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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ 
 
DIOGO ALEXANDRE SILVA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A FALÊNCIA DO SISTEMA PRISIONAL BRASILEIRO E A 
RESSOCIALIZAÇÃO DO APENADO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CURITIBA 
2016
 
 
 
 
DIOGO ALEXANDRE SILVA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A FALÊNCIA DO SISTEMA PRISIONAL BRASILEIRO E A 
RESSOCIALIZAÇÃO DO APENADO 
 
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao 
Curso de Direito, da Faculdade de Ciências 
Jurídicas da Universidade Tuiuti do Paraná, à 
Disciplina de Execução Penal, como requisito para 
a obtenção do grau de bacharel em Direito. 
Orientador: Prof. Dálio Zippin Filho 
 
 
 
 
 
 
 
CURITIBA 
2016
 
 
 
 
TERMO DE APROVAÇÃO 
 
DIOGO ALEXANDRE SILVA 
 
A FALÊNCIA DO SISTEMA PRISIONAL BRASILEIRO E A 
RESSOCIALIZAÇÃO DO APENADO 
 
 
 
Esta monografia foi julgada e aprovada para a obtenção do título de Bacharel no Curso de Direito da 
Universidade Tuiuti do Paraná. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Curitiba, de de 2016 
 
 
 
____________________________ 
Bacharelado em Direito 
Universidade Tuiuti do Paraná 
 
 
 
 
Orientador: ______________________________ 
Professor Doutor Dálio Zippin Filho 
 
 
 
______________________________ 
Professor da Universidade Tuiuti 
 
 
 
______________________________ 
Professor da Universidade Tuiuti 
 
 
 
 
 
RESUMO 
 
O presente trabalho tem por objeto o estudo do Direito Penal e do Direito de Execução 
Penal no que tange a ressocialização do apenado frente ao cumprimento da pena 
restritiva de liberdade. Tendo em vista que, verifica-se em nossa legislação que a 
execução penal tem por objetivo, além da efetivação da sentença, a ressocialização 
do apenado com fito sua futura reinserção à sociedade. Analisando-se para tanto a 
evolução do Direito Penal e da pena em si, verificando-se qual sua finalidade em cada 
contexto histórico até a atualidade, bem como a Lei de Execução Penal brasileira. 
Demonstra-se que embora a legislação pátria possua o escopo da ressocialização, 
não se tem conseguido atingir tal propósito com eficiência. Isso devido à inércia do 
Poder Público frente aos problemas ocorrentes no sistema prisional com o 
descumprimento ou cumprimento parcial da Lei de Execução Penal, bem como da 
Constituição Federal. Para tanto, contextualizamos a crise no sistema prisional 
brasileiro e sua ineficiência do tratamento penal em ressocializar o indivíduo. Ademais, 
foi analisado o papel da sociedade na ressocialização do preso, sendo ela a última e 
mais importante fase deste processo. 
 
 
Palavras- chave: Prisão. Pena. Ressocialização. Execução Penal.
 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................... 6 
2 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA PENA ................................................................. 7 
2.1 FASES DA VINGANÇA PENAL ......................................................................... 7 
2.2 PERÍODO HUMANITÁRIO ................................................................................. 8 
3 HISTÓRICO DO DIREITO PENAL BRASILEIRO ........................................... 10 
3.1 PERÍODO COLONIAL ...................................................................................... 10 
3.2 CÓDIGO PENAL DO IMPÉRIO ........................................................................ 10 
3.3 PERÍODO REPUBLICANO .............................................................................. 11 
3.4 REFORMAS CONTEMPORÂNEAS ................................................................. 11 
4 A FUNÇÃO E A FINALIDADE DA PENA ........................................................ 14 
5 SISTEMA PENITENCIÁRIO BRASILEIRO ..................................................... 16 
5.1 RETROCESSO PRISIONAL DO SÉCULO XX ................................................ 16 
6 A RESSOCIALIZAÇÃO NA LEI DE EXECUÇÃO PENAL .............................. 19 
6.1 DA PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE ........................................................... 20 
6.2 DA INDIVIDUALIZAÇÃO NA EXECUÇÃO PENAL .......................................... 21 
6.3 DA ASSISTÊNCIA ............................................................................................ 23 
6.3.1 Da Assistência Material .................................................................................... 24 
6.3.2 Da Assistência à Saúde ................................................................................... 24 
6.3.3 Da Assistência Jurídica .................................................................................... 24 
6.3.4 Da Assistência Educacional ............................................................................. 25 
6.3.5 Da Assistência Social ....................................................................................... 27 
6.3.6 Da Assistência Religiosa .................................................................................. 27 
6.3.7 Da Assistência ao Egresso ............................................................................... 27 
6.4 DO TRABALHO DO PRESO ............................................................................ 28 
6.5 DOS DEVERES E DIREITOS DO PRESO ...................................................... 29 
7 A CRISE NO SISTEMA PRISIONAL BRASILEIRO ........................................ 31 
7.1 SUPERLOTAÇÃO ............................................................................................ 32 
7.2 VIOLÊNCIA ...................................................................................................... 33 
7.3 ESTRUTURA PRISIONAL ............................................................................... 33 
7.4 PRECONCEITO SOCIAL ................................................................................. 34 
 
 
 
 
7.5 REINCIDÊNCIA COMO CONSEQUÊNCIA DA CRISE NO SISTEMA 
PRISIONAL ............................................................................................................... 36 
8 UMA QUESTÃO DE POLÍTICA CRIMINAL .................................................... 37 
9 CONCLUSÃO .................................................................................................. 39 
 REFERÊNCIAS ................................................................................................ 41 
 
 
6 
 
 
1 INTRODUÇÃO 
 
A abordagem desse trabalho terá como estudo a falência do sistema prisional 
brasileiro e a ineficiência em efetivar a função ressocializadora da pena privativa de 
liberdade. Analisa-se para tanto a evolução histórica do Direito Penal e da pena em 
si, primeiramente mundial e após, a evolução ocorrida em nível nacional. 
Posteriormente, serão explanadas as teorias da função e finalidade da pena, e, o 
sistema penitenciário brasileiro. 
Destaca-se, a nossa atual legislação de execução penal, a LEP, e os 
fundamentos que nos demonstra qual é seu objetivo quando da execução da pena, 
qual seja o de efetivar as disposições da sentença e proporcionar as condições 
necessárias para uma harmônica integração social do condenado à sociedade, 
promovendo a ressocialização e reeducação do apenado. Para isso, prevê a 
assistência necessária desde o ingresso ao sistema prisional até quando da sua 
saída, na posição de egresso, buscando desde sempre a sua ressocialização para 
sua posterior reinserção à sociedade. Evitando deste modo, a reincidência criminal. 
Apresentaremos quais as dificuldadesimpostas à ressocialização do recluso, 
retratando o cenário totalmente desfavorável em que nos encontramos com relação 
ao sistema prisional. Cenário em que impera a precariedade, a violência, a corrupção, 
ou seja, a ausência do Estado. Sem embargo, denota-se a importância da participação 
da sociedade nesse processo, uma vez que o condenado que passa por um processo 
satisfatório de ressocialização, tende a contribuir com a sociedade em oposição ao 
peso que será com a ineficiência desse processo. 
 
7 
 
 
2 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA PENA 
 
É bem verdade que o homem não nascera para ficar preso, porém conforme 
sinaliza Rogério Greco (2015, p.83): “A história da civilização demonstra, no entanto, 
que, logo no início da criação, o homem se tornou perigoso para seus semelhantes”. 
Assim, todo grupo social sempre possuiu regras que puniam aquele que praticasse 
fatos contrários aos seus interesses. Isto, com o condão de impedir comportamentos 
que colocassem o grupo em risco. 
A palavra "pena" deriva do latim poena e do grego poiné e significa inflição de 
dor física ou moral imposta ao transgressor de uma lei, nas palavras de Enrique 
Pessina (1913, p.589-590 apud GRECO, 2015, p. 84): "um sofrimento que recai, por 
obra da sociedade humana sobre aquele que foi declarado autor de delito". 
Avaliaremos a evolução da pena, juntamente com a evolução do próprio 
Direito Penal, analisando a forma de punição dos infratores em cada período. 
 
2.1 FASES DA VINGANÇA PENAL 
 
A fase da vingança divina se deve à influência da religião na vida dos povos 
da antiguidade, onde a repressão era a satisfação da divindade, pois esta seria a 
ofendida pelo crime. Então, para aplacar a ira divina eram criadas diversas proibições 
conhecidas como "tabu", de maneira que se desobedecidas acarretariam em castigo. 
As punições iam de oferendas de objetos de valor ou animais até o sacrifício do próprio 
infrator à divindade ofendida. Destarte, surgira a pena em sua faceta mais remota, que 
nada mais significava senão a vingança aplicada sem preocupação com a justiça. 
Na denominada fase da vingança privada, a pena tinha como único 
fundamento a retribuição àquele que teria praticado o crime, ocorria assim a reação 
da própria vítima, de parentes ou até do grupo social, agindo sem proporção ao delito 
praticado, podendo atingir não só o ofensor como seu grupo como um todo, sendo 
invariavelmente a pena de morte a aplicada, o que culminava, não rara as vezes, na 
extinção de um dos grupos. Ou então, sendo o ofensor pertencente ao mesmo grupo 
do ofendido, este poderia ser punido com o banimento, deixando-o à mercê dos 
demais grupos, o que na prática era a morte. 
Surge então, com a evolução social, a Lei de Talião, que pode ser considerado 
um avanço, porque mesmo ainda que de forma superficial, trouxe um conceito de 
8 
 
 
proporcionalidade, já que limitara a reação à ofensa a um mal idêntico ao praticado. 
Este fora adotado no Código de Hamurábi, no Êxodo e na Lei das XII Tábuas, tido 
como grande avanço ao reduzir a abrangência da ação punitiva. 
Posteriormente, evoluiu-se para composição, sistema pelo qual o ofensor 
comprava a sua liberdade, livrando-se do castigo. A composição foi amplamente 
aceita em sua época, e remonta a origem das modernas indenizações do Direito Civil 
e das penas pecuniárias do Direito Penal. 
Com a melhora da organização social, o Estado afastou a vingança privada, 
atingindo-se a fase da vingança pública. Isto, com intuito de dar maior estabilidade ao 
Estado e segurança ao soberano através da pena, que ainda mantinha características 
de severidade e crueldade, com fito intimidatório. Ainda, na Grécia Antiga e Roma 
Antiga, a pena continuava com inspirações em sentimentos religiosos, libertando-se 
desse caráter posteriormente. 
 
