, através de um especialista, se os espécimes coletados são comestíveis ou não. Os efeitos de envenenamento por cogumelos variam muito e dependem de vários fatores, sendo o mais importante a espécie ingerida (Lincoff & Mitchel, 1977). Os sintomas podem aparecer rapidamente ou podem ser adiados por muitas horas, podem variar de pequenos distúrbios gastero-intestinais a severos danos ao fígado e ao rim, o que usualmente resulta em morte. Alguns dos mais venenosos pertencem ao gênero Amanita e são discutidos no Cap. 17. Espécie do Ascomycetes Helvella também são muito venenosas, e não são citadas porque podem ser confundidas com as altamente valorizadas morelas mencionadas acima.
	Devido às suas habilidades degradadoras em uma ampla variedade de substratos, os fungos podem envenenar-nos por outras vias que não a ingestão de seus corpos frutíferos. Por exemplo, alguns anos atrás o embaixador norte-americano na Itália ficou doente devido ao ataque de um fungo ao pigmento verde do papel de parede de seu dormitório, que produzia arsina, um gás venenoso (Findlay, 1982).
	Além dos cogumelos comestíveis, mais conhecidos, comentados acima, dois outros interessantes exemplos de estruturas fúngicas que são comidas por seres humanos são as frutificações de espécies sul-americanas de Cyttaria e as galhas de Ustilago maydis, que são produzidas em espigas infectadas de milho. Cyttaria é um parasita de faia sulina (Nothofagus) e produz um grande número de frutificações parecidas com bolas de golfe, de cores brilhantes, noas ramos de seu hospedeiro. Sendo levemente adocicada e deliciosa quando frita em manteiga, essas frutificações são vendidas em alguns países da América do Sul, tais como Chile e, aparentemente, já em 1765 foram usadas como complemento alimentar das tripulações dos barcos (Minter et al., 1987). A comestibilidade das galhas de U. maydis vem sendo conhecida desde o tempo dos astecas (Kealey & Kosikowski, 1981). Comumente conhecido como “cuitocoche” ou “huitacoche”, essas estruturas tem tornado-se popular como aditivos alimentares na cozinha mexicana e recentemente tem chamado a atenção de gourmets nos EUA. Algumas vezes comercializadas como “cogumelos do milho” essas galhas alcançam um bom preço, um fato que tem levado produtores a explorar procedimentos de inoculação que asseguram a produção de um grande número de galhas (Pope & McCarter, 1992).
	Inúmeros outros fungos são usados para produzir diferentes tipos de alimentos. Espécies de Penicillium são, por exemplo, responsáveis pelos sabores, altamente apreciados de queijos como: Danish Blue, Roquefort, Camembert, Brie e Gorgonzola. Adicionalmente, alguns fungos são usados na produção de vários tipos de embutidos e na produção de molho de soja, do trigo e do feijão de soja. Rhizopus, Mucor e Actinomucor são exemplos de fungos que são usados para aumentar a digestibilidade de materiais vegetais tais como arroz, trigo e feijão de soja e para dar sabor de carnes aos produtos finais (Locjwood, 1975; Hesseltine & Wang, 1986). Exemplos das assim chamadas comidas fermentadas incluindo miso que é feito no Japão de arroz, tempeh e sufu feitos na Indonésia e na China de feijão de soja. Os dois últimos produtos tem tornado-se populares em pratos vegetarianos nos EUA. Nessa mesma via, Fusarium graminearum tem sido usado no Reino Unido para produzir uma micoproteína de alta qualidade, aromatizando e fabricando inúmeras carnes “vegetais” (Trinci, 1992).
	Enquanto no tópico de micoproteína, mencionamos que há inúmeras leveduras, incluindo aquelas de padaria e bebidas fermentadas, são capazes de produzir grandes quantidades de proteína, mesmo quando crescendo em substratos que são considerados dejetos. Todavia o potencial das leveduras para produzir proteínas para consumo humano não tem sido completamente explorado por inúmeras razões. Dois importantes problemas são que as leveduras produzem altos níveis de ácidos nucleicos que causam problemas à saúde quando consumidos por humanos e as proteínas das leveduras tem baixas quantidades de aminoácidos essenciais requeridas por animais.
