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UNIVERSIDADE DO EXTREMO SUL CATARINENSE – UNESC CURSO DE ENGENHARIA AMBIENTAL LUCIANE CREPALDI EFICIÊNCIA DO TANQUE SÉPTICO E FILTRO ANAERÓBIO NO TRATAMENTO DE EFLUENTE HOSPITALAR. ESTUDO DE CASO: FUNDAÇÃO SOCIAL HOSPITALAR DE IÇARA (SC). CRICIÚMA, NOVEMBRO DE 2007. LUCIANE CREPALDI EFICIÊNCIA DO TANQUE SÉPTICO E FILTRO ANAERÓBIO NO TRATAMENTO DE EFLUENTE HOSPITALAR. ESTUDO DE CASO: FUNDAÇÃO SOCIAL HOSPITALAR DE IÇARA (SC). Trabalho de Conclusão de Curso, apresentado para obtenção do grau de Bacharel no curso de Engenharia Ambiental da Universidade do Extremo Sul Catarinense, UNESC. Orientador(a): Profª M. Sc. Marta S. Hoffmann. CRICIÚMA, NOVEMBRO DE 2007 LUCIANE CREPALDI EFICIÊNCIA DO TANQUE SÉPTICO E FILTRO ANAERÓBIO NO TRATAMENTO DE EFLUENTE HOSPITALAR. ESTUDO DE CASO: FUNDAÇÃO SOCIAL HOSPITALAR DE IÇARA (SC). Trabalho de Conclusão de Curso aprovado pela Banca Examinadora para obtenção do Grau de Bacharel, no Curso de Engenharia Ambiental da Universidade do Extremo Sul Catarinense, UNESC, com Linha de Pesquisa em Tratamento de Águas Residuárias. Criciúma, 20 de novembro de 2007 BANCA EXAMINADORA ______________________________________ Profª. M. Sc. Marta S. Hoffmann/ UNESC/Orientadora __________________________________ Eng. Ambiental Cláudia Peluso/UNESC ___________________________________________ Farmacêutica Vera Arruda/ Hospital Regional de Araranguá AGRADECIMENTOS A Deus, por iluminar-me nesta caminhada. Aos meus pais, Raulino e Lorete, que magnificamente me incentivaram e me apoiaram para que eu atingisse a realização deste sonho. A minha irmã Cristiane que sempre me ajudou nas horas mais difíceis. Ao meu irmão Edson (in memorian) pelos exemplos deixados. Ao meu amado, Fernando pelo companheirismo e paciência. A minha orientadora Marta, pelo carinho, paciência e dedicação na elaboração deste trabalho. Aos meus amigos de Curso, pela amizade. A todos, o meu sincero e eterno agradecimento! “O futuro tem muitos nomes. Para os fracos, é o inatingível. Para os temerosos, o desconhecido. Para os valentes é a oportunidade”. (Victor Hugo) RESUMO O presente trabalho teve como objetivo avaliar a eficiência do tanque séptico e do filtro anaeróbio no tratamento de efluente hospitalar, e ainda abordar como a presença de substâncias químicas pode alterar na eficiência desse sistema de tratamento. Foram coletadas, em alguns setores do Hospital São Donato, amostras de efluentes que são diretamente lançados na rede de esgoto, para realização de análises físico-químicas e ensaios de toxicidade, utilizando como bioindicador algas do tipo Scenedesmus subspicatus. As análises físico-químicos mostram que o sistema de tratamento anaeróbio é eficiente na remoção de matéria orgânica e sólidos suspensos, porém, não removem satisfatoriamente organismos patogênicos e nem nutrientes. Sendo assim, o efluente tratado precisa de uma desinfecção, esses testes foram comprovados em bancada. Ainda, através do teste com toxicidade, não foi possível identificar a presença de substâncias tóxicas nas amostras analisadas, apenas nutrientes como N e P. Palavras-chave: Efluente hospitalar, Tanque séptico, Filtro Anaeróbio, Desinfecção. ABSTRACT This woskpaper had as objective evaluate the effectiveness of the septic sump and the anaerobic filter in treatment of hospital effluents and emphasize how the presence of quimical substances can mutate the effectiveness of this system of treatment. Was gathered in some sectors of the Hospital São Donato, samples of effluents that be actualization of fisical-quimical analysis and experiment of toxicity employing as bioindicator algae of the type Scendesmus subspicatus. The fisical- quimical, analysis show that the anaerobic system of treatment is effective in the removal of organic object and suspend solids, but, don’t remove as necessary patogenics organisms not even nutrients. So, the treated effluents needs disinfection, these tests was proved in scale. So ever by this test of toxicity wasn’t possible identify the presence of toxicity substances in the analiged sample, just nutrient as N and P. Keywords: Hospital Effluents, Sump Septic, Anaerobic Filter, Disinfection. LISTA DE ILUSTRAÇÕES FIGURA 01-Distribuição aproximada dos sólidos do esgoto bruto............................13 FIGURA 02-Fluxograma típico de tratamento preliminar...........................................26 FIGURA 03 - Inauguração oficial do Hospital São Donato.........................................41 FIGURA 04 – Distribuição administrativa do Hospital São Donato............................42 FIGURA 05 – Sub-organograma dos Serviços Administrativos.................................42 FIGURA 06 – Sub-organograma dos Serviços Logísticos.........................................42 FIGURA 07 – Sub-organograma dos SADT ..............................................................43 FIGURA 08 – Sub-organograma dos Setores Clínicos .............................................43 FIGURA 09– Amostras usadas no laboratório de análises clínicas……....................51 FIGURA 10 – Vidrarias sendo esterilizadas em solução com Hipoclorito no laboratório de análises clínicas..................................................................................51 FIGURA 11 – Reagente azul de metileno usado no laboratório de análises clínicas ....................................................................................................................................52 FIGURA 12 –Fixador e revelador usados no setor de raio-x.....................................56 FIGURA 13 – Produtos químicos líquidos usados no setor de lavanderia …............59 FIGURA 14 – Fluxograma do procedimento de esterilização da Lavanderia............60 FIGURA 15 –Fluxograma do preparo das refeições, pela SND.................................61 FIGURA 16 - Rede de esgotos do Hospital São Donato de Içara..............................70 FIGURA 17 – Construção do tanque séptico e filtro anaeróbio.................................71 FIGURA 18 – Vista Atual da ETE existente...............................................................72 FIGURA 19 - Fluxograma da estação de tratamento de efluente .............................73 FIGURA 20- Percentual referente a utilização de produtos químicos líquidos nos setores........................................................................................................................82 FIGURA 21- Percentual referente aos produtos usados nos setores........................83 FIGURA 22 – Percentual referente aos produtos mais utilizados nos setores..........83 FIGURA 23 Percentual referente ao destino final dos produtos químicos líquidos utilizados.................................................................................................................... 84 FIGURA 24 – Percentual da destinação final dos reagentes e fármacos adotado pelos setores............................................................................................................. 85 FIGURA 25 – Percentual de tratamento adotado para equipamentos e/ou aparelhos com amostras de sangue ou secreções gerados dentro dos setores........................85 FIGURA 26 – Percentual de conhecimento quanto a composição dos produtos químicos manipulados nos setores............................................................................86 FIGURA 27 – Percentual de existência de procedimento adotado quanto a manipulação dos produtos químicos nos setores......................................................87 FIGURA 28 – Percentual da existência da FISPQ de cada produto químico utilizado nos setores.................................................................................................................87 FIGURA 29 – Resultados de valores de pH nas amostras, de efluentes, analisadas nos setores.................................................................................................................90FIGURA 30 – Resultados de valores de sólidos sedimentáveis nas amostras, de efluentes, analisadas nos setores .............................................................................91 FIGURA 31 – Resultados de valores de turbidez nas amostras, de efluentes, analisadas nos setores...............................................................................................92 FIGURA 32 – Resultados de valores de fósforo nas amostras, de efluentes, analisadas nos setores ..............................................................................................93 FIGURA 33 – Resultados de valores de ferro nas amostras, de efluentes, analisadas nos setores ................................................................................................................94 FIGURA 34 – Resultados de valores de temperatura nas amostras, de efluentes, analisadas nos setores ..............................................................................................95 FIGURA 35 – Resultados de valores de cloretos nas amostras, de efluentes, analisadas nos setores…………………………………………………………………….96 FIGURA 36 – Resultados de valores de OD nas amostras, de efluentes, analisadas nos setores ................................................................................................................97 FIGURA 37 – Resultados de valores de DQO nas amostras, de efluentes, analisadas nos setores ................................................................................................................98 FIGURA 38 – Resultados de valores de fenóis nas amostras, de efluentes, analisadas nos setores ..............................................................................................99 FIGURA 39 – Resultados de valores de óleos e graxas nas amostras, de efluentes, analisadas nos setores.............................................................................................100 FIGURA 40 – Resultados de valores de prata nas amostras, de efluentes, analisadas nos setores...............................................................................................................101 LISTA DE TABELAS Tabela 01-Preparação de diferentes volumes de solução de hipoclorito…………....81 Tabela 02-Resultados de análises físico-químicas realizadas no Laboratório de Química da UNESC e no IPAT...................................................................................89 Tabela 03-Presença de coliformes fecais em amostras de efluentes gerados..........94 Tabela 04-Variação do crescimento de algas em diferentes amostras………….