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PSIQUE POKEMONS NO DIVA

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10 anos
editorial
Se não pode vencê-los, 
use-os a seu favor!
Gláucia Viola, editora
“Os próprios computadores, e o software ainda a ser 
desenvolvido, irão revolucionar a forma como aprendemos.” 
Steve Jobs
O
utro dia, andando pela rua, fui literalmente atropelada por uma turma de jovens felizes por encontrar 
algo muito raro, logo ali na minha frente, que eu juro que não via! Passado algum tempo observando 
A�GAROTADA��PERCEBI�QUE�SE�TRATAVA�DE�UMA�BRINCADEIRA�VIRTUAL��%RA�O�JOGO�QUE�MINHA�lLHA�COMENTOU�H�
ALGUNS�DIAS��/�LAN¥AMENTO�NO�"RASIL�SERIA�EM�BREVE��MAS�ELA�JÉ�FALAVA�DELE�COM�INTIMIDADE��SABENDO�
todos os truques, elementos especiais e mencionava mais uns 15 amigos ansiosos 
para a estreia de Pokemón Go. 
#OMECEI�A�REPARAR�QUE�O�ASSUNTO�CRESCIA�NA�lLA�DO�SUPERMERCADO��NA�timeline das 
redes sociais e nos almoços de domingo com a família. Não contive a curiosidade. 
Precisava entender a intensidade que o tema estava tomando na sociedade. Não 
parecia mais uma diversão inocente de criança, dessas que os especialistas defen-
dem relatando o desenvolvimento da lógica e do raciocínio. E para minha surpresa, 
estava certa! Descobri contribuições que o jogo oferece que transcendem qualquer 
CENÉRIO�VIRTUAL��%SSAS�CRIATURAS�DE�NOMES�ESQUISITOS�E�EVOLU¥ÜES�MAIS�ESTRANHAS�AINDA�
conseguiram misturar fantasia e realidade em uma única dimensão. 
!�REALIDADE�AUMENTADA�FEZ�CRESCER�O�ASSUNTO�TAMBÏM�NAS�PÉGINAS�DESTA�EDI¥ÎO�
da Psique Ciência & Vida, e o que era para ser um artigo, se transformou em um 
dossiê que analisa o sucesso do uso dessa tecnologia na Educação, na Medicina, na Psicologia. 
Tiago Eugênio, que coordena o curso de pós-graduação em Games e Tecnologias da Inteligência aplicados à 
Educação e é mestre em Psicobiologia, conta no texto que “essa febre entre crianças e adultos tem envolvido o uso 
da realidade aumentada para o tratamento de diversos transtornos psicológicos e doenças neurológicas, além de 
TRAZER�INÞMEROS�RECURSOS�CRIATIVOS�PARA�A�SALA�DE�AULAv��-AS�TAMBÏM�MOSTRA�QUE�HÉ�UMA�SÏRIE�DE�QUESTIONAMEN-
TOS�ACERCA�DA�MANEIRA�AlCIONADA�COM�QUE�OS�JOGADORES�DE�TODAS�AS�IDADES�SE�EMPENHAM�PARA�CA¥AR�BICHOS�QUE�
NÎO�EXISTEM��lCANDO�IMERSOS�HORAS�A�lO�NESSA�ATIVIDADE��%NTRETANTO��DISTINTAS�OPINIÜES�DESTACAM�PONTOS�POSITIVOS��
como o incentivo para fazer os praticantes andarem pela cidade, ocupar praças, museus e parques e conectar-se 
pessoalmente a outras pessoas. O autor falou emocionado, em uma conversa informal sobre a pauta, de um passeio 
no parque em que viu mais um grupo de meninos se divertindo na captura dos personagens e entre eles havia um 
amigo na cadeira de rodas participando ativamente da caçada. 
Diante desta nova era, fomos capturados pela pluralidade de recursos que a tecnologia proporciona e excede a 
valorização do espaço público ou a interação social real. Bem-vindo a uma nova grandeza, do tamanho que esta 
palavra representa. 
'LÉUCIA�6IOLA
psique@escala.com.br
www.facebook.com/RevistaPsiqueCienciaeVida
CAPA
sumário
35
10 anos
15/09/16 19:21
MATÉRIAS
ENTREVISTA
Flora Victoria defende 
coaching em crianças para que 
conheçam melhor suas forças 
e aprendam como usá-las
SEÇÕES
05 EM CAMPO
14 IN FOCO 
16 SUPERVISÃO 
18 PSICOPOSITIVA
20 PSICOPEDAGOGIA
22 UTILIDADE PÚBLICA 
32 COACHING
34 LIVROS
50 CYBERPSICOLOGIA 
52 NEUROCIÊNCIA
54 RECURSOS HUMANOS
64 DIVÃ LITERÁRIO
66 CINEMA
70 PERFIL 
80 EM CONTATO
82 PSIQUIATRIA FORENSE
TCC para idosos 
4ERCEIRA�IDADE�SE�BENElCIA�COM�A�
Terapia Cognitivo-comportamental, 
principalmente em função de 
seu rigor metodológico e teórico
Longo caminho a percorrer 
Para conseguir uma vida a dois 
saudável é importante prestar 
atenção aos detalhes da relação, 
avaliar as necessidades do 
companheiro e de si próprio também
Peculiaridades dos 
superdotados
Pesquisas mostram que pessoas 
com altas habilidades precisam 
de apoio emocional, pois se 
sentem sobrecarregadas pelas 
exigências de não poder falhar
Sincronicidade
Fenômeno não pode ser controlado, 
previsto ou evitado, ocorre 
frequentemente em todas as áreas 
da vida humana e foi descrito em 
grandes fatos históricos
56
78
08
24
72
IM
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A 
CA
PA
: 1
23
RF
DOSSIÊ: Habilidades na 
Psicologia e na Educação
O fenômeno Pokémon GO é 
estudado como uma excelente 
ferramenta terapêutica na avaliação 
DA�RESILIÐNCIA�PARA�OS�DESAlOS�� 
nas interações virtuais e reais, 
ENTRE�OUTRAS�PRÉTICAS�BENÏlCAS�
www.portalcienciaevida.com.br psique ciência&vida 5
em campo 
HIPNOSE E FELICIDADE
Uma cooperação entre brasileiros 
e portugueses, na Universidade de 
Lisboa, vem utilizando, com sucesso, 
um protocolo de atendimento em 
coaching e psicoterapia que une 
a hipnose e a Psicologia Positiva, 
aproveitando-se do estado alterado de 
consciência dos coachees e pacientes 
não para fazê-los reviver traumas e 
circunstâncias complicadas, mas para 
fazê-los vivenciar experiências mais 
positivas. Antes e depois das sessões, 
diversos marcadores biológicos são 
monitorados, de maneira que, no 
momento após as vivências, uma 
avaliação desses marcadores aponta 
para a redução do stress, sugerindo 
que a junção de ambas as abordagens 
PODE�SER�ElCAZ�NOS�TRATAMENTOS�DE�
transtornos de humor e ansiedade.
MINDFULNESS PARA TODOS?
Em psicoterapia, especial atenção 
deve ser dada ao uso de meditação 
mindfulness, uma vez que ela pode 
ser gatilho no agravamento de crises 
para quem apresenta transtornos 
dissociativos, especialmente no caso 
de despersonalização. Em voga, 
A�TÏCNICA��NO�ENTANTO��Ï�ElCAZ�NO�
tratamento de pânico, ansiedade e 
depressão, reduzindo recaídas. O 
método mindfulness propõe a atenção 
plena ao presente, com exercícios 
de escaneamento corporal e foco na 
própria respiração.
(Fonte: www.makeitpositivemag.com)
por Jussara Goyano
IM
AG
EN
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 S
HU
TT
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ST
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CUIDADO PARENTAL
CRIANÇAS BEM-SUCEDIDAS SÃO AQUELAS EM QUE 
OS PAIS MAIS INVESTEM EMOCIONALMENTE
Um estudo envolvendo 27 crianças com idade entre quatro e seis anos ava-
liou a qualidade do vínculo emocional destas com seus pais e o desempenho 
dos pequenos em atividades nas quais fatores predisponentes de sucesso na 
vida são determinantes, tais como resistir à tentação, uma boa memória e ex-
troversão. Muito embora tais fatores sofram grande inf luência dos genes, a 
pesquisa verif icou que crescer em um ambiente de carinho e atenção parental 
pode mudar totalmente o jogo.
O trabalho, publicado na revista Frontiers in Human Neuroscience, levou em 
conta a resposta das crianças a uma combinação de questionários, a perfor-
mance em tarefas comportamentais e medidas eletrof isiológicas. Os resulta-
dos, de acordo com autores do estudo, reforçam as teorias que propõem que 
uma alta qualidade emocional na interação mãe-f ilho promove um melhor de-
senvolvimento cognitivo da criança.
Mas não se trata, segundo a pesquisa, de manter os pequenos sob as asas 
dos pais indiscriminadamente. Quando estes incentivam a independência em 
seus f ilhos, mas mantêm-se emocionalmente disponíveis, aumentam as chan-
ces de sucesso dessas crianças.
PARA SABER MAIS:
Henriette Schneider-Hassloff, Annabel Zwönitzer, Anne K. Künster, Carmen 
Mayer, Ute Ziegenhain, Markus Kiefer. Emotional Availability Modulates 
Electrophysiological Correlates of Executive Functions in Preschool Chil-
dren. Frontiers in Human Neuroscience, 2016; 10 DOI: 10.3389/fnhum.2016.00299 
6 psique ciência&vida www.portalcienciaevida.com.br
EFEITO GOOGLE
USO DA INTERNET COMO EXTENSÃO 
DE NOSSA MEMÓRIA JÁ É REALIDADE
Pesquisadores da Universidade da Califórnia, Santa 
Cruz e da Universidade de Illinois, Urbana Champaign 
descobriram que a tendênciade usar a Internet como uma 
espécie memória virtual, um HD externo a nossos cére-
bros, aumenta após cada utilização. 
Em um experimento, participantes foram divididos 
primeiro em dois grupos para responder a algumas per-
GUNTAS� TRIVIAIS�DESAlADORAS� 
� UM�GRUPO�USOU�APENAS� SUA�
memória, o outro usou o Google. Na segunda bateria de 
perguntas, ainda mais fáceis, ambos os grupos poderiam 
usar o método de sua escolha para chegar às respostas.
Os resultados revelaram que os participantes que já 
tinham usado a Internet para obter informações foram 
SIGNIlCATIVAMENTE�MAIS�PROPENSOS�A�VOLTAR�AO�'OOGLE�PARA�
responder as questões subsequentes, em relação àqueles 
QUE��NA�PRIMEIRA�VEZ��CONlARAM�EM�SUA�MEMØRIA��/S�PAR-
ticipantes também passaram menos tempo tentando usar 
sua própria memória antes de consultar a Internet.
PARA SABER MAIS:
Benjamin C. Storm, Sean M. Stone, Aaron S. Benjamin. 
5SING�THE�)NTERNET�TO�ACCESS�INFORMATION�INmATES�FUTURE�
use of the Internet to access other information. Memory, 
2016; 1 DOI: 10.1080/09658211.2016.1210171
AR
Q
UI
VO
 P
ES
SO
AL
Jussara Goyano é jornalista. Estuda Psicologia, Medicina 
Comportamental e Neurociências, com foco em 
������È�I�G9�H��¢���G�����������G�I�:�U�I�GI��I����‚IG
G�
pelo Instituto de Psicologia Positiva e Comportamento.
