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Contrato de Seguro - Comparação entre autores

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA GRANDE DOURADOS
JEOVANA LIMA GAVILAN
CONTRATOS EM ESPÉCIE
Contrato de seguro
Trabalho relacionado aos entendimentos absorvidos através da leitura de três doutrinadores, quais sejam os escolhidos: Carlos Roberto Gonçalves em “Direito Civil Brasileiro, vol. 3: Contratos e Atos Unilaterais”, Mônica Queiroz em Direito civil IV: Contratos em espécie e atos unilaterais, e Flávio Tartuce em “Direito Civil, vol. 3: Teoria Geral dos Contratos e Contratos em Espécie”, solicitado pelo professor Pedro Vilela (pedrohvsilveira@hotmail.com), apresentado com a finalidade de estudo da matéria de contratos e atividade avaliativa durante o 5º semestre da XIII turma do curso de Direito da Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD), na disciplina de Direito Civil IV (Contratos em Espécie).
Dourados/MS
2016
RESUMO
Diante da complexidade das relações contratuais, especialmente na contemporaneidade, é possível que se verifique a existência de diversas formas de avença entre as pessoas, as quais comprometem-se entre si a determinadas obrigações. Através das obras de diversos doutrinadores, é possível o estudo sobre tal diversidade contratual e, no presente trabalho, foram escolhidos os escritos de Carlos Roberto Gonçalves, Mônica Queiroz e de Flávio Tartuce, buscando apresentar lições sobre a matéria de seguro abordada na disciplina de Direito Civil Contratual. Cada obra traz as peculiaridades expositivas de cada autor frente ao tema, os quais gravam em seus livros sua forma de explicação, cada um expondo a matéria em diferentes formas de organização e aspectos, ainda que sobre o mesmo contrato, trazendo, em suas individualidades, uma maneira diferente de grafar suas pesquisas realizadas para a feitoria das obras. Através da leitura de diferentes livros (dos doutrinadores acima citados), é possível absorver certo entendimento a respeito do conteúdo em foco, observando-se que, a cada leitura, devido ao uso de diferentes termos, maneiras de explicar e aspectos abordados, as ideias trazidas são mais compreendidas. Observe-se ainda que, na matéria de seguro, não foram encontradas divergências notáveis, diferente do que, geralmente, ocorre na área do Direito, onde comumente são encontradas discussões que levam a diferentes correntes de pensamento a respeito da matéria analisada.
Pode-se ainda dizer que, através das leituras escolhidas para a realização do presente trabalho, foram obtidos conhecimentos antes não existentes, contribuindo significativamente para a formação da acadêmica autora do trabalho, bem como mostrando uma nova forma de estudo: análise mais de uma doutrina, indo além de apenas uma forma de explicação, para melhor percepção e memorização do conteúdo.
É importante que, como mera aluna, haja a confissão de que sua produção acadêmica ainda está voltada ao estudo da produção feita por outras pessoas já renomadas, período no qual toda a exposição feita pela aluna não se trata de criação científica dela própria, a qual assume ainda não possuir formação intelectual suficiente para criação de novas teorias ou para adentrar nas discussões jurídicas feitas por estudiosos que já passaram anos a fio analisando inúmeras fontes para criar suas conclusões. Contudo, é possível exposição dos entendimentos obtidos através da criação de outras pessoas, motivo pelo qual, destaque-se: todas as citações e referências contidas no presente trabalho estão informadas, caso contrário violar-se-ia o direito autoral daquelas pessoas que realmente serviram como fonte de estudo (CP, art. 184).
Assim como, geralmente, os variados temas são tratados na área do Direito (dissecando-os em diferentes aspectos para, ao final, ser possível uma compreensão geral), o presente trabalho tentará abordar o contrato de locação em diferentes vieses, tendo como base a leitura do resultado de anos de estudos dos autores suso citados. Simplificadamente, o seguro será tratado de maneira sistematizada em: histórico, conceito, natureza jurídica, instrumentos contratuais (apólice e bilhete de seguro), objeto (presença de risco), espécies (de dano e de pessoa), obrigações do locador e do devedor, bem como prazos prescricionais referentes à pretensões vinculadas a contratos de seguro.
Deve-se observar, ainda, que o seguro (foco do presente trabalho) está previsto nos artigos 757 a 802 do Código Civil Brasileiro de 2002.
Palavras-chave: contratos; seguro; seguradora; segurado; grupo segurável; apólice; bilhete de seguro; riscos; sinistro; responsabilização.
Sumário: 1. Histórico – 2. Conceito e as partes no contrato de seguro – 3. Natureza jurídica e características: 3.1. Bilateral ou sinalagmático; 3.2. Oneroso; 3.3. Aleatório; 3.4. De adesão; 3.5. Consensual; 3.6. Unitário; 3.7. Comutativo – 4. Instrumentos contratuais: 4.1. Conceito de apólice de seguro e suas características; 4.2. Conceito de bilhete de seguro e suas características – 5. Risco: o objeto do contrato de seguro: 5.1. Conceito; 5.2. Diferença entre risco e sinistro; 5.3. Limite ao objeto do seguro; 5.4. Vedações: ilícitos especiais; 5.5. Liberdade contratual na estipulação do risco segurado; 5.6. Princípio da mutualidade dos segurados – 6. Espécies de seguro: 6.1. Seguro de dano; 6.2. Seguro de pessoa: 6.2.1. Seguro de vida individual, 6.2.2. Seguro de vida em grupo ou seguro coletivo – 7. Obrigações: 7.1. Obrigações do segurador; 7.2. Obrigações do segurado – 8. Prazos prescricionais – Conclusão – Referências.
CONTRATO DE SEGURO
1. HISTÓRICO
Carlos Roberto Gonçalves, em sua obra Direito Civil Brasileiro, vol. 3: Contratos e Atos Unilaterais, explica que o contrato de seguro tem sua origem no período medieval pelo seguro marítimo, quando era limitado a dar garantia relacionada a navios e cargas.
Com o passar do tempo passou a ser mais utilizado, sendo que, no século XVIII, já era admitido contra incêndio e também seguro de vida. Contudo, ainda segundo Gonçalves, a maior ampliação de sua utilização se deu no século XIX, embora não tenha sido tipificado em Códigos.
Já no século XX, o contrato de seguro também se desenvolveu ainda mais, isso devido à solidariedade e aos benefícios que se vê em repartir os riscos existentes na vida.
Tal contrato está estruturado especialmente no atual CC Brasileiro, mas também em outras legislações, as quais ficam encarregadas das “minúcias e detalhes incidentes sobre a matéria” (GONÇALVES, 2012).
 Compete privativamente à União legislar sobre seguros (CF, art. 22, VII).
2. CONCEITO E AS PARTES NO CONTRATO DE SEGURO
O contrato de seguro é contrato típico, uma vez que encontra-se disciplinado nos arts. 757 a 802 do CC de 2002, distribuindo-se a matéria por três seções, quais sejam:
Seção I – Disposições gerais (arts. 757 a 777);
Seção II – Do seguro de dano (arts. 778 a 788);
Seção III – Do seguro de pessoa (arts. 789 a 802).
