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10 anos editorial Se não pode vencê-los, use-os a seu favor! Gláucia Viola, editora “Os próprios computadores, e o software ainda a ser desenvolvido, irão revolucionar a forma como aprendemos.” Steve Jobs O utro dia, andando pela rua, fui literalmente atropelada por uma turma de jovens felizes por encontrar algo muito raro, logo ali na minha frente, que eu juro que não via! Passado algum tempo observando A�GAROTADA��PERCEBI�QUE�SE�TRATAVA�DE�UMA�BRINCADEIRA�VIRTUAL��%RA�O�JOGO�QUE�MINHA�lLHA�COMENTOU�HÉ� ALGUNS�DIAS��/�LAN¥AMENTO�NO�"RASIL�SERIA�EM�BREVE��MAS�ELA�JÉ�FALAVA�DELE�COM�INTIMIDADE��SABENDO� todos os truques, elementos especiais e mencionava mais uns 15 amigos ansiosos para a estreia de Pokemón Go. #OMECEI�A�REPARAR�QUE�O�ASSUNTO�CRESCIA�NA�lLA�DO�SUPERMERCADO��NA�timeline das redes sociais e nos almoços de domingo com a família. Não contive a curiosidade. Precisava entender a intensidade que o tema estava tomando na sociedade. Não parecia mais uma diversão inocente de criança, dessas que os especialistas defen- dem relatando o desenvolvimento da lógica e do raciocínio. E para minha surpresa, estava certa! Descobri contribuições que o jogo oferece que transcendem qualquer CENÉRIO�VIRTUAL��%SSAS�CRIATURAS�DE�NOMES�ESQUISITOS�E�EVOLU¥ÜES�MAIS�ESTRANHAS�AINDA� conseguiram misturar fantasia e realidade em uma única dimensão. !�REALIDADE�AUMENTADA�FEZ�CRESCER�O�ASSUNTO�TAMBÏM�NAS�PÉGINAS�DESTA�EDI¥ÎO� da Psique Ciência & Vida, e o que era para ser um artigo, se transformou em um dossiê que analisa o sucesso do uso dessa tecnologia na Educação, na Medicina, na Psicologia. Tiago Eugênio, que coordena o curso de pós-graduação em Games e Tecnologias da Inteligência aplicados à Educação e é mestre em Psicobiologia, conta no texto que “essa febre entre crianças e adultos tem envolvido o uso da realidade aumentada para o tratamento de diversos transtornos psicológicos e doenças neurológicas, além de TRAZER�INÞMEROS�RECURSOS�CRIATIVOS�PARA�A�SALA�DE�AULAv��-AS�TAMBÏM�MOSTRA�QUE�HÉ�UMA�SÏRIE�DE�QUESTIONAMEN- TOS�ACERCA�DA�MANEIRA�AlCIONADA�COM�QUE�OS�JOGADORES�DE�TODAS�AS�IDADES�SE�EMPENHAM�PARA�CA¥AR�BICHOS�QUE� NÎO�EXISTEM��lCANDO�IMERSOS�HORAS�A�lO�NESSA�ATIVIDADE��%NTRETANTO��DISTINTAS�OPINIÜES�DESTACAM�PONTOS�POSITIVOS�� como o incentivo para fazer os praticantes andarem pela cidade, ocupar praças, museus e parques e conectar-se pessoalmente a outras pessoas. O autor falou emocionado, em uma conversa informal sobre a pauta, de um passeio no parque em que viu mais um grupo de meninos se divertindo na captura dos personagens e entre eles havia um amigo na cadeira de rodas participando ativamente da caçada. Diante desta nova era, fomos capturados pela pluralidade de recursos que a tecnologia proporciona e excede a valorização do espaço público ou a interação social real. Bem-vindo a uma nova grandeza, do tamanho que esta palavra representa. 'LÉUCIA�6IOLA psique@escala.com.br www.facebook.com/RevistaPsiqueCienciaeVida CAPA sumário 35 10 anos 15/09/16 19:21 MATÉRIAS ENTREVISTA Flora Victoria defende coaching em crianças para que conheçam melhor suas forças e aprendam como usá-las SEÇÕES 05 EM CAMPO 14 IN FOCO 16 SUPERVISÃO 18 PSICOPOSITIVA 20 PSICOPEDAGOGIA 22 UTILIDADE PÚBLICA 32 COACHING 34 LIVROS 50 CYBERPSICOLOGIA 52 NEUROCIÊNCIA 54 RECURSOS HUMANOS 64 DIVà LITERÁRIO 66 CINEMA 70 PERFIL 80 EM CONTATO 82 PSIQUIATRIA FORENSE TCC para idosos 4ERCEIRA�IDADE�SE�BENElCIA�COM�A� Terapia Cognitivo-comportamental, principalmente em função de seu rigor metodológico e teórico Longo caminho a percorrer Para conseguir uma vida a dois saudável é importante prestar atenção aos detalhes da relação, avaliar as necessidades do companheiro e de si próprio também Peculiaridades dos superdotados Pesquisas mostram que pessoas com altas habilidades precisam de apoio emocional, pois se sentem sobrecarregadas pelas exigências de não poder falhar Sincronicidade Fenômeno não pode ser controlado, previsto ou evitado, ocorre frequentemente em todas as áreas da vida humana e foi descrito em grandes fatos históricos 56 78 08 24 72 IM AG EM D A CA PA : 1 23 RF DOSSIÊ: Habilidades na Psicologia e na Educação O fenômeno Pokémon GO é estudado como uma excelente ferramenta terapêutica na avaliação DA�RESILIÐNCIA�PARA�OS�DESAlOS�� nas interações virtuais e reais, ENTRE�OUTRAS�PRÉTICAS�BENÏlCAS� www.portalcienciaevida.com.br psique ciência&vida 5 em campo HIPNOSE E FELICIDADE Uma cooperação entre brasileiros e portugueses, na Universidade de Lisboa, vem utilizando, com sucesso, um protocolo de atendimento em coaching e psicoterapia que une a hipnose e a Psicologia Positiva, aproveitando-se do estado alterado de consciência dos coachees e pacientes não para fazê-los reviver traumas e circunstâncias complicadas, mas para fazê-los vivenciar experiências mais positivas. Antes e depois das sessões, diversos marcadores biológicos são monitorados, de maneira que, no momento após as vivências, uma avaliação desses marcadores aponta para a redução do stress, sugerindo que a junção de ambas as abordagens PODE�SER�ElCAZ�NOS�TRATAMENTOS�DE� transtornos de humor e ansiedade. MINDFULNESS PARA TODOS? Em psicoterapia, especial atenção deve ser dada ao uso de meditação mindfulness, uma vez que ela pode ser gatilho no agravamento de crises para quem apresenta transtornos dissociativos, especialmente no caso de despersonalização. Em voga, A�TÏCNICA��NO�ENTANTO��Ï�ElCAZ�NO� tratamento de pânico, ansiedade e depressão, reduzindo recaídas. O método mindfulness propõe a atenção plena ao presente, com exercícios de escaneamento corporal e foco na própria respiração. (Fonte: www.makeitpositivemag.com) por Jussara Goyano IM AG EN S: S HU TT ER ST OC K CUIDADO PARENTAL CRIANÇAS BEM-SUCEDIDAS SÃO AQUELAS EM QUE OS PAIS MAIS INVESTEM EMOCIONALMENTE Um estudo envolvendo 27 crianças com idade entre quatro e seis anos ava- liou a qualidade do vínculo emocional destas com seus pais e o desempenho dos pequenos em atividades nas quais fatores predisponentes de sucesso na vida são determinantes, tais como resistir à tentação, uma boa memória e ex- troversão. Muito embora tais fatores sofram grande inf luência dos genes, a pesquisa verif icou que crescer em um ambiente de carinho e atenção parental pode mudar totalmente o jogo. O trabalho, publicado na revista Frontiers in Human Neuroscience, levou em conta a resposta das crianças a uma combinação de questionários, a perfor- mance em tarefas comportamentais e medidas eletrof isiológicas. Os resulta- dos, de acordo com autores do estudo, reforçam as teorias que propõem que uma alta qualidade emocional na interação mãe-f ilho promove um melhor de- senvolvimento cognitivo da criança. Mas não se trata, segundo a pesquisa, de manter os pequenos sob as asas dos pais indiscriminadamente. Quando estes incentivam a independência em seus f ilhos, mas mantêm-se emocionalmente disponíveis, aumentam as chan- ces de sucesso dessas crianças. PARA SABER MAIS: Henriette Schneider-Hassloff, Annabel Zwönitzer, Anne K. Künster, Carmen Mayer, Ute Ziegenhain, Markus Kiefer. Emotional Availability Modulates Electrophysiological Correlates of Executive Functions in Preschool Chil- dren. Frontiers in Human Neuroscience, 2016; 10 DOI: 10.3389/fnhum.2016.00299 6 psique ciência&vida www.portalcienciaevida.com.br EFEITO GOOGLE USO DA INTERNET COMO EXTENSÃO DE NOSSA MEMÓRIA JÁ É REALIDADE Pesquisadores da Universidade da Califórnia, Santa Cruz e da Universidade de Illinois, Urbana Champaign descobriram que a tendênciade usar a Internet como uma espécie memória virtual, um HD externo a nossos cére- bros, aumenta após cada utilização. Em um experimento, participantes foram divididos primeiro em dois grupos para responder a algumas per- GUNTAS� TRIVIAIS�DESAlADORAS� � UM�GRUPO�USOU�APENAS� SUA� memória, o outro usou o Google. Na segunda bateria de perguntas, ainda mais fáceis, ambos os grupos poderiam usar o método de sua escolha para chegar às respostas. Os resultados revelaram que os participantes que já tinham usado a Internet para obter informações foram SIGNIlCATIVAMENTE�MAIS�PROPENSOS�A�VOLTAR�AO�'OOGLE�PARA� responder as questões subsequentes, em relação àqueles QUE��NA�PRIMEIRA�VEZ��CONlARAM�EM�SUA�MEMØRIA��/S�PAR- ticipantes também passaram menos tempo tentando usar sua própria memória antes de consultar a Internet. PARA SABER MAIS: Benjamin C. Storm, Sean M. Stone, Aaron S. Benjamin. 