PERFORMANCE E 
ASSERTIVIDADE
TER SEMPRE UM PLANO B NÃO É 
BOM PARA SUAS METAS, DIZ ESTUDO
O que até então tem sido considerado uma maneira 
sensata de planejar as coisas cai por terra, de acordo 
com uma nova pesquisa Universidade de Wisconsin-
-Madison.
Quando se trata de estabelecer metas organizacionais 
e pessoais, fazer um plano de backup, o famoso “plano B” 
pode atrapalhar a conclusão do plano A. 
No estudo, voluntários receberam uma tarefa após 
a qual, se eles mos-
trassem alto desem-
penho, receberiam 
lanche gratuito ou 
poderiam sair mais 
cedo. Alguns grupos 
foram, então, instruí-
dos sobre outras ma-
neiras de conseguir 
comida de graça no 
campus ou poupar 
tempo no f inal do dia, 
caso não se saíssem 
bem o suf iciente para 
ganhar o lanche ou 
a folga. Aqueles nos 
grupos que já tinham 
em mente planos de 
backup apresentaram 
menor desempenho na tarefa, pois, nesses casos, houve 
diminuição no desejo de sucesso na meta.
Para ser mais assertivo nos objetivos, no entanto, os 
pesquisadores responsáveis pela experiência não reco-
mendam passar pela vida sem um plano B. A melhor 
maneira de utilizar esse recurso seria esgotar as possi-
bilidades de execução do plano A, para, então, investir 
em uma contingência. Principalmente nos casos em que 
o êxito da primeira opção depende exclusivamente do 
esforço do indivíduo.
(Fonte: ScienceDaily.com)
em campo 
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 1
23
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www.portalcienciaevida.com.br psique ciência&vida 7www.portalcienciaevida.com.br psique ciência&vida 7
A MÍDIA E 
A POLÍTICA
giro escala
A IMPORTÂNCIA 
DOS AFETOS
REVISTA FILOSOFIA - EDIÇÃO 120
A discussão e o debate a respeito do afeto e seus 
mais variados aspectos, principalmente sob o ponto 
de vista da Filosof ia, é um dos pontos preferidos de 
discussão por parte dos pensadores que se dedicam 
à disciplina. Em linhas gerais, é possível def inir os 
afetos como sendo processos transitivos. A alegria, 
por exemplo, é o afeto correspondente à variação de 
uma potência de agir menor para uma maior, sendo 
essa uma transição positiva. A transição negativa se 
dá com o afeto da tristeza, correspondente à variação 
de uma potência de agir maior para uma menor.
O f ilósofo Baruch Spinoza denomina de afetos 
primários o desejo, a alegria e a tristeza. A partir daí, 
aproveitando como uma exposição introdutória do 
que Spinoza compreende por tais afetos, é possível 
partir da def inição spinozana de afeto para, então, 
desenvolver a ideia de desejo ligada ao conceito de 
conatus, compreendido como o esforço humano para 
perseverar em sua existência. Além disso, tendo em 
vista o paralelismo spinozano, a partir dos atributos 
pensamento e extensão, conclui-se a relevância de 
analisar as ideias de alegria e de tristeza no corpo e 
na mente. Para tanto, o autor, em texto publicado na 
edição 121 da revista Filosof ia , segue a argumenta-
ção exposta na Ética, sobretudo o terceiro livro, em 
que Spinoza inicia sua teoria dos afetos.
ROSEMARY SEGURADO DISCUTE POLÍTICA E CONSERVADORISMO NO PAÍS
em sala de aula: Caio Prado Jr. e a aplicação da teoria e do método marxistas no Brasil
www.portalcienciaevida.com.br
Marx e a 
indústria
Uma análise 
sobre 
cooperação 
e divisão do 
trabalho em 
O capital
Questão 
de gênero
Representação 
na política é 
importante?
As conquistas 
dos caudilhos
Avanços 
sociais 
aconteceram 
sob governos 
execrados tanto 
pela direita 
quanto pela 
esquerda
Ciberespaço
limitante
Web ampliou 
nossos 
horizontes, 
mas encurtou 
nossa visão 
para as 
questões locais
Na óptica de Celso Furtado e Raúl Prebish
A ECONOMIA 
LATINO-AMERICANA
Capa65_aprovada.indd 1
RENATO JANINE RIBEIRO
Para economias prósperas, a a
tuação de 
economistas nem sempre é de
mocrática VICT
OR SEPÚLVEDA
A hegemonia capitalista está
 dando 
sinais de contradição e decad
ência
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REFLEXÃO E PRÁTICA: Traba
lho e espoliação da subjetivid
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Como o capitalismo e a religião
 
nos afastaram da morte e de 
que forma isso se refl ete na vid
a
SIMONE DE 
BEAUVOIR
Possibilidades 
e armadilhas 
do movimento 
feminista 
AMOR FATI,
NIETZSCHE e a 
experiência dionisíaca 
nas relações amorosas
ANO IX No 120 – www.portalcien
ciaevida.com.br
APRENDER A
MORRER
 EDIÇÃO 120 - PREÇO R$ 12,90
7/14/16 12:56 PM
REVISTA SOCIOLOGIA - EDIÇÃO 65
A socióloga e professora da Fundação Escola de 
Sociologia e Política de São Paulo e do Departamento 
de Ciência Política e do Programa de Pós-Graduação 
em Ciências Sociais da PUC-SP, Rosemary Segura-
do, é especializada na área de mídia e comunicação, 
sobretudo no campo da comunicação política. Ela 
demonstra seu lado engajado ao posicionar-se contra 
o que qualif icou como golpe para derrubar o gover-
no Dilma Roussef f e também por sua enfática defesa 
das ocupações de escolas públicas pelos estudantes. 
Para a socióloga, é preciso reagir e lutar pela manu-
tenção da democracia e das conquistas sociais, pois 
estaria em curso uma escalada conservadora com 
contornos fascistas muito fortes na sociedade e na 
atuação de algumas instituições públicas.
E não poupa críticas à atuação dos veículos de 
comunicação: “Quando vemos que o jornal tal, ou 
emissora tal, teve acesso exclusivo a gravações ori-
ginadas de escutas legais ou ilegais, estamosdiante 
de um poder tremendo da mídia nesse processo. Se 
isso não for estu-
dado no campo 
da comunicação 
política, corre-
mos o risco de 
achar que a mí-
dia divulga a 
política e pon-
to. Um imenso 
equívoco, pois 
a mídia faz po-
lítica o tempo 
todo”. Apesar 
disso, Rosema-
ry ressalta que 
a área de co-
municação po-
lítica cresceu 
muito no país 
e possui excelentes pes-
quisadores e pesquisas diversif icadas, inclusive com 
a criação da Associação Brasileira de Pesquisadores 
da Comunicação Política, que se reúne em congres-
sos a cada dois anos para discutir as pesquisas do 
campo. A entrevista completa está na edição 65 da 
revista Sociologia .
8 psique ciência&vida www.portalcienciaevida.com.br
FLORA VICTORIA
Para Flora Victoria, 
é preciso ter em mente 
que, às vezes, a carga 
de expectativas dos 
�G���������GhÔ��G���‚������
suplanta as necessidades 
de desenvolvimento 
da criança
www.portalcienciaevida.com.br psique ciência&vida 9
Lucas Vasques é jornalista e escreve nesta publicação.
Para Flora Victoria, o trabalho desenvolvido 
pelo coaching infantil não deve se limitar a resolver 
problemas, mas, sim, contribuir para que indivíduos 
que já obtêm bons resultados em sua vida possam 
ampliar ainda mais suas conquistas
E N T R E V I S T A
D
esejos e intenções podem ser 
transformados em objetivos, 
que têm todas as chances 
de ser alcançados, por inter-
médio da prática de determinadas ações, 
explicitando, assim, a relação entre es-
forço consciente e resultado desejado. É 
dessa forma que Flora Victoria, fundadora 
da Sociedade Brasileira de Coaching e presi-
dente da SBCoaching Training, explica o 
conceito do coaching e suas incontáveis 
possibilidades de ajuda.
E essa prática não se limita a ajudar 
pessoas na vida pessoal ou no universo 
corporativo. Dentre os inúmeros nichos 
nos quais o coaching é aplicado com re-
sultados positivos, a técnica é direciona-
da às crianças, trabalhando o desenvol-
vimento, a inteligência emocional, além 
DOS�TALENTOS�INDIVIDUAIS��/�GRANDE�DESAlO�
enfrentado pelo coaching infantil é con-
tribuir para que a criança ou adolescente 
perceba suas potencialidades e se conven-
ça de que deve investir nelas.
Mestre em Psicologia Positiva Aplicada 
pela Universidade da Pensilvânia e master 
coach com vasta experiência na área, Flora 
é especialista em Governança Corporati-
va, Gestão Empresarial e Comunicação 
e Marketing. Fundou, também, o Institute 
of Positive Coaching Research (IPCR). Atua 
como diretora educacional no grupo SB-
Coaching e é editora-chefe da Revista 
#IENTÓlCA�"RASILEIRA�DE�#OACHING.
UM ESTÍMULO À 
INTELIGÊNCIA 
EMOCIONAL 
DA CRIANÇA
Por Lucas Vasques
DI
VU
LG
AÇ
ÃO
10 psique ciência&vida www.portalcienciaevida.com.br
Com o coaching, a 
criança passa a conhecer 
melhor suas forças e a 
ter consciência de como 
usá-las, o que a faz 
se sentir mais segura 
e feliz. E, claro, cabe 
lembrar que todas essas 
mudanças costumam 
REm�ETIR
SE�POSITIVAMENTE�
no rendimento escolar
QUAIS SÃO OS PRINCIPAIS BENEFÍCIOS DO 
COACHING INFANTIL?
FLORA: Tudo gira em torno de favore-
cer um desenvolvimento saudável, de 
estimular a inteligência emocional da 
criança, para que ela possa lidar melhor 
com as diversas situações que com-
põem o universo infantil. Além disso, 
o coaching é um importante aliado na 
prevenção do bullying – ou na supera-
ção das sequelas de quem sofreu com 
isso. Os relacionamentos em geral tam-
BÏM�SÎO�BENEl�CIADOS��SEJA�A�RELA¥ÎO�DA�
criança com ela mesma, seja sua rela-
ção com família, amigos e professores. 
Outro ponto importante a citar é que, 
com o coaching, a criança passa a co-
nhecer melhor suas forças e a ter cons-
ciência de como usá-las, o que a faz 
se sentir mais segura e feliz. E, claro, 
cabe lembrar que todas essas mudanças 
COSTUMAM� REm�ETIR
SE�POSITIVAMENTE�NO�
rendimento escolar. 
 
QUAIS AS TÉCNICAS UTILIZADAS PARA SE 
ALTERAR COMPORTAMENTOS NEGATIVOS 
E INADEQUADOS NAS CRIANÇAS, COMO TI-
MIDEZ EXCESSIVA, ANSIEDADE, TEIMOSIA, 
CARÊNCIA, APATIA, DESINTERESSE, PRE-
GUIÇA, AGRESSIVIDADE, MEDO, INSEGU-
RANÇA, REBELDIA E ATÉ DEPRESSÃO?
