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Resumo de Comunicação e Política

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Resumo de Comunicação e Política
Uma organização social constitui-se a partir da organização de suas relações: 
Econômicas; 2) Políticas; 3) Culturais. 
1) Os aspectos econômicos são aqueles ligados à materialidade envolta em nossas relações sociais, como (por exemplo) as trocas de mercadoria e as relações financeiras. 
2)Os aspectos políticos são aqueles relacionados à divisão dos poderes de uma sociedade, ou seja, da organização social em termos de hierarquia, e envolvem aspectos burocráticos necessários à manutenção desta sociedade enquanto representação, através da figura do Estado. 
3) Os aspectos culturais estariam ligados ao comportamento, às práticas e aos artefatos desenvolvidos localmente, tradicionais e distintivos de uma determinada organização social. 
A palavra Política pode significar assuntos um tanto diversos, tais como:
 
1) Assuntos relacionados à administração pública ou mesmo privada; 
2) O objeto de estudo da Ciência Política;
3) Os aspectos relacionados à ordenação e ao encaminhamento das questões coletivas de uma organização social; 
4) Os assuntos relativos à organização hierárquica da sociedade e mesmo de determinadas instituições humanas;
 5) Os aspectos relativos à representação das causas e questões dos cidadãos vinculados a um município, uma unidade estadual, uma nação;
 6) A atividade profissional que se desenvolve, através de partidos políticos, relacionada a esta necessidade de representação que os cidadãos e grupos de cidadãos possuem e que ocupam diferentes esferas (municipal, estadual, federal, internacional).
Portanto, é perceptível o quanto o termo política pode ser ambíguo e múltiplo, ainda que esteja comumente relacionado a aspectos constitutivos da organização de uma sociedade. 
•A origem do termo é grega e significa aquilo que é relacionado à organização da polis, tanto em termos de discussão quanto em termos de atitudes práticas. Ou seja, existe uma discussão política de âmbito conceitual (muitas vezes, de caráter filosófico e relacionada à ética), tanto quanto um conjunto de atividades práticas (ou práxis) relacionadas à política. A práxis política envolve as atividades cotidianas da política. 
O termo “política”, do ponto de vista etimológico, deriva de politikós e de politeia (do grego antigo) e significa aquilo que está relacionado à organização dos grupos no território da polis (que eram as antigas cidades-Estado gregas, tal como Atenas). 
•Mesmo sabendo que hoje vivamos em outro contexto sócio-histórico, é importante ressaltar que ainda se usa o termo metrópole (que significaria algo como “cidade-mãe” ou “cidade-matriz”), advindo de “metropolis”, para referir-se a cidades que se articulam com outros municípios menores e estabelecem um funcionamento interligado, geralmente com mais de um milhão de habitantes.
Evidentemente, a constituição do poder não foi iniciada no Período Clássico (séculos V e IV a.C.), época de Sócrates, Platão e Aristóteles, grandes filósofos que trouxeram as questões ético-políticas para a filosofia. Os filósofos pré-socráticos (séc. VI a.C., ainda pertencendo historicamente ao Período Arcaico da Grécia Antiga), por sua vez, estavam mais preocupados em buscar explicações a respeito dos fenômenos naturais. Porém, a constituição do poder (ou seja, das hierarquias e autoridades das organizações sociais humanas) anterior às sociedades gregas era fundamentada, sobretudo, no poder despótico e patriarcal.
A figura do déspota se consolidava a partir de alguns elementos fundamentais, tais como:
 a) A posse de propriedades ou riquezas necessárias e/ou valorizadas pelo grupo em questão;
 b) A elaboração de um discurso mítico/religioso que associava necessariamente o déspota ao poder, de modo que a figura de ambos se confundia. Os déspotas possuíam, aos olhos de muitos destes grupos sociais, a permissão divina para governar.
Isto levou os déspotas, gradualmente, a delegarem determinadas funções importantes, ou seja, a burocratizarem determinados elementos relacionados ao funcionamento das organizações sociais. 
