Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Matema´tica para controle: Introduc¸a˜o a` Lo´gica Amit Bhaya, Programa de Engenharia Ele´trica COPPE/UFRJ Universidade Federal do Rio de Janeiro amit@nacad.ufrj.br http://www.nacad.ufrj.br/˜ amit COE745, PEE/COPPE 2006, c©Amit Bhaya Aula 1: Lo´gica Introduc¸a˜o a (notac¸a˜o) lo´gica Lo´gica matema´tica: • Disciplina fundamental sobre a qual se fundamenta matema´tica. • Uma linguagem formal. • Um ramo de matema´tica com caracter´ısticas pro´prias. 1 COE745, PEE/COPPE 2006, c©Amit Bhaya Aula 1: Lo´gica Paradoxos A ide´ia de consisteˆncia: papel fundamental em sistema lo´gico. Desde a Gre´cia cla´ssica surgem paradoxos. 1. Paradoxo do mentiroso (Creta): Considere a sentenc¸a (frase) (A) Eu estou mentindo. A sentenc¸a (A) e´ verdadeira (V) ou falsa (F). Se V, a pessoa esta´ mentindo, portanto (A) e´ F! Se F, a pessoa esta´ dizendo a verdade, portanto (A) e´ V! 2. Paradoxo do carta˜o (Jourdain) Um lado do carta˜o tem a frase (A): A sentenc¸a do outro lado do carta˜o e´ verdadeira; o outro lado do carta˜o a frase (B): A sentenc¸a do outro lado do carta˜o e´ falsa. (A) e´ V implica (B) e´ V, portanto, (A) e´ F (A) e´ F implica (B) e´ F, portanto, (A) e´ V! Sentenc¸as (A), (B) sa˜o, ao mesmo tempo, V e F. Problema: auto-refereˆncia Conclusa˜o: Linguagem coloquial na˜o apropriada, necessidade de linguagens formais. 2 COE745, PEE/COPPE 2006, c©Amit Bhaya Aula 1: Lo´gica Proposic¸o˜es Chama-se proposic¸a˜o todo o conjunto de palavras que exprimem um pensamento de sentido completo. Proposic¸o˜es transmitem pensamentos; afirmam fatos. Exemplos: 1. eiπ = cosπ + i sen π = −1 (Euler). 2. xn + yn = zn na˜o possui soluc¸o˜es inteiras (x, y, z) para n ≥ 3. (Fermat-Wiles). 3. A velocidade da luz e´ constante independente da velocidade da fonte e/ou da referencial. (Einstein) 3 COE745, PEE/COPPE 2006, c©Amit Bhaya Aula 1: Lo´gica Regras fundamentais de lo´gica matema´tica 1. Princ´ıpio de na˜o-contradic¸a˜o: Uma proposic¸a˜o na˜o pode ser verdadeira e falsa ao mesmo tempo. 2. Princ´ıpio do terceiro exclu´ıdo: Toda a proposic¸a˜o ou e´ verdadeira ou e´ falsa. Isto e´, verifica-se sempre um destes casos e nunca um terceiro. Consequeˆncia destes princ´ıpios: Toda a proposic¸a˜o assume valor lo´gico verdadeiro (V) ou falso (F). 4. π e´ um nu´mero racional. 5. Camo˜es escreveu A Divina Come´dia. Frases 1 a 3 (na pa´gina anterior) possuem valor lo´gico V, frases 4 e 5 possuem v.l. F. 4 COE745, PEE/COPPE 2006, c©Amit Bhaya Aula 1: Lo´gica Tipos de proposic¸o˜es Proposic¸a˜o simples: Aquela que na˜o conte´m nenhuma outra proposic¸a˜o como parte. Notac¸a˜o: Letra minu´scula romana do final do alfabeto; p. ex. p, q, r etc. Proposic¸a˜o composta: Formada pela combinac¸a˜o de duas ou mais proposic¸o˜es simples. Notac¸a˜o: Letra maiu´scula romana do final do alfabeto; p. ex. P,Q,R etc. Exemplo: P (p, r): O nu´mero 625 e´ quadrado perfeito e um hexa´gono tem 9 diagonais. Valor lo´gico de P (p, r) e´ V, pois 625 = 25× 25, e( 6 2 ) − 6 = 15− 6 = 9. 