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Fundamentos de Geografia Organização do Espaço e Conceitos (texto) Unidade 3

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Unidade III
Unidade III
HISTÓRIA DO PENSAMENTO GEOGRÁFICO
5 A GEOGRAFIA NA IDADE MODERNA: A SISTEMATIZAÇÃO DA CIÊNCIA 
GEOGRÁFICA
O conjunto dos conhecimentos gerados entre os séculos XV e XVIII contribuíram para o processo de 
sistematização do conhecimento geográfico.
A partir do Renascimento, séculos XV e XVI, os pensadores começaram a 
estudar o próprio homem como um ser racional e superior às demais 
criaturas. A nova concepção do ser humano foi chamada de Humanismo. 
A crítica às rígidas concepções de mundo, baseada na ordem religiosa e 
sobrenatural, foi responsável pela renovação científica do Renascimento 
(RODRIGUES, 2008, p. 60).
A moderna ciência da natureza, fundamentada na experiência, revolucionou o conhecimento 
científico.
Segundo Moraes (1987, p. 34), a sistematização do conhecimento geográfico ocorre no início do 
século XIX, pois a Geografia como ciência autônoma surgiria a partir de um processo que estava vinculado 
às condições históricas. Esses pressupostos históricos estavam relacionados com o avanço e domínio das 
relações capitalistas de produção. O autor lista quatro conjuntos de pressupostos importantes para a 
sistematização da Geografia como ciência. São eles:
• o conhecimento efetivo da extensão real do planeta, que se deu logo após as grandes navegações 
que culminaram no descobrimento da América;
• a existência de um repositório de informações com dados referentes aos diversos lugares da 
superfície, armazenados em alguns grandes arquivos, possibilitando uma base empírica para a 
comparação;
• o aprimoramento das técnicas cartográficas que possibilitou a representação dos fenômenos 
observados, da localização dos lugares e da delimitação dos territórios. Essa representação gráfica 
padronizada era essencial para os estudos geográficos;
• as mudanças filosóficas e científicas, cuja finalidade geral das escolas filosóficas, nesse período, era a 
afirmação da possibilidade de a razão explicar a realidade; a aceitação da existência de uma ordem 
na manifestação de todos os fenômenos, passível de ser apreendida pelo conhecimento humano.
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FUNDAMENTOS DE GEOGRAFIA: ORGANIZAÇÃO DO ESPAÇO E CONCEITOS
Com o surgimento do Iluminismo, no século XVIII, ocorreram mudanças filosóficas e científicas 
que privilegiaram o movimento intelectual em defesa das liberdades sociais, econômicas e políticas; 
da ciência e da racionalidade; e crítica aos conhecimentos aceitos pela fé e pelos dogmas da Igreja. 
Durante esse período, as discussões científicas e filosóficas de vários pensadores – que tratavam temas 
geográficos – contribuíram, direta ou indiretamente, para o processo de sistematização da Geografia.
 Lembrete
O Iluminismo foi um movimento intelectual que surgiu durante o século 
XVIII na Europa, que defendia o uso da razão (luz) contra o antigo regime 
(trevas) e pregava maior liberdade econômica e política. Esse movimento 
promoveu mudanças políticas, econômicas e sociais, baseadas nos ideais de 
liberdade, igualdade e fraternidade.
Immanuel Kant (1724‑1804) nasceu na Prússia, foi professor de Filosofia e ensinou Geografia na 
Universidade de Königsberg. Sua principal contribuição foi separar a Geografia da História, pois, para 
ele, a Geografia descreve a natureza no espaço, e a História, a evolução do homem ao longo do tempo; 
enquanto uma tem dimensão espacial, a outra tem dimensão temporal. Segundo Moraes (1987, p. 14), 
Kant coloca a Geografia como uma ciência sintética (que trabalha com dados de outras ciências) e 
descritiva (que enumera os fenômenos observados), para obter uma visão de conjunto do planeta.
Em 1798, na Inglaterra, o economista e sacerdote anglicano Thomas Robert Malthus (1766‑1834) 
publicou uma teoria altamente antinatalista e conservadora na obra Um ensaio sobre o princípio da 
população. Naquele período, em virtude da Revolução Industrial, a Inglaterra vivia um momento de 
crescente aumento populacional. Preocupado com essa explosão demográfica e com os consequentes 
problemas socioeconômicos (pobreza, desemprego etc.) decorrentes, Malthus defendeu a urgência do 
controle populacional.