	Como mencionado antes, ambas indústrias de panificação e de bebidas fermentadas dependem da habilidade de leveduras tais como Saccharomyces cerevisiae para converter glicose em álcool etílico e dióxido de carbono. Na panificação, há liberação de pequenas bolhas de dióxido de carbono durante a fermentação do pão, enquanto que nas bebidas fermentadas é o alcool que é o produto final mais importante. Virtualmente qualquer parte de uma planta que contenha açúcar ou amido pode ser usada para fazer álcool. Vinhos são, é claro, feitos de diversas frutas, mais de uvas preferencialmente certos tipos que crescem em regiões específicas do mundo. Na fabricação de certos vinhos de sobremesa, as uvas são levadas ao campo para propositadamente serem infectadas por Botrytis cinerea, a podridão nobre, que dá doçura às uvas. Os humanos, contudo, podem ser mais criativos em seus esforços para produzir bebidas fermentadas, como evidenciado na produção de tequila a partir da centenária planta Centro-americana Agave tequilana; vodka, feita originalmente de trigo, mas também de centeio, batatas ou milho; sake de arroz; cerveja de cevada, arroz ou millet; “bourbon” de milho, cevada de cevada; hidromel e todas cocções como busa, kefir, e koumiss do leite de vários animais. Devido a que as leveduras não são capazes de metabolizar amido, qualquer fermentação que involva grãos deveincluir uma etapa na qual os amidos dos grãos são convertidos em açúcares. Isto pode ser acompanhado pelo malteamento (misturando o grão e aquecendo-o gentilmente para induzir germinação, durante este tempo a amilase dos grãos faz o trabalho), mastigando o grão, e permitindo que a amilase na saliva seja enganada ou usando fungos como Rhizopus e Mucor para sarificar o amido.
	Além de ser usado para produzir álcool etílico, os fungos tem sido usados comercialmente para para produzir uma variedade de compostos químicos, incluindo ergosterol, cortisona, várias enzimas tais como (-amilase, renina, calulase, catalase, lactase e lipase; ácidos tais como o fumárico, lático, cítrico, succínico a oxálico; e reguladores do crescimento vegetal como giberelinas. Vitaminas B também podem ser obtidas de leveduras, incluidas aquelas usadas em panifícios e cervejarias. Com estas linhas podemos notar que os maiores esforços são sobre a forma para fazer engenharia genética em fungos para incrementar a produção de vários produtos, incluindo alguns dos citados acima. Sistemas de transformação já estão disponíveis para inúmeras espécies de fungos (Rambosek & Leach, 1987; Timberlake & Marshall, 1989; Timberlake, 1991) e o cenário está pronto para uma significativa entrada na área de biotecnologia fúngica.