…101 Tabela 05-Resultado da análise microbiológica em amostras com diferentes concentrações de hipoclorito……………………………………………………….……103 LISTA DE QUADROS QUADRO 01 – Principais características físicas dos esgotos.....................................8 QUADRO 02 - Principais características químicas dos esgotos................................11 QUADRO 03 - Principais microorganismos presentes nos esgotos. ........................11 QUADRO 04 – Classificação dos sólidos presentes nos esgotos. ...........................12 QUADRO 05 – Classificação da matéria orgânica carbonácea presentes esgotos...14 QUADRO 06 – Níveis de tratamento de esgoto.........................................................23 QUADRO 07 - Características dos níveis de tratamento de esgotos.........................23 QUADRO 08 - Critérios importantes a serem considerados na escolha da tecnologia mais apropriada .........................................................................................................25 QUADRO 09 - Relação da capacidade operacional por setor clínico........................43 QUADRO 10 - Relação de setores por prédio............................................................43 QUADRO 11 - Relação de funcionários escalados por setor ....................................44 QUADRO 12- Relação de reagentes utilizados no laboratório...................................54 QUADRO 13- Relação de produtos usados no setor de raio-X..................................55 QUADRO 14 - Relação dos produtos químicos utilizados na lavanderia...................57 QUADRO 15 - Relação dos produtos líquidos utilizados na esterilização..................60 QUADRO 16 - Relação dos produtos químicos utilizados na manutenção................62 QUADRO 17 - Relação dos produtos químicos utilizados na enfermagem...............64 QUADRO 18 - Caixas de passagem e de gordura e setores que suprem.................68 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas AMREC – Associação dos Municípios da Região Carbonífera ANVISA – Agência Nacional de Vigilância Sanitária CCIH – Comissão de Controle de Infecção Hospitalar CE – Concentração Efetiva CF – Coliformes Fecais CL – Concentração Letal CME – Central de Materiais Estéreis CNP – Carbono/Nitrogênio/Fósforo CO – Centro Obstétrico CONAMA – Conselho Nacional de Meio Ambiente COT – Carbono Orgânico Total CT – Coliformes Totais DBO – Demanda Bioquímica de Oxigênio DL – Dose Letal DQO – Demanda Química de Oxigênio ETE – Estação de Tratamento de Efluentes FD – Fator de Diluição FISPQ – Ficha de Informação de Segurança de Produto Químico HSD – Hospital São Donato N - Nitrogênio NBR – Norma Brasileira OD – Oxigênio Dissolvido P – Fósforo PGRSS – Programa de Gerenciamento de Resíduos de Serviços de Saúde pH – Potencial Hidrogeniônico PS – Pronto Socorro SADT – Serviço de Apoio a Diagnose e Terapia SND – Setor de Nutrição e Dietética SSF – Sólidos em Suspensão Fixos SSS – Sólidos em Suspensão Sedimentáveis SUS – Sistema Único de Saúde SV – Sólidos em Suspensão Voláteis UNESC – Universidade do Extremo Sul Catarinense UV – Ultra Violeta SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO ...................................................................................................4 1.1 Objetivos ...........................................................................................................5 1.1.1 Objetivo Geral ................................................................................................5 1.1.2 Objetivos Específicos ...................................................................................5 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA.........................................................................7 2.1 Esgoto Sanitário...............................................................................................7 2.2 Caracterização da Qualidade dos Esgotos ....................................................7 2.2.1 Parâmetros de Qualidade .............................................................................7 2.2.2 Principais Características das Águas Residuárias ....................................8 2.2.3 Principais Parâmetros.................................................................................11 2.2.3.1 Sólidos ......................................................................................................11 2.2.3.2 Matéria Orgânica Carbonácea.................................................................13 2.2.3.3 Fósforo ......................................................................................................16 2.2.3.4 Indicadores de Contaminação Fecal ......................................................18 2.2.3.5 Oxigênio Dissolvido .................................................................................18 2.2.3.6 Temperatura..............................................................................................19 2.2.3.7 Metais Pesados.........................................................................................20 2.2.3.8 Óleos e Graxas .........................................................................................20 2.2.3.9 Fenóis........................................................................................................21 2.2.3.10 Cloretos..................................................................................................212.3 Requisitos de Qualidade do Efluente ...........................................................22 2.3.1 Preliminares.................................................................................................22 2.3.2 Nível de Tratamento ....................................................................................22 2.4 Objetivos do Sistema de Tratamento de Águas Residuárias .....................24 2.5 Projeto da Estação de Tratamento de Água Residuárias. ..........................25 2.6 Sistema de Tratamento ..................................................................................26 2.6.1 Tratamento Preliminar ................................................................................26 2.6.2 Tratamento Primário ...................................................................................27 2.6.3 Tratamento Secundário ..............................................................................28 2.6.4 Tratamento Avançado (Tratamento Terciário) ..........................................28 2.7 Necessidade de Desinfecção de Águas Residuárias..................................28 2.8 Desinfecção dos Efluentes das ETE’s..........................................................29 2.8.1 Cloração .......................................................................................................29 2.8.2 Ozonização ..................................................................................................30 2.8.3 Radiação Ultravioleta ..................................................................................31 2.9 Toxicologia .....................................................................................................31 2.10 Toxicidade....................................................................................................32 2.10.1 Toxicidade Aguda.....................................................................................32 2.10.2 Toxicidade Crônica ..................................................................................33 2.10.3 Âmbito de Aplicação................................................................................33 2.10.4 Teste com Algas.......................................................................................34 2.11 Aspectos Legais..........................................................................................35 3 METODOLOGIA ..............................................................................................39 3.1 Diagnóstico.....................................................................................................39 3.1.1 Área de Estudo ............................................................................................39 3.1.2 Histórico do Hospital São Donato..............................................................40 3.1.3 Caracterização do Estabelecimento Hospitalar........................................41 3.1.3.1 Capacidade Operacional.............................................................................43 3.1.3.2 Espaço Físico ..............................................................................................44 3.1.3.3 Distribuição de Funcionários por Setor ....................................................44 3.1.4 Áreas Geradoras de Efluentes ...................................................................45 3.1.4.1 Clínicas Médicas.......................................................................................45 3.1.4.1.1 Primeira Classe......................................................................................45 3.1.4.1.2 Pediátrica ...............................................................................................46 3.1.4.1.3 Maternidade ...........................................................................................46 3.1.4.1.4 Médica ....................................................................................................47 3.1.4.2 Postos de Enfermagem............................................................................47 3.1.4.3 Pronto Socorro .........................................................................................47 3.1.4.4 Centro Obstétrico.....................................................................................48 3.1.4.5 Centro Cirúrgico.......................................................................................48 3.1.4.6 Farmácia Interna.......................................................................................49 3.1.4.7 Serviços de Apoio a diagnose e Terapia (SADT)...................................49 3.1.4.7.1 Laboratório de Análises Clínicas .........................................................50 3.1.4.7.2 Raio-X .....................................................................................................55 3.1.4.8 Endoscopia ...............................................................................................56 3.1.4.9 Serviços Logísticos..................................................................................57 3.1.4.9.1 Higienização...........................................................................................57 3.1.4.9.2 Lavanderia .............................................................................................57 3.1.4.9.3 Central de Materiais Estéreis (CME) ....................................................60 3.1.4.9.4 Setor de Nutrição e Dietética................................................................61 3.1.4.9.5 Manutenção............................................................................................62 3.1.4.10 Almoxarifado e Setor de Compras.......................................................63 3.1.5.0 Administração ..........................................................................................64 3.1.5.1 Direção de Enfermagem ..........................................................................64 3.1.5.2 Serviço de Psicologia ..............................................................................65 3.1.5.3 Internação .................................................................................................66 3.1.5.4 Comissão de Controle de Infecção Hospitalar ......................................66 3.1.5.5 Segurança do Trabalho............................................................................67 3.2 Localização das Caixas de Passagem e Gordura .......................................68 3.3 Sistema de Tratamento de Esgoto Atual......................................................70 3.4 Fluxograma da Estação de Tratamento de Esgoto .....................................73 3.5 Coleta de Efluentes ........................................................................................74 3.6 Materiais e Métodos .......................................................................................75 3.6.1. Caracterização dos Efluentes .................................................................75 3.6.2 Análises Físico-Químicas ...........................................................................75 3.6.1 Análises Ecotoxicológicas .........................................................................80 3.6.2 Testes de Bancada......................................................................................81 4. RESULTADOS E DISCUSSÕES.....................................................................82 4.1. Questionário ................................................................................................82 4.2. Análises Físico-Químicas ...........................................................................88 4.2.1 pH..................................................................................................................90 4.2.2 Sólidos Sedimentáveis ...............................................................................91 4.2.3 Turbidez .......................................................................................................914.2.4 Fósforo .........................................................................................................92 4.2.5 Ferro .............................................................................................................93 4.2.6 Coliformes Totais e Fecais .........................................................................94 4.2.7 Temperatura.................................................................................................95 4.2.8 Cloretos........................................................................................................95 4.2.9 OD.................................................................................................................96 4.2.10 DQO ...........................................................................................................97 4.2.11 Fenóis........................................................................................................98 4.2.12 Óleos e Graxas .........................................................................................99 4.2.13 Prata ........................................................................................................100 4.3. Teste Ecotoxicológico ..............................................................................101 4.4. Desinfecção ...............................................................................................103 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS ...........................................................................104 6. REFERÊNCIAS..............................................................................................106 4 1. INTRODUÇÃO Com conseqüência da utilização de água para abastecimento, há a geração de esgotos. Caso não realizada uma adequada destinação aos mesmos, estes acabem poluindo o solo, contaminando as águas superficiais e subterrâneas e freqüentemente passam a escoar a céu aberto, constituindo-se em perigosos focos de disseminação de doenças (BARROS, 1995, p.113). O efluente hospitalar demonstra características similares ao esgoto doméstico e industrial por apresentar entre seus componentes patógenos como vírus, bactérias, protozoários e helmintos, que ocasionam muitas doenças com implicações em saúde pública. Além disso, os hospitais liberam, em seu esgoto, uma variedade de substâncias tais como fármacos, antibióticos, desinfetantes, anestésicos, metais pesados e drogas não metabolizadas por pacientes (KÜMMERER, 2001; EMMANUEL et al., 2005). Estão incluídos nestes efluentes: a água de lavagem de materiais contaminados, os dejetos de limpeza de superfícies e pisos misturados às soluções desinfetantes, água residuária da lavanderia, os resíduos de procedimentos do centro cirúrgico, centro obstétrico e ambulatórios, detergentes, saneantes, sanitizantes, fármacos, sangue, fluídos corpóreos, reagente empregados no laboratório de análises clínicas. Segundo a Resolução RDC n° 306 da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) os estabelecimentos de saúde devem implantar, dentro do Programa de Gerenciamento de Resíduos de Serviços de Saúde (PGRSS), um Sistema de Tratamento de Efluentes. O presente trabalho se justifica pela preservação do meio ambiente. As substâncias presentes nos esgotos exercem ação deletéria nos corpos d’água: a matéria orgânica pode ocasionar a exaustão do oxigênio dissolvido, causando morte dos peixes e outros organismos aquáticos, escurecimento da água e aparecimento de maus odores; é possível que os detergentes presentes nos esgotos provoquem a 5 formação de espumas em pontos de agitação da massa líquida; defensivos agrícolas determinam a morte de peixes e outros animais. Os nutrientes exercem uma forte “adubação” da água, provocando o crescimento acelerado de vegetais microscópios que conferem odor e gosto desagradável. O objetivo do presente trabalho é monitorar resultados de análises físico- químicas e bacteriológicas dos efluentes líquidos gerados no estabelecimento Hospital São Donato após tratamento em estação de tratamento de efluentes (ETE), completando os seguintes parâmetros: pH, DQO, OD, temperatura, coliformes fecais e totais, ferro, prata, fósforo, óleos e graxas, fenóis, cloretos, sólidos totais. E ainda, sugerir melhorias para que o efluente se enquadre na legislação vigente para descarte final. 1.1Objetivos 1.1.1 Objetivo Geral Avaliar a eficiência do sistema de tratamento de efluentes, existente no Hospital São Donato, para que este garanta a proteção da saúde pública, meio ambiente e atendimento à legislação vigente. 