 Observação
A teoria malthusiana é fundamentada na relação entre crescimento 
populacional e os meios de subsistência, apoiando‑se nos seguintes 
princípios: caso não seja detida por obstáculos (guerras, epidemias etc.), 
a população tende a crescer segundo uma progressão geométrica (1, 2, 
4, 8, 16, 32), duplicando‑se a cada 25 anos; na melhor das hipóteses, os 
meios de subsistência (capacidade de produção de alimentos) só poderiam 
aumentar segundo uma progressão aritmética (1, 2, 3, 4, 5, 6).
O método proposto por Malthus, para evitar o crescimento geométrico 
da população, foi a sujeição moral (abstinência sexual, casamentos tardios, 
controle do número de filhos etc.) e a não assistência governamental aos 
pobres (segundo ele, a miséria seria uma forma natural de controle da 
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superpopulação). Sua teoria é contestada pelos seguintes motivos: a população 
não cresceu geometricamente. Caso tivesse aumentado de forma geométrica, 
a população mundial seria, em 1990, de 185 bilhões de pessoas, quando, 
na realidade, era de 5,2 bilhões de habitantes; o desenvolvimento científico 
e tecnológico alcançado no campo provocou um aumento geométrico dos 
alimentos, sendo, hoje, pelo menos numericamente, suficiente para todos, 
porém mal repartido; a emancipação feminina (não prevista por Malthus) 
provocou redução significativa na taxa de fertilidade da mulher.
Thomas Robert Malthus acreditava que as barreiras naturais que 
impedem o crescimento da população animal atuavam igualmente sobre 
as populações humanas. Assim, a miséria seria uma espécie de vingança da 
natureza contra os homens que teimavam em se multiplicar.
Jean‑Jacques Rousseau (1712‑1778) discutiu a relação entre gestão de Estado, formas de 
representação e extensão do território de uma sociedade. Já Charles‑Louis de Seconder, o Barão de 
Montesquieu (1689‑1755), na obra O espírito das leis, dedica um capítulo à discussão sobre a influência 
do meio no caráter dos povos (MORAES, 1987, p. 39).
Entretanto, o principal e maior registro escrito não publicado são suas cartas para cerca de 2.000 
pessoas, entre figuras públicas, naturalistas e familiares. Essas cartas contêm fatos pessoais, assim como 
troca de informações científicas e discussões sobre diversas teorias.
Inicialmente, a produção científica do conhecimento geográfico teve suas características nos 
princípios da concepção positivista da realidade, elaborada por Augusto Comte (1798‑1857), que 
predominou em toda a produção científica geral do século XIX e meados do século XX. Segundo o 
Positivismo, somente o conhecimento científico é válido, opondo‑se ao conhecimento metafísico, mítico 
e teológico. No ideal positivista não há separação entre as ciências da natureza e as ciências do homem, 
pois ambas se utilizam do mesmo método, ou seja, o método das ciências naturais.
Ao início do século XIX, a malha dos pressupostos históricos da sistematização 
da Geografia já estava suficientemente tecida. A Terra estava toda conhecida. 
A Europa articulava um espaço de relações econômicas mundializado, o 
desenvolvimento do comércio punha em contato os lugares mais distantes. 
O colonizador europeu detinha informaçõesdos pontos mais variados da 
superfície terrestre. As representações do globo estavam desenvolvidas e 
difundidas pelo uso cada vez maior dos mapas, que se multiplicavam. A fé na 
razão humana, posta pela Filosofia, abria a possibilidade de uma explicação 
racional para qualquer fenômeno da realidade. As bases da ciência moderna 
já estavam assentadas. As ciências naturais haviam constituído um cabedal 
de conceitos e teorias, do qual a Geografia lançaria mão para formular 
seu método. E, principalmente, os temas geográficos estavam legitimados 
como questões relevantes, sobre as quais cabia dirigir indagações científicas 
(MORAES, 1987, p. 41).
