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Lauro de Freitas 2017 PAULO ANDREI COSTA COELHO AS PARTICULARIDADES DO TRATAMENTO ENDODÔNTICO EM PACIENTES CARDIOPATAS E HIPERTENSOS Lauro de Freitas 2017 AS PARTICULARIDADES DO TRATAMENTO ENDODÔNTICO EM PACIENTES CARDIOPATAS E HIPERTENSOS Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Faculdade de Ciências Agrárias e da Saúde da União Metropolitana de Educação e Cultura – FAS/UNIME, Lauro de Freitas, como requisito parcial para a obtenção do título de graduado em Odontologia. Orientador(a): Profa. Ma. Tamara Costa Lopes Schiavotelo PAULO ANDREI COSTA COELHO PAULO ANDREI COSTA COELHO AS PARTICULARIDADES DO TRATAMENTO ENDODÔNTICO EM PACIENTES CARDIOPATAS E HIPERTENSOS Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Faculdade de Ciências Agrárias e da Saúde da União Metropolitana de Educação e Cultura – FAS/UNIME, Lauro de Freitas, como requisito parcial para a obtenção do título de graduado em Odontologia. BANCA EXAMINADORA Profa. Ma. Tamara Costa Lopes Schiavotelo Profa. Dra. Susana Carla Pires Sampaio de Oliveira Lauro de Freitas, 08 de Dezembro de 2017 Dedico este trabalho aos meus pais e aos meus avós, que sempre me apoiaram durante toda a minha caminhada. AGRADECIMENTOS Agradeço aos meus pais, Simone e Sérgio Coelho, pelo apoio e incentivo em todos os momentos dessa longa caminhada. A minha avó, Ninfa Coelho, pelo carinho e pela confiança depositada em mim e em meu sonho. A todos os meus professores, que contribuíram de maneira excepcional para a minha formação, e a minha orientadora, a Mestra Tamara Schiavotelo, pela paciência, apoio e contribuição durante a realização deste trabalho. COELHO, Paulo Andrei Costa. As particularidades do tratamento endodôntico em pacientes cardiopatas e hipertensos. 2017. 34f. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Odontologia) – União Metropolitana de Educação e Cultura, Lauro de Freitas, 2017. RESUMO O tratamento endodôntico à pacientes crônicos envolve uma série de fatores de riscos que devem ser cuidadosamente observados pelo profissional, afim de se evitar adversidades durante e após os procedimentos odontológicos. Desta forma, este estudo se propôs a realizar uma revisão bibliográfica dos principais fatores de riscos associados ao tratamento endodôntico de pacientes cardiopatas e hipertensos, com o objetivo de identifica-los para que se torne possível a adoção de medidas preventivas com o propósito de evitar complicações que coloquem em risco a saúde e a vida destes pacientes. Para tanto, foi realizado um estudo qualitativo, através de revisão bibliográfica de 23 obras disponibilizadas na íntegra nas bases de dados fornecidas pelo Portal Regional da Biblioteca Virtual em Saúde e no Google Scholar nos meses de março à julho de 2017. Concluiu-se que, para atendimento em consultório é necessário que estes pacientes estejam controlados, caso contrário, devem ser encaminhados para atendimento em âmbito hospitalar. Em pacientes cardiopatas as principais preocupações giram em torno da necessidade ou não da profilaxia antibiótica e quanto a realização de procedimentos que envolverá sangramento em pacientes anticoagulados. Em pacientes hipertensos, foi constatada a relevância da realização do controle da ansiedade e a importância da escolha correta do anestésico local. Para ambos os grupos, há necessidade de um cuidado maior para a prescrição medicamentosa, afim de se evitar interações entre os fármacos já utilizados por estes pacientes para controle da doença e possíveis complicações decorrentes das mesmas. Palavras-chave: Endodontia; Antibioticoprofilaxia; Anestésicos locais; Cardiopatias congênitas; Interações de medicamentos. COELHO, Paulo Andrei Costa. The particularities of endodontical treatment in heart disease and hypertensive patients. 2017. 34f. Course Completion Work (Graduation in Dentistry) – União Metropolitana de Educação e Cultura, Lauro de Freitas, 2017. ABSTRACT Endodontic treatment for chronic patients involves a number of risk factors that must be carefully observed by the professional in order to avoid adversities during and after dental procedures. Thus, this study proposed to perform a bibliographic review of the main risk factors associated with the endodontic treatment of cardiopath and hypertensive patients, with the objective of identifying them so that it becomes possible to adopt preventive measures in order to avoid complications which endanger the health and life of these patients. For this purpose, a qualitative study was carried out through a bibliographical review of 23 works made available in full in the databases provided by the Regional Portal of the Virtual Health Library and in Google Scholar from March to July 2017. It was concluded that, for clinical care, it is necessary that these patients be controlled, otherwise they should be referred for hospital care. In cardiopathy patients, the main concerns revolve around the need for antibiotic prophylaxis and how to perform procedures involving bleeding in anticoagulated patients. In hypertensive patients, it was verified the relevance of anxiety control and the importance of the correct choice of local anesthetic. For both groups, it is necessary a greater care for prescribed drugs, in order to avoid interactions between the drugs already used by these patients to control the disease and possible complications. Key-words: Endodontics; Antibiotic Prophylaxis; Anesthetics Local; Heart Defects Congenital; Drug Interactions. LISTA DE QUADROS Quadro 1 - Condições cardíacas associadas ao maior risco de resultados adversos da endocardite para a qual a profilaxia com procedimentos dentários é razoável ......13 Quadro 2 - Regime profilático para procedimento odontológico ................................14 Quadro 3 - Classificação dos antitrombóticos............................................................16 Quadro 4 - Medidas hemostáticas locais e sistêmicas