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Info 835 do STF

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Informativo 835-STF (26/08/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 1 
Márcio André Lopes Cavalcante 
 
 
 
Processos excluídos deste informativo esquematizado por não terem sido concluídos em virtude de pedidos de vista: RE 
211446 ED-ED/GO; RE 643247/SP. 
 
Julgado excluído por ter sido decidido com base em peculiaridades do caso concreto: HC 100612/SP. 
 
 
ÍNDICE 
 
DIREITO CONSTITUCIONAL 
COMPETÊNCIAS LEGISLATIVAS 
 Lei estadual que trata sobre a cobrança em estacionamento de veículos. 
 
MINISTÉRIO PÚBLICO 
 Conflito de atribuições envolvendo MPE e MPF deve ser dirimido pelo PGR. 
 
ADVOCACIA PÚBLICA 
 Legitimidade da ANADEP para questionar lei que equipara determinada carreira com a de Procurador do Estado. 
 
DIREITO ADMINISTRATIVO 
CONCURSO PÚBLICO 
 Restrição a candidatos com tatuagem. 
 
DIREITO PENAL 
DOSIMETRIA 
 Aumento da pena-base pelo fato de a concussão ter sido praticada por policial. 
 
CRIMES HEDIONDOS 
 Natureza hedionda do estupro e do antigo atentado violento ao pudor. 
 
DIREITO TRIBUTÁRIO 
PIS/PASEP 
 Incide PIS/PASEP sobre negócios jurídicos praticados por cooperativa com terceiros. 
 
DIREITO INTERNACIONAL 
COOPERAÇÃO JURÍDICA INTERNACIONAL 
 Oitiva de estrangeiro, preso por ordem do STF em processo de extradição. 
 
 
 
 
 
 
Informativo 835-STF (26/08/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 2 
DIREITO CONSTITUCIONAL 
 
COMPETÊNCIAS LEGISLATIVAS 
Lei estadual que trata sobre a cobrança em estacionamento de veículos 
 
É inconstitucional lei estadual que estabelece regras para a cobrança em estacionamento de 
veículos. 
STF. Plenário. ADI 4862/PR, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 18/8/2016 (Info 835). 
 
Lei do estacionamento fracionado 
No Paraná foi editada uma lei estadual prevendo que os estabelecimentos que possuem estacionamento 
pago deverão cobrar do consumidor valores fracionados de acordo com o tempo de permanência do 
cliente no local. 
Ex: suponhamos que o shopping cobrava R$ 6,00 de estacionamento para os clientes que ficassem acima 
de 30 minutos e até 3 horas no local. Assim, se o consumidor ficasse apenas 1 hora e meia, teria que pagar 
R$ 6,00. A lei aprovada determinou que os estabelecimentos devem cobrar por fração de hora, 
proporcional ao tempo que a pessoa ficou. Assim, se o cliente permaneceu somente 1 hora e meia, pela lei 
ele deveria pagar apenas R$ 3,00 (metade do valor inteiro). 
Veja a redação da referida Lei: 
Art. 1º Fica assegurada aos consumidores usuários de estacionamento de veículos localizados no âmbito 
do estado do Paraná, a cobrança proporcional ao tempo de serviço efetivamente prestado para a guarda 
do veículo, devendo a proporcionalidade ser calculada de acordo com a fração de hora utilizada, sem 
prejuízo dos demais direitos em face aos prestadores do serviço. 
Art. 2º O cálculo do serviço de estacionamento deverá ser feito de acordo com a efetiva permanência do 
veículo. 
 
A lei estadual acima explicada é constitucional? 
NÃO. 
 
É inconstitucional lei estadual que estabelece regras para a cobrança em estacionamento de veículos. 
STF. Plenário. ADI 4862/PR, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 18/8/2016 (Info 835). 
 
Qual é o motivo de a lei ser inconstitucional? 
Os Ministros que julgaram a ADI procedente ficaram divididos quanto ao fundamento pelo qual a lei é 
inconstitucional: 
 A lei é formalmente inconstitucional. Isso porque as regras sobre estacionamento de veículos inserem-
se no campo do Direito Civil e a competência para legislar sobre este assunto é da União, nos termos 
do art. 22, I, da CF/88. Nesse sentido: Ministros Gilmar Mendes e Dias Toffoli. 
 A lei é materialmente inconstitucional. Ela não trata sobre Direito Civil, mas sim sobre Direito do 
Consumidor, assunto que é de competência concorrente entre União e Estados/DF (art. 24, VIII, da 
CF/88). Logo, em tese, o Estado-membro poderia legislar sobre o tema. Ocorre que a referida lei 
estabelece um controle de preços, o que claramente viola o princípio constitucional da livre iniciativa 
(art. 170). Votaram dessa forma: Ministros Roberto Barroso, Cármen Lúcia e Rosa Weber. 
 
O Min. Marco Aurélio defendeu que a lei padece tanto de inconstitucionalidade formal (a competência 
seria privativa da União) como material (indevida intervenção da norma na iniciativa privada). 
 
 
 
 
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Existem diversos Municípios que possuem leis semelhantes a esta. Caso sejam questionadas, tais leis 
municipais que tratam sobre o tema também poderão ser declaradas inconstitucionais? 
SIM. Tanto as leis estaduais como também as municipais que estabeleçam regras de cobrança fracionada 
em estacionamentos são consideradas inconstitucionais. Assim, não muda nada o fato de a lei ser 
municipal ou estadual. 
Leis municipais que imponham cobrança fracionada serão também consideradas inconstitucionais, seja 
porque a competência para legislar sobre o tema é da União (argumento 1), seja porque violariam a livre 
iniciativa (argumento 2). 
 
 
 
MINISTÉRIO PÚBLICO 
Conflito de atribuições envolvendo MPE e MPF deve ser dirimido pelo PGR 
 
Cabe ao Procurador-Geral da República a apreciação de conflitos de atribuição entre órgãos do 
Ministério Público. 
Compete ao PGR, na condição de órgão nacional do Ministério Público, dirimir conflitos de 
atribuições entre membros do MPF e de Ministérios Públicos estaduais. 
STF. Plenário. ACO 1567 QO/SP, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 17/8/2016 (Info 835). 
STF. Plenário. ACO 924/PR, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 19/5/2016 (Info 826). 
 
Para maiores informações, reveja os comentários feitos no Informativo 826 do STF. 
 
 
 
ADVOCACIA PÚBLICA 
Legitimidade da ANAPE para questionar lei que equipara 
determinada carreira com a de Procurador do Estado 
 
A Associação Nacional dos Procuradores dos Estados e do Distrito Federal (ANAPE) tem 
legitimidade ativa para, via arguição de descumprimento de preceito fundamental (ADPF), 
questionar dispositivos de lei estadual que estabelece a isonomia de vencimentos entre as 
carreiras de Procurador estadual e de Delegado de Polícia. 
STF. Plenário. ADPF 328 AgR/MA, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o acórdão Min. Roberto 
Barroso, julgado em 18/08/2016 (Info 835). 
 
Imagine a seguinte situação adaptada: 
Determinada Lei do Estado do Maranhão estabelece que deverá haver isonomia remuneratória entre as 
remunerações recebidas pelas carreiras de Procurador do Estado e de Delegado de Polícia. 
A Associação Nacional dos Procuradores dos Estados e do Distrito Federal (ANAPE) ingressou com Arguição 
de Descumprimento de Preceito Fundamental contra esta lei (que é anterior ao texto atual da CF/88). 
Ocorre que a legitimidade da ANAPE foi questionada sob o argumento de que faltaria a esta associação 
pertinência temática para ingressar com a ação contra a norma. 
 
A ANAPE possui legitimidade neste caso concreto? 
SIM. 
 
 
 
 
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A Associação Nacional dos Procuradores dos Estados e do Distrito Federal (ANAPE) tem legitimidade 
ativa para, via arguição de descumprimento de preceito fundamental (ADPF), questionar dispositivos de 
lei estadual que estabelece a isonomia de vencimentos entre as carreiras de Procurador estadual e de 
Delegado de Polícia. 
STF. Plenário. ADPF 328 AgR/MA, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o acórdão Min. Roberto Barroso, 
julgado em 18/08/2016 (Info 835). 
 
A ANAPE se insurge contra lei que equipara determinada carreira com a de Procurador do Estado. Logo, é 
certo que esta lei afeta a esfera de interesse jurídico tutelado pela entidade. 
 
 
 
DIREITO ADMINISTRATIVO 
 
CONCURSO PÚBLICO
Restrição a candidatos com tatuagem 
 
Importante!!! 
Editais de concurso público não podem estabelecer restrição a pessoas com tatuagem, salvo 
situações excepcionais em razão de conteúdo que viole valores constitucionais. 
STF. Plenário. RE 898450/SP, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 17/8/2016 (repercussão geral) (Info 835). 
 
Imagine a seguinte situação hipotética: 
João prestou concurso para soldado da Polícia Militar. 
O edital do certame previa restrições para candidatos que possuem tatuagens. 
Segundo o edital, seriam excluídos do concurso candidatos que possuíssem tatuagens localizadas em regiões 
do corpo que ficassem visíveis quando o indivíduo estivesse usando short e camisa (ex: antebraço). 
João foi aprovado em todas as fases, mas eliminado do concurso porque possui uma tatuagem tribal, 
medindo 14 por 13 cm na panturrilha. 
 