2.2 PERÍODO HUMANITÁRIO 
 
A legislação criminal europeia em meados do século XVIII justifica a reação 
de alguns pensadores, cujas ideias giravam em torno da razão e da humanidade. Pois, 
à época, as leis penais eram excessivamente cruéis e prodigas em castigos corporais 
e na pena capital. Os juízes agiam ao seu arbítrio e julgavam os homens de acordo 
com a sua condição. Por isso, criminalistas da época defendiam procedimentos e 
instituições mais rigorosos. 
Portanto, no decorrer do Iluminismo, na segunda metade do século XVIII, 
inicia-se o Período Humanitário do Direito Penal, movimento que veio apregoar a 
reforma da legislação e da administração da justiça penal. Momento em que o homem 
toma consciência do problema penal jusfilosoficamente, tendo ciência em temas como 
do direito de punir e da legitimidade das penas. 
Este período foi de fundamental importância para evolução e humanização do 
Direito Penal e seus fundamentos, conforme as palavras do professor Rogério Greco: 
 
O período iluminista teve fundamental importância no pensamento punitivo, 
uma vez que, com apoio na “razão”, o que outrora era praticado 
despoticamente, agora necessitava de provas para ser realizado. Não 
somente o processo penal foi modificado, com a exigência de provas que 
pudessem conduzir à condenação do acusado mas, e sobretudo, as penas 
que poderiam ser impostas. O ser humano passou a ser encarado como tal, 
9 
 
 
e não mais como mero objeto, sobre o qual recaía a fúria do Estado, muitas 
vezes sem razão ou fundamento suficiente para condenação. (2015, p. 87) 
 
Através do pensamento jusnaturalista, passou-se a reconhecer os direitos 
inerentes ao ser humano, como por exemplo, a dignidade e o direito de igualdade 
perante a lei. Até em relação à pena capital, as suas formas de execução foram sendo 
aperfeiçoadas para que trouxessem menos sofrimento ao condenado, a exemplo da 
guilhotina, utilizada a primeira vez em 1792. 
Passou a se utilizar na época o Princípio da anterioridade da lei penal, pois 
começou a se exigir que a lei que capitulasse a conduta como crime, deveria ser 
anterior, além de clara e precisa. Ademais, as penas que eram demasiadamente 
desproporcionais passam a ser graduadas conforme a gravidade do delito. 
O Movimento Humanitário atingiu seu ápice na Revolução Francesa, com um 
sentimento em comum, o da reforma do sistema punitivo. Há de se destacar alguns 
dos grandes filósofos franceses que defenderam com veemência a liberdade, a 
igualdade e a justiça, são eles: Montesquieu, Voltaire, Rosseau, entre outros. Ainda, 
na seara político-criminal, Beccaria, Howard e Bentham. 
 
10 
 
 
3 HISTÓRICO DO DIREITO PENAL BRASILEIRO 
 
Em uma síntese histórica do Direito Penal Brasileiro é possível perceber três 
grandes fases: Período Colonial, Código Criminal do Império e Período Republicano. 
Nota-se, inicialmente, que o Direito Penal era regido pela legislação portuguesa e 
somente posteriormente passou a ser regido por legislação genuinamente nacional. 
Passaremos a estudar as fases destacadas, além das reformas 
contemporâneas no atual Código Penal. 
 
3.1 PERÍODO COLONIAL 
 
Quando do descobrimento do Brasil, passou a vigorar por aqui o Direito 
lusitano, sendo que inicialmente o que vigorava eram as Ordenações Afonsinas, 
substituídas pelas Ordenações Manuelinas, em 1521. Estas vigoraram até 1569, 
quando do advento da Compilação de Duarte Nunes Leão, até 1603. No entanto, 
nenhuma destas refletiram efeitos jurídicos eficazes, face à imensa colônia que havia 
se formado. O que em verdade acontecera, foi a criação de um regime jurídico 
peculiarmente brasileiro, visto a inflação de leis e decretos reais destinados a solução 
de casuísmos próprios da colônia. Além dos poderes concedidos aos donatários com 
as cartas de doação, que atuavam ao seu próprio arbítrio. 
Alei que formalmente deveria ser aplicada naquela época eram as 
Ordenações Filipinas, promulgada por Filipe II e refletiam o direito penal medieval, 
com o crime sendo confundido com o pecado e a ofensa moral, de forma a punir 
severamente os hereges, apóstatas, feiticeiros e benzedores. Penas que miravam 
somente o temor através do castigo, pois eram severas e cruéis, como açoite, 
mutilação e também, largamente utilizada a pena capital. 
 
3.2 CÓDIGO PENAL DO IMPÉRIO 
 
Com a proclamação da independência era previsto na sua então Constituição, 
de 1824, que se elaborasse nova legislação penal, quando em 1830 foi sancionado o 
Código Criminal do Império. De índole liberal, o Código tratava sobre temas como 
individualização da pena, atenuantes e agravantes e estabelecia julgamento especial 
para menores de 14 anos. E somente foi aceito a pena de morte, após intensas 
11 
 
 
discussões no Congresso e visava coibir a prática de crimes pelos escravos. 
Destaca-se que o Código Penal do Império era deveras bem elaborado, 
inclusive influenciou códigos estrangeiros, destacando-se por sua concisão, clareza e 
precisão, além de trazer grandes inovações, como o instituto do dias-multa. Ressalta-
se que o Código de Processo Criminal surgiu em 1832. 
 
3.3 PERÍODO REPUBLICANO 
 
Após a proclamação da República foi publicado um novo Código Penal (1890), 
um ano antes da Constituição de 1891. Contudo, por ter sido apressadamente 
elaborado e aprovado recebeu duras críticas, muito embora tenha abolido a pena de 
morte e instalado um regime penitenciário de caráter correcional, era mal 
sistematizado e ignorava os notáveis avanços doutrinários presentes na legislação 
anterior. Devido seus equívocos, uma grande quantidade de leis extraordinárias foram 
editadas, o que culminou na Consolidação das Leis Penais de Vicente Piragibe em 
1932. 
Embora tenha recebido duras críticas por toda sua vigência, esse código 
vigorou de 1890 até 1932, com a promulgação da Consolidação das Leis Penais a 
partir daí que vigorou até 1942, ano em que inicia a vigência do atual Código Penal. 
Antes disso, não faltaram projetos que visavam substituí-lo, porém nenhum obteve 
êxito. 
Portanto, passa a vigorar em 1º de janeiro de 1942 o atual Código Penal 
(Decreto-lei nº 2.848 de 1940). Legislação considerada eclética, aceitando os 
postulados das Escolas Clássicas e Positivista, aproveitando-se do que melhor havia 
nas legislações modernas de orientação liberal. 
 
3.4 REFORMAS CONTEMPORÂNEAS 
 
Dentre as várias leis que alteraram nosso Código Penal desde 1940, duas 
merecem destaque: a Lei nº 6.416 de 1977 que procurou atualizar as sanções penais, 
e, principalmente, a Lei nº 7.209 de 1984 que revogou a parte geral do diploma 
instituindo-lhe uma nova. 
Pretendia-se substituir o Código Penal de 1940 pelo conhecido projeto de 
Nélson Hungria, de 1963, que, devidamente revisado, foi promulgado pelo Decreto-lei 
12 
 