Carlos Roberto Gonçalves, em sua obra já citada, lembra que o seguro marítimo é disciplinado nos arts. 666 a 730 do Código Comercial de 1850, e não pelo CC de 2002.
Iniciando as leituras pelo livro de Gonçalves, o doutrinador explica o conceito de contrato de seguro embasando-se na disposição do art. 757 do CC, in litteris:
“Art. 757. Pelo contrato de seguro, o segurador se obriga, mediante o pagamento do prêmio, a garantir interesse legítimo do segurado, relativo a pessoa ou a coisa, contra riscos predeterminados.”
A partir deste dispositivo pode-se dizer que, no seguro, há duas partes: o segurador (que se obriga mediante recebimento de prêmio – que é pago, geralmente, em parcelas pelo segurado – a garantir interesse legítimo, garantia a qual é dada através de pagamento de indenização ao segurado) e o segurado (aquele que tem o interesse legítimo a ser garantido contra riscos predeterminados, podendo ser esse interesse relativo a pessoa ou a coisa. O segurado deve pagar o prêmio ao segurador para que este se obrigue a pagar a indenização caso esses riscos se efetivem, ou seja, caso aconteça sinistro, fato aleatório).
É frente a essa explicaçãoque Flávio Tartuce, em sua obra Direito Civil, vol. 3: Teoria Geral dos Contratos e Contratos em Espécie, diz que, “na prática, o contrato [de seguro] representa instrumento de socialização dos riscos.”
Mônica Queiroz, em sua obra Direito Civil IV: Contratos em Espécie e Atos Unilaterais, não cita, mas Gonçalves lembra que ainda pode surgir uma terceira parte, o beneficiário, para quem é paga a indenização nos casos de seguro de vida e no seguro obrigatório em que ocorrer morte por acidente do segurado.
Deve-se observar ainda a existência do resseguro, que “consiste na transferência de parte ou de toda responsabilidade do segurador para o ressegurador. A finalidade é distribuir entre mais de um segurador a responsabilidade pela contraprestação.” (GONÇALVES, 2012).
O principal elemento do contrato de seguro é o risco, o qual se transfere para outra pessoa (o segurador).
Mônica Queiroz, em sua obra já citada utilizada para esse estudo, destaca a exigência legal de que somente pode ser parte, no contrato de seguro, como segurador, entidade para tal fim legalmente autorizada (art. 757, parágrafo único, do CC). Gonçalves explica que essa entidade seria, então, “uma sociedade anônima, uma sociedade mútua ou uma cooperativa, com autorização governamental.” (GONÇALVES, 2012).
Gonçalves observa que o doutrinador Pedro Alvim explica que a garantia dos contratos de seguro se limita a seguro de dano e de pessoa, não se aplica a seguro de jogos, uma vez que há a exigência de que o risco deve ser próprio do segurado.
3. NATUREZA JURÍDICA E CARACTERÍSTICAS
Tomando como base Carlos Roberto Gonçalves, podem ser analisadas seis características: (3.1.) bilateralidade, (3.2.) onerosidade, (3.3.) aleatoriedade, (3.4.) de adesão, (3.5) consensualidade, e (3.6.) unitário.
Mônica Queiroz cita as naturezas (3.1.) bilateral, (3.2.) onerosa, (3.3.) aleatória, (3.4.) de adesão e (3.5.) consensual.
Já Tartuce cita as seguintes características: (3.1.) bilateral, (3.2.) onerosa, (3.3) aleatória e (3.5.) consensual, bem como fala de corrente que considera o contrato [de seguro] como (3.7.) comutativo.
Eis a natureza jurídica e características do contrato de seguro, com enfoque nas explanações de Gonçalves:
3.1. Bilateral ou sinalagmático
O contrato de seguro gera obrigações (observam-se também direitos) para ambas as partes (segurador e segurado).
3.2. Oneroso
Ambas as partes ganham proveito e, em contrapartida, corresponde um sacrifício: o segurador receberá logo de início o prêmio, mas assumirá a obrigação de pagamento de indenização caso ocorra sinistro; já o segurado receberá a garantia de indenização, mas terá de pagar o prêmio ao segurador.
3.3. Aleatório
O segurado assume obrigação certa (pagar o prêmio), mas o segurador assume obrigação futura incerta, a qual depende da ocorrência ou não ocorrência do sinistro, de forma que o contrato é aleatório para o segurador.
Assim, há a garantia de indenização quando há o risco da ocorrência de sinistro (fato aleatório). Dessa forma, o risco é elemento essencial no contrato de seguro.
“Não há equivalência nas obrigações em razão da natureza aleatória da avença.” (GONÇALVES, 2012).
3.4. De adesão
O segurado aceita as cláusulas dispostas no contrato exposto pelo segurador, não havendo discussão quanto às mesmas.
Carlos Roberto Gonçalves lembra que devem ser observados os arts. 423 e 424 do CC de 2002, os quais prescrevem que deve ser adotada a interpretação mais favorável ao contratante (no caso, o segurado), quando houver cláusula ambígua ou contraditória, e que são nulas as cláusulas que estipulem renúncia antecipada do contratante quando surgir direito que resulte da natureza do negócio (renúncia antecipada de direito pelo segurado, no caso).
O art. 47 do Código de Defesa do Consumidor também estabelece que a interpretação adotada para leitura das cláusulas deve ser a mais favorável ao consumidor.
3.5. Consensual
Gonçalves explica que, quanto à consensualidade, há divergências:
Para ser consensual, o contrato deveria se aperfeiçoar apenas com a anuência de ambas as partes, não havendo necessidade de posterior formalidade. Contudo, por força do art. 758 do CC, há doutrinadores que entendem que o contrato de seguro somente se aperfeiçoa com a emissão da apólice de seguro. Seria, então, um contrato solene. Diz o artigo suso citado, in litteris:
“Art. 758. O contrato de seguro prova-se com a exibição da apólice ou do bilhete do seguro, e, na falta deles, por documento comprobatório do pagamento do respectivo prêmio.”
Apesar desse entendimento, majoritariamente tem-se entendido que “a forma escrita é exigida apenas ad probationem, ou seja, como prova pré-constituída, não sendo, porém, essencial, visto que a parte final do art. 758 também considera perfeito o contrato desde que o segurado tenha efetuado o pagamento do prêmio. A falta de apólice é, portanto, suprível por outras provas, especialmente a perícia nos livros do segurador.” (GONÇALVES, 2012).
3.6. Unitário
Na obra de Gonçalves, antes do autor iniciar suas explanações a respeito das espécies de contrato de seguro, explica que este também é unitário, pois: embora seja integrado por espécies diferentes, se caracteriza (quaisquer que sejam os riscos segurados) pela ideia de ressarcimento dos danos, de cunho material ou moral, ou seja, por uma ideia unitária, única. Embora várias espécies, todas as espécies seguem essa mesma lógica.
3.7. Comutativo
É Flávio Tartuce quem lembra que há doutrinas que tratam a comutatividade como natureza jurídica do contrato em análise, explicando que “já surge corrente doutrinária que entende que o contrato de seguro seria comutativo, pois o risco poderia ser determinado por cálculos atuariais. Ademais, como assinalam Ernesto Tzirulnik, Flávio de Queiroz B. Cavalcanti e Ayrton Pimentel, o contrato seria comutativo por trazer a ideia de garantia.” (TARTUCE, 2014).