usadas em sangramento oral..............................................................................................................................17 Quadro 5 – Classificação da pressão arterial ............................................................19 Quadro 6 – Administração dos benzodiazepínicos ....................................................20 Quadro 7 - Níveis sanguíneos de catecolaminas .......................................................21 Quadro 8 - Princípios básicos para uso de anestésico local em cardiopatas e hipertensos ................................................................................................................22 Quadro 9 - Gravidade da interação medicamentosa .................................................23 Quadro 10 - Nível da interação medicamentosa ........................................................24 Quadro 11 - Interação entre AINEs e anti-hipertensivos ............................................24 Quadro 12 - Interações farmacológicas de anticoagulantes orais com medicamentos de uso corrente em Odontologia.................................................................................26LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS AHA American Heart Association AINEs Anti-inflamatórios não esteroidais AVC Acidente Vascular Cerebral CD Cirurgião-Dentista EDTA Ácido Etilenodiamino tetra-acético EI Endocardite Infecciosa HAS Hipertensão Arterial Sistêmica IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IM Intramuscular IV Intravenoso NaClO Hipoclorito de Sódio SUMÁRIO INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 10 1 O PACIENTE CARDIOPATA................................................................................. 12 1.1 ENDOCARDITE INFECCIOSA E PROFILAXIA ANTIBIÓTICA ........................... 12 1.2 CARDIOPATAS MEDICADOS COM ANTITROMBÓTICOS ................................ 15 2 O PACIENTE HIPERTENSO ................................................................................. 19 2.1 CONTROLE DA ANSIEDADE ............................................................................. 20 2.2 ANESTÉSICO LOCAL ......................................................................................... 21 3 INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS .................................................................... 23 CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................... 29 REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 31 APÊNDICE A – Interações Medicamentosas ...........................................................33 10 INTRODUÇÃO Na odontologia, é preconizado que cada atendimento seja individualizado, de forma a se evitar complicações durante o procedimento. Para tanto, é indicado que o Cirurgião – Dentista (CD) realize uma minuciosa anamnese do paciente afim de obter informações relevantes. Esta anamnese é ainda mais imprescindível no caso de atendimento a pacientes crônicos, uma vez que, a escolha incorreta do anestésico ou a falta de uma profilaxia antibiótica pode resultar em complicações durante e/ou após o procedimento. Para pacientes cardiopatas que necessitarão de tratamento endodôntico, é preconizado que em casos específicos seja realizada a profilaxia antibiótica com a finalidade de prevenir a endocardite infecciosa (EI) causada pela bacteremia que pode ocorrer durante a cirurgia parendodôntica ou a instrumentação endodôntica do canal radicular. No que se refere ao tratamento endodôntico em pacientes hipertensos, que muitas vezes é realizado em caráter de urgência e requer período mais prolongado para sua execução, a necessidade da escolha correta do anestésico local, que seja eficaz e que não traga complicações para o paciente durante o atendimento é controverso, pois, enquanto alguns médicos especialistas recomendam o uso do sal anestésico sem vasoconstritor, especialistas da área odontológica alegam que o uso do vasoconstritor prolonga o tempo de duração do efeito do anestésico, diminuindo as chances do paciente sentir dor, evitando assim, o estresse, que causaria a liberação de adrenalina endógena, aumentando a possibilidade de complicações se comparado com a possibilidade que se tem ao usar a adrenalina como vasoconstritor, tendo em vista que, a porcentagem de adrenalina usada no anestésico é bem pequena. O crescente número de pacientes com hipertensão arterial sistêmica (HAS) ou portadores de alguma cardiopatia em consultórios odontológicos torna imprescindível o conhecimento do CD acerca das particularidades exigidas no atendimento a estes pacientes, uma vez que, o CD deve estar apto a reconhecer as doenças e medicamentos que podem influenciar de alguma forma o tratamento odontológico ou trazer riscos para o paciente no decorrer do atendimento. Assim sendo, é de extrema importância que o CD esteja qualificado a não apenas saber escolher o melhor meio de tratamento para seu paciente, mas também, 11 reconhecer as situações que possam trazer riscos para o paciente e quais medidas devem ser tomadas para evita-los. Desta forma, este estudo tem como objetivo, responder a seguinte questão: Quais os principais fatores de risco durante o atendimento a pacientes cardiopatas e hipertensos que se submeterão tratamento endodôntico? Para tanto, foi realizado um estudo qualitativo, através de revisão bibliográfica sistematizada da literatura em livros didáticos de Odontologia de autores consagrados e em artigos, dissertações e teses publicadas em português e/ou inglês nos últimos 15 anos e disponibilizados na íntegra nas bases de dados fornecidas pelo Portal Regional da Biblioteca Virtual em Saúde e no Google Scholar, utilizando os termos Endodontia; Antibioticoprofilaxia; Anestésicos locais; Cardiopatias congênitas; Interações de medicamentos; excluindo-se apenas os artigos que não estão relacionados com a área odontológica. O levantamento foi realizado nos meses de março à julho de 2017, utilizando-se um total de 23 obras. Contudo, este trabalho irá dissertar sobre quais particularidades envolvem estes pacientes durante o tratamento endodôntico. No capítulo 1 serão apresentados os cuidados que devem ser tomados durante o atendimento ao paciente cardiopata, tais como a profilaxia antibiótica e as devidas precauções a respeito dos pacientes medicados com antitrombóticos. No capítulo 2 será abordada a questão à respeito do controle da ansiedade e o cuidado na seleção e administração dos anestésicos locais em pacientes hipertensos. As possíveis interações medicamentosas entre fármacos de uso contínuo dos pacientes e fármacos prescritos pelo endodontista serão apresentadas no capítulo 3. 