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Esquizofrenia
Capítulo 3 – esquizofrenia
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eesquizofrenia
Capítulo 3
 Definição
É uma doença que acomete principalmente jovens, de 
causa desconhecida, provocando uma profunda desorga-
nização da personalidade. A esquizofrenia provoca prejuízo 
no funcionamento ocupacional (no cuidado pessoal, no 
trabalho, nas relações pessoais, podendo levar a uma 
incapacitação). Esta doença está associada ao aumento 
de morbidade para doença médica geral e aumento da 
mortalidade especialmente por suicídio, que ocorre em 
até 10% dos pacientes.
 epiDemiologia
A prevalência de esquizofrenia é de 1% na população 
em todas as partes do mundo. A incidência é a mesma 
entre homens e mulheres, o que varia é que nos homens o 
início é mais precoce e nas mulheres começa mais tardia-
mente. O risco é maior se algum parente tem o transtorno, 
principalmente se ele é de primeiro grau. Os custos são 
muito grandes e nos Estados Unidos, em 1995, os gastos 
diretos com a doença foram de quase 20 bilhões de dólares. 
Os custos indiretos, como perda de produtividade e fardo 
sobre a família, foram estimados em 46 bilhões de dólares. 
A taxa de desemprego entre os esquizofrênicos chega a 
80% nos casos graves. Dez por centodos esquizofrênicos 
são totalmente incapazes.
 SintomaS
Os sintomas esquizofrênicos podem ser divididos em 
positivos e negativos. Os sintomas positivos são aqueles 
acrescentados à personalidade do indivíduo, como por ex., 
alucinações, delírios e agitação psicomotora. Os sintomas 
negativos são aqueles retirados da personalidade, como 
p. ex., afeto embotado, apatia, anedonia, pensamento 
pobre e hipobulia.
avaliação Do eStaDo mental Do 
paciente eSquizofrênico
Na esquizofrenia não há um sintoma patognomônico. 
As alterações podem comprometer a maioria das funções 
psíquicas:
Consciência – em geral o paciente esquizofrênico 
está lúcido;
Consciência do eu – nos quadros agudos e delirantes 
a consciência do eu estará alterada, a consciência de 
identidade, unidade, oposição e autonomia;
Atenção – há um predomínio da atenção interna sobre 
a externa, principalmente nos pacientes com sintomas 
negativos, como os crônicos;
Orientação – é normal, podendo haver dupla orientação 
nos pacientes delirantes;
Memória – a capacidade de recordar fatos recentes e 
remotos é mantida, porém pode existir paramnésia fantás-
tica nos pacientes delirantes;
Sensopercepção – as alucinações características dos 
pacientes esquizofrênicos são as alucinações auditivas na 
terceira pessoa. “Elas” falam entre si sobre o paciente e 
determinam suas ações;
Inteligência – não é comprometida, porém em pacien-
tes que iniciam a doença muito jovens pode parecer que 
apresentam um déficit intelectivo;
Pensamento: alteração na forma com perda da asso-
ciação entre as idéias, criação de neologismos. Alteração 
no conteúdo, presença de delírios e alteração no curso, 
com interrupção do fluxo de idéias;
Afetividade – o embotamento afetivo é característico 
das formas clínicas com predomínio de sintomas negativos. 
Pode haver ainda alterações qualitativas do afeto (neotimia, 
ambitimia e paratimia);
Vontade – hipobulia ou abulia são sintomas caracte-
rísticos das formas residuais de esquizofrenia, e levam à 
incapacitação social;
psiquiatria
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Psicomotricidade – as alterações da psicomotricidade 
são características da forma catatônica da doença (estupor, 
pseudoflexibilidade cerácea e negativismo).
 DiagnóStico
critérioS De Bleuler
Este autor introduziu o termo esquizofrenia e seu ob-
jetivo era procurar um distúrbio fundamental para esta 
doença. Descreveu os sintomas fundamentais que ficaram 
conhecidos como os quatro As de Bleuler: distúrbio da 
Associação do pensamento; do Afeto; Ambivalência e Au-
tismo. Estes sintomas refletiriam o processo fisiopatológico 
da destruição da personalidade. Bleuler descreveu ainda 
os sintomas acessórios, que seriam tentativas de auto-
regeneração do psiquismo, como por ex., alucinações, 
delírios e sintomas catatônicos.