1.1.2 Objetivos Específicos • Levantar efluentes gerados nos diversos setores do Hospital São Donato a partir de questionário; • Caracterizar o Efluente hospitalar bruto e tratado, em termos de: pH, Demanda Química de Oxigênio (DQO), Oxigênio Dissolvido (OD), temperatura, coliformes fecais e totais, ferro, prata, fósforo, óleos e graxas, fenóis, cloretos, sólidos totais; 6 • Avaliar toxicidade dos efluentes gerados no Hospital São Donato, utilizando ensaios com algas do tipo Scenedesmus subspicatus; • Avaliar os resultados conforme legislação vigente; • Propor desinfecção do efluente hospitalar; 7 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 2.1Esgoto Sanitário Esgoto é o termo usado para caracterizar os despejos provenientes dos diversos usos da água, como o doméstico, comercial, industrial, agrícola, em estabelecimentos públicos e outros (BRAGA et al, 2002, p.117). O esgoto sanitário é o “despejo líquido constituído de esgoto doméstico e industrial, água de infiltração e a contribuição pluvial parasitária” (NBR 9648/1986 apud Nuvolari 2003, p.15). E ainda: • Esgoto doméstico é o “despejo líquido resultante do uso da água para higiene e necessidades fisiológicas humanas”; • Esgoto industrial é o “despejo líquido resultante dos processos industriais, respeitados os padrões de lançamento estabelecidos”; • Água de infiltração é “toda água proveniente do subsolo, indesejável ao sistema separador e que penetra nas canalizações”; • Contribuição pluvial parasitária é “a parcela do deflúvio superficial inevitavelmente absorvida pela rede de esgoto sanitário”. Nuvolari (2003), salienta ainda que: O esgoto é gerado a partir da água de abastecimento e, portanto, sua medida resulta da quantidade de água consumida. Esta é geralmente expressa pela “taxa de consumo per capita”, variável segundo hábitos e costumes de cada localidade. É usual a taxa de 200L/hab.dia, mas em grandes cidades de outros países essa taxa de consumo chega a ser três a quatro vezes maior, resultando num esgoto mais diluído, já que é praticamente constante a quantidade de resíduo produzido por pessoa. 2.2Caracterização da Qualidade dos Esgotos 2.2.1 Parâmetros de Qualidade 8 Em média, a composição de esgoto sanitário é de 99,9% de água e apenas 0,1% de sólidos, sendo que cerca de 75% desses sólidos, são constituídos de matéria orgânica em processo de decomposição. Nestes sólidos, proliferam microorganismos, podendo ocorrer organismos patogênicos, dependendo da saúde da população contribuinte. Estes microorganismos são oriundos de fezes humanas. Podem ainda ocorrer poluentes tóxicos, em especial os fenóis e os chamados metais pesados, da mistura com efluentes industriais (NUVOLARI, 2003, p.171). A característica dos esgotos é função dos usos à qual a água foi submetida. Esses usos, e a forma com que são exercidos variam com o clima, situação social e econômica e hábitos da população (SPERLING, 1996, p.59). O autor ainda saliente que: No projeto de uma estação de tratamento, normalmente não há interesse em se determinar os diversos compostos dos quais a água residuária é constituída. Isto, não só pela dificuldade em se executar vários destes testes em laboratório, mas também pelo fato de os resultados em si não serem diretamente utilizáveis como elementos de projeto e operação. Assim, é preferível autilização de parâmetros indiretos que traduzam o caráter ou o potencial poluidor do despejo em questão. Tais parâmetros definem a qualidade do esgoto, podendo ser divididos em três categorias: parâmetros físicos, químicos e biológicos. 2.2.2 Principais Características das Águas Residuárias Os quadros 01, 02 e 03 apresentam as principais características físicas, químicas e biológicas dos esgotos. Parâmetro Descrição Temperatura • Ligeiramente superior à da água de abastecimento; • Variação conforme as estações do ano; • Influência na atividade microbiana; • Influência na solubilidade dos gases; • Influência na viscosidade do líquido; Cor • Esgoto fresco: ligeiramente cinza; • Esgoto séptico: cinza escuro ou preto; Odor • Esgoto fresco: odor oleoso, relativamente desagradável; • Esgoto séptico: odor fétido (desagradável), devido ao gás sulfídrico e a outros produtos da decomposição; 9 • Despejos industriais: odores característicos; Turdidez • Causada por uma grande variedade de sólidos em suspensão; • Esgotos mais frescos ou mais concentrados: geralmente maior turbidez. QUADRO 01 – Principais características físicas dos esgotos. Fonte: (SPERLING, 1996, p.61). Parâmetro Descrição SOLIDOS TOTAIS • Em suspensão � Fixos � Voláteis • Dissolvidos � Fixos � Voláteis • Sedimentáveis Orgânicos e inorgânicos; suspensos e dissolvidos; sedimentáveis. • Fração de sólidos orgânicos e inorgânicos que não são filtráveis (não dissolvidos); • Componentes minerais, não incineráveis, inertes, dos sólidos em suspensão; • Componentes orgânicos dos sólidos em suspensão; • Fração dos sólidos orgânicos e inorgânicos que são filtráveis; • Normalmente considerados com dimensão inferior a 10-3 • Componentes minerais dos sólidos dissolvidos • Componentes orgânicos dos sólidos dissolvidos; • Fração dos sólidos orgânicos e inorgânicos que sedimenta em 1 hora no cone Imhoff, indicação aproximada da sedimentação em um tanque de decantação. MATERIA ORGANICA • Determinação Indireta � DBO5 � DQO Mistura heterogênea de diversos compostos orgânicos. Principais componentes: proteínas, carboidratos e lipídios. � Demanda Bioquímica de Oxigênio, medida a 5 dias, 20ºC. Está associada à fração biodegradável dos componentes orgânicos carbonáceos. É uma medida do oxigênio consumido após 5 dias pelos microorganismos na estabilização bioquímica da matéria orgânica. � Demanda Química de Oxigênio. Representa a quantidade requerida para estabilizar quimicamente a matéria orgânica carbonácea. Utiliza fortes agentes oxidantes em condições ácidas. 10 � DBO ultima • Determinação Direta � COT � Demanda Ultima de Oxigênio. Representa o consumo total de oxigênio, ao final de vários dias, requerido pelos microorganismos para a estabilização bioquímica da matéria orgânica. � Carbono Orgânico Total. É uma medida direta da matéria orgânica carbonácea. É determinando através da conversão do carbono orgânico e gás carbônico. NITROGENIO TOTAL • Nitrogênio orgânico • Amônia • Nitrito • Nitrato O nitrogênio total inclui o nitrogênio orgânico, amônia, nitrito e nitrato. É um nutriente indispensável para o desenvolvimento de microorganismos no tratamento biológico. O nitrogênio orgânico e a amônia compreendem o determinando Nitrogênio Total Kjeldahl (NTK). � Nitrogênio na forma de proteínas , animoácidos e uréia. � Produzida no primeiro estagio da decomposição no nitrogênio orgânico. � Estagio intermediário da oxidação da amônia. Praticamente ausento no esgoto bruto. � Produto final da oxidação da amônia. Praticamente ausente no esgoto bruto. FÓSFORO � Fósforo Orgânico � Fósforo Inorgânico O fósforo existe na forma orgânica e inorgânica. É um nutriente indispensável no tratamento biológico. � Combinado a matéria orgânica � Ortofosfato e polifosfato pH Indicador das características ácidas ou básicas do esgoto. Uma solução é neutra em pH 7. Os processos de oxidação biológica normalmente tendem a reduzir o pH. ALCALINIDADE Indicador da capacidade tampão do meio (resistências a variações do pH). Devido a presença de bicarbonato, carbonato e íon hidroxila (OH- ) CLORETOS Provenientes da água de abastecimento e dos dejetos humanos. ÓLEOS E GRAXAS Fração da matéria orgânica solúvel em 11 hexanos. QUADRO 02 - Principais características químicas dos esgotos. Fonte: (SPERLING, 1996, p.62) Microorganismo Descrição Bactérias • Organismos protistas unicelulares; • Apresentam-se em varias formas e tamanhos; • São os principais responsáveis pela estabilização da matéria orgânica; • Algumas bactérias são patogênicas, causando principalmente doenças intestinais. Fungos • Organismos aeróbios, unicelulares, não fotossintéticos, heterotróficos; • Também de grande importância na decomposição da matéria orgânica. • Podem crescer em condições de pH baixo. Protozoários • Organismos unicelulares sem parede celular; • A maioria é aeróbia ou facultativa; • Alimentam-se de bactérias, algas e outros microorganismos; • São essenciais no tratamento biológico para a manutenção de um equilíbrio entre diversos grupos; • Alguns são patogênicos. Vírus • Organismos parasitas, formados pela associação de material genético (DNA ou RNA) e uma carapaça protéica; • Causam doenças e podem ser de difícil remoção no tratamento de água e esgoto. Helmintos • Animais superiores; • Ovos de helmintos presentes nos esgotos podem causar doenças. QUADRO 03 - Principais microorganismos presentes nos esgotos. Fonte: (SPERLING, 1996, p.63) 2.2.3 Principais Parâmetros 2.2.3.1 Sólidos Todos os sólidos contaminantes da água, com exceção dos gases dissolvidos, contribuem para a carga orgânica de sólidos. Conforme Quadro 04, os sólidos podem ser classificados de acordo com (a) o seu tamanho e estado, (b) as suas características químicas e (c) a sua decantabilidade: 12 Sólidos nos esgotos • Classificação por tamanho e estado � Sólidos em suspensão � Sólidos dissolvidos • Classificação pelas características químicas � Sólidos voláteis � Sólidos fixos • Classificação pela decantabilidade � Sólidos em suspensão sedimentáveis � Sólidos em suspensão não sedimentáveis. QUADRO 04 – Classificação dos sólidos presentes nos esgotos. Fonte: (SPERLING 1996, p.64) (a) Classificação por Tamanho No caso especifico do esgoto, pode-se adotar uma classificação mais simplificada, distinguindo-se principalmente os seguintes tipos de sólidos: � Sólidos em suspensão � Sólidos dissolvidos (b) Classificação pelas Características Químicas Ao se submeter os sólidos a uma temperatura elevada (550ºC), a fração orgânica é oxidada (volatizada), permanecendo após a combustão apenas a fração inerte (não oxidada). Os sólidos voláteis representam uma estimativa de matéria orgânica nos sólidos, ao passo que os sólidos não voláteis (fixos ou inertes) representam a matéria inorgânica ou mineral. Assim tem-se, em resumo: Sólidos voláteis (matéria orgânica) Sólidos totais Sólidos fixos (matéria inorgânica) (c) Classificação pela Decantabilidade Consideram-se como sólidos sedimentáveis aqueles que sejam capazes de sedimentar no período de 1 (uma) hora. O valor é expresso na unidade de ml/L, 13 medido um recipiente denominado cone Imhoff. A fração que não sedimenta representa sólidos não sedimentáveis (usualmente não expressos nos resultados de análise). A figura 01 mostra a distribuição típica entre os diversos tipos de sólidos presentes em esgoto bruto de decomposição média. FIGURA 01-Distribuição aproximada dos sólidos do esgoto bruto (em termos de concentração). Fonte: (SPERLING, 1996, p.65). 