FLORA: É preciso ter muito cuidado 
antes de se rotular comportamentos 
infantis como negativos e inadequados 
– muitas vezes, eles são sintomas. Uma 
criança excessivamente tímida está re-
agindo a quê? Está se protegendo do 
quê? Por que uma criança demonstra-
ria apatia, desinteresse ou preguiça em 
uma fase da vida em que sua vitalidade 
deveria estar no ápice? O que a criança 
está tentando dizer quando se mostra 
agressiva ou rebelde? É fundamental 
investigar as causas desses compor-
tamentos, o que, em muitos casos, é 
função do psicólogo, e não do coach 
– especialmente no que diz respeito à 
depressão. Rotular precipitadamente 
comportamentos infantis como nega-
tivos e inadequados – antes mesmo de 
entender o que está por trás disso – e 
prescrever “técnicas” como quem re-
ceita um elixir que “cura tudo” são coi-
sas que não caracterizam a atuação de 
um coach sério. Além disso, promover 
mudanças comportamentais em uma 
criança não é uma questão de técnica 
mas de processo. Um processo que com 
frequência envolve a promoção de mu-
danças no seio familiar, em estruturas e 
relacionamentos que podem ter contri-
buído para que o problema surgisse e se 
mantivesse. Sem analisar tudo isso – e 
SEM�VERIl�CAR�SE��REALMENTE�UMA�SITUA
ção na qual o coach pode intervir ou se 
é mais recomendável a intervenção de 
um psicólogo – não é possível descrever 
quais processos seriam mais adequados 
para ajudar a criança e sua família.
 
COMO CONTRIBUIR PARA QUE OS PRIMEIROS 
ANOS DE VIDA DE UMA PESSOA SEJAM UM 
PERÍODO PARA FIRMAR AUTONOMIA, AU-
TOCONFIANÇA E EXPANDIR COMPETÊNCIAS 
EMOCIONAIS, SOCIAIS E INTELECTUAIS?
FLORA: A base é sempre dar apoio 
emocional e criar uma relação de con-
l�AN¥A�COM�OS�l�LHOS��4AMBÏM�Ï�IMPOR
tante não exigir perfeição, nem de si 
mesmo nem das crianças. E, é claro, 
sempre oferecer estímulos ao aprendi-
zado e à curiosidade.
HOJE, EXISTEM DIVERSOS NICHOS ONDE 
O COACHING É APLICADO COM RESUL-
TADOS EFICIENTES. UM DESSES É O CO-
ACHING PARA CRIANÇAS, QUE TRABALHA 
O DESENVOLVIMENTO, A INTELIGÊNCIA 
EMOCIONAL E OS TALENTOS INDIVIDUAIS. 
COMO FAZER PARA QUE A CRIANÇA PER-
CEBA SUAS POTENCIALIDADES E SE CON-
VENÇA DE QUE DEVE INVESTIR NELAS?
FLORA VICTORIA: Potencialidade e in-
vestimento compõem o imaginário 
adulto, não o infantil. Palavras como 
essas muitas vezes expressam a carga 
de expectativas e ansiedade dos pais em 
RELA¥ÎO�AOS�l�LHOS�EM�VEZ�DAS�NECESSIDA
des de desenvolvimento da criança. Isso 
pode causar a impressão de que o obje-
tivo do coaching infantil é transformar 
os pequenos em adultos em miniatura, 
o que não poderia estar mais distante da 
realidade. O trabalho de um bom coach 
para crianças, isto é, um que tenha uma 
excelente formação em coaching, expe-
riência com crianças e sólido conheci-
mento sobre o desenvolvimento infantil, 
consiste em acompanhar a criança nas 
diferentes fases de seu desenvolvimento, 
contribuindo para que ela percorra es-
sas etapas de modo saudável e positivo. 
Isso geralmente envolve um trabalho 
voltado para a inteligência emocional, 
ou seja, a capacidade de reconhecer 
e de lidar com as próprias emoções e 
com as dos outros. Com esse trabalho, 
uma série de questões vem à tona: au-
toconceito e autoestima, autonomia e 
responsabilidades, forças e construção 
de identidade, a relação consigo e a re-
laçãocom os outros, até a compreensão 
de que desejos e intenções podem ser 
transformados em objetivos que, por 
sua vez, podem ser alcançados median-
te a execução de determinadas ações, 
explicitando, assim, a relação entre es-
forço consciente e resultado desejado. 
A partir daí, pavimenta-se o caminho 
para um processo de amadurecimento, 
ao longo do qual a criança chegará à 
adolescência com muito mais chances 
de conhecer suas potencialidades e se 
dispor a investir nelas. 
www.portalcienciaevida.com.br psique ciência&vida 11
A base é sempre 
dar apoio emocional 
e criar uma relação 
DE�CONlAN¥A�COM�
OS�lLHOS��4AMBÏM�
é importante não 
exigir perfeição, nem 
de si mesmo nem das 
crianças. E, é claro, 
sempre oferecer estímulos 
ao aprendizado 
e à curiosidade
participação dos pais é fundamental, 
pois, conforme já foi dito, muitas vezes 
o processo de mudança envolve tam-
bém estruturas e relações familiares.
QUAL O PAPEL DA FAMÍLIA E DA ESCOLA 
NO SUCESSO DO COACHING PARA CRIANÇAS?
FLORA: Tanto pais quanto educadores 
podem usar conceitos e técnicas de co-
aching com as crianças. Os resultados 
SÎO�MUITO�BENÏlCOS�E�ENVOLVEM�A�CRIA-
ção de ambientes saudáveis nos quais a 
criança possa contar com mais estímu-
los para seu desenvolvimento emocio-
nal, social e cognitivo. 
 
QUAIS OS CRITÉRIOS UTILIZADOS PARA 
QUE NÃO HAJA CONFUSÃO ENTRE SITUA-
ÇÕES QUE DEVEM SER ALTERADAS PELO 
COACHING E PEQUENOS PROBLEMAS TÍPI-
COS E PASSAGEIROS NAS CRIANÇAS?
FLORA: A pergunta parte de uma pre-
missa equivocada: a de que o coaching 
existe apenas para ajudar pessoas a re-
solverem problemas ou consertarem 
o que não está funcionando bem. Na 
verdade, o coaching vai muito além 
disso. Por exemplo, contribuir para que 
indivíduos que já obtêm bons resultados 
em sua vida possam ampliar ainda mais 
suas conquistas. Ou para que empresas 
que já estão em boa forma cresçam ain-
da mais. Essa é uma tendência registra-
da por diversos estudos. Um deles, da 
American Management Association, re-
velou que 79% das empresas que usam 
coaching têm como principal objetivo 
o aumento da performance e da produ-
tividade individuais. A abordagem de 
PROBLEMAS� ORGANIZACIONAIS� ESPECÓlCOS�
só aparece em quinto lugar como mo-
tivo para a contratação de um coach. 
O mesmo se aplica ao coaching para 
crianças. Não é preciso esperar que um 
problema apareça para que a criança 
comece a fazer coaching. Trata-se de 
nutrir o que a criança tem de melhor em 
vez de se concentrar apenas em reparos 
e consertos, de estimular forças em vez 
de focar nas fragilidades, e de ajudá-la 
A�mORESCER�
A PARTIR DE QUAL IDADE É INDICADO O 
COACHING?
FLORA: Conceitos e competências de 
coaching podem ser usados desde mui-
TO�CEDO�POR�PAIS�QUE�lZERAM�UM�BOM�
treinamento – em especial o positive co-
aching, que combina o coaching com a 
Psicologia Positiva. Não se trata, aqui, 
de um processo de coaching formal, 
mas de habilidades que os pais adqui-
rem ou aprimoram durante o treina-
mento, e que podem ajudá-los a cons-
truir um relacionamento mais forte e 
SAUDÉVEL�COM�OS�lLHOS��
PODE EXPLICAR PASSO A PASSO COMO 
FUNCIONA O PROCESSO DE COACHING PARA 
CRIANÇAS? A PRESENÇA DOS PAIS NESSE 
INÍCIO DE ABORDAGEM É FUNDAMENTAL 
PARA SEU SUCESSO?
FLORA: O processo depende da metodo-
logia utilizada e da situação a ser aborda-
da. Portanto, não é possível descrevê-lo 
passo a passo. De modo geral, porém, o 
coaching começa com um determinado 
objetivo a ser atingido. A seguir, é tra-
çada uma estratégia na qual são iden-
TIlCADAS�AS�A¥ÜES�NECESSÉRIAS�PARA�ESSE�
lM��/S�RESULTADOS�SÎO�MONITORADOS�PARA�
QUE�SE�POSSA�CONlRMAR�O�SUCESSO�DA�ES-
tratégia ou alterá-la, caso os resultados 
estejam aquém do esperado. Outro pon-
to importante é o estímulo à melhoria 
contínua, para que a pessoa continue 
usando as habilidades de coaching após 
o encerramento do processo. Essa é a 
estrutura básica e, é claro, no caso das 
crianças, existem adaptações de acordo 
com a idade. Mas é bom lembrar, seja 
qual for a situação, o coaching sempre 
trabalha com objetivos e resultados. A 
IM
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�����H���I�GI�� 
para crianças consiste em 
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de desenvolvimento, auxiliando nas 
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12 psique ciência&vida www.portalcienciaevida.com.br
O COACHING PARA CRIANÇAS É UMA 
ABORDAGEM INDIVIDUAL OU PODE SER 
USADO EM VIVÊNCIAS DE GRUPO?
FLORA: Pode ser individual ou em grupo.
A RELAÇÃO DA CRIANÇA COM ELA MESMA 
E COM O MUNDO À SUA VOLTA DEVE SER 
AVALIADA NA CONDUÇÃO DO PROCESSO?
FLORA: Com certeza. Essa é a base de 
um processo que envolve o desenvol-
vimento da inteligência emocional: a 
relação do indivíduo com suas próprias 
emoções e com as emoções dos outros, 
ou seja, sua relação com ele mesmo e 
com o mundo à sua volta.
 
A LINGUAGEM USADA PELO PROFISSIONAL 
DEVE SER ADAPTADA A CADA IDADE?
FLORA: Sim, mas até certo ponto. É ne-
CESSÉRIO� UM� PROl�SSIONAL� TREINADO� PARA�
fazer isso corretamente, pois o equilíbrio 
é fundamental. Se por um lado a crian-
ça deve entender o que está sendo dito, 
por outro, o uso de uma linguagem in-
fantilizada por parte do adulto não irá 
contribuir para seu desenvolvimento. 
Estudos indicam que quanto mais rico 
for o vocabulário e mais complexas fo-
rem as sentenças que a criança escutar, 
mais rapidamente ela irá desenvolver sua 
linguagem. E quanto mais palavras dife-
rentes ela ouvir, maior será seu vocabulá-
rio. Cabe lembrar que a linguagem falada 
é a fundação para a escrita e a leitura. 
Crianças que adquirem cedo uma boa 
habilidade de fala costumam demonstrar 
um desenvolvimento no aprendizado 
da escrita e da leitura muito superior a 
de colegas que não desenvolveram bem 
essa habilidade. Além disso, incluir uma 
linguagem descontextualizada ao falar 
com a criança – uma linguagem que não 
envolve apenas circunstâncias imedia-
tas e literais, mas que também expressa 
eventos futuros e passados, ideias e ima-
gens – contribui para acelerar o desen-
volvimento de suas habilidades de comu-
nicação oral e escrita. Ainda há muito 
mais que poderia ser dito a esse respeito, 
mas minha intenção é enfatizar o fato de 
que uma questão aparentemente simples 
– como o modo de falar com a criança – 
possui uma série de implicações. É por 
isso que, volto a frisar, além da qualidade 
da formação do coach, também é neces-
sário que ele tenha sólidos conhecimen-
tos sobre desenvolvimento infantil. 
 
COMO PROMOVER BRINCADEIRAS E DIÁ-
LOGOS ESTIMULANTES COM AS CRIANÇAS 
DE MODO A NÃO FERIR O LIMITE PRÓPRIO 
DA IDADE E OU DE SEU DESENVOLVIMENTO 
COGNITIVO?