12 1 O PACIENTE CARDIOPATA Entre as doenças que mais causam morte no Brasil, as cardiovasculares estão entre as principais, e segundo a última Pesquisa Nacional de Saúde realizada em 2013 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em convênio com o Ministério da Saúde, cerca de 6,1milhões de brasileiros sofrem de alguma cardiopatia, correspondendo a 4,2% da população nacional com mais de 18 anos. Dentre as cardiopatias, as congênitas e as isquêmicas são as que o endodontista necessita ter um maior conhecimento devido a possibilidade de complicações durante e após o atendimento, pois as cardiopatias congênitas e a doença arterial coronariana são fatores de risco para Endocardite Infecciosa (EI), e no caso de pacientes portadores de cardiopatia isquêmica, outro ponto relevante é o fato de alguns fazerem uso de medicamentos antitrombóticos, o que aumenta o risco de hemorragia durante e após os procedimentos. (SERRANO JR. et al., 2007) 1.1 ENDOCARDITE INFECCIOSA E PROFILAXIA ANTIBIÓTICA As cardiopatias congênitas são decorrentes de defeitos embrionários que ocorrem durante o período de desenvolvimento do coração e afetam o correto desenvolvimento de suas estruturas, permitindo a comunicação entre elas; sua etiologia geralmente é desconhecida e ocorrem com maior prevalência em nascimentos prematuros. Já a doença arterial coronariana é uma doença sistêmica de natureza inflamatória que provoca a obstrução das artérias coronárias que irrigam o músculo cardíaco, levando a isquemia miocárdica devido ao desequilíbrio entre a oferta e o consumo de oxigênio pelo coração. Normalmente, essa redução do fluxo sanguíneo para o coração ocorre devido a vasoespasmos ou a obstrução das artérias causada por ateromas (placascompostas de lipídio e tecido fibroso).(SERRANO et al., 2007) Os pacientes portadores de doença cardíaca congênita, operados ou não, bem como os portadores de doença arterial coronariana e portadores prótese cardíaca, estão entre os grupos de risco (Quadro 1) listados pela Associação Americana de Cardiologia, que ao se submeter a procedimentos dentários que envolvem manipulação de tecido gengival, da região periapical dos dentes ou perfuração da 13 mucosa oral, devem realizar a prevenção da EI com a administração profilática de antibióticos. (WILSON, 2007) Quadro 1: Condições cardíacas associadas ao maior risco de resultados adversos da endocardite para a qual a profilaxia com procedimentos dentários é razoável Válvula cardíaca protética ou material protético usado para reparo valvular cardíaco IE anterior Doença Cardíaca Congênita* Comunicação interarterial cianótica não compensada Doença cardíaca congênita completamente reparada com material protético ou dispositivo, seja realizada por cirurgia ou por intervenção do cateter , durante os 6 primeiros meses após o procedimento ᵀ Doença arterial coronariana com defeitos residuais no local ou adjacente ao local de um remédio protético ou dispositivo protético (que inibe a endotelização) Destinatários de transplante cardíaco que desenvolvem valvulopatia cardíaca * Exceto pelas condições listadas acima, a profilaxia antibiótica já não é recomendada para qualquer outra forma de doença cardíaca congênita ᵀ A profilaxia é razoável porque a endotelização do material protético ocorre em até 6 meses após o procedimento FONTE: AHA (2007, p. 1745) Assim, estes pacientes, considerados de risco, quando submetido a tratamento endodôntico onde será realizada a instrumentação do canal radicular ou cirurgia parendodôntica, devem sempre realizar a profilaxia antibiótica para prevenção da EI. A bacteremia, e a passagem de microrganismos a corrente sanguínea, que pode ser provocada, entre outras formas, por procedimentos odontológicos. A EI é uma doença sistêmica causada por bacteremia transitória que provoca a infecção do endocárdio e afeta as válvulas ou próteses cardíacas. O conhecimento do CD acerca desta doença é de extrema importância, uma vez que, a cavidade oral abriga uma série de microrganismos capazes de causar bacteremia. (LOPES & SIQUEIRA, 2004; CAMARGO et al., 2006; RATEIRO, 2015; CINTRA, 2015) 14 Os microrganismos mais propensos a causar EI são as bactérias do gênero Streptococcus do grupo viridans, que em sua maioria, estão presentes na cavidade oral, justificando assim, a necessidade da profilaxia antibiótica em casos específicos de tratamento dentário em pacientes de risco para o desenvolvimento da doença. (FILIPPO, 2012) É consenso que pacientes que apresentem condição de risco para EI que irão sofrer intervenções odontológicas que causam bacteremia, devem realizar a profilaxia antibiótica para prevenir infecções à distância. Desta forma, estes pacientes quando submetidos a instrumentação endodôntica ou cirurgia parendodôntica devem realizar a profilaxia, que consiste na administração de antibióticos a pacientes que não apresentam evidências de infecção, afim de prevenir a colonização de bactérias, e suas complicações no período pós-operatório. (ANDRADE, 2006; FILIPPO, 2012). Assim, o regime profilático indicado pela American Heart Association (2007) (AHA), estabelece a administração dos antibióticos de acordo com o (Quadro 2). Quadro 2: Regime profilático para procedimento odontológico Regime: Dose única, 30 a 60 minutos