2.2.3.2 Matéria Orgânica Carbonácea Segundo Sperling (1996), a matéria orgânica presente nos esgotos é uma característica de primordial importância, sendoa causadora do principal problema de poluição das águas: o consumo de oxigênio dissolvido pelos microorganismos nos seus processos metabólicos de utilização e estabilização da matéria orgânica. As substâncias orgânicas presentes nos esgotos são constituídos principalmente por: • Compostos de proteínas (~40%); • Carboidratos (~25 a ~50%); • Gordura e óleos (~10%); • Uréia, surfactantes, fenóis, pesticidas e outros (menos quantidade) A matéria orgânica carbonácea (baseada no carbono orgânico) presente nos esgotos afluentes a uma estação de tratamento divide-se nas seguintes frações (Quadro 05). Totais 1000 mg/L Em suspensão (SS) (não filtráveis) 350 mg/L Dissolvidos (SS) (filtráveis) 650mg/L Fixos 50 mg/L Voláteis (SSV) 300 mg/L Fixos 400 mg/L Voláteis 250 mg/L 14 Matéria orgânica nos esgotos • Classificação quanto à forma e tamanho � Em suspensão (particulada) � Dissolvida (solúvel) • Classificação quanto à biodegradabilidade � Inerte � biodegradável QUADRO 05 – Classificação da Matéria Orgânica Carbonácea presentes esgotos. Fonte: (SPERLING 1996, p.65). Em termos práticos, usualmente não há necessidade de se caracterizar a matéria orgânica em termos de proteínas, gorduras, carboidratos etc. Ademais, há uma grande dificuldade na determinação laboratorial dos diversos componentes da matéria orgânicas nas águas residuárias, face à multiplicidade de formas e compostos em que a mesma pode se apresentar. Neste sentido, podem ser adotados métodos diretos ou indiretos para determinação da matéria orgânica: • Métodos indiretos: mediação do consumo de oxigênio � Demanda Bioquímica de Oxigênio (DBO) � Demanda Química de Oxigênio (DQO) a) Demanda Bioquímica de Oxigênio (DBO) A DBO é a quantidade de Oxigênio Dissolvido, necessário aos microorganismos, para estabilização da matéria orgânica em decomposição, sob condições aeróbias. Num efluente quando maior a quantidade de matéria orgânica biodegradável maior é a DBO (NUVOLARI, 2003, p.181). O principal efeito ecológico da poluição orgânica em um curso d’água é o decréscimo dos teores de Oxigênio Dissolvido. Da mesma forma, no tratamento de esgotos por processos aeróbios, é fundamental o adequado fornecimento de oxigênio para que os microorganismos possam realizar os processos metabólicos conduzindo à estabilização da matéria orgânica (SPERLING, 1996, p.66). O teste da DBO surgiu na Inglaterra e, segundo se diz 20ºC seria a temperatura média dos rios ingleses e 5 dias, o tempo médio que a maioria dos rios ingleses levariam para ir desde a nascente até o mar (NUVOLARI, 2003, p.181). 15 As principais vantagens do teste da DBO, segundo Sperling (1996) são: • Indicação aproximada da fração biodegradável do despejo; • Indicação da taxa de degradação do despejo; • Indicação da taxa de consumo de oxigênio em função do tempo; • Determinação aproximada da quantidade de oxigênio requerido para a estabilidade biológica da matéria orgânica presente. O autor ainda aponta as limitações que são as seguintes: • Podem-se encontrar baixos valores de DBO5 casos os microorganismos responsáveis pela decomposição não estejam adaptados ao despejo; • Metais pesados e outras substâncias tóxicas podem matar ou inibir os microorganismos; • Há a necessidade de inibição dos organismos responsáveis pela oxidação da amônia para evitar que o consumo de oxigênio para a nitrificação (demanda nitrogenada) interfira com a demanda carbonácea; • A relação DBOu/ DBO5 varia em função do despejo; • A relação DBOu/ DBO5 , varia para um mesmo despejo, ao longo da linha de tratamento da ETE; • O teste demora 5 dias, não sendo útil para efeito do controle operacional de uma estação de tratamento de esgoto. Apesar das limitações citadas, o teste da DBO continua a ter extensiva utilização, parte por razões históricas, parte em função ainda de que alguns dos seguintes pontos: • Os critérios de dimensionamento das unidades de tratamento são mais freqüentemente expressos em termos de DBO; • A legislação para lançamento de efluentes e, em decorrência, a avaliação do cumprimento aos padrões de lançamento, é normalmente baseada na DBO. 16 b) Demanda Química de Oxigênio (DQO) O teste da DQO é utilizado para medir o conteúdo de matéria orgânica de águas residuárias e águas naturais (BRAILE e CAVALCANTI, 1979, p.10). O teste da DQO mede o consumo de oxigênio para oxidar compostos orgânicos, bio e não biodegradáveis, com oxidação exclusivamente química, não sendo afetado pela nitrificação, dando-nos uma indicação apenas de matéria orgânica carbonácea. O teste da DQO também não possibilita medir o consumo de oxigênio ao longo do tempo, como no caso da DBO. (NUVOLARI, 2003, p.185) As principais vantagens do teste de DQO segundo Sperling (1996) são: • O teste gasta apenas de 2 a 3 horas para ser realizado; • O resultado do teste dá uma indicação do oxigênio requerido para a estabilização da matéria orgânica; • O teste não é afetado pela nitrificação, dando uma indicação da oxidação apenas da matéria orgânica carbonácea (e não nitrogenada). As limitações do teste, segundo o mesmo autor, são: • No teste da DQO são oxidadas, tanto na fração biodegradável, quanto a fração inerte do despejo. O teste superestima, portanto, o oxigênio a ser consumido no tratamento biológico dos despejos; • O teste não fornece informações sobre taxa de consumo da matéria orgânica ao longo do tempo; • Certos constituintes inorgânicos podem ser oxidados e interferir no resultado de corpos d’água. O teste COT mede todo o carbono liberado na forma de CO2 (SPERLING, 1996, p.70). 2.2.3.3 Fósforo 17 O fósforo é parte integrante do protoplasma das células dos microorganismos, constituindo-se num dos elementos essenciais para a síntese bacteriana. As ETE’s é importante manter relação carbono/ nitrogênio/ fósforo (CNP) próxima de 100:5:1 para garantir o crescimento bacteriano (NUVOLARI, 2003, p.190). O mesmo autor ainda salienta que: O fósforo é também um dos nutrientes essenciais às plantas. Estas geralmente recebem adubação em excesso, pois o fósforo reage facilmente com outros elementos do solo, tornando-se imobilizado (indispensável). Assim como o nitrogênio, o fósforo causa problemas de eutrofização de lagos. Além de fazer parte de algumas proteínas existentes nas fezes humanas, o fósforo é encontrado na maioria dos detergentes domésticos. Segundo Sperling (1996), o fósforo na água apresenta-se principalmente nas seguintes três formas: • Ortofosfato: são diretamente disponíveis para o metabolismo biológico sem necessidade de conversões a formas mais simples. As principais fontes de ortofosfato na água são: o solo, detergentes, fertilizantes, despejos industriais e esgotos domésticos (degradação da matéria orgânica). A forma em que os ortofosfatos se apresentam na água depende do pH. • Polifosfato: são moléculas mais complexas com dois ou mais átomos de fósforo. Os polifosfatos se transformam em ortofosfatos pelo mecanismo de hidrólise, mas tal transformação é usualmente lenta. • Fósforo orgânico: é normalmente de menor importância nos esgotos domésticos típicos, mas pode ser importante em água residuárias industriais e lodos oriundos do tratamento de esgoto. No tratamento de esgotos e nos corpos d’água receptores, o fósforo orgânico é convertido em ortofosfato. Segundo Nuvolari (2003), o método mais utilizado na determinação do fósforo é o seguinte: 18 • Os ortofosfatos podem ser analisados por espectrometria (métodos colorímetros). Ex.: pela adição de molibdato de amônia que confere cor ao reagir com o ortofosfato. • Os polifosfatos e fosfatos orgânicos são antes convertidos a ortofosfatos. O teor de fósforo preocupa não pela insuficiência em esgoto sanitário, mas sim pelo excesso, já que o efluente rico em fósforo pode provocar proliferação excessiva de algas nocurso d’água receptor (BRAILE e CAVALCANTI, 1979, p.75). 2.2.3.4 Indicadores de Contaminação Fecal Os principais indicadores de contaminação fecal comumente utilizados são os coliformes totais (CT) e os coliformes fecais (CF). O grupo de coliformes totais (CT) constitui-se em um grande grupo de bactérias que tem sido isoladas de amostras de águas e solos poluídos e não poluídos, bem como de fezes de seres humanos e outros animais de sangue quente. Tal grupo foi bastante usado no passado como indicador, e continua a ser usado em algumas áreas, ambora as dificuldades associadas com a ocorrência de bactérias não fecais seja um problema (Thomann e Mueller, 1987 apud Sperling, 1996, p.75). Os coliformes fecais (CF) são um grupo de bactérias indicadoras de organismos originários do trato intestinal humano e outros animais. O teste para CF é feito a uma elevada temperatura, na qual o crescimento de bactérias de origem não fecal é suprimido (Thomann e Mueller, 1987 apud Sperling, 1996, p.75). A Escherichia coli é uma bactéria pertencente a este grupo. 2.2.3.5 Oxigênio Dissolvido O oxigênio dissolvido é de essencial importância para os organismos aeróbios (que vivem na presença de oxigênio). Durante a estabilização da matéria orgânica, as bactérias fazem uso do oxigênio nos seus processos respiratórios, podendo vir causar uma redução da sua concentração no meio. Dependendo da 19 magnitude deste fenômeno, podem vir a morrer diversos seres aquáticos, inclusive os peixes. Caso o oxigênio seja totalmente consumido, têm-se condições anaeróbias (ausência de oxigênio), com geração de maus odores (SPERLING, 1996, p.33). O OD é um dos principais parâmetros que se dispõe no campo do controle da poluição das águas; é fundamental para se verificar e manter condições aeróbias num curso de água que recebe material poluidor. É utilizado para controlar processos de aeração, para indicar atividade fotosintetizadora e corrosividade (BRAILE e CAVALCANTI, 1979, p.44-45). 