 
1.004 de 1969 e retificado pela Lei nº 6.016 de 1973. Entretanto, o Código Penal de 
1969, como ficou conhecido, nunca chegou a vigorar, teve sua vigência postergada 
diversas vezes até que fosse revogado pela Lei nº 6.578/78. Diante desse insucesso, 
institui-se uma comissão para que se elaborasse um anteprojeto de reforma da Parte 
Geral do Código Penal de 1940. Foi presidida por Francisco de Assis Toledo e 
constituída por Francisco Serrano Neves, Miguel Reale Junior, Renê Ariel Dotti, 
Ricardo Antunes Andreucci, Rogério Lauria Tucci e Helio da Fonseca. Após algumas 
alterações em trabalhos de revisão, foi encaminhado o projeto ao Congresso 
Nacional, sendo promulgada como Lei nº 7.209 de 1984. 
A lei reformulou toda a Parte Geral do Código de 1940, humanizando as 
sanções penais e adotando penas alternativas à prisão, além de reintroduzir o sistema 
de dias-multa em nosso ordenamento. Muito embora, a lei tenha nos trazido um 
grande elenco de penas alternativas à privativa de liberdade, por falta de vontade 
política, deixou-se de dotar de infraestrutura nosso sistema penitenciário, 
inviabilizando uma melhor política criminal com penas alternativas, há muito 
consagrada na Europa. 
Na década de 90, viveu-se intensamente uma política criminal do terror com 
a criação de crimes hediondos (Lei nº 8.072/90), criminalidade organizada (Lei nº 
9.034/95) e crimes de especial gravidade. Contudo, essa tendência foi abrandada pela 
implementação da Lei nº 9.099/95 que criou os Juizados Especiais Criminais e 
recepcionou institutos como a transação penal, composição cível com efeitos penais 
e a suspensão condicional do processo. Posteriormente, tivemos uma ampliação nas 
denominadas penas alternativas pela Lei nº 9.714/98, esta abrangendo crimes 
praticados sem violência e apenados com no máximo quatro anos. O que se vivencia 
após isto, é uma crescente tensão entre os avanços e retrocessos sobre qual é a 
função exercida pelo Direito Penal, especialmente no que tange o respeito pelo 
legislador em relações aos princípios constitucionais que limitam o exercício do ius 
puniendi estatal. Um dos maiores exemplos foi a implementação do denominado 
"regime disciplinar diferenciado" (RDD, Lei nº 10729/2003) que estatui um Direito de 
autor e não de fato, cujas sanções implicam em isolamento celular de até um ano, não 
pela pratica do fato em si, mas por um juízo subjetivo de periculosidade social ou 
carcerário, ou ainda por meras suspeitas de envolvimento em quadrilha ou bando o 
que desvirtua fortemente a função do Direito Penal. 
Diante desta perspectiva de incertezas, surge um alento através de uma 
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tendência deste século, qual seja da efetividade dos direitos e garantias 
constitucionais, como por exemplo, o acréscimo do § 3º feito ao art. 5º da Constituição 
Federal (introduzido pela EC nº. 45/2004). O acréscimo feito trata de Direitos 
Humanos, e especialmente ao Direito Penal e seu processo, aduz ao movimento de 
internacionalização do Direito e Processo Penal, buscando um ideal de justiça 
universal, necessária ao mundo globalizado. Sem embargo, não será uma tarefa fácil 
vencer os descompassos legislativos em busca de soluções em consenso. No 
entanto, o desafio da efetivação dos direitos e garantias individuais há de prosperar 
em um futuro menos cruel para o Direito Penal, guiado através do pluralismo jurídico 
com vistas à construção legítima do Direito e seu sistema repressor com a gradual 
consolidação do sistema democrático através de uma convivência social em 
condições materiais de igualdade. 
 
14 
 
 
4 A FUNÇÃO E A FINALIDADE DA PENA 
 
Para Bitencourt (2015, p. 131) estão intimamente ligadas as concepções do 
Direito Penal com quais efeitos deve produzir sobre o sujeito objeto da persecução e 
sobre a sociedade em qual atua. Também, é quase unânime o conceito de que a pena 
se justifica por sua necessidade, deduzindo-se daí que as modernas concepções do 
Direito Penal são vinculadas às ideias de finalidade e função da pena. 
Examinaremos na sequência, as teorias da pena em suas três vertentes mais 
importantes: Absolutas ou Retributivas, Preventivas ou Relativas e Mistas ou 
Ecléticas. 
Essencialmente, as Teorias Absolutas fundamentam a existência da pena 
unicamente no delito praticado, concebendo-a como um mal dado em retribuição ao 
mal causado pelo crime. Desta forma, estaria justificada sua imposição não com 
objetivos futuros, mas como um castigo, por isso, também conhecidas como 
Retributivas. 
Resumidamente, as Teorias Retributivas atribuem à pena a difícil tarefa de 
realizar justiça. Ao autor de um crime a imposição de um mal, qual seja a pena, 
fundada no livre arbítrio do homem. As principais virtudesdas teorias absolutas são 
às limitações que se impõe às penas, como por exemplo, considerações sobre 
liberdade e dignidade da pessoa e mostras da aplicação do instituto da culpabilidade. 
Nas Teorias Relativas a justificativa da pena está na prevenção dos delitos e 
não mais na retribuição ao delito cometido. Neste momento, a pena passa a ser 
justificada como meio para se alcançar fins futuros, ou seja, na prevenção ao invés da 
retribuição, por isso também chamada de Preventivas. 
Divide-se a Teoria Relativa em duas vertentes: Prevenção Geral e Especial. 
Estas se diferenciam no tocante ao seu destinatário, sendo no primeiro o coletivo 
social, enquanto no segundo, o autor do delito. Pode-se ainda, subdividir estas em 
função de suas naturezas, negativas ou positivas. 
Por fim, as Teorias Mistas ou Ecléticas. Destaca-se inicialmente que o 
ordenamento jurídico brasileiro tem adotado os fundamentos destas teorias em seus 
textos. Esta corrente busca unificar as finalidades da pena que mais se destacam nas 
Teorias Absolutas e Relativas, por isso também conhecida como Teoria Unificadora. 
Entende-se que diversos aspectos de cada teoria, como a retribuição, a prevenção 
geral e a especial são na verdade todos pertencentes a um complexo fenômeno, a 
15 
 
 
pena. Por isso, soluções monistas, sustentadas pelas teorias anteriores, não são 
capazes de abranger como um todo a complexidade dos fenômenos sociais 
interessantes ao Direito Penal. E este é o argumento basilar desta teoria, a 
necessidade de uma abrangência plural. 
Nesta teoria, destaca-se o estabelecimento de uma marcante diferença entre 
o "fundamento" e o "fim" da pena. A pena tem seu fundamento em nada além do que 
fato praticado. Sem o fito de invocar qualquer outro fundamento das teorias anteriores, 
como a intimidação para que outros não pratiquem crime ou ainda, a prevenção da 
reincidência. 
 
16 
 
 
5 SISTEMA PENITENCIÁRIO BRASILEIRO 
 
O sistema penitenciário adotado no Brasil é o sistema progressivo, uma vez 
que, em regra, não se cumpre a pena integralmente no mesmo regime. 
 Em essência, este sistema se constitui em repartir o tempo de duração da 
pena aplicada em períodos, onde se amplia gradativamente os privilégios que o 
condenado pode fruir consoante sua boa conduta e aproveitamento do tratamento 
reformador. Possui também, outro aspecto importante na medida em que permite a 
reinserção do condenado à sociedade, antes mesmo da extinção da sua pena. 
Segundo Bitencourt, o sistema possui dupla finalidade conforme o autor: 
 
A meta do sistema possui dupla vertente: de um lado pretende constituir um 
estímulo à boa conduta e à adesão do recluso ao regime aplicado, e, de outro, 
pretende que este regime, em razão da boa disposição anímica do interno, 
consiga paulatinamente sua reforma moral e a preparação para a futura vida 
em sociedade. (2015, p. 169) 
 
Sobre a finalidade da pena na legislação penitenciária brasileira, comenta 
Palma: 
Defendendo a finalidade reeducadora e ressocializadora da pena, a lei admite 
que o apenado não é um ser eliminado da sociedade; continua sendo parte 
da mesma inclusive como membro ativo, se bem que submetido a um 
particular regime jurídico, motivado por um comportamento anti-social [sic]. 
(1997, p. 31) 
 
Neste contexto, o Sistema Progressivo se preocuparia então, além da 
reprimenda estatal, com a ressocialização do preso e sua reinserção à sociedade. O 
que representa, sem dúvida, um avanço do pensamento encarcerador, diminuindo-se 
de maneira significativa o rigorismo na aplicação da pena privativa. 
O Sistema Progressivo teve diversas matizes e em todas buscavam 
corresponder ao desejo inato de liberdade dos reclusos, estimulando-lhes impulsos 
que os conduziriam à liberdade. 
 
5.1 RETROCESSO PRISIONAL DO SÉCULO XX 
 
A pena privativa de liberdade, na virada do século XVIII para o XIX, passa a 
obter o status de principal sanção cominada aos que praticaram infração penal. 
Conforme ensina Greco (2015, p.166), diminuíram-se, gradativamente, as penas 
17 
 
 
corporais e a de morte, pois antes a prisão era vista tão somente como uma espécie 
de prisão cautelar, haja vista sua finalidade de apenas recolher o réu até o efetivo 
cumprimento da pena. Ao lado dela, surgiram as penas restritivas, ou seja, diferentes 
da de privação de liberdade, como prestações de serviços ou multa. 
Após grande movimentação no sentido da humanização das instituições 
prisionais, houve um forte declínio quanto sua utilização durante a primeira metade do 
século XX. As instituições prisionais se tornaram locais em que o Estado apenas 
armazena os presos, sem qualquer preocupação com sua dignidade durante o 
cumprimento de sua pena. Em regra, há superlotação, que desencadeiam rebeliões e 
crimes dentro do próprio sistema, tanto pelos prisioneiros quanto pelos funcionários, 
que tinham por obrigação o zelo às leis e a ordem do sistema. 
Em suma, esta época fora marcada pelo retrocesso da aplicação da pena 
privativa e a exclusão de direitos conquistados, assinalando o retorno da crueldade 
ao sistema prisional, razão pela qual surgiram movimentos que pugnam pela abolição 
desse sistema. 
Para Greco (2015, p. 170) um dos maiores exemplos desse retrocesso, é o 
movimento estadunidense denominado law and order, que se destacou de forma 
negativa instituindo uma forte cultura aprisionadora naquele país. Foram criadas 
algumas prisões lendárias, como por exemplo, Alcatraz, desativada após 29 anos de 
utilização, isso dado seu alto custo de manutenção. Além da criação das 
penitenciárias de segurança máxima, com rigorosos tratamentos despendidos aos 
presos, que lembram em muito alguns sistemas clássicos. Ressalta que por lá, o 
sistema penitenciário acabou por se transformar em um lucrativo negócio, com o 
sistema carcerário privado em destaque. Juntamente com aumento deste "negócio", 
aumentou-se e muito as reclamações quanto ao tratamento dado aos encarcerados. 
O autor destaca ainda que outro mau exemplo do país norte americano, foram 
suas prisões militares, como a Prisão de Guantánamo, localizado em Cuba, ou a 
prisão de Abu Ghraib, localizado no Iraque. Nessas, os presos eram submetidos a 
toda sorte de tratamentos desumanos, como a recorrente prática de tortura. 
No Brasil, uma das maiores demonstrações de fracasso de seu sistema 
penitenciário foi a conhecida Casa de Detenção de São Paulo, mais conhecido como 
"Carandiru", apelido dado ao complexo penitenciário haja vista a sua localização, no 
bairro de mesmo nome. Criado na década de 1920, inicialmente com a capacidade 
para 1.200 detentos, passou suas duas primeiras décadas de funcionamento 
18 
 
