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O CAPITAL – Karl Marx Ideias Fundamentais • Os bens são a base do sistema capitalista e têm um “valor de uso” (sua própria utilidade) e um “valor de troca” (em relação a outros bens). • O trabalho necessário para produzir um item está incluído no seu valor de troca. • A produtividade do trabalho depende das condições ambientais, estruturas sociais, grau de tecnologia, fornecimento de matérias-primas e habilidade dos trabalhadores. • O dinheiro auxilia a troca dos bens. O papel-moeda é uma personificação abstrata do valor. • Os trabalhadores trocam a sua capacidade de trabalho por dinheiro para comprar bens. Os capitalistas trocam dinheiro por bens, e depois trocá-los por mais dinheiro. • Os trabalhadores vendem o seu trabalho porque não possuem qualquer “meio de produção”. • Os capitalistas estão interessados principalmente em obter a “mais-valia” com a ajuda dos trabalhadores. • Uma vez tendo recebido o seu salário de subsistência, qualquer mais-valia extra que os trabalhadores agreguem a partir do seu trabalho é para o benefício dos capitalistas. • Os capitalistas lucram com a mais-valia; os trabalhadores não têm acesso a essa riqueza. • A luta pela mais-valia vai levar à “revolta da classe trabalhadora”. Os Bens e Seu Valor Os bens formam a base da riqueza nas sociedades capitalistas. Os bens são mercadorias que satisfazem as necessidades humanas, seja diretamente, como o alimento ou a roupa, ou indiretamente, como as máquinas e materiais que produzem o alimento ou a roupa. Cada tipo de bem carrega dois tipos de valor: “Uma mercadoria parece, à primeira vista, algo muito trivial e de fácil compreensão. A sua análise mostra que é, na realidade, uma coisa muito estranha, cheia de sutilezas metafísicas e refinamento teológico.” 1. Valor de Uso – que mede a utilidade de um produto. O valor de uso é uma parte inerente do item individual e não pode ser separado dele. O valor de uso independe da quantidade de trabalho exigida para se fazer uma mercadoria. Por exemplo, um comprador que adquire uma tonelada de aço não está interessado no esforço necessário para produzi-lo. 2. Valor de Troca – que mostra a relação de valor entre dois produtos específicos. Por exemplo, uma determinada quantidade de trigo pode ser trocada por uma quantidade exata de seda. O valor de troca de um item incorpora a quantidade de trabalho exigida para criar o mesmo. “A circulação do dinheiro como capital é um fim em si mesmo, pois a expansão do valor só ocorre dentro deste movimento que é renovado constantemente.” Todos os produtos possuem um fator em comum: o trabalho necessário para a sua criação. O trabalho atribui valor a um item e também deriva o seu valor do item. O trabalho e o tempo necessário para se fazer um produto determina o seu valor. Pensar sobre os produtos desta forma permite que você divida um trabalho sofisticado e complexo em uma série de tarefas simples; assim, tarefas intrincadas se tornam atividades simples. Produtividade Laboral A eficiência do trabalho pode variar muito, dependendo das condições ambientais, estruturas sociais, níveis de tecnologia, fornecimento de matérias-primas, pesquisa científica e habilidades dos funcionários. Levando todos estes fatores em conta, uma empresa pode produzir uma certa quantidade de mercadorias em um determinado período de tempo. Contanto que todos os fatores permaneçam iguais, se você produzir a mesma quantidade e qualidade de um bem de forma consistente, o valor do que você produz continua sempre o mesmo. Portanto, o valor de um produto depende da produtividade do trabalho. Por exemplo, como a extração de diamantes é difícil e consome tempo, os diamantes são muito valiosos. Se você pudesse encontrar uma maneira fácil de converter carvão em diamantes, estas pedras preciosas se tornariam muito menos valorizadas. Da mesma forma, o progresso tecnológico acelera a produtividade do trabalho, porque invenções e máquinas são capazes de produzir mais mercadorias em menos tempo. Como representante consciente desse movimento, o possuidor do dinheiro se torna um capitalista. A sua pessoa, ou melhor o seu bolso, é o ponto de partida e de retorno do dinheiro.” O Trabalho Como Mercadoria A “mais-valia” tem a sua origem no trabalho que os trabalhadores devem vender como mercadoria porque não possuem os “meios de produção”, isto é, as máquinas e materiais necessários para produzir bens. O que os trabalhadores precisam para sobreviver determina parte do valor do seu trabalho. Além da comida, pode haver outras necessidades, dependendo do nível mínimo de subsistência de determinada era ou cultura. O valor de troca do trabalho, ou o salário diário de um trabalhador, garante apenas o nível mínimo de sobrevivência. Mas o tempo e esforço dos trabalhadores são o seu valor de uso, uma parte intrínseca de si mesmos. Os compradores desse valor de uso (os