FLORA: A resposta à questão anterior 
também se aplica a esta. Pode-se acres-
centar, ainda, que o desenvolvimento 
cognitivo e social da criança é acelerado 
quando os adultos utilizam a high quality 
language – ou linguagem de alta quali-
dade, prática que envolve o uso de per-
GUNTAS�DESAl�ADORAS�E�DE�UM�TOM�DE�VOZ�
positivo, dar respostas que satisfaçam a 
criança mas que, ao mesmo tempo, es-
timulem a curiosidade em saber mais e 
EXPLORAR� MAIS�� ENl�M�� UMA� LINGUAGEM�
que mantenha a criança interessada e 
engajada na conversa.
 
O QUE MUDA NO CÉREBRO QUANDO SE 
PRATICA O MINDFULNESS?
FLORA: Mindfulness se refere a um estado 
de atenção plena no momento presente. 
A principal forma de se atingir esse es-
tado é por meio da meditação. Em 2015, 
uma equipe de pesquisadores da Uni-
versity of British Columbia e da Chemnitz 
5NIVERSITY� OF� 4ECHNOLOGYanalisaram mais 
de 20 estudos feitos por neurocientis-
TAS� E�VERIl�CARAM�QUE�A�MEDITA¥ÎO�AFETA�
consistentemente oito regiões do cére-
bro. Uma dessas regiões, por exemplo, 
está associada à autorregulação, isto 
é, à capacidade de dirigir a atenção e o 
comportamento e suprimir respostas 
comportamentais inadequadas – motivo 
pelo qual os praticantes de meditação se 
saíram melhor em testes para aferir a au-
torregulação. Também são estimuladas 
áreas do cérebro ligadas à percepção, 
tolerância à dor, controle emocional e 
pensamento complexo, entre outras.
 
EM QUE CONSISTE O TREINAMENTO DO 
MINDFULNESS?
FLORA: Embora o mindfulness esteja mui-
to associado à meditação, existem outras 
formas de se chegar a esse estado. Por 
exemplo, concentrar-se na respiração – 
especialmente quando se experimentam 
emoções fortes. Outra prática consiste 
em saborear o momento, prestar aten-
ção no que estamos fazendo, por mais 
simples que seja a atividade: comer se 
concentrando no gosto e na textura do 
alimento, tomar banho focando na sen-
sação da água sobre a pele... pode parecer 
muito simples, mas não é. Experimen-
TE�l�CAR� SOB�O� CHUVEIRO� APENAS� SENTINDO�
a água sobre a pele e mais nada – sem 
pensar no que você precisa fazer daqui a 
pouco, na lista de compras do supermer-
cado, naquela discussão que deixou você 
irritado. O fato é que estamos sempre fa-
zendo uma coisa e pensando em outra. 
Ou falando uma coisa e sentindo outra. 
É como se nossa mente estivesse per-
petuamente dividida: realizamos nossas 
atividades diárias mecanicamente, en-
quanto o cérebro se ocupa de outras coi-
sas. Isso interfere até mesmo em nossas 
relações. Podemos levar a esposa para 
jantar, ou sentar no chão para brincar 
COM�OS�l�LHOS��ACREDITANDO�QUE�ESTAMOS�
lhes dando atenção quando, na verdade, 
nossa mente simplesmente divaga pelas 
Conceitos e competências de coaching podem ser 
USADOS�DESDE�MUITO�CEDO�POR�PAIS�QUE�l�ZERAM�UM�
bom treinamento. Não se trata, aqui, de um processo 
de coaching formal, mas de habilidades que os 
pais adquirem ou aprimoram durante o treinamento
www.portalcienciaevida.com.br psique ciência&vida 13
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G��G�������H���
G
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����G���\I��IG��
��coaching com as crianças, 
o que resulta em pontos positivos para o desenvolvimento educacional e pessoal
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preocupações cotidianas, trabalho, con-
tas a pagar, assuntos a resolver. Estamos 
presentes e, ao mesmo tempo, não esta-
MOS��0OR�ISSO��A�DElNI¥ÎO�DE�mindfulness é 
um estado de atenção plena no momen-
to presente. É estar inteiro e presente 
no que quer que você esteja fazendo em 
dado momento.
 
COMO A TÉCNICA AUXILIA NO COMBATE 
AO ESTRESSE OU À DEPRESSÃO?
FLORA: Sob o ponto de vista da 
neurociência, o estudo já citado, da Uni-
versity of British Columbia e da Chemnitz 
5NIVERSITY� OF� 4ECHNOLOGY�� VERIlCOU� QUE�
pessoas que participam de programas 
de mindfulness apresentam um aumento 
de matéria cinzenta no hipocampo, uma 
área do cérebro que é recoberta por re-
ceptores de cortisol, o hormônio do es-
tresse. Isso as torna mais resistentes ao es-
tresse. Por outro lado, pessoas que sofrem 
de estresse crônico e depressão tendem a 
apresentar um hipocampo menor. Esses 
são importantes indícios de que a prática 
do mindfulness pode deixar o cérebro mais 
resistente ao estresse e à depressão.
 
EM LINHAS GERAIS, QUAIS OS BENEFÍCIOS 
DO MINDFULNESS?
FLORA: Vários estudos indicam benefí-
cios que vão do fortalecimento do siste-
ma imunológico à elevação da frequên-
cia de emoções positivas, do aumento do 
foco à habilidade de relaxar em vez de se 
concentrar ininterruptamente nas preo-
cupações. Como o mindfulness afeta áre-
as do cérebro ligadas à autorregulação, 
CONTROLE� EMOCIONAL� E� EMPATIA�� VERIlCA-
-se uma melhoria nos relacionamentos e 
mais estímulos a atitudes compassivas e 
altruístas. Estudos também sugerem que 
a prática de mindfulness em escolas reduz 
problemas comportamentais e a agres-
sividade entre os alunos. Experimentos 
envolvendo a prática de mindfulness entre 
presidiários registraram redução de raiva 
E�DE�HOSTILIDADE�ENTRE�OS�DETENTOS��%NlM��
os benefícios são inúmeros e se estendem 
a qualquer pessoa que se disponha a rea-
lizar essa prática.
O coaching 
começa com um 
determinado objetivo. 
A seguir, é traçada 
uma estratégia na 
QUAL�SÎO�IDENTIlCADAS�
as ações necessárias 
PARA�ESSE�lM��/S�
resultados são 
monitorados para que 
SE�POSSA�CONlRMAR� 
o sucesso da estratégia 
ou alterá-la
ESSA TÉCNICA PODE SER CONFUNDIDA 
COM A MEDITAÇÃO?
FLORA: A meditação é uma prática que 
conduz ao mindfulness, isto é, a um esta-
do de atenção plena no momento pre-
sente. As raízes do mindfulness se encon-
tram na meditação budista. Contudo, já 
existem práticas seculares de meditação 
voltadas para o mindfulness.
O QUE É PSICOLOGIA POSITIVA E EM QUAIS 
SITUAÇÕES ESSA PRÁTICA É INDICADA?
FLORA: Em 1998, o dr. Martin Seligman, 
como novo presidente da Associação 
Americana de Psicologia, sustentou a tese 
de que a Psicologia não deveria ser apenas 
o estudo de doenças e distúrbios mentais, 
mas também o estudo da força e da virtu-
de. A Psicologia deveria não apenas tra-
TAR�AQUILO�QUE�EST�DANIlCADO��ELA�DEVERIA�
cultivar o melhor que temos em nós. Psi-
cologia Positiva foi o nome concebido por 
Seligman para designar esse novo campo 
da Psicologia, que se atém ao princípio de 
que a Psicologia é muito mais do que um 
ramo da medicina focado em patologias. 
Ela também deve abordar o trabalho, a 
educação, o amor, o crescimento e o lúdi-
co. Ao invés de focar doenças, a ciência da 
Psicologia Positiva enfatiza as qualidades, 
VIRTUDES�E�PONTOS�FORTES�DAS�PESSOAS��FOCA�
coisas que fazem a vida valer a pena . Ela 
visa construir conhecimentos sobre quais 
ambientes contribuem para formar crian-
ças mais sadias e felizes, funcionários 
mais satisfeitos e cidadãos mais compro-
missados. Um grande número de pesqui-
sadores começou a aplicar os princípios 
da Psicologia Positiva às suas próprias 
áreas de estudo, desenvolvendo, assim, 
novos corpos de conhecimento que aca-
baram por ampliar o seu alcance.
14 psique ciência&vida www.portalcienciaevida.com.br
in foco por Michele Muller
Por que as CRIANÇAS 
precisam da FANTASIA
AS HISTÓRIAS FANTÁSTICAS MANTÊM AS CRIANÇAS 
ATENTAS, FACILITAM A APRENDIZAGEM DE NOVOS 
CONCEITOS E SÃO FUNDAMENTAIS PARA A 
COMPREENSÃO DE COMO FUNCIONA O MUNDO REAL
Q
uando fadas com suas 
varinhas mágicas, mons-
tros e heróis invencíveis 
decidem invadir as es-
colas, eles provam que de fato têm 
superpoderes: ajudam na aprendi-
zagem. O papel das histórias fan-
tásticas na infância não se limita 
ao entretenimento. Elas trabalham 
a linguagem de forma mais ef icaz 
que narrativas realísticas, aumentan-
do a possibilidade da criança f ixar 
o novo vocabulário. Pode parecer 
contraditório, mas, justamente por 
conta da violação das expectativas, 
são também fundamentais para a 
compreensão das inúmeras possi-
bilidades que a realidade apresenta.
Os efeitos do mundo do faz de 
conta sobre a cognição infantil vêm 
sendo investigados pela Neurociên-
cia com resultados reveladores. No 
ano passado, pesquisadores da Uni-
versidade da Pensilvânia constataram 
que as crianças assimilam melhor um 
vocabulário novo quando as palavras 
são introduzidas em meio a histó-
rias fantásticas. O estudo, liderado 
pela professora Deena Weisberg, do 
Instituto de Pesquisa em Ciências 
Cognitivas, avaliou dois programas 
educativos aplicados em 154 crianças 
em idade pré-escolar. Aquelas que 
tinham contato com os novos con-
ceitos por meio de contos realísticos 
mostraram desempenho maisfraco 
na hora de explicar os signif icados 
dos vocábulos aprendidos.
Essa fascinação das crianças por 
acontecimentos extraordinários é 
evidente já nos primeiros meses de 
vida. No ano passado, pesquisadores 
da Universidade Johns Hopkings, em 
Baltimore, testaram o efeito de even-
tos mágicos sobre a atenção e as brin-
cadeiras de 110 bebês de onze meses. 
Perceberam que tendem a olhar mais 
atentamente e por muito mais tempo 
para um objeto quando ele desaf ia 
as leis da f ísica. A chance de ocor-
rer algo inesperado, que fere suas ex-
pectativas, naturalmente mantém as 
crianças mais atentas – o que explica, 
em parte, o sucesso das histórias fan-
tásticas na aprendizagem. 
Mas a experiência com bebês re-
velou que a ação da fantasia no ima-
ginário infantil vai além do aspecto 
da atenção. Depois de assistirem a 
uma cena em que algo desaparece 
repentinamente ou f lutua, os be-
bês tendem a investigar a realidade 
– deixando um objeto cair para tes-
tar a gravidade, por exemplo. Para 
Weisberg, pensar sobre possibilida-
des irrealistas pode também ajudar 
na criação de contrastes informati-
vos que levam à compreensão das 
estruturas do mundo real.
A partir dessa perspectiva, as his-
tórias ganham função fundamental 
na construção do senso de realidade 
– que pode começar com a certif i-
cação de que objetos não f lutuam e 
bichos não falam e seguir por ques-
tionamentos bem mais sof isticados 
que necessitam de contrapontos para 
serem formados e esclarecidos.