É possível que o edital do concurso preveja a eliminação do candidato pelo simples fato de ter uma 
tatuagem? Essa previsão é válida? 
 Regra: NÃO. Em regra, os editais de concurso não podem estabelecer restrição a pessoas com tatuagem. 
 Exceção: é possível que o edital imponha restrições a candidatos que possuam tatuagens cujo 
conteúdo viole valores constitucionais. 
 
O STF, ao analisar o tema em sede de repercussão geral, fixou a seguinte tese: 
Editais de concurso público não podem estabelecer restrição a pessoas com tatuagem, salvo situações 
excepcionais em razão de conteúdo que viole valores constitucionais. 
STF. Plenário. RE 898450/SP, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 17/8/2016 (repercussão geral) (Info 835). 
 
Restrições a cargos públicos somente podem estar relacionadas com o exercício das funções 
Qualquer obstáculo a acesso a cargo público deve estar relacionado unicamente ao exercício das funções 
como, por exemplo, idade ou altura que impossibilitem o exercício de funções específicas. 
A criação de barreiras arbitrárias para impedir o acesso de candidatos a cargos públicos fere os princípios 
constitucionais da isonomia e da razoabilidade. 
 
 
 
 
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No passado, a tatuagem foi associada a setores marginais da sociedade 
A tatuagem, no passado, especialmente durante o século XIX, era uma prática associada a determinados 
grupos sociais que viviam à margem da sociedade, sendo conhecida como "flor do presídio". 
Desse modo, durante muitos anos, no imaginário social a tatuagem foi vista como marca da marginalidade 
e da delinquência. 
Segundo os sociólogos, no entanto, o sentido estigmatizador do uso da tatuagem começou a mudar a 
partir da década de 80. 
 
Tatuagem é forma de liberdade de manifestação 
O certo é que, atualmente, a tatuagem, por si só, não pode ser confundida como uma transgressão ou 
conduta atentatória aos bons costumes. 
Não há qualquer ligação objetiva e direta entre o fato de um cidadão possuir tatuagens em seu corpo e 
uma suposta conduta atentatória à moral, aos bons costumes ou ao ordenamento jurídico. 
A decisão do indivíduo fazer uma tatuagem está diretamente relacionada com a sua liberdade de 
pensamento e de expressão (art. 5º, IV e IX, da CF/88). 
 
Restringir o acesso de candidato tatuado é forma de discriminação arbitrária 
Não é razoável restringir o acesso do candidato a uma função pública pelo simples fato de possuir 
tatuagem. Esta restrição é flagrantemente discriminatória e carente de qualquer justificativa racional que 
a ampare. 
O fato de uma pessoa possuir tatuagens, visíveis ou não, não pode ser tratado pelo Estado como 
parâmetro discriminatório quando do deferimento de participação em concursos de provas e títulos para 
ingresso em carreira pública. Isso porque o fato de o candidato possuir tatuagem não macula, por si, sua 
honra pessoal, o profissionalismo, o respeito às Instituições e, muito menos, lhe diminui a competência. 
O respeito à democracia não se dá apenas na realização de eleições livres, mas também quando se 
permite aos cidadãos se manifestarem da forma que quiserem, desde que isso não represente ofensa 
direta a grupos ou princípios e valores éticos. 
O desejo de se expressar por meio de pigmentação definitiva não pode ser obstáculo a que um cidadão 
exerça cargo público. Um policial não se torna melhor ou pior em suas funções apenas por ter tatuagem. 
O Estado não pode querer representar o papel de adversário da liberdade de expressão, impedindo que 
candidatos em concurso ostentem tatuagens ou marcas corporais que demonstrem simpatia por ideais 
que não sejam ofensivos aos preceitos e valores protegidos pela Constituição Federal. 
 
Exceções 
Vale ressaltar, entretanto, que é possível que a Administração Pública impeça o acesso do candidato se a 
tatuagem que ele possui tiver um conteúdo que viole os valores previstos na Constituição Federal. É o 
caso, por exemplo, de tatuagens que contenham obscenidades, ideologias terroristas, que sejam 
discriminatórias, que preguem a violência e a criminalidade, a discriminação de raça, credo, sexo ou 
origem. Isso porque tais temas são, inegavelmente, contrários às instituições democráticas. Se a 
Administração proibir tatuagens como essa, não será uma prática desarrazoada ou desproporcional. 
 
Previsão legal 
Reputo importante mencionar que, no âmbito das Forças Armadas, existem leis que tratam sobre o tema e 
que estão em harmonia com o que decidiu o STF. Veja: 
 
Lei nº 11.279/2006 (Marinha): 
Art. 11-A. A matrícula nos cursos que permitem o ingresso nas Carreiras da Marinha depende de 
aprovação prévia em concurso público, atendidos os seguintes requisitos, dentre outros estabelecidos, 
decorrentes da estrutura e dos princípios próprios dos militares: 
(...) 
XII - não apresentar tatuagem que, nos termos de detalhamento constante de normas do Comando da 
 
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Marinha, faça alusão a ideologia terrorista ou extremista contrária às instituições democráticas, a 
violência, a criminalidade, a ideia ou ato libidinoso, a discriminação ou preconceito de raça, credo, sexo ou 
origem ou, ainda, a ideia ou ato ofensivo às Forças Armadas; 
 
Lei nº 12.464/2011 (Aeronáutica): 
Art. 20. Para o ingresso na Aeronáutica e habilitação à matrícula em um dos cursos ou estágios da 
Aeronáutica destinados à formação ou adaptação de oficiais e de praças, da ativa e da reserva, o candidato 
deverá atender aos seguintes requisitos: 
(...) 
XVII - não apresentar tatuagem no corpo com símbolo ou inscrição que afete a honra pessoal, o pundonor 
militar ou o decoro exigido aos integrantes das Forças Armadas que faça alusão a: 
a) ideologia terrorista ou extremista contrária às instituições democráticas ou que pregue a violência ou a 
criminalidade; 
b) discriminação ou preconceito de raça, credo, sexo ou origem; 
c) ideia ou ato libidinoso; e 
d) ideia ou ato ofensivo às Forças Armadas ou à sociedade; 
 
Lei nº 12.705/2012 (Exército): 
Art. 2º A matrícula para o ingresso nos cursos de formação de oficiais e sargentos de carreira do Exército 
depende de aprovação prévia em concurso público, atendidos os seguintes requisitos, dentre outros 
estabelecidos na legislação vigente: 
(...) 
VIII - não apresentar tatuagens que, nos termos de detalhamento constante de normas do Comando do 
Exército: 
a) faça alusão a ideologia terrorista ou extremista contrária às instituições democráticas, a violência, a 
criminalidade, a ideia ou ato libidinoso, a discriminação ou preconceito de raça, credo, sexo ou origem ou, 
ainda, a ideia ou ato ofensivo às Forças Armadas; 
 
Voltando ao exemplo dado: 
No caso concreto, o STF considerou que a conduta da Administração Pública de eliminar João não foi 
correta porque a tatuagem tribal não se mostra contrária aos valores previstos na Constituição Federal, 
sendo legítima manifestação de expressão do
indivíduo. 
 
 
 
DIREITO PENAL 
 
DOSIMETRIA 
Aumento da pena-base pelo fato de a concussão ter sido praticada por policial 
 
É legítima a utilização da condição pessoal de policial civil como circunstância judicial 
desfavorável para fins de exasperação da pena-base aplicada a acusado pela prática do crime 
de concussão. 
Aquele que está investido de parcela de autoridade pública — como é o caso de um juiz, um 
membro do Ministério Público ou uma autoridade policial — deve ser avaliado, no desempenho da 
sua função, com maior rigor do que as demais pessoas não ocupantes de tais cargos. 
STF. 1ª Turma. HC 132990/PE, rel. orig. Min. Luiz Fux, red. p/ o acórdão Min. Edson Fachin, julgado 
em 16/8/2016 (Info 835). 
 
 
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Imagine a seguinte situação adaptada: 
João, policial civil, foi condenado pela prática do crime de concussão (art. 316 do CP). 
No momento da dosimetria, na 1ª fase (circunstâncias judiciais), o magistrado aumentou a pena-base sob 
o argumento de que havia acentuada culpabilidade, já que o delito foi cometido por policial, pessoa 
encarregada de garantir a segurança pública dos cidadãos. 
A defesa recorreu contra este ponto alegando que a majoração da pena com base neste argumento 
configura bis in idem. Isso porque a concussão é um crime que só pode ser praticado por funcionário 
público. Logo, o fato de o agente ser policial teria sido utilizado duas vezes. 
 
O argumento invocado pela defesa foi aceito pelo STF? Houve bis in idem neste caso? A decisão do 
magistrado foi equivocada? 
NÃO. 
 
É legítima a utilização da condição pessoal de policial civil como circunstância judicial desfavorável para 
fins de exasperação da pena-base aplicada a acusado pela prática do crime de concussão. 
STF. 1ª Turma. HC 132990/PE, rel. orig. Min. Luiz Fux, red. p/ o acórdão Min. Edson Fachin, julgado em 
16/8/2016 (Info 835). 
 
O delito previsto no art. 316 do CP realmente só pode ser praticado por funcionário público. No entanto, é 
possível que o magistrado, ao fazer a dosimetria da pena, analisando as circunstâncias do art. 59 do CP, 
aumente a pena invocando a qualidade específica ou a qualificação do funcionário público. 
Dentro do Estado Democrático de Direito e do país que se almeja construir, o fato de uma autoridade 
pública — no caso, uma autoridade policial — obter vantagem indevida de alguém que esteja praticando 
um delito compromete de maneira grave o fundamento de legitimidade da autoridade, que é o de atuar 
pelo bem comum e pelo bem público. Portanto, aquele que está investido de parcela de autoridade 
pública — como é o caso de um juiz, um membro do Ministério Público ou uma autoridade policial — deve 
ser avaliado, no desempenho da sua função, com maior rigor do que as demais pessoas. 
 