 
cumprindo seu papel, considerada inclusive, como padrão de excelência. Nele os 
detentos se encarregavam de quase todos os serviços necessários à sua 
manutenção, como serviços de limpeza, cozinha e até uma pequena lavoura, que 
supria parte da necessidade alimentar dos internos. Porém, já em 1940, começaram 
os problemas com a superlotação e numa tentativa de extinguir o problema foi 
realizada no complexo uma construção que elevava a sua capacidade para 3.250 
internos. 
Entretanto, não só não solucionou o problema, como o complexo perdeu seu 
formato original, aonde chegou a abrigar uma população de aproximadamente 8.000 
presos. Evidente que a superlotação somente contribuiu para o aumento exponencial 
da violência dentro do complexo, principalmente com o surgimento das facções 
criminosas. 
Em 1992, um dos mais tristes episódios nacionais de violência ocorrida em 
presídio aconteceu, quando durante uma rebelião, o complexo foi invadido pela Polícia 
Militar do Estado de São Paulo,que alegando resistência dos detentos, causou a 
morte de 111 presos, segundo informações oficiais. Mas, segundo relatos dos próprios 
presos, os números podem passar de 250 mortos. Finalmente, em 2002, inicia-se o 
processo de desativação do complexo prisional conhecido como Carandiru. 
 
 
19 
 
 
6 A RESSOCIALIZAÇÃO NA LEI DE EXECUÇÃO PENAL 
 
A Lei de Execução Penal (Lei nº 7.210/1984) se originou de um anteprojeto 
do Poder Executivo remetido ao Congresso Nacional acompanhada Mensagem nº 
242 de 1983, do então Presidente da República, João Figueiredo, juntamente com a 
Exposição de Motivos do Ministro de Estado da Justiça, Ibrahim Abi-Ackel. 
A Lei de Execução Penal, também conhecida como LEP tem o objetivo 
primário de efetivar as disposições da sentença, conforme enuncia o art. 1º da lei. 
Entretanto, a execução penal tem também como objetivo a integração social do 
condenado ou internado, conforme o mesmo dispositivo. Isto porque, segundo Renato 
Marcão: 
 
A execução penal deve objetivar a integração social do condenado ou 
internado, já que adotada a teoria mista ou eclética, segundo a qual a 
natureza retributiva da pena busca apenas a prevenção, mas também a 
humanização. Objetiva-se, por meio da execução, punir e humanizar. (2015, 
p. 32) 
 
No mesmo sentido, comentando sobre o art. 1º da LEP, ainda quando 
Anteprojeto de Lei, Maria D. Evangelista: 
 
A pena, portanto, no Direito Penal moderno, apresenta-se com caráter 
retributivo e preventivo, estando este consubstanciado na intimidação do 
delinquente e da coletividade ― prevenção geral ― e na emenda e 
reajustamento do infrator à sociedade ― prevenção especial. (1983, p. 16) 
 
Neste sentido, a LEP, possui diversos dispositivos que tratam de oferecer 
recursos e condição ao apenado para que haja sua ressocialização. Para Luiz Regis 
Prado (2013, p. 35) essa concepção da execução penal se deve ao movimento político 
criminal conhecido como "Nova Defesa Social", com pressupostos advindos da obra 
La Defense Nouvelle, de Marc Ancel. Estabeleceu-se um Programa Mínimo pela 
Sociedade Internacional de Defesa Social, aprovado em 1954, que sofre um adendo 
em 1985, quando passa a ser chamado de "Novíssima Defesa Social". 
Dessa forma, tem-se, pelo disposto no art. 1º da LEP, que o legislador adota 
um dos postulados da Novíssima Defesa Social, haja vista que dispondo que a 
execução penal não se limitaria ao cumprimento da pena, mas deve propiciar ao 
condenado condições para seu retorno harmônico à sociedade. 
Nesta seara, traz os itens nº 13 e 14 da Exposição de Motivos da LEP: 
20 
 
 
 
13. Contém o art. 1º duas ordens de finalidades: a correta efetivação dos 
mandamentos existentes nas sentenças ou outras decisões, destinados a 
reprimir e a prevenir os delitos, e a oferta de meios pelos quais os apenados 
e os submetidos às medidas de segurança venham a ter participação 
construtiva na comunhão social. 
14. Sem questionar profundamente a grande temática das finalidades da 
pena, curva-se Projeto, na esteira das concepções menos sujeitas à polemica 
doutrinária, ao princípio de que as penas e medidas de segurança devem 
realizar a proteção dos bens jurídicos e a reincorporação do autor à 
comunidade. [grifo do autor] 
 
Como se pode retirar da Própria Exposição de Motivos do diploma, este se 
destina não somente a cumprir o comando das sentenças, mas visa também a 
ressocialização do apenado. 
A doutrina denomina como “tratamento penal” os procedimentos com vistas à 
ressocialização. Sobre os objetivos do tratamento penal, explica Palma (1997, p.31): 
“O tratamento não pretende impor uma modificação da personalidade, mas colocar à 
disposição da mesma certos elementos essenciais para o retorno à sociedade”. 
Com isso, passaremos a repassar pontos importantes da LEP com relação ao 
tratamento penal no que se refere à pena privativa de liberdade, que objetiva à 
reeducação e reinserção do condenado. 
 
6.1 DA PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE 
 
Conforme preveem o Código Penal, no seu art. 33, e a LEP, no seu art. 112 a 
pena privativa de liberdade será executada de forma progressiva e vincula o regime 
inicial do cumprimento de pena, entre outros critérios, à quantidade de pena aplicada 
e se reincidente ou não. 
O Código Penal, ao tratar das penas privativas de liberdade, dispõe sobre os 
regimes de pena, prevê direitos do preso, seu trabalho e a lei penitenciária, sendo a 
última que deverá explicitar estes artigos. O diploma ainda dispõe sobre a 
individualização da pena privativa de liberdade e o exame criminológico. Desta forma, 
o Código dá à forma progressiva um caráter científico, não se utilizando para tanto 
apenas profissionais de formação jurídica, mas também depende de sociólogos, 
educadores, psicólogos e psiquiatras. O que termina por eliminar o caráter burocrático 
da progressão do regime progressivo tradicional. 
Por sua vez, a LEP em seu art. 112, condiciona a forma progressiva à decisão 
21 
 
 
do magistrado, à proposta de uma comissão técnica de classificação e ao exame 
criminológico. Destarte, os diferentes regimes permitem a valoração do progresso do 
apenado, em seu tratamento penitenciário até o último estágio, qual seja o da 
reinserção ao convívio social. 
 
6.2 DA INDIVIDUALIZAÇÃO NA EXECUÇÃO PENAL 
 
A Constituição Federal prevê em seu art. 5º, inciso XLVI a individualização da 
pena e, no mesmo artigo, no inciso XLVIII, prescreve a classificação penitenciária, 
especificando que a pena será cumprida em estabelecimentos distintos se levando 
em consideração a natureza do delito, bem como a idade e o sexo do apenado. Tendo-
se dessa forma, o início da individualização da pena, recurso de extrema importância 
no que tange o objetivo de retirar o apenado da atividade delitiva. 
Sobre o princípio da individualização da pena, explica Luiz Regis Prado: 
 
O princípio da individualização da pena consiste numa diretriz constitucional 
orientadora de imposição, aplicação e execução da pena (art. 5º, XLVI), no 
sentido de que o condenado não só receba a pena adequada à reprovação e 
prevenção do crime, dentre os critérios previamente estabelecidos em lei, 
mas que também, no decorrer da execução, receba o condenado a devida 
atenção do Estado, não só no que tange às suas características pessoais, 
mas que, de igual forma, a expiação seja atenuada, à medida que se constate 
uma prognose positiva na reeducação penal (2013, p. 31) 
 
É reiterada pela doutrina a relevância da individualização da pena nessa fase, 
já que os condenados respondem de forma diferente às terapêuticas penais, visto que 
a alguns nem mesmo lhes interessam a reinserção social, o que torna remota a 
possibilidade de se ressocializarem. 
Para uma eficaz individualização da execução penal, faz-se necessário a 
classificação dos condenados em vista dos seus antecedentes criminais e 
personalidade. 
 Para tanto, utiliza-se o exame de personalidade, no qual se faz investigar o 
caráter do condenado, as suas tendências e capacidade cognitiva. Também, faz-se 
de fundamental importância a investigação da vida pregressa, analisando todos os 
seus antecedentes criminais. Desta forma, permite-se que a administração 
penitenciária efetive a previsão do art. 1º da LEP, aplicando-lhes tratamento 
penitenciário adequado, consoante aos arts. 5º e seguintes da LEP, os quais tratam 
22 
 
 
da classificação do apenado. 
Além do exame de personalidade, o art. 8º da LEP prevê a obrigatoriedade do 
exame criminológico para aqueles que forem condenados ao cumprimento em regime 
inicialmente fechado e facultado aos que iniciarem ao regime semiaberto, para que 
assim se estabeleça a devida classificaçãoe o programa individualizador adequado à 
reeducação penal. 
Para Albergaria, o objetivo do exame criminológico: 
 
Realmente, o exame criminológico tem como objetivo o diagnóstico 
criminológico do delinquente, a prognose de sua conduta futura e o programa 
de tratamento ou plano de readaptação social. Do resultado do diagnóstico 
da personalidade do criminoso se deduzem as conclusões quanto à 
probabilidade de reincidência e à possibilidade de reeducação, a saber: são 
verificadas as causas da inaptação social e carências fisiopsíquicas do 
delinquente, bem como as dificuldades para a sua ressocialização, para 
indicação das medidas de tratamento reeducativo. (1996, p. 33-34) 
 
O item n° 34 da Exposição de Motivos da LEP trata de diferenciar os 
supracitados exames: 
 
34. O Projeto distingue o exame criminológico do exame da personalidade 
como a espécie do gênero. O primeiro parte do binômio delito-delinqüente, 
numa interação de causa e efeito, tendo como objetivo a investigação médica, 
psicológica e social, como o reclamavam os pioneiros da Criminologia. O 
segundo consiste no inquérito sobre o agente para além do crime cometido. 
 