Três aspectos históricos, segundo Chauí (2004, p. 351), são fundamentais para a compreensão das origens da política. Além disso, são comuns tanto à cultura grega quanto à romana na Antiguidade: 
1) A forma da propriedade agrária (as terras não pertenciam mais apenas a um déspota/patriarca, mas a famílias independentes);
 2) O processo de urbanização;
 3) O modelo de divisão territorial das cidades.
Os conflitos entre diferentes grupos sociais que habitavam a polis geraram a necessidade de uma solução, que, no caso da Grécia Antiga (com similaridades no caso romano), foi o desenvolvimento da política com forma de organização dos grupos no território.
Segundo Chauí (op. cit., p. 351): 
“Os primeiros chefes políticos, também conhecidos como legisladores, introduziram uma divisão no território das cidades, visando diminuir o poderio das famílias ricas agrárias, dos artesãos e comerciantes urbanos ricos e satisfazer a reivindicação dos camponeses pobres e dos artesãos assalariados urbanos pobres. Em Atenas, por exemplo, a polis foi subdividida em unidades sociopolíticas denominadas demos; em Roma, em tribus”.
Finalmente, pode-se afirmar que a noção de “democracia” é grega e significa justamente a de poder/governo das famílias ou grupos, ou seja, o “poder do povo”, o “poder dividido”, o “poder participativo”.
Os gregos usavam mais de um termo para a palavra “vida”: Zoé e Bios. Enquanto Zoé estaria mais ligado à vida em sentido animal/individual (de onde vem as palavras “zoo”, “zoológico” etc.), a palavra bios (de onde vem a palavra “biologia”) estaria relacionada à vida em sentido comum, comunitário, social. Seria a vida implicada no contexto da polis. As atividades dimensionadas socialmente seriam consideradas parte do bios e Aristóteles buscou encontrar quais conjuntos de atividades sociais levariam a uma vida plena, repleta de felicidade (“eudaimonia”) e com vistas ao “Bem Comum” (“to agathon”).
Assim, o filósofo identificou três bios essenciais. Como afirma o autor Muniz Sodré: “Logo nas primeiras páginas de sua Ética a Nicômaco, Aristóteles distingue, a exemplo do que já fizera Platão no Filebo, três gêneros de existência (bios) na Polis: bios theoretikos (vida contemplativa), bios politikos (vida política) e bios apolaustikos (vida prazerosa, vida do corpo)” (SODRÉ, 2002, p. 25).
Hoje, poderíamos afirmar que o citadino é aquele que mora em uma cidade, enquanto o cidadão é aquele que não apenas reside, mas participa dos processos políticos (ou seja, organizacionais) de sua cidade. Cidadania é algo que se constrói e se exercita a cada dia. Ter, por exemplo, participado em um pleito eleitoral no passado não exime o cidadão de participar do pleito eleitoral atual. 
Assim, ser cidadão significa conhecer e exercer seus direitos e deveres em meio ao grupo social.
“A ação, em grego práxis, é aquela atividade humana em que o agente, o ato que ele realiza e a finalidade
buscada por ele são idênticos – a práxis define a ação ética e a ação política”.
A ágora constituiria o símbolo maior da democracia ateniense, visto que permitia a participação dos cidadãos nos processos políticos. Em geral, a ágora, no período clássico, era constituída de um grande espaço aberto, com edificações que eram erigidas ao seu redor para brigar algumas das inúmeras atividades que ocorriam neste espaço.
Muitas vezes, a ágora ateniense abrigava as assembleias (embora nem todas ocorressem neste espaço).
A assembleia grega seria uma reunião com poderes legislativos, ou seja, que definia aspectos importantes das decisões políticas da época.
Nas assembleias, portanto, a política era realizada através da discussão, do convencimento e do consenso. 
Os cidadãos gregos em idade produtiva, do sexo masculino e nascidos na pólis participavam das assembleias, ou seja, da política. Neste sentido, é um pouco fantasiosa a ideia de que a democracia grega era um modelo
perfeito.Havia uma série de distorções, já que nem todos, de fato, poderiam participar das discussões políticas.
No que se refere à quantidade dos que governam (ou ao princípio fundamental da governança), os gregos definiram os
seguintes regimes políticos:
1) Monarquia – Governo de um só (monas);
2) Oligarquia – Governo de alguns (oligói);
3) Poliarquia – Governo de muitos (polos);
4) Anarquia – Governo de ninguém (ana).