 
CRIMES HEDIONDOS 
Natureza hedionda do estupro e do antigo atentado violento ao pudor 
 
Os crimes de estupro e atentado violento ao pudor, mesmo que cometidos antes da edição da 
Lei nº 12.015/2009, são considerados hediondos, ainda que praticados na forma simples. 
Em outras palavras, seja antes ou depois da Lei nº 12.015/2009, toda e qualquer forma de 
estupro (ou atentado violento ao pudor) é considerada crime hediondo, sendo irrelevante que a 
prática de qualquer deles tenha causado, ou não, lesões corporais de natureza grave ou morte. 
STF. 1ª Turma. HC 100612/SP, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o acórdão Min. Roberto Barroso, 
julgado em 16/8/2016 (Info 835). 
 
Redação original do CP 
Na redação original do Código Penal, havia a previsão tanto do crime de “estupro” (art. 213) como do 
delito de “atentado violento ao pudor” (art. 214). A diferença entre eles era a seguinte: 
 estupro: o agente constrangia a vítima para obrigá-la a ter conjunção carnal (= coito vaginal); 
 atentado violento ao pudor: o agente constrangia a vítima para obrigá-la a praticar outros atos 
libidinosos diferentes da conjunção carnal. Exs.: coito anal, sexo oral etc. 
 
Lei nº 12.015/2009 
A Lei nº 12.015/09 alterou o panorama acima explicado e reuniu, em um só tipo penal, as condutas de 
conjunção carnal e de outras espécies de ato libidinoso. 
 
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Agora, tanto faz: se o agente constrange a vítima (homem ou mulher) a praticar conjunção carnal ou a 
realizar qualquer outro ato libidinoso, terá cometido o crime de estupro. 
O crime de atentado violento ao pudor foi transportado para dentro do delito de estupro. Compare: 
Redação original Depois da Lei 12.015/2009 (atualmente) 
Art. 213. Constranger mulher à conjunção carnal, 
mediante violência ou grave ameaça: 
Art. 214. Constranger alguém, mediante violência 
ou grave ameaça, a praticar ou permitir que com 
ele se pratique ato libidinoso diverso da conjunção 
carnal: 
Art. 213. Constranger alguém, mediante violência 
ou grave ameaça, a ter conjunção carnal ou a 
praticar ou permitir que com ele se pratique outro 
ato libidinoso: 
Art. 214: foi revogado e a sua conduta passou a 
ser descrita no art. 213. 
 
Estupro de vulnerável 
Outra inovação da Lei nº 12.015/2009 foi acrescentar o art. 217-A ao Código Penal, criando um novo 
delito, chamado de “estupro de vulnerável”: 
Estupro de vulnerável 
Art. 217-A. Ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso com menor de 14 (catorze) anos: 
Pena - reclusão, de 8 (oito) a 15 (quinze) anos. 
 
Antes do art. 217-A, as condutas de praticar conjunção carnal ou ato libidinoso com menor de 14 anos 
poderiam ser consideradas crime? 
SIM. Tais condutas poderiam se enquadrar nos crimes previstos no art. 213 c/c art. 224, “a” (estupro com 
violência presumida, por ser menor de 14 anos) ou art. 214 c/c art. 224, “a” (atentado violento ao pudor 
com violência presumida, por ser menor de 14 anos), todos do Código Penal, com redação anterior à Lei 
n. 12.015/2009. 
Desse modo, apesar dos arts. 214 e 224 do CP terem sido revogados pela Lei n. 12.015/2009, não houve 
abolitio criminis dessas condutas, ou seja, continua sendo crime praticar ato libidinoso com menor de 14 
anos. No entanto, essas condutas, agora, são punidas pelo art. 217-A do CP. O que houve, portanto, foi a 
continuidade normativa típica, que ocorre quando uma norma penal é revogada, mas a mesma conduta 
continua sendo crime no tipo penal revogador, ou seja, a infração penal continua tipificada em outro 
dispositivo, ainda que topologicamente ou normativamente diverso do originário. 
 
Atualmente, o crime de estupro simples (art. 213, caput, do CP) e de estupro de vulnerável são 
considerados hediondos? 
SIM. Isso está previsto expressamente no art. 1º, V e VI, da Lei nº 8.072/90: 
Art. 1º São considerados hediondos os seguintes crimes, todos tipificados no Decreto-Lei no 2.848, de 7 
de dezembro de 1940 - Código Penal, consumados ou tentados: 
(...) 
V - estupro (art. 213, caput e §§ 1º e 2º); (Redação dada pela Lei nº 12.015/2009) 
VI - estupro de vulnerável (art. 217-A, caput e §§ 1º, 2º, 3º e 4º); (Redação dada pela Lei nº 12.015/2009) 
 
E antes da Lei nº 12.015/09, o estupro e o atentado violento ao pudor eram considerados hediondos? 
SIM. 
 
Os crimes de estupro e atentado violento ao pudor, mesmo que cometidos antes da edição da Lei nº 
12.015/2009 e mesmo que praticados na forma simples, eram considerados crimes hediondos. 
STF. 1ª Turma. HC 100612/SP, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o acórdão Min. Roberto Barroso, 
julgado em 16/8/2016 (Info 835). 
 
Este também é o entendimento do STJ: 
(...) 1. Os crimes de estupro e atentado violento ao pudor, ainda que em sua forma simples, configuram 
 
Informativo 835-STF (26/08/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 9 
modalidades de crime hediondo porque o bem jurídico tutelado
é a liberdade sexual e não a integridade 
física ou a vida da vítima, sendo irrelevante, para tanto, que a prática dos ilícitos tenha resultado lesões 
corporais de natureza grave ou morte. 
2. As lesões corporais e a morte são resultados que qualificam o crime, não constituindo, pois, elementos 
do tipo penal necessários ao reconhecimento do caráter hediondo do delito, que exsurge da gravidade 
mesma do crimes praticados contra a liberdade sexual e merecem tutela diferenciada, mais rigorosa. 
Precedentes do STJ e STF. (...) 
STJ. 3ª Seção. REsp 1110520/SP, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 26/09/2012. 
 
Para facilitar: seja antes ou depois da Lei nº 12.015/2009, toda e qualquer forma de estupro (ou atentado 
violento ao pudor) é considerada crime hediondo, sendo irrelevante que a prática de qualquer deles tenha 
causado, ou não, lesões corporais de natureza grave ou morte. 
 
 
 
DIREITO TRIBUTÁRIO 
 
PIS/PASEP 
Incide PIS/PASEP sobre negócios jurídicos praticados por cooperativa com terceiros 
 
A receita auferida pelas cooperativas de trabalho decorrentes dos atos (negócios jurídicos) 
firmados com terceiros se insere na materialidade da contribuição ao PIS/PASEP. 
STF. Plenário. RE 599362/RJ ED, Rel. Min. Dias Toffoli julgado em 18/08/2016 (repercussão geral) 
(Info 835). 
 
O que é o chamado PIS? 
PIS é uma espécie de contribuição de seguridade social, instituída pela União, e destinada a custear os 
serviços de saúde, previdência e assistência social (art. 194 da CF/88). 
Atualmente, o PIS é chamado de PIS/PASEP. 
Existem outras modalidades de PIS, como o PIS-folha e o PIS-Importação. No presente julgado estamos 
tratando apenas do PIS/PASEP que tem como fato gerador o faturamento. 
 
A grande dúvida era a seguinte: incide PIS/PASEP sobre as receitas auferidas pelas cooperativas de 
trabalho decorrentes dos negócios que elas pratiquem com terceiros (não cooperados)? Por exemplo, 
incide PIS/PASEP sobre o faturamento obtido por uma cooperativa de médicos com os serviços prestados 
aos usuários? 
SIM. Incide o PIS/PASEP sobre atos ou negócios jurídicos praticados por cooperativa prestadora de serviço 
com terceiros tomadores de serviço, resguardadas apenas as exclusões e deduções legalmente previstas. 
Foi o que decidiu o STF no julgamento do RE 599362/RJ, Rel. Min. Dias Toffoli, ocorrido em 5 e 6/11/2014. 
 
A CF/88 afirmou que lei complementar deveria conferir “adequado tratamento tributário ao ato cooperativo 
praticado pelas sociedades cooperativas” (art. 146, III, “c”). Isso significa que a CF/88 não conferiu imunidade 
tributária às cooperativas, tendo apenas determinado a existência de tratamento diferenciado. 
É certo que o legislador constituinte demonstrou clara vontade de fomentar a criação de organizações 
cooperativistas. No entanto, por outro, também é preciso destacar que o financiamento da seguridade 
social é universal, devendo ser suportado por toda a sociedade (art. 195), dentre elas as cooperativas. 
Enquanto não for editada a lei complementar de que trata o art. 146, III, “c”, da CF/88, o tratamento 
tributário a ser empregado às cooperativas será aquele previsto na legislação de cada tributo, não se 
podendo conceder imunidade ou não incidência. 
 
Informativo 835-STF (26/08/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 10 
Desse modo, o STF declarou que incide contribuição ao PIS/PASEP sobre os atos (negócios jurídicos) 
praticados pelas cooperativas com terceiros tomadores de serviço, resguardadas as exclusões e deduções 
previstas em lei. 
 