antes do procedimento Situação Agente Adultos Crianças Oral Amoxicilina 2g 50mg/kg Não é possível tomar medicação oral Ampicilina OU cefazolina ou ceftriaxona 2g IM ou IV 50mg/kg IM ou IV Alérgicos a penicilina ou ampicilina-oral Cefalexina*ᵀ Clindamicina Azitromicina ou claritromicina 2g 600mg 500mg 50mg/kg 20mg/kg 15mg/kg Alérgico a penicilina ou ampicilina e incapaz de tomar medicação oral Cefazolin ou ceftriaxonaᵀ Ou clindamicina 1g IM ou IV 600mg IM ou IV 50mg/kg IM ou IV 20mg/kg IM ou IV IM indica intramuscular e IV indica intravenosa * Ou outra cefalosporina oral de primeira ou segunda geração em doses adultas ou pediátricas equivalentes ᵀ As Cefalosporinas não devem ser usadas em indivíduos com história de anafilaxia, angioedema ou urticária com penicilinas ou ampicilina. Fonte: AHA (2007, p. 1747) 15 A profilaxia antibiótica, quando realizada corretamente, é uma forma eficaz de prevenir o aparecimento da EI. Assim, tanto Lopes & Siqueira (2004) quanto Rateiro (2015) afirmam que para realização de uma adequada profilaxia antibiótica para EI vários fatores devem ser levados em consideração, como por exemplo, a condição geral do paciente, o risco aparente do procedimento a ser empregado causar bacteremia, possíveis reações adversas do agente antimicrobiano e a relação custo- benefício do regime recomendado. Desta forma, segundo a AHA, portadores de cardiopatias congênitas, próteses valvares e doença arterial coronariana, que se submeterão a cirurgia parendodôntica ou instrumentação do canal radicular, devem realizar a profilaxia antibiótica, afim de prevenir que os micro-organismos presentes na região causem qualquer prejuízo à saúde do indivíduo ao cair na corrente sanguínea. (ANDRADE, 2006; AHA, 2007; RATEIRO, 2015) 1.2 CARDIOPATAS MEDICADOS COM ANTITROMBÓTICOS Segundo Wannmacher & Ferreira (2007), as cardiopatias isquêmicas são causadas, ou pela oferta inadequada de oxigênio ao músculo cardíaco, muitas vezes decorrentes de uma trombose, ou pelo consumo excessivo de oxigênio pelo músculo cardíaco, como no caso de pacientes com hipertrofia miocárdica ou tireotoxicose. Entretanto, a principal causa é a trombose, e entre os principais fatores precipitantes da trombose, podemos citar a aterosclerose e a insuficiência venosa, desta forma, a prevenção primária para evitar a formação do trombo e, consequentemente, a isquemia cardíaca consiste, na adoção de medidas como práticas de exercício físico, controle da obesidade, abandono do hábito de fumar, alimentação saudável, e administração de antitrombóticos do grupo antiplaquetários, como por exemplo, o ácido acetilsalicílico, em cardiopatias isquêmicas, e os antitrombóticos dos grupos heparina e anticoagulantes orais em trombose venosa ou intracraniana, sendo estes fármacos também utilizados para prevenção secundária e tratamento das cardiopatias isquêmicas. São classificados de acordo com o Quadro 3. 16 Quadro 3: Classificação dos antitrombóticos GRUPOS COMPONENTES Antiplaquetários Ácido acetilsalicílico, ticlopidina, clopidogrel, prasugrel, dipiridamol, ticagrelor Heparina e heparinas de baixo peso molecular Heparina, enoxaparina, nadroparina, dalteparina, tinzaparina, logiparina, reviparina, ardeparina Anticoagulantes orais Varfarina, dicumarol, femprocumona Trombolíticos Estreptoquinase, uroquinase, alteplase (t-PA), anistreplase, tenecteplase, lanoteplase Antagonistas de trombina Hirudina, hirulog, ximelagatrana, dabigatrana Inibidores de receptores IIb-IIIa Lamifibana, tirofibana, xenlofibana, abciximabe, eptifibatida Inativadores diretos do fator Xa Fondaparinux sódico, rivaroxabana Fonte: Wannmacher e Ferreira (2007, p.893) Os principais efeitos adversos destes medicamentos são o sangramento e a trombocitopenia, caracterizada pela redução do número de plaquetas nosangue, que pode causar hemorragia em pacientes submetidos a procedimento odontológico onde há sangramento. (WANNMACHER; FERREIRA, 2007) De acordo com Lopes & Siqueira Jr. (2004), todo paciente que faz uso de anticoagulantes e que se submeterá a procedimentos onde ocorrerá sangramento, como a exemplo da cirurgia parendodôntica, deverá ter seu plano de tratamento cuidadosamente discutido entre o CD e o cardiologista, uma vez que, para a segurança do paciente durante o procedimento operatório odontológico, seria necessário que a administração do anticoagulante fosse suspensa 4 dias antes. Entretanto, a suspenção deste medicamento sem a devida avaliação e orientação médica pode trazer sérias consequências, como a formação de uma trombose de 17 prótese valvar, que segundo Bonow et al. (2008) é uma doença definida como a formação de um trombo próximo ou na superfície de uma prótese valvar, obstruindo o fluxo sanguíneo na região e interferindo no seu funcionamento. Desta forma, o CD em conjunto com o cardiologista, deve analisar outras possibilidades, visto que, em muitos casos, quando analisado o risco de hemorragia em comparação ao risco que o paciente irá correr com a suspensão do medicamento, pode-se pensar na não suspensão do tratamento medicamentoso e adoção de outras medidas para reduzir o risco de sangramento no pós-operatório, como por exemplo, o uso de hemostáticos locais ou sistêmicos, apresentados no Quadro 4, sendo o uso de hemostáticos locais mais frequentemente aplicado, uma vez que, para intervenções odontológicas, estes, mostram atuação satisfatória. (WANNMACHER; FERREIRA, 2007) Quadro 4: Medidas hemostáticas locais e sistêmicas usadas em sangramento oral Locais Mecânicas: Múltiplas suturas com fio de seda, pressão no local Químicas: Gelatina absorvível Esponja de metilcelulose Rede de metilcelulose oxidada Colágeno microfibrilar Trombina bovina Cola, selante ou adesivo de fibrina Cola de cianoacrilato Ácido tranexâmico Sistêmicas Vitamina K Plasma fresco ou concentrado de protrombina ou concentração de fatores específicos da coagulação (para reposição) Fonte: Wannmacher e Ferreira (2007, p. 398) 18 Os agentes