5SING�THE�)NTERNET�TO�ACCESS�INFORMATION�INmATES�FUTURE� use of the Internet to access other information. Memory, 2016; 1 DOI: 10.1080/09658211.2016.1210171 AR Q UI VO P ES SO AL Jussara Goyano é jornalista. Estuda Psicologia, Medicina Comportamental e Neurociências, com foco em ������È�I�G9�H��¢���G�����������G�I�:�U�I�GI��I����IG G� pelo Instituto de Psicologia Positiva e Comportamento. PERFORMANCE E ASSERTIVIDADE TER SEMPRE UM PLANO B NÃO É BOM PARA SUAS METAS, DIZ ESTUDO O que até então tem sido considerado uma maneira sensata de planejar as coisas cai por terra, de acordo com uma nova pesquisa Universidade de Wisconsin- -Madison. Quando se trata de estabelecer metas organizacionais e pessoais, fazer um plano de backup, o famoso “plano B” pode atrapalhar a conclusão do plano A. No estudo, voluntários receberam uma tarefa após a qual, se eles mos- trassem alto desem- penho, receberiam lanche gratuito ou poderiam sair mais cedo. Alguns grupos foram, então, instruí- dos sobre outras ma- neiras de conseguir comida de graça no campus ou poupar tempo no f inal do dia, caso não se saíssem bem o suf iciente para ganhar o lanche ou a folga. Aqueles nos grupos que já tinham em mente planos de backup apresentaram menor desempenho na tarefa, pois, nesses casos, houve diminuição no desejo de sucesso na meta. Para ser mais assertivo nos objetivos, no entanto, os pesquisadores responsáveis pela experiência não reco- mendam passar pela vida sem um plano B. A melhor maneira de utilizar esse recurso seria esgotar as possi- bilidades de execução do plano A, para, então, investir em uma contingência. Principalmente nos casos em que o êxito da primeira opção depende exclusivamente do esforço do indivíduo. (Fonte: ScienceDaily.com) em campo IM AG EN S: 1 23 RF www.portalcienciaevida.com.br psique ciência&vida 7www.portalcienciaevida.com.br psique ciência&vida 7 A MÍDIA E A POLÍTICA giro escala A IMPORTÂNCIA DOS AFETOS REVISTA FILOSOFIA - EDIÇÃO 120 A discussão e o debate a respeito do afeto e seus mais variados aspectos, principalmente sob o ponto de vista da Filosof ia, é um dos pontos preferidos de discussão por parte dos pensadores que se dedicam à disciplina. Em linhas gerais, é possível def inir os afetos como sendo processos transitivos. A alegria, por exemplo, é o afeto correspondente à variação de uma potência de agir menor para uma maior, sendo essa uma transição positiva. A transição negativa se dá com o afeto da tristeza, correspondente à variação de uma potência de agir maior para uma menor. O f ilósofo Baruch Spinoza denomina de afetos primários o desejo, a alegria e a tristeza. A partir daí, aproveitando como uma exposição introdutória do que Spinoza compreende por tais afetos, é possível partir da def inição spinozana de afeto para, então, desenvolver a ideia de desejo ligada ao conceito de conatus, compreendido como o esforço humano para perseverar em sua existência. Além disso, tendo em vista o paralelismo spinozano, a partir dos atributos pensamento e extensão, conclui-se a relevância de analisar as ideias de alegria e de tristeza no corpo e na mente. Para tanto, o autor, em texto publicado na edição 121 da revista Filosof ia , segue a argumenta- ção exposta na Ética, sobretudo o terceiro livro, em que Spinoza inicia sua teoria dos afetos. ROSEMARY SEGURADO DISCUTE POLÍTICA E CONSERVADORISMO NO PAÍS em sala de aula: Caio Prado Jr. e a aplicação da teoria e do método marxistas no Brasil www.portalcienciaevida.com.br Marx e a indústria Uma análise sobre cooperação e divisão do trabalho em O capital Questão de gênero Representação na política é importante? As conquistas dos caudilhos Avanços sociais aconteceram sob governos execrados tanto pela direita quanto pela esquerda Ciberespaço limitante Web ampliou nossos horizontes, mas encurtou nossa visão para as questões locais Na óptica de Celso Furtado e Raúl Prebish A ECONOMIA LATINO-AMERICANA Capa65_aprovada.indd 1 RENATO JANINE RIBEIRO Para economias prósperas, a a tuação de economistas nem sempre é de mocrática VICT OR SEPÚLVEDA A hegemonia capitalista está dando sinais de contradição e decad ência ENCA RTE DO PROFE SSORRefle xão e prát ica 109 Com cura doria de C arolin a Des oti Fe rnand es e Tiago Bren tam P erenc ini Caro lina D esoti Fern ande s�Ï��GRAD UADA�EM �&ILOSO lA� PELA�05 # #AM PINAS��0 ESQUISA �A�INmU ÐNCIA�A FRICANA �NA� FORMA¥ ÎO�DA�I DENTIDA DE�CULT URAL�BR ASILEIRA ��¡�EDIT ORA�� REDATOR A�E�PRO DUTORA� CULTURA L�� Tiag o Bre ntam Pere ncini Ï�LICEN CIADO�E �BACHA REL�EM� &ILOSOl A��-ES TRE�EM� %NSINO �DE�&ILO SOlA�P ELA�5NE SP�E� PROFESS OR�DE�& ILOSOlA �#ONTE MPORÊ NEA�NA �&ACULD ADE� *OÎO�0A ULO�))�D E�-ARÓ LIA� Expropr iação da subjetiv idade A organ ização so cial e eco nômica d o trabalh o e a resi stência dos traba lhadores sob a or dem cap italista Trabalho imateria l Uma aná lise sobre as transf ormaçõe s que lev aram o c apitalism o atual a re formular o seu mo do de pro dução REFLEXÃO E PRÁTICA: Traba lho e espoliação da subjetivid ade Como o capitalismo e a religião nos afastaram da morte e de que forma isso se refl ete na vid a SIMONE DE BEAUVOIR Possibilidades e armadilhas do movimento feminista AMOR FATI, NIETZSCHE e a experiência dionisíaca nas relações amorosas ANO IX No 120 – www.portalcien ciaevida.com.br APRENDER A MORRER EDIÇÃO 120 - PREÇO R$ 12,90 7/14/16 12:56 PM REVISTA SOCIOLOGIA - EDIÇÃO 65 A socióloga e professora da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo e do Departamento de Ciência Política e do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da PUC-SP, Rosemary Segura- do, é especializada na área de mídia e comunicação, sobretudo no campo da comunicação política. Ela demonstra seu lado engajado ao posicionar-se contra o que qualif icou como golpe para derrubar o gover- no Dilma Roussef f e também por sua enfática defesa das ocupações de escolas públicas pelos estudantes. Para a socióloga, é preciso reagir e lutar pela manu- tenção da democracia e das conquistas sociais, pois estaria em curso uma escalada conservadora com contornos fascistas muito fortes na sociedade e na atuação de algumas instituições públicas. E não poupa críticas à atuação dos veículos de comunicação: “Quando vemos que o jornal tal, ou emissora tal, teve acesso exclusivo a gravações ori- ginadas de escutas legais ou ilegais, estamosdiante de um poder tremendo da mídia nesse processo. Se isso não for estu- dado no campo da comunicação política, corre- mos o risco de achar que a mí- dia divulga a política e pon- to. Um imenso equívoco, pois a mídia faz po- lítica o tempo todo”. Apesar disso, Rosema- ry ressalta que a área de co- municação po- lítica cresceu muito no país e possui excelentes pes- quisadores e pesquisas diversif icadas, inclusive com a criação da Associação Brasileira de Pesquisadores da Comunicação Política, que se reúne em congres- sos a cada dois anos para discutir as pesquisas do campo. A entrevista completa está na edição 65 da revista Sociologia . 8 psique ciência&vida www.portalcienciaevida.com.br FLORA VICTORIA Para Flora Victoria, é preciso ter em mente que, às vezes, a carga de expectativas dos �G���������GhÔ��G��������� suplanta as necessidades de desenvolvimento da criança www.portalcienciaevida.com.br psique ciência&vida 9 Lucas Vasques é jornalista e escreve nesta publicação. Para Flora Victoria, o trabalho desenvolvido pelo coaching infantil não deve se limitar a resolver problemas, mas, sim, contribuir para que indivíduos que já obtêm bons resultados em sua vida possam ampliar ainda mais suas conquistas E N T R E V I S T A D esejos e intenções podem ser transformados em objetivos, que têm todas as chances de ser alcançados, por inter- médio da prática de determinadas ações, explicitando, assim, a relação entre es- forço consciente e resultado desejado. É dessa forma que Flora Victoria, fundadora da Sociedade Brasileira de Coaching e presi- dente da SBCoaching Training, explica o conceito do coaching e suas incontáveis possibilidades de ajuda. E essa prática não se limita a ajudar pessoas na vida pessoal ou no universo corporativo. Dentre os inúmeros nichos nos quais o coaching é aplicado com re- sultados positivos, a técnica é direciona- da às crianças, trabalhando o desenvol- vimento, a inteligência emocional, além DOS�TALENTOS�INDIVIDUAIS��/�GRANDE�DESAlO� enfrentado pelo coaching infantil é con- tribuir para que a criança ou adolescente perceba suas potencialidades e se conven- ça de que deve investir nelas. Mestre em Psicologia Positiva Aplicada pela Universidade da Pensilvânia e master coach com vasta experiência na área, Flora é especialista em Governança Corporati- va, Gestão Empresarial e Comunicação e Marketing. Fundou, também, o Institute of Positive Coaching Research (IPCR). Atua como diretora educacional no grupo SB- Coaching e é editora-chefe da Revista #IENTÓlCA�"RASILEIRA�DE�#OACHING. UM ESTÍMULO À INTELIGÊNCIA EMOCIONAL DA CRIANÇA Por Lucas Vasques DI VU LG AÇ ÃO 10 psique ciência&vida www.portalcienciaevida.com.br Com o coaching, a criança passa a conhecer melhor suas forças e a ter consciência de como usá-las, o que a faz se sentir mais segura e feliz. E, claro, cabe lembrar que todas essas mudanças costumam REm�ETIR SE�POSITIVAMENTE� no rendimento escolar QUAIS SÃO OS PRINCIPAIS BENEFÍCIOS DO COACHING INFANTIL? FLORA: Tudo gira em torno de favore- cer um desenvolvimento saudável, de estimular a inteligência emocional da criança, para que ela possa lidar melhor com as diversas situações que com- põem o universo infantil. Além disso, o coaching é um importante aliado na prevenção do bullying – ou na supera- ção das sequelas de quem sofreu com isso. Os relacionamentos em geral tam- BÏM�SÎO�BENEl�CIADOS��SEJA�A�RELA¥ÎO�DA� criança com ela mesma, seja sua rela- ção com família, amigos e professores. Outro ponto importante a citar é que, com o coaching, a criança passa a co- nhecer melhor suas forças e a ter cons- ciência de como usá-las, o que a faz se sentir mais segura e feliz. E, claro, cabe lembrar que todas essas mudanças COSTUMAM� REm�ETIR SE�POSITIVAMENTE�NO� rendimento escolar. QUAIS AS TÉCNICAS UTILIZADAS PARA SE