Embargos de declaração 
Uma cooperativa, que era parte no processo, opôs embargos de declaração contra o acórdão acima 
pedindo esclarecimentos sobre quais atos estariam alcançados pela decisão. 
A embargante indagou se a decisão do RE 599362/RJ valeria apenas para os atos externos das 
cooperativas. Em outras palavras, a embargante queria confirmar que haverá tributação de PIS/PASEP 
apenas quando a cooperativa praticar atos (negócios jurídicos) com terceiros. 
 
Esclarecimentos nos embargos 
O STF acolheu os embargos de declaração para prestar esclarecimentos, sem efeitos infringentes. Em 
outras palavras, o STF aceitou os embargos apenas para reafirmar aquilo que ele já havia julgado. Como no 
primeiro julgamento não tinha sido fixada uma tese geral, os Ministros aproveitaram para fazer isso agora, 
apenas explicitando o decidido. A tese ficou assim: 
A receita auferida pelas cooperativas de trabalho decorrentes dos atos (negócios jurídicos) firmados 
com terceiros se insere na materialidade da contribuição ao PIS/PASEP. 
STF. Plenário. RE 599362/RJ ED, Rel. Min. Dias Toffoli julgado em 18/08/2016 (repercussão geral) (Info 835). 
 
 
 
DIREITO INTERNACIONAL 
 
COOPERAÇÃO JURÍDICA INTERNACIONAL 
Oitiva de estrangeiro, preso por ordem do STF em processo de extradição 
 
A oitiva de estrangeiro, preso por ordem do STF em processo de extradição, enquadra-se como 
providência a ser cumprida por meio de auxílio direto. 
Compete ao STF apreciar o pedido de cooperação jurídica internacional na hipótese em que 
solicitada, via auxílio direto, a oitiva de estrangeiro custodiado no Brasil por força de decisão 
exarada em processo de extradição. 
STF. 1ª Turma. Pet 5946/DF, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o acórdão Min. Edson Fachin, 
julgado em 16/8/2016 (Info 835). 
 
Imagine a seguinte situação adaptada: 
Michael, cidadão irlandês, estava sendo procurado pela Interpol por conta de crimes que teria praticado 
na Irlanda, tendo sido preso no Brasil. 
A Irlanda pediu a extradição de Michael e, enquanto o STF não decide o pleito, ele segue preso. 
Ocorre que Michael também está sendo investigado por crimes que teria cometido em Portugal. 
Diante disso, o Ministério Público português enviou à Procuradoria-Geral da República no Brasil um pedido 
de cooperação jurídica internacional solicitando que Michael seja ouvido aqui a respeito desses fatos e seu 
depoimento seja enviado a Portugal. 
O pedido feito pelo Ministério Público português ao Ministério Público federal brasileiro foi realizado com 
base em um tratado bilateral de cooperação jurídica internacional existente entre Brasil e Portugal. 
 
Este pedido formulado é o mesmo que uma carta rogatória? O que Portugal enviou ao Brasil foi uma 
carta rogatória? 
NÃO. No caso concreto, o que Portugal fez foi um pedido de auxílio direto, que é uma forma de 
cooperação jurídica internacional diferente da carta rogatória. 
 
Informativo 835-STF (26/08/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 11 
A oitiva de estrangeiro, preso por ordem do STF em processo de extradição, enquadra-se como 
providência a ser cumprida por meio de auxílio direto. 
STF. 1ª Turma. Pet 5946/DF, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o acórdão Min. Edson Fachin, julgado em 
16/8/2016 (Info 835). 
 
O auxílio direto consiste na obtenção de providências em jurisdição estrangeira, de acordo com a 
legislação do Estado requerido, por meio de autoridades centrais indicadas em tratado internacional. No 
auxílio direto, ao contrário da carta rogatória, não é necessário prévio juízo de delibação a ser proferido 
pelo STJ. Em outras palavras, não é necessário exequatur. 
 
O pedido feito pelo Ministério Público português não se destina à execução de decisão estrangeira no Brasil, ou 
seja, não haverá produção de efeitos jurídicos no país. Cuida-se apenas de oitiva destinada a instruir 
persecução penal em curso em Portugal, não havendo necessidade de concessão de exequatur ao pleito. 
Não há, nesta situação, a obrigatoriedade de a medida requerida ser cumprida no Brasil por meio de carta 
rogatória, sendo suficiente o auxílio direto (arts. 28 a 34 do CPC), medida simplificada de cooperação 
internacional. 
 
Cooperação jurídica internacional 
Cooperação jurídica internacional "é o meio pelo qual os
entes estatais se articulam para colaborar com a 
solução de processos judiciais que correm em outros Estados" (PORTELA, Paulo Henrique Gonçalves. 
Direito Internacional Público e Privado. 8ª ed., Salvador: Juspodivm, 2016, p. 699). 
 
Existem diversos instrumentos de cooperação jurídica internacional, podendo ser destacados os seguintes: 
a) auxílio direto; 
b) carta rogatória; 
c) cooperação por meio de tratados específicos (ex: sequestro internacional de crianças); 
d) homologação de sentença estrangeira; 
e) extradição. 
 
Dessa forma, cooperação jurídica internacional é um gênero e o auxílio direto uma de suas espécies. 
 
Veja como o tema foi cobrado em prova: 
(PFN 2012 ESAF) No Brasil, os instrumentos de cooperação jurídica internacional são o auxílio direto, a 
homologação de sentença estrangeira, a carta rogatória e a extradição (mesmo que estes não estejam 
todos previstos na Constituição da República Federativa do Brasil). (CERTO) 
 
Para que serve a cooperação jurídica internacional? Que tipo de cooperação o Brasil pode fornecer a um 
país estrangeiro e vice-versa? 
A cooperação jurídica internacional pode ter por objeto: 
I - citação, intimação e notificação judicial e extrajudicial; 
II - colheita de provas e obtenção de informações; 
III - homologação e cumprimento de decisão; 
IV - concessão de medida judicial de urgência; 
V - assistência jurídica internacional; 
VI - qualquer outra medida judicial ou extrajudicial não proibida pela lei brasileira. 
 
Regras 
As regras da cooperação jurídica internacional são previstas no tratado que o Brasil celebra (art. 26, caput, 
do CPC). Ex: tratado bilateral Brasil-Portugal. 
Se não houver tratado, a cooperação jurídica internacional deverá ser realizada com base na 
reciprocidade, manifestada por via diplomática (art. 26, § 1º, do CPC). Em outras palavras, as autoridades 
 
Informativo 835-STF (26/08/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 12 
diplomáticas brasileiras entram em contato com as autoridades diplomáticas estrangeiras e combinam 
que, mesmo sem tratado, será assegurado igual tratamento para o Brasil caso um dia venhamos a 
necessitar de auxílio daquele país para a prática de atos processuais. 
Obs1: para que uma sentença estrangeira seja homologada em nosso país não se exige tratado nem 
reciprocidade (art. 26, § 2º, do CPC). 
Obs2: na cooperação jurídica internacional não será admitida a prática de atos que contrariem ou que 
produzam resultados incompatíveis com as normas fundamentais que regem o Estado brasileiro (art. 26, § 3º). 
Obs3: o CPC trata sobre cooperação jurídica internacional em seus arts. 26 a 41. Vale ressaltar que tais 
disposições, apesar de estarem no CPC, podem ser utilizadas também no processo penal (art. 3º do CPP). 
 
Auxílio direto 
O auxílio direto é uma forma de cooperação jurídica internacional mais simplificada. 
No auxílio direto, a providência solicitada é cumprida no Brasil mesmo sem exequatur, ou seja, de modo 
muito mais rápido. 
O auxílio direto foi disciplinado pelo art. 28 do CPC: 
Art. 28. Cabe auxílio direto quando a medida não decorrer diretamente de decisão de autoridade 
jurisdicional estrangeira a ser submetida a juízo de delibação no Brasil. 
 
Normalmente, a possibilidade de o Brasil conceder auxílio direto a determinado país está previsto em 
tratado internacional com ele firmado. No entanto, mesmo que não haja, é possível esta forma de 
cooperação com base no princípio da reciprocidade. 
 
Veja como o tema já foi cobrado em prova: 
(Juiz Federal TRF2 2014) O auxílio direto é espécie do gênero cooperação jurídica internacional e consiste 
na assistência que a autoridade nacional presta à autoridade estrangeira requerente por meio de um 
procedimento nacional. Como regra, deve estar previsto em tratado internacional e prescinde da 
concessão de exequatur pelo Superior Tribunal de Justiça. (CERTO) 
 
Autoridade central 
No auxílio direto, a autoridade do país estrangeiro encaminha o pedido de cooperação para uma 
autoridade no Brasil responsável por receber tais solicitações. Esta autoridade é chamada de "autoridade 
central". Confira o que diz o CPC: 
Art. 29. A solicitação de auxílio direto será encaminhada pelo órgão estrangeiro interessado à autoridade 
central, cabendo ao Estado requerente assegurar a autenticidade e a clareza do pedido. 
 
A autoridade central é, portanto, o órgão responsável por receber e enviar os pedidos de cooperação 
jurídica internacional, fazendo antes um juízo de admissibilidade quanto às formalidades. Tem também a 
função de acompanhar os pedidos, zelando para que a cooperação seja realizada com êxito. 
 
Normalmente, o tratado internacional que é firmado pelo Brasil com o Estado estrangeiro já prevê quem 
exercerá o papel de "autoridade central" em cada país. Algumas vezes, a lei interna do país é quem define. 
Na ausência de designação específica, o Ministério da Justiça é quem exercerá as funções de autoridade 
central em nosso país (art. 26, § 4º). No Ministério da Justiça existe um departamento apenas para cuidar 
da cooperação jurídica internacional (DRCI), nos termos do Decreto nº 8.668/2016. 
 