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FUNDAMENTOS DE GEOGRAFIA: ORGANIZAÇÃO DO ESPAÇO E CONCEITOS
Pode‑se afirmar que foi dentro desse contexto que surgiu a Geografia como ciência, na Alemanha. 
Suas bases, como conhecimento científico, foram lançadas por dois cientistas alemães, Alexander Von 
Humboldt (1769‑1859) e Karl Ritter (1779‑1859), considerados os “pais” da Geografia moderna.
A sistematização da Geografia: Humboldt e Ritter
Alexander Von Humboldt nasceu em 14 de setembro de 1769, na cidade de Berlim, na Prússia, e 
morreu em 1859. Foi grande estudioso das ciências naturais. Estudou Botânica, Engenharia de Minas, 
Geologia, Meteorologia, Física e Filosofia. Realizou inúmeras viagens, percorrendo a Europa, a América 
Central e países como Equador, Peru, Venezuela, Colômbia, México, Estados Unidos e Rússia, observando 
e estudando os grandes fenômenos físicos e biológicos. Descreveu características naturais da fauna, 
flora, atmosfera, formações aquáticas e terrestres e, também, as populações que habitavam esses lugares. 
Nessas viagens acumulou grande conhecimento, que deu origem a diversos trabalhos, destacando duas 
grandes obras: Quadros da natureza (1808) e Cosmos (1845‑1859).
Nessas obras, Humboldt fez a descrição dos fenômenos naturais e humanos, do conjunto dos 
fenômenos do universo, desde as nebulosas planetárias, a Geografia física (estudos de geologia, 
geomorfologia, mineralogia etc.) até a Geografia das plantas e dos animais (sua distribuição, 
fisionomia etc.), terminando pelas etnias humanas, com análise dos fenômenos geológicos, 
climáticos e botânicos, na distribuição e inter‑relação na superfície terrestre. Entendia a Geografia 
como a parte terrestre da ciência do cosmos, uma espécie de síntese de todos os conhecimentos 
relativos à Terra; seria como uma ciência sintética, que se preocupava com a conexão entre os 
elementos e buscava, por meio dessas conexões, relação de causalidade existente na natureza. 
Humboldt não analisava apenas um fato isolado, e sim, procurava estabelecer relações de causa 
e efeito entre eles, surgindo, então, o “princípio da causalidade”; procurou, também, aplicar o 
chamado “princípio da Geografia geral”, que pregava que nenhum lugar da Terra poderia ser 
estudado sem o conhecimento do conjunto, ou seja, um fenômeno observado em uma região 
poderia ser generalizado para todas as outras áreas do globo, com características semelhantes, 
isto é, a partir da comparação, eram verificadas semelhanças e diferenças entre os fenômenos e os 
lugares no planeta.
Karl Ritter nasceu em 7 de agosto de 1779, na Saxônia, e morreu em 1859. Foi amigo pessoal de 
Humboldt, estudou Filosofia, História, Matemática e Ciências Naturais. Foi professor de uma família 
de banqueiros e lecionou História e Geografia no ginásio de Frankfurt. Em 1820 tornou‑se o primeiro 
docente na recém‑criada cátedra de Geografia, da Universidade de Berlim, na qual passou grande parte 
da vida.
 Lembrete
É importante destacar que Immanuel Kant foi o primeiro a lecionar a 
matéria, sob a forma de curso não regular, na Universidade de Köngsberg, 
mas Ritter foi o primeiro a lecionar num curso regular universitário.
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Ao contrário de Humboldt, Ritter não foi um grande viajante, assim, baseou seus estudos em leituras 
de trabalhos já existentes e suas publicações têm caráter metodológico e normativo. Suas pesquisas se 
concentraram em vários sistemas de organização espacial, comparando povos, culturas, instituições e os 
fenômenos naturais. Foi o precursor do método comparativo em Geografia.
(...) Em seu principal trabalho, Geografia comparada, há um intuito 
deliberado de propor uma Geografia, sendo, assim, um livro normativo. 