Já no que se refere a quem detém o poder, os gregos definiram os seguintes regimes políticos:
1) Autocracia – poder de uma única pessoa (autós);
2) Aristocracia – poder dos melhores (aristói);
3) Democracia – poder de todos os grupos (demos).
Estes conceitos a respeito dos regimes políticos são classificações definidas principalmente por Platão eAristóteles. Em tempos de guerra e de corrupção, os regimes políticos, segundo esta classificação, podem
ainda gerar situações temporárias de:
4) Timocracia – Poder dos guerreiros.
5) Plutocracia – Poder dos muito ricos.
A transformação na visibilidade dos processos políticos
Se, na Antiguidade, os gregos valorizavam a ágora (e os romanos tinham o seu correspondente nos fóruns), a Idade Média modificou novamente as características principais das questões relativas ao poder e à organização das sociedades. 
Em uma época de intensas guerras e instabilidades política, a aliança entre a nobreza e o alto clero predominou por cerca de dez séculos. 
Durante este período, pode-se destacar a fé católica como uma justificativa para muitas das reflexões filosóficas e das ações ético-políticas. 
Neste contexto, a figura do rei passa a ser valorizada como algo divino. Em um mundo cada vez mais teocêntrico (ou seja, Deus passa a ser o centro do universo e das preocupações humanas), o poder passa a ser cada vez mais teocrático.
O Pensamento político na Modernidade: Maquiavel e o príncipe
Quando se pensa na obra de Maquiavel sem conhecê-la profundamente, o senso comum a associa a algo negativo. Em termos éticos, ser considerado maquiavélico é ser visto como alguém destituído de escrúpulos e que faz o que é necessário para conseguir seus objetivos, usando racionalmente as pessoas como meios e não como fins em si mesmas 
Escrito em 1513, O príncipe é um dos escritos políticos de Nicolau Maquiavel, um autor que vivenciou a política de perto e depois viveu em certa reclusão enquanto escrevia suas principais obras 
Trata-se de uma obra que discute os tipos de principado e as formas de governança do príncipe. É um escrito que determina alguns procedimentos para que o príncipe seja bem-sucedido na tarefa de governar seus súditos e seu povo. 
•É importante ressaltar que, nesta obra, Maquiavel cita exemplos reais italianos, franceses, turcos etc., demonstrando bastante conhecimento da política praticada em seu tempo e mesmo em períodos anteriores. 
•O príncipe, segundo Maquiavel, constitui-se como um “condutor” e precisa tomar decisões difíceis, em alguns momentos governando mais através da força do que do consenso. 
•Os conceitos de virtú (capacidade de liderança e tomada decisória através da adaptação diante dos acontecimentos) e fortuna (circunstâncias que o príncipe não controla) são recorrentemente citados ao longo desta obra. 
Assim, o príncipe maquiavélico é alguém flexível diante da realidade concreta. Não há separação entre teoria e prática em Maquiavel, sendo este um autor que abandonou as ideias utópicas de governantes perfeitos e circunstâncias ideais de governo. 
•Nesta obra, o príncipe é o governante do principado, ou seja, aquele que adquire o poder de nascença. Não se trata, portanto, de uma discussão sobre os processos de governo republicanos.
O príncipe, para Maquiavel, precisa estar atento às circunstâncias de seu governo e não deve ser odiado por seu povo. Neste sentido, precisa conduzir com força e vontade, além de sabedoria, cada uma das inúmeras decisões que se apresentam cotidianamente. A virtú do príncipe, para o autor, está mais relacionada à capacidade de adaptar-se às situações novas sem perder a condução do governo do que às virtudes propriamente éticas (ou seja, justificáveis perante a coletividade social). 
poder político, segundo Maquiavel, se baseia em três pilares fundamentais: 
•1 – Legitimidade (trata-se de um poder usualmente adquirido, o que significa que não é qualquer pessoa que pode ocupar esta posição); 
•2 – Organização (capacidade de tratar de muitas coisas e com muitas partes a todo o tempo); 
•3 – Flexibilidade (capacidade de tomar as decisões corretas, em termos pragmáticos, no momento em que as diversas situações se apresentam). 