	Os fungos são, é claro, tremendamente importantes para a humanidade devido às doenças causadas em plantas. Muitas espécies de plantas são objeto do ataque de inúmeros diferentes tipos de patógenos fúngicos. As consequências de tais infecções são variadas mas a vaides de a morte de indivíduos de uma espécie em particular até o desenvolvimento de sintomas insignificantes associados, com pouco, ou nenhum, dano ao hospedeiro. Além das sérias perdas econômicas causadas a espécies agronomicamente importantes, alguns fungos - bem como certas espécies consideradas no Filo Oomycota (Cap. 23) - tem alterado literalmente o curso da história a também tem alterado os costumes sociais em escala regional e global (Carefoot & Sprott, 1967; Large, 1940; Matosian, 1989; Shumann, 1991). Através dos anos, todavia, vem sendo feitos importantes progressos na proteção contra fungos de muitas das plantas importantes para a humanidade, usando uma combinação de tentativas, incluindo práticas agriculturais seguras tais como rotação de cultivos e fitosanidade, o desenvolvimento de programas de cruzamento e engenharia genética para a produção de plantas que são geneticamente resistentes a certos patógenos fúngicos, modificações no próprio patógeno, o uso de quarentenas que prevêm o alastramento dos patógenos, e é claro, o uso de agentes químicos com propriedades fungistáticas ou fungicidas. Infelizmente, em muitos casos, temos como única opção o uso exclusivo de práticas de controle químico. Atualmente, sérias preocupações sobre questões ambientais estão levando a um declínio no número de produtos químicos de uso seguro nas plantações. Como resultado os fitopatólogos e outros preocupados com a saúde das plantas estão enfrentando o tremendo desafio de encontrar novas e inovadoras formas para controlar as doenças causadas por fungos sem usar o controle químico (Kuc, 1982). Muitas das novas tentativas indubitavelmente vão requerer mais conhecimento completo de biologia básica e de ciclos vitais dos fungos patógenos, além dos que estão disponíveis atualmente. Esta é, claro, uma área na qual os micólogos podem e deveriam jogar um importante papel.
	Exemplos de inúmeras das doenças clássicas serão mencionadas em vários capítulos deste livro. Estas incluem o míldio das uvas e a requeima das batatas, a ferrugem do milho, a ferrugem preta do trigo, ergotismo, etc.
	Os fungos patogênicos de plantas não estão, é claro, só limitados hospedeiros de importância agronômica. Na verdade, um aspecto sub-estudado em ecologia é a influencia de patógenos fúngicos em populações vegetais naturais, e os micólogos poderiam trabalhar com ecólogos vegetais para remediar esta ausência de conhecimento. Todos os tipos de plantas são atacados por fungos parasíticos, incluindo espécies de ervas daninhas que podem causar sérios problemas para os fazendeiros, administradores de campos de golfe, e pessoas envolvidas em vendas de terras e áreas naturais e propietários de campos e jardins. Neste aspecto, os cientistas estão ativamente envolvidos no desenvolvimento de certos fungos fitopatogênicos como agentes do controle biológico de ervas daninhas. Esses esforços de pesquisa são muito oportunos porque as preocupações ambientais relacionadas a todo tipo de produtos químicos incluindo os herbicidas que são usados para controlar as ervas daninhas. Hoje, provavelmente o melhor exemplo de um “micoherbicida” é uma cultura de Colletotrichum gloesporoides, cujos esporos são comercializados sobre o nome de Collego. Este fungo tem sido usado com sucesso no controle de Aeschynomene virginica (ervillhaca) nos campos de arroz em algumas áreas de plantio de arroz nos EUA. Strobel (1991) pode ser consultado para informação adicional de espécies fúngicas que podem ser possíveis agentes biológicos. Além de usar todo o fungo vivo como agente de controle biológico, algumas tentativas estão sendo realizadas para usar certas fitotoxinas fúngicas como herbicidas. Estes compostos químicos, produzidos por alguns fungos patogênicos de plantas, causam a morte de células e tecidos do hospedeiro.
	Nem todos fungos associados a plantas superiores são prejudiciais. As hifas de alguns fungos formam órgãos especializados com as raízes das plantas. Conhecidos como micorrizas (Caps. 5, 13 e 17) estas estruturas providenciam benefícios significativos tanto para os fungos quanto para as plantas envolvidas. Apesar de anteriormente as micorrizas serem só relacionadas às orquídeas e serem consideradas raras, agora se sabe que a maioria dos grupos de plantas superiores são micorrízicas e crescem melhor sobre condições naturais, quando os parceiros fúngicos específicos estiverem presentes no solo para formar tais relações. Algumas plantas como os pinheiros são obrigatoriamente micorrízicos. Atualmente, há um enorme interesse em usar micorrizas para ajudar no estabelecimento de florestas plantadas de alto rendimento, recuperar solos de mineração e incrementar o crescimento de importantes plantações de interesse alimentício (Marx & Artman, 1979; Harley & Smith, 1983; Sieverding, 1991; Bethlenfalvay & Linderman, 1992).