A formação de Ritter também é radicalmente distinta da de Humboldt, 
enquanto aquele era geólogo e botânico, este possui formação em 
Filosofia e História. Ritter define o conceito de “sistema natural”, isto 
é, uma área delimitada dotada de uma individualidade. A Geografia 
deveria estudar estes arranjos individuais e compará‑los. Cada arranjo 
abarcaria um conjunto de elementos, representando uma totalidade, 
onde o homem seria o principal elemento. Assim, a Geografia de Ritter 
é, principalmente, um estudo dos lugares, uma busca da individualidade 
destes. Toda esta proposta se assentava na arraigada perspectiva religiosa 
desse autor. Para ele, a ciência era uma forma de relação entre o homem 
e o “criador” (com uma dimensão interior de revelação), uma tentativa 
de aprimoramento das ações humanas, assim, uma aproximação à 
divindade. Neste sentido, caberia à Geografia explicar a individualidade 
dos sistemas naturais, pois, nesta, se expressaria o desígnio da divindade 
ao criar aquele lugar específico. A meta seria chegar a uma harmonia 
entre a ação humana e os desígnios divinos, manifestos na variável 
natureza dos meios (MORAES, 1987, 48‑49).
A proposta de Ritter é considerada antropocêntrica, pois considera o homem como sujeito 
da natureza; e regional, direcionada ao estudo da individualidade, valorizando a relação 
homem‑natureza.
Em sua obra, ele procura associar os fenômenos naturais com os humanos aplicando o princípio da 
Geografia geral ou analogia, em que, delimitada uma área em estudo, ela deveria ser comparada com 
o que se observa em outras áreas, encontrando, assim, diferenças e semelhanças. Mas, ao tentar propor 
leis gerais que explicam fatos humanos, ele percebeu uma grande dificuldade, pois os fatos humanos, 
por não serem uniformes, não podiam ser estudados com base em leis físico‑naturais.
É importante ressaltar que esses autores criaram uma linha de continuidade no pensamento 
geográfico, mas, apesar da relevância de ambos, eles não deixaram discípulos diretos, não chegaram 
a formar uma “escola geográfica”. Humboldt foi um grande incentivador das chamadas sociedades de 
Geografia, que organizavam expedições científicas em diversas partes do mundo.
Foi a partir desses dois autores, Humboldt e Ritter, que a Geografia ficou estabelecida como ciência 
descritiva, empírica, indutiva e de síntese, pautada na observação. As contribuições de ambos compõem 
a base da Geografia moderna tradicional e são de grande importância, uma vez que os trabalhos 
posteriores irão reportar‑se a essas formulações, tanto para aceitá‑las como para refutá‑las.
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FUNDAMENTOS DE GEOGRAFIA: ORGANIZAÇÃO DO ESPAÇO E CONCEITOS
 Observação
A partir do Renascimento, os pensadores estudaram o homem como um 
ser racional e superior às demais criaturas. Essa conclusão foi chamada de 
Humanismo. A moderna ciência da natureza, fundamentada na experiência, 
revolucionou o conhecimento científico.
O Determinismo na Geografia: Friedrich RatzelFriedrich Ratzel (1844‑1904) foi professor de Geografia na Universidade de Leipzig, na Saxônia 
(Alemanha). Seu principal livro, publicado em 1882, denomina‑se Antropogeografia: fundamentos da 
aplicação da Geografia à História. Em decorrência dessa obra, é considerado o fundador da Geografia 
humana, pois dá um grande enfoque ao homem. Vale a pena ressaltar que, para ele, o homem sofre a 
influência do meio natural.
Realizou viagens pela Europa e América, observando a migração dos animais 
e dos seres humanos, a concentração da população em determinadas 
áreas da Terra, o que lhe possibilitou concluir sobre a influência do meio 
natural no homem. A influência pode, por exemplo, direcionar, impedir, 
favorecer, acelerar, desordenar as ações dos homens sobre o meio natural. 
Tal fato decorre das condições naturais diferenciadas da superfície terrestre 
(RODRIGUES, 2008, p. 75).
Suas concepções geográficas foram influenciadas pelo Positivismo, buscando “leis” que explicariam 
o comportamento dos homens na Terra e pelas ideias evolucionistas de Charles Darwin.
Para Ratzel, os povos que são capazes de se adaptar ao meio natural são os mais aptos a sobreviver. 