antifibrinolíticos, como o ácido tranexâmico, não devem ser administrados via sistêmica em pacientes anticoagulados, uma vez que, além de aumentar o risco trombótico, não atingem concentrações satisfatórias na saliva. O comprimido deverá ser macerado e acrescentado a um pouco de soro fisiológico, água filtrada ou anestésico local para confeccionar uma pasta que será colocada sobre a ferida cirúrgica, 2 a 3 vezes ao dia, por 5 dias. (SERRANO et al. 2007) Assim, é preconizado que, pacientes medicados com anticoagulantes que realizarão cirurgia parendodôntica não tenham a medicação suspensa, cabendo ao CD em consenso com o médico cardiologista estabelecer se poderá ser diminuída a dose do medicamento ou se será selecionada outra forma de reduzir o risco de hemorragia no pós cirúrgico, como o uso de suturas adicionais ou esponjas hemostáticas de gelatina absorvível. (WANNMACHER E FERREIRA, 2007; ANDRADE, 2014; MORETHSON 2015) Uma particularidade que deve ser pensada durante o atendimento endodôntico a estes pacientes é que, em relação ao tratamento de dentes infectados, a presença da infecção local pode aumentar o risco de hemorragia, além disso, a administração de antibiótico sistêmico nestes pacientes pode levar a quadros hemorrágicos leves. Assim o profissional deve estar preparado para controlar quadros hemorrágicos e orientar o paciente quanto a possíveis sangramentos no pós operatório e como ele deve proceder. (SERRANO et al,. 2007) 19 2 O PACIENTE HIPERTENSO A hipertensão arterial, segundo Serrano et al. (2007) é definida como sendo uma doença crônico-degenerativa de natureza multifatorial, que na maioria dos casos não apresenta sintomas, mas compromete o equilíbrio dos sistemas vasodilatadores e vasoconstritores que mantém o tônus vasomotor, fazendo com que a luz dos vasos diminuam causando danos aos órgãos irrigados por eles. Clinicamente a hipertensão é caracterizada por valores da pressão arterial sistólica acima de 140mmHg e/ou pressão arterial diastólica acima de 90mmHg. Segundo o IBGE, na última Pesquisa nacional de Saúde, realizada em 2013, aproximadamente 21,4% da população acima dos 18 anos sofriam de HAS, correspondendo a aproximadamente 31,3 milhões de indivíduos. A classificação da pressão arterial de acordo com a medida casual é realizada de acordo com o Quadro 5. QUADRO 5 – Classificação da pressão arterial CLASSIFICAÇÃO PRESSÃO SISTÓLICA (mmHg) PRESSÃO DIASTÓLICA (mmHg) Ótima <120 <80 Normal <130 <85 Limítrofe 130-139 85-89 Hipertensão estágio 1 140-159 90-99 Hipertensão estágio 2 160-179 100-109 Hipertensão estágio 3 >180 >110 Hipertensão sistólica isolada >140 <90 FONTE: Serrano et al. (2007, p. 110) 20 O atendimento ao paciente não controlado apresenta um risco devido ao potencial de sangramento durante e após o procedimento bem como o risco de complicações como angina do peito, infarto do miocárdio e acidente vascular cerebral (AVC). Desta forma, pacientes hipertensos devem ter a pressão aferida a cada consulta, afim de se confirmar o controle da doença. (SERRANO et al., 2007) Embora não exista um consenso sobre a definição de valores de pressão arterial considerados seguros para o atendimento de urgência do paciente hipertenso, na prática odontológica adota-se valores de pressão arterial de 180x110mmHg (Hipertensão estágio 2) como valores limites para realização deste tipo de intervenção. Caso os valores aferidos estejam acima destes, o paciente não deverá ser atendido em consultório odontológico, devendo ser encaminhado para um serviço médico de urgência. (SERRANO et a., 2007) Devido ao fato do tratamento endodôntico requerer um tempo de execução maior e em muitos casos o paciente apresentar sintomatologia, o controle da ansiedade e a duração do efeito anestésico são de extrema importância para o atendimento a pacientes hipertensos. (LOPES & SIQUEIRA JR., 2004) 2.1 CONTROLE DA ANSIEDADE Grande parte dos atendimentos em endodontia são realizados sob caráter de urgência (MACHADO, 2010), assim, estes pacientes que podem ter a pressão elevada devido ao quadro de dor e/ou ansiedade, é essencial que o profissional, antes de dar início ao tratamento, controle a ansiedade deste pacientes. (SERRANO et al., 2007) Para tanto, Lopes e Siqueira Jr. (2004) recomendam que o atendimento a estes pacientes seja realizado, preferencialmente pela manhã, quando se encontram mais calmos e tranquilos. Como medida complementar para combater a ansiedade, é indicado ainda o uso de fármacos do grupo benzodiazepínicos em dose única antes do início do atendimento, como o diazepam, lorazepam e alprazolam. (Quadro 6) QUADRO 6 - Administração dos benzodiazepínicos Diazepam 5 a 10 mg 30 a 45 minutos antes do atendimento Alprazolam 0,5 a 0,75 mg Lorazepam 1 a 2 mg 2 horas antes do atendimento FONTE: Lopes e Siqueira Jr. (2004, p. 167) 21 2.2 ANESTÉSICO LOCAL A escolha do anestésico local é um procedimento muito controverso tratando- se de hipertensos devido a maioria dos médicos recomendarem o uso de anestésico sem vasoconstrictor. Entretanto, é necessário que dois pontos sejam levados em consideração na hora da escolha do anestésico para o tratamento endodôntico; primeiro: a concentração do vasoconstritor no tubeteanestésico utilizado na odontologia é muito pequena, e segundo: os atendimentos em endodontia costumam ter uma duração maior do que em outras especialidades, por este motivo necessita utilizar um anestésico que promova anestesia pulpar de maior duração, o que é alcançado apenas quando o vasoconstrictor está presente na solução. (LOPES E SIQUEIRA JR., 2004) Outro fator que deve ser levado em consideração, principalmente tratando-se de pacientes hipertensos, é que, caso não se alcance uma analgesia satisfatória, o paciente poderá sentir dor durante o procedimento, o que gerará estresse e, consequentemente, uma secreção endógena de catecolaminas pelas adrenais 40 vezes maior comparadamente com um indivíduo em repouso (QUADRO 7), atingindo níveis sanguíneos