critérioS De Kurt SchneiDer
Este autor tentou organizar o diagnóstico de esquizo-
frenia através da identificação de sintomas de primeira e 
de segunda ordem. A importância de Kurt Schneider, está 
no fato de que nos critérios diagnósticos atuais seus con-
ceitos foram incorporados. São os sintomas de primeira 
ordem: sonorização do pensamento; alucinações auditi-
vas em terceira pessoa; percepções delirantes; vivências 
de influência externa e publicação do pensamento. São 
sintomas de segunda ordem: perplexidade; intuições 
delirantes; pobreza emocional; alterações do humor e 
sintomas catatônicos.
ciD- 10 (critérioS DiagnóSticoS Da 
omS)
Presença de pelo menos um dos sitomas abaixo durante 
pelo menos 1 mês: 
• eco do pensamento;
• delírios de controle, influência, passividade ou per-
cepção delirante;
• vozes que comentam o comportamento do paciente 
na terceira pessoa;
• delírios persitentes culturalmente inapro-priados e 
completamente impossíveis.
Presença de pelo menos 2 sintomas abaixo durante 
1 mês:
• outras alucinações;
• interceptação do pensamento ou roubo do pensa-
mento;
• sintomas catatônicos;
• sintomas negativos.
Ausência de sintomas depressivos ou maníacos; au-
sência de doença orgânica, intoxicação ou abstinência 
por droga. 
DSm-iv tr (SiStema americano De 
DiagnóStico)
Sintomas característicos: no mínimo 2 dos seguintes 
quesitos durante o período de 1 mês ou menos, se tratados 
com sucesso: 
• delírios;
• alucinções;
• pensamento desagregado;
• comportamento amplamente desorganizado ou 
catatônico;
• sintomas negativos.
Basta apenas 1 dos sintomas acima se o delírio é 
bizarro ou se são alucinações auditivas que falam 
entre si, comentam e determinam sobre a vida do 
paciente.
Disfunção social ocupacional: relações interpessoais, 
trabalho ou cuidados pessoais estão acentuadamente 
abaixo do nível alcançado antes do início da doença.
Sinais da alteração de comportamento: contínuos, 
por pelo menos 6 meses.
Exclusão: os sintomas não são devidos a transtornos 
de humor.
Não é causado por doença orgânica, intoxicação ou 
abstinência a drogas.
 formaS clínicaS
As formas clínicas de esquizofrenia são definidas pelos 
sintomas predominantes à época da avaliação.
Forma paranóide: os sintomas mais importantes são 
delírios e alucinações. O início é mais tardio e o prognós-
tico é melhor.
Forma hebefrênica ou desorganizada: pensamento 
desorganizado, embotamento afetivo e conduta bizarra. O 
início é mais precoce e o prognóstico é pior.
Forma catatônica: os sintomas característicos são as 
alterações da psicomotricidade. 
Forma indiferenciada: vários sintomas estão presentes 
de forma concomitante. 
Depressão pós-esquizofrênica: um episódio depressi-
vo surge após a crise aguda de esquizofrenia. Este estado 
depressivo está associado maior risco de suicídio.
Capítulo 3 – esquizofrenia
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Forma simples: é uma forma rara, na qual os sintomas ne-
gativos se desenvolvem sem ser precedidos pelos positivos.
Forma residual: estágio crônico no desenvolvimento 
do transtorno esquizofrênico; houve evolução dos sintomas 
positivos para os negativos.
 DiagnóStico Diferencial
Doença mental orgânica aguda (delirium): neste caso 
existe alteração da consciência, alucinações e ilusões 
predominantemente táteis e visuais, e existe flutuação do 
quadro mental.
Doença mental orgânica crônica (demência): podem 
mimetizar os sintomas negativos e positivos da esquizofrenia, 
porém o início tardio, alteração da memória e a falta de doen-
ça psiquiátrica anterior falam a favor do quadro orgânico.
Transtorno maníaco: o paciente maníaco pode apre-
sentar humor irritável, idéias deliróides de grandeza, pen-
samentoacelerado e desagregado que poderão ser con-
fundidos com a esquizofrenia, porém, o curso da doença 
poderá servir de parâmetro diferencial, porque o paciente 
maníaco, na maioria das vezes, mantém uma integridade 
da personalidade no período intercrítico.
Episódio depressivo: às vezes, o paciente deprimido 
pode psicotizar, com afeto embotado e delírios somáticos 
semelhantes à esquizofrenia. Na depressão há predomínio 
de sintomas afetivos e na sua evolução, em geral, não 
haverá defeito de personalidade.
Doença esquizofreniforme: deve ser diferenciada da 
esquizofrenia pelo tempo de duração, menor que 6 meses.