ALTERAR COMPORTAMENTOS NEGATIVOS E INADEQUADOS NAS CRIANÇAS, COMO TI- MIDEZ EXCESSIVA, ANSIEDADE, TEIMOSIA, CARÊNCIA, APATIA, DESINTERESSE, PRE- GUIÇA, AGRESSIVIDADE, MEDO, INSEGU- RANÇA, REBELDIA E ATÉ DEPRESSÃO? FLORA: É preciso ter muito cuidado antes de se rotular comportamentos infantis como negativos e inadequados – muitas vezes, eles são sintomas. Uma criança excessivamente tímida está re- agindo a quê? Está se protegendo do quê? Por que uma criança demonstra- ria apatia, desinteresse ou preguiça em uma fase da vida em que sua vitalidade deveria estar no ápice? O que a criança está tentando dizer quando se mostra agressiva ou rebelde? É fundamental investigar as causas desses compor- tamentos, o que, em muitos casos, é função do psicólogo, e não do coach – especialmente no que diz respeito à depressão. Rotular precipitadamente comportamentos infantis como nega- tivos e inadequados – antes mesmo de entender o que está por trás disso – e prescrever “técnicas” como quem re- ceita um elixir que “cura tudo” são coi- sas que não caracterizam a atuação de um coach sério. Além disso, promover mudanças comportamentais em uma criança não é uma questão de técnica mas de processo. Um processo que com frequência envolve a promoção de mu- danças no seio familiar, em estruturas e relacionamentos que podem ter contri- buído para que o problema surgisse e se mantivesse. Sem analisar tudo isso – e SEM�VERIl�CAR�SE�Ï�REALMENTE�UMA�SITUA ção na qual o coach pode intervir ou se é mais recomendável a intervenção de um psicólogo – não é possível descrever quais processos seriam mais adequados para ajudar a criança e sua família. COMO CONTRIBUIR PARA QUE OS PRIMEIROS ANOS DE VIDA DE UMA PESSOA SEJAM UM PERÍODO PARA FIRMAR AUTONOMIA, AU- TOCONFIANÇA E EXPANDIR COMPETÊNCIAS EMOCIONAIS, SOCIAIS E INTELECTUAIS? FLORA: A base é sempre dar apoio emocional e criar uma relação de con- l�AN¥A�COM�OS�l�LHOS��4AMBÏM�Ï�IMPOR tante não exigir perfeição, nem de si mesmo nem das crianças. E, é claro, sempre oferecer estímulos ao aprendi- zado e à curiosidade. HOJE, EXISTEM DIVERSOS NICHOS ONDE O COACHING É APLICADO COM RESUL- TADOS EFICIENTES. UM DESSES É O CO- ACHING PARA CRIANÇAS, QUE TRABALHA O DESENVOLVIMENTO, A INTELIGÊNCIA EMOCIONAL E OS TALENTOS INDIVIDUAIS. COMO FAZER PARA QUE A CRIANÇA PER- CEBA SUAS POTENCIALIDADES E SE CON- VENÇA DE QUE DEVE INVESTIR NELAS? FLORA VICTORIA: Potencialidade e in- vestimento compõem o imaginário adulto, não o infantil. Palavras como essas muitas vezes expressam a carga de expectativas e ansiedade dos pais em RELA¥ÎO�AOS�l�LHOS�EM�VEZ�DAS�NECESSIDA des de desenvolvimento da criança. Isso pode causar a impressão de que o obje- tivo do coaching infantil é transformar os pequenos em adultos em miniatura, o que não poderia estar mais distante da realidade. O trabalho de um bom coach para crianças, isto é, um que tenha uma excelente formação em coaching, expe- riência com crianças e sólido conheci- mento sobre o desenvolvimento infantil, consiste em acompanhar a criança nas diferentes fases de seu desenvolvimento, contribuindo para que ela percorra es- sas etapas de modo saudável e positivo. Isso geralmente envolve um trabalho voltado para a inteligência emocional, ou seja, a capacidade de reconhecer e de lidar com as próprias emoções e com as dos outros. Com esse trabalho, uma série de questões vem à tona: au- toconceito e autoestima, autonomia e responsabilidades, forças e construção de identidade, a relação consigo e a re- laçãocom os outros, até a compreensão de que desejos e intenções podem ser transformados em objetivos que, por sua vez, podem ser alcançados median- te a execução de determinadas ações, explicitando, assim, a relação entre es- forço consciente e resultado desejado. A partir daí, pavimenta-se o caminho para um processo de amadurecimento, ao longo do qual a criança chegará à adolescência com muito mais chances de conhecer suas potencialidades e se dispor a investir nelas. www.portalcienciaevida.com.br psique ciência&vida 11 A base é sempre dar apoio emocional e criar uma relação DE�CONlAN¥A�COM� OS�lLHOS��4AMBÏM� é importante não exigir perfeição, nem de si mesmo nem das crianças. E, é claro, sempre oferecer estímulos ao aprendizado e à curiosidade participação dos pais é fundamental, pois, conforme já foi dito, muitas vezes o processo de mudança envolve tam- bém estruturas e relações familiares. QUAL O PAPEL DA FAMÍLIA E DA ESCOLA NO SUCESSO DO COACHING PARA CRIANÇAS? FLORA: Tanto pais quanto educadores podem usar conceitos e técnicas de co- aching com as crianças. Os resultados SÎO�MUITO�BENÏlCOS�E�ENVOLVEM�A�CRIA- ção de ambientes saudáveis nos quais a criança possa contar com mais estímu- los para seu desenvolvimento emocio- nal, social e cognitivo. QUAIS OS CRITÉRIOS UTILIZADOS PARA QUE NÃO HAJA CONFUSÃO ENTRE SITUA- ÇÕES QUE DEVEM SER ALTERADAS PELO COACHING E PEQUENOS PROBLEMAS TÍPI- COS E PASSAGEIROS NAS CRIANÇAS? FLORA: A pergunta parte de uma pre- missa equivocada: a de que o coaching existe apenas para ajudar pessoas a re- solverem problemas ou consertarem o que não está funcionando bem. Na verdade, o coaching vai muito além disso. Por exemplo, contribuir para que indivíduos que já obtêm bons resultados em sua vida possam ampliar ainda mais suas conquistas. Ou para que empresas que já estão em boa forma cresçam ain- da mais. Essa é uma tendência registra- da por diversos estudos. Um deles, da American Management Association, re- velou que 79% das empresas que usam coaching têm como principal objetivo o aumento da performance e da produ- tividade individuais. A abordagem de PROBLEMAS� ORGANIZACIONAIS� ESPECÓlCOS� só aparece em quinto lugar como mo- tivo para a contratação de um coach. O mesmo se aplica ao coaching para crianças. Não é preciso esperar que um problema apareça para que a criança comece a fazer coaching. Trata-se de nutrir o que a criança tem de melhor em vez de se concentrar apenas em reparos e consertos, de estimular forças em vez de focar nas fragilidades, e de ajudá-la A�mORESCER� A PARTIR DE QUAL IDADE É INDICADO O COACHING? FLORA: Conceitos e competências de coaching podem ser usados desde mui- TO�CEDO�POR�PAIS�QUE�lZERAM�UM�BOM� treinamento – em especial o positive co- aching, que combina o coaching com a Psicologia Positiva. Não se trata, aqui, de um processo de coaching formal, mas de habilidades que os pais adqui- rem ou aprimoram durante o treina- mento, e que podem ajudá-los a cons- truir um relacionamento mais forte e SAUDÉVEL�COM�OS�lLHOS�� PODE EXPLICAR PASSO A PASSO COMO FUNCIONA O PROCESSO DE COACHING PARA CRIANÇAS? A PRESENÇA DOS PAIS NESSE INÍCIO DE ABORDAGEM É FUNDAMENTAL PARA SEU SUCESSO? FLORA: O processo depende da metodo- logia utilizada e da situação a ser aborda- da. Portanto, não é possível descrevê-lo passo a passo. De modo geral, porém, o coaching começa com um determinado objetivo a ser atingido. A seguir, é tra- çada uma estratégia na qual são iden- TIlCADAS�AS�A¥ÜES�NECESSÉRIAS�PARA�ESSE� lM��/S�RESULTADOS�SÎO�MONITORADOS�PARA� QUE�SE�POSSA�CONlRMAR�O�SUCESSO�DA�ES- tratégia ou alterá-la, caso os resultados estejam aquém do esperado. Outro pon- to importante é o estímulo à melhoria contínua, para que a pessoa continue usando as habilidades de coaching após o encerramento do processo. Essa é a estrutura básica e, é claro, no caso das crianças, existem adaptações de acordo com a idade. Mas é bom lembrar, seja qual for a situação, o coaching sempre trabalha com objetivos e resultados. A IM AG EN S: 1 23 RF *���GHG���� �����H���I�GI�� para crianças consiste em GI���G��P¢�G���G�� �����������G���� de desenvolvimento, auxiliando nas ��G�G�� G��� G� ���� ���G� P��� 12 psique ciência&vida www.portalcienciaevida.com.br O COACHING PARA CRIANÇAS É UMA ABORDAGEM INDIVIDUAL OU PODE SER USADO EM VIVÊNCIAS DE GRUPO? FLORA: Pode ser individual ou em grupo. A RELAÇÃO DA CRIANÇA COM ELA MESMA E COM O MUNDO À SUA VOLTA DEVE SER AVALIADA NA CONDUÇÃO DO PROCESSO? FLORA: Com certeza. Essa é a base de um processo que envolve o desenvol- vimento da inteligência emocional: a relação do indivíduo com suas próprias emoções e com as emoções dos outros, ou seja, sua relação com ele mesmo e com o mundo à sua volta. A LINGUAGEM USADA PELO PROFISSIONAL DEVE SER ADAPTADA A CADA IDADE? FLORA: Sim, mas até certo ponto. É ne- CESSÉRIO� UM� PROl�SSIONAL� TREINADO� PARA� fazer isso corretamente, pois o equilíbrio é fundamental. Se por um lado a crian- ça deve entender o que está sendo dito, por outro, o uso de uma linguagem in- fantilizada por parte do adulto não irá contribuir para seu desenvolvimento. Estudos indicam que quanto mais rico for o vocabulário e mais complexas fo- rem as sentenças que a criança escutar, mais rapidamente ela irá desenvolver sua linguagem. E quanto mais palavras dife- rentes ela ouvir, maior será seu vocabulá- rio. Cabe lembrar que a linguagem falada é a fundação para a escrita e a leitura. Crianças que adquirem cedo uma boa habilidade de fala costumam demonstrar um desenvolvimento no aprendizado da escrita e da leitura muito superior a de colegas que não desenvolveram bem essa habilidade. Além disso, incluir uma linguagem descontextualizada ao falar com a criança – uma linguagem que não envolve apenas circunstâncias imedia- tas e literais, mas que também