muito maiores aos obtidos após a administração de um tubete de solução anestésica contendo epinefrina 1.50.000. (ANDRADE, 2014) Quadro 7 – Níveis sanguíneos de catecolaminas CATECOLAMINAS EPINEFRINA (ug/min) NOREPINEFRINA (ug/min) Secreção das adrenais de paciente em repouso 7 1,5 Secreção das adrenais em paciente sob estresse 280 56 Anestesia local com 1 tubete contendo epinefrina 1:50.000 <1 - Fonte: Andrade (2014, p. 176) 22 É importante que, a injeção do anestésico não cause dor ao paciente, afim de prevenir um quadro de ansiedade que possa, consequentemente, elevar a pressão. Para tanto, existem medidas que podem ser aplicadas afim de reduzir o desconforto durante a injeção do anestésico, tais como; a aplicação de anestésico tópico na área que irá ser injetada, que apesar de não ter sua eficácia anestésica à injeção comprovada, traz ao paciente um conforto dado pelo poder de sugestão de que todas as medidas possíveis para se evitar a dor estão sendo tomadas; e a injeção lenta da solução anestésica, afim de permitir uma distribuição gradual que não cause pressão dolorosa; a vibração dos tecidos moles (lábio e bochecha) durante a injeção, afim de desviar o foco do paciente. (LOPES & SIQUEIRA JR., 2010) O uso de anestésico a estes pacientes deve obedecer alguns princípios básicos. (Quadro 8) QUADRO 8 - Princípios básicos para uso de anestésico local em cardiopatas e hipertensos A injeção deve ser lenta e precedida de aspiração prévia; Respeitar a quantidade máxima de 0,04mg de adrenalina (equivalente a 2 tubetes); Empregar vasoconstritor em concentrações mínimas – adrenalina 1:100.000 ou 1:200.000 ou felipressina 0,03Ul/ml; Havendo contraindicação absoluta do uso do vaso constritor, pode optar-se pela mepivacaína a 3% sem vasocontritor FONTE: Lopes e Siqueira Jr. (2004, p. 166) Desta forma, é consenso entre os profissionais de endodontia, que pela necessidade de se promover uma boa analgesia por um período maior, o anestésico de escolha é a Lidocaína a 2% com epinefrina 1:100.000 ou 1:200.000 utilizando-se no máximo 2 tubetes por sessão, correspondendo a 3,6 ml da solução. Casos de atendimento de urgência a pacientes descompensados, mas com medidas de pressão arterial inferior a 180x110mmHg e não possuir outras complicações sistêmicas, utilizando-se como anestésico de primeira escolha a Prilocaína a 3% com felipressina 0,003UI/ml, no máximo 3 tubetes por sessão, correspondendo a 5,4 ml da solução. (SERRANO et al., 2007; LOPES & SIQUEIRA JR., 2010; ANDRADE, 2014) 23 3 INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS Entre os medicamentos mais prescritos pelos endodontistas, temos os analgésicos antipiréticos, os anti-inflamatórios não esteroidais e os antibióticos derivados da penicilina. (MACHADO, 2010) Um cuidado especial que deve-se ter ao atender pacientes cardiopatas e hipertensos é quanto a prescrição medicamentosa devido ao risco de interação destes medicamentos com os já utilizados pelo paciente. (ANDRADE, 2006) A interação medicamentosa é definida como uma modificação na intensidade ou na duração da resposta de um determinado medicamento, ao ser administrado simultaneamente a outro, tendo seus efeitos potencializados ou inibidos, prejudicando assim, o tratamento. (ANDRADE, 2014) Em endodontia, os anti-inflamatórios não esteroidais (AINEs) são fármacos amplamente utilizados, sendo de extrema importância o conhecimento do CD acerca das interações farmacológicas que podem ocorrer entre os AINEs e outros medicamentos utilizados pelo paciente. Sendo que, as interações podem ser descritas de acordo com a gravidade e o nível (BÉE, 2015), como apresentados nos Quadros 9 e 10. Quadro 9: Gravidade da interação medicamentosa Gravidade Descrição Contraindicado Os medicamentos são contraindicados para uso concomitante Importante A interação pode representar perigo à vida e/ou requerer intervenção Moderado A interação pode resultar em exacerbação do problema de saúde do paciente e/ou requerer uma alteração no tratamento Menor A interação pode resultar em efeitos clínicos limitados Fonte: Bée (2015, p. 19) 24 Quadro 10: Nível da interação medicamentosa Nível Descrição Estabelecido Comprovada a ocorrência em estudos controlados Provável Muito provável, mas não comprovado clinicamente Suspeito Pode ocorrer, alguns dados comprovam, mas são necessários mais estudos Possível Pode ocorrer, mas dados são muito limitados Improvável Não há boa evidência de efeito clínico Fonte: Bée (2015, p. 19) A prescrição de AINEs deve ser cautelosa, principalmente, se tratando de hipertensos, tendo em vista a grande quantidade de medicamentos anti-hipertensivos que sofrem alteração em seus efeitos, quando administrados simultaneamente a estes fármacos, como demonstrado no Quadro 11. Quadro 11- Interação entre AINEs e anti-hipertensivos FÁRMACO NÍVEL DE INTERAÇÃO PROBLEMA Hidroclorotiazida Possível Diminuição do efeito do anti-hipertensivo Propanolol Provável Diminuição do efeito do anti-hipertensivo + insuficiência renal Metropolol Possível Diminuição do efeito do anti-hipertensivo Atenolol Provável Diminuição do efeito do anti-hipertensivo + insuficiência renal Clortalidona Possível Diminuição do efeito do anti-hipertensivo Enalapril Possível Diminuição do efeito do anti-hipertensivo Fonte: Bée (2015, p.21) 25 Além dos AINEs, os analgésicos também podem interagir com alguns medicamentos hipertensivos, causando reações adversas, como a exemplo dos diuréticos Tiazídicos e De alça, que podem ter seu efeito anti-hipertensivo bloqueado, e os inibidores da enzima conversora de angiotensina, Captopril e Enalapril que sofrem redução em seu efeito anti-hipertensivo. Outra efeito indesejado dos AINEs ocorre quando eles são administrados em pacientes que fazem uso de anticoagulante oral, como a Varfarina, utilizado para prevenção de trombose venosa em pacientes com cardiopatia isquêmica. Os AINEs se ligam as mesmas proteínas plasmáticas que a Varfarina, fazendo com que a Varfarina livre circulante fique em uma concentração maior, potencializando seu efeito, podendo provocar hemorragia. Outro fármaco que também influência no efeito da Varfarina é o paracetamol, pois ele interfere no sistema de enzimas que metabolizam a Varfarina, aumentando sua concentração plasmática e exacerbando seu efeito, podendo também, provocar hemorragias.