Dentro dessa concepção, chegou à conclusão de que os europeus são superiores, pois constituem uma 
civilização mais dinâmica em relação aos povos colonizados, considerados selvagens e pertencentes a 
civilizações estagnadas; realizou extensa revisão bibliográfica sobre o tema das influências da natureza 
sobre o homem e concluiu, criticando as duas posições mais recorrentes: a que nega tal influência e 
a que visa a estabelecê‑la de imediato. Para ele, essas influências serão mediatizadas por meio das 
condições econômicas e sociais.
Para ele, a sociedade é um organismo que mantém relações duráveis com o 
solo, manifestas, por exemplo, nas necessidades de moradia e alimentação. 
O homem precisaria utilizar os recursos da natureza para conquistar sua 
liberdade, que, em suas palavras, “é um dom conquistado a duras penas”. O 
progresso significaria um maior uso dos recursos do meio, logo, uma relação 
mais íntima com a natureza. Quanto maior o vínculo com o solo, tanto maior 
seria para a sociedade a necessidade de manter sua posse. É por esta razão 
que a sociedade cria o Estado, nas palavras de Ratzel: “Quando a sociedade 
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se organiza para defender o território, transforma‑se em Estado”. A análise 
das relações, entre o Estado e o espaço, foi um dos pontos privilegiados 
da Antropogeografia. Para Ratzel, o território representa as condições 
de trabalho e existência de uma sociedade. A perda de território seria a 
maior prova de decadência de uma sociedade. Por outro lado, o progresso 
implicaria a necessidade de aumentar o território, logo, de conquistar novas 
áreas (MORAES, 1987, p. 56).
Segundo Moraes (1987), se nota uma vinculação entre as formulações das ideias de Ratzel e o 
projeto imperial alemão, que se expressa na justificativa do expansionismo como fator natural.
O professor elabora o conceito de “espaço vital”, que representaria o equilíbrio entre a população de 
uma determinada sociedade e os recursos disponíveis para suprir suas necessidades. A história humana 
seria a história natural da luta dos povos pelo “espaço vital”, uma luta pela adaptação, pela sobrevivência 
e pela defesa ou conquista de territórios.
Exatamente porque não é possível conceber um Estado sem território e sem 
fronteiras é que vem se desenvolvendo rapidamente a Geografia política (...) 
uma teoria do Estado que fizesse abstração do território não poderia, jamais, 
contudo, ter qualquer fundamento seguro (RATZEL, 1990, p. 73).
A Geografia, para ele, é uma ciência de síntese, descritiva, empírica e que busca a relação entre 
os fenômenos, relações de causalidade numa perspectiva indutiva, aceitando a concepção positivista, 
utilizando os mesmos métodos aplicados pelas ciências naturais.
Os autores que seguiram suas propostas foram buscar evidências empíricas para comprovar 
a influência do meio natural sobre a humanidade. Ratzel e seus discípulos foram rotulados como 
deterministas, formadores de uma “escola determinista na Geografia”, considerando “o homem como 
produto do meio natural”.
A seguir, apresentamos alguns de seus discípulos:
• Ellen Semple (1863‑1932): foi sua aluna. No livro As influências do meio geográfico, apresenta 
um estudo mostrando a dependência dos povos em relação ao meio natural. Por exemplo, 
regiões planas, predomínio de religiões monoteístas; regiões acidentadas, predomínio de religiões 
politeístas. Os Estados, com territórios pequenos, apresentam sociedades mais conflituosas e com 
tendências expansionistas;
• Ellsworth Huntington (1889‑1975): escreveu a obra Clima e sociedade, na qual se utiliza 
de um determinismo invertido, ou seja, as condições naturais mais hostis seriam as que 
possibilitariam maior desenvolvimento das sociedades, como povos que vivem os rigores 
do inverno seriam mais desenvolvidos do que povos que enfrentam invernos mais amenos, 
pois as necessidades impostas pelo clima (abrigo, estocagem de alimentos) teriam influência 
sobre o desenvolvimento.
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FUNDAMENTOS DE GEOGRAFIA: ORGANIZAÇÃO DO ESPAÇO E CONCEITOS
Segundo Moraes (1987), as propostas de Ratzel permitiram mais dois desdobramentos, além da 
corrente determinista:
• a geopolítica: corrente dedicada ao estudo da dominação de territórios;
• o ambientalismo: corrente que propõe o estudo do homem em relação ao seu meio natural.