O exame criminológico se presta a examinar a personalidade do condenado 
mirando-a face ao crime praticado para obter um diagnóstico criminológico que 
fundamentará uma prognose positiva ou não de reeducação penal. Isto posto, verifica-
se a importância do pensamento voltado a ressocialização do apenado, desde o 
ingresso ao sistema prisional. Realizando o programa educacional adequado cada 
preso, tem-se uma maior eficiência do sistema. Em que pese a importância da 
classificação para individualização da pena, grande parte dos estabelecimentos 
prisionais não possui pessoal qualificado para tanto, também não se tem estrutura 
física, pessoal, entre outras necessárias para correta aplicação programa 
individualizado da pena. Nesse sentido comenta Rogério Greco: 
 
O sistema penitenciário ressente-se da falta de classificação dos presos que 
nele ingressam, misturando delinquente contumazes, muitas vezes 
pertencentes a grupos criminosos organizados, com condenados primários, 
que praticaram infrações penais de pequena importância. Essa mistura faz 
com que aquele que entrou pela primeira vez no sistema, ao sair, volte a 
23 
 
 
delinquir, ou mesmo que seja iniciado na prática de infrações penais graves, 
por influência dos presos que com ele conviveram durante certo período. 
(2015, p. 229) 
 
Conforme o autor, a classificação dos presos quando do ingresso no sistema 
se faz de extrema importância no tratamento penal, pois sem a devida classificação, 
incentiva-se a reincidência contribuindo com a piora do apenado, a contrassenso da 
ressocialização. 
 
6.3 DA ASSISTÊNCIA 
 
No seu exercício do direito de punir, deve o Estado ser responsável por 
aqueles que sanciona. Desta forma, busca prevenir o cometimento de novas infrações 
e fazer com que os já condenados retornem a sociedade em melhores condições do 
que as que lhes encaminhou para a atividade delitiva. Dessa forma, as formas de 
assistência formam uma importante ferramenta para o tratamento penitenciário. 
O art. 10 da LEP dispõe que "a assistência ao preso e ao internado é dever 
do Estado objetivando prevenir o crime e orientar o retorno à convivência em 
sociedade", e arremata em seu parágrafo único, "a assistência estende-se ao 
egresso", firmando que a LEP busca encaminhar o condenado para reeducação 
desde o seu ingresso no sistema até quando considerado egresso, auxiliando-o para 
sua reinserção à sociedade. O supracitado diploma considera egresso, segundo seu 
art. 26: "I - o liberado definitivo, pelo prazo de 1 (um) ano a contar da saída do 
estabelecimento; e II - o liberado condicional, durante o período de prova". 
Conforme Albergaria (1987, p. 31), compreende-se como assistência 
penitenciária a assistência à saúde, assistência jurídica, assistência educativa, 
assistência religiosa e por fim a assistência ao egresso, todas dispostas no art. 11 da 
LEP. Destaca-se que essas condições devem alcançar tanto os presos definitivos, 
quanto os provisórios, uma vez que a lei não faz distinção entre eles no que tange à 
assistência. As diversas formas de assistência previstas na LEP são de vital 
importância no tratamento penitenciário, pois possuem o fito de remodelar a 
personalidade do apenado, a fim de afastá-lo da reincidência e reinseri-lo ao meio 
social. 
Com efeito, em comum às formas de assistências, é a dificuldade de sua 
efetivação conforme o almejado. Desta forma, busca-se atingir somente o mínimo 
24 
 
 
para a sobrevivência dos condenados, desvirtuando-lhe sua finalidade. 
 
6.3.1 Da Assistência Material 
 
A Assistência Material, conforme disposto no art. 12 da LEP "[...] consistirá no 
fornecimento de alimentação, vestuário e instalações higiênicas". Além do disposto no 
art. 13, dita que "o estabelecimento disporá de instalações e serviços que atendam 
nas suas necessidades pessoais, além de locais destinados à venda de produtos e 
objetos permitidos e não fornecidos pela Administração". 
Deveras, quanto à assistência material, é tratado tão somente o que garante 
ao preso o mínimo de tratamento digno, de modo a não atingir direitos que não os já 
atingidos pelo cerceamento da liberdade. Mesmo assim, a assistência material 
prestada pelo Estado deixa a desejar, de modo que resta à família prestá-la. 
 
6.3.2 Da Assistência à Saúde 
 
Disposta no art. 14 da LEP, o mandamento dispõe que será disponibilizado 
ao preso e ao internado tratamento médico de caráter preventivo e curativo, 
compreendendo atendimento médico, farmacêutico e odontológico. 
É manifesta a precariedade do serviço público de saúde disponibilizada à 
sociedade, no que diz respeito aos serviços dentro do sistema, revelam-se ainda mais 
agravadas. Neste ambiente promíscuo e superlotado do sistema, perpetua-se toda 
sorte de doenças contagiosas. Carente de profissionais de saúde e medicamentos se 
opta por levar o preso para atendimento em hospitais públicos, criando-se mais uma 
preocupação, a de uma possível fuga ou resgate do condenado. 
 
6.3.3 Da Assistência Jurídica 
 
Previsto no art. 15 da LEP, assegura Assistência Jurídica para aqueles presos 
e internados que sejam carentes de recursos para constituir advogado próprio, ou 
seja, pobres na acepção jurídica da palavra. 
As unidades prisionais devem manter assistência jurídica, integral e gratuita, 
pela Defensoria Pública, dentro dos estabelecimentos penais, conforme disposição do 
art. 16 do mesmo diploma. 
25 
 
 
Para Renato Marcão (2015, p. 54), a Assistência Jurídica se faz de 
fundamental importância para a execução penal. Ademais, sua ausência acarreta em 
evidente violação a diversos princípios, entre eles os do contraditório e da ampla 
defesa, bem como o do devido processo legal. 
 
6.3.4 Da Assistência Educacional 
 
Prevista nos art. 17 ao 21 da LEP, busca o desenvolvimento educacional, o 
aprimoramento e a formação profissional dos presos e internados dentro dos 
estabelecimentos prisionais. Vale lembrar, que a maioria dos presos vem das classes 
desfavorecidas, nas quais se é mais difícil obter a correta instrução escolar, por 
conseguinte, trata-se a assistência educacional de importante pilar da perspectiva 
ressocializadora da pena. 
No que tange a importância da educação na ressocialização está disposto nas 
Regras Mínimas das Nações Unidas para o Tratamento de Reclusos (Regras de 
Mandela), atualizadas em maio de 2015, na sua Regra 104, item 1 e 2: 
 
1. Serão tomadas medidas para fomentar a instrução de todos os presos que 
se encontrem aptos em condições, inclusivea educação religiosa, nos países 
em que isto for possível. A educação dos analfabetos e dos presos jovens 
será obrigatória e a administração do estabelecimento penitenciário deverá 
conferir-lhe particular atenção. 
2. Na medida do possível, a educação dos presos deverá estar integrada com 
o sistema de educação público estatal a fim de que, ao serem colocados em 
liberdade, os presos possam dar continuidade a sua formação sem 
dificuldades. (ONU, 2015) 
 
Continuando a ideia da ressocialização e reinserção do preso à sociedade, e, 
atendendo ao disposto aos itens mencionados, a LEP dispõe em seu art. 18 que: "O 
ensino de primeiro grau será obrigatório, integrando-se no sistema escolar da unidade 
federativa" e no recentemente adicionado art. 18-A “O ensino médio, regular ou 
supletivo, com formação geral ou educação profissional de nível médio, será 
implantado nos presídios, em obediência ao preceito constitucional de sua 
universalização”.
26 
 
1 MINISTÉRIO DA JUSTIÇA: Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias INFOPEN 2014. 
 
 Dessa forma, pode o preso, após sua soltura, retornar às salas de aula a fim 
de continuar seus estudos para uma melhor reinserção social. Na mesma toada, 
segundo Marcão: 
 
A assistência educacional tem por escopo proporcionar ao executado 
melhores condições de readaptação social, preparando-o para o retorno à 
vida em liberdade de maneira mais ajustada, conhecendo certos valores de 
interesse comum. (2015, p. 55) 
 