4. INSTRUMENTOS CONTRATUAIS
Enquanto Gonçalves apresenta o presente tópico com nome “A apólice e o bilhete de seguro”, Mônica Queiroz apresenta em tópico denominado “Caracteres jurídicos”. Contudo, Mônica apresenta subtópicos que tratam não só da apólice e bilhete, mas também de assuntos (boa-fé contratual e aplicação de legislação especial) já tratados ou que ainda serão abordados rapidamente no presente trabalho. Para que o presente trabalho não se torne por demais extenso, ao abordar os denominados caracteres jurídicos, serão tratados apenas os instrumentos logo acima citados (apólice e bilhete), motivo pelo qual este tópico receberá o nome instrumentos contratuais. Assim, serão utilizadas explicações feitas por Mônica Queiroz, mas a base principal tomada para o presente tópico será a obra de Gonçalves.
Tartuce trata o tema em tópico que explica regras gerais do contrato de seguro, e será utilizado para complementar ideias dos dois autores acima.
 Para tal estudo, necessária a leitura do CC de 2002 em seu art. 760 e seu parágrafo único, in litteris:
“Art. 760. A apólice ou o bilhete de seguro serão nominativos, à ordem ou ao portador, e mencionarão os riscos assumidos, o início e o fim de sua validade, o limite da garantia e o prêmio devido, e, quando for o caso, o nome do segurado e o do beneficiário.
Parágrafo único. No seguro de pessoas, a apólice ou o bilhete não podem ser ao portador.” (Grifo meu)
É importante destacar do que se entende da leitura da obra de Gonçalves e do artigo acima, que os riscos que o segurador cobre com sua garantia de indenização são exclusivamente os que estão previstos na apólice ou bilhete de seguro, dentro dos limites fixados, não se admitindo interpretação extensiva nem analógica.
Contudo, se o contrato for de adesão, é preciso respeitar o dispositivo já citado no tópico nº 3.4 deste trabalho, qual seja o art. 423 do CC, que trata da interpretação à favor do segurado, nos casos de dúvida (cláusulas ambíguas ou contraditórias).
Tartuce fala que a prova do contrato em questão se dá por meio desses instrumentos contratuais (art. 758 do CC de 2002).“Na falta deles, o contrato pode ser provado por documento comprobatório do pagamento do respectivo prêmio, ou seja, a forma é livre, nos termos do art. 107 do CC (princípio da liberdade das formas).” (TARTUCE, 2014).
4.1. Conceito de apólice de seguro e suas características
A apólice é, como explica Gonçalves, o instrumento pelo qual é formalizado o contrato de seguro, possuindo especificações e exigências no dispositivo acima transcrito.
Da leitura de tal dispositivo abstrai-se que a apólice pode ser classificada de três formas: nominativa, à ordem, e ao portador. Contudo, a apólice de seguro de vida não pode ser ao portador, por força do parágrafo único do artigo ora analisado.
Observe-se:
I) nominativa: conforme explica Gonçalves e Mônica, a apólice nominativa é aquela que apresenta o nome de todas as partes e pode ser transferida através de cessão civil (art. 785, § 1º, do CC).
Neste caso, se a coisa que se encontra segurada for alienada (vendida), é transferido ao comprador o contrato de seguro já existente, pelo prazo que ainda faltar.
II) à ordem: ainda conforme explicação de Gonçalves, a apólice à ordem pode ser transferida através de endosso.
Já Mônica Queiroz explica que “é transmitida por endosso preto, datado e assinado pelo endossante e pelo endossatário (art. 785, § 2º, CC).”
III) ao portador: Mônica explica que essa apólice é transmitida por simples tradição. E, destaque-se rapidamente, como já falado logo acima: em se tratando de seguro de pessoas, a apólice ou o bilhete não podem ser ao portador.
4.2. Conceito de bilhete de seguro e suas características
O bilhete de seguro, ainda através da interpretação do artigo 760 do CC, pode ser entendido como instrumento de formalização do contrato de seguro, podendo ser utilizado quando há autorização legal para dispensa de remessa de apólice ao segurado, também possuindo especificações e exigências no dispositivo citado.
Da leitura de tal dispositivo abstrai-se que o bilhete de seguro pode ser classificado da mesma forma que a apólice, ou seja, de três formas: nominativo, à ordem, e ao portador.
Como há a necessidade de autorização legal para efetivação do contrato de seguro por meio de bilhete, Carlos Roberto Gonçalves expõe um exemplo: o bilhete “obrigatório de veículos automotores, conforme permissão constante do art. 10 do Decreto-Lei n. 73/66, que dispensa expressamente a remessa de apólice ao segurado.”
5. RISCO: O OBJETO DO CONTRATO DE SEGURO
5.1. Conceito
Gonçalves, na obra já apontada, traz tópico especial que trata sobre o risco.
Conforme já destacado nos tópicos nº 2 (“2. Conceito”) e nº 3.3 (“3. Natureza jurídica e características – 3.3. Aleatório”) deste trabalho, o risco é o principal e essencial elemento do contrato de seguro, é devido à existência dele que esse contrato é feito. Sem o risco, segundo Gonçalves, não há objeto para tal contrato, pois trata-se de elemento estrutural fundamental.
Quanto ao seu conceito, Gonçalves explica a visão do doutrinador Pedro Alvim, que observou que, para a maioria dos autores, o risco ainda se confunde com algo perigoso que pode provocar dano. Contudo, o contrato de seguro não mais abrange somente o seguro de dano, motivo pelo qual o evento segurável não necessita (não é obrigatório) ser algo que possa causar dano, mas pode ser também evento que gera algo bom, com, por exemplo, a sobrevivência (seguro de vida), a educação futura de um filho, casamento do segurado, entre outros.
“Por isso, pode-se conceituar, então, o risco segurável como o acontecimento possível, futuro e incerto, ou de data incerta, que não depende somente da vontade das partes.” (GONÇALVES, 2012).
Gonçalves, para deixar ainda mais evidente a importância da existência de risco, escreve que o contrato de seguro se caracteriza pela transferência de riscos: os riscos que incidem sobre interesse legítimo do segurado são transferidos para o segurador, o qual irá pagar indenização ao segurado, caso advenha sinistro.
5.2. Diferença entre risco e sinistro
Gonçalves preocupa-se em trazer essa diferenciação em sua obra: as características divergentes entre risco e sinistro os fazem ser diferentes: enquanto o risco existe sempre, o sinistro é fato aleatório que pode ou não acontecer. Para melhor explicar, Gonçalves nos traz que “Silvio Rodrigues lembra, a propósito, a feliz expressão de Messineo: “O risco é imanente, enquanto o sinistro é eventual”.”
5.3. Limite ao objeto do seguro
O art. 757 do CC traz limite ao que pode ser objeto de seguro, pois prescreve que o segurador pode garantir “interesse legítimo do segurado, relativo a pessoa ou a coisa”. Assim, há essa limitação: o risco deve recair sobre interesse legítimo do segurado.