Partindo da simples constata-
ção da necessidade do contato com 
o absurdo para se reconhecer o real, 
podemos transferir para os heróis e 
vilões dos contos de fada uma nova 
responsabilidade: a de ensinar às 
crianças a administrar seus próprios 
medos. Talvez isso explique a popu-
laridade milenar das histórias uni-
versais carregadas de tragédias, bru-
xas malvadas e f iguras assustadoras. 
Podem ter cumprido um importante 
papel no desenvolvimento das habi-
lidades linguísticas das crianças, mas 
dif icilmente foi essa a intenção dos 
www.portalcienciaevida.com.br psique ciência&vida 15
12
3R
F 
E 
AR
QU
IV
O 
PE
SS
OA
L
maravilhas da linguagem e lhes mos-
tram o que muitos pais e professo-
res ignoram: que é preciso conhecer 
para distinguir. É preciso descobrir 
o irreal para ter segurança no mundo 
real, da mesma forma como o conta-
to com a frustração é essencial para 
o reconhecimento da satisfação.
Andersen, irmãos Grimm e tantos 
outros que evitaram poupar seus lei-
tores do contato com desgraças fan-
tásticas. A fascinação inata das crian-
ças pelos horrores e aventuras que o 
mundo imaginário oferece pode nas-
cer de uma necessidade de dar forma 
ao impossível para saber reconhecê-
-lo antes que ele se torne medo.
Ainda bem que a força das histó-
rias populares é grande a ponto de 
sobreviver em uma época na qual as 
crianças são protegidas de tudo: das 
brincadeiras que trazem um mínimo 
risco, dos objetos cortantes, das pro-
fessoras bravas e de qualquer frustra-
ção e tristeza.
Muitos contos clássicos já ganha-
ram versões suavizadas e muitos de-
senhos perderam seu humor negro 
para garantir que a infância acon-
teça toda num mundo cor-de-rosa. 
Mas se as crianças continuam bus-
cando representações extremas do 
bem e do mal nas histórias fantásti-
cas, não estranhem: instintivamente, 
elas buscam referências. E muitas 
vezes encontram nas histórias mais 
extraordinárias e sombrias, que as 
mantêm atentas, que as ensinam as 
Michele Müller é especialista em Neurociências e Neuropsicologia da 
Educação. Pesquisa e cria ferramentas para o desenvolvimento da 
linguagem. É autora do blog www.leituraesentido.blogspot.com
OS EFEITOS DO 
MUNDO DO FAZ 
DE CONTA SOBRE 
A COGNIÇÃO 
INFANTIL VÊM SENDO 
INVESTIGADOS PELA 
NEUROCIÊNCIA 
COM RESULTADOS 
REVELADORES, 
COMO A 
NECESSIDADE DO 
CONTATO COM O 
ABSURDO PARA 
LIDAR COM O MEDO 
16 psique ciência&vida www.portalcienciaevida.com.br
Sob o FIO DA NAVALHA
supervisão Por Ricardo Wainer
O TRABALHO PSICOTERÁPICO NOS APRESENTA, VEZ POR 
OUTRA, ALGUNS DILEMAS ÉTICOS E MORAIS COMPLEXOS E QUE 
EXIGEM POSICIONAMENTO RÁPIDO E FIRME DO TERAPEUTA
luto, como fazer quando o compor-
tamento do paciente indicar riscos 
iminentes?
Esse tópico é motivo de discus-
sões e de importantes divergências 
entre organizações prof issionais que 
regulam o trabalho dos prof issionais 
da saúde, e também dos departa-
mentos de justiça mundo afora. Para 
se ter uma ideia das disparidades, 
somente nos EUA cada estado tem 
legislações distintas relativas a esse 
assunto.
De modo geral, as orientações 
quanto à postura dos prof issionais 
nas situações de condutas ilícitas 
de seus clientes têm dois princípios 
que são aceitos sem muitas contro-
vérsias: 1) quando for anunciado ao 
prof issional ou crime ou contraven-
ção que já ocorreu (no passado), a in-
formação deve se manter em sigilo, 
nesse último quesito que este artigo 
foca sua discussão.
A garantia do sigilo de todas as 
informações trazidas ao consultório é 
ANUNCIADA�PELO�PROlSSIONAL�NO�PRIMEI-
ro encontro da díade terapêutica, como 
uma condição primordial para que o 
paciente sinta que o ambiente terapêu-
tico é um espaço seguro para ele expor 
SUAS�DIlCULDADES�DA�FORMA�MAIS�HONES-
ta e despida de medos de qualquer tipo 
de julgamentos morais possível.
No trabalho com pacientes com 
comportamentos, ou com tendên-
cias de personalidade antissociais, 
nasce o dilema ético de como pro-
ceder quando é anunciado para o 
psicólogo/psiquiatra algum crime 
ou contravenção. Se a relação tera-
pêutica se baseia na total conf iança 
do paciente de que tudo que ele dis-
ser na sessão f icará em sigilo abso-
A 
prática terapêutica envol-
ve cuidado com o sigilo 
prof issional e ético. Para 
aqueles que têm uma prá-
tica prof issional direcionada a pa-
cientes com comportamentos antis-
sociais, então, é muito mais comum 
o enfrentamento de situações limi-
tes, como a perspectiva do cliente 
atentar contra a vida de outros ou 
incorrer em outras práticas ilícitas.
Os constituintes essenciais de 
qualquer psicoterapia são: o pa-
ciente (ou cliente), o psicoterapeuta 
(devidamente autorizado e regula-
mentado), o processo terapêutico 
(com suas distintas teorias e metas) 
e a relação terapêutica. É justamente 
pelos princípios intrínsecos da rela-
ção terapêutica que o encontro entre 
psicoterapeuta e paciente(s) acaba 
por se diferenciar de qualquer outra 
forma de interação humana.
Independentemente da aborda-
gem teórica do prof issional, a rela-
ção terapêutica se alicerça nos prin-
cípios do respeito pelo ser humano, 
pela empatia do psicoterapeuta pelo 
sofrimento do paciente (evitando 
julgamentos de ordem moral ou re-
ligiosa) e pelo sigilo absoluto dos 
conteúdos trazidos em sessão. É 
INDEPENDENTEMENTE DA ABORDAGEM 
TEÓRICA DO PROFISSIONAL, A RELAÇÃO 
TERAPÊUTICA SE ALICERÇA NOS PRINCÍPIOS 
DO RESPEITO PELO SER HUMANO, PELA 
EMPATIA MÚTUA E PELO SIGILO ABSOLUTO 
DOS CONTEÚDOS TRAZIDOS EM SESSÃO
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12
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/ A
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Ricardo Wainer é doutor em Psicologia, especialista em Terapia do Esquema, 
com treinamento avançado pelo New York Schema Institute, e supervisor 
credenciado pela International Society of Schema Therapy. Pesquisador em 
Psicoterapia Cognitivo-Comportamental e em Ciências Cognitivas. Professor titular 
da Faculdade de Psicologia da PUC–RS. Diretor da Wainer Psicologia Cognitiva.
tal anúncio levará o paciente a res-
tringir a informação. Isso pode até 
ocorrer, mas é imprescindível que o 
paciente compreenda que o psicote-rapeuta é um ser humano que está 
ali para ajudá-lo a evoluir e a apren-
der estratégias mais adaptativas 
para lidar com o sofrimento inerente 
ao viver. Mas que, ao mesmo tempo, 
esse mesmo terapeuta tem direitos 
e deveres e não deve assumir uma 
condição de cúmplice em comporta-
mentos que vão no sentido oposto à 
saúde mental.
com pacientes antissociais, ou mes-
mo aqueles com riscos de condutas 
parassuicidas e/ou suicidas, é anun-
ciar ao cliente no estabelecimento 
do contrato terapêutico (nas sessões 
iniciais) que, caso ele (o prof issio-
nal) perceba elevado risco de algu-
ma ação contra a vida do paciente 
ou a vida de outro(s), terá de utilizar 
de todos os recursos para evitar isso, 
inclusive sendo a única situação em 
que o sigilo poderá ser quebrado. 
Há defensores e opositores a essa 
medida. Os opositores dizem que 
pois nada pode ser feito para rever-
ter o que foi cometido; 2) quando o 
paciente relatar a intenção/plano de 
cometer conduta antissocial, o tera-
peuta deve tentar dissuadi-lo do ato 
(com todos os recursos e auxílios 
possíveis); mesmo que para isso te-
nha que anunciar ao paciente que o 
sigilo prof issional será quebrado em 
respeito ao direito natural (direito 
à vida). Reparem que isso traz con-
sequências de grande magnitude: o 
risco do paciente voltar-se contra o 
terapeuta, ou ainda a possibilidade 
de ele acusar o terapeuta de calúnia 
e difamação (caso não venha a co-
meter o ilícito).
Uma medida preventiva de gran-
de serventia e que também deve ser 
adotada por todos aqueles que lidam 
18 psique ciência&vida www.portalcienciaevida.com.br
psicopositiva por Lilian Graziano
NÃO. DEFINITIVAMENTE QUERER NÃO É PODER. RESTA SABER ENTÃO 
O QUE FAZER PARA CONSEGUIRMOS ATINGIR NOSSOS OBJETIVOS
Sobre a FELICIDADE 
e a “barriga de tanquinho”
diz a sabedoria popular, querer NÃO 
é poder!
Quero tocar piano desde os 7 anos 
de idade e – adivinhe só – isso nunca 
fez com que eu fosse capaz de tocar 
uma nota sequer. “É porque você não 
deseja de verdade!” – diriam as men-
tes simplistas. 
Quero, sim! O desejo é meu e so-
mente eu conheço a sua intensida-
de (embora meus alunos, amigos e 
muito provavelmente uma bela bar-
riga de tanquinho!
Se essa é uma preferência de boa 
parte das pobres criaturas submeti-
das, sim, aos padrões de beleza oci-
dentais, ditadura da magreza, culto 
ao corpo e blá-blá-blá, por que não 
nos deparamos com uma legião de 
beldades no metrô, na ruas, no tra-
balho etc.? Resposta: Em primeiro 
lugar porque, ao contrário do que 
P
ode perguntar. Pelo menos 
na cultura ocidental, onze 
em cada dez pessoas gosta-
riam de ter barriga de tan-
quinho. Brincadeiras à parte, é bem 
verdade que, se pudéssemos determi-
nar nossa aparência f ísica de manei-
ra tão simples quanto criamos hoje 
um avatar no videogame, a grande 
maioria de nós exibiria corpos es-
beltos, musculatura def inida e, sim, 
www.portalcienciaevida.com.br psique ciência&vida 19
Lilian Graziano é psicóloga e doutora em Psicologia pela USP, com curso de extensão 
em Virtudes e Forças Pessoais pelo VIA Institute on Character, EUA. É professora 
universitária e diretora do Instituto de Psicologia Positiva e Comportamento, 
onde oferece atendimento clínico, consultoria empresarial e cursos na área. 
graziano@psicologiapositiva.com.br
12
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F 
/ A
CE
RV
O 
PE
SS
OA
L
familiares também devam ter passado a 
conhecê-la a partir da milésima vez que 
me ouviram suspirar dizendo: “Puxa, eu 
queria TANTO tocar piano!”).
Compreendamos então o que 
acontece. Meu desejo de tocar pia-
no é grande, é intenso e verdadeiro. 