O art. 19 da LEP dispõe sobre o ensino profissional, o qual deverá ser 
ministrado em nível de iniciação ou aperfeiçoamento, neste já com o cunho de 
readaptação profissional, mirando-se nos setores produtivos da sociedade. 
Deve a administração penitenciária buscar ao máximo convênios com as 
entidades públicas e particulares para fiel efetivação da assistência educacional 
dentro dos estabelecimentos penais, conforme preceitua o disposto no art. 20 da LEP. 
O que se mostra de uma grande relevância, uma vez que o ensino público no 
país padece de mazelas e o penitenciário, sem este apoio, não haveria de ser 
diferente a pior.
Há ainda de ser mencionado que, cada estabelecimento prisional, deverá 
dotar-se de uma biblioteca, provida de livros instrutivos, recreativos e didáticos (art. 
21 da LEP). O que nos conduz a um exemplo paranaense bastante inovador, o da 
remição da pena através leitura, previsto na Lei Estadual nº 17.329/2012, consistindo 
no desconto de quatro dias da sua pena total pela leitura de uma obra durante o 
período de trinta dias. Após esse período, o apenado realiza uma resenha ou um 
relatório e sendo aprovado fará jus à remição. 
Enfim, a assistência à educação se faz imperiosa à reinserção do preso, seja 
pelo nível escolar predominante baixo, uma vez que 68% dos reclusos não possuem 
nem mesmo o ensino fundamental completo, o que acarreta numa extrema 
desqualificação profissional, ou ainda, para uma transformação cultural do indivíduo. 
Entretanto, segundo Relatório do Ministério da Justiça1, com informações do Infopen 
em 2014, menos de 11% dos presos no Brasil estão em atividades educacionais. 
Dados estes que deixam bem claro o quanto é defasado o sistema penitenciário no 
tocante a educação.
27 
 
 
6.3.5 Da Assistência Social 
 
Consta do texto do art. 22 da LEP: "A assistência social tem por finalidade 
amparar o preso e o internado e prepará-los para o retorno à liberdade", ou seja, 
pretende-se com essa assistência contribuir com o processo de ressocializar o 
indivíduo e reinseri-lo da sociedade. Enumera-se as formas dessa prestação no artigo 
subsequente, sendo que é incumbido ao serviço de assistência social, dentre outros, 
o conhecimento dos problemas e dificuldades do assistido e a promoção de orientação 
ao indivíduo a fim de lhe facilitar a reintegração social.Dessa descrição, percebe-se a 
importância da assistência social que deve ser prestada ao apenado. Sendo dois os 
momentos em que a assistência social mais importa, quando da admissão do preso e 
quando da sua saída. Dessa forma, os assistentes sociais, podem alcançar efeitos 
não somente referente ao condenado, mas a tudo que o envolve, como a convivência 
com os demais apenados e seu futuroretorno à sociedade. 
 
6.3.6 Da Assistência Religiosa 
 
Essa, prevista no art. 24 da LEP, faz-se proporcionar que, embora sejamos 
um país laico, o recluso tenha o direito ao culto religioso, direito que esta 
constitucionalmente assegurado no art. 5º, VI. Autorizando-lhes a posse de livros de 
instrução religiosa e garantindo-lhes local próprio para a atividade. 
Num aspecto prático, a assistência religiosa oferece novos valores morais a 
serem inseridos na vida do recluso, reduzindo-lhes a aflição trazida pelo cárcere e 
lhes deposita esperança para vida fora dele. 
 
6.3.7 Da Assistência ao Egresso 
 
Primeiramente, o art. 26 da LEP, em seus incisos se presta a esclarecer quem 
é o egresso: "I - o liberado definitivo, pelo prazo de 1 (um) ano a contar da saída do 
estabelecimento; II - o liberado condicional, durante o período de prova". 
Determinado quem é egresso, o art. 25 da LEP determina qual será o objetivo 
de sua assistência, sendo a "orientação e apoio para reintegrá-lo à vida em liberdade", 
assim como a "concessão, se necessário, de alojamento e alimentação, em 
estabelecimento adequado, pelo prazo de 2 (dois) meses", podendo esse prazo ser 
28 
 
2 MINISTÉRIO DA JUSTIÇA: Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias INFOPEN 2014. 
 
prorrogado, uma única vez, desde que comprove por declaração do assistente social 
empenho na obtenção de emprego. 
O egresso, quando da sua saída da prisão, traz consigo muitas das mazelas 
do encarceramento e enfrentará ainda, a rejeição da sociedade. Com isso, sem a 
devida prestação dessa assistência, tanto por parte do Poder Público, quanto pela 
sociedade como um todo, o egresso estará mais propenso ao retorno da prática 
criminal. 
Destarte, faz-se necessário que a sociedade tome consciência de que o 
egresso será útil a ela desde que seja acolhido e lhes apresente oportunidades, para 
que não reincida mais na prática delitiva. A assistência, nessa fase mais crítica, a da 
retoma da liberdade, sem dúvida é de extrema relevância, e, pode ser fator decisivo 
para ressocialização do agora ex-recluso. Pois, mesmo que todo seu programa 
individualizado de reeducação, o que de fato não ocorre, tivesse obtido sucesso, neste 
momento poderia ser perdido. 
 
6.4 DO TRABALHO DO PRESO 
 
O trabalho figura na LEP, tanto como um direito do preso (art. 41, II), quanto 
um dever dele (art. 39, IV). O art. 28, do mesmo diploma, nos traz que o "trabalho do 
condenado, como dever social e condição de dignidade humana, terá finalidade 
educativa e produtiva". Por conseguinte, faz-se de fundamental importância na 
reeducação do recluso, funcionando como mais um dos pilares da finalidade 
ressocializadora da pena. Tornando o cumprimento da pena funcional quanto à 
reprimenda da atividade delitiva e preparando o preso ao seu retorno ao convívio 
social. 
O trabalho será remunerado, entretanto o art. 29 da LEP dispõe algumas 
obrigações que devem ser quitadas com esta remuneração, como a indenização pelo 
crime causado, assistência à família, despesas pessoais e ressarcimento de despesas 
do Estado com a manutenção do mesmo ao sistema, depositando-lhe, havendo, o 
restante em Caderneta de Poupança a ser entregue quando da sua liberdade. 
Entrenato, conforme dados do Levantamento de Informações Penitenciárias do 
Ministério da Justiça2, em junho de 2014, apenas 16% da população prisional trabalha. 
Muito embora a diretiva implementada pelotexto legal, assim como ao que 
representa o trabalho do preso, nem todos os presos conseguem cumprir com seu 
29 
 
 
dever/direito, já que não possui trabalho o suficiente para todos. Quando ainda, 
conseguem trabalhar durante o cumprimento da pena, os fazem em atividade que não 
lhes representa uma possibilidade de sustento quando libertos. 
 
6.5 DOS DEVERES E DIREITOS DO PRESO 
 
O cumprimento da pena deve ser pautado em princípios que norteiam 
principalmente à reinserção do apenado. Cabe ao Estado, pois é quem possui a tutela 
do apenado, propiciar tudo o que entender como necessário para alcançar esse 
objetivo. Porém, o sistema penitenciário brasileiro recebe duras críticas quanto ao que 
concerne, principalmente, ao direito dos presos. Entretanto, o Estado mantém-se 
inexplicavelmente inerte em relação tal situação. 
Para Albergaria (1987, p. 67), o que temos é uma série de direitos e deveres 
que incumbe ao condenado e ao Estado, sendo que sempre que haver um direito 
outorgado ao preso, terá uma obrigação de igual valor deste para com o Estado. 
Cumpre ao preso, submeter-se ao disposto nos art. 38 e 39 da LEP. Tem-se como 
primeiro dever do condenado o cumprimento de sua pena imposta e a permanência 
na prisão até retomar sua liberdade, admitindo-se o contato com o mundo exterior em 
casos previstos em lei. Obedecerá às normas oriundas da legislação, regulamentos e 
regimentos as quais deverá conhecer na sua admissão ao estabelecimento. 
Os demais deveres são relativos às regras de conduta que deverão ser 
respeitadas dentro do estabelecimento prisional, como premissa da reeducação e 
reinserção do apenado. Os deveres atribuídos aos presos buscam corroborar com a 
ordem e a disciplina dentro do estabelecimento prisional. O desrespeito a esses 
deveres poderá redundar em um cometimento de falta disciplinar, sejam de natureza 
leve, média, ou ainda, grave. 
Quanto aos direitos dos presos, dispostos na LEP do art. 40 ao 43, dizem 
respeito aos direitos fundamentais da pessoa humana. Entretanto, falar-se em direitos 
dos presos, diante da atual conjuntura dos cárceres nacionais, acaba por nos 
surpreender. Haja vista, as reclamações realizadas pelos presos, as quais circundam 
sobre, principalmente, o desrespeito à dignidade, direito esse que é tido como 
princípio basilar não importando a condição em que se encontra a pessoa, e, um dos 
fundamentos da República (art. 1º, III da CF), que por si só sua afronta, redunda em 
ofensa a diversos outros direitos. 
30 
 
 
No art. 40, a LEP, nos traz como primeiro direito tutelado o respeito à 
integridade física e moral dos presos, sejam condenados ou provisórios, imposto a 
qualquer autoridade pública, consoante aos ditames constitucionais enunciados no 
art. 5º, incisos III e XLIX. Após, no art. 41 em seus incisos, nos traz um amplo rol de 
direitos outorgados aos presos que deverão ser observados pela administração 
carcerária.
31 
 