A constituição da dicotomia “público x privado”
“O primeiro sentido da dicotomia tem a ver com a relação entre o domínio do poder político institucionalizado, que cada vez mais era exercido por um Estado soberano, por um lado, e o domínio da atividade econômica e das relações pessoais, que fugiam do controle direto do poder político, por outro lado. Assim, a partir de meados do século XVI em diante, ‘público’ começou a significar atividade ou autoridade relativa ao estado e dele derivada, enquanto ‘privado’ se referia às atividades ou esferas da vida que eram excluídas ou separadas daquela”.
Mas Thompson também apresenta, neste mesmo livro, a ideia de que o sentido mais usual da dicotomia nos dias atuais, por conta da presença dos meios de comunicação de massa contemporâneos, como a televisão (em que o caráter audiovisual é predominante), é o seguinte: 1) Público: aquilo que é visível a um número grande de pessoas; 2) Privado: o que é invisível a um número maior de pessoas, o que permanece na esfera da intimidade. 
A evolução do próprio homem, que se dedica ao intelecto e ao conhecimento e não apenas às próprias paixões corpóreas exige a mudança para um estado em que é necessário um “contrato social”. Mais do que a felicidade, Hobbes preocupava-se com a conquista da paz (ou viver sem o medo cotidiano dos ataques alheios). O contrato verbal entre os homens não é suficientemente forte (visto que são maus e egoístas por natureza) para manter esta paz social. É preciso, portanto, de um corpo artificial e coercitivo que materialize institucionalmente a lei justa e o direito de cada habitante daquela sociedade.
•Nas palavras do próprio autor (THOMPSON, 2008, p. 112), “Neste sentido, a dicotomia tem a ver com publicidade versus privacidade, com abertura versus segredo, com visibilidade versus invisibilidade. Um ato público é um ato visível, realizado abertamente para que qualquer um possa ver; um ato privado é invisível, realizado secretamente atrás de portas fechadas”. 
•Publicado em 1651, o livro intitulado Leviatã ou matéria, forma e poder de um Estado eclesiástico e civil, esta obra é importante para o pensamento político até os dias atuais, pois trata da soberania do Estado como forma de administração da coletividade. 
•Hobbes vivenciou um longo período de guerra e foi um pensador pessimista com relação à natureza humana. Acreditava que os seres humanos surgiam em um estado natural ou de natureza, constituído pela barbárie dos desejos e paixões individuais. 
Cada homem consegue tudo aquilo que pode obter através da força e da astúcia e mantém estas coisas pelo tempo que consegue. Trata-se, na concepção deste pensador, de uma guerra constante de todos contra todos, em que o “homem é o lobo do homem”. 
É preciso que este corpo artificial seja suficientemente forte para manter a organização social coesa. Manter a ordem só é possível através da força. Se Maquiavel já havia apresentado a figura do príncipe como capaz de governar através da força (quando necessário), Hobbes trata deste corpo potente, ou seja, o Estado, como um um corpo capaz de dispor da força de modo institucionalizado. Este Estado soberano é comparado pelo autor inglês à figura bíblica do Leviatã, para que fique evidente sua força e seu tamanho. 
Arendt (2007, p. 59-60) apresenta dois sentidos para o termo público: 
•1) É aquilo que tornamos visível aoutras pessoas; 
•2) É o próprio mundo constituído pelo homem, ou seja, a realidade comum que partilhamos enquanto seres sociais. 
•Pode-se concluir, portanto, que, na concepção de Arendt, a esfera pública também se constitui a partir da “vida em comum” (seja pela partilha simbólica ou concreta entre os indivíduos que pertencem a uma determinada coletividade). 
No que se refere ao termo privado, Arendt (op. cit., p. 68) afirma, correlacionando aos sentidos já apresentados de público: “É em relação a esta múltipla importância da esfera pública que o termo ‘privado’, em sua acepção original de ‘privação’, tem significado. Para o indivíduo, viver uma vida inteiramente privada significa, acima de tudo, ser destituído de coisas essenciais à vida verdadeiramente humana: ser privado da realidade que advém do fato de ser visto e ouvido por outros, privado de uma relação ‘objetiva’ com eles decorrente do fato de ligar-se e separar-se deles mediante um mundo comum de coisas, e privado da possibilidade de realizar algo mais permanente que a própria vida”. 