( WANNMACHER & FERREIRA, 2007; ANDRADE, 2014; MORETHSON, 2015) Além dos anticoagulantes, os antiagregantes plaquetários, empregados na prevenção de infarto do miocárdio, também sofrem interferência dos AINEs, uma vez que, os AINEs inibem a síntese de tromboxanasdas plaquetas, diminuindo a agregação plaquetária, efeito que somado a ação dos antiagregantes plaquetários podem causar hemorragia no paciente. (ANDRADE, 2014) A interação farmacológica entre os vasoconstritores adrenérgicos contidos nas soluções anestésicas locais de uso odontológico e os betabloqueadores comumente prescritos para proteção cardíaca após infarto do miocárdio só ocorrem se a solução anestésica contiver uma alta concentração do vasoconstrictor, se ela for administrada em grandes quantidades, ou acidentalmente injetada pela via intravenosa (IV). Nesta condições, os receptores β1 e β2 já se encontram bloqueados pela ação dos betabloqueadores, permitindo a ação livre dos adrenérgicos nos α-receptores, elevando a pressão arterial, causando a crise hipertensiva. (ANDRADE, 2014; LOPES & SIQUEIRA JR, 2004) A digoxina é um fármaco utilizado no tratamento de problemas cardíacos, como arritmia e doença cardíaca congestiva, e podem interagir de maneira indesejada com antibióticos macrolídeos, como a eritromicina e a claritromicina. O uso simultâneo de 26 digoxina e macrolídeos faz com que os níveis de digoxina nos sangue se mantenham altos, causando toxicidade no paciente. Outro fator importante no que diz respeito a pacientes medicados com antitrombóticos, é a interação medicamentosa destes com os fármacos de uso odontológico. Visto que, alguns medicamentos de uso odontológico diminuem o efeito anticoagulante, enquanto outros, exacerbam, como demonstrado no Quadro 12. Quadro 12: Interações farmacológicas de anticoagulantes orais com medicamentos de uso corrente em Odontologia Potencialização do efeito anticoagulante Ácido acetilsalicílico Cefalosporinas Anti-inflamatórios não esteroidais Eritromicina Anti-inflamatórios esteroidais Metronidazol Paracetamol Penicilinas Diflunisal Fluconasol Oposição ao efeito anticoagulante Ácido ascórbico Barbitúricos Dicloxacilina Sem interferência sob o efeito anticoagulante Ibuprofeno Cetoconasol Vancomicina Fonte: Wannmacher e Ferreira (2007, p. 399) De acordo com Wannmacher e Ferreira (2007), quanto Morethson (2015), estes pacientes devem ser medicados no pós operatório com fármacos que não interfiram no efeito do antitrombótico, como a exemplo do Ibuprofeno, para controle da dor e da inflamação, e da vancomicina, para combater uma possível infecção bacteriana. 27 Não foram encontradas na literatura, nenhum documento que relate a interação entre soluções e medicamentos de uso tópico, empregados em endodontia, como o NaClO (hipoclorito de sódio), o EDTA (Ácido Etilenodiamino tetra-acético), o ácido cítrico, a clorexidina, o tricresol formalina ou o paramonoclorofenol, com fármacos utilizados para controle da doença por indivíduos cardiopatas ou hipertensos. Todas a interações medicamentosas aqui apontadas foram compiladas e apresentadas no Apêndice A. 28 CONSIDERAÇÕES FINAIS Uma anamnese bem feita é o melhor caminho para se descobrir qualquer alteração sistêmica, sendo assim, ela nunca deve ser negligenciada, e nos casos em que houver algum comprometimento sistêmico, o CD deve trabalhar em conjunto com o médico na elaboração de um plano de tratamento que leve em consideração todas as particularidades deste paciente. Em pacientes cardiopatas, um ponto extremamente relevante é o risco do paciente contrair a EI, sendo assim, os pacientes portadores de cardiopatias congênitas, próteses valvares e doença arterial coronariana, que se submeterão a instrumentação do canal radicular ou cirurgia parendodôntica devem sempre realizar a profilaxia antibiótica conforme recomendado pela AHA. Pacientes que fazem uso contínuo de antitrombóticos, devem ser previamente avaliados quando submetidos a procedimentos onde há risco de sangramento, afim de se evitar um quadro hemorrágico. Podendo o profissional, lançar mão de medidas hemostáticas locais para controlar pequenas hemorragias. A medicação antitrombótica não deve ser suspensa devido ao risco de ocorrer formação de trombo, caso seja suspensa a medicação, ser maior do que o risco de hemorragia durante os procedimentos. Para atendimento à pacientes hipertensos, mesmo controlados, é importante que o profissional lance mão de medidas para controle da ansiedade, visando a diminuição do estresse, e consequentemente, um melhor controle da pressão arterial deste paciente. Pacientes com pressão arterial superior a 180x110mmHg, não devem ser atendidos em consultório odontológico, mesmo em casos de urgência, devendo-se encaminha-los para atendimento em âmbito hospitalar. Para pacientes controlados, mesmo havendo, em alguns casos, a indicação de anestésico local sem vasoconstritor por parte dos médicos, é consenso entre os profissionais da área de odontologia, que o anestésico de escolha seja a lidocaína a 2% com epinefrina 1:100.00 ou 1:200.000, no máximo 2 tubetes tendo em vista um melhor e mais prolongado efeito anestésico. Em pacientes não controlados, mas com medida da pressão arterial inferior a 180x110 mmHg, que necessitam de atendimento de urgência, o anestésico de 29 escolha é a mepivacaína a 3% com felipressina 0,003 Ul/ml, no máximo 3 tubetes. A prescrição medicamentosa de analgésico, AINE e antibiótico deve ser cautelosa, em vista do risco da interação medicamentosa entre estes medicamentos e os fármacos utilizados pelos pacientes para controle da doença sistêmica, que poderá trazer prejuízos à saúde e a vida destes pacientes. Contudo, cabe ao endodontista, após uma minuciosa anamnese, elaborar o melhor plano de tratamento para estes pacientes, incluindo todas as etapas do procedimento, seus possíveis riscos, e medidas a serem adotadas. 