 
7 A CRISE NO SISTEMA PRISIONAL BRASILEIRO 
 
A pena de prisão figura como a principal forma de combater a criminalidade 
nos últimos séculos, conforme Rene Dotti (1998, p. 105) constitui "a espinha dorsal 
[grifo do autor] dos sistemas penais de feição clássica". Todavia, apesar das críticas 
que serão apresentadas, cabe-se afirmar que esta ainda é a única sanção aplicável 
aos casos de grave criminalidade e reincidência. 
Entretanto, tem sido repensada a fim de diminuir seus inconvenientes, com 
relação à diminuição do seu grau máximo, assim como a humanização de sua 
execução. Tem-se também, que a pena de prisão deve ser aplicada como a ultima 
ratio, aplicada somente em caráter excepcional. 
Alguns doutrinadores preveem a abolição da pena de prisão, pois essa não 
se enquadra no Estado Democrático de Direito e nem no objetivo ressocializador da 
pena, tendo em vista que essa determina a perda da liberdade que por sua vez deriva 
da dignidade humana. A exclusão desses direitos fundamentais representaria a 
degradação humana, assim como na tortura que hodiernamente é vedada. Ressalta-
se que a pena de prisão é constitucional, pois é prevista na Constituição Federal em 
caráter excepcional, mas que tende ao desaparecimento, quando a doutrina encontrar 
alternativas que surtam melhores efeitos que esta. 
 Segundo Albergaria (1996, p.41), em razão da crise das penas privativas de 
liberdade, sobretudo nas de menor duração, surgiram as penas alternativas. 
Além da crise da própria pena de prisão, tem-se a crise do sistema prisional, 
a qual provém principalmente da inobservância do Estado em cumprir algumas 
exigências indispensáveis ao cumprimento da pena privativa de liberdade. Por certo, 
o problema carcerário nunca houve de ocupar a pauta das principais preocupações 
da administração pública. Estas somente vêm à tona quando da ocorrência de 
rebeliões, quando a situação de crise aguda traz ao público as mazelas do sistema. 
No entanto, comumente, não é uma preocupação permanente dos governos que os 
estabelecimentos prisionais cumpram sua finalidade. 
Há uma falta de interesse dos governantes, muito provavelmente, pela 
antipatia da população com a causa do preso, que as aceita, mesmo que de forma 
velada, como forma de punição àquele que praticara um delito. 
Sem embargo, a culpa dessa ineficiência estatal não provém apenas do Poder 
Executivo, sobre isso assevera Rogério Greco:
32 
 
3 MINISTÉRIO DA JUSTIÇA: Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias INFOPEN 2014. 
 
A culpa por essa ineficiência não deve ser creditada somente ao Poder 
Executivo, ou seja, aquele Poder encarregado de implementar os recursos 
necessários ao sistema penitenciário. A corrupção, o desvio de verbas, a má 
administração dos recursos, enfim, todos esses fatores podem ocorrer se, 
para tanto, não houver uma efetiva fiscalização por parte dos órgãos 
competentes. (2015, p. 227) 
 
Entendendo o autor como órgãos competentes para tal fiscalização, embora 
não de forma exclusiva, o Ministério público, o Poder Judiciário e a Defensoria Pública. 
 
7.1 SUPERLOTAÇÃO 
 
Talvez a superlotação seja o mais crônico dos problemas dos presídios 
brasileiros. Para Rogério Greco (2015, p. 228), um dos fatores preponderantes para a 
falência do objetivo ressocializador da pena é sem dúvida este. A adoção de políticas 
mais austeras que apregoam a cultura da prisão como resolução dos problemas 
contribui de maneira significativa para esse problema. Igualmente, contribui para esse 
fenômeno, o uso indiscriminado de prisões cautelares. 
Segundo relatório do Ministério da Justiça3, em junho de 2014 haviam 607.731 
pessoas privadas de sua liberdade no Brasil, o que nos garantiu a marca de quarta 
maior população carcerária do mundo, tanto em número absoluta, quanto em termos 
relativos. Sendo que o sistema carcerário brasileiro possuía 377.669 vagas, 
totalizando a época, um déficit de 231.062 vagas. No mesmo relatório destaca-se que 
41% dos presos não possuíam condenação transitada em julgado. Dado esse que 
reforça que no Brasil há um uso indiscriminado das prisões cautelares, assim como 
reforça também a mora da Justiça. 
O art. 88 da LEP, que dispõe sobre o alojamento do preso em regime fechado, 
determinando que seja cela individual com uma área mínima de 6 m2, além do tocante 
a insalubridade. O que de fato, não condiz com a realidade de um sistema superlotado, 
com duas ou três vezes da sua capacidade, onde temos celas minúsculas e com 
péssimas condições de salubridade. A superlotação impõe diversos empecilhos ao 
tratamento penitenciário, pois o tratamento individualizado é prejudicado, o indivíduo 
acaba por perder sua identidade individual, dessa forma a agressividadese fortalece 
diante de um grupo raivoso e revoltado.
33 
 
 
7.2 VIOLÊNCIA 
 
Há de se garantir os direitos constitucionais e infraconstitucionais dos presos 
durante a execução da pena, previstos em diversos diplomas e tratados 
internacionais. A execução deveria garantir que o único direito que lhes fosse retirado 
fosse o direito à liberdade. Entretanto, na prática, ocorre constantemente a violação 
dessas garantias. 
Ao entrar no sistema, o preso perde a sua personalidade e sua dignidade, pois 
passa a sofrer constantes abusos, seja por parte do Estado e seus agentes ou de 
seus colegas de reclusão. 
Os abusos e agressões por parte dos funcionários e policiais dentro das 
instituições prisionais ocorrem em diversos níveis. Porém, ocorre de forma mais 
acentuada, principalmente, após a ocorrência de rebeliões e tentativas de fuga, como 
ocorrera no já citado caso do “Carandiru”. Mas há também a violência por parte dos 
próprios presos, que ocorre em também em diversos níveis, passando pela violência 
psicológica, a física e sexual, e não raras as vezes chegando ao homicídio. 
A violência está tão enraizada no sistema prisional que alguns autores 
defendem que não há como realizar um tratamento penal satisfatório dentro dele, 
conforme a opinião de Joao B. Herkenhoff (1998, p. 37): “O pretendido tratamento, a 
ressocialização é incompatível com o encarceramento”. Notadamente o autor faz 
parte da doutrina que considera como inalcançável o objetivo ressocializador durante 
o cumprimento das penas restritivas de liberdade. 
 
7.3 ESTRUTURA PRISIONAL 
 
Infelizmente a estrutura do sistema prisional brasileiro está muito a quem do 
almejado, o que torna quase que inviável a tarefa de reintegrar o indivíduo delinquente 
ao convívio pacífico com a sociedade. Dessa forma, esse sistema ineficiente, somente 
tem contribuído para a intensificação da criminalidade e da reincidência. 
Nele, observamos que não há continuidade no que tange o tratamento 
penitenciário, devido a alta rotatividade, além da introdução de pessoas sem qualquer 
preparo para as tarefas na escala hierárquica. Nesse ponto criticamos o uso de cargos 
políticos na estrutura organizacional, já que estes tendem, com a troca de lideranças 
políticas, não dar continuidade a projetos anteriores. Assim, evidencia-se a falta de 
34 
 
 
interesse do Poder Público em planejar ações com efeitos a médio e longo prazo. 
Nesse sentido, afirma Arnaldo de Castro Palma: 
 
O cargo de confiança em um estabelecimento público dessa natureza não 
deveria jamais ser considerado uma “benesse, um prêmio a se atribuir a um 
indivíduo politicamente “bem situado”, sem levar em conta suas qualificações 
para preenchê-lo. Os compromissos impróprios resultantes da troca de 
favores aí pressuposta terminam por projetar-se em todas as relações 
verticais no interior da instituição e se degeneram rapidamente em 
favoritismo, clientelismo e outras formas mais sutis de corrupção que 
distanciam da realidade a retórica de regenerar o cidadão através da ação 
coerente e do bom exemplo. [...] Abre-se assim mais um caminho para 
reincidência nos portadores de estruturas e dinâmicas mais fragilizadas, 
deixando-se influenciar por lideranças negativas. (1997, p. 26) 
 
Porém, com a configuração adota pelo sistema brasileiro, com indicações aos 
cargos de gestão meramente políticas não é possível o desenvolvimento de um 
programa sistemático e integrado com o fito de afastar o indivíduo da atividade 
criminal. 
Além do fator da incompetência gerencial do sistema, temos a deficiência no 
quadro funcional no que se refere à aptidão e até mesmo interesse dos funcionários 
em exercer suas atividades voltadas aos fins da execução penal. O que se observa 
nesse plano é uma incompatibilidade dos Agentes Penitenciários com suas 
responsabilidades, seja por falta de treinamento e qualificação adequados ou pelo 
descontentamento com a carreira, ou ainda pela insegurança da profissão. 
Devido essa incompetência generalizada do sistema, priorizam-se somente 
as medidas relativas à segurança dentro dos presídios, resumindo o papel da 
instituição a manter a ordem e a disciplina, realizando-o não raras as vezes através 
da ameaça e intimidação, esquecendo-se por completo do fito do tratamento penal. 
 
7.4 PRECONCEITO SOCIAL 
 
Uma das grandes barreiras à ressocialização diz respeito à sociedade como 
um todo. O indivíduo que sai do sistema prisional, mesmo que estivesse preso de 
forma cautelar e tenha sido inocentado posteriormente, ou ainda, cumprido 
integralmente sua pena, carregara consigo o rótulo de ex-detento, pois a sociedade é 
leiga e influenciável, levando em consideração como única prova de que o sujeito 
possui má índole a sua prisão. 
 