5.4. Vedações: ilícitos especiais
Gonçalves explica que o risco, em princípio, pode incidir sobre todo bem jurídico e, então, todo bem jurídico pode ser segurado. Nas próprias palavras do autor: “O objeto do contrato de seguro é o risco, que pode, em princípio, incidir em todo bem jurídico.”
E, ainda, para que alguém possa fazer contrato de seguro com relação a esse bem jurídico, é preciso que este bem seja de interesse legítimo do segurado (prescrição do art. 757, acima citado).
Como regra, todo objeto deve ser lícito. Contudo, há vedação de certas modalidades de seguros: ilícitos especiais.
Gonçalves explica que, em matéria securitária, há ilícitos especiais como:
a) o seguro dado em valor maior do que a quantia real que a coisa segurada vale (arts. 778 e 781, ambos do CC de 2002), ou
b) a pluralidade de seguros sobre o mesmo bem (seguro cumulativo) (art. 782 do mesmo Códex), com exceção do seguro de vida, cujo capital segurado é livremente estipulado pelo proponente (art. 789 do CC de 2002).
Dessa maneira, conclui-se que, atualmente, “todos os riscos são passíveis de cobertura, exceto os excluídos pela lei, como os dolosos ou ilícitos e os de valor superior ao da coisa” (GONÇALVES, 2012).
5.5. Liberdade contratual na estipulação do risco segurado
Carlos Roberto Gonçalves explica que, embora vigore o princípio da liberdade contratual, as cláusulas presentes no contrato não podem ir contra normas de ordem pública, de forma que é nulo o contrato feito para garantir riscos vindos de ato doloso do segurado, do beneficiário ou de representante de um ou de outro (prescrição do art. 762 do CC de 2002).
Diante disso, é possível compreender que “não pode ser segurado o risco que se filia a atos ilícitos, como o do contrabando, do jogo proibido etc.” (GONÇALVES, 2012). Por exemplo: um indivíduo não pode fazer seguro para que o segurador garanta indenização caso ocorra dano nas mercadorias contrabandeadas daquele, ou seja, o risco que incidir sobre atos ilícitos impossibilita que seja feito seguro, justamente porque os contratos, em regra geral, não podem ter objeto ilícito, bem como cláusulas contrárias às normas públicas vigentes.
Assim, há a liberdade contratual, mas é importante que se observem a existência dos ilícitos especiais acima explicados.
5.6. Princípio da mutualidade dos segurados
Gonçalves ainda explica que a empresa privada de seguros recolhe o pagamento do prêmio de todos os segurados e usa o mesmo para adimplir as indenizações devidas àqueles que sofreram sinistros. Assim, são os próprios segurados que pagam suas indenizações.
O valor do prêmio para cada tipo de seguro é fixado de antemão e colocado em tabelas feitas pelas segurados. Essa fixação é feita com base em cálculos atuariais através da análise de probabilidades. Os dados estatísticos revelam a incidência dos sinistros num determinado risco e em determinado futuro. Com base nesses dados, o segurador fixa taxas de seguro suficientes para pagar todas as indenizações aos segurados e ainda retirar certo lucro para si.
6. ESPÉCIES DE SEGURO
Enquanto Mônica Queiroz aborda o tema de forma direta em sua obra resumida, partindo dos tópicos seguro de dano e seguro de pessoa, Carlos Roberto Gonçalves traz que os seguros podem ser:
a) Seguro obrigatório: a responsabilidade é objetiva,bastando a simples prova do dano para justificar o pagamento da indenização.
b) Seguro social: de cunho obrigatório, tutelando determinadas classes de pessoas, como os idosos, inválidos, acidentados no trabalho, entre outros.
c) Seguro privado: é facultativo, “relativo a pessoa ou a coisa” (art. 757 do CC de 2002).
Ainda segundo Gonçalves, seguros privados podem dividir-se em:
c.1) Seguro terrestre: subdivide-se na classificação de seguro de coisas e de pessoas, podendo se especializar em seguros de vida, de mútuo (caso em que várias pessoas se unem para assumir os riscos inerentes às suas vidas ou aos seus bens, partilhando entre si os eventuais prejuízos, sendo que essas pessoas são as seguras e o conjunto dessas pessoas forma a pessoa jurídica seguradora e sem fins lucrativos), agrário, seguro dos ramos elementares (que cobre os riscos de fogo, transporte, acidentes e outros eventos que causem dano a coisas ou pessoas) e seguro de capitalização.
O seguro terrestre também pode se classificar em seguro individual e em seguro em grupo ou coletivo.
c.2) Seguro marítimo; e
c.3) Seguro aéreo.
Para melhor compreensão das espécies de seguro, foi feito um esquema que será apresentado logo mais, após as explicações de cada espécie.
Gonçalves analisa que o CC de 2002 trata da matéria de seguros terrestres (de coisas e de pessoas), constando o seguro de coisas na seção “Do seguro de dano” (arts. 778 a 788) e o seguro de pessoas na seção “Do seguro de pessoas” (arts. 789 a 802).
A compreensão que se conseguiu da leitura de Gonçalves é a de que o seguro de coisas (de dano) se subdivide em: “a) seguro de coisas, cuidando da cobertura por danos a bens imóveis, móveis propriamente ditos e semoventes; e b) seguro de responsabilidade civil, concernente à cobertura por danos a terceiros.” (GONÇALVES, 2012).
Gonçalves ainda escreve: “O seguro de pessoas, por sua vez, desdobra-se em: a) seguro de vida; e b) seguro de acidentes pessoais.”
6.1. Seguro de dano
Disciplinado nos arts. 778 a 788 do CC Brasileiro.
Gonçalves explica que o termo “garantia” tem sentido de “cobertura”, no art. 778. Assim, interpreta-se que o contrato de seguro não tem o objetivo de obtenção de lucros ao segurado, mas sim a obtenção de garantia para que, caso ocorra sinistro, os prejuízos decorrentes dele sejam cobertos. 
Assim, o segurado não deve receber valor superior ao correspondente os reais prejuízos, sob pena de se provocar seu enriquecimento indevido e desnaturar a finalidade do contrato de seguro (art. 778 do CC de 2002).
Dessa forma, Gonçalves explica que se considera locupletamento ilícito se o segurado receber valor indenizatório superior ao do interesse segurado ou ao da coisa que sofreu o sinistro. Caso ocorra essa infração, o segurado deve sofrer as sanções previstas no já citado art. 778.
O ônus da prova, nesse caso (provar que o valor da garantia ultrapassa o da coisa segurada e que o segurado agiu dolosamente ao apresentar a sua proposta), cabe ao segurador, o qual, se verificar desrespeito ao art. 778, pode propor ação declaratória de nulidade de contrato, tendo o direito de reivindicar a devolução do valor desembolsado.
Gonçalves ainda discorre que, da mesma forma que o segurado não pode receber indenização com valor superior ao devido, também o segurador não pode segurar o bem por valor superior com o fim de receber prêmio sobre esse mesmo montante (art. 781 do CC de 2002).