5 COE745, PEE/COPPE 2006, c©Amit Bhaya Aula 1: Lo´gica Conectivos Conectivos sa˜o palavras que se usam para formar novas proposic¸o˜es a partir de outras. Sa˜o eles: e, ou, na˜o, ‘se . . . enta˜o’, ‘se e somente se’. Conectivos em negrito P (p, q): O nu´mero 6 e´ par (p) e o nu´mero 8 e´ cubo perfeito (q). Q(r, s): O sistema e´ linear (r) ou e´ na˜o-linear (s). R: Na˜o esta´ chovendo. S: Se Jorge e´ engenheiro (p), enta˜o sabe matema´tica (q). T : A matriz A e´ invers´ıvel se e somente se detA 6= 0. 6 COE745, PEE/COPPE 2006, c©Amit Bhaya Aula 1: Lo´gica Conectivos: notac¸a˜o S´ımbolo Significado Exemplo ¬ na˜o . . . ¬p ∧ . . . e . . . p ∧ q ∨ . . . ou . . . r ∨ s → se . . . enta˜o . . . p→ q ↔ . . . se e somente se . . . p↔ q 7 COE745, PEE/COPPE 2006, c©Amit Bhaya Aula 1: Lo´gica Tabela verdade de conectivo Forma tabular de apresentar os valores lo´gicos de sentenc¸as envolvendo conectivos. p ¬p V F F V p q p ∧ q V V V V F F F V F F F F p q p ∨ q V V V V F V F V V F F F p q p→ q V V V V F F F V V F F V p q p↔ q V V V V F F F V F F F V 8 COE745, PEE/COPPE 2006, c©Amit Bhaya Aula 1: Lo´gica Mais sobre tabela verdade de → Problema: Na linguagem coloquial a construc¸a˜o ‘se . . . enta˜o’ exige uma ligac¸a˜o causal (= causa-efeito). Na lo´gica matema´tica, na˜o se exige relac¸a˜o lingu¨istica entre os membros de uma sentenc¸a composta. Exemplo: Eu colei na prova (p) e eu vou levar meu guarda chuva (q). Considere a lei de f´ısica: Todo metal e´ malea´vel. Enquanto lei, a sentenc¸a e´ sempre verdadeira (V). se x e´ metal, enta˜o x e´ malea´vel (⋆) Uma vez que acreditamos na lei universal de f´ısica, vale substituir x por qualquer coisa, obtendo uma implicac¸a˜o verdadeira p q p→ q Valor de x V V V ferro V F F F V V barro F F V madeira Para a sentenc¸a/lei (⋆), jamais chegamos a conclusa˜o de que o antecedente (p) e´ V e o consequente (q) e´ F. 9 COE745, PEE/COPPE 2006, c©Amit Bhaya Aula 1: Lo´gica Mais sobre tabela verdade de → Compare as tabelas abaixo: p q p→ q V V V V F F F V V F F V p q ¬p ¬p ∨ q V V F V V F F F F V V V F F V V Vemos, atrave´s das tabelas, que a sentenc¸a p → q EQUIVALE a sentenc¸a ¬p ∨ q (equivale significa t.v.s coincidem, Notac¸a˜o: p → q ⇔ ¬p ∨ q) Outras locuc¸o˜es para p→ q: 1. q e´ uma condic¸a˜o necessa´ria para p. 2. p acarreta q; (ou p implica q). 3. p e´ uma condic¸a˜o suficiente para q. Exemplo: Triaˆngulo A e triaˆngulo B possuem a mesma base e a mesma altitude (p) → Area △A = Area △B (q). Pore´m q 6→ p! 10 COE745, PEE/COPPE 2006, c©Amit Bhaya Aula 1: Lo´gica Deduc¸a˜o e Tabelas-verdade Considere as frases S´ımbolo Sentenc¸a p Ha´ prec¸os altos s Ha´ sala´rios altos c Ha´ congelamento i Ha´ inflac¸a˜o e as premissas (sentenc¸as que tem valor lo´gico V) 1. p→ s, 2. p ∨ c, 3. c→ ¬i. Fato: Ha´ inflac¸a˜o. Pergunta: E´ va´lido concluir (a partir das premissas) que ha´ sala´rios altos? Isto e´: (Sentenc¸a i e´ V) acarreta (sentenc¸a s e´ V)? Racioc´ınio: [i (V) (dado)] ∧ [c→ ¬i (V)(prem.)] → [c (F)] (pela t.v. de→) [p ∨ c (V) (prem.)] ∧ [c (F)] → [p (V)] (pela t.v. de ∨) [p (V)] ∧ [p→ s (prem.)] → [s (V)] 11 COE745, PEE/COPPE 2006, c©Amit Bhaya Aula 1: Lo´gica Func¸a˜o verdade Func¸a˜o verdade (f.v.) f : {V, F}n → {V, F} Ha´ 22 n f.v.s de n varia´veis Para n = 2, das 16 f.v.s poss´ıveis, apenas 4 sa˜o destacadas (∧,∨,→,↔). Para n = 1, das 4 f.v.s poss´ıveis, apenas uma e´ destacada (¬). Podemos definir um conjunto T de f.v.s recursivamente: 1. ¬p, p ∧ q, p ∨ q, p→ q, p↔ q pertencem a T . 2. f ∈ T implica que a func¸a˜o obtida pela substituic¸a˜o de qualquer varia´vel de f por outra em T tambe´m pertence a T . p. ex. [(¬p) ∨ q] ∈ T → [(¬p) ∨ (t ∨ (r ∧ s))] ∈ T Ou seja, sentenc¸as compostas podem ser geradas a partir de sentenc¸as simples recursivamente. Tautologia: Sentenc¸a cujo valor lo´gico e´ sempre V (para qualquer escolha de valores para componentes primos). Exemplos: p→ p, p ∧ (p→ q) → q. 12 COE745, PEE/COPPE 2006, c©Amit Bhaya Aula 1: Lo´gica Deduc¸a˜o e gerac¸a˜o de tautologias A definic¸a˜o e´ muito ineficiente para testar tautologias. Na˜o ajuda a descobrir tautologias. Incentivou a derivac¸a˜o de regras para gerar tautologias a partir de outras. Exemplos: (¬¬p) ⇔ (p), (p → q) ⇔ (¬q → ¬p), ¬(p ∨ q) ⇔ (¬p ∧ ¬q). Resumo: Lei de De Morgan para negac¸a˜o de sentenc¸as: Para obter a negac¸a˜o de uma sentenc¸a (s), substitui-se todo ∧ por um ∨ e vice-versa, e toda sentenc¸a simples p em s por ¬p. Voltaremos ao assunto das leis de De Morgan mais adiante. 13 COE745, PEE/COPPE 2006, c©Amit Bhaya Aula 1: Lo´gicaContradic¸a˜o, Inconsisteˆncia Contradic¸a˜o: Sentenc¸a cujo valor e´ sempre F. P. ex. p ∧ ¬p. Prova por contradic¸a˜o: {p1, . . . , pm} |= q se uma contradic¸a˜o e´ consequeˆncia va´lida de {p1, . . . , pm} ∧ ¬q. (Notac¸a˜o: |= significa acarreta). Inconsisteˆncia: {p1, . . . , pm} e´ um conjunto inconsistente se tem contradic¸a˜o como consequeˆncia va´lida. Em outras palavras, a prova por contradic¸a˜o consiste em acrescentar a negac¸a˜o da conclusa˜o ao conjunto das premissas e mostrar, atrave´s das regras de infereˆncia, que o conjunto gerado desta maneira e´ inconsistente. 14 COE745, PEE/COPPE 2006, c©Amit Bhaya Aula 1: Lo´gica Func¸a˜o proposicional p : A → {V, F} onde p(x) e´ sentenc¸a com a propriedade de que p(a) e´ V ou F para cada a ∈ A. Em outras palavras, p(x) se torna uma proposic¸a˜o sempre que x for substitu´ıdo por a ∈ A. Exemplos: p(x) : x+2 > 7 e´ uma f.p. se A = N, na˜o e´ se A = C. p(x) : x2 = x e´ uma f.p. se A = R. Vp ⊂ A conjunto verdade de p(x) := {x|x ∈ A, p(x)} Exemplo: p(x) = x + 5 < 3, A = N, Vp = {x|x ∈ N, x+ 5 < 3} = ∅ 15 COE745, PEE/COPPE 2006, c©Amit Bhaya Aula 1: Lo´gica Quantificadores: ∀, ∃ Outra maneira de lidar com func¸o˜es proposicionais, observando que p(x) pode ser V para todo x ∈ A, para algum x0 ∈ A ou para nenhum x ∈ A. Notac¸a˜o: ∀ = para todo (quantificador universal) ∃ = existe (quantificador existencial) (∀x ∈ A)p(x) ou ∀x, p(x) e´ uma proposic¸a˜o que se leˆ para todo x ∈ A, p(x) e´ V (ou seja, Vp = A). Outra locuc¸a˜o: Qualquer que seja . . . (∃x ∈ A)p(x) ou ∃x, p(x) e´ uma proposic¸a˜o que se leˆ existe x ∈ A, p(x) e´ V (ou seja, Vp 6= ∅). Outras locuc¸o˜es: para algum . . . , para ao menos um . . . . Exemplos:⋂ i∈I Ai := {x|∀i ∈ I, x ∈ Ai}⋃ i∈I Ai := {x|∃i ∈ I, x ∈ Ai} 16 COE745, PEE/COPPE 2006, c©Amit Bhaya Aula 1: Lo´gica Negac¸a˜o: proposic¸o˜es com quantificadores Todos os homens sa˜o mortais na˜o (e´ verdade que todos os homens sa˜o mortais) existe ao menos um homem que na˜o e´ mortal ¬(∀x ∈ H) (x e´ mortal) equivale a (∃x ∈ H)(x na˜o e´ mortal) Teorema (de Morgan) ¬(∀x ∈ A)p(x) ⇔ (∃x ∈ A)¬p(x) ¬(∃x ∈ A)p(x) ⇔ (∀x ∈ A)¬p(x) Exemplo: ¬(p(x) ∧ q(x)) ⇔ ¬p(x) ∨ ¬q(x) Dado que ¬(∀x, p(x)) ⇔ (∃x¬p(x)), para mostrar que ∀x, p(x) e´ falso, basta que ∃x0, p(x0) e´ F. Tal x0 e´ denominado contraexemplo. 17 COE745, PEE/COPPE 2006, c©Amit Bhaya Aula 1: Lo´gica Ordem da quantificac¸a˜o Em geral, dada uma func¸a˜o proposicional multivaria´vel, e´ necessa´rio que ela seja precedida por quantificadores para cada varia´vel (para que se torne uma proposic¸a˜o). Atenc¸a˜o: Na˜o se pode trocar a ordem da quantificac¸a˜o sem trocar o sentido da sentenc¸a (em geral)! Exemplos: Sejam x, y inteiros. (∀x)(∃y)(x < y) e´ V, PORE´M (∃x)(∀y)(x < y) e´ F! 18 COE745, PEE/COPPE 2006, c©Amit Bhaya Aula 1: Lo´gica Exemplos de quantificac¸a˜o n e´ um nu´mero natural primo. ∀m ∈ N, {∃k : n = mk → (m = 1 ∨m = n} Todo nu´mero racional e´ real. ∀x,Q(x) → R(x) Alguns reais sa˜o racionais. ∃x : R(x) ∧Q(x) Para f : R → R, definic¸a˜o de continuidade em um ponto: a func¸a˜o f e´ cont´ınua no ponto a se e somente se, para todo ǫ > 0, existe δ > 0 tal que, para todo x, se |x− a| < δ, enta˜o |f(x)− f(a)| < ǫ. (∀ǫ > 0)(∃δ > 0)(∀x)(|x− a| < δ) → |f(x)− f(a)| < ǫ. E´ do tipo (∀ǫ)(∃δ)(∀x)(p→ q) equivalentemente: (∀ǫ)(∃δ)(∀x)(¬p ∨ q). Portanto, negac¸a˜o e´: (∃ǫ)(∀δ)(∃x)(|x− a| < δ ∧ |f(x)− f(a)| ≥ ǫ) 19 COE745, PEE/COPPE 2006, c©Amit Bhaya Aula 1: Lo´gica Quantificadores e xadrez Sequeˆncia {xn} converge a x ∗ ∈ C Quantificadores e varia´veis x∗, n, ǫ f.p. P (x∗, n, ǫ)︷ ︸︸ ︷ (∃x∗ ∈ C)(∀ǫ > 0)(∃M ∈ N)(∀n > M) ︷ ︸︸ ︷ (|xn − x ∗| < ǫ) Jogo entre no´s e o adversa´rio: No´s Adversa´rio No´s Adversa´rio No´s x∗ ǫ(x∗) M(x∗, ǫ) n > M oˆnus de provar para tornar P falso |xn − x ∗| < ǫ para ganhar Analogia com xeque mate em duas jogadas (J = jogada, B = branco, P = preto) (∃ JB)(∀ JP)(∃ JB)(∀ JP)(B × Rei P) x∗ x1 x2 x3 x4 x5 x6 x7 x8 x9 Re Im Todo c´ırculo com centro x∗ inclui todos os pontos xn menos um nu´mero finito 20 COE745, PEE/COPPE 2006, c©Amit Bhaya Aula 1: Lo´gica Quantificadores: leitura (∃M ∈ N)(∀n > M) leˆ-se Para todos os inteiros n menos um nu´mero finito ou ainda para todo n suficientemente grande Negac¸a˜o da definic¸a˜o de convergeˆncia: (∀x∗)(∃ǫ > 0)(∀M ∈ N)(∃n > M)(|xn − x ∗| ≥ ǫ) Qualquer que seja o ponto x∗ escolhido (como poss´ıvel ponto limite da sequeˆncia), existe uma ǫ-vizinhanc¸a de x∗ tal que existe um nu´mero infinito de pontos da sequeˆncia fora dela. 21
Compartilhar