	Uma maravilhosa diversidade de fungos conhecidos como endófitos tambem tem mostrado estar presente em folhas e caules de plantas saudáveis desde coníferas até gramíneas (Carroll, 1988; Rollinger & Langenheim, 1993). Muitos destes fungos parecem proteger seus hospedeiros tanto de fungos patógenos, quanto de insetos e mamíferos herbívoros. Infelizmente, diversas forrageiras tais como festuca (Festuca arundinacea) e azevém (Lolium perenne) muitas vezes contem endófitos que produzem altos níveis de alcalóides ativos que são tóxicos a mamíferos domésticos (Siegel et al., 1985; Bacon et al., 1986; Clay, Bacon et al., 1986; Clay, 1989), causando desordens físicas e comportamentais alarmantes. Em rebanhos, os sintomas variam de letargia a pobres performances, que significa, baixo ganho de peso diário, baixa produção de peso, baixa produção de leite e redução da fertilidade até manifestações dramáticas tais como abortos espontâneos e um tipo de gangrena que pode levar a perda das orelhas, rabo e até das patas. A toxicidade dos endófitos pode ser um problema particularmente sério no sudeste dos EUA. Historicamente, muitos dos problemas desta região podem ser seguidos a partir dos anos 40 em um cultivar comercial de festuca conhecido como Kentucky-31. Devido a suas evidentes características de crescimento, Kentucky-31 tornou-se amplamente distribuído, mas nos cerca de 10-15 anos subsequentes ao seu aparecimento tornou-se aparente que algo ia mal com o gado que se alimentava dele. O fato de Kentucky-31 contivesse endófitos tóxicos finalmente foi descoberto na metade dos anos 70 por pesquisadores na Georgia(Bacon et al., 1977). É interessante apontar que o fungo presente tanto em festuca quanto em azevem são muito relacionados com o fungo do ergot Claviceps purpurea mencionado antes. Uma questão positiva é que os produtores de sementes estão comercializando agora sementes de festuca infestadas de endófitos para uso em gramados. Estes cultivares são considerados superiores aos sem endófitos em termos de resistência a insetos e tolerância à aridez.
	Como podemos observar, uma das coisas realizadas bem pelos fungos. é interagir com outros organismos vivos. Conquanto as associações dos fungos com os insetos não parecem estar diretamente relacionadas com as atividades humanas, mas elas estão. Insetos e outros artrópodos que são benéficos e prejudiciais para nós abundam em nosso meio, e seus números estão aumentando com a exploração de novas regiões pelos entomologistas. Na verdade é bem publicitada a ausência de conhecimento de insetos tropicais que tem ajudado a impulsionar o atual intenso interesse em biodiversidade. É claro que, um grande número de fungos tambem vêm sendo coletado com os insetos, mas poucos micólogos estão disponíveis para observá-los. Hawksworth (1991) em sua estimativa do número de fungos no mundo foi inábil para incluir informação de qualquer associação artrópodo-fungo porque elas são pouco conhecidas.
	As interações parasíticas de fungos com insetos e outros artrópodos são importantes por seu uso potencial em controle biológico, bem como sua informação biológica geral. Apesar de que muitos fungos parasitas de insetos e outros artrópodos tenham um amplo espectro de hospedeiros, alguns são muito específicos em suas escolhas de hospedeiros e podem infectar uma só espécie.Especificidade de hospedeiro é importante no controle biológico devido ao grande número de insetos benéficos que necessitam proteção ao dano. Na verdade esta é uma das vantagens distintivas do controle biológico específico frente ao controle químico. Parasitas necrotróficos são encontrados em todas as classes do Reino Fungi, bem como em Oomycota. Existem espécies que se especializaram em certas cicadas, moscas, vespas, mosquitos, vespas, ácaros, aranhas e até em abelhas melíferas. Parasitismo biotrófico é menos comum, mas notável em um grande grupo de Ascomycota, os Laboulbeniales, e nas interações entre Septobasidium e insetos (scale insects).