Só não é maior do que minha paixão 
PELO� MEU� TRABALHO�� )SSO� SIGNIlCA� QUE�
embora deseje tocar piano, não estou 
determinada a dispor do meu tempo 
para aprendê-lo. Isso porque, conside-
rando que o tempo é uma questão de 
prioridade, seria preciso que eu abrisse 
mão de coisas relativas ao meu traba-
lho (leituras, preparação de aulas, cur-
sos, consultorias, escrever artigos etc.) 
para ceder espaço não apenas às aulas 
de música, mas ao necessário estudo 
que deve acompanhar qualquer pes-
soa que espera aprender a tocar um 
instrumento. É exatamente isso que 
acontece com relação à famigerada 
barriga de tanquinho. A maioria quer, 
MAS�DElNITIVAMENTE�NÎO�ESTÉ�DISPOSTA�
a passar horas na academia em nome 
desse desejo.
Acho interessante, no entanto, que 
NÎO�Ï�PRECISO�SER�ESPECIALISTA�EM�lSIOLO-
gia do exercício para saber que muscu-
latura só se adquire puxando ferro. Os 
CONHECIMENTOS�CIENTÓlCOS�SOBRE�O�TEMA�
tornaram-se tão populares que até mes-
mo os que querem “trapacear” tomando 
anabolizantes sabem que devem fazer a 
sua parte, literalmente suando a camisa. 
Para desenvolvimento da muscu-
latura não existem atalhos. É treino e 
ponto. Anseio pelo dia em que as pes-
soas saibam que, em se tratando de feli-
cidade, acontece o mesmo.
Quando em meus cursos peço aos 
alunos um conselho acerca do que de-
VERIA�FAZER�PARA��lNALMENTE��APRENDER�A�
tocar piano, eles (estranhando a obvie-
PARA ALCANÇAR O 
DESENVOLVIMENTO 
DA MUSCULATURA 
NÃO EXISTEM 
ATALHOS. É TREINO 
E PONTO. ANSEIO 
PELO DIA EM QUE AS 
PESSOAS SAIBAM QUE, 
EM SE TRATANDO 
DE FELICIDADE, 
ACONTECE O MESMO
dade da pergunta) prontamente respon-
dem: “Faça aulas de piano, ué!”.
Ainda que não se deem conta, em 
TERMOS�NEUROlSIOLØGICOS��ELES�ESTÎO�ME�
dizendo que eu devo, por meio do trei-
no (aula), criar uma rede neural (que 
hoje eu não tenho) que me capacite a 
tocar piano.
Eles não entendem aonde preten-
do chegar com o cansativo exemplo 
do piano até que lhes digo: Por que 
em relação à felicidade seria diferente? 
Se eu quero ser feliz devo treinar meu 
cérebro para isso. Sair por aí pergun-
tando às pessoas o que devo fazer para 
aprender a tocar piano é tão patético 
quanto dizer: “Como eu faço para ser 
mais otimista?” “Mais grato?” “Apren-
der a perdoar?” e é claro: “Como eu 
faço para ser feliz?”. 
A resposta a todas essas perguntas é 
uma só: treino. 
É por isso que eu digo que, assim 
como acontece em relação à barriga de 
tanquinho, nem todos “merecem” a fe-
licidade. Porque, dentre todos que a de-
sejam, existem aqueles que trabalham 
diariamente por ela. A esses poucos é 
que os prêmios estão destinados.
NAS BANCAS!
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hijklm
nopqrstuvxz abcdefghijk
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20 psique ciência&vida
psicopedagogia por Maria Irene Maluf
BILINGUISMO 
e aprendizagem
A EXPERIÊNCIA BILÍNGUE É 
EXTREMAMENTE RICA PARA CRIANÇAS JÁ 
NA PRIMEIRA INFÂNCIA E SEUS BENEFÍCIOS 
SE PERPETUAM AO LONGO DA VIDA, TAIS 
COMO MAIOR FACILIDADE DE MONITORAR 
MUDANÇAS E APRENDER NOVAS LÍNGUAS
da Universidade McGill, no Canadá, 
descobriram por meio de testes ver-
bais e não verbais que os bilíngues 
apresentavam rendimento superior em 
vários quesitos padronizados. Mas sua 
descoberta logo caiu no esquecimento 
até que inovações tecnológicas permi-
tiram analisar os cérebros de recém-
-nascidos em seus primeiros encontros 
com a linguagem.
 Constatou-se então que todos os 
bebês nascem com capacidade para 
falar qualquer língua humana e são 
capazes de diferenciar sons de todos 
os idiomas. 
Mas perto dos 12 meses de vida, 
a maioria perde essa capacidade: a 
exceção justamente está nos bebês 
de famílias bilíngues, os quais ainda 
mostram um aumento de atividade 
neurológica quando ouvem línguas 
totalmente desconhecidas ao f inal de 
seu primeiro ano. 
A neurocientista norte-americana 
Laura Ann Petitto, da Gallaudet Uni-
VERSITY��AlRMA�QUE�A�EXPERIÐNCIA�BI-
língue impede que a criança 
perca a capacidadede enten-
der sons de outras línguas. O 
H
oje é perfeitamente aceito 
PELO�MUNDO�CIENTÓlCO� E�PELA�
sociedade em geral que o 
multilinguismo seja, além de 
uma condição natural, uma situação 
muito proveitosa para o desenvolvi-
mento geral da criança, mas nem sem-
pre foi assim. 
No século XIX, alguns estudiosos 
AlRMAVAM�QUE�ESSA�PRÉTICA�CONFUNDIA�AS�
crianças e poderia prejudicar seu apren-
dizado e desenvolvimento intelectual.
Foi em 1960 que os psicólogos 
Elizabeth Peal e Wallace Lambert, 
fato ainda ajuda as crianças bilíngues a 
aprenderem outros idiomas facilmente 
pelo resto da vida.
Além de uma necessidade social e 
acadêmica, o domínio de mais de um 
idioma hoje está se tornando impor-
tante do ponto de vista educacional 
por um novo motivo: comprovada-
mente os bilíngues demonstram, em 
estudos internacionais, possuírem 
maior atividade neuronal nas áreas 
pré-frontais do cérebro, relacionadas 
às funções executivas, indispensáveis 
para o aprendizado acadêmico (Ellen 
Bialystok, Universidade York de To-
ronto, 2003).
Tal sistema é fundamental para 
praticamente tudo que fazemos, é pró-
prio do cérebro humano e nos con-
fere principalmente três importantes 
www.portalcienciaevida.com.br psique ciência&vida 21
jklmn
opq
rst
uv
xz
 ab
cd
efg
hij
klm
no
pq
rs
tuv
xz a
bcd
efg
hij
kl m
no
pq
rs
tuv
xza
bxzabcdefgh
Maria Irene Maluf é especialista em Psicopedagogia, Educação Especial e 
Neuroaprendizagem. Foi presidente nacional da Associação Brasileira de 
Psicopedagogia – ABPp (gestão 2005/07). É editora da revista Psicopedagogia da 
ABPp e autora de artigos em publicações nacionais e internacionais. Coordena curso 
de especialização em Neuroaprendizagem. irenemaluf@uol.com.br
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ES
SO
AL
habilidades: a memória operacional, 
A� mEXIBILIDADE� E� A� INIBI¥ÎO� COGNITIVA��
De modo geral, podemos dizer que 
memória operacional ou de trabalho 
é aquela responsável de sustentar e 
manipular informações mentalmente 
pelo espaço de tempo necessário para 
compreendermos e elaborarmos um 
trecho de leitura, um texto, um diálo-
go, o enunciado de um problema etc.
Flexibilidade cognitiva é a habili-
dade que facilita a adaptação do indi-
víduo a diferentes contextos, e a inibi-
ção, também chamada de autocontrole, 
corresponde à capacidade de bloque-
ar um comportamento inadequado, 
que nos permite inibir a atenção a 
detratores, estando assim relacionada 
ao foco atencional. 
As funções executivas, tal como 
também a linguagem, outra importan-
te habilidade cognitiva, estão na base 
de todo desenvolvimento cognitivo, 
acadêmico, social, e prejuízos nessas 
áreas podem marcar todo o desenvol-
vimento da criança.
Um estudo recente da Universida-
de de Granada, na Espanha, também 
divulgou que os bilíngues utilizam 
mecanismos de atenção muito mais 
vezes do que os monolíngues e são 
capazes de trabalhar melhor em situ-
ações de tomada de decisão e em situ-
ações de distração: o bilinguismo 
incrementa a memória e desenvol-
ve a atenção, além de aumentar o 
autocontrole.
Segundo Naja F. Ramirez, da 
Universidade de Washington e auto-
ra principal do estudo publicado no 
Developmental Science, o bilinguismo 
inf lui no desenvolvimento da lingua-
gem e no desenvolvimento cognitivo 
geral, até porque a necessidade diá-
ria de alterar o uso de idiomas 
permite melhorar as habilida-
des de função executiva de for-
ma rotineira.
Ao se comparar a resposta cerebral 
em estudos com imagem computado-
rizada, percebeu-se que os bebês de 
famílias monolíngues e de famílias bi-
língues apresentavam diferenças per-
ceptíveis em seu córtex pré-frontal e 
orbitofrontal, sendo que nos bebês bi-
língues a atividade neural era superior, 
mais preparada para aprender sons de 
vários idiomas. Perceberam que até os 
seis meses as crianças diferenciam sem 
problemas sons de um idioma estran-
geiro e os bilíngues continuam a ter 
essa capacidade aos 11 meses, mas os 
monolíngues não (Patricia Kuhl, 2016).
ESTUDOS COMPROVAM QUE OS 
BILÍNGUES POSSUEM MAIOR ATIVIDADE 
NEURONAL NAS ÁREAS PRÉ-FRONTAIS 
DO CÉREBRO, RELACIONADAS ÀS FUNÇÕES 
EXECUTIVAS, INDISPENSÁVEIS PARA 
O APRENDIZADO ACADÊMICO
Saber falar em duas ou mais línguas 
traz vantagens de muitas ordens: a ca-
pacidade de monitorar melhor as mu-
danças do ambiente ao seu redor, por 
exemplo, é uma delas. Outra vantagem 
de dominar idiomas diferentes, espe-
cialmente dentro de uma família bilín-
gue, é a facilidade para conhecer várias 
culturas de uma maneira natural.
As vantagens do bilinguismo po-
dem alcançar as habilidades sociais: 
Paula Rubio-Fernández e Sam Glu-
cksberg (Universidade de Princeton, 
nos Estados Unidos) descobriram que 
indivíduos bilíngues são mais capazes 
de se imaginar no lugar dos outros, 
entender o ponto de vista alheio, pois 
têm mais facilidade de neutralizar as 
informações que já conhecem.
Os efeitos do bilinguismo também 
se estendem até a velhice. Em um es-
tudo recente com 44 idosos bilíngues 
em espanhol-inglês, cientistas desco-
briram que os indivíduos com maior 
PROlCIÐNCIA�EM�CADA�IDIOMA�ERAM�MAIS�
resistentes do que os outros idosos para 
o aparecimento de demência e outros 
sintomas da doença de Alzheimer 
(Tamar Gollan, da Universidade da 
Califórnia, San Diego).
22 psique ciência&vida www.portalcienciaevida.com.br
SH
UT
TE
RS
TO
CK
utilidade pública Por Roberta de Medeiros
COMO RECONHECER A PAIXÃO DOENTIA QUANDO A 
CONVICÇÃO DELIRANTE DA RELAÇÃO AMOROSA PARECE 
TÃO REAL. O COMPORTAMENTO DE FIXAÇÃO AMOROSA 
É PERIGOSO E PRECISA DE CUIDADOS
DELÍRIOS da PAIXÃO
Há casos em que o amor fantasioso 
se desenvolve a partir de um único e es-
PECÓlCO�INCIDENTE�n�O�QUE�JÉ�Ï�SUlCIENTE�
para que a pessoa se convença do amor 
QUE�SENTE�POR�SEU�OBJETO��!LIMENTA
SE�A�
crença de que ele iniciou o caso de amor 
a partir de olhares, mensagens cifradas, 
MENSAGENS�DE�JORNAL��DE�TELEVISÎO�OU�ATÏ�
mesmo telepáticas. 