Thompson discute a transformação da visibilidade dos processos políticos ao longo dos tempos, apresentando três tipos de eventos relacionados à política que possuem características próprias: 
1) Os eventos de copresença: 
Os eventos copresenciais são aqueles em que a presença de todos os envolvidos ocorre simultaneamente (em conjunto). Trata-se, por exemplo, das discussões na ágora grega, na qual o orador político fala ao mesmo tempo em que todos os participantes estão reunidos. Outro exemplo seria, nos dias atuais, um comício político ou uma reunião partidária, em que todos os participantes estão presentes ao mesmo tempo em determinado recinto, praça pública etc. 
2) Os eventos de publicidade mediada: 
Os eventos de publicidade mediada são aqueles em que passa a existir a mediação através de algum tipo de meio de comunicação a distância. Em princípio, pode até se tratar da escrita, mas o fato é que estes eventos passaram a ocorrer sistematicamente a partir da Modernidade europeia e do advento dos impressos. A velocidade de difusão e a fidedignidade com relação às mensagens originais dos impressos eram tamanhas (se comparadas às dos manuscritos) possibilitando, por exemplo, que diversos eventos políticos fossem influenciados por palavras e oradores que não estavam necessariamente presentes ao evento. Em alguns casos, houve (e ainda há) até mesmo a influência do discurso de pessoas que já haviam falecido em eventos políticos de grande importância, tal como a Revolução Francesa. 
Nos eventos de publicidade mediada, aquele que proferiu o discurso político não está presente no momento em que suas palavras estão sendo passadas adiante. Não há portanto, a visibilidade direta com relação ao orador. Além disso, é preciso a mediação do código escrito (mesmo no caso dos impressos), ou seja, apenas os indivíduos alfabetizados conseguem ler e interpretar corretamente os escritos/impressos. 
3)Os eventos de publicidade mediada pela televisão: 
•A partir de meados do século XX, o advento da televisão fez com que fosse inaugurado um novo tipo de evento político: a publicidade mediada pela televisão. Embora seja, de fato, uma publicidade mediada, esta nova modalidade, para Thompson, exibe algumas características que fazem dela bastante distinta. O espectador televisivo pode ter acesso audiovisual ao orador político, de modo que este tipo de evento cria, por vezes, uma impressão de copresença. 
Thompson (op. cit., p. 117-118) apresenta algumas diferenças fundamentais entre a publicidade tradicional de copresença e a publicidade mediada pela televisão. Segundo o autor, esta nova forma de evento político: 
1) Faz com que o alcance do próprio evento seja ampliado em termos dos contextos espacial e/ou temporal; 
2) Altera o campo de visão do espectador. Este campo passa a ser gerado e controlado artificialmente pelos produtores do conteúdo difundido. Desta forma, para o espectador, este é um campo de visão mais extenso em termos de alcance e mais restrito em termos de escolha. 
3) Há uma unidirecionalidade no processo visual. Ao contrário dos contextos copresenciais, em que todos os presentes podem ver e ser vistos simultaneamente, neste tipo de evento, o orador é visto, mas não vê os espectadores e suas reações.
Thompson discute a importância da administração da visibilidade pelos políticos na contemporaneidade. Embora sempre tenha havido algum tipo de administração da imagem pública (no caso dos reis medievais, por exemplo, que controlavam suas aparições diante da população, restringindo-as a momentos e modos específicos), o mundo contemporâneo ampliou a complexidade desta administração pelos agentes políticos. 
•Thompson, então, apresenta quatro tipos de ocorrências que podem abalar a imagem pública de um agente político nos dias atuais:
Gafes e acessos explosivos
Constituem momentos em que os agentes políticos demonstram, aos olhos do público, certo despreparo para a função que exercem. Espera-se dos políticos conhecimento e domínio das situações diplomáticas, além de controle emocional na tomada de decisões.
O desempenho de efeito contrário; 
Pode ser muito prejudicial para a imagem do agente político. Demonstra falta de cuidado ou excesso de confiança ao calcular suas ações e decisões públicas.