expressa eventos futuros e passados, ideias e ima- gens – contribui para acelerar o desen- volvimento de suas habilidades de comu- nicação oral e escrita. Ainda há muito mais que poderia ser dito a esse respeito, mas minha intenção é enfatizar o fato de que uma questão aparentemente simples – como o modo de falar com a criança – possui uma série de implicações. É por isso que, volto a frisar, além da qualidade da formação do coach, também é neces- sário que ele tenha sólidos conhecimen- tos sobre desenvolvimento infantil. COMO PROMOVER BRINCADEIRAS E DIÁ- LOGOS ESTIMULANTES COM AS CRIANÇAS DE MODO A NÃO FERIR O LIMITE PRÓPRIO DA IDADE E OU DE SEU DESENVOLVIMENTO COGNITIVO? FLORA: A resposta à questão anterior também se aplica a esta. Pode-se acres- centar, ainda, que o desenvolvimento cognitivo e social da criança é acelerado quando os adultos utilizam a high quality language – ou linguagem de alta quali- dade, prática que envolve o uso de per- GUNTAS�DESAl�ADORAS�E�DE�UM�TOM�DE�VOZ� positivo, dar respostas que satisfaçam a criança mas que, ao mesmo tempo, es- timulem a curiosidade em saber mais e EXPLORAR� MAIS�� ENl�M�� UMA� LINGUAGEM� que mantenha a criança interessada e engajada na conversa. O QUE MUDA NO CÉREBRO QUANDO SE PRATICA O MINDFULNESS? FLORA: Mindfulness se refere a um estado de atenção plena no momento presente. A principal forma de se atingir esse es- tado é por meio da meditação. Em 2015, uma equipe de pesquisadores da Uni- versity of British Columbia e da Chemnitz 5NIVERSITY� OF� 4ECHNOLOGYanalisaram mais de 20 estudos feitos por neurocientis- TAS� E�VERIl�CARAM�QUE�A�MEDITA¥ÎO�AFETA� consistentemente oito regiões do cére- bro. Uma dessas regiões, por exemplo, está associada à autorregulação, isto é, à capacidade de dirigir a atenção e o comportamento e suprimir respostas comportamentais inadequadas – motivo pelo qual os praticantes de meditação se saíram melhor em testes para aferir a au- torregulação. Também são estimuladas áreas do cérebro ligadas à percepção, tolerância à dor, controle emocional e pensamento complexo, entre outras. EM QUE CONSISTE O TREINAMENTO DO MINDFULNESS? FLORA: Embora o mindfulness esteja mui- to associado à meditação, existem outras formas de se chegar a esse estado. Por exemplo, concentrar-se na respiração – especialmente quando se experimentam emoções fortes. Outra prática consiste em saborear o momento, prestar aten- ção no que estamos fazendo, por mais simples que seja a atividade: comer se concentrando no gosto e na textura do alimento, tomar banho focando na sen- sação da água sobre a pele... pode parecer muito simples, mas não é. Experimen- TE�l�CAR� SOB�O� CHUVEIRO� APENAS� SENTINDO� a água sobre a pele e mais nada – sem pensar no que você precisa fazer daqui a pouco, na lista de compras do supermer- cado, naquela discussão que deixou você irritado. O fato é que estamos sempre fa- zendo uma coisa e pensando em outra. Ou falando uma coisa e sentindo outra. É como se nossa mente estivesse per- petuamente dividida: realizamos nossas atividades diárias mecanicamente, en- quanto o cérebro se ocupa de outras coi- sas. Isso interfere até mesmo em nossas relações. Podemos levar a esposa para jantar, ou sentar no chão para brincar COM�OS�l�LHOS��ACREDITANDO�QUE�ESTAMOS� lhes dando atenção quando, na verdade, nossa mente simplesmente divaga pelas Conceitos e competências de coaching podem ser USADOS�DESDE�MUITO�CEDO�POR�PAIS�QUE�l�ZERAM�UM� bom treinamento. Não se trata, aqui, de um processo de coaching formal, mas de habilidades que os pais adquirem ou aprimoram durante o treinamento www.portalcienciaevida.com.br psique ciência&vida 13 *����������������� �IG ������È���� G��G�������H��� G ��� ����G���\I��IG�� ��coaching com as crianças, o que resulta em pontos positivos para o desenvolvimento educacional e pessoal IM AG EN S: 1 23 RF preocupações cotidianas, trabalho, con- tas a pagar, assuntos a resolver. Estamos presentes e, ao mesmo tempo, não esta- MOS��0OR�ISSO��A�DElNI¥ÎO�DE�mindfulness é um estado de atenção plena no momen- to presente. É estar inteiro e presente no que quer que você esteja fazendo em dado momento. COMO A TÉCNICA AUXILIA NO COMBATE AO ESTRESSE OU À DEPRESSÃO? FLORA: Sob o ponto de vista da neurociência, o estudo já citado, da Uni- versity of British Columbia e da Chemnitz 5NIVERSITY� OF� 4ECHNOLOGY�� VERIlCOU� QUE� pessoas que participam de programas de mindfulness apresentam um aumento de matéria cinzenta no hipocampo, uma área do cérebro que é recoberta por re- ceptores de cortisol, o hormônio do es- tresse. Isso as torna mais resistentes ao es- tresse. Por outro lado, pessoas que sofrem de estresse crônico e depressão tendem a apresentar um hipocampo menor. Esses são importantes indícios de que a prática do mindfulness pode deixar o cérebro mais resistente ao estresse e à depressão. EM LINHAS GERAIS, QUAIS OS BENEFÍCIOS DO MINDFULNESS? FLORA: Vários estudos indicam benefí- cios que vão do fortalecimento do siste- ma imunológico à elevação da frequên- cia de emoções positivas, do aumento do foco à habilidade de relaxar em vez de se concentrar ininterruptamente nas preo- cupações. Como o mindfulness afeta áre- as do cérebro ligadas à autorregulação, CONTROLE� EMOCIONAL� E� EMPATIA�� VERIlCA- -se uma melhoria nos relacionamentos e mais estímulos a atitudes compassivas e altruístas. Estudos também sugerem que a prática de mindfulness em escolas reduz problemas comportamentais e a agres- sividade entre os alunos. Experimentos envolvendo a prática de mindfulness entre presidiários registraram redução de raiva E�DE�HOSTILIDADE�ENTRE�OS�DETENTOS��%NlM�� os benefícios são inúmeros e se estendem a qualquer pessoa que se disponha a rea- lizar essa prática. O coaching começa com um determinado objetivo. A seguir, é traçada uma estratégia na QUAL�SÎO�IDENTIlCADAS� as ações necessárias PARA�ESSE�lM��/S� resultados são monitorados para que SE�POSSA�CONlRMAR� o sucesso da estratégia ou alterá-la ESSA TÉCNICA PODE SER CONFUNDIDA COM A MEDITAÇÃO? FLORA: A meditação é uma prática que conduz ao mindfulness, isto é, a um esta- do de atenção plena no momento pre- sente. As raízes do mindfulness se encon- tram na meditação budista. Contudo, já existem práticas seculares de meditação voltadas para o mindfulness. O QUE É PSICOLOGIA POSITIVA E EM QUAIS SITUAÇÕES ESSA PRÁTICA É INDICADA? FLORA: Em 1998, o dr. Martin Seligman, como novo presidente da Associação Americana de Psicologia, sustentou a tese de que a Psicologia não deveria ser apenas o estudo de doenças e distúrbios mentais, mas também o estudo da força e da virtu- de. A Psicologia deveria não apenas tra- TAR�AQUILO�QUE�ESTÉ�DANIlCADO��ELA�DEVERIA� cultivar o melhor que temos em nós. Psi- cologia Positiva foi o nome concebido por Seligman para designar esse novo campo da Psicologia, que se atém ao princípio de que a Psicologia é muito mais do que um ramo da medicina focado em patologias. Ela também deve abordar o trabalho, a educação, o amor, o crescimento e o lúdi- co. Ao invés de focar doenças, a ciência da Psicologia Positiva enfatiza as qualidades, VIRTUDES�E�PONTOS�FORTES�DAS�PESSOAS��FOCA� coisas que fazem a vida valer a pena . Ela visa construir conhecimentos sobre quais ambientes contribuem para formar crian- ças mais sadias e felizes, funcionários mais satisfeitos e cidadãos mais compro- missados. Um grande número de pesqui- sadores começou a aplicar os princípios da Psicologia Positiva às suas próprias áreas de estudo, desenvolvendo, assim, novos corpos de conhecimento que aca- baram por ampliar o seu alcance. 14 psique ciência&vida www.portalcienciaevida.com.br in foco por Michele Muller Por que as CRIANÇAS precisam da FANTASIA AS HISTÓRIAS FANTÁSTICAS MANTÊM AS CRIANÇAS ATENTAS, FACILITAM A APRENDIZAGEM DE NOVOS CONCEITOS E SÃO FUNDAMENTAIS PARA A COMPREENSÃO DE COMO FUNCIONA O MUNDO REAL Q uando fadas com suas varinhas mágicas, mons- tros e heróis invencíveis decidem invadir as es- colas, eles provam que de fato têm superpoderes: ajudam na aprendi- zagem. O papel das histórias fan- tásticas na infância não se limita ao entretenimento. Elas trabalham a linguagem de forma mais ef icaz que narrativas realísticas, aumentan- do a possibilidade da criança f ixar o novo vocabulário. Pode parecer contraditório, mas, justamente por conta da violação das expectativas, são também fundamentais para a compreensão das inúmeras possi- bilidades que a realidade apresenta. Os efeitos do mundo do faz de conta sobre a cognição infantil vêm sendo investigados pela Neurociên- cia com resultados reveladores. No ano passado, pesquisadores da Uni- versidade da Pensilvânia constataram que as crianças assimilam melhor um vocabulário novo quando as palavras são introduzidas em meio a histó- rias fantásticas. O estudo, liderado pela professora Deena Weisberg, do Instituto de Pesquisa em Ciências Cognitivas, avaliou dois programas educativos aplicados em 154 crianças em idade pré-escolar. Aquelas que tinham contato com os novos con- ceitos por meio de contos realísticos mostraram desempenho maisfraco na hora de explicar os signif icados dos vocábulos aprendidos. Essa fascinação das crianças por acontecimentos extraordinários é evidente já nos primeiros meses de vida. No ano passado, pesquisadores da Universidade Johns Hopkings, em