!�PESSOA� PODE� AT� REJEITAR� O� OBJETO�
DO�SEU�AMOR��PORÏM��O�ACEITA�E�SE�APAI-
xona por ele de maneira obsessiva. A 
despeito de vigorosas negações da outra 
pessoa, a fantasia de estar sendo amado 
persiste por anos, havendo necessidade 
de hospitalizações ou de ações legais 
QUE� IMPE¥AM� A� PERSEGUI¥ÎO� DA� VÓTIMA�
pelo paciente. 
O paciente crê no intenso amor que 
0OR� OUTRO� LADO�� OS� OBJETOS� DE� AMOR�
delirante (na realidade ou em fantasia), 
SÎO� SEMPRE� SUPERIORES� EM� INTELIGÐNCIA��
POSI¥ÎO� SOCIAL�� APARÐNCIA� FÓSICA�� AUTORI-
DADE� OU� UMA� COMBINA¥ÎO� DESSAS� QUA-
lidades. Quase sempre o amor doentio 
pode ser visto como um meio de prote-
GER�O�SUJEITO�QUE�O�SENTE�CONTRA�UM�PRO-
FUNDO�E�DOLOROSO�ESTADO�DE�SOLIDÎO�
%MBORA�ATOS�FÓSICOS�OU�SEXUAIS�SEJAM�
incomuns, essas pessoas podem trazer 
grandes conturbações às suas vítimas. O 
inconveniente varia de chamadas telefô-
nicas no meio da noite a declarações de 
amor em ambientes públicos. A pessoa 
PODE� DESEJAR� TER� RELA¥ÜES� SEXUAIS� COM�
O�OBJETO�DE�SEU�AMOR�DELIRANTE��/S�HO-
MENS�TENDEM�MAIS�Ì�PERSEGUI¥ÎO�DO�QUE�
as mulheres.
O 
psiquiatra francês De 
Clèrambault descreveu o pro-
blema como uma síndrome 
de emoções doentias que pas-
sa pelos estágios de esperança, despeito 
e rancor. A fase de rancor seria a mais 
importante delas. Após sofrer diversos si-
NAIS�DE�REJEI¥ÎO��A�PESSOA�BUSCA�SE�VINGAR�
DO�OBJETO�DE�SEU�AMOR��PODENDO�TRANSFE-
rir suas retaliações para terceiros. 
Pessoas que alimentam esse tipo de 
FANTASIA�SÎO�RESERVADAS��SOCIALMENTE�INEX-PRESSIVAS�� SOLITÉRIAS�� MUITAS� SÎO� PRIVADAS�
de contato sexual por anos, a maioria ocu-
pa cargos subalternos, e, em muitos casos, 
SÎO�POUCO�ATRAENTES��%SSE�PERlL�PODE�RE-
sultar numa personalidade hipersensível, 
EM�DESCONlAN¥A�ACENTUADA�OU�ASSUMIDA�
SUPERIORIDADE�EM�RELA¥ÎO�AOS�OUTROS��
www.portalcienciaevida.com.br psique ciência&vida 23
a outra pessoa tem por ele, ao mesmo 
tempo em que preserva certo senso de 
INOCÐNCIA� AO� CONSIDERAR� QUE� O� OBJETO�
DE�SEU�AMOR�JAMAIS�SER�FELIZ�SEM�A�SUA�
companhia.
Quem sofre com esse amor geral-
mente racionaliza a conduta da pessoa 
QUE�ELEGE��INTERPRETA�AS�REJEI¥ÜES�QUE�SO-
FRE� COMO� AlRMA¥ÜES� SECRETAS� DE� AMOR��
TESTES�DE�lDELIDADE�OU�TENTATIVAS�DE�DES-
pistar outras pessoas de seu “romance”. 
0ENSAM� QUE� SÎO� AMADOS� POR� UM� BOM�
TEMPO�� QUANDO� ENTÎO� RENUNCIAM� A� ESSE�
amor para reiniciar suas fantasias com 
outra pessoa.
Existe um potencial para comporta-
mento violento e vingativo, com taxas de 
comportamento agressivo chegando a 
57% em amostras de homens que foram 
diagnosticados com esse tipo de pro-
blema. Apesar de haver poucos estudos 
sobre o tema, alguns pesquisadores su-
GEREM�QUE�A�SUA�FREQUÐNCIA�NÎO�DEVA�SER�
CONSIDERADA�TÎO�BAIXA�QUANTO�SE�ACREDITA�
!S� CAUSAS� PODEM�VARIAR��$ÏlCITS� NO�
FUNCIONAMENTO� DA� VISÎO� ESPACIAL� OU� LE-
sões no sistema límbico, particularmen-
TE�NOS� LOBOS� TEMPORAIS��EM�COMBINA¥ÎO�
com experiências amorosas ambivalentes 
e de isolamento afetivo, poderiam contri-
buir com as interpretações delirantes. E a 
FALTA�DE�mEXIBILIDADE�COGNITIVA�FARIA�COM�
que esses delírios persistissem. 
O sistema límbico medeia a interpre-
TA¥ÎO� DO� AMBIENTE� AO� ACRESCENTAR� UMA�
resposta afetiva aos estímulos externos. 
Assim, interpretações inadequadas do 
meio poderiam ser causadas por anorma-
LIDADES� LÓMBICAS�� /� CONTEÞDO� ESPECÓlCO�
do delírio, entretanto, seria determinado 
pela cultura e pelas experiências pessoais 
de cada paciente. 
O desenvolvimento dos delírios pode 
ORIGINAR
SE�DE�PERCEP¥ÎO�OU�INTERPRETA-
¥ÎO�ANORMAIS�DO�MEIO��MAS�A�MANUTEN-
¥ÎO� DE� UMA� CREN¥A� DELIRANTE�� EM� FACE�
de informações distorcidas, tem sido 
ATRIBUÓDA�A�UM�FUNCIONAMENTO�DElCIEN-
TE�DO�SISTEMA�FRONTAL��/�LOBO�PRÏ
FRONTAL�
desempenha um importante papel nos 
testes de realidade. 
Um fator que pode contribuir para a 
MANUTEN¥ÎO�DOS�DELÓRIOS�Ï�A�RIGIDEZ�COG-
NITIVA�� SURGIDA�DE�DISFUN¥ÎO� FRONTAL� SUB-
CORTICAL��A�QUE�PODE�RESULTAR�NUMA�DIlCUL-
dade em alterar determinado sistema de 
crenças. Disfunções nessas mesmas áre-
as têm sido associadas a outros tipos de 
DELÓRIOS�� 4AMBÏM� lCOU� CONSTATADO� QUE�
pessoas que sofriam com esse problema 
tinham um comprometimento maior do 
HEMISFÏRIO�CEREBRAL�DIREITO��
!� INTEGRIDADE� DESSAS� FUN¥ÜES� Ï� CRÓ-
tica para o reconhecimento das inter-
pretações delirantes, que ocorrem, com 
maior probabilidade, em pacientes priva-
DOS�DE�RELACIONAMENTOS�ÓNTIMOS��PORÏM��
altamente motivados a tais experiências. 
%SSE� DESEJO� POR� RELACIONAMENTO� PODE�
ser contrabalançado por temores de re-
JEI¥ÎO�E�DE�INTIMIDADE�
/� AMOR� PATOLØGICO� Ï� PERIGOSO� E� NE-
cessita de tratamento psicológico e muitas 
vezes medicamentoso. Fique alerta. 
UM FATOR QUE CONTRIBUI PARA 
A MANUTENÇÃO DOS DELÍRIOS É A 
RIGIDEZ COGNITIVA, QUE PODE RESULTAR 
NUMA DIFICULDADE EM ALTERAR 
DETERMINADO SISTEMA DE CRENÇAS
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24 psique ciência&vida
ENVELHECIMENTO
A terapia cognitivo- 
-comportamental (TCC) 
para a terceira idade 
necessita de um impulso 
maior no futuro para 
que tenha condições 
de incluir, de forma 
�����‚IG���G9����G� 
parcela da população 
nas pesquisas 
e estudos
TCC descobrindo 
os IDOSOS
Por Eduarda Rezende Freitas, 
Altemir José Gonçalves Barbosa e 
Carmem Beatriz Neufeld
ENVELHECIMENTO
24 psique ciência&vida www.portalcienciaevida.com.br
AAAAAAAAAAAAAAAAA ttttttttttttttttteeeeeeeeeeeeeeeeerrrrrrrrrrrrrrrrraaaaaaaaaaaaaaaaapppppppppppppppppiiiiiiiiiiiiiiaaaaaaaaaaaaaaaaa cccccccccccccccooooooooooooooogggggggggggggggggnnnnnnnnnnnnnnnnniiiiiiiiiiiiitttttttttttttttttiiiiiiiiiiiiiivvvvvvvvvvvvvvvvvvooooooooooooooo--------------
-------------cccccccccccccccooooooooooooooommmmmmmmmmmmmmmmmpppppppppppppppppooooooooooooooorrrrrrrrrrrrrrrrrtttttttttttttttttaaaaaaaaaaaaaaaaammmmmmmmmmmmmmmmmeeeeeeeeeeeeeeeeennnnnnnnnnnnnnnnntttttttttttttttttaaaaaaaaaaaaaaaaalllllllllllllll (((((((((((((((TTTTTTTTTTTTTTTTTCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCC))))))))))))))) 
pppppppppppppppppaaaaaaaaaaaaaaaaarrrrrrrrrrrrrrrrraaaaaaaaaaaaaaaaa aaaaaaaaaaaaaaaaa ttttttttttttttttteeeeeeeeeeeeeeeeerrrrrrrrrrrrrrrrrccccccccccccccceeeeeeeeeeeeeeeeeiiiiiiiiiiiiiirrrrrrrrrrrrrrrrrraaaaaaaaaaaaaaaaa iiiiiiiiiiiiiidddddddddddddddddaaaaaaaaaaaaaaaaadddddddddddddddddeeeeeeeeeeeeeeeee 
nnnnnnnnnnnnnnnnneeeeeeeeeeeeeeeeecccccccccccccccceeeeeeeeeeeeeeeeessssssssssssssssssssssssssssssiiiiiiiiiiiiitttttttttttttttttaaaaaaaaaaaaaaaaa dddddddddddddddddeeeeeeeeeeeeeeeee uuuuuuuuuuuuuuuuummmmmmmmmmmmmmmmmm iiiiiiiiiiiiiimmmmmmmmmmmmmmmmmmpppppppppppppppppuuuuuuuuuuuuuuuuulllllllllllllllsssssssssssssssooooooooooooooo 
mmmmmmmmmmmmmmmmmmaaaaaaaaaaaaaaaaaiiiiiiiiiiiiiiooooooooooooooorrrrrrrrrrrrrrrrr nnnnnnnnnnnnnnnnnoooooooooooooooo fffffffffffffffffuuuuuuuuuuuuuuuuutttttttttttttttttuuuuuuuuuuuuuuuuurrrrrrrrrrrrrrrrrooooooooooooooo pppppppppppppppppaaaaaaaaaaaaaaaaarrrrrrrrrrrrrrrrraaaaaaaaaaaaaaaa 
qqqqqqqqqqqqqqqqquuuuuuuuuuuuuuuuuueeeeeeeeeeeeeeeee ttttttttttttttttteeeeeeeeeeeeeeeeennnnnnnnnnnnnnnnnhhhhhhhhhhhhhhhhhaaaaaaaaaaaaaaaaa cccccccccccccccooooooooooooooonnnnnnnnnnnnnnnnndddddddddddddddddiiiiiiiiiiiiiiçççççççççççççççççõõõõõõõõõõõõõõõeeeeeeeeeeeeeeeeesssssssssssssss 
dddddddddddddddddeeeeeeeeeeeeeeeee iiiiiiiiiiiiiinnnnnnnnnnnnnnnnncccccccccccccccllllllllllllluuuuuuuuuuuuuuuuuiiiiiiiiiiiiirrrrrrrrrrrrrrrrr,,,,,,,,,,,,,, dddddddddddddddddeeeeeeeeeeeeeeeee fffffffffffffffffooooooooooooooorrrrrrrrrrrrrrrrrmmmmmmmmmmmmmmmmmaaaaaaaaaaaaaaaaa 
�����������������������������������������������������������������������������‚‚‚‚‚‚‚‚‚‚‚‚‚‚‚‚‚IIIIIIIIIIIIIIIGGGGGGGGGGGGGGGGG�����������������������������������������������GGGGGGGGGGGGGGGGG99999999999999�����������������������������������������������GGGGGGGGGGGGGGGGG��
pppppppppppppppppaaaaaaaaaaaaaaaaarrrrrrrrrrrrrrrrrccccccccccccccceeeeeeeeeeeeeeeeelllllllllllllaaaaaaaaaaaaaaaaa dddddddddddddddddaaaaaaaaaaaaaaaaa pppppppppppppppppooooooooooooooopppppppppppppppppuuuuuuuuuuuuuuuuullllllllllllllaaaaaaaaaaaaaaaaaçççççççççççççççççãããããããããããããããããoooooooooooooooo 
nnnnnnnnnnnnnnnnnaaaaaaaaaaaaaaaaasssssssssssssss pppppppppppppppppeeeeeeeeeeeeeeeeesssssssssssssssqqqqqqqqqqqqqqqqquuuuuuuuuuuuuuuuuiiiiiiiiiiiiiisssssssssssssssaaaaaaaaaaaaaaaaasssssssssssssss 
eeeeeeeeeeeeeeeee eeeeeeeeeeeeeeeesssssssssssssssstttttttttttttttttuuuuuuuuuuuuuuuuudddddddddddddddddooooooooooooooosssssssssssssss
A terapia cognitivo- 
-comportamental (TCC) 
para a terceira idade 
necessita de um impulso 
maior no futuro para 
que tenha condições 
de incluir, de forma 
�����‚IG���G9����G� 
parcela da população 
nas pesquisas 
e estudos
www.portalcienciaevida.com.br psique ciência&vida 25
Eduarda Rezende Freitas é psicóloga, mestre e doutoranda 
em Psicologia. Possui formação em Terapia Cognitivo-
Comportamental. Membro da diretoria da Associação de 
Terapias Cognitivas de Minas Gerais (ATC-Minas), membrodo 
Centro de Pesquisa sobre Desenvolvimento e Envelhecimento 
(Cepeden) e do Laboratório de Pesquisa e Intervenção 
Cognitivo-Comportamental (LaPICC-USP).