capitalistas) vão empregá-los para criar a mais-valia, isto é, “a diferença entre o valor do produto do trabalho e os custos de produção daquele trabalho, ou seja, a subsistência do trabalhador”. Assim, a mais-valia vai diretamente para o capitalista cujo dinheiro investido a transforma em capital. “Dinheiro que gera dinheiro; esta é a melhor descrição do Capital.” Os equipamentos e matérias-primas utilizados como recursos no processo de produção constituem o “capital constante”. Esse valor não se altera durante o ciclo de produção. Mas a força de trabalho é diferente: ela produz um determinado valor que o trabalhador recebe como salário fixo e qualquer mais-valia que surja é mantida pelo capitalista. Este trabalho convertido representa o “capital variável”. Na essência, “o trabalhador aparece como um elemento incorporado no capital do processo produtivo, o seu fator ativo e variável”. “O trabalhador, ao invés de poder vender as mercadorias nas quais o seu trabalho está incorporado, é obrigado a oferecer em forma de mercadoria a sua mão-de-obra, a qual é inerente à própria vida.” A utilização do trabalho como uma mercadoria significa que, ao final de um dia de trabalho, os trabalhadores têm nas suas mãos uma quantia em dinheiro por prestarem um trabalho ao invés de criarem um item. A sua proximidade com o produto acabado é, assim, perdida: os trabalhadores se afastam do trabalho, pois o seu resultado não lhes pertence mais. O trabalho é parte integrante da personalidade humana. Mas os trabalhadores das indústrias que realizam atividades especializadas e sem envolvimento mental não se conectam com o seu trabalho. “O produto é propriedade dos capitalistas, não do seu produtor direto, o trabalhador.” A quantidade da mais-valia obtida representa o grau de exploração dos trabalhadores. Eles são afastados da mais- valia gerada pelo seu trabalho. Uma vez tendo trabalhado as horas suficientes para cobrir as despesas de seu salário diário, cada hora extra trabalhada beneficia apenas ao capitalista. O capitalista tenta aumentar a mais-valia estendendo o horário de trabalho ou aumentando a carga de trabalho realizada durante o tempo do expediente. Assim, a produtividade sobe sem aumento de salários para os trabalhadores. “A diferença essencial entre as várias formas econômicas da sociedade, entre, por exemplo, uma sociedade baseada no trabalho escravo e uma baseada no trabalho assalariado, reside apenas no modo como esse excesso de trabalho é, em cada caso, extraído do trabalhador, o verdadeiro produtor.” O Fetichismo do Dinheiro e das Mercadorias Historicamente, o simples ato de troca de bens utilizava uma forma básica de equivalência: as pessoas trocavam conchas ou animais por mercadorias em quantidades estabelecidas. A troca de bens foi no passado parte de uma relação essencial entre os seres humanos. Eventualmente, as moedas feitas demetais preciosos se tornaram populares como meios de troca. Facilmente dividido em valores diferentes, o dinheiro metálico carregava em si valor suficiente para se tornar um substituto para outros bens. Mas em algum momento, o dinheiro perdeu o seu significado relativo, tornando-se uma encarnação abstrata do valor de troca. O valor material do papel-moeda, ao contrário das moedas feitas a partir de metais preciosos, não desempenha papel algum na sua função como uma medida do valor. O valor do dinheiro está em si mesmo, não no que representa; ele se tornou um “fetiche”. “A acumulação da riqueza produz, ao mesmo tempo, acumulação da miséria, agonia do trabalho escravo, ignorância, brutalidade e degradação mental.” Os bens também são fetiches, isto é, as mercadorias assumiram significados independentes das pessoas que as produzem e do trabalho necessários para produzi-las. O indivíduo que troca uma mercadoria ou dinheiro por um produto já não está mais diretamente relacionado com o trabalho “acumulado” desse produto. Durante a Idade Média, os trabalhadores consumiam e possuíam apenas o necessário, portanto, o fruto do seu trabalho não era um fetiche. O caráter fetichista dos bens, ou a sua idolatria, surgiu apenas quando as pessoas começaram a comercializar mercadorias entre si dentro da sociedade organizada. “O trabalho adequado durante todas as 24 horas do dia é a tendência inerente da produção capitalista.” A Circulação de Mercadorias e Dinheiro Os preços dos bens em circulação são uma medida do trabalho contido nesses produtos. Os preços podem ser muito altos ou muito baixos, mas a circulação de mercadorias real ocorre quando as pessoas trocam mercadorias por dinheiro. Por exemplo, um tecelão vende uma parte do seu trabalho e recebe uma certa quantidade de dinheiro. Com esse dinheiro ele compra uma Bíblia para a sua família. Ele trocou o seu dinheiro por um item que representa o trabalho de outra pessoa. Esta circulação é constituída por bens que levam ao dinheiro, o qual leva a outros bens. Em outras