Baltimore, testaram o efeito de even- tos mágicos sobre a atenção e as brin- cadeiras de 110 bebês de onze meses. Perceberam que tendem a olhar mais atentamente e por muito mais tempo para um objeto quando ele desaf ia as leis da f ísica. A chance de ocor- rer algo inesperado, que fere suas ex- pectativas, naturalmente mantém as crianças mais atentas – o que explica, em parte, o sucesso das histórias fan- tásticas na aprendizagem. Mas a experiência com bebês re- velou que a ação da fantasia no ima- ginário infantil vai além do aspecto da atenção. Depois de assistirem a uma cena em que algo desaparece repentinamente ou f lutua, os be- bês tendem a investigar a realidade – deixando um objeto cair para tes- tar a gravidade, por exemplo. Para Weisberg, pensar sobre possibilida- des irrealistas pode também ajudar na criação de contrastes informati- vos que levam à compreensão das estruturas do mundo real. A partir dessa perspectiva, as his- tórias ganham função fundamental na construção do senso de realidade – que pode começar com a certif i- cação de que objetos não f lutuam e bichos não falam e seguir por ques- tionamentos bem mais sof isticados que necessitam de contrapontos para serem formados e esclarecidos. Partindo da simples constata- ção da necessidade do contato com o absurdo para se reconhecer o real, podemos transferir para os heróis e vilões dos contos de fada uma nova responsabilidade: a de ensinar às crianças a administrar seus próprios medos. Talvez isso explique a popu- laridade milenar das histórias uni- versais carregadas de tragédias, bru- xas malvadas e f iguras assustadoras. Podem ter cumprido um importante papel no desenvolvimento das habi- lidades linguísticas das crianças, mas dif icilmente foi essa a intenção dos www.portalcienciaevida.com.br psique ciência&vida 15 12 3R F E AR QU IV O PE SS OA L maravilhas da linguagem e lhes mos- tram o que muitos pais e professo- res ignoram: que é preciso conhecer para distinguir. É preciso descobrir o irreal para ter segurança no mundo real, da mesma forma como o conta- to com a frustração é essencial para o reconhecimento da satisfação. Andersen, irmãos Grimm e tantos outros que evitaram poupar seus lei- tores do contato com desgraças fan- tásticas. A fascinação inata das crian- ças pelos horrores e aventuras que o mundo imaginário oferece pode nas- cer de uma necessidade de dar forma ao impossível para saber reconhecê- -lo antes que ele se torne medo. Ainda bem que a força das histó- rias populares é grande a ponto de sobreviver em uma época na qual as crianças são protegidas de tudo: das brincadeiras que trazem um mínimo risco, dos objetos cortantes, das pro- fessoras bravas e de qualquer frustra- ção e tristeza. Muitos contos clássicos já ganha- ram versões suavizadas e muitos de- senhos perderam seu humor negro para garantir que a infância acon- teça toda num mundo cor-de-rosa. Mas se as crianças continuam bus- cando representações extremas do bem e do mal nas histórias fantásti- cas, não estranhem: instintivamente, elas buscam referências. E muitas vezes encontram nas histórias mais extraordinárias e sombrias, que as mantêm atentas, que as ensinam as Michele Müller é especialista em Neurociências e Neuropsicologia da Educação. Pesquisa e cria ferramentas para o desenvolvimento da linguagem. É autora do blog www.leituraesentido.blogspot.com OS EFEITOS DO MUNDO DO FAZ DE CONTA SOBRE A COGNIÇÃO INFANTIL VÊM SENDO INVESTIGADOS PELA NEUROCIÊNCIA COM RESULTADOS REVELADORES, COMO A NECESSIDADE DO CONTATO COM O ABSURDO PARA LIDAR COM O MEDO 16 psique ciência&vida www.portalcienciaevida.com.br Sob o FIO DA NAVALHA supervisão Por Ricardo Wainer O TRABALHO PSICOTERÁPICO NOS APRESENTA, VEZ POR OUTRA, ALGUNS DILEMAS ÉTICOS E MORAIS COMPLEXOS E QUE EXIGEM POSICIONAMENTO RÁPIDO E FIRME DO TERAPEUTA luto, como fazer quando o compor- tamento do paciente indicar riscos iminentes? Esse tópico é motivo de discus- sões e de importantes divergências entre organizações prof issionais que regulam o trabalho dos prof issionais da saúde, e também dos departa- mentos de justiça mundo afora. Para se ter uma ideia das disparidades, somente nos EUA cada estado tem legislações distintas relativas a esse assunto. De modo geral, as orientações quanto à postura dos prof issionais nas situações de condutas ilícitas de seus clientes têm dois princípios que são aceitos sem muitas contro- vérsias: 1) quando for anunciado ao prof issional ou crime ou contraven- ção que já ocorreu (no passado), a in- formação deve se manter em sigilo, nesse último quesito que este artigo foca sua discussão. A garantia do sigilo de todas as informações trazidas ao consultório é ANUNCIADA�PELO�PROlSSIONAL�NO�PRIMEI- ro encontro da díade terapêutica, como uma condição primordial para que o paciente sinta que o ambiente terapêu- tico é um espaço seguro para ele expor SUAS�DIlCULDADES�DA�FORMA�MAIS�HONES- ta e despida de medos de qualquer tipo de julgamentos morais possível. No trabalho com pacientes com comportamentos, ou com tendên- cias de personalidade antissociais, nasce o dilema ético de como pro- ceder quando é anunciado para o psicólogo/psiquiatra algum crime ou contravenção. Se a relação tera- pêutica se baseia na total conf iança do paciente de que tudo que ele dis- ser na sessão f icará em sigilo abso- A prática terapêutica envol- ve cuidado com o sigilo prof issional e ético. Para aqueles que têm uma prá- tica prof issional direcionada a pa- cientes com comportamentos antis- sociais, então, é muito mais comum o enfrentamento de situações limi- tes, como a perspectiva do cliente atentar contra a vida de outros ou incorrer em outras práticas ilícitas. Os constituintes essenciais de qualquer psicoterapia são: o pa- ciente (ou cliente), o psicoterapeuta (devidamente autorizado e regula- mentado), o processo terapêutico (com suas distintas teorias e metas) e a relação terapêutica. É justamente pelos princípios intrínsecos da rela- ção terapêutica que o encontro entre psicoterapeuta e paciente(s) acaba por se diferenciar de qualquer outra forma de interação humana. Independentemente da aborda- gem teórica do prof issional, a rela- ção terapêutica se alicerça nos prin- cípios do respeito pelo ser humano, pela empatia do psicoterapeuta pelo sofrimento do paciente (evitando julgamentos de ordem moral ou re- ligiosa) e pelo sigilo absoluto dos conteúdos trazidos em sessão. É INDEPENDENTEMENTE DA ABORDAGEM TEÓRICA DO PROFISSIONAL, A RELAÇÃO TERAPÊUTICA SE ALICERÇA NOS PRINCÍPIOS DO RESPEITO PELO SER HUMANO, PELA EMPATIA MÚTUA E PELO SIGILO ABSOLUTO DOS CONTEÚDOS TRAZIDOS EM SESSÃO www.portalcienciaevida.com.br psique ciência&vida 17 12 3R F / A CE RV O PE SS OA L Ricardo Wainer é doutor em Psicologia, especialista em Terapia do Esquema, com treinamento avançado pelo New York Schema Institute, e supervisor credenciado pela International Society of Schema Therapy. Pesquisador em Psicoterapia Cognitivo-Comportamental e em Ciências Cognitivas. Professor titular da Faculdade de Psicologia da PUC–RS. Diretor da Wainer Psicologia Cognitiva. tal anúncio levará o paciente a res- tringir a informação. Isso pode até ocorrer, mas é imprescindível que o paciente compreenda que o psicote-rapeuta é um ser humano que está ali para ajudá-lo a evoluir e a apren- der estratégias mais adaptativas para lidar com o sofrimento inerente ao viver. Mas que, ao mesmo tempo, esse mesmo terapeuta tem direitos e deveres e não deve assumir uma condição de cúmplice em comporta- mentos que vão no sentido oposto à saúde mental. com pacientes antissociais, ou mes- mo aqueles com riscos de condutas parassuicidas e/ou suicidas, é anun- ciar ao cliente no estabelecimento do contrato terapêutico (nas sessões iniciais) que, caso ele (o prof issio- nal) perceba elevado risco de algu- ma ação contra a vida do paciente ou a vida de outro(s), terá de utilizar de todos os recursos para evitar isso, inclusive sendo a única situação em que o sigilo poderá ser quebrado. Há defensores e opositores a essa medida. Os opositores dizem que pois nada pode ser feito para rever- ter o que foi cometido; 2) quando o paciente relatar a intenção/plano de cometer conduta antissocial, o tera- peuta deve tentar dissuadi-lo do ato (com todos os recursos e auxílios possíveis); mesmo que para isso te- nha que anunciar ao paciente que o sigilo prof issional será quebrado em respeito ao direito natural (direito à vida). Reparem que isso traz con- sequências de grande magnitude: o risco do paciente voltar-se contra o terapeuta, ou ainda a possibilidade de ele acusar o terapeuta de calúnia e difamação (caso não venha a co- meter o ilícito). Uma medida preventiva de gran- de serventia e que também deve ser adotada por todos aqueles que lidam 18 psique ciência&vida www.portalcienciaevida.com.br psicopositiva por Lilian Graziano NÃO. DEFINITIVAMENTE QUERER NÃO É PODER. RESTA SABER ENTÃO O QUE FAZER PARA CONSEGUIRMOS ATINGIR NOSSOS OBJETIVOS Sobre a FELICIDADE e a “barriga de tanquinho” diz a sabedoria popular, querer NÃO é poder! Quero tocar piano desde os 7 anos de idade e – adivinhe só – isso nunca fez com que eu fosse capaz de tocar uma nota sequer. “É porque você não deseja de verdade!” – diriam as men- tes simplistas. Quero, sim! O desejo é meu e so- mente eu conheço a sua intensida- de (embora meus alunos, amigos e muito provavelmente uma bela bar- riga de tanquinho! Se essa é uma preferência de boa parte das pobres criaturas submeti- das, sim, aos padrões de beleza oci- dentais, ditadura da magreza, culto ao corpo e blá-blá-blá, por que não nos deparamos com uma legião de beldades no metrô, na ruas, no tra- balho etc.? Resposta: Em primeiro lugar porque, ao contrário do que P ode perguntar. Pelo menos na cultura ocidental, onze em cada dez pessoas gosta- riam de ter barriga de tan- quinho. Brincadeiras à parte, é bem verdade que, se pudéssemos determi- nar nossa aparência f ísica de manei- ra tão simples quanto criamos hoje um avatar no videogame, a grande maioria de nós exibiria corpos es- beltos, musculatura def inida e, sim, www.portalcienciaevida.com.br psique ciência&vida 19 Lilian Graziano é psicóloga e doutora em Psicologia pela USP, com curso de extensão em Virtudes e Forças Pessoais pelo VIA Institute on Character, EUA. É professora universitária e diretora do Instituto de Psicologia Positiva e Comportamento, onde oferece atendimento clínico, consultoria empresarial e cursos na área. graziano@psicologiapositiva.com.br 12 3R F / A CE RV O PE SS OA L familiares também devam ter passado a conhecê-la a partir da milésima vez que me ouviram suspirar dizendo: “Puxa, eu queria TANTO tocar piano!”). Compreendamos então o que acontece. Meu desejo de tocar pia- no é grande, é intenso e verdadeiro. Só não é maior do que minha paixão PELO� MEU� TRABALHO�� )SSO� SIGNIlCA� QUE� embora deseje tocar piano, não estou determinada a dispor do meu tempo para aprendê-lo. Isso porque, conside- rando que o tempo é uma questão de prioridade, seria preciso que eu abrisse mão de coisas relativas ao meu traba- lho (leituras, preparação de aulas, cur- sos, consultorias, escrever artigos etc.) para ceder espaço não apenas às aulas de música, mas ao necessário estudo que deve acompanhar qualquer pes- soa que espera aprender a tocar um instrumento. É exatamente isso que acontece com relação à famigerada barriga de tanquinho. A maioria quer, MAS�DElNITIVAMENTE�NÎO�ESTÉ�DISPOSTA� a passar horas na academia em nome desse desejo. Acho interessante, no entanto, que NÎO�Ï�PRECISO�SER�ESPECIALISTA�EM�lSIOLO- gia do exercício para saber que muscu- latura só se adquire puxando ferro. Os CONHECIMENTOS�CIENTÓlCOS�SOBRE�O�TEMA� tornaram-se tão populares que até mes- mo os que querem “trapacear” tomando anabolizantes sabem que devem fazer a sua parte, literalmente suando a camisa. Para desenvolvimento da muscu- latura não existem atalhos. É treino e ponto. Anseio pelo dia em que as pes- soas saibam que, em se tratando de feli- cidade, acontece o mesmo. Quando em meus cursos peço aos alunos um conselho acerca do que de- VERIA�FAZER�PARA��lNALMENTE��APRENDER�A� tocar piano, eles (estranhando a obvie- PARA ALCANÇAR O DESENVOLVIMENTO DA MUSCULATURA NÃO EXISTEM ATALHOS. É TREINO E PONTO. ANSEIO PELO DIA EM QUE AS PESSOAS SAIBAM QUE, EM SE TRATANDO DE FELICIDADE, ACONTECE O MESMO dade da pergunta) prontamente respon- dem: “Faça aulas de piano, ué!”. Ainda que não se deem conta, em TERMOS�NEUROlSIOLØGICOS��ELES�ESTÎO�ME� dizendo que eu devo, por meio do trei- no (aula), criar uma rede neural (que hoje eu não tenho) que me capacite a tocar piano. Eles não entendem aonde preten- do chegar com o cansativo exemplo do piano até que lhes digo: Por que em relação à felicidade seria diferente? Se eu quero ser feliz devo treinar meu cérebro para isso. Sair por aí pergun- tando às pessoas o que devo fazer para aprender a tocar piano é tão patético quanto dizer: “Como eu faço para ser mais otimista?” “Mais grato?” “Apren- der a perdoar?” e é claro: “Como eu faço para ser feliz?”. A resposta a todas essas perguntas é uma só: treino. É por isso que eu digo que, assim como acontece em relação à barriga de tanquinho, nem todos “merecem” a fe- licidade. Porque, dentre todos que a de- sejam, existem aqueles que trabalham diariamente por ela. A esses poucos é que os prêmios estão destinados. NAS BANCAS! www.escala.com.br 20 psique ciência&vida www.portalcienciaevida.com.br bcdefg hijklm nopqrstuvxz abcdefghijk ghijklmnopqrstu 20 psique ciência&vida psicopedagogia por Maria Irene Maluf BILINGUISMO e aprendizagem A EXPERIÊNCIA BILÍNGUE É EXTREMAMENTE RICA PARA CRIANÇAS JÁ NA PRIMEIRA INFÂNCIA E SEUS BENEFÍCIOS SE PERPETUAM AO LONGO DA VIDA, TAIS COMO MAIOR FACILIDADE DE MONITORAR MUDANÇAS E APRENDER NOVAS LÍNGUAS da Universidade McGill, no Canadá, descobriram por meio de testes ver- bais e não verbais que os bilíngues apresentavam rendimento superior em vários quesitos padronizados. Mas sua descoberta logo caiu no esquecimento até que inovações tecnológicas permi- tiram analisar os cérebros de recém- -nascidos em seus primeiros encontros com a linguagem. Constatou-se então que todos os bebês nascem com capacidade para falar qualquer língua humana e são capazes de diferenciar sons de todos os idiomas. Mas perto dos 12 meses de vida, a maioria perde essa capacidade: a exceção justamente está nos bebês de famílias bilíngues, os quais ainda mostram um aumento de atividade neurológica quando ouvem línguas totalmente desconhecidas ao f inal de seu primeiro ano. A neurocientista norte-americana Laura Ann Petitto, da Gallaudet Uni- VERSITY��AlRMA�QUE�A�EXPERIÐNCIA�BI- língue impede que a criança perca a capacidadede enten- der sons de outras línguas. O H oje é perfeitamente aceito PELO�MUNDO�CIENTÓlCO� E�PELA� sociedade em geral que o multilinguismo seja, além de uma condição natural, uma situação muito proveitosa para o desenvolvi- mento geral da criança, mas nem sem- pre foi assim. No século XIX, alguns estudiosos AlRMAVAM�QUE�ESSA�PRÉTICA�CONFUNDIA�AS� crianças e poderia prejudicar seu apren- dizado e desenvolvimento intelectual. Foi em 1960 que os psicólogos Elizabeth Peal e Wallace Lambert, fato ainda ajuda as crianças bilíngues a aprenderem outros idiomas facilmente pelo resto da vida. Além de uma necessidade social e acadêmica, o domínio de mais de um idioma hoje está se tornando impor- tante do ponto de vista educacional por um novo motivo: comprovada- mente os bilíngues demonstram, em estudos internacionais, possuírem maior atividade neuronal nas áreas pré-frontais do cérebro, relacionadas às funções executivas, indispensáveis para o aprendizado acadêmico (Ellen Bialystok, Universidade York de To- ronto, 2003). Tal sistema é fundamental para praticamente tudo que fazemos, é pró- prio do cérebro humano e nos con- fere principalmente três importantes www.portalcienciaevida.com.br psique ciência&vida 21 jklmn opq rst uv xz ab cd efg hij klm no pq rs tuv xz a bcd efg hij kl m no pq rs tuv xza bxzabcdefgh Maria Irene Maluf é especialista em Psicopedagogia, Educação Especial e Neuroaprendizagem. Foi presidente nacional da Associação Brasileira de Psicopedagogia – ABPp (gestão 2005/07). É editora da revista Psicopedagogia da ABPp e autora de artigos em publicações nacionais e internacionais. Coordena curso de especialização em Neuroaprendizagem. irenemaluf@uol.com.br 12 3R F/ A RQ UI VO P ES SO AL habilidades: a memória operacional, A� mEXIBILIDADE� E� A� INIBI¥ÎO� COGNITIVA�� De modo geral, podemos dizer que memória operacional ou de trabalho é aquela responsável de sustentar e manipular informações mentalmente pelo espaço de tempo necessário para compreendermos e elaborarmos um trecho de leitura, um texto, um diálo- go, o enunciado de um problema etc. Flexibilidade cognitiva é a habili- dade que facilita a adaptação do indi- víduo a diferentes contextos, e a inibi- ção, também chamada de autocontrole, corresponde à capacidade de bloque- ar um comportamento inadequado, que nos permite inibir a atenção a detratores, estando assim relacionada ao foco atencional. As funções executivas, tal como também a linguagem, outra importan- te habilidade cognitiva, estão na base de todo desenvolvimento cognitivo, acadêmico, social, e prejuízos nessas áreas podem marcar todo o desenvol- vimento da criança. Um estudo recente da Universida- de de Granada, na Espanha, também divulgou que os bilíngues utilizam mecanismos de atenção muito mais vezes do que os monolíngues e são capazes de trabalhar melhor em situ- ações de tomada de decisão e em situ- ações de distração: o bilinguismo incrementa a memória e desenvol- ve a atenção, além de aumentar o autocontrole. Segundo Naja F. Ramirez, da Universidade de Washington e auto- ra principal do estudo publicado no Developmental Science, o bilinguismo inf lui no desenvolvimento da lingua- gem e no desenvolvimento cognitivo geral, até porque a necessidade diá- ria de alterar o uso de idiomas permite melhorar as habilida- des de função executiva de for- ma rotineira. Ao se comparar a resposta cerebral em estudos com imagem computado- rizada, percebeu-se que os bebês de famílias monolíngues e de famílias bi- língues apresentavam diferenças per- ceptíveis em seu córtex pré-frontal e orbitofrontal, sendo que nos bebês bi- língues a atividade neural era superior, mais preparada para aprender sons de vários idiomas. Perceberam que até os seis meses as crianças diferenciam sem problemas sons de um idioma estran- geiro e os bilíngues continuam a ter essa capacidade aos 11 meses, mas os monolíngues não (Patricia Kuhl, 2016). ESTUDOS COMPROVAM QUE OS BILÍNGUES POSSUEM MAIOR ATIVIDADE NEURONAL NAS ÁREAS PRÉ-FRONTAIS DO CÉREBRO, RELACIONADAS ÀS FUNÇÕES EXECUTIVAS, INDISPENSÁVEIS PARA O APRENDIZADO ACADÊMICO Saber falar em duas ou mais línguas traz vantagens de muitas ordens: a ca- pacidade de monitorar melhor as mu- danças do ambiente ao seu redor, por exemplo, é uma delas. Outra vantagem de dominar idiomas diferentes, espe- cialmente dentro de uma família bilín- gue, é a facilidade para conhecer várias culturas de uma maneira natural. As vantagens do bilinguismo po- dem alcançar as habilidades sociais: Paula Rubio-Fernández e Sam Glu- cksberg (Universidade de Princeton, nos Estados Unidos) descobriram que indivíduos bilíngues são mais capazes de se imaginar no lugar dos outros, entender o ponto de vista alheio, pois têm mais facilidade de neutralizar as informações que já conhecem. Os efeitos do bilinguismo também se estendem até a velhice. Em um es- tudo recente com 44 idosos bilíngues em espanhol-inglês, cientistas desco- briram que os indivíduos com maior PROlCIÐNCIA�EM�CADA�IDIOMA�ERAM�MAIS� resistentes do que os outros idosos para o aparecimento de demência e outros sintomas da doença de Alzheimer (Tamar Gollan, da Universidade da Califórnia, San Diego). 