O mesmo autor ainda diz que pode ocorrer variação do valor do interesse segurado para que não haja enriquecimento ilícito do segurado, bem como prejuízo, pois, há, inicialmente, a fixação de uma base indenizatória na apólice para pagamento do prêmio ao segurador, mas o interesse pode se desvalorizar com o tempo. Dessa forma, apesar da indenização ter sido fixada inicialmente num valor superior, quando o bem estava mais valorizado, não deve ser paga em valor superior ao que o bem possui no momento do sinistro (e o excesso de prêmio recebido pelo segurador com base em valor superior fixado na apólice deve ser restituído).
A indenização pode ultrapassar o limite máximo de garantia fixado na apólice, por força da interpretação do final do art. 781 do CC de 2002, bem como o segurador pode responder pelos prejuízos causados por sua mora (art. 395 do mesmo Códex).
O segurado não é impedido de realizar mais de um seguro sobre o mesmo interesse ou bem, mas deve respeitar o disposto no art. 782 do Estatuto Civil, avisando o segurador, de modo a evitar enriquecimento ilícito.
Já o art. 779 prevê que é abrangente responsabilidade do segurador, mas não define o tamanho da extensão dessa responsabilidade. Contudo, o art. 780 prescreve o início da vigência da garantia (caso de responsabilidade do transportador de mercadorias, a qual é objetiva – arts. 749 e 750 do Código em estudo).
Caso o seguro seja feito com fixação de prêmio inferior ao valor do bem, em momento da indenização ela será paga proporcionalmente ao prêmio, e não no valor integral do interesse ou bem segurado: essa é a disposição do art. 783, que trata da cláusula de rateio. Ou seja, apesar do dispositivo ter adotado a expressão “no caso de sinistro parcial”, também em caso de perda total da coisa aplica-se a referida cláusula, quando a cobertura contratada for inferior ao valor da coisa e dos danos: pagamento proporcional.
Já o art. 784 do CC de 2002 trata de causa excludente de garantia (isenção de qualquer responsabilidade do segurador), a qual se refere à exclusão de garantia quando há desconhecimento do grau de risco que incide sobre o interesse protegido, desconhecimento o qual é causado porque o segurado não declarou que a coisa segurada possuía vício em si.
 O art. 785 do mesmo Código admite a transferência do contrato para terceiro, por alienação ou cessão pelo interesse do segurado, mas podem as partes, no contrato de seguro, vedar tal possibilidade.
No art. 786, ainda do CC, é prevista a sub-rogação dos direitos do segurado (art. 356, III, da Codificação citada), nos limites da indenização, após o pagamento desta pelo segurador, passando este a ter direito de regresso contra o causador do dano que motivou o pagamento de tal indenização. Contudo, o § 1º do art. 786 dispõe restrição à sub-rogação, nos casos em que o dano foi causado “pelo cônjuge do segurado, seus descendentes ou ascendentes, consanguíneos ou afins”, isso com o fim de proteger o patrimônio da família – salvo em caso de dolo.
Gonçalves observa: “Embora o § 1º em epígrafe não tenha incluído o companheiro ou companheira do segurado no referido rol, o fato de a Constituição Federal reconhecer a união estável como entidade familiar (art. 226, § 3º) e de os arts. 1.723 a 1.727 do CC terem regulamentado a aludida norma constitucional (...) permite que também não se admita a ação regressiva contra as tais pessoas, exceto em caso de dolo.”
A respeito da inafastabilidade da sub-rogação: os efeitos da sub-rogação não podem ser afastados nem afetados por qualquer ato do segurado, conforme previsão do § 2º do art. 786.
Contudo, o art. 800 do Código em análise prevê a vedação da sub-rogação em caso de seguro pessoal, e Gonçalves explica o motivo de tal vedação: “uma vez que o segurador não paga dívida do segurado, nem o indeniza por danos patrimoniais sofridos. Ele apenas paga, segundo esclarece José Augusto Delgado, um capital que foi ajustado para o caso de o evento acontecer e para que isso possa acontecer o segurado assumiu a obrigação de pagar, periodicamente, o prêmio ajustado.”
Já o art. 787 prevê o seguro de responsabilidade civil, que consiste na garantia em caso do segurado ser obrigado a pagar indenização por danos que causou a terceiro, danos os quais sejam resultantes de atos ilícitos, independentemente de ter ou não agido culposamente, transferindo-se essa obrigação ao segurador.
O § 1º do art. 787 dispõe que o segurado deve comunicar o segurador logo que saiba da possibilidade da necessidade da cobertura de dano causado a terceiro, isso porque, caso seja logo avisado, o segurador tem a chancede diminuir os danos. “Por essa razão, a omissão do segurado, salvo impedimento comprovado e desde que demonstrada a aludida possibilidade, exime o segurador da responsabilidade.” (GONÇALVES, 2012).
Quanto ao § 2º do artigo em comento, há proibição ao segurado de que ele reconheça sua responsabilidade, confesse a ação ou transija com o terceiro ou ainda o indenize diretamente. Gonçalves explica que há essa proibição para que não ocorra a frustração de eventual direito do segurador, já que é este que deverá fazer o pagamento ou reconhecer a culpa.
E, no § 3º do mesmo dispositivo 787, é prescrito que o segurado deve comunicar o segurador em caso de ação proposta contra si, isso por meio da denunciação da lide.
E o § 4º, ainda no art. 787, traz garantia de indenização ao terceiro prejudicado, pois deverá ser indenizado apesar da falência ou insolvência do segurador, já que, neste caso, é mantida a responsabilidade do segurado pela reparação dos danos.
É importante destacar que permanece “o princípio de que o causador do dano não tem sua responsabilidade afastada pelo fato de ter efetuado seguro contra risco do sinistro que o provocou. A finalidade do seguro é de apenas ressarcir o prejuízo do segurado.” (GONÇALVES, 2012).
Finalizando a seção do seguro de dano, o art. 788 do CC vigente prevê que, em caso de seguro de responsabilidade legalmente obrigatório, caso ocorra dano, o pagamento da indenização deve ser realizado “diretamente ao terceiro prejudicado, sem a participação ou intermediação de pessoas que possam, eventualmente, dele obter vantagens indevidas” (GONÇALVES, 2012), de forma imediata (efetuado independentemente da apuração da culpa).
É por força do Decreto-Lei nº 73/66 que é aplicada a teoria do risco em favor do segurado, nesse último caso de seguro. O pagamento da indenização deve ser efetuado no prazo máximo de quinze dias (art. 5º da Lei nº 6.194/74 – Seguro DPVAT).
Gonçalves explica que o “seguro obrigatório tem como objetivo garantir qualquer dano, seja em caso de morte, de invalidez permanente e de despesas de assistência médica e suplementar, decorrente da simples prova do acidente, independentemente da existência de culpa. A cobertura de danos pessoais abrange todas as pessoas que se encontrem no veículo sinistrado ou fora dele e que, em decorrência do acidente automobilístico, venham a ser lesionadas.”
No parágrafo único do art. 788 do CC de 2002, pode-se verificar a última disposição sobre os seguros de dano neste Códex, determinando que, caso a vítima lesionada demande contra a seguradora, ela não pode alegar o não cumprimento do contrato pelo segurado sem promover a citação deste para o contraditório.