Além do Ministério da Justiça, alguns outros tratados internacionais preveem como autoridades centrais 
no Brasil para determinados casos: a Procuradoria-Geral da República e a Secretaria de Direitos Humanos 
da Presidência da República. 
 
Art. 31. A autoridade central brasileira comunicar-se-á diretamente com suas congêneres e, se necessário, 
com outros órgãos estrangeiros responsáveis pela tramitação e pela execução de pedidos de cooperação 
enviados e recebidos pelo Estado brasileiro, respeitadas disposições específicas constantes de tratado. 
 
Informativo 835-STF (26/08/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 13 
 
Auxílio direto sem necessidade do Poder Judiciário 
Na maioria dos casos, a providência requerida no auxílio direto pode ser cumprida no Brasil sem a 
necessidade de provocação do Poder Judiciário. Nesta hipótese, a própria autoridade central já toma as 
providências necessárias e remete o resultado para a autoridade estrangeira. Nesse sentido: 
Art. 32. No caso de auxílio direto para a prática de atos que, segundo a lei brasileira, não necessitem de 
prestação jurisdicional, a autoridade central adotará as providências necessárias para seu cumprimento. 
 
Ex: a autoridade de um Estado estrangeiro poderá requerer, por auxílio direto, informações a respeito dos 
bens imóveis que estejam em nome de determinada pessoa no Brasil. Neste exemplo, a autoridade central 
brasileira poderá obter tais informações no cartório de Registro de Imóveis e remeter tais dados sem 
necessidade de autorização ou qualquer outra medida do Poder Judiciário. 
 
Auxílio direto e necessidade de prestação jurisdicional 
Pode acontecer, no entanto, que a medida requerida no auxílio direto somente possa ser cumprida no 
Brasil se houver intervenção judicial. Ex: ouvir um investigado que se encontra preso preventivamente. 
Neste caso, recebido o pedido de auxílio direto passivo do Estado estrangeiro, o Ministério da Justiça 
encaminhará à Advocacia-Geral da União, que requererá em juízo a medida solicitada (art. 30). 
Se a autoridade central for o Ministério Público, não há necessidade de assistência da AGU e o próprio 
Parquet poderá requerer em juízo a medida solicitada pela autoridade estrangeira. 
Se houver necessidade de prestação jurisdicional para cumprimento do auxílio direto, a competência para 
analisar e executar esta medida será, em regra, da Justiça Federal de 1ª instância: 
Art. 34. Compete ao juízo federal do lugar em que deva ser executada a medida apreciar pedido de auxílio 
direto passivo que demande prestação de atividade jurisdicional. 
 
A competência é da Justiça Federal com base em três incisos do art. 109, da CF/88: 
Inciso I: considerando que
a União é interessada na condição de autora; 
Inciso III: tendo em vista que o auxílio direto é, normalmente, fundado em um tratado internacional; 
Inciso X: uma vez que, quando este inciso fala em "execução de carta rogatória", tal expressão deve 
abranger também o cumprimento de auxílio direto, providência incomum na época da edição da CF/88. 
 
Finalidades do auxílio direto 
Segundo o art. 30 do CPC, o auxílio direto poderá ser utilizado para as seguintes finalidades: 
I - obtenção e prestação de informações sobre o ordenamento jurídico e sobre processos administrativos 
ou jurisdicionais findos ou em curso; 
II - colheita de provas, salvo se a medida for adotada em processo, em curso no estrangeiro, de 
competência exclusiva de autoridade judiciária brasileira; 
III - qualquer outra medida judicial ou extrajudicial não proibida pela lei brasileira. 
 
Quadro-resumo com as diferenças entre a carta rogatória e o auxílio direto: 
Carta rogatória Auxílio direto 
Pedido de cooperação judiciária formulado pela 
autoridade judiciária de um país para a autoridade 
judiciária de outro. 
Também consiste em um pedido de cooperação 
judiciária, mas não necessariamente precisará da 
participação do Poder Judiciário. 
Para que seja cumprida no Brasil, é necessário um 
prévio juízo de delibação feito pelo STJ. 
Não existe esta necessidade. 
Será executada pelo juiz federal após a concessão 
do exequatur pelo STJ. 
Pode ser executada pelas autoridades 
administrativas de nosso país, salvo se for necessária 
alguma medida judicial. Neste caso, a competência 
para executar também será do juiz federal. 
 
 
Informativo 835-STF (26/08/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 14 
Voltando ao caso concreto, se a medida solicitada fosse caso de carta rogatória: 
Quando o Ministério Público português formulou o pedido para ouvir Michael, surgiu a dúvida se isso seria 
uma providência a ser cumprida no Brasil por meio de carta rogatória ou auxílio direto. 
Se fosse carta rogatória, seria necessário encaminhar o pedido ao STJ para que ele concedesse o 
exequatur, ou seja, o "cumpra-se", depois de analisar que os requisitos formais foram preenchidos. Assim, 
somente poderia ser ouvido o investigado depois de o STJ autorizar o cumprimento da carta. Esta 
competência está prevista no art. 105, I, "i", da CF/88: 
Art. 105. Compete ao Superior Tribunal de Justiça: 
I - processar e julgar, originariamente: 
(...) 
i) a homologação de sentenças estrangeiras e a concessão de exequatur às cartas rogatórias; 
 
Depois de o STJ conceder o exequatur, quem iria cumprir a carta rogatória, ou seja, quem iria ouvir o 
investigado seria um juiz federal de 1ª instância, conforme determina o art. 109, X, da CF/88: 
Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar: 
(...) 
X - os crimes de ingresso ou permanência irregular de estrangeiro, a execução de carta rogatória, após o 
"exequatur", e de sentença estrangeira, após a homologação, as causas referentes à nacionalidade, 
inclusive a respectiva opção, e à naturalização; 
 
Veja como o tema já foi cobrado em prova: 
(Juiz Federal TRF2 2014) Concedido o exequatur pelo Superior Tribunal de Justiça, a Carta Rogatória será 
cumprida por juiz federal de primeiro grau, independentemente da matéria de que cuide. (CERTO) 
 
No entanto, não era hipótese de carta rogatória, mas sim de auxílio direto... 
No caso de carta rogatória, é indispensável a intervenção judicial por meio da concessão do exequatur 
(STJ) e da execução da carta (juiz federal). 
No caso de auxílio direto, conforme já vimos, nem sempre será necessária a intervenção judicial. 
No exemplo dado, era necessária a intervenção judicial porque Michael encontrava-se preso para fins de 
extradição, ou seja, ele se encontrava preso por força de decisão judicial, não se podendo interrogá-lo sem 
autorização da autoridade judicial responsável pela prisão. 
O pedido do Ministério Público português foi recebido pelo Ministério Público federal brasileiro 
(autoridade central). 
O MPF quer cumprir o auxílio direto, mas necessita de autorização judicial para a oitiva do preso. 
 
De quem é a competência, no caso concreto, para autorizar este auxílio direto? 
STF. 
 
Compete ao STF apreciar o pedido de cooperação jurídica internacional na hipótese em que solicitada, 
via auxílio direto, a oitiva de estrangeiro custodiado no Brasil por força de decisão exarada em processo 
de extradição. 
STF. 1ª Turma. Pet 5946/DF, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o acórdão Min. Edson Fachin, julgado em 
16/8/2016 (Info 835). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Informativo 835-STF (26/08/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 15 
JULGADO NÃO COMENTADO 
 
Progressão de regime: art. 75 do CP ou total da pena imposta 
A Primeira Turma, em conclusão de julgamento e por maioria, reputou prejudicado pedido de “habeas 
corpus”. Mas, concedeu a ordem, de ofício, para que o juízo da execução verificasse a possibilidade do 
reconhecimento da continuidade delitiva (CP, art. 71), com a consequente aplicação da Lei 12.015/2009, 
que unificou os delitos de estupro e atentado violento ao pudor — v. Informativo 803. 
 
Na espécie, o paciente fora condenado em primeira instância pelos delitos de: a) roubo (CP, art. 157, 
“caput”), à pena de 21 anos de reclusão; e b) estupro e atentado violento ao pudor (CP, artigos 213 e 214, 
ambos na redação anterior à Lei 12.015/2009), à pena de 44 anos e 4 meses de reclusão. 
 
No “habeas corpus” pleiteava-se a revisão da sanção imposta, tendo em vista os seguintes argumentos: a) 
os delitos de estupro e de atentado violento ao pudor, praticados na forma simples, não poderiam ser 
considerados hediondos; e b) todos os cálculos da execução penal deveriam observar o limite máximo de 
30 anos, nos termos do art. 75, § 1º, do CP, notadamente porque a CF proíbe a prisão perpétua. 
 
De início, a Turma reconheceu o prejuízo do “writ” impetrado no STF (em 9.9.2009) antes do julgamento do 
mérito de “habeas corpus” pelo STJ (em 15.12.2009). Nessa decisão, o STJ concedera em parte a ordem 
para assegurar ao paciente a progressão no regime de cumprimento de pena, observada a fração de 1/6. 
 
Apesar disso, assentou a possibilidade do exame de concessão, de ofício, da ordem de “habeas corpus”. 
 
O Colegiado destacou que a jurisprudência consolidada do STF seria no sentido de que os crimes de estupro 
e de atentado violento ao pudor — tendo em conta o art. 1º, V e VI, da Lei 8.072/1990, ainda na redação 
dada pela Lei 8.930/1994 —, mesmo que praticados na forma simples, teriam caráter hediondo. Inviável, 
portanto, a interpretação requerida na impetração. 
 