Suas obras mais famosas, Antropogeografia e Geografia política, tiveram grande influência no 
desenvolvimento da ciência geográfica, com destaque para o estudo do homem sob a influência do 
meio natural, a importância do território e sua relação com a sociedade, o Estado e o poder. A Geografia, 
em Ratzel, é importante como ciência e como instrumental estratégico, político e de dominação dos 
povos pelos Estados imperialistas.
O Possibilismo na Geografia: Vidal de La Blache
Vidal de La Blache (1845‑1918) é considerado o fundador da escola regional francesa. Historiador 
por formação, se interessava por assuntos geográficos; fez um doutoramento em Geografia e 
conseguiu, para a disciplina, a independência acadêmica em relação à História. Entre suas principais 
obras, destaca‑se Tableau de la géographie de la France. Foi fundador da revista Annales de 
Géographie e da Escola Francesa de Geografia, denominada “escola possibilista”. Criticou o discurso 
político dentro da ciência geográfica, ressaltando a necessidade da neutralidade científica. No 
entanto suas teorias não deixaram de ser politizadas e serviam aos interesses da elite dominante 
francesa da época.
La Blache criticou a visão naturalista de Ratzel (a influência do meio natural sobre o homem) e 
defendeu a variabilidade das decisões humanas diante das possibilidades oferecidas pelo meio natural, 
defendendo a capacidade criativa contida na ação humana, em sua história, mas, apesar de valorizar 
o elemento humano na Geografia, não rompeu totalmente com a visão naturalista, pois afirma que “a 
Geografia é uma ciência dos lugares, não dos homens”.
A Geografia vidaliana analisa as relações entre o homem e o meio ambiente 
numa perspectiva ecológica e técnica. Os indivíduos tiram sua subsistência 
das frutas que coletam, da caça que abatem, dos peixes que pescam, dos 
animais que criam, das terras que eles preparam, lavram e plantam. Eles 
elaboram armas ou ferramentas que usam a partir dos materiais com que 
sabem trabalhar. Elesse protegem do vento, da chuva, do sol ou do frio 
ao se cobrirem com vestimentas. Eles constroem palhoças ou casas. Ao se 
combinarem, esses diversos elementos definem os gêneros de vida. Para 
analisá‑los, o geógrafo investiga através do trabalho de campo, representa 
o uso dos solos em cartas geográficas, anota as técnicas agrícolas e as 
ferramentas mobilizadas, pesquisa os caçadores, os agricultores e os 
criadores de gado. Ele integra à construção científica, que propõe os 
conhecimentos transmitidos oral e tradicionalmente pelos grupos primeiros 
ou pelos lavradores das sociedades históricas, a maioria dos camponeses 
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Unidade III
europeus do fim do século XIX ou do início do século XX. Ele os submete ao 
mesmo tempo a um exame crítico (CLAVAL, 2010, p. 113).
Assim, La Blache concebe o objeto como a relação homem‑natureza, na perspectiva da paisagem. 
Sendo o homem um ser ativo, ele sofre a influência do meio natural, mas, também, atua sobre ele, 
transformando‑o. Nesse processo, o homem cria formas sobre a superfície terrestre. A natureza passa a 
ser vista como possibilidade para a ação humana.
Com ele, o homem passou a ser um agente geográfico que influencia o meio ambiente, no entanto 
ele não descartou a influência do meio natural sobre o homem, mas destacou a possibilidade do homem 
agir sobre esse meio para transformá‑lo conforme sua necessidade.
O “gênero de vida”, segundo La Blache, é o conjunto de técnicas, hábitos e costumes que o homem 
criou em seu relacionamento com o meio natural, que corresponde a uma relação de equilíbrio 
entre a população e os recursos. Já o “domínio de civilização” corresponde à área que engloba várias 
comunidades com um “gênero de vida” comum, e qualquer tentativa de não respeitar tal “domínio de 
civilização” significaria uma agressão.
Uma importante proposta dele é o estudo da região, que é concebida como um espaço, uma 
síntese de relação homem e meio natural; esse espaço exibe uma homogeneidade que difere de 
outros espaços.