Gonçalves ressalta ainda a disposição de que a vítima deve ser indenizada independentemente da identificação do veículo ou seguradora, “acionando o beneficiário do seguro qualquer das empresas seguradoras integrantes do consórcio securitário” (art. 7º da Lei n. 6.194/74 – Seguro DPVAT), “bem como que o terceiro prejudicado terá direito à indenização pelo sinistro, mesmo que não efetuado o pagamento do prêmio pelo segurado.”
6.2. Seguro de pessoa
Disciplinado nos arts. 789 a 802 do CC Brasileiro.
Através do que se entende das explicações de Gonçalves, a finalidade do seguro de pessoa é trazer benefícios à vida humana (não tem o caráter de indenizar, diferentemente do seguro de dano).
Segundo Mônica Queiroz, “no seguro de pessoa protege-se o ser humano, a sua vida, a sua saúde e as suas capacidades.”
Seu valor não depende de nenhum limite fixado, “e varia de acordo com a vontade e as condições financeiras do segurado, que pode fazer tantos seguros quantos desejar.” (GONÇALVES, 2012).
O seguro de pessoa, no geral, é regulado pelas mesmas disposições do seguro de dano, quais sejam as dispostas na seção “Disposições gerais” do CC de 2002 (arts. 757 a 777).
Contudo, Gonçalves transcreve trecho de Washington de Barros Monteiro que explica que há certas disposições sobre seguros em geral que não se aplicam aos seguros de pessoa: “nos seguros comuns de bens materiais, o segurado não pode segurar o objeto por mais do que ele efetivamente vale, nem pelo seu todo por mais de uma vez; já no seguro de pessoa, o segurado pode fazer quantos seguros quiser e pelo valor que entender (CC, art. 789); além disso, nos primeiros [seguro de dano], a apólice pode ser nominativa, à ordem ou ao portador, ao passo que, nos segundos [seguro de pessoa], a apólice não pode ser ao portador (CC, art. 760, parágrafo único)” (MONTEIRO).
Gonçalves ainda explica que o seguro de pessoa é modalidade de seguro denominada seguro de valores futuros, pois não se trata de indenização em razão de danos, mas sim para segurança financeira para o futuro, sendo seu objetivo fundamental o de prevenir dificuldades para o segurado. Mas, quando o seguro for de vida, previne-se dificuldades aos herdeiros ou protegidos, em razão da morte do segurado.
Essa modalidade abrange os seguros:
I) de vida;
II) de acidentes pessoais (Carlos Roberto Gonçalves explica que esse seguro se destina a garantir certas seguranças ao segurado, quando vitimado por um acidente coberto);
III) de natalidade;
IV) de pensão;
V) de aposentadoria e de invalidez; e o
VI) seguro-saúde.
Contudo, o art. 802 do CC de 2002 exclui expressamente o seguro-saúde do âmbito do CC, devendo ser disciplinado por legislação especial (Mônica Queiroz diz ser praticado pelos planos de saúde e regulado pela Lei n. 9.656/98 – Lei dos Planos de Saúde).
6.2.1. Seguro de vida individual
Segundo Gonçalves, trata-se do mais importante seguro de pessoas.
O valor do prêmio é calculado através de estimativa de tempo de vida do segurado. Em contrapartida, o segurador “se obriga a pagar ao beneficiário um capital ou uma renda, por morte do segurado ou para a hipótese de sobreviver por um prazo determinado.” (GONÇALVES, 2012).
Gonçalves ainda explica que o seguro de vida possui natureza jurídica aleatória e caráter de estipulação em favor de terceiros:
“(...) uma vez que, de um lado, se encontra o segurado, como estipulante; de outro, o segurador, como promitente-devedor; e, por fim, o beneficiário, como terceiro em favor de quem se faz a estipulação.” (GONÇALVES, 2012). (Grifo meu)
Mônica Queiroz traz sucinta explicação quanto ao objeto do contrato, dentro do tópico de seguro de pessoa. Já Gonçalves traz, dentro do subtópico seguro de vida, mais explicações, buscando em trechos de Silvio Rodrigues auxílio para escrever sobre as modalidades de seguro de vida. Tais modalidades se aproximam bastante, podendo ser citada o seguro de vida propriamente dito, ordinário de vida ou ainda tradicional (pela compreensão que se teve das leituras, é o que se poderia chamar de seguro de vida inteira), quando o objeto é o pagamento de determinada quantia a determina(s) pessoa(s), em caso de morte do segurado (paga-se anualmente e, quando da morte, há o pagamento do seguro).
Já o seguro de sobrevivência não é o pagamento de prêmio por prazo indeterminado até que ocorra a morte do seguro e, então, a transferência de indenização. O seguro de sobrevivência é aquele em que há prazo de pagamento: acabando tal prazo, se o segurado estiver vivo, recebe o capital estipulado no contrato; caso faleça dentro do prazo, a indenização é paga à(s) pessoa(s) apontada(s) por ele para receber(em) o capital. “É o caso, por exemplo, do seguro dotal” (conforme explica Silvio Rodrigues, em trecho transcrito por Gonçalves em sua obra).
Diante do já exposto, Gonçalves diz que “várias são as modalidades de seguro de vida admitidas”, e que “constantemente, surgem novas modalidades [de seguro de vida].” Posteriormente, observa que algumas modalidades encontram-se previstas no art. 796 do CC de 2002.
Ainda relacionado a isso, Mônica Queiroz explica que o seguro de vida pode ser em caso de morte ou em caso de vida, o que pode parecer contraditório, mas a autora explica que:
“(...) será para o caso de morte quando o beneficiário somente vier a merecer a indenização em virtude do falecimento do segurado.De outro lado, quando dizemos que o seguro de vida também poderá se dar para o caso de vida, aventamos a questão de o segurado, por exemplo, sofrer algum acidente ou incapacidade e permanecer vivo. (...) É a sobrevivência do segurado que justifica o pagamento da indenização.” (QUEIROZ, 2012). (Grifo meu)
Importante dizer-se também, ainda com base em leitura de Gonçalves, que é possível realização de seguro sobre a própria vida e sobre a vida de terceiro, sendo que, neste último caso, é preciso haver justificação do “interesse pela preservação da vida do segurado” (art. 790 do CC vigente). O interesse é presumido para cônjuge, ascendente e descendente (art. 790, parágrafo único, do mesmo Códex).
Gonçalves também faz compreender que é possível a substituição do beneficiário originário, “no curso do contrato, por ato inter vivos ou testamento, se o segurado, expressamente, não renunciar à faculdade, ou se o seguro não tiver como causa declarada a garantia de alguma obrigação (CC, art. 791)” (GONÇALVES, 2012).
Em seguro de vida, o segurado pode estipular livremente quem serão os beneficiários, podendo, até mesmo, não indicar nenhum parente, mas sim indicar apenas estranhos. Caso não haja nenhuma indicação, ou se por qualquer motivo não prevalecer a que for feita, a vontade do estipulante será suprida pela lei (benefício subsidiário, ordem preferencial de herdeiros – art. 792, caput e parágrafo único, do Código estudado).