2.2.3.6 Temperatura Segundo Sperling (1996), o conceito de temperatura é a medição da intensidade de calor. E sua importância é: • Elevações da temperatura aumentam a taxa das reações químicas e biológicas (na faixa usual de temperatura); • Elevações da temperatura diminuem a solubilidade dos gases (ex: oxigênio dissolvido); • Elevações de temperatura aumentam a taxa de transferência de gases (o que pode gerar mau cheiro, no caso da liberação de gases com odores desagradáveis). A elevação da temperatura também produz estimulação das atividades biológicas, resultando em consumo de oxigênio, justamente na ocasião em que a água passa a conter menos elementos. Por isso, as condições sanitárias dos cursos d’água tendem a se agravar durante o verão (BRAILE e CAVALCANTI, 1979, p.7). Segundo os mesmos autores, um aumento súbito na temperatura de cursos d’água, por outro lado, poderá resultar em alta taxa de mortalidade na vida aquática. Além disso, temperaturas elevadas podem causar o florescimento de fungos e plantas aquáticas indesejáveis. 20 A temperatura dos efluentes pode ter importância em certos casos, pois o aumento da mesma acelera os processos de decomposição, sendo sua ação, neste caso, comparável à de uma carga poluidora nos primeiros trechos dos cursos de água receptores (IMHOFF, K. et al, 1996, p.25). 2.2.3.7 Metais Pesados Os metais, quando na forma solúvel (forma catiônica), podem entrar na cadeia alimentar humana e de outros animais ao serem absorvidos primariamente por plantas e microorganismos. Na sua maioria, em pequenas concentrações, estes são necessários ao metabolismo dos organismos vivos. Porém, em concentrações maiores são geralmente tóxicos (NUVOLARI, 2003, p.194). O mesmo autor ainda aponta que, no tratamento biológico do esgoto, alguns metais podem ser tóxicos aos microorganismos responsáveis pela biodegradação da matéria orgânica. Traços de metais pesados como níquel, manganês, chumbo, cromo, cádmio, ferro, zinco e mercúrio, aparecem constantemente em alguns despejos industriais. A presença destes metais em quantidades excessiva prejudica os usos benéficos da água (BRAILE e CAVALCANTI, 1979, p. 11) 2.2.3.8 Óleos e Graxas Por este método determina-se quantitativamente um grupo de substancias, ou seja, ácidos graxos, sabões, graxas, ceras, óleos, etc., que são extraídos pela hexana sob as condições do teste e que não volatilizam durante a evaporação (BRAILE e CAVALCANTE, 1979, p. 52). Sob a denominação óleos e graxas estão incluídas as gorduras, as graxas, os óleos, tanto os de origem vegetal quanto animal e principalmente os derivados de petróleo. Além de uma certa porcentagem existente nas fezes humanas, no esgoto sanitário essas substâncias são provenientes das cozinhas 21 domesticas, restaurantes, postos de lavagem e lubrificação de veículos, garagens etc (NUVOLARI, 2003, p.193). O autor ainda aponta que essas substâncias, se em grande quantidade, causam problemas nos digestores, pois formam uma densa camada na superfície, atrapalhando o processo de biodegradação do lodo. Se essas gorduras não são degradadas no digestor anaeróbio e seguem para as unidades de desidratação de lodo, podem também dificultar essa operação. 2.2.3.9 Fenóis O fenol (C6H5OH) pode ser encontrado nos estados sólido e líquido, principalmente em efluentes de empresas que produzem resinas ou compostos fenólicos para uso em desinfetante e agentes anti-sépticos. É utilizado também como solvente (NUVOLARI, 2003, p.196). O fenol é um bactericida poderoso, e por isso, interfere nos testes de DBO (BRAILE e CAVALCANTI, 1979, p.22). Nas estações de tratamento de efluentes das refinarias de petróleo, pode ser o fenol uma substância extremamente tóxica aos microorganismos, responsáveis pelo tratamento biológico, tais efluentes passam intensa aeração antes de entrarem no reator biológico, com finalidade de eliminar essas substâncias. No esgoto sanitário normalmente não são encontrados fenóis em concentrações elevadas, a não ser que existam empresas, tais como as citadas anteriormente, lançando efluentes sem prévio tratamento, nas redes públicas de esgoto (NUVOLARI, 2003, p.196). 2.2.3.10 Cloretos Os cloretos, mesmo em razoáveis concentrações, não são nocivos aos seres humanos, a não ser o cloreto, que causa hipertensão. No entanto, em concentrações acima de 250mg/L, conferem a água um gosto salgado, nada agradável (NUVOLARI, 2003, p.193). Segundo o mesmo autor, os problemas ambientais acarretados pelos cloretos estão relacionados com o potencial osmótico, que afetam a vida dos seres aquáticos de água doce. 22 2.3Requisitos de Qualidade do Efluente 2.3.1 Preliminares Em estudos ou projetos, antes de se iniciar a concepção e o dimensionamento do tratamento, deve-se definir com clareza qual o objetivo do tratamento dos esgotos, e a que nível deve ser o mesmo processado. Tal questionamento assume freqüentemente uma importância secundaria em projetos apressados ou excessivamente padronizados, e não raro se vê concepções superestimadas, subestimadas, ou desvinculadas de outros importantes aspectos que não apenas a remoção da DBO com uma eficiência de, por exemplo, 90%. Porque a DBO? Porque apenas a DBO? Porque 90%? Estas devem ser as perguntas que devem ser efetuadas e esclarecidas na etapa preliminar da formulação da concepção do sistema (SPERLING, 1996, p.169). O autor ainda salienta que devem ser bem caracterizados os seguintes aspectos: • Objetivos do tratamento; • Nível de tratamento; • Estudos de impacto ambiental no corpo receptor. 2.3.2 Nível de Tratamento A remoção dos poluentes no tratamento, de forma a adequar o lançamento a uma qualidade desejada ou ao padrão de qualidade vigente está associada aos conceitos de nível do tratamento e eficiência do tratamento (SPERLING, 1996, p.169). O Tratamento Preliminar objetiva apenas a remoção dossólidos grosseiros, enquanto o Tratamento Primário visa a remoção de sólidos sedimentáveis e parte da matéria orgânica. Em ambos predominam os mecanismos físicos de remoção de poluentes. Já no Tratamento Secundário, no qual predominam mecanismos biológicos, o objetivo é principalmente a remoção da matéria orgânica e eventualmente nutrientes (nitrogênio e fósforo). O Tratamento Terciário objetiva a remoção de poluentes específicos (usualmente tóxicos ou compostos biodegradáveis) ou ainda, a remoção complementar de poluentes não suficientemente removidos no tratamento secundário. O tratamento terciário é bastante raro no Brasil (SPERLING, 1996, p.170). 23 O mesmo autor aponta que o tratamento dos esgotos é usualmente classificado através dos seguintes níveis (Quadros 06 e 07). Nível Remoção Preliminar - Sólidos em suspensão grosseiros (materiais de maiores dimensões e areia) Primário - Sólidos em suspensão sedimentáveis - DBO em suspensão (matéria orgânica componente dos sólidos em suspensão sedimentáveis) Secundário - DBO em suspensão (matéria orgânica em suspensão fina, não removida no tratamento primário) - DBO solúvel (matéria orgânica na forma de sólidos dissolvidos) Terciário - Nutrientes - Patogênicos - Compostos não biodegradáveis - Metais pesados - Sólidos inorgânicos dissolvidos - sólidos em suspensão remanescentes QUADRO 06 – Níveis de tratamento de Esgoto. Fonte: (SPERLING, 1996, p.170) Nota: a remoção de nutrientes (por processos biológicos) e de patogênicos pode ser considerada como integrante do tratamento secundário, depende da concepção de tratamento local. Nível de tratamento (1) Item Preliminar Primário Secundário Poluentes removidos - sólidos grosseiros - sólidos sedimentáveis - DBO em suspensão - solidos não sedimentáveis - DBO em suspensão fina - DBO solúvel - nutrientes (parcialmente) - patogênicos (parcialmente) Eficiências de remoção - - SS: 60-70% - DBO: 30-40% - Coliformes: 30- 40% - DBO: 60-90% - Coliformes: 60-99% (3) - Nutrientes: 10-50% (3) Mecanismo de tratamento predominante Físico Físico Biológico Cumpre o padrão de lançamento (2) Não Não Usualmente sim aplicação - montante de elevatória - etapa inicial de tratamento - tratamento parcial - etapa intermediária de tratamento mais completo - tratamento mais completo para matéria orgânica e sólidos em suspensão (para nutrientes e coliformes, com adaptações ou inclusão de etapas especificas) QUADRO 07 - Características dos níveis de tratamento de esgotos. Fonte: (SPERLING, 1996, p.171) 24 Nota: (1) Uma ETE a nível secundário usualmente tem tratamento preliminar, mas pode não ter tratamento primário (depende do processo) (2) Padrão de lançamento tal como expresso na legislação. O órgão ambiental poderá autorizar outros valores para o lançamento, caso estudos ambientais demonstrem que o corpo receptor continuará enquadrado dentro da sua classe. (3) A eficiência da remoção poderá ser superior, caso haja alguma etapa de remoção específica. O grau, porcentagem ou eficiência de remoção de determinados poluentes no tratamento ou em uma etapa do mesmo é dado pela fórmula: onde: E: eficiência de remoção (%) Co: concentração afluentes do poluente (mg /L) Ce: concentração efluente do poluente (mg /L) 2.4Objetivos do Sistema de Tratamento de Águas Residuárias Segundo Philippi (2005), o sistema de tratamento de águas residuárias deve ser planejado e operado de modo a atender os seguintes objetivos: • Sanitário: objetiva o tratamento dos efluentes com nível de eficiência que atenda os padrões legais - padrões de lançamento e de qualidade das águas -, de modo a evitar risco de agravo à saúde e à qualidade de vida, e proteja o meio ambiente; • Estético: o processo de eutrofização em corpos d’água, que é o crescimento excessivo da flora aquática, interfere nos usos desejáveis, podendo impedir atividades de lazer e pesca, por exemplo. A poluição também pode alterar a cor e odor dos corpos d’água. • Socioeconômico: a poluição dos recursos hídricos pelo lançamento in natura de águas residuárias pode impactar os indicadores de agravo à saúde e, portanto, aumentar a demanda por serviços de saúde, e absentismo da força de trabalho; aumento dos custos dos sistemas de tratamento de águas para abastecimento para fins residenciais e industriais; pode também inviabilizar o uso previsto, conforme o grau de E: Co – Ce . 