Outrossim, o Tribunal possuiria reiterados pronunciamentos no sentido de que o limite temporal enunciado 
no art. 75 do CP — 30 anos — não constituiria parâmetro para o cálculo dos benefícios da execução penal. 
Assim, tal limite diria respeito exclusivamente ao tempo máximo de efetivo cumprimento da pena privativa 
de liberdade. Logo, não deve ser utilizado para calcular os benefícios da Lei de Execução Penal. 
 
Por outro lado, a possibilidade do reconhecimento da continuidade delitiva entre os delitos de estupro e de 
atentado violento ao pudor teria suscitado intensos debates no âmbito do STF. De modo geral, durante 
longo período de tempo, a Corte não admitira o reconhecimento da ficção jurídica do crime continuado 
(CP, art. 71) entre os referidos delitos, diante da caracterização do concurso material (CP, art. 69). Essa 
discussão, contudo, teria perdido relevância com a edição da Lei 12.015/2009, que unificou em um mesmo 
tipo incriminador as condutas de estupro e de atentado violento ao pudor. Diante dessa inovação 
legislativa, o STF teria passado a admitir o reconhecimento da continuidade delitiva entre os referidos 
delitos, desde que preenchidos os requisitos
legais. 
 
Contudo, tendo em consideração a impossibilidade de se verificar, no caso em comento, o cabimento do 
reconhecimento da continuidade delitiva, caberia ao juízo da execução examinar a questão, aplicando-se 
retroativamente a Lei 12.015/2009. 
 
Vencidos, em parte, os Ministros Marco Aurélio (relator) e Edson Fachin, que concediam a ordem em maior 
extensão, também para que o juízo da execução analisasse a viabilidade da progressão de regime e dos 
demais benefícios previstos na LEP, considerado o teto máximo de 30 anos e não o total da pena imposta. 
HC 100612/SP, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o acórdão Min. Roberto Barroso, 16.8.2016. 
 
 
 
Informativo 835-STF (26/08/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 16 
OUTRAS INFORMAÇÕES 
 
R E P E R C U S S Ã O G E R A L 
DJe de 15 a 19 de agosto de 2016 
 
REPERCUSSÃO GERAL EM ARE N. 959.489-SP 
RELATOR: MIN. TEORI ZAVASCKI 
EMENTA: PROCESSUAL CIVIL. RECURSO EXTRAORDINÁRIO. REDE FERROVIÁRIA FEDERAL S/A (RFFSA). PREENCHIMENTO DOS 
PRESSUPOSTOS NECESSÁRIOS AO GOZO DA IMUNIDADE TRIBUTÁRIA RECÍPROCA (ART. 150, VI, A, DA CF/88). MATÉRIA 
INFRACONSTITUCIONAL. AUSÊNCIA DE REPERCUSSÃO GERAL. 
1. Possui natureza infraconstitucional a controvérsia relativa ao preenchimento, pela Rede Ferroviária Federal S/A (RFFSA), dos pressupostos 
necessários ao gozo da imunidade tributária recíproca (art. 150, VI, a, da CF/88). 
2. É cabível a atribuição dos efeitos da declaração de ausência de repercussão geral quando não há matéria constitucional a ser apreciada ou quando 
eventual ofensa à Carta Magna ocorra de forma indireta ou reflexa (RE 584.608-RG, Rel. Min. ELLEN GRACIE, DJe de 13/3/2009). 
3. Ausência de repercussão geral da questão suscitada, nos termos do art. 1.035 do CPC/2015. 
 
 
Decisões Publicadas: 1 
 
C L I P P I N G D O D JE 
15 a 19 de agosto de 2016 
 
 
ADI N. 3.721/CE 
RELATOR: MIN. TEORI ZAVASCKI 
EMENTA: CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO. LEI COMPLEMENTAR 22/2000, DO ESTADO DO CEARÁ. CONTRATAÇÃO 
TEMPORÁRIA DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO. CASOS DE LICENÇA. TRANSITORIEDADE DEMONSTRADA. 
CONFORMAÇÃO LEGAL IDÔNEA, SALVO QUANTO A DUAS HIPÓTESES: EM QUAISQUER CASOS DE AFASTAMENTO 
TEMPORÁRIO (ALÍNEA “F” DO ART. 3º). PRECEITO GENÉRICO. IMPLEMENTAÇÃO DE PROJETOS DE ERRADICAÇÃO DO 
ANALFABETISMO E OUTROS (§ ÚNICO DO ART. 3º). METAS CONTINUAMENTE EXIGÍVEIS. 
1. O artigo 37, IX, da Constituição exige complementação normativa criteriosa quanto aos casos de “necessidade temporária de excepcional interesse 
público” que ensejam contratações sem concurso. Embora recrutamentos dessa espécie sejam admissíveis, em tese, mesmo para atividades 
permanentes da Administração, fica o legislador sujeito ao ônus de especificar, em cada caso, os traços de emergencialidade que justificam a medida 
atípica. 
2. A Lei Complementar 22/2000, do Estado do Ceará, autorizou a contratação temporária de professores nas situações de “a) licença para tratamento 
de saúde; b) licença gestante; c) licença por motivo de doença de pessoa da família; d) licença para trato de interesses particulares; e ) cursos de 
capacitação; e f) e outros afastamentos que repercutam em carência de natureza temporária”; e para “fins de implementação de projetos educacionais, 
com vistas à erradicação do analfabetismo, correção do fluxo escolar e qualificação da população cearense” (art. 3º, § único). 
3. As hipóteses descritas entre as alíneas “a” e “e” indicam ocorrências alheias ao controle da Administração Pública cuja superveniência pode 
resultar em desaparelhamento transitório do corpo docente, permitindo reconhecer que a emergencialidade está suficientemente demonstrada. O 
mesmo não se pode dizer, contudo, da hipótese prevista na alínea “f” do art. 3º da lei atacada, que padece de generalidade manifesta, e cuja declaração 
de inconstitucionalidade se impõe. 
4. Os projetos educacionais previstos no § único do artigo 3º da LC 22/00 correspondem a objetivos corriqueiros das políticas públicas de educação 
praticadas no território nacional. Diante da continuada imprescindibilidade de ações desse tipo, não podem elas ficar à mercê de projetos de governo 
casuísticos, implementados por meio de contratos episódicos, sobretudo quando a lei não tratou de designar qualquer contingência especial a ser 
atendida. 
5. Ação julgada parcialmente procedente para declarar inconstitucionais a alínea “f” e o § único do art. 3º da Lei Complementar 22/00, do Estado do 
Ceará, com efeitos modulados para surtir um ano após a data da publicação da ata de julgamento. 
*noticiado no Informativo 829 
 
EMB. DECL. NO AG. REG. NO RE N. 929.925/RS 
RELATOR: MIN. LUIZ FUX 
EMENTA: EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO. ADMINISTRATIVO. 
AÇÃO COLETIVA. EXECUÇÃO PROPORCIONAL DE HONORÁRIOS SUCUMBENCIAIS ORIUNDOS DE SENTENÇA PROFERIDA 
EM PROCESSO COLETIVO. POSSIBILIDADE. OMISSÃO, CONTRADIÇÃO OU OBSCURIDADE. INEXISTÊNCIA. ERRO 
MATERIAL. INOCORRÊNCIA. EFEITOS INFRINGENTES. IMPOSSIBILIDADE. RECURSO INTERPOSTO SOB A ÉGIDE DO 
NOVO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL. APLICAÇÃO DE NOVA SUCUMBÊNCIA. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO DESPROVIDOS. 
*noticiado no Informativo 829 
 
RE N. 567.708-SP 
RED. P/ O ACÓRDÃO: MIN. CÁRMEN LÚCIA 
EMENTA: RECURSO EXTRAORDINÁRIO. AÇÃO DE DESAPROPRIAÇÃO SOBRE PARCELA DE IMÓVEL. VALOR INDENIZATÓRIO. 
LUCRO CESSANTE E DEPRECIAÇÃO DA PROPRIEDADE REMANESCENTE. TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SÃO PAULO: 
INOCORRÊNCIA. ALEGADA UTILIZAÇÃO DE LAUDO PERICIAL TIDO POR IMPRESTÁVEL: OFENSA AO PRINCÍPIO DA JUSTA 
INDENIZAÇÃO. ACÓRDÃO RECORRIDO AMPARADO NOS ELEMENTOS DE PROVA COLIGIDOS EM LAUDOS TÉCNICOS DIVERSOS. 
PRINCÍPIO DO LIVRE CONVENCIMENTO DO MAGISTRADO. APRECIAÇÃO DOS FATOS PROVADOS NO PROCESSO. A 
 
Informativo 835-STF (26/08/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 17 
MODIFICAÇÃO DO ENTENDIMENTO RECORRIDO EXIGE O REEXAME DE FATOS E PROVAS: INCIDÊNCIA DA SÚMULA 279 DESTE 
SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. PRECEDENTES. RECURSO EXTRAORDINÁRIO DESPROVIDO. 
*noticiado no Informativo 817 
 
Acórdãos Publicados: 264 
 
TRANSCRIÇÕES 
 
Com a finalidade de proporcionar aos leitores do INFORMATIVO STF uma compreensão mais 
aprofundada do pensamento do Tribunal, divulgamos neste espaço trechos de decisões que tenham 
despertado ou possam despertar de modo especial o interesse da comunidade jurídica. 
 