	A base de algumas relações simbióticas entre fungos e artrópodos é a produção de celulase ou outras enzimas pelos fungos. Nos exemplos melhor conhecidos destas interações os fungos são cultivados ativamente pelos insetos, e os insetos e os insetos asseguram a dispersão dos fungos quando a próxima geração mudar-se para estabelecer uma nova colônia. Em relações bem estabelecidas entre fungos e vespas da madeira, termitas e fungos crescendo em formigueiros, o fungo não é só comido diretamente como força nutricional, mas o material vegetal ingerido pode ser usado pela ação de celulases fúngicas ou de outras enzimas (Martin, 1987).
	Nos exemplos das vespas da madeira, formigas cortadoras de folhas e termitas, as associações são com basidiomicetos. Mas ascomicetos tambem formam complexas interações com os insetos. Exemplos importantes são as de fungos com besouros ambrosia e de casca. Quase universalmente presentes em besouros-ambrosia, mas em alguns besouros de casca, os fungos são transportados em bolsas especializadas que variam de pequenas depressões na cuticula dos insetos a grandes estruturas glandulares que produzem secreções, aparentemente protegen-do as células fúngicas. Essas estruturas cheias de fungos são chamadas micângios. Para estes besouros o fungo, ou uma mistura de fungos e tecido da planta, é a sua única fonte de alimento. É interessante que os ascomicetos envolvidos com esses besouros provavelmente não produzem celulases.
	Outros fungos apresentam relações mais íntimas com seus parceiros insetos e vivem dentro de seus corpos como simbiontes intracelulares. Estes fungos são leveduras ascomicéticas que liberam do material vegetal de produtos tóxicos secundáriospara seus hospedeiros (Dowd, 1989). Entretanto, alguns endosimbiontes de insetos são bactérias.
	Outros insetos pastam em fungos. Dois exemplos muito diferentes de micofagia envolvem Drosophila. Jaenike et al. (1983) encontraram que larvas de espécies de Drosophila micófagas e reproduzidas sobre fungos tinham alta tolerância a amanitina, veneno de Amanita. Entretanto, os nematódios parasitas de moscas, comuns em cogumelos não-tóxicos, não tinham tolerância. Apesar de que moscas não micófagas do mesmo grupo de espécies de Drosophila tambem poderiam tolerar amanitina em concentrações mais baixas, elas não tinham o padrão comportamental necessário para micofagia e reprodução em cogumelos. Jaenike sugeriu que a vantagem seletiva dada pela ausência do parasitismo do nematode, poderia contribuir para aumentar a resistência à amanitina nas espécies micófagas de Drosophila. Outras espécies de Drosophila pastam em leveduras associadas com cactus. Entre as interessantes interações registradas por Starmer et al., 1988 foi a descoberta de que a escolha de parceiros e o desenvolvimento larval de Drosophila foi influenciada positivamente pela heterogenea comunidade de leveduras em lesões de cactus. Isto contrasta com os exemplos anteriores de associações de insetos e fungos porque na maioria dos casos uma só espécie de fungo estava envolvida.
	Mais informação de fungos associados com artrópodos, incluindo interações para dispersão de esporos, podem ser encontradas em outros capítulos deste livro. Informação adicional de relaçòes entre fungos e insetos também podem ser encontradas em inúmeros livros Batra (1979), Wheeler & Blackwell (1984), Pirozynski & Hawksworth (1988), Wilding et al (1989), Margulis & Fester (1991), Carroll & Wiclow (1992).
	Os fungos também formam associações com cianobactérias e algas verdes. Estes bem conhecidos simbiontes, os líquens, envolvem espécies de Ascomycetes e, ocasionalmente, Basidiomycota. Neste livro, discutiremos alguns dos Ascomycota e sua biologia com seus respectivos grupos taxonômicos.