[A região] [...] era a denominação dada a uma unidade de análise geográfica, 
que exprimiria a própria forma de os homens organizarem o espaço terrestre. 
Assim, a região não seria apenas um instrumento teórico de pesquisa, mas 
um dado da própria realidade. As regiões existiriam de fato, e caberia ao 
geógrafo delimitá‑las, descrevê‑las e explicá‑las. A região seria uma escala 
de análise, uma unidade espacial, dotada de uma individualidade, em relação 
a suas áreas limítrofes. Assim, pela observação, seria possível estabelecer a 
dimensão territorial de uma região, localizá‑la e traçar seus limites. Estes 
seriam dados pela ocorrência dos traços diferenciadores, aqueles que 
lhe conferem um caráter individual, singular. Dessa forma, a Geografia 
seria prioritariamente um trabalho de identificação das regiões no globo 
(MORAES, 1987, p. 75).
Assim, era necessário saber, por exemplo, a combinação do relevo, o solo, a vegetação, o clima, 
a agricultura, a população e a indústria, para a delimitação da região. La Blache vê a região como 
resultante do estudo da paisagem, uma realidade objetiva que pode ser constatada e delimitada pelo 
observador.
Com ele há um grande enfoque na Geografia regional, que é estudada atualmente, buscando um 
conhecimento cada vez maior de determinada área; também planejou uma obra coletiva, a Geografia 
universal, que estudava as áreas em todo o mundo, na qual cada autor ficaria responsável por uma 
porção determinada do planeta.
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FUNDAMENTOS DE GEOGRAFIA: ORGANIZAÇÃO DO ESPAÇO E CONCEITOS
Segundo Rodrigues,
[...] a orientação empírica é outro elemento importante em Vidal de La Blache, 
pois enfoca a importância dos trabalhos geográficos a serem realizados, 
principalmente, pela observação direta da realidade, a necessidade das 
excursões geográficas como trabalhos pedagógicos, ou seja, a escola ao ar 
livre deve guiar o espírito geográfico. A realidade existia independente do 
observador e era preciso achá‑la no campo, dando ênfase à observação da 
paisagem para delimitação e estudo da região (RODRIGUES, 2008, p. 85).
Figura 24 ‑ Regionalização do Brasil
Os estudos em Geografia regional são esquematizados da seguinte forma: a localização da 
área por meio de projeções cartográficas; o quadro físico como o relevo, o solo, a hidrografia, o 
clima, a vegetação etc.; a formação histórica (como se deu a ocupação humana do território); 
a estrutura agrária; a estrutura urbana; a estrutura industrial. Ao final, apresenta‑se uma 
conclusão, com um conjunto de cartas, objetivando demonstrar a relação entre os elementos 
humanos e naturais da região.
Em seus Annales de géographie, no artigo “Dês caracteres distinctifs de la Géographie” (ed. 124, 
1913), La Blache estabeleceu os princípios básicos em que a Geografia deveria se orientar, considerando 
a unidade dos fenômenos terrestres, a combinação variável desses fenômenos, o reconhecimento da 
relação do meio com o homem, a necessidade de um método científico para o estudo dos fenômenos, 
a importância do homem na modelagem do meio geográfico. Esses princípios levam a uma definição 
melhor da função da Geografia no conjunto das ciências.
Segundo Moraes (1987), La Blache vinculou os estudos à Geografia humana, mas esta foi concebida 
como estudo da paisagem. Sua teoria fala de população, nunca de sociedade; de estabelecimentos 
humanos, não de relações sociais; estuda relação homem‑natureza, mas não aborda as relações entre 
os homens.
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Unidade III
Na Geografia francesa surgiram alguns autores que abordaremos a seguir.
• Emanuel de Martonne (1873‑1955): foi diretor do Instituto de Geografia da Universidade de Paris, 
em 1927, e presidente de honra da União Geográfica Internacional, em 1949. Publicou vários 
livros sobre morfologia referentes à erosão das geleiras e à evolução das formas dos relevos. 
Também deixou produção científica nos Annales de Géographie. Segundo Andrade (1987), para 
Martonne, a Geografia deveria estudar a distribuição dos fenômenos físicos, biológicos e humanos 
na superfície terrestre.