22 psique ciência&vida www.portalcienciaevida.com.br SH UT TE RS TO CK utilidade pública Por Roberta de Medeiros COMO RECONHECER A PAIXÃO DOENTIA QUANDO A CONVICÇÃO DELIRANTE DA RELAÇÃO AMOROSA PARECE TÃO REAL. O COMPORTAMENTO DE FIXAÇÃO AMOROSA É PERIGOSO E PRECISA DE CUIDADOS DELÍRIOS da PAIXÃO Há casos em que o amor fantasioso se desenvolve a partir de um único e es- PECÓlCO�INCIDENTE�n�O�QUE�JÉ�Ï�SUlCIENTE� para que a pessoa se convença do amor QUE�SENTE�POR�SEU�OBJETO��!LIMENTA SE�A� crença de que ele iniciou o caso de amor a partir de olhares, mensagens cifradas, MENSAGENS�DE�JORNAL��DE�TELEVISÎO�OU�ATÏ� mesmo telepáticas. !�PESSOA� PODE� ATÏ� REJEITAR� O� OBJETO� DO�SEU�AMOR��PORÏM��O�ACEITA�E�SE�APAI- xona por ele de maneira obsessiva. A despeito de vigorosas negações da outra pessoa, a fantasia de estar sendo amado persiste por anos, havendo necessidade de hospitalizações ou de ações legais QUE� IMPE¥AM� A� PERSEGUI¥ÎO� DA� VÓTIMA� pelo paciente. O paciente crê no intenso amor que 0OR� OUTRO� LADO�� OS� OBJETOS� DE� AMOR� delirante (na realidade ou em fantasia), SÎO� SEMPRE� SUPERIORES� EM� INTELIGÐNCIA�� POSI¥ÎO� SOCIAL�� APARÐNCIA� FÓSICA�� AUTORI- DADE� OU� UMA� COMBINA¥ÎO� DESSAS� QUA- lidades. Quase sempre o amor doentio pode ser visto como um meio de prote- GER�O�SUJEITO�QUE�O�SENTE�CONTRA�UM�PRO- FUNDO�E�DOLOROSO�ESTADO�DE�SOLIDÎO� %MBORA�ATOS�FÓSICOS�OU�SEXUAIS�SEJAM� incomuns, essas pessoas podem trazer grandes conturbações às suas vítimas. O inconveniente varia de chamadas telefô- nicas no meio da noite a declarações de amor em ambientes públicos. A pessoa PODE� DESEJAR� TER� RELA¥ÜES� SEXUAIS� COM� O�OBJETO�DE�SEU�AMOR�DELIRANTE��/S�HO- MENS�TENDEM�MAIS�Ì�PERSEGUI¥ÎO�DO�QUE� as mulheres. O psiquiatra francês De Clèrambault descreveu o pro- blema como uma síndrome de emoções doentias que pas- sa pelos estágios de esperança, despeito e rancor. A fase de rancor seria a mais importante delas. Após sofrer diversos si- NAIS�DE�REJEI¥ÎO��A�PESSOA�BUSCA�SE�VINGAR� DO�OBJETO�DE�SEU�AMOR��PODENDO�TRANSFE- rir suas retaliações para terceiros. Pessoas que alimentam esse tipo de FANTASIA�SÎO�RESERVADAS��SOCIALMENTE�INEX-PRESSIVAS�� SOLITÉRIAS�� MUITAS� SÎO� PRIVADAS� de contato sexual por anos, a maioria ocu- pa cargos subalternos, e, em muitos casos, SÎO�POUCO�ATRAENTES��%SSE�PERlL�PODE�RE- sultar numa personalidade hipersensível, EM�DESCONlAN¥A�ACENTUADA�OU�ASSUMIDA� SUPERIORIDADE�EM�RELA¥ÎO�AOS�OUTROS�� www.portalcienciaevida.com.br psique ciência&vida 23 a outra pessoa tem por ele, ao mesmo tempo em que preserva certo senso de INOCÐNCIA� AO� CONSIDERAR� QUE� O� OBJETO� DE�SEU�AMOR�JAMAIS�SERÉ�FELIZ�SEM�A�SUA� companhia. Quem sofre com esse amor geral- mente racionaliza a conduta da pessoa QUE�ELEGE��INTERPRETA�AS�REJEI¥ÜES�QUE�SO- FRE� COMO� AlRMA¥ÜES� SECRETAS� DE� AMOR�� TESTES�DE�lDELIDADE�OU�TENTATIVAS�DE�DES- pistar outras pessoas de seu “romance”. 0ENSAM� QUE� SÎO� AMADOS� POR� UM� BOM� TEMPO�� QUANDO� ENTÎO� RENUNCIAM� A� ESSE� amor para reiniciar suas fantasias com outra pessoa. Existe um potencial para comporta- mento violento e vingativo, com taxas de comportamento agressivo chegando a 57% em amostras de homens que foram diagnosticados com esse tipo de pro- blema. Apesar de haver poucos estudos sobre o tema, alguns pesquisadores su- GEREM�QUE�A�SUA�FREQUÐNCIA�NÎO�DEVA�SER� CONSIDERADA�TÎO�BAIXA�QUANTO�SE�ACREDITA� !S� CAUSAS� PODEM�VARIAR��$ÏlCITS� NO� FUNCIONAMENTO� DA� VISÎO� ESPACIAL� OU� LE- sões no sistema límbico, particularmen- TE�NOS� LOBOS� TEMPORAIS��EM�COMBINA¥ÎO� com experiências amorosas ambivalentes e de isolamento afetivo, poderiam contri- buir com as interpretações delirantes. E a FALTA�DE�mEXIBILIDADE�COGNITIVA�FARIA�COM� que esses delírios persistissem. O sistema límbico medeia a interpre- TA¥ÎO� DO� AMBIENTE� AO� ACRESCENTAR� UMA� resposta afetiva aos estímulos externos. Assim, interpretações inadequadas do meio poderiam ser causadas por anorma- LIDADES� LÓMBICAS�� /� CONTEÞDO� ESPECÓlCO� do delírio, entretanto, seria determinado pela cultura e pelas experiências pessoais de cada paciente. O desenvolvimento dos delírios pode ORIGINAR SE�DE�PERCEP¥ÎO�OU�INTERPRETA- ¥ÎO�ANORMAIS�DO�MEIO��MAS�A�MANUTEN- ¥ÎO� DE� UMA� CREN¥A� DELIRANTE�� EM� FACE� de informações distorcidas, tem sido ATRIBUÓDA�A�UM�FUNCIONAMENTO�DElCIEN- TE�DO�SISTEMA�FRONTAL��/�LOBO�PRÏ FRONTAL� desempenha um importante papel nos testes de realidade. Um fator que pode contribuir para a MANUTEN¥ÎO�DOS�DELÓRIOS�Ï�A�RIGIDEZ�COG- NITIVA�� SURGIDA�DE�DISFUN¥ÎO� FRONTAL� SUB- CORTICAL��A�QUE�PODE�RESULTAR�NUMA�DIlCUL- dade em alterar determinado sistema de crenças. Disfunções nessas mesmas áre- as têm sido associadas a outros tipos de DELÓRIOS�� 4AMBÏM� lCOU� CONSTATADO� QUE� pessoas que sofriam com esse problema tinham um comprometimento maior do HEMISFÏRIO�CEREBRAL�DIREITO�� !� INTEGRIDADE� DESSAS� FUN¥ÜES� Ï� CRÓ- tica para o reconhecimento das inter- pretações delirantes, que ocorrem, com maior probabilidade, em pacientes priva- DOS�DE�RELACIONAMENTOS�ÓNTIMOS��PORÏM�� altamente motivados a tais experiências. %SSE� DESEJO� POR� RELACIONAMENTO� PODE� ser contrabalançado por temores de re- JEI¥ÎO�E�DE�INTIMIDADE� /� AMOR� PATOLØGICO� Ï� PERIGOSO� E� NE- cessita de tratamento psicológico e muitas vezes medicamentoso. Fique alerta. UM FATOR QUE CONTRIBUI PARA A MANUTENÇÃO DOS DELÍRIOS É A RIGIDEZ COGNITIVA, QUE PODE RESULTAR NUMA DIFICULDADE EM ALTERAR DETERMINADO SISTEMA DE CRENÇAS �H���G� ��(� ������\� ���G����G�I����^IG:� ¢�G��d���H���G:�����I���I�G�²��G��:I�� Nas bancas ou acesse www.escala.com.br super guia de estudo Planejado por docentes especializados na produção de exames vestibulares, o INTENSIVÃO traz uma seleção de questões atualizadas, além de dicas infalíveis para se dar bem na redação. PREPARE-SE! 24 psique ciência&vida ENVELHECIMENTO A terapia cognitivo- -comportamental (TCC) para a terceira idade necessita de um impulso maior no futuro para que tenha condições de incluir, de forma �����IG���G9����G� parcela da população nas pesquisas e estudos TCC descobrindo os IDOSOS Por Eduarda Rezende Freitas, Altemir José Gonçalves Barbosa e Carmem Beatriz Neufeld ENVELHECIMENTO 24 psique ciência&vida www.portalcienciaevida.com.br AAAAAAAAAAAAAAAAA ttttttttttttttttteeeeeeeeeeeeeeeeerrrrrrrrrrrrrrrrraaaaaaaaaaaaaaaaapppppppppppppppppiiiiiiiiiiiiiiaaaaaaaaaaaaaaaaa cccccccccccccccooooooooooooooogggggggggggggggggnnnnnnnnnnnnnnnnniiiiiiiiiiiiitttttttttttttttttiiiiiiiiiiiiiivvvvvvvvvvvvvvvvvvooooooooooooooo-------------- -------------cccccccccccccccooooooooooooooommmmmmmmmmmmmmmmmpppppppppppppppppooooooooooooooorrrrrrrrrrrrrrrrrtttttttttttttttttaaaaaaaaaaaaaaaaammmmmmmmmmmmmmmmmeeeeeeeeeeeeeeeeennnnnnnnnnnnnnnnntttttttttttttttttaaaaaaaaaaaaaaaaalllllllllllllll (((((((((((((((TTTTTTTTTTTTTTTTTCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCC))))))))))))))) pppppppppppppppppaaaaaaaaaaaaaaaaarrrrrrrrrrrrrrrrraaaaaaaaaaaaaaaaa aaaaaaaaaaaaaaaaa ttttttttttttttttteeeeeeeeeeeeeeeeerrrrrrrrrrrrrrrrrccccccccccccccceeeeeeeeeeeeeeeeeiiiiiiiiiiiiiirrrrrrrrrrrrrrrrrraaaaaaaaaaaaaaaaa iiiiiiiiiiiiiidddddddddddddddddaaaaaaaaaaaaaaaaadddddddddddddddddeeeeeeeeeeeeeeeee nnnnnnnnnnnnnnnnneeeeeeeeeeeeeeeeecccccccccccccccceeeeeeeeeeeeeeeeessssssssssssssssssssssssssssssiiiiiiiiiiiiitttttttttttttttttaaaaaaaaaaaaaaaaa dddddddddddddddddeeeeeeeeeeeeeeeee uuuuuuuuuuuuuuuuummmmmmmmmmmmmmmmmm iiiiiiiiiiiiiimmmmmmmmmmmmmmmmmmpppppppppppppppppuuuuuuuuuuuuuuuuulllllllllllllllsssssssssssssssooooooooooooooo mmmmmmmmmmmmmmmmmmaaaaaaaaaaaaaaaaaiiiiiiiiiiiiiiooooooooooooooorrrrrrrrrrrrrrrrr nnnnnnnnnnnnnnnnnoooooooooooooooo fffffffffffffffffuuuuuuuuuuuuuuuuutttttttttttttttttuuuuuuuuuuuuuuuuurrrrrrrrrrrrrrrrrooooooooooooooo pppppppppppppppppaaaaaaaaaaaaaaaaarrrrrrrrrrrrrrrrraaaaaaaaaaaaaaaa qqqqqqqqqqqqqqqqquuuuuuuuuuuuuuuuuueeeeeeeeeeeeeeeee ttttttttttttttttteeeeeeeeeeeeeeeeennnnnnnnnnnnnnnnnhhhhhhhhhhhhhhhhhaaaaaaaaaaaaaaaaa cccccccccccccccooooooooooooooonnnnnnnnnnnnnnnnndddddddddddddddddiiiiiiiiiiiiiiçççççççççççççççççõõõõõõõõõõõõõõõeeeeeeeeeeeeeeeeesssssssssssssss