Servidor Público - Transferência - Garantia de Matrícula - Congeneridade das Instituições de Ensino (Transcrições) 
 
 
Rcl 23.849/SP* 
 
RELATOR: Ministro Celso de Mello 
 
EMENTA: Reclamação. Julgamento da ADI 3.324/DF. Decisão impregnada de eficácia vinculante. Garantia de matrícula de agentes 
públicos (civis ou militares) – e respectivos dependentes – transferidos por motivo de interesse público ou em razão de conveniência da 
Administração Pública. Acórdão plenário do Supremo Tribunal Federal que assegura matrícula do aluno, qualquer que seja o sistema de 
ensino, desde que respeitada a congeneridade das instituições de ensino: de instituição particular para instituição particular ou, então, de 
instituição pública para instituição pública, sendo indiferente, neste último caso, que se trate de instituição federal, estadual, distrital ou 
municipal. Legitimidade, no caso, de matrícula na USP (de natureza pública estadual) de aluna oriunda de instituição universitária federal 
(UNIRIO), pelo fato de manter união estável com integrante das Forças Armadas transferido “ex officio” do Rio de Janeiro para São Paulo, 
em razão de interesse da Administração Pública. Deliberação do Pró-Reitor de Graduação da USP que transgrediu a autoridade do 
julgamento que o Supremo Tribunal Federal proferiu, com efeito vinculante, na ADI 3.324/DF. Invalidade do ato reclamado. 
Reconhecimento, em favor da parte reclamante,
de seu direito de ser matriculada na USP. Reclamação julgada procedente. 
 
DECISÃO: Trata-se de reclamação, com pedido de medida liminar, na qual se sustenta que o ato ora questionado – emanado do Senhor Pró-Reitor 
de Graduação da Universidade de São Paulo – teria transgredido a autoridade do julgamento que esta Suprema Corte proferiu, com efeito 
vinculante, no exame da ADI 3.324/DF, Rel. Min. MARCO AURÉLIO. 
Aduz a parte ora reclamante, para justificar o alegado desrespeito à autoridade decisória do julgamento proferido pelo Supremo Tribunal 
Federal, os seguintes fundamentos: 
 
“3. Em 4/1/2016, o companheiro da Reclamante foi redistribuído ‘ex-officio’, do Rio de Janeiro para São Paulo, de acordo com a 
Ordem de Movimentação nº 02.42814.8/15/CC. E, por força desta redistribuição, o companheiro da Reclamante foi incorporado ao Centro de 
Coordenação de Estudos da Marinha em São Paulo, e automaticamente matriculado no curso de Engenharia Naval na Escola Politécnica da 
Universidade de São Paulo – USP, em 5/1/2016 (docs. 9 a 11). 
Assim, quando a Reclamante já cursava o sexto semestre do curso de Direito da UNIRIO, o seu companheiro foi redistribuído da 
capital do Estado do Rio de Janeiro para a capital do Estado de São Paulo, onde passou a integrar o Centro de Coordenação de Estudos da 
Marinha em São Paulo. 
4. Por força disto, em 13/01/2016 a Reclamante postulou ao Reitor da Universidade de São Paulo – USP a sua transferência ‘ex-
officio’ para o curso de Direito daquela Universidade estadual, o que restou formalizado por meio do Processo nº 16.1.1029.1.8 (doc. 12). 
Como este pedido foi instruído com declaração formalizada pela Marinha do Brasil no sentido de que (i) a Reclamante mantinha (e ainda 
mantém) união estável com seu companheiro; e (ii) o seu companheiro, Primeiro-Tenente daquela força armada, havia sido 
compulsoriamente transferido para São Paulo (doc. 13), postulou-se o deferimento da sua matrícula na Faculdade de Direito da USP. E isso 
com fundamento no art. 49 da Lei federal nº 9.394/96 e no art. 1º da Lei nº 9.536/97 (…). 
…................................................................................................... 
Finalmente, em 24/3/2016, o pedido de matrícula formulado pela Reclamante foi apreciado e indeferido pela autoridade Reclamada 
sob os seguintes fundamentos: 
 
‘Tendo em vista 
a) a decisão normativa proferida pelo Magnífico Reitor nos autos USP nº 2002.1.23973.1.7 (publicada no Diário Oficial do 
Estado em 18.04.2003), bem como o quanto decidido pela Comissão de Legislação e Recursos (CLR) em sessão ocorrida em 
17.05.2005 (autos USP nº 2003.1.15688.1.6) 
INDEFIRO o pedido de transferência para a Universidade de São Paulo’ (doc.3). 
6. Ao juízo da Reclamante, a decisão proferida pelo Pró-Reitor de Graduação da USP, Prof. Dr. Antonio Carlos Hernandes, contraria 
o que restou afirmado pelo Supremo Tribunal Federal nos autos da Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) 3.324, na qual se assentou a 
constitucionalidade do art. 1º da Lei federal nº 9.536/97. Fundado nestes elementos, a Reclamante suscita a presente reclamação.” (grifei) 
 
Sendo esse o contexto, passo a analisar a pretensão deduzida nesta sede reclamatória. E, ao fazê-lo, devo registrar, inicialmente, que o 
Supremo Tribunal Federal tem enfatizado, em sucessivas decisões, que a reclamação reveste-se de idoneidade jurídico-processual, quando 
utilizada, como na espécie, com o objetivo de fazer prevalecer a autoridade decisória dos julgamentos emanados desta Corte, notadamente quando 
impregnados de eficácia vinculante, como sucede com aqueles proferidos em sede de fiscalização normativa abstrata (RTJ 169/383-384 – RTJ 
183/1173-1174, v.g.): 
 
“O DESRESPEITO À EFICÁCIA VINCULANTE, DERIVADA DE DECISÃO EMANADA DO PLENÁRIO DA SUPREMA 
CORTE, AUTORIZA O USO DA RECLAMAÇÃO. 
– O descumprimento, por quaisquer juízes ou Tribunais, de decisões proferidas com efeito vinculante, pelo Plenário do Supremo 
Tribunal Federal, em sede de ação direta de inconstitucionalidade ou de ação declaratória de constitucionalidade, autoriza a utilização da 
via reclamatória, também vocacionada, em sua específica função processual, a resguardar e a fazer prevalecer, no que concerne à Suprema 
 
Informativo 835-STF (26/08/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 18 
Corte, a integridade, a autoridade e a eficácia subordinante dos comandos que emergem de seus atos decisórios. Precedente: Rcl 1.722/RJ, 
Rel. Min. CELSO DE MELLO (Pleno).” 
(RTJ 187/151, Rel. Min. CELSO DE MELLO, Pleno) 
 
Todos sabemos que a reclamação, qualquer que seja a natureza que se lhe atribua – ação (PONTES DE MIRANDA, “Comentários ao 
Código de Processo Civil”, tomo V/384, Forense), recurso ou sucedâneo recursal (MOACYR AMARAL SANTOS, RTJ 56/546-548; ALCIDES 
DE MENDONÇA LIMA, “O Poder Judiciário e a Nova Constituição”, p. 80, l989, Aide), remédio incomum (OROSIMBO NONATO, “apud” 
Cordeiro de Mello, “O processo no Supremo Tribunal Federal”, vol. 1/280), incidente processual (MONIZ DE ARAGÃO, “A Correição 
Parcial”, p. 110, 1969), medida de direito processual constitucional (JOSÉ FREDERICO MARQUES, “Manual de Direito Processual Civil”, vol. 
3º, 2ª parte, p. 199, item n. 653, 9ª ed., l987, Saraiva) ou medida processual de caráter excepcional (Ministro DJACI FALCÃO, RTJ 112/518-522) –, 
configura instrumento de extração constitucional destinado a viabilizar, na concretização de sua dupla função de ordem político-jurídica, a 
preservação da competência e a garantia da autoridade das decisões do Supremo Tribunal Federal (CF, art. 102, I, “l”), consoante tem enfatizado a 
jurisprudência desta Corte Suprema (RTJ 134/1033, Rel. Min. CELSO DE MELLO, v.g.). 
Esse instrumento formal de tutela, “que nasceu de uma construção pretoriana” (RTJ 112/504), busca, portanto, em essência, ao lado de 
sua função como expressivo meio de preservação da competência do Supremo Tribunal Federal, fazer prevalecer o efetivo respeito aos 
pronunciamentos jurisdicionais emanados desta Suprema Corte (RTJ 149/354-355, Rel. Min. CELSO DE MELLO), especialmente quando 
revestidos de efeito vinculante, como anteriormente enfatizado: 
 
“Reclamação e preservação da autoridade das decisões do Supremo Tribunal Federal. 
O eventual descumprimento, por juízes ou Tribunais, de decisões emanadas do Supremo Tribunal Federal, especialmente quando 
proferidas com efeito vinculante (CF, art. 102, § 2º), ainda que em sede de medida cautelar, torna legítima a utilização do instrumento 
constitucional da reclamação, cuja específica função processual – além de impedir a usurpação da competência da Corte Suprema – também 
consiste em fazer prevalecer e em resguardar a integridade e a eficácia subordinante dos comandos que emergem de seus atos decisórios. 
Precedentes. Doutrina.” 
(RTJ 179/995-996, Rel. Min. CELSO DE MELLO, Pleno) 
 