O vazamento
Demonstra falta de coesão interna na equipe do agente político.
O escândalo
Trata-se da pior ocorrência possível para a imagem do agente político. O escândalo necessariamente está ligado à descoberta de ações e procedimentos que contrariam a moralidade vigente no país ou região em que o político reside e atua (e, consequentemente, representa).
O pensamento conceitual contemporâneo e a obra de Michel Foucault
Foucault foi um grande crítico do pensamento moderno, rompendo com (ou repensando) conceitos como: identidade, sujeito e poder.
Alguns dos temas que tratou ao longo de sua vida, a partir de uma perspectiva (em princípio) histórica: a sexualidade, a constituição das práticas de saber, a constituição das práticas de poder, a loucura, a prisão etc. 
No caso da arqueologia, o autor propõe “escavar” as evidências “subterrâneas”, “soterradas”, de modo a fazer emergir saberes pouco estudados pelas instituições legitimadoras das práticas de saber (tal como a Universidade). Foucault preocupava-se, por exemplo, com aquelas vozes pouco ouvidas socialmente, vozes silenciadas pelas próprias instituições enquanto legitimadoras de determinadas práticas de poder e de saber. O autor considerava estas duas práticas de natureza distinta muito importantes no que se refere à organização social e à formação ordenada de um discurso institucionalmente legitimado a respeito das normas que regem a sociedade.
Portanto, enquanto a sociedade buscava a fala dos médicos para discutir a loucura, Foucault estava interessado na voz silenciada do próprio paciente, do louco. Enquanto a sociedade estava interessada na fala da polícia e dos juízes para discutir as prisões, Foucault estava interessado nas falas e evidências relacionadas aos presos.
Não se trata de defender estes agentes sociais, mas de garantir visibilidade também às suas falas e vivências, aos seus registros e existência. Isto pode ser feito através da análise destes discursos socialmente invisíveis, tornando-os visíveis.
No caso da genealogia, Foucault realiza (a partir da influência de Nietzsche) uma crítica à História enquanto disciplina, visto que esta legitimaria a cronologia e ordenação dos acontecimentos e períodos temporais a partir da fala dos vencedores dos principais conflitos ocorridos. 
Assim, o autor defendia que é preciso substituir a História pela genealogia, que seria a reconstituição geral dos fatos, acontecimentos e características das estruturas sociais a partir das relações cotidianas, daquilo que é mais próximo, invertendo a lógica moderna. Ao invés de narrar os fatos de cima para baixo (a partir dos vencedores e das instâncias de legitimação valorizadas,tais como o Estado), dever-se-ia proceder de baixo para cima, a partir das microrrelações cotidianas para a constituição mais geral da compreensão das práticas sociais e sua relação com as instituições legitimadoras. Trata-se de um movimento que pode ser, de fato, comparado ao da constituição de uma árvore genealógica, na qual uma família pensa a sua existência a partir da geração atual para as anteriores. 
No que se refere às questões políticas propriamente, o pensamento de Foucault é importante, pois o mesmo realiza, na obra intitulada Vigiar e punir, uma análise das práticas de poder na Modernidade. 
O autor assume uma posição clara a respeito de sua análise das questões referentes ao poder: 
 
Em primeiro lugar, relaciona as práticas de poder e saber ao longo da história, pois percebe que determinadas práticas de poder legitimam as práticas de saber e vice-versa. O autor não trata o poder (assim como o saber) como algo abstrato, mas como práticas institucionalizadas, reafirmadas local e cotidianamente. 
2) Ou seja, Foucault não acredita no “poder” como algo absoluto e abstrato. O autor está mais interessado nas práticas de poder que permeiam as microrrelações (ou microfísicas) cotidianas. Segundo o autor, ninguém detém o “poder” de modo perene.
3) Para o pensador francês, as práticas de poder, por serem concretas, se inscrevem nos corpos dos indivíduos (de diferentes formas, dependendo do período histórico). 
No que se refere à Modernidade, Foucault situa as práticas de poder a partir de seu caráter disciplinar. 
O nome sociedade disciplinar (ou sociedades disciplinares) é atribuído ao modo como as práticas de poder se constituem na modernidade europeia, principalmente entre o século XVIII e meados do século XX.