Esquizofrenia: deve ser diferenciada, ainda, dos trans-
tornos delirantes, das psicoses atípicas e do transtorno esqui-
zoafetivo. Vale a pena citar que a intoxicação por anfetamina 
dá um quadro semelhante à esquizofrenia paranóide, com 
delírios e alucinações de curta duração. Outras drogas lícitas e 
prescritas pelos médicos podem originar psicoses semelhantes 
à esquizofrenia (corticóides, l-dopa, drogas anticolinérgicas). 
Por fim, existem condições clínicas, como sífilis, AIDS, tumor do 
SNC, doenças degenerativass, doenças auto-imunes, hipovita-
minoses, distúrbios metabólicos e endócrinos, que devem ser 
afastados nos pacientes considerados esquizofrênicos.
 tratamento
O programa de tratamento do paciente esquizofrênico, 
deve ser individualizado e amplo. O acompanhamento 
deve ser contínuo e valorizar a reintegração do paciente 
na comunidade. A hospitalização é indicada quando há 
necessidade de proteção do indivíduo e de seus pares, e 
deverá ser o mais curta possível. Assim, quando há risco de 
suicídio e ideação homicida, quando há recusa em usar os 
medicamentos, quando a família não tem condições de tra-
tá-lo em casa e quando há agressividade incontrolável.
O objetivo da terapia medicamentosa é o tratamento dos 
sintomas de modo a reduzir drasticamente o período agudo 
e crítico, permitindo que o paciente se trate dentro de sua 
comunidade, beneficiando-se de outras intervenções tera-
pêuticas que visam à reintegração social e laborativa.
O tratamento farmacológico da esquizofrenia é feito 
com medicações neurolépticos ou antipsicóticas. Os an-
tipsicóticos são drogas que agem principalmente na via 
dopaminérgica, e que são classificados atualmente como 
típicos e atípicos. Os antipsicóticos típicos são drogas mais 
antigas e que agem principalmente nos sintomas positivos 
da esquizofrenia. Eles podem ser de alta potência, como 
o haloperidol e a flufenazina, que apresentam mais efeitos 
extra-piramidais e menos efeitos anticolinérgicos, ou de bai-
xa potência, como a clorpro-mazina e a thioridazina, cujas 
doses terapêuticas são maiores apresentam menos efeitos 
extra-piramidais e têm um grande poder sedativo.
Os antipsicóticos atípicos, foram desenvolvidos mais 
recentemente, possuem uma via de ação mais complexa 
(dopaminérgica, serotoninérgica e algumas vezes noradre-
nérgicas), e pretendem ter mais efeito sobre os sintomas 
negativos da esquizofrenia que os antipsicóticos típicos, são 
eles a olanzapina, clozapina, risperidona, quetiapina. A clo-
zapina é o único antipsicótico comprovadamente eficaz tanto 
nos sintomas positivos quanto negativos, assim como também 
é eficaz nos pacientes que não respondem aos antipsicóticos 
típicos, ela não causa efeitos colaterais extra-piramidais, mas 
tem um importante efeito colateral que é a agranulocitose em 
1% dos pacientes, podendo ser fatal, o que limita seu uso.
curSo e prognóStico
O aparecimento da esquizofrenia ocorre em geral durante a 
adolescência ou início da idade adulta. O início pode ser abrup-
to ou insidioso, pode haver um período prodrômico, em que os 
sintomas se confundem com a adolescência normal (perda do 
interesse pela escola, trabalho, labilidade afetiva, e isolamento). 
A maioria dos pacientes alternam-se entre episódios psicóticos 
agudos e períodos intercríticos. A remissão completa não é 
comum nessa doença, apenas 25% voltam ao funcionamento 
pré-mórbido normal e 75% cronificam (50% evoluem com crises 
e remissões parciais e 25% com piora progressiva).
Em geral, o prognóstico desta doença crônica é dete-
riorante e sombrio, porém existem algumas variáveis de 
prognóstico úteis na previsão a longo prazo. Os fatores que 
falam a favor de um melhor prognóstico são: o início em idade 
avançada de forma aguda; boa adaptação pré-mórbida; 
sexo feminino; história familiar de transtorno afetivo; inteli-
gência superior; sintomas positivos; forma clínica paranóide; 
apoio familiar presente; fatores desencadeantes. Por outro 
lado, falam a favor de um mau prognóstico: início precoce e 
insidioso; má adaptação pré-mórbida; isolamento social; sin-
tomas familiares de esquizofrenia; forma clínica hebefrênca; 
predomínio de sintomas negativos; inteligência comprometi-
da; maior número de crises e falta de apoio familiar.

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