palavras, o trabalhador acaba trocando uma peça que fabricou pelo trabalho feito por outro. “A centralização dos meios de produção e a socialização do trabalho atingem um ponto em que se tornam incompatíveis com o seu invólucro capitalista.” Mas existe também um outro ciclo, onde o dinheiro não desempenha mais o papel do intermediário, mas se torna o ator principal. Este princípio em que o dinheiro leva aos produtos, os quais levam ao dinheiro, descreve o nascimento do capital. As pessoas compram produtos não apenas pelo seu valor prático, mas também pelo capital que geram quando revendidos. A principal atração é o valor de troca, ou melhor, o lucro, o qual aumenta o capital. Esta rentabilidade impulsiona o capitalismo e leva a uma crescente quantidade de capital: mais dinheiro leva a mais produtos e mais produtos resultam em mais dinheiro. A circulação de mercadorias tem a finalidade de satisfazer as necessidades humanas. A circulação de dinheiro é, no entanto, um objetivo em si. Quem é dono do dinheiro e impulsiona este processo tem apenas um objetivo: tornar-se cada vez mais rico. “Dobram os sinos fúnebres da propriedade privada capitalista.” A Acumulação de Capital O capitalista usa o dinheiro para acumular capital, reinvestindo uma parte desse dinheiro para conseguir mais meios de produção. Isto estabelece um processo de auto reforço. Durante a acumulação intensiva de capital, com a qual o capitalista adquire capacidades técnicas, a produtividade do trabalho aumenta dramaticamente. Se a população cresce no mesmo ritmo deste aumento de produtividade, forma-se um “exército industrial de reserva”, uma massa de desempregados desesperados por trabalho. Com um estalar de dedos, o capitalista pode escolher novos trabalhadores prontos para fornecer mão-de-obra ainda mais barata. Como os trabalhadores não tem participação no crescimento da mais-valia gerada por seu trabalho, eles competem uns com os outros, para o benefício dos capitalistas. O trabalhador deve se submeter à lei da máquina, encurtar ou estender a jornada de trabalho, realocar- se ou tomar outras medidas que satisfaçam ao capitalista. O grande aglomerado de desempregados fornece ao capitalista uma oferta abundante de trabalhadores (voluntários ou forçados). As condições de trabalho nas indústrias inglesas do século XIX tornaram-se tão terríveis que “Dante teria visto os piores horrores do seu Inferno serem superados por tais manufaturas”. Expedientes contínuos de 12 a 18 horas não eram incomuns, em condições perigosas para a saúde e bem-estar dos trabalhadores. Por exemplo, trabalhadores nas olarias apresentavam menor expectativa de vida e mais doenças do que outros nas suas cidades; eles representavam “uma população degenerada, tanto física como moralmente”. Eles eram “atrofiados em termos de crescimento, (...) envelheciam prematuramente e viviam certamente menos tempo”. Autoridades da saúde em Manchester, na Inglaterra, observaram que a média de vida da classe trabalhadora era de 17 anos, contra 38 dos da “classe média alta”. Em 1860, um magistrado registrou as condições horríveis das fábricas de rendas, nas quais “crianças de nove ou dez anos eram arrastadas das suas camas imundas, duas, três, quatro horas da manhã e obrigadas a trabalhar pela subsistência até dez, onze ou doze horas da noite”. A Luta de Classes A relação entre capitalista e trabalhador exemplifica o choque de classes: trabalhadores e capitalistas têm lutado durante séculos pela mais-valia do trabalho. A violência sempre desempenhou um papel na relação, que data da sociedade medieval. As guerras feudais e a expropriação das terras expulsaram os camponeses das propriedades agrícolas. Estes servos estavam assim livres para oferecer a sua mão-de-obra ao mercado industrial em crescimento. Ou melhor, eles acabaram mais uma vez na servidão, sendo que desta vez na escravidão assalariada. Mas em algum ponto os capitalistas serão consumidos pela sua própria cobiça pelo lucro. Eles vão continuar a usar mais máquinas e menos trabalhadores para a produção. A miséria das massas vai aumentar, enquanto cada vez menos pessoas vão se beneficiar da acumulação de capital. “Na proporção em que o capital se acumula, a situação do operário deve piorar”. Com o aumento do exército de reserva, agrava-se também a sua inquietação e agitação. O sistema capitalista vai se tornar cada vez mais insustentável, passando a enfrentar “a revolta da classe trabalhadora”. A desapropriação continuará até que os governos se tornem tão intoleráveis que o povo vai derrubá-los através de uma revolução e “os expropriadores serão os expropriados”. O CAPITAL – Karl Marx Ideias Fundamentais Os Bens e Seu Valor Produtividade Laboral O Trabalho Como Mercadoria O Fetichismo do Dinheiro e das Mercadorias A Circulação de Mercadorias e Dinheiro A Acumulação de Capital A Luta de Classes
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