100 Co 25 poluição, impedindo o uso para fins de agricultura e certos processos industriais, com reflexos negativos para o desenvolvimento da região. 2.5 Projeto da Estação de Tratamento de Água Residuárias. Na elaboração do projeto da estação de tratamento de efluentes, são utilizados diversos critérios técnicos, sócioambientais e econômicos (custos de investimentos, operação e manutenção, custos de impactos ambientais, passivos etc.). A análise integrada desses critérios deverá apontar as alternativas mais adequadas. O quadro 08 ilustra alguns critérios e considerações. Critérios Considerações Eficiência A eficiência requeria para o sistema depende das características dos efluentes, da bacia hidrográfica e do corpo receptor, de opções de reuso, de aspectos legais e dos anseios da comunidade. Os sistemas biológicos apresentam em geral alta eficiência de remoção de carga orgânica e coliformes, com menos custos relativos de tratamento. Entretanto, é necessário considerar a remoção dos nutrientes. Confiabilidade Refere-se ao adequado funcionamento do sistema de modo a atender os valores de eficiência requeridos à proteção da saúde publica, os padrões legais e a proteção ambiental. Risco Determinados processos de tratamento são mais suscetíveis às alterações das características qualitativas e quantitativas dos efluentes enviados ao sistema de tratamento, podendo dessa forma interferir significativamente na qualidade do efluente tratado. Dessa forma, apresentam maior risco operacional de não atender a eficiência requerida. Resíduos sólidos A quantidade e a qualidade do lodo gerado no processo de tratamento dependem do sistema utilizado, aeróbico ou anaeróbico, e da tecnologia adotada. Custo da área requerida pelo sistema Determinados tipos de tratamento, como a lagoa de estabilização e disposição no solo, requerem maior área de implantação do sistema. Dessa forma, em situações em que o custo do terreno é relativamente alto, esse tipo de tratamento resulta em investimentos mais altos. QUADRO 08 - Critérios importantes a serem considerados na escolha da tecnologia mais apropriada para a estação de tratamento de águas residuárias. Fonte: (PHILIPPI, 2005, p.203) 26 2.6 Sistema de Tratamento 2.6.1 Tratamento Preliminar O Tratamento Preliminar destina-se principalmente à remoção de sólidos grosseiros, areia e remoção de gorduras (BRAGA et al, 2002, p.120). Além das unidades de remoção dos sólidos grosseiros, inclui-se também uma unidade para a medição da vazão. Usualmente esta é constituída por uma calha de dimensões padronizadas, onde o valor do nível do liquido pode ser correlacionado com a vazão. Pode-se adotar também vertedouros e mecanismos para a medição em tubulações fechadas, embora estes últimos sejam mais infrequentes no caso do esgoto bruto (SPERLING, 1996, p.182). A figura 02 apresenta o fluxograma típico do Tratamento Preliminar Tratamento preliminar Grade Desarenador medidor de vazão FIGURA 02-Fluxograma típico de tratamento preliminar. Fonte: (SPERLING, 1996, p.182) A remoção dos sólidos grosseiros é feita freqüentemente por meio de grades, mas podem-se usar também peneiras rotativas ou trituradores. No gradeamento, o material de dimensões maiores do que o espaçamento entre as barras é retido. Há grades grossas, medias e finas, dependendo do espaço livre entre as barras. A remoção do material retido pode ser manual ou mecanizado (SPERLING,1996, p.182). As principais finalidades da remoção dos sólidos grosseiros segundo IMHOFF, K. et al (1996) são: • Proteção das unidades de tratamento subseqüentes; • Proteção dos dispositivos de transporte dos esgotos (bombas e tubulações); • Proteção dos corpos receptores (aspectos estéticos). 27 Segundo o mesmo autor, existe uma diversidade de processos para a retirada e o transporte da areia sedimentada, desde os manuais até os completamente mecanizados. As finalidades básicas da remoção de areia são: • Evitar abrasão nos equipamentos e tubulação; • Eliminar ou reduzir a possibilidade de obstrução em tubulações e demais unidades do sistema; • Facilitar o transporte líquido. 2.6.2 Tratamento Primário O tratamento primário destina-se a decantação, flotação, digestão de lodo, secagem de lodo e sistemas compactos (decantação e digestão) (BRAGA et al, 2002, p.120). As fossas sépticas e suas variantes, como os tanques Imhoff, são basicamente decantadores, onde os sólidos sedimentáveis são removidos para o fundo, permanecendo nestes um tempo longo o suficiente (alguns meses) para a sua estabilização. Esta estabilização se dá em condições anaeróbias (SPERLING, 1996, p.184). As fossas sépticas são também uma forma de tratamento a nível primário. Os sólidos sedimentáveis são removidos para o fundo, permanecendo um tempo longo ( alguns meses), suficiente para a sua estabilização (IMHOFF, K. et al, 1996, p.146). Ainda segundo o autor, As Fossas Sépticas são bastante utilizadas em nosso meio para tratamento de esgoto [...]. Pelo fato de eficiência da fossa na remoção de matéria orgânica ser baixa, freqüentemente utiliza-se uma forma complementar de tratamento. Este pós-tratamento pode ser através de Filtros Anaeróbios ou por Sistemas de Infiltração no solo. O dimensionamento da Fossa Séptica e dos Sistemas de pós-tratamento é contemplado pela Norma Brasileira NBR 7229. O lodo que se acumula no fundo da fossa séptica é removido num 28 intervalo de 6 meses a 1 ano, já saindo estabilizado porém contaminado por patogênico (IMHOFF, K. et al, 1996, p.146). 2.6.3 Tratamento Secundário O tratamento secundário destina-se a filtração biológica, processos de lodos ativados, decantação intermediária ou final, lagoas de estabilização (podem ser construídas em um tratamento unitário) (BRAGA at al, 2002, p.120). O principal objetivo do tratamento secundário é a remoção da matéria orgânica (SPERLING, 1996, p.185). Após a realização de Tratamento Primário, verifica-se que, na maioria dos casos, esse nível de tratamento é insuficiente para permitir o lançamento do efluente no corpo d’água. O efluente dos decantadores primários ainda conserva no mínimo 60% do valor da DBO original. Em outras palavras, a remoção da DBO é de no máximo 40%. Em termos de sólidos suspensos, a eficiência é um pouco maior (no máximo 70%). Assim, quase sempre é necessário o tratamento secundário, que visa remover os sólidos dissolvidos, bem como os sólidos finamente particulados, não removidos no Tratamento Primário (NUVOLARI, 2003, p.268). 2.6.4 Tratamento Avançado (Tratamento Terciário) O tratamento avançado destina-se a remoção de nutrientes e remoção de complexos orgânicos, e é específico para remoção de determinados poluentes (BRAGA at al, 2002, p. 121). O tratamento terciário não é solução para eficiência insatisfatória do tratamento primário ou secundário. É aconselhável completar primeiramente as partes convencionais da estação de tratamento e da rede de coletores de acordo com as regras geralmente aceitas da técnica, em virtude do crescimento exagerado dos custos com o tratamento avançado (IMHOFF, K. et al, 1996, p. 118). 2.7 Necessidade de Desinfecção de Águas Residuárias [...] A cólera foi uma das primeiras doenças a ser reconhecida como capaz de ser transmitida pela água. Esta foi provavelmente a primeira epidemia atribuída à reciclagem direta de água não desinfetada. Atualmente, a lista 29 de doenças potencialmente transmissíveis pela água, devido a patogênicos, é consideravelmente maior, e inclui microorganismos bacterianos, virais, parasitários (NUVOLARI, 2003, p.382). Nuvolari (2003) ainda salienta que água natural abriga comunidades biológicas. Vista que alguns microorganismos podem ser responsáveis por problemas de saúde pública, as características biológicas da água de fonte são um dos parâmetros mais importantes em tratamento de água. 2.8 Desinfecção dos Efluentes das ETE’s 2.8.1 Cloração Segundo Nuvolari (2003) o cloro tem várias características vantajosas, que contribuem para seu largo uso em saneamento. Quatro dos seus atributos são: • Inativação eficaz de uma grande variedade de patogênicos comumente encontrado nas águas; • Deixa um residual na água, que é facilmente medido e controlado; • É econômico; • Detém um recorde de usos bem-sucedidos, apesar dos perigos associados com sua aplicação e manipulação, especificamente quanto em estado gasoso. O cloro é, sem dúvida, o desinfetante mais comumente utilizado no tratamento da água potável. Hoje, o cloro é empregado como desinfetante primário na maioria das plantas de tratamento de água de abastecimento público, principalmente aquelas cujos mananciais são superficiais, sendo usado como pré- desinfetante em mais de 63% e como pós-desinfetante em mais de 67% dos casos (NUVOLARI, 2003, p. 381). O cloro não apresenta boa eficiência na remoção de protozoários, devido a seu maior tamanho devendo haver um processo auxiliar de filtração, a fim de removê-los (GONÇALVES, 2003, p.113) 30 A cloração vinha sendo o método preferido de desinfecção para a água de abastecimento publico e também para águas residuárias, até que, na década de 70 descobriu-se que algumas substâncias orgânicas (fenóis, ácidos húmicos e fúlvicos) podem atuar como precursores na formação de trihalometanos (THMs) e outros subprodutos de desinfecção (DBP), suspeitos de serem potencialmente tóxico. Como resultado, as práticas de desinfecção com cloro foram colocadas em discussão e métodos alternativos baseados em outras substâncias químicas ou efeitos físicos (por exemplo ozônio, ácido peracético, H2O2, compostos de bromo, UV, etc.) estão sendo ativamente pesquisados. A desinfecção física como bactericida e virucida, recebeu nova atenção em anos recentes, a partir do desenvolvimento da segunda geração de sistemas de UV, que conferiram maior grau de vantagens e confiabilidade a esta tecnologia (NUVOLARI, 2003, p.382). 