Altemir José Gonçalves Barbosa é psicólogo, mestre em 
Psicologia Escolar e doutor em Psicologia. Professor do 
Departamento de Psicologia e do Programa de Pós-Graduação 
da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), coordenador do 
Centro de Pesquisa sobre Desenvolvimento e Envelhecimento 
(Cepeden) e bolsista de Produtividade em Pesquisa do CNPq.
Carmem Beatriz Neufeld é psicóloga, mestre e doutora em 
Psicologia, professora e orientadora do Programa de Pós-
Graduação em Psicologia do Departamento de Psicologia da 
Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto da 
USP. Coordenadora do Laboratório de Pesquisa e Intervenção 
Cognitivo-Comportamental (LaPICC-USP). Vice-presidente 
da Associação Latino-Americana de Psicoterapias Cognitivas 
(gestão 2015-2018). 
12
3R
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www.portalcienciaevida.com.br psique ciência&vida 25
26 psique ciência&vida www.portalcienciaevida.com.br
ENVELHECIMENTO
Parte do sucesso dessa abordagem, 
 que pode ser considerada integradora, isto 
é, que combina técnicas de psicoterapia 
cognitiva e terapia comportamental, seria 
atribuída ao seu rigor metodológico e teórico
sistemas de saúde públicos e privados 
mais e mais frequentemente endos-
sam tratamentos cognitivos (Korman, 
Viotti & Garay, 2015), como a TCC.
Recentemente, Thordarson e Frie-
dberg (2014) fizeram uso da audaciosa 
exclamação (“Ao infinito... e além!”) 
do personagem Buzz Lightyear, da 
Disney/Pixar, para retratar as contri-
buições da TCC para crianças e jovens. 
Paradoxalmente, essa frase sinaliza 
uma força dessa abordagem terapêuti-
ca – ser bem-sucedida no tratamento 
de um amplo leque de demandas apre-
sentadas por crianças, adolescentes e 
jovens adultos – e uma de suas limi-
tações: apresentar poucas evidências 
de eficiência e eficácia para idosos. 
Considerando que o envelhecimento 
da população mundial é um processo 
inegável e irreversível, a frase “Você 
vai precisar de um barco maior!”, dita 
por Brody – um personagem do filme 
Tubarão – ao constatar o tamanho do 
animal que pretendiam capturar, tam-
bém se aplica à TCC. Ela precisará, nas 
próximas décadas, de uma “embarca-
ção” maior, que seja capaz de incluir 
de modo expressivo os idosos entre as 
A terapia cognitivo-com-portamental (TCC) é uma modalidade tera-pêutica com duração limitada, focada no pro-
blema e que tem sido aplicada – com 
sucesso – a uma extensa variedade 
de problemas (Becker, Sanchez, Cur-
ry & Tonev, 2008; Thoma, Pilecki & 
McKay, 2015). Apesar de sua breve 
história, a TCC é amplamente prati-
cada no planeta (Thoma et al., 2015), 
consolidando-se na América do Nor-
te, em vários países da Europa, espe-
cialmente na Grã-Bretanha, na Aus-
trália (Rachman, 2015) e no Brasil.
Parte do sucesso dessa abordagem 
integradora, isto é, que combina técni-
cas de psicoterapia cognitiva e terapia 
comportamental, pode ser atribuída ao 
seu rigor metodológico e teórico. No 
processo de fusão dessas duas moda-
lidades terapêuticas, a TCC, por um 
lado, incorporou o estilo de realizar 
pesquisas empíricas, caracterizado 
pela exigência de controles rigorosos, 
análises estatísticas, integridade e cre-
dibilidade no tratamento de dados e as-
sim por diante, dos behavioristas. Por 
outro lado, adotou muitos conceitos 
profícuos dos cognitivistas (Rachman, 
2015). Tornou-se, desse modo, uma 
das formas mais extensivamente pes-
quisadas de terapia (Butler, Chapman, 
Forman & Beck, 2006) e que é capaz 
de ser bem-sucedida para uma ampla 
gama de demandas, como transtornos 
do humor (depressão, por exemplo), 
transtornos de ansiedade (como sín-
drome do pânico), transtornos de per-
sonalidade, transtornos alimentares, 
abuso de substâncias, esquizofrenia, 
insônia e distúrbios comportamen-
tais de adolescentes e crianças (Briki, 
2015; Thoma et al., 2015). Hoje em dia, 
com o aumento da demanda por trata-
mentos baseados em evidências para 
garantir a “eficácia” e a “eficiência”, os 
Recentemente foi publicada pela Sinopsys 
Editora a obra Terapias Cognitivo-Com-
portamentais com Idosos (Freitas, Barbosa 
& Neufeld, 2016). Ela é composta por tex-
tos que contribuem para a formação inicial 
e continuada de terapeutas, uma vez que, 
preocupantemente, parte significativa dos 
cursos brasileiros de graduação e pós-
-graduação das áreas “psi” negligencia ou, 
até mesmo, não inclui temas sobre a ve-
lhice em seus currículos, formando, desse 
modo, profissionais que não estão efetiva-
mente preparados para atuar com idosos. 
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de personalidade, abuso de substâncias, esquizofrenia, entre outros
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A TCC, por um 
lado, incorporou 
o estilo de 
realizar pesquisas 
empíricas, 
caracterizado 
pela exigência de 
controles rigorosos, 
análises estatísticas, 
integridade e 
credibilidade no 
tratamento de 
dados. Por outro, 
adotou muitos 
conceitos profícuos 
dos cognitivistas
coortes etárias alvo de suas pesquisas e 
desenvolvimentos.
Os idosos são, segundo o Institu-
to Brasileiro de Geografia e Estatísti-
ca (IBGE) (Ervatti, Borges & Jardim, 
2015), o segmento populacional que 
mais tem aumentado no Brasil. As ta-
xas de crescimento ultrapassam 4% ao 
ano no período de 2012 a 2022. Em 
2000, 14,2 milhões de brasileiros ti-
nham 60 anos ou mais. Transcorridos 
dez anos eram 19,6 milhões de pesso-
as na velhice, sendo que essa coorte 
etária deve contar, em 2030, com 41,5 
milhões de indivíduos e, em 2060, 
com 73,5 milhões. Espera-se, para os 
próximos dez anos, um incremento 
médio de mais de 1 milhão de idosos 
anualmente. Dessa forma, “o Brasil 
está envelhecendo”.
Implicações
O envelhecimento populacional não pode ser entendido como 
uma “simples” mudança demográfica. 
O aumento da população de idosos 
gera, por exemplo, uma série de im-IMAG
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plicações econômicas (como maior 
quantidade de pensionistas), sociais 
(como convivência entre várias gera-
ções e mais idosos vivendo em insti-
tuições de longa permanência) e de 
saúde (por exemplo, maior quantida-
de de gastos com medicações e tra-
tamentos e aumento de transtornos 
mentais e doenças crônicas na popu-
lação) (Barreto, Carreira & Marcon, 
2015; Camarano, Kanso & Fernan-
des, 2013; Robalo, 2010; Villas-Boas, 
Oliveira, Ramos & Montero, 2015).
Assim, o envelhecimento popu-
lacional gera novos desafios para os 
profissionais “psi”. Dentre eles, men-
cionam-se algumas perdas cognitivas 
que acometem mais frequentemente 
a população idosa, os transtornos de 
ansiedade e a depressão.
VELHICE POSITIVA E SAUDÁVEL
 PARA SABER MAIS 
É fato que o processo de envelhecimento acontece de maneira constante e restringe certas atividades físicas e condições psíquicas. Portanto, o gran-
de desafio das pessoas e dos especialistas é fazer com que esse momento 
da vida seja levado de uma forma positiva e, acima de tudo, saudável. As 
limitações psicológicas mais relevantes na fase do envelhecimento são a sen-
sação de não pertencimento que atinge a maioria dos idosos, dificuldade no 
planejamento do futuro, adaptação a mudanças, desmotivação em relação a 
tudo e perda de contato social, especialmente provocado pela aposentadoria. 
Diante desse cenário, a depressão é uma das consequências mais frequentes, 
problema este que pode ser gerado por baixa autoestima e autoimagem, 
medo, ansiedade e insegurança. É justamente a partir desse ponto que a tera-
pia assume uma importância fundamental, pois oferece ao idoso amplas con-
dições

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