dddddddddddddddddeeeeeeeeeeeeeeeee iiiiiiiiiiiiiinnnnnnnnnnnnnnnnncccccccccccccccllllllllllllluuuuuuuuuuuuuuuuuiiiiiiiiiiiiirrrrrrrrrrrrrrrrr,,,,,,,,,,,,,, dddddddddddddddddeeeeeeeeeeeeeeeee fffffffffffffffffooooooooooooooorrrrrrrrrrrrrrrrrmmmmmmmmmmmmmmmmmaaaaaaaaaaaaaaaaa �����������������������������������������������������������������������������IIIIIIIIIIIIIIIGGGGGGGGGGGGGGGGG�����������������������������������������������GGGGGGGGGGGGGGGGG99999999999999�����������������������������������������������GGGGGGGGGGGGGGGGG�� pppppppppppppppppaaaaaaaaaaaaaaaaarrrrrrrrrrrrrrrrrccccccccccccccceeeeeeeeeeeeeeeeelllllllllllllaaaaaaaaaaaaaaaaa dddddddddddddddddaaaaaaaaaaaaaaaaa pppppppppppppppppooooooooooooooopppppppppppppppppuuuuuuuuuuuuuuuuullllllllllllllaaaaaaaaaaaaaaaaaçççççççççççççççççãããããããããããããããããoooooooooooooooo nnnnnnnnnnnnnnnnnaaaaaaaaaaaaaaaaasssssssssssssss pppppppppppppppppeeeeeeeeeeeeeeeeesssssssssssssssqqqqqqqqqqqqqqqqquuuuuuuuuuuuuuuuuiiiiiiiiiiiiiisssssssssssssssaaaaaaaaaaaaaaaaasssssssssssssss eeeeeeeeeeeeeeeee eeeeeeeeeeeeeeeesssssssssssssssstttttttttttttttttuuuuuuuuuuuuuuuuudddddddddddddddddooooooooooooooosssssssssssssss A terapia cognitivo- -comportamental (TCC) para a terceira idade necessita de um impulso maior no futuro para que tenha condições de incluir, de forma �����IG���G9����G� parcela da população nas pesquisas e estudos www.portalcienciaevida.com.br psique ciência&vida 25 Eduarda Rezende Freitas é psicóloga, mestre e doutoranda em Psicologia. Possui formação em Terapia Cognitivo- Comportamental. Membro da diretoria da Associação de Terapias Cognitivas de Minas Gerais (ATC-Minas), membrodo Centro de Pesquisa sobre Desenvolvimento e Envelhecimento (Cepeden) e do Laboratório de Pesquisa e Intervenção Cognitivo-Comportamental (LaPICC-USP). Altemir José Gonçalves Barbosa é psicólogo, mestre em Psicologia Escolar e doutor em Psicologia. Professor do Departamento de Psicologia e do Programa de Pós-Graduação da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), coordenador do Centro de Pesquisa sobre Desenvolvimento e Envelhecimento (Cepeden) e bolsista de Produtividade em Pesquisa do CNPq. Carmem Beatriz Neufeld é psicóloga, mestre e doutora em Psicologia, professora e orientadora do Programa de Pós- Graduação em Psicologia do Departamento de Psicologia da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto da USP. Coordenadora do Laboratório de Pesquisa e Intervenção Cognitivo-Comportamental (LaPICC-USP). Vice-presidente da Associação Latino-Americana de Psicoterapias Cognitivas (gestão 2015-2018). 12 3R F www.portalcienciaevida.com.br psique ciência&vida 25 26 psique ciência&vida www.portalcienciaevida.com.br ENVELHECIMENTO Parte do sucesso dessa abordagem, que pode ser considerada integradora, isto é, que combina técnicas de psicoterapia cognitiva e terapia comportamental, seria atribuída ao seu rigor metodológico e teórico sistemas de saúde públicos e privados mais e mais frequentemente endos- sam tratamentos cognitivos (Korman, Viotti & Garay, 2015), como a TCC. Recentemente, Thordarson e Frie- dberg (2014) fizeram uso da audaciosa exclamação (“Ao infinito... e além!”) do personagem Buzz Lightyear, da Disney/Pixar, para retratar as contri- buições da TCC para crianças e jovens. Paradoxalmente, essa frase sinaliza uma força dessa abordagem terapêuti- ca – ser bem-sucedida no tratamento de um amplo leque de demandas apre- sentadas por crianças, adolescentes e jovens adultos – e uma de suas limi- tações: apresentar poucas evidências de eficiência e eficácia para idosos. Considerando que o envelhecimento da população mundial é um processo inegável e irreversível, a frase “Você vai precisar de um barco maior!”, dita por Brody – um personagem do filme Tubarão – ao constatar o tamanho do animal que pretendiam capturar, tam- bém se aplica à TCC. Ela precisará, nas próximas décadas, de uma “embarca- ção” maior, que seja capaz de incluir de modo expressivo os idosos entre as A terapia cognitivo-com-portamental (TCC) é uma modalidade tera-pêutica com duração limitada, focada no pro- blema e que tem sido aplicada – com sucesso – a uma extensa variedade de problemas (Becker, Sanchez, Cur- ry & Tonev, 2008; Thoma, Pilecki & McKay, 2015). Apesar de sua breve história, a TCC é amplamente prati- cada no planeta (Thoma et al., 2015), consolidando-se na América do Nor- te, em vários países da Europa, espe- cialmente na Grã-Bretanha, na Aus- trália (Rachman, 2015) e no Brasil. Parte do sucesso dessa abordagem integradora, isto é, que combina técni- cas de psicoterapia cognitiva e terapia comportamental, pode ser atribuída ao seu rigor metodológico e teórico. No processo de fusão dessas duas moda- lidades terapêuticas, a TCC, por um lado, incorporou o estilo de realizar pesquisas empíricas, caracterizado pela exigência de controles rigorosos, análises estatísticas, integridade e cre- dibilidade no tratamento de dados e as- sim por diante, dos behavioristas. Por outro lado, adotou muitos conceitos profícuos dos cognitivistas (Rachman, 2015). Tornou-se, desse modo, uma das formas mais extensivamente pes- quisadas de terapia (Butler, Chapman, Forman & Beck, 2006) e que é capaz de ser bem-sucedida para uma ampla gama de demandas, como transtornos do humor (depressão, por exemplo), transtornos de ansiedade (como sín- drome do pânico), transtornos de per- sonalidade, transtornos alimentares, abuso de substâncias, esquizofrenia, insônia e distúrbios comportamen- tais de adolescentes e crianças (Briki, 2015; Thoma et al., 2015). Hoje em dia, com o aumento da demanda por trata- mentos baseados em evidências para garantir a “eficácia” e a “eficiência”, os Recentemente foi publicada pela Sinopsys Editora a obra Terapias Cognitivo-Com- portamentais com Idosos (Freitas, Barbosa & Neufeld, 2016). Ela é composta por tex- tos que contribuem para a formação inicial e continuada de terapeutas, uma vez que, preocupantemente, parte significativa dos cursos brasileiros de graduação e pós- -graduação das áreas “psi” negligencia ou, até mesmo, não inclui temas sobre a ve- lhice em seus currículos, formando, desse modo, profissionais que não estão efetiva- mente preparados para atuar com idosos. �Literatura ��G��� G�� G �� �����G��G�������������I��������� ��G� G��I������G���������G������G���9� de personalidade, abuso de substâncias, esquizofrenia, entre outros www.portalcienciaevida.com.br psique ciência&vida 27 A TCC, por um lado, incorporou o estilo de realizar pesquisas empíricas, caracterizado pela exigência de controles rigorosos, análises estatísticas, integridade e credibilidade no tratamento de dados. Por outro, adotou muitos conceitos profícuos dos cognitivistas coortes etárias alvo de suas pesquisas e desenvolvimentos. Os idosos são, segundo o Institu- to Brasileiro de Geografia e Estatísti- ca (IBGE) (Ervatti, Borges & Jardim, 2015), o segmento populacional que mais tem aumentado no Brasil. As ta- xas de crescimento ultrapassam 4% ao ano no período de 2012 a 2022. Em 2000, 14,2 milhões de brasileiros ti- nham 60 anos ou mais. Transcorridos dez anos eram 19,6 milhões de pesso- as na velhice, sendo que essa coorte etária deve contar, em 2030, com 41,5 milhões de indivíduos e, em 2060, com 73,5 milhões. Espera-se, para os próximos dez anos, um incremento médio de mais de 1 milhão de idosos anualmente. Dessa forma, “o Brasil está envelhecendo”. Implicações O envelhecimento populacional não pode ser entendido como uma “simples” mudança demográfica. O aumento da população de idosos gera, por exemplo, uma série de im-IMAG EN S: S HU TT ER ST OC K plicações econômicas (como maior quantidade de pensionistas), sociais (como convivência entre várias gera- ções e mais idosos vivendo em insti- tuições de longa permanência) e de saúde (por exemplo, maior quantida- de de gastos com medicações e tra- tamentos e aumento de transtornos mentais e doenças crônicas na popu- lação) (Barreto, Carreira & Marcon, 2015; Camarano, Kanso & Fernan- des, 2013; Robalo, 2010; Villas-Boas, Oliveira, Ramos & Montero, 2015). Assim, o envelhecimento popu- lacional gera novos desafios para os profissionais “psi”. Dentre eles, men- cionam-se algumas perdas cognitivas que acometem mais frequentemente a população idosa, os transtornos de ansiedade e a depressão. VELHICE POSITIVA E SAUDÁVEL PARA SABER MAIS É fato que o processo de envelhecimento acontece de maneira constante e restringe certas atividades físicas e condições psíquicas. Portanto, o gran- de desafio das pessoas e dos especialistas é fazer com que esse momento da vida seja levado de uma forma positiva e, acima de tudo, saudável. As limitações psicológicas mais relevantes na fase do envelhecimento são a sen- sação de não pertencimento que atinge a maioria dos idosos, dificuldade no planejamento do futuro, adaptação a mudanças, desmotivação em relação a tudo e perda de contato social, especialmente provocado pela aposentadoria. Diante desse cenário, a depressão é uma das consequências mais frequentes, problema este que pode ser gerado por baixa autoestima e autoimagem, medo, ansiedade e insegurança. É justamente a partir desse ponto que a tera- pia assume uma importância fundamental, pois oferece ao idoso amplas con- dições
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