	Uma variedade de diferentes tipos de fungos, bem como de diversos membros de Oomycota, são capazes de causar doenças nos humanos e em animais. Estudos destes organismos e as condições patológicas que eles causam são parte da micologia médica. Afortunadamente, para nós e nossos animais de estimação e outros animais domésticos, somente um número relativamente baixo do tremendo número de fungos ao nosso redor são patógenos agressivos da saúde. Adicionalmente, os verdadeiros patógenos não são transmitidos de um individuo ao outro. Todavia aquelas espécies não são importantes como patógenos de animais e humanos. Infecções fúngicas ou micoses, como são chamadas, podem ser bastante sérias, e certas tipos de infecções muitas vezes resultam em morte apesar de todos tratamentos médicos disponíveis. 
	Falando em geral, as infecções fúngicas de humanos são mais comuns nas regiões tropicais do mundo. Entretanto, em anos recentes o número de indivíduos infectados com fungos tem aumentado drasticamente em todas as regiões do mundo. Isto é devido em primeiro lugar ao fato de que existem mais indivíduos predispostos a infecções fúngicas que antes. Os indivíduos com sistemas imunes comprometidos são a maioria de risco. Pacientes com AIDS são, por exemplo, comumente atacados por fungos, assim como pacientes com câncer, com queimaduras e transplantados aos quais tenham sido drogas tais como ciclosporina. Em alguns casos os fungos que atacam estes indivíduos são espécies reconhecidas como causadoras de infecções em humanos, mas em outros casos as espécies envolvidas são sapróbios comuns não considerados normalmente como ameaça a saúde humana.
	Kwon-Chung & Bennett (1992) providenciaram uma lista de cerca de 30 das mais importantes micoses, as fontes dos organismos que as causam e os portais pelos quais eles entram no corpo. Estas enfermidades variam de micoses superficiais tais como atinha, até infecções profundas que envolvem pele, músculos, ossos e órgãos internos. Ao lado das tinhas que são discutidas no Cap. 11, exemplos de algumas das mais significativas micoses encontradas na partes temperadas do mundo incluem blastomicoses, coccidiomicoses, histoplasmoses, aspergiloses, criptococcoses e candidiase. Qualquer destas infecções pode ser fatal sob certas condições. Destas duas vem recebendo atenção, a criptococcose devido a AIDS. De acordo com Kwon-Chung & Bennett (1992), esta doença é a quarta mais conhecida em pacientes com AIDS, 7-8% nos EUA. A outra é a candidiase, causada por Candida albicans, um dos mais oportunistasde todos os fungos potencialmente patógenos a humanos. Esta espécie, um componente normal da microflora humana, pode tornar-se patogênica como resultado de qualquer um dos inúmeros fatores de predisposição, alguns dos quais são bastante óbvios e outros que não o são. As infecções muitas vezes envolvem pele, cabelo, unhas e membranas mucosas. Infecções da boca são conhecidas como “sapinho”, enquanto casos de candidiase vaginal são referidos usualmente como infecções de leveduras. A candidiase pode, todavia, envolver quase qualquer parte do corpo, incluindo esôfago, fígado, trato urinário, intestino, coração, olhos, articulações e até o sistema nervoso central. 
	Uma importante contribuição da sistemática molecular foi determinar que o agente de pneumonia associado à AIDS, Pneumocystis carinii é um fungo, ao invés de um protozoário. Esta informação é essencial para o efetivo tratamento desta situação.
	Em relação ao tópico de saúde humana, nota-se que os esporos de muitos diferentes tipos de sapróbios ou patógenos vegetais podem causar alergia quando inalados. O entendimento deste fato foi algo lento em chegar, mas o crescimento de estudos em fazendeiros expostos a nuvens de esporos liberados durante a colheita de vegetais cultivados infectados por patógenos (Cadham, 1924). O significado de esporos fúngicos como alérgenos é agora bem conhecido, e seus níveis no ar são monitorados rutineiramente junto com os grãos de pólen. Por exemplo, muitas radios regioneis e reportagens do clima em TV dão os níveis de “mofo” ou “esporos de mofo” no ar, junto com as contagens dos tipos de grãos de pólen. Os esporos fúngicostambém podem ser um sério problema em edifícios, e os de algumas espécies foram implicados na chamada síndrome de doença de edifícios..