Gonçalves utiliza-se de explicação fornecida por Caio Mário da Silva Pereira para expor a ideia de que, por força do art. 794 do CC de 2002, o seguro de vida (bem como o seguro de acidentes pessoais para o caso de morte) não se confunde com a herança, pois presume-se que a herança advém dos bens bem que já estão no patrimônio do falecido e que se transmitem devido à morte, já o valor devido pelo segurador a terceiro não faz parte disso – e não está sujeito à dívidas nem suporta o imposto de transmissão mortis causa.
Mônica Queiroz explica tal situação em seu tópico O capital segurado, dizendo que este “é impenhorável; sendo assim, não pode responder pelas dívidas do segurado. Então, quando o segurado falecer, ainda que este deixe dívidas, essas dívidas não poderão ser satisfeitas com o capital segurado.” (QUEIROZ, 2012).
Gonçalves também explica que o seguro de vida é de natureza privada e de cunho alimentar, não confundindo-se com o chamado seguro social.
O art. 795 do CC de 2002, frente a isso, proíbe que o valor que deve ser pago a título de seguro “seja utilizado para solucionar qualquer outra obrigação do segurado ou do beneficiário que acarrete diminuição do valor a receber” (GONÇALVES, 2012), ainda que através de transação, impossibilitando sua redução por transações estranhas à finalidade do seguro.
Gonçalves explica que é possível que seja estabelecido um prazo dentro do qual, caso ocorra sinistro, a seguradora não é responsabilizada (prazo de carência, art. 797 do CC de 2002). Nesse caso, a seguradora deve devolver a parte do prêmio já pago pelo segurado (art. 797, parágrafo único, do mesmo Códex).
O art. 798 do mesmo Códex estabelece limite temporal condicional para pagamento do capital segurado, dispositivo o qual “introduz lapso temporal no efeito da cobertura securitária em caso de suicídio do segurado” (GONÇALVES, 2012). Gonçalves ainda transcreve explicação de Jones Figueirêdo Alves, o qual diz que esse prazo de carência especial é denominado spatio deliberandi pela doutrina italiana.
O art. 799 do Código em tese traz proibição de recusa ao pagamento do capital do seguro, ainda que haja restrição contratual, in litteris: “se a morte ou a incapacidade do segurado provier da utilização de meio de transporte mais arriscado, da prestação de serviço militar, da prática de esporte, ou de atos de humanidade em auxílio de outrem.”
Quando esse dispositivo utiliza a expressão atos de humanidade em auxílio de outrem, Gonçalves recorre à explicação fornecida por José Augusto Delgado que diz que esses atos referem-se aos casos nos quais “alguém arrisca a própria vida para salvar a de outra pessoa; em legítima defesa de terceiro; para salvar alguém de incêndio, naufrágio ou outro meio violento, bem como o ato de doação de órgãos para salvar a vida do seu semelhante.”
Para finalizar o tópico, coloca-se a lição buscada por Gonçalves na obra de Caio Mário, que explica quanto ao beneficiário que seja autor do homicídio do segurado para poder receber o seguro: “não tem direito ao seguro, não só por falta de causa moral para a obrigação (...) como também porque a morte é condição do seu vencimento, e reputa-se não verificada a condição maliciosamente provocada por aquele a quem aproveita (CC, art. 129).”
6.2.2. Seguro de vida em grupo ou seguro coletivo
Segundo Gonçalves, trata-se de subespécie de seguro de vida.
Sua autorização está prevista no art. 801 do CC de 2002.
Enquanto que no seguro de vida individual, como já explanado acima, há o segurado como estipulante, o segurador como promitente-devedor, e o beneficiário em favor do qual se faz a estipulação, aqui no seguro coletivo há:
“o estipulante, que pode ser pessoa natural ou jurídica e, segundo dispõe o § 1º do aludido art. 801, “não representa o segurador perante o grupo segurado”, mas “é o único responsável, para com o segurador, pelo cumprimento de todas as obrigações contratuais”; o segurador e os segurados (grupo segurável, beneficiários).” (GONÇALVES, 2012). (Grifo meu)
Caso os segurados pretendam propor ação em desfavor da seguradora, devem propor diretamente à ela e não em face do estipulante, pois, conforme dispõe o dispositivo acima referido (art. 801), o estipulante não representa a seguradora perante o grupo de segurados.
Apesar disso, através da interpretação da parte final de tal artigo pode-se compreender que “o estipulante tem a responsabilidade, perante a seguradora, de fiscalizar o cumprimento de todas as obrigações pelo grupo contraídas, tendo em vista que foi sua a iniciativa de procurá-la para a celebração do ajuste.” (GONÇALVES, 2012).
Gonçalves explica que essa modalidade de seguro é contraída por uma seguradora e uma empresa ou associação (estipulante), em benefício dos empregados ou associados (segurados). Estes segurados irão desfrutar das vantagens da estipulação, e, em contrapartida, a estipulante pagará à seguradora um valor determinado e global.
O § 2º do art. 801 do Códex analisado traz quórum mínimo para alteração da apólice de seguro de vida coletivo (anuência expressa de 3/4 dos segurados do grupo). Isso porque, conforme Gonçalves, o legislador buscou proteger a estabilidade nas relações contratuais (equilíbrio contratual), trazendo proteção aos interesses da maioria.
Sobre tal quórum, Mônica Queiroz traz destaque não trazido por Gonçalves, qual seja o enunciado 375 do CJF:
“No seguro em grupo de pessoas, exige-se o quórum qualificado de 3/4 do grupo, previsto no § 2º do art. 801 do Código Civil, apenas quando as modificações impuserem novos ônus aos participantes ou restringirem seus direitos na apólice em vigor.” (Grifo meu)
A obra de Gonçalves traz também que uma característica importante do seguro de vida coletivo é que, apesar de estipulante e segurador serem fixos, o corpo do grupo segurável (beneficiários) pode sofrer constantes alterações com a saída e entrada de segurados. Por isso, estipulante “tem a obrigação de remeter ao segurador relação mensal dos atuais segurados e das mutações ocorridas, uma vez que o prêmio varia conforme o maior ou menor número de beneficiários.” (GONÇALVES, 2012).
Observe-se que, devido à grande quantidade de segurados, o exame médico prévio de cada segurado é normalmente substituído por uma declaração de estado de saúde do beneficiário. Gonçalves cita julgados, os quais, resumidamente, ditam que “se a seguradora dispensa o exame médico para admissão do segurado e não exige a aludida declaração sobre seu estado de saúde, não se pode negar ao pagamento da indenização alegando preexistência da doença que o vitimou.” (GONÇALVES, 2012).Esquematicamente, sobre algumas das espécies de seguro, conforme compreendeu-se das leituras das doutrinas apontadas, especialmente de Carlos Roberto Gonçalves:
7. OBRIGAÇÕES
São, de forma resumida, algumas das obrigações (e direitos) do segurador e do segurado as abaixo elencadas, a partir da leitura e análise dos dispositivos do CC Brasileiro de 2002:
7.1. Obrigações do segurador
(Todos são dispositivos do CC de 2002).
a) Arts. 757, 772, 776, 779 c/c 788 – pagar a indenização devida com a ocorrência do sinistro; arts. 781 c/c 783 – o pagamento da indenização diz respeito ao valor dado pela apuração real do prejuízo; art. 787 – pagamento de perdas e danos;
b) Arts. 765 c/c 773 – boa-fé e veracidade tanto na conclusão quanto execução do contrato, configurando má-fé se o segurador souber que não existe mais risco e, ainda assim, expede a apólice de seguro;
c) Art. 778 – direito de se exonerar da obrigação de garantia caso haja má-fé do segurado;
d) Art. 786 – direito de sub-rogação nos direitos e ações do segurado.