35 
 
 
Para João B. Herkenhoff (1998, p.37): “[...] o estigma da prisão acompanha o 
egresso, dificultando seu retorno à vida social. Longe de prevenir delitos a prisão 
convida à reincidência: é fator criminogênico”. 
Mesmo durante o cumprimento da pena, a sociedade não compreende ou 
concorda com a ideia de ressocialização do apenado, conforme explica Greco: 
 
Parece-nos que a sociedade não concorda, infelizmente, pelo menos à 
primeira vista, com a ressocialização do condenado. O estigma da 
condenação, carregado pelo egresso, o impede de retornar ao normal 
convívio em sociedade. 
Quando surgem os movimentos de reinserção social, quando algumas 
pessoas se mobilizam no sentido de conseguir emprego para os egressos, a 
sociedade trabalhadora se rebela, sob o seguinte argumento: “Se nós, que 
nunca fomos condenados por praticar qualquer infração penal, sofremos com 
o desemprego, por que justamente aquele que descumpriu as regras sociais 
de maior gravidade deverá merecer atenção especial?” Sob esse enfoque, é 
o argumento, seria melhor praticar infração penal, “pois ao término do 
cumprimento da pena já teríamos lugar certo para trabalhar!” (2015, p. 335) 
 
Por isso, muito embora existir previsão legal de tratamento penal a fim de 
ressocializar e reinserir o condenado ao convívio social, faz-se necessário alterar o 
pensamento encarcerador, propondo-se sempre novas alternativas à prisão, 
sobretudo para delitos menos graves e sem violência. 
Sobre a prisão como pena comenta Bitencourt (2006, p. 2): “Atualmente 
domina a convicção de que o encarceramento, a não ser para os denominados presos 
residuais, é uma injustiça flagrante [...]. O elenco de penas do século passado já não 
satisfaz”; e continua mais adiante em sua obra “é indispensável que se encontrem 
novas penas compatíveis com os novos tempos, mas tão aptas a exercer suas 
funções quanto as antigas, que na sua época não foram injustas, hoje, 
indiscutivelmente o são”. 
Por isso se faz imperioso, não só a adequação do nosso sistema prisional ao 
que a lei determina, mas a adequação de nosso direito penal e da mentalidade de 
nossos magistrados para essa questão, qual seja a de que a prisão corrompe o 
indivíduo, portanto deve ser evitada quando possível, sendo utilizadas somente em 
condenações de longa duração e aos efetivamente perigosos e de difícil reparação. 
Pois, as mazelas da prisão serão levadas por aqueles que por lá passaram por muitos 
anos, se não, pelo resto da vida. 
 
36 
 
 
7.5 REINCIDÊNCIA COMO CONSEQUÊNCIA DA CRISE NO SISTEMA PRISIONAL 
 
Não existem dados muito precisos sobre a reincidência criminal no Brasil, pois 
as diferentes pesquisas consultadas nos demonstraram percentuais que variam entre 
30 e 70% de reincidência. O descompasso dos dados se deve aos critérios utilizados 
para determinar o que é reincidência. De fato, qualquer que sejam os dados utilizados, 
percebeu-se que em relaçãoaos apenados com a privação de liberdade, o nível de 
reincidência era maior do que aos condenados com penas alternativas. 
Questiona-se então se há como funcionar o objetivo ressocializador da pena 
privativa de liberdade? A doutrina diverge. Os adeptos da criminologia crítica 
respondem que não é possível a ressocialização dentro do ambiente prisional. 
Conforme explica Bitencourt (2006, p. 9): “Para a Criminologia Crítica, qualquer 
reforma que se possa fazer no campo penitenciário não terá maiores vantagens, visto 
que, mantendo-se a mesma estrutura do sistema capitalista, a prisão manterá sua 
função repressiva e estigmatizadora”. 
Entretanto, outra parte da doutrina acredita que sim, é possível ressocializar 
o indivíduo dentro do ambiente prisional, que, investindo-se mais em infraestrutura 
prisional e qualificação pessoal, para que, dessa forma se cumpram os dispositivos 
legais garantido um adequado tratamento penal, sem deixar de lado as alternativas a 
prisão para se diminuir o contingente prisional, pode-se alcançar resultados 
satisfatórios. 
 
 
37 
 
 
8 UMA QUESTÃO DE POLÍTICA CRIMINAL 
 
Em comum à maioria dos doutrinadores, têm-se que o melhor meio de se 
combater a reincidência e diminuir o problema da ressocialização, são ideias de 
reduzir o encarceramento no país. Conforme preleciona Rogério Greco: 
 
A ideia minimalista aliviaria o problema da ressocialização. Sabemos que 
quanto maior o número de condenações que conduzem ao efetivo 
cumprimento da pena de privação de liberdade, maiores serão os problemas 
posteriores. [...] o ideal seria afastar, o máximo possível, o condenado do 
convívio carcerário, facilitando, dessa forma, a ressocialização. (2105, p.335) 
 
Entende-se que, dessa forma, o melhor para a ressocialização não seria 
retirar o condenado do seu convívio social, criando-se meios alternativos à prisão. 
Nesse sentido para Dotti: 
 
Torna-se urgente a necessidade de revisão da qualidade e quantidade das 
sanções, não apenas quanto aos momentos da cominação e da aplicação, 
em torno dos quais se levantou uma pirâmide monumental de teorias, mas 
também em referência à execução e seus incidentes que se acomodam nos 
códigos e arquivos mal cuidados dos cartórios. (1998, p. 112) 
 
Embora, parte da doutrina pugne pela extinção da pena privativa de liberdade, 
a doutrina majoritária discorda com tal propositura, uma vez que nem Estado, nem 
sociedade estão preparados para tamanha revolução e talvez nunca estarão, 
conforme pensamento de Edmundo Oliveira (2010, p. 439): “No século XX, o chamado 
Período Científico dos estudos penais criminológicos, ainda não é possível se afirmar 
com tranquilidade se algum dia a humanidade chegará a perfeição que lhe permita 
abolir a prisão”. 
No tocante à substituição da pena privativa de liberdade, defende Dotti: 
 
A transição da pena privativa de liberdade para outras espécies de sanções, 
que possam atender os objetivos inerentes às reações criminais, implica em 
uma reforma sistemática, cujas bases não podem substituir quando o Estado 
se nega a lhes dar reconhecimento e proteção. Nenhuma reforma efetiva das 
estruturas sociais se pode articular sem as garantias de um regime político 
que se mostre capaz de amparar os direitos individuais e coletivos. (1998, 
p.133) 
 
O autor continua dizendo que, deve-se aperfeiçoar a pena privativa de 
liberdade, porém substituí-la sempre que possível, limitando-as somente às 
38 
 
 
condenações com longas penas aplicadas e àqueles que efetivamente forem 
perigosos e de difícil recuperação. 
A ressocialização no nosso sistema prisional não parece ser possível, mas a 
impossibilidade de abandonar de vez as penas privativas de liberdade nos deixam 
num paradigma. De fato, não consiste em tarefa simples a resolução dos problemas, 
necessita-se uma política criminal séria e comprometida. 
 Por hora, vemos como uma forma de melhoria, o investimento estatal em 
estrutura para as instituições penais e em pessoal especializado para as diversas 
fases do tratamento penal. O que, na prática, seria cumprir as disposições legais já 
existentes. 
Assim como, seria proveitosa, a alteração do pensamento que já vem 
ocorrendo desde da adoção das penas restritivas de direito com os crimes de menor 
potencial ofensivo, ou seja, evitar o encarceramento. 
Ademais, precisamos alterar também o pensamento em relação às prisões 
cautelares, como com a adoção do monitoramento eletrônico, incluído na LEP pela 
Lei nº 12.258/2010. No entanto, faz-se necessário a efetiva fiscalização dos 
monitorados, pois a certeza da punição, mesmo que amena, é mais eficaz que a mera 
possibilidade de uma pena austera. 
 
39 
 
 
9 CONCLUSÃO 
 
Os sinais da crise do sistema prisional brasileiro são evidentes: superlotação, 
o desrespeito aos direitos pessoais, violência física e sexual, falta de trabalho, 
corrupção dos agentes públicos que atuam no sistema carcerário, atuação de 
organizações criminosas dentro dos presídios, em síntese, o abandono do sistema 
pelo poder público. O que tal cenário traz de retorno, senão a ineficiência desse 
sistema? É nesse cenário que se espera a ressocialização dos reclusos? 
Há de fato um movimento, deveras popular, entre os nossos legisladores que 
afirmam uma necessidade de "endurecimento" do nosso sistema penal para atingir 
um objetivo, qual seja a de evitar a prática de delitos. Estes, com apoio de uma parte 
da mídia, principalmente observado naqueles telejornais ditos "policiais", que se 
apoiam em ideais de repressão como forma de atingir esse objetivo, os quais repetidas 
vezes entoam que tem como principal influência o sistema penal estadunidense. 
Todavia, os Estados Unidos, são de fato um exemplo a se inspirar? 
Há algum tempo atrás, uma apresentadora de uma emissora de TV norte 
americana zombou do sistema prisional adotado na Noruega, considerando o fato do 
país manter prisões consideradas "de luxo" por ela. Entretanto, os proponentes de 
uma reforma ao sistema prisional dos EUA, miram-se no exemplo da Noruega, dado 
seu elevado índice de sucesso na reabilitação dos detentos, com baixos índices de 
reincidência. A Noruega associa suas baixas taxas de reincidência criminal ao fato de 
seu sistema penal ser pautado na ressocialização e não na retaliação. Por lá, a 
reabilitação é tida como obrigatória. 
É bem verdade que o sistema prisional não é a única diferença entre a 
Noruega e o nosso país, há entre essas nações um abismo social, mas não podemos 
mais nos basear em modelos fracassados para atingir a eficiência que pretendemos. 
Então, por hora que nos dignemos ao menos a cumprir nossa legislação penitenciária, 
bem como nossa Constituição, estruturando nosso sistema prisional e adotando novas 
medidas que evitem o encarceramento para que quando for realmente necessário 
este cumpra com eficiência o seu objetivo de ressocializar, bem como a justa 
reprimenda estatal frente ao delito praticado. 
Também há de se colocar em prática o pensamento desencarcerador, 
buscando-se cada vez mais alternativas à privação da liberdade, haja vista a baixa 
eficiência dela para a ressocialização do condenado. 
40 
 
 
O estudo do tema nos faz refletir ainda sobre importância que a sociedade 
tem no objetivo da execução penal. Uma vez que a reinserção do condenado após o 
cumprimento da pena depende também de nós, que nos despindo do preconceito 
social com que tratamos os egressos do sistema somos imprescindíveis para 
ressocialização e reinserção deles à sociedade. 
Ainda nesse sentido, o setor penitenciário é um dos que mais reclama por 
uma urgente reforma. Pois, como não é possível abolir a pena de prisão no que tange

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