2.8.2 Ozonização O ozônio é um poderoso agente oxidante, muito efetivo na destruição de vírus, bactérias, protozoários e outros parasitas, bem como na oxidação da matéria orgânica. Sua aplicação em tratamento de esgotos é melhor empregada em tratamentos com depuração biológica utilizando o oxigênio puro, pelo fato de reutilizar o oxigênio excedente da câmara de ozonização no reator biológico (GONÇALVES, 2003, p.170). A desinfecção de efluentes de tratamento de esgotos sanitários com ozônio vem despertando interesse, devido a preocupação com a formação de organoclorados (NUVOLARI, 2003, p. 400). Gonçalves (2003) ainda aponta que a desinfecção com ozônio destaca-se pelos seguintes aspectos: • Rapidez da ação de desinfecção; • Elevada eficiência na inativação de microorganismos; • Baixa toxicidade encontrada nos efluentes ozonizados. Para o mesmo autor, o poder desinfetante do ozônio é cerca de dez vezes superior a do cloro, para os tipos de microorganismos. Ele é eficaz contras esporos e cistos que são as formas mais resistentes. 31 2.8.3 Radiação Ultravioleta Recentemente, o emprego de radiação ultravioleta se estende para diversos setores da atividade humana, com particular interesse por sua ação germicida. No tratamento de esgotos sanitários, a radiação UV mostra-se altamente competitiva com a cloração, nos casos em que a implantação de uma etapa adicionalde descloração se faz necessária (GONÇALVES, 2003, p.210). O mesmo autor ainda salienta que, esta última etapa tem por função o controle de subprodutos tóxicos de cloro nos efluentes tratados, como os organoclorados, que não são gerados nos processos de desinfecção UV. A radiação UV rapidamente de dissipa na água por ser absorvida ou refletida pelo material presente na solução. Este processo é atraente do ponto de vista de formação de subprodutos da desinfecção. Porém, um desinfetante químico secundário é exigido caso seja necessário manter um residual (NUVOLARI, 2003, p.451). O emprego da radiação UV é, portanto, uma importante alternativa à desinfecção química de águas residuárias. Nenhum tipo de produto é adicionada corrente líquida, resultando em processes simples, de baixo custo e com pouca exigência de operação e manutenção (GONÇALVES, 2003, p.210). 2.9Toxicologia A toxicologia é a ciência dos venenos (toda substância que destrói ou altera as funções vitais). Ela não é uma ciência pura como a matemática, a física; nem uma ciência descritiva como a botânica ou a zoologia; é uma ciência aplicada, não possui técnicas próprias e, por este motivo, é obrigada a utilizar as técnicas de outras ciências. É uma fragilidade para esta disciplina, mas é também um grande ponto a favor, pois obriga o profissional que trabalha com a toxicologia a ter uma formação multidisciplinar (MATIAS E PINTO, 2006. p.4). 32 A toxicologia tem por objetivo estudar os diversos problemas ligados aos tóxicos tanto sobre o plano analítico, como do ponto de vista fisiológico e bioquímico (MATIAS E PINTO, 2006. p.5). O autor ainda definiu toxicologia como a disciplina que estuda as substâncias tóxicas ou venenos, quer dizer às substâncias que provocam alterações ou perturbações das funções do organismo conduzindo a efeitos noviços no qual o mais grave, de toda evidência, é a morte dos organismos em questão. 2.10 Toxicidade A toxicidade de uma substância a um organismo vivo pode ser considerada como a capacidade de lhe causar dado grave ou morte. Para que este dano ocorra é indispensável a interação de agente químico com o organismo. A relação da intensidade do efeito, a concentração e o tempo de exposição, depende da idade e das condições de saúde do individuo ou organismo em risco (OGA, 2003). Ainda segundo OGA, que na fase de identificação do perigo investiga-se se o agente químico pesquisado apresenta capacidade de causar um efeito adverso e estabelece-se a natureza dos efeitos presentes numa população ou num ecossistema. 2.10.1 Toxicidade Aguda A toxicidade aguda pode ser definida como os efeitos adversos que ocorram dentro de um período curto após a determinação de uma dose única ou doses múltiplas, dentro de 24 horas. A dose única é utilizada para determinar a potência da droga em casos de ingestão ou envenenamento acidental e as doses múltiplas são usadas para avaliarem se os efeitos são cumulativos (OGA, 2003). Segundo Matias e Pinto (2006), o ensaio de toxicidade permite: 33 • Estabelecer uma relação entre a dose administrativa e a intensidade de efeitos adversos observados; • Calcular uma dose letal, uma concentração letal ou uma concentração de efeito (DL, CL e CE), que é a expressão matemática da dose ou a concentração da substância que provoca morte dos organismos ou imobilidade a 50% da população exposta (DL50, CL50 ou CE50); • Estabelecer uma comparação da toxicidade de uma substância com outras substâncias na qual a toxicidade é conhecida; • Fornecer indicações sobre os efeitos possíveis de uma exposição ao homem; e, • Orientar os ensaios seguintes. 2.10.2 Toxicidade Crônica Segundo Matias e Pinto (2006), o objetivo de um estudo de toxicidade crônica é caracterizar o perfil toxicológico de uma substância em uma espécie, após uma exposição repetida e prolongada, cobrindo o ciclo de vida de forma representativa. Nas condições deste ensaio, devem se manifestar os efeitos que necessitam de um longo período de latência ou que são cumulativos. Os mesmos autores ainda apontam que, a metodologia proposta para permitir a detecção da toxicidade geral compreendendo em particular os efeitos sobre as principais funções fisiológicas, os efeitos bioquímicos e hematológicos, assim como os efeitos anatomopatológicos. 2.10.3 Âmbito de Aplicação Knie e Lopes (2004) apontam algumas aplicações de testes ecotoxicológicos: 34 • Avaliação do risco potencial de substâncias químicas ao meio ambiente; • Monitoramento de qualidade de águas superficiais; • Fiscalização de efluentes; • Controle da eficiência de estações de tratamento de águas residuárias; • Controle de efluentes antes da entrada na estação de tratamento para proteção de sua biologia; • Identificação de fontes poluidoras; • Determinação do potencial bioacumulativo de substâncias; • Avaliação da contaminação de águas após acidente com produtos químicos. 2.10.4 Teste com Algas Segundo Perin (2005), as algas unicelulares são organismos ubíquos nos ecossistemas aquáticos. Elas conseguem transformar energia solar em biomassa e produzir oxigênio, que depois será utilizado por outros organismos aquáticos. Têm papel muito importante na transformação e mineralização de substâncias químicas e são um nutriente básico na cadeia alimentar. Scenedesmus subspicatus é uma alga verde planctônica, representante dos produtores primários nos ecossistemas de água doce. Nesta função, as algas são base do ciclo de vida na água, servindo de alimento para outros organismos; além disso, destacam-se na manutenção do equilíbrio do ambiente aquático, pois participam dos ciclos biogeoquímicos, especialmente nos do carbono, oxigênio, nitrogênio, fósforo e silício. Na natureza Scenedesmus subspicatus forma agregados de até 5 ou 6 células, ao passo que no cultivo em laboratório ela se mostra, normalmente, unicelulares (KNIE e LOPES, 2004). Ainda segundos os autores, as algas como indicadores da poluição são usadas aproximadamente há 100 anos. Em geral, as análises com algas para 35 avaliação da qualidade hídrica e de efluentes, bem como da periculosidade de substâncias químicas, se baseiam na observação dos efeitos desses sobre o desenvolvimento da biomassa algal. A importância do uso de algas como indicadores biológicos deve-se, principalmente, à exposição ocupada na cadeia alimentar do ecossistema. Como principais representantes dos produtores primários tanto em ambientes aquáticos marinhos como em águas doces. Situam-se na base da cadeia alimentar e as alterações ocorridas na dinâmica da comunidade poderão afetar os níveis superiores do ecossistema (REGINATTO, 1998). Ainda segundo o autor, outras vantagens da utilização destes organismos em ensaios de toxicidade são sua grande sensibilidade às alterações ocorridas no meio ambiente e ao fato de possuírem um ciclo de vida relativamente curto, possibilitando a observação dos prováveis efeitos tóxicos em várias gerações. 2.11 Aspectos Legais Competência Federal: • Constituição Federal de 1988: a Constituição Federal define em seu artigo 225 que: [...]Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações[...] • Resolução CONAMA 357, de 17 de março de 2005: em seu capitulo IV, define condições e padrões de lançamento de efluentes: [...]Art. 24. Os efluentes de qualquer fonte poluidora somente poderão ser lançados, direta ou indiretamente, nos corpos de água, após o devido tratamento e desde que obedeçam às condições, padrões e exigências dispostos nesta Resolução e em outras normas aplicáveis. [...]§ 4o Condições de lançamento de efluentes: I - pH entre 5 a 9; II - temperatura: inferior a 40ºC, sendo que a variação de temperatura do corpo
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