7.2. Obrigações do segurado
(Todos são dispositivos do CC de 2002).
a) Arts. 763 e 764 c/c 770 – pagamento do prêmio ao segurador;
b) Arts. 765, 766 e 784 – boa-fé e veracidade tanto na conclusão quanto execução do contrato;
c) Art. 768 – não agravar intencionalmente o risco objeto do contrato;
d) Art. 769 – informar o segurador todo incidente suscetível de agravar consideravelmente o risco coberto;
e) Arts. 771 c/c 787, §§ 1º e 3º – comunicar o sinistro ao segurador, logo que o saiba, e tomar providências imediatas para diminuir as consequências;
f) Art. 782 – informar ao segurador o interesse em obter novo seguro sobre o mesmo objeto e contra o mesmo risco junto a outro segurador.
8. PRAZOS PRESCRICIONAIS
O tópico de prazos prescricionais não é trazido na obra de Mônica Queiroz. Contudo Gonçalves trata deles para finalizar seu capítulo sobre contrato de seguro.
Basicamente, os prazos para prescrição estão regulados pelo art. 206, § 1º, II, letras a e b, e § 3º, IX, do CC de 2002, in verbis:
“Art. 206. Prescreve:
§ 1º Em um ano [prescrição ânua]:
(...)
II – a pretensão do segurado contra o segurador, ou a deste [segurador] contra aquele [segurado], contado o prazo:
a) para o segurado, no caso de seguro de responsabilidade civil, da data em que é citado para responder à ação de indenização proposta pelo terceiro prejudicado, ou da data que a este indeniza, com a anuência do segurador;
b) quanto aos demais seguros, da ciência do fato gerador da pretensão;
(...)
§ 3º Em três anos [prescrição trienal]:
IX – a pretensão do beneficiário contra o segurador, e a do terceiro prejudicado, no caso de seguro de responsabilidade civil obrigatório.” (Grifo meu)
Gonçalves trata ainda de ressaltar que o art. 200 do CC de 2002 prevê “causa que impede a prescrição ao determinar que, quando a ação se originar de fato que deva ser apurado no juízo criminal, não correrá a prescrição antes da respectiva sentença definitiva. Tal situação pode ocorrer, por exemplo, quando o dano ao bem segurado se origina de um incêndio supostamente criminoso ou de acidente automobilístico.”
CONCLUSÃO
Como já falado inicialmente no presente trabalho, a previsão do contrato de seguro encontra-se nos artigos 565 a 578 do Código Civil Brasileiro de 2002.
É possível compreender que o contrato de seguro, em conceito, trata-se de negócio jurídico típico com origem no período medieval pelo seguro marítimo, tendo como partes o segurador e o segurado (podendo também haver, segundo Carlos Roberto Gonçalves, o beneficiário), cujo principal elemento é o risco, sendo este [risco] transferido ao segurador que arca com os prejuízos, mediante adimplemento de prêmio (que pode ser parcelado) pelo segurado, caso ocorra sinistro (fato aleatório), pagando ao segurado (ou a terceiro determinado em contrato) o valor fixado da indenização.
A natureza jurídica do contrato de seguro é, além de típico (já dito acima), bilateral/sinalagmático, oneroso, aleatório, de adesão, consensual, unitário e, como aponta a doutrina de Flávio Tartuce, está ocorrendo o surgimento de corrente que o considera comutativo.
Também se compreende, ainda da leitura de Gonçalves, que os contratos de seguro podem ter classificação em obrigatórios ou não, sociais ou privados, e o privado pode ser subclassificado em terrestre, aéreo ou marítimo. O terrestre subclassifica-se em de dano e de pessoa, que é como o Código Civil divide as espécies de seguro: em duas seções – do seguro de dano (arts. 778 a 788) e seguro de pessoa (arts. 789 a 802). Gonçalves expõe que o seguro de pessoa pode ser de vida (individual ou coletivo), de acidente pessoal, bem como ter outras classificações. Sobre isso, destaque-se que o autor diz que o seguro de pessoa possui diferentes formas de classificação, uma vez que, constantemente, surgem novas modalidades de seguro de vida.
No seguro de dano, não existe o objetivo de obtenção de lucros ao segurado, mas sim a obtenção de garantia para que, caso ocorra sinistro, os prejuízos decorrentes dele sejam cobertos através de indenização paga pelo segurador. Já no seguro de pessoa, o objetivo é trazer benefícios à vida humana, não existindo o caráter indenizatório, diferentemente do seguro de dano, buscando-se, segundo Mônica Queiroz, proteger o ser humano, sua vida, saúde e afins.
Ocorre ainda que, em seguro de dano, há um limite de valor de indenização, podendo o valor [a ser pago] ser diferente do constante na avença, uma vez que não pode ocorrer enriquecimento ilícito de nenhuma das partes (art. 778, CC/02). Mas, em caso de seguro de pessoa, o valor da indenização não depende de nenhum limite fixado (art. 789, CC/02).
Os instrumentos contratuais tratam-se da apólice e do bilhete de seguro, podendo ser nominativos, à ordem ou ao portador, mas, quando o seguro for de pessoa, ambos não podem ser ao portador.
Com relação às obrigações e direitos tanto do segurador quanto do segurado, conclui-se que elas estão previstas em diversos artigos do Código Civil de 2002, tais como: quanto ao segurador: arts. 757, 772, 776, 779 c/c 788; arts. 781 c/c 783; art. 787; arts. 765 c/c 773; art. 778; e art. 786. E, quanto ao segurado: arts. 763 e 764 c/c 770; arts. 765, 766 e 784; art. 768; art. 769; arts. 771 c/c 787, §§ 1º e 3º; e art. 782.
Finalizando, conclui-se, a despeito dos prazos prescricionais, que encontram regulados no art. 206, § 1º, II, letras a e b, e § 3º, IX, do Código Civil de 2002, devendo ser observado, como bem lembra Gonçalves, o art. 200 do mesmo Códex.
REFERÊNCIAS
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro, vol. 3: Contratos e Atos Unilaterais. 9ª ed., São Paulo: Ed. Saraiva, 2012.
QUEIROZ, Mônica. Direito civil IV: Contratos em espécie e atos unilaterais, Coleção Saberes do Direito, vol. 18. São Paulo: Ed. Saraiva, 2012.
TARTUCE, Flávio. Direito Civil, vol. 3: Teoria Geral dos Contratos e Contratos em Espécie. 9ª ed. revisada, atualizada e ampliada, Rio de Janeiro: Ed. Forense – São Paulo: Ed. Método, 2014.

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