Foucault define que é o conjunto de regras (caráter disciplinar) referente à necessidade de ordenação racional deste novo espaço urbano (que se está constituindo como decorrência do crescimento das cidades e da Revolução Industrial) a característica fundamental para a compreensão das práticas de poder modernas. 
As sociedades de soberania possuem, segundo o autor, práticas de poder centradas na figura de um soberano (reis e papas).
Nas sociedades de soberania, aquele que desrespeita alguma norma importante é excluído da sociedade pelo soberano. Pode ser trancado em uma masmorra escura (longe dos olhos alheios) ou expulso do reino. Existe ainda a execução em praça pública, para que sirva de exemplo a outros. 
Já nas sociedades disciplinares, aquele que desrespeita alguma regra deve ser punido de modo a poder, novamente, ser socializado no mundo do trabalho. 
Uma das características fundamentais das Sociedades Disciplinares seria, para Foucault, o panoptismo enquanto instrumento disciplinar.
Deste modo, o panoptismo é uma relação de visão total (ou global) entre um vigilante e um vigiado.
O panoptismo seria esta relação de vigilância e punição característica da organização política moderna.
Foucault percebe uma correspondência no modo como a medicina, a educação e a repressão social se transformam a partir do período Moderno, tendo em comum esta relação de visibilidade disciplinar. No livro intitulado Vigiar e Punir, o terceiro capítulo é dedicado à explicação da relação panóptica e do dispositivo panóptico. O capítulo é intitulado justamente “O panoptismo”. Foucault inicia o texto em questão com uma comparação entre as distintas abordagens para a contenção da Lepra, no século XIV, e da peste, no século XVII. O autor percebe que o sistema usado no século XVII envolvia uma racionalização da observação sobre os doentes, na qual a regularidade do exame se fazia notar. Tratava-se de um tipo de quarentena em que era possível reintegrar, através da observação sistemática, alguns doentes à sociedade, mediante a visibilidade de sua melhora.
Trata-se de um sistema onde os doentes ficavam confinados em suas casas, mas as mesmas eram observadas (através das janelas) diariamente. Este sistema ordenado e passível de um registro diário começa a constituir, segundo o autor, uma relação cada vez mais características da Modernidade europeia.
Para o autor francês, a evolução das práticas disciplinares fez com que, no século XIX, vários espaços sociais institucionalizados estivessem usando mecanismos disciplinares de vigilância similares ao usado no tratamento da peste do século XVII. Segundo Foucault (op. cit., p. 165): “O asilo psiquiátrico, a penitenciária, a casa de correção, o estabelecimento de educação vigiada, e por um lado os hospitais, de um modo geral todas as instâncias de controle individual funcional num duplo modo: o da divisão binária e da marcação (louco-não louco; perigoso-inofensivo; normal-anormal); e o da determinação coercitiva, da repartição diferencial (quem é ele; onde deve estar; como caracterizá-lo, como reconhecê-lo; como exercer sobre ele, de maneira individual, uma vigilância constante, etc.).
A prisão panóptica consiste em um modelo exemplar, para Foucault, das relações de poder que se estabelecem em diversas outras instituições sociais modernas, tais como a escola, a fábrica, a universidade, etc. Se na masmorra a pessoa era trancafiada e excluída do convívio social, a prisão panóptica coloca o indivíduo trancado e separado por determinado tempo. Se ele tiver comportamento adequado, poderá sair e ser reintegrado à sociedade. Durante seu período de confinamento, a relação panóptica garante uma interiorização do olhar do vigia, pois o detento nunca sabe ao certo quando estará sendo observado.
Ao contrário de outros autores estudados em aulas anteriores (Maquiavel e Hobbes, por exemplo), o pensador francês não afirma que a política deve ser assim (como um ideal a ser seguido), mas afirma que as relações que envolvem práticas de poder na modernidade têm sido assim. Foucault, portanto, não define uma teoria para servir ao governante e ao Estado, mas aponta para o que a análise pode concluir a partir do que já vinha ocorrendo cada vez mais desde o século XVII. Trata-se, portanto, da constatação de uma necessidade política de lidar com a acumulação dos corpos em cidades cada vez maiores.

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