	Para concluir este capítulo de uma forma favorável, chamamos a atenção para o fato de que uma variedade de diferentes fungos usados como organismos experimentais os tem tornado populares para o estudo de processos biológicos fundamentais (Taylor et al., 1993). Muitas destas espécies podem crescer em meios simples em tubos de teste e requerem pouco espaço, menos cuidado, e equipamento experimental mais barato que a maioria das plantas e animais. Em particular certas espécies são especialmente valiosas como ferramentas genéticas por crescerem rapidamente, terem gerações curtas, e pequenos genomas para eucariotes, existem primeiramente na condição haplóide e produzem sexualmente esporos que podem ser isolados e plaqueados em meios nutritivos. Adicionalmente, todos os produtos da meiose sobrevivem e podem ser recuperados e analisados. Um dos mais famosos fungos usados em estudos genéticos é Neurospora crassa, o mofo vermelho do pão. Este fungo foi descoberto em 1927 pelos micólogos americanos C. L. Shear e B. O. Dodge, que demonstraram as propriedades que fazem deste organismo um organismo quase perfeito para o estudo dos princípios da hereditariedade. Em uma série de trabalhos, Dodge, passo a passo, começou as fundações de um novo ramo da ciência que veio a ser conhecido como genética dos haplóides. Geneticistas e bioquímicos alertados pelas descobertas de Dodge começaram a usar N. crassa como ferramenta experimental. Uma série de pesquisadores explicou a maneira pela qual os genes controlam as enzimas e elucidaram os caminhos que elas operam em organismos vivos, ganhando, incidentalmente, o prêmio Nobel, pelo geneticista G. W. Beadle e o bioquímico E.L. Tatum.
	Em inúmeros Basidiomycota, incluindo Coprinus cinereus e Schizophyllum commune, os genomas parentais são mantidosseparadamente por um longo período de tempo. O potencial para determinar o exato genoma de ambos parentais oferece uma vantagem sobre outros grupos de organismos para estudo de populações (P. Vilgalys, com. pes., 1993). Exemplos de outros organismos experimentais populares que serão considerados depois no livro incluem Allomyces macrogynus, Phycomyces blakesleeanus, Aspergillus nidulans e Ustilago maydis. Como comentado por Perkins (1991) o desenvolvimento de muitos destes organismos como modelo de sistemas tem sido ensombrecidos pelas tremendas contribuições que vem sendo realizadas com leveduras ascomicéticas Saccharomyces cerevisiae e Schizosaccharomyces pombe (Cap. 9 e 10). Em particular, a primeira espécie tornou-se literalmente a contrapartida da bactéria Escherichia coli, dando aos pesquisadores poderosas ferramentas para aplicar a uma tremenda variação de questões genéticas, moleculares e celulares. 
	Moléculas quimicamente modificadas de origem fúngica têm sido provadas por ser ferramentas extremamente valiosas em pesquisa ciológica e biomédica. Exemplos incluem o peptídios cíclico produzido por Amanita phalloides. As falotoxinas formam complexos fortes com actina filamentosa. Ao acoplar falotoxinas com grupos fluorescentes tais como fluoresceinas, rodomina e cumaina, eles podem ser usados como sondas para identificar filamentos de actina em células. O outro grupo de peptídios cíclicos são as amatoxinas. Estas moléculas têm uma alta especificidade para RNA polimerase II e podem ser usadas como inibidores específicos de transcrição (Faulstich, 1990). Assim eles constituem em excelentes ferramentas para estudar a variabilidade dos processos biológicos.�

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