A destinação constitucional da via reclamatória, portanto – segundo acentua, em autorizado magistério, JOSÉ FREDERICO MARQUES 
(“Instituições de Direito Processual Civil”, vol. IV/393, 2ª ed., Forense) –, além de vincular esse meio processual à preservação da competência 
global do Supremo Tribunal Federal, prende-se ao objetivo específico de salvaguardar a extensão e os efeitos dos julgados desta Suprema Corte. 
Esse saudoso e eminente jurista, ao justificar a necessidade da reclamação – enquanto meio processual vocacionado à imediata restauração 
do “imperium” inerente à decisão desrespeitada –, assinala, em tom de grave advertência, a própria razão de ser desse especial instrumento de 
defesa da autoridade decisória dos pronunciamentos do Supremo Tribunal Federal (“Manual de Direito Processual Civil”, vol. 3/199-200, item n. 
653, 9ª ed., 1987, Saraiva): 
 
“O Supremo Tribunal, sob pena de se comprometerem as elevadas funções que a Constituição lhe conferiu, não pode ter seus 
julgados
desobedecidos (por meios diretos ou oblíquos), ou vulnerada sua competência. Trata-se (…) de medida de Direito Processual 
Constitucional, porquanto tem como ‘causa finalis’ assegurar os poderes e prerrogativas que ao Supremo Tribunal foram dados pela 
Constituição da República.” (grifei) 
 
Mostra-se irrecusável concluir, desse modo, que o descumprimento, por quaisquer juízes, Tribunais, órgãos, entidades ou agentes da 
Administração Pública, de decisões proferidas pelo Supremo Tribunal Federal autoriza a utilização da via reclamatória, vocacionada, em sua 
específica função processual, a resguardar e a fazer prevalecer, no que concerne à Suprema Corte, a integridade, a autoridade e a eficácia dos 
comandos que emergem de seus atos decisórios, desde que proferidos com eficácia vinculante, na linha do magistério jurisprudencial consagrado 
por este Tribunal (RTJ 187/150-152, Rel. Min. CELSO DE MELLO, v.g.). 
Cabe examinar, de outro lado, se terceiros – que não intervieram no processo objetivo de controle normativo abstrato – dispõem, ou não, de 
legitimidade ativa para o ajuizamento de reclamação perante o Supremo Tribunal Federal, quando promovida com o objetivo de fazer restaurar o 
“imperium” inerente às decisões emanadas desta Corte em sede de ação direta de inconstitucionalidade ou de ação declaratória de 
constitucionalidade. 
O Plenário do Supremo Tribunal Federal, a propósito de tal questão, ao analisar o alcance da norma inscrita no parágrafo único do art. 28 
da Lei nº 9.868/99 (Rcl 1.880-AgR/SP, Rel. Min. MAURÍCIO CORRÊA), firmou orientação que reconhece a terceiros qualidade para agir, em 
sede reclamatória, quando necessário se torne assegurar o efetivo respeito aos julgamentos desta Suprema Corte proferidos no âmbito de processos 
de controle normativo abstrato: 
 
“(…) LEGITIMIDADE ATIVA PARA A RECLAMAÇÃO NA HIPÓTESE DE INOBSERVÂNCIA DO EFEITO VINCULANTE. 
– Assiste plena legitimidade ativa, em sede de reclamação, àquele – particular ou não – que venha a ser afetado, em sua esfera 
jurídica, por decisões de outros magistrados ou Tribunais que se revelem contrárias ao entendimento fixado, em caráter vinculante, pelo 
Supremo Tribunal Federal, no julgamento dos processos objetivos de controle normativo abstrato instaurados mediante ajuizamento quer de 
ação direta de inconstitucionalidade, quer de ação declaratória de constitucionalidade. Precedente. (…).” 
(RTJ 187/151, Rel. Min. CELSO DE MELLO, Pleno) 
 
Vê-se, portanto, que assiste à parte ora reclamante plena legitimidade ativa “ad causam” para fazer instaurar este processo reclamatório. 
Cumpre verificar, agora, se a situação exposta na presente reclamação traduz, ou não, hipótese de ofensa à autoridade do julgamento 
que o Supremo Tribunal Federal proferiu, com eficácia vinculante, em sede de fiscalização normativa abstrata. 
Observo que os elementos produzidos na presente reclamação evidenciam a alegada transgressão à autoridade da decisão que o Supremo 
Tribunal Federal proferiu, com efeito vinculante, no exame da ADI 3.324/DF, Rel. Min. MARCO AURÉLIO, revelando-se suficientes para 
justificar, na espécie, o acolhimento da pretensão deduzida pela ora reclamante. 
Com efeito, o Plenário desta Suprema Corte, ao julgar a ADI 3.324/DF, Rel. Min. MARCO AURÉLIO (RTJ 198/64), firmou entendimento 
que confere suporte legitimador à pretensão de direito material deduzida pela parte ora reclamante: 
 
“UNIVERSIDADE – TRANSFERÊNCIA OBRIGATÓRIA DE ALUNO – LEI Nº 9.536/97. A constitucionalidade do artigo 1º da 
Lei nº 9.536/97, viabilizador da transferência de alunos, pressupõe a observância da natureza jurídica do estabelecimento educacional de 
origem, a congeneridade das instituições envolvidas – de privada para privada, de pública para pública –, mostrando-se inconstitucional 
interpretação que resulte na mesclagem – de privada para pública.” (grifei) 
 
Cabe ressaltar, neste ponto, que essa orientação plenária tem-se refletido em sucessivos julgamentos, monocráticos e colegiados, 
emanados desta Corte (AI 541.533-ED/PR, Rel. Min. JOAQUIM BARBOSA – AI 712.869/RN, Rel. Min. CÁRMEN LÚCIA – AI 826.832/SP, 
Rel. Min. DIAS TOFFOLI – ARE 701.534/SP, Rel. Min. CELSO DE MELLO – Rcl 3.480/DF, Rel. Min. RICARDO LEWANDOWSKI – Rcl 
6.425/SP, Rel. Min. ROSA WEBER – Rcl 7.483-MC/SP, Rel. Min. CÁRMEN LÚCIA – RE 495.325-AgR/RR, Rel. Min. ELLEN GRACIE – RE 
575.830/SP, Rel. Min. ELLEN GRACIE, v.g.), valendo referir, dentre eles, aquele que, proferido pela colenda Segunda Turma do Supremo 
 
Informativo 835-STF (26/08/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 19 
Tribunal Federal, apreciou controvérsia idêntica à ora versada nesta causa, em decisão que torna acolhível o pleito formulado pela parte ora 
reclamante: 
 
“1. RECURSO. Extraordinário. Inadmissibilidade. Policial militar. Remoção ‘ex officio’. Matrícula em instituição pública federal. 
Possibilidade. Agravo regimental improvido. O servidor público estadual, estudante de universidade pública do Estado, removido de ofício, 
pode ser matriculado em instituição congênere federal, caso não haja vaga na universidade de origem.” 
(RE 464.217-AgR/RN, Rel. Min. CEZAR PELUSO – grifei) 
 
Impende mencionar, ainda, ante a pertinência do seu conteúdo, fragmento da decisão que o eminente Ministro TEORI ZAVASCKI, 
defrontando-se com situação jurídica idêntica à dos presentes autos, proferiu no julgamento da Rcl 11.920/SP, de que foi Relator: 
 
“Assim, conflita com o conteúdo decisório da ADI 3.324 a conclusão que a Universidade de São Paulo insiste em adotar, mesmo 
após o julgamento de ação direta de inconstitucionalidade sobre a questão, no sentido de que as universidades públicas estaduais não 
estariam obrigadas a acolher matrículas de funcionários públicos federais removidos de ofício, ou de seus dependentes, mesmo que 
egressos de instituições públicas (…). O desrespeito à autoridade da decisão desta Corte se revela, portanto, ao ser criada restrição não 
constante do texto da lei, tampouco da interpretação que esta Corte lhe atribuiu, porque, conforme demonstrado, apenas a transferência 
entre universidades privadas e públicas foram consideradas incompatíveis com a Constituição da República.” (grifei) 
 
Em suma: tenho para mim que os fundamentos subjacentes a esta ação reclamatória ajustam-se aos critérios que a jurisprudência do Supremo 
Tribunal Federal consagrou na matéria em análise. 
Sendo assim, em face das razões expostas e com apoio em delegação regimental (RISTF, art. 161, parágrafo único, na redação dada pela 
Emenda Regimental nº 13, de 25/03/2004), julgo procedente a presente reclamação, para invalidar a decisão administrativa ora reclamada, 
proferida pelo Senhor Pró-Reitor de Graduação da Universidade de São Paulo (Processo/USP nº 2016.1.1029.1.8), determinando, em 
consequência, seja efetivada a matrícula da ora reclamante na Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo. 
Comunique-se, com urgência, transmitindo-se cópia da presente decisão ao Senhor Pró-Reitor de Graduação da Universidade de São Paulo. 
Arquivem-se os presentes autos. 
Publique-se. 
 
Brasília, 16 de junho de 2016. (21h30) 
 
 
Ministro CELSO DE MELLO 
Relator 
*decisão publicada no DJe de 21.6.2016 
 
 
OUTRAS INFORMAÇÕES 
15 a 19 de agosto de 2016 
 
Decreto nº 8.835, de 15.8.2016 - Altera o Decreto nº 4.050, de 12 de dezembro de 2001, que regulamenta o art. 
93 da Lei nº 8.112, de 11 de dezembro de 1990, que dispõe sobre a cessão de servidores de órgãos e entidades da 
administração pública federal, direta, autárquica e fundacional. Publicado no DOU, Seção 1, Edição nº 157, p. 2, em 
16.8.2016. 
 
Secretaria de Documentação – SDO 
Coordenadoria de Jurisprudência Comparada e Divulgação de Julgados – CJCD 
CJCD@stf.jus.br

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