30 REFERÊNCIAS AMERICAN HEART ASSOCIATION. Prevention of infective endocarditis. Circulation- Journal of the American Heart Association. v. 116, p. 1736-1754, out. 2007. Disponível em: <http://circ.ahajournals.org/content/116/15/1736>. Acesso em: 26 mar. 2017. ANDRADE, Eduardo Dias de. Terapêutica Medicamentosa em Odontologia. 2 ed. São Paulo: Artes Médicas, 2006. ANDRADE, Eduardo Dias de. Terapêutica Medicamentosa em Odontologia. 3 ed. São Paulo: Artes Médicas, 2014. BONOW, Roberto O. et al. 2008 Focused update incorporated into the ACC/AHA 2006 guidelines for the management of patients with valvular heart disease: a report of the American College of Cardiology/American Heart Association Task Force on Practice Guidelines (Writing Committee to Revise the 1998 Guidelines for the Management of Patients With Valvular Heart Disease): endorsed by the Society of Cardiovascular Anesthesiologists, Society for Cardiovascular Angiography and Interventions, and Society of Thoracic Surgeons. Journal of de American College of Cardiology. v. 52, n. 13, p. 1-142, set. 2008. Disponível em: < <http://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0735109708018330?via%3Dihub> . Acesso em: 26 mar. 2017. CAMARGO, Maitê André et al. Bacteremia em odontologia – profilaxia antibiótica. Revista da Instituto de Ciências da Saúde. v. 24, n. 2, p. 137-40, 2006. Disponível em: <https://www.unip.br/comunicacao/publicacoes/ics/edicoes/2006/02_abr_jun/V24_N2 _2006_p137-140.pdf>. Acesso em: 29 nov 2017. CAMPOS, Cerise de Castro et al. Manual Prático para o Atendimento Odontológico de Pacientes com necessidades Especiais. 2. Ed. Goiânia: Universidade Federalde Goiânia, 2009. Disponível em: < <https://odonto.ufg.br/up/133/o/Manual_corrigido-.pdf>. Acesso em: 03 mai. 2017 CINTRA, Juliana Nascimento. RISCO DE ENDOCARDITE BACTERIANA NO TRATAMENTO ENDODÔNTICO. Revista Investigação, São Paulo, v.14, n.1, p. 169-174, 2015. Disponível em: < http://publicacoes.unifran.br/index.php/investigacao/article/view/735/693>. Acesso em 25 mar. 2017. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA-IBGE. Pesquisa Nacional de Saúde 2013. Rio de Janeiro, 2014. Disponível em: <ftp://ftp.ibge.gov.br/PNS/2013/pns2013.pdf >. Acesso em: 07 abr. 2017. BÉE, Laís Regina. Interações potenciais entre AINEs prescritos em endodontia e medicamentos em uso pelos pacientes odontológicos. 2015. 43f. Dissertação (Mestrado em Ciências Odontológica) – Universidade Federal de Santa Maria, Centro de Ciências da Saúde, Programa de Pós-Graduação em Ciências Odontológicas, Rio Grande do Sul, 2015. 31 FILIPPO, Sylvie Di. Prophylaxis of infective endocarditis in patients with congenital heart disease in the context of recent modified guidelines. Archives of Cardiovascular Disease, v. 105, n. 8-9, p. 454-460, Ago-Set, 2012. Disponível em: < http://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S1875213612001192>. Acesso em 02 jun.2017. LOPES, Hélio Pereira; SIQUEIRA JR, José Freitas. Endodontia: Biologia e técnica. 2 ed. Rio de Janeiro: Guanabara-Koogan, 2004. LOPES, Hélio Pereira; SIQUEIRA JR, José Freitas. Endodontia: Biologia e técnica. 3 ed. Rio de Janeiro: Guanabara-Koogan, 2010. MACHADO, Manoel Eduardo de Lima. Urgências em endodontia: bases biológicas, clínicas e sistêmicas. São Paulo: Santos, 2010. MORETHSON, Priscila. Farmacologia para a clínica odontológica. 1 ed. Rio de Janeiro: Guanabara-Koogan, 2015. RATEIRO, Franciely Sobrinho. A importância da profilaxia antibiótica na prevenção de endocardite infecciosa no tratamento odontológico. 2015. 22f. Dissertação (Graduação em Odontologia) – Faculdade São Lucas, Porto Velho, 2015. São Paulo (Estado). Secretaria da Saúde. Manual de Orientação Clínica: hipertensão arterial sistêmica (HAS). 68f. São Paulo, 2011. SERRANO JR., Carlos V. et al. Cardiologia e Odontologia – Uma Visão integrada. São Paulo, SP: Santos, 2007. 395 p. WANNMACHER, Lenita; FERREIRA, Maria Beatriz Cardoso. Farmacologia clínica para dentistas. Rio de Janeiro: Guanabara-Koogan, 2007. 545 p. 32 APÊNDICE A - Interações medicamentosas MEDICAMENTO PRESCRITO OU ADMINISTRADO PELO CIRURGIÃO-DENTISTA MEDICAMENTO DE USO CONTÍNUO DO PASCIENTE PROBLEMA AINES Hidroclorotiazida Os AINES interagem com estes medicamentos diminuindo seu efeito anti-hipertensivo Propranolol Metropolol Atenolol Clortalidona Enalapril Varfarina Os AINES competem pelos receptores com a Varfarina, o que acarreta em uma maior concentração de Varfarina livre na circulação, potencializando o efeito anticoagulante Antiagregantes plaquetários Os AINES inibem a síntese de tromboxanas nas plaquetas, diminuindo a agregação plaquetária. Em uso concomitante com antiagregantes plaquetários, potencializam a ação deste. Paracetamol Varfarina O paracetamol interfere no sistema de enzimas que metabolizam a Varfarina, causando um aumento de sua concentração na circulação sanguínea e consequentemente, potencializando seu efeito Antibióticos Macrolídeos Digoxina A digoxina pode interagir com os antibióticos macrolídeos, aumentando o nível sérico do digitálico, que pode causar um quadro de toxicidade no paciente 33 Vasoconstritores Adrenérgicos Betabloqueadores Em pacientes que fazem uso de betabloqueadores, caso ocorra injeção acidental do anestésico via IV, caso o anestésico seja utilizado em grande quantidade ou tenha grande concentração do vasoconstritor, o adrenérgico terá ação livre nos α-receptores, o que elevará a pressão arterial, podendo resultar em uma crise hipertensiva Analgésicos Diuréticos Tiazídicos ou De alça Bloqueio da ação anti- hipertensiva Captopril e Enalapril Redução do efeito anti- hipertensivo
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