• Jean Brunhes (1869‑1930): foi professor da Universidade de Friburgo e publicou La géographie 
humaine, em que classificou os fatos de ocupação do espaço em três grupos, de ocupação 
improdutiva do solo, como casas e caminhos; de conquista vegetal e animal, como lavouras e 
criação; de economia destrutiva, como devastações vegetais e animais.
• Camille Vallaux (1870‑1945): publicou diversas obras, entre elas, Les sciences géographiques, 
La geographie de l’histoire e Géograpie générale des mers. Preocupou‑se em estudar assuntos 
relacionados à Geografia e à História, aos oceanos, à política e às fronteiras geográficas.
• André Cholley (1886‑1968): elaborou a Combinação de complexo, que deveria ser objeto de 
estudo geográfico, pois ela expressaria a realidade geográfica na convergência dos fenômenos 
físicos, biológicos e humanos. Para o autor, a Geografia seria uma “ciência de complexos”; retoma 
os estudos de caracterização das regiões geográficas, destacando a importância do homem como 
organizador e produtor das regiões.
Seguindo a mesma linha de La Blache, porém com uma proposta mais elaborada, temos Max Sorre 
(1880‑1962), que entendia a matéria como um estudo da ecologia do homem, isto é, da relação dos 
agrupamentoscom o meio em que está inserido, processo pelo qual o homem transforma esse meio, 
sendo que as condições do meio geográfico, fruto da ação do homem, não seriam as mesmas daquele 
meio natural original. A ideia de espaço geográfico de Sorre é a de espaços sobrepostos (o físico, o 
econômico, o social, o cultural) em inter‑relação. Desenvolveu o conceito de habitat considerando uma 
porção do planeta organizado pela comunidade que o habita.
Para Andrade (1987), os principais mestres da Geografia francesa caracterizavam‑se, especialmente, 
por uma orientação ideográfica, apresentando uma posição política conservadora, encoberta por 
neutralidade científica. Foi dada grande importância à descrição, todavia sem menosprezar a explicação. 
Eles estavam muito ligados à universidade e à formação cultural.
Élisée Reclus e Piotr Kroptkin e a Geografia
Élisée Reclus (1830‑1905) foi um geógrafo intelectual e anarquista que nasceu na França, em 
1830. Filho de pastor protestante e de família humilde, aos 13 anos foi para a Alemanha estudar numa 
escola religiosa, onde recebeu a formação básica que marcou sua ampla cultura e travou o primeiro 
rompimento com a religião, que o foi levando progressivamente ao ateísmo. Era simpatizante dos 
movimentos republicanos e apoiou os levantes populares de 1848 e da Comuna de Paris, em 1871.
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FUNDAMENTOS DE GEOGRAFIA: ORGANIZAÇÃO DO ESPAÇO E CONCEITOS
Entre as obras mais importantes desse autor, destacam‑se A terra, em dois volumes, publicados em 
1869; a Nova geografia universal, em 19 volumes, publicada no período de 1875 a 1892; e O homem e 
a terra, em seis volumes, editada no período de 1905 a 1908.
Reclus aborda assuntos como a luta de classes, a educação e as ciências, as formas de propriedade, 
o colonialismo e a dominação dos países desenvolvidos. Nesses estudos, procurava não fazer separação 
entre Geografia física e humana; estudava suas inter‑relações.
O estudo da natureza, para ele, deveria facilitar a compreensão da evolução 
humana. Os geógrafos deveriam fazer análises, considerando que a sociedade 
está dividida em classes sociais, decorrentes das formas de apropriação dos 
meios de produção. As diferenças de classes provocam as lutas entre elas: 
as classes dominadas, que aspiram a melhores condições de vida, com as 
dominantes, que não desejam perder o controle do poder e das riquezas 
(RODRIGUES, 2008, p. 89).
Segundo Rodrigues (2008), Piotr Alexeevich Kropotkin (1842‑1921), grande amigo de Élisée Reclus, 
nasceu em Moscou e pertencia a uma família rica, aristocrata e tradicional. Entre 1857 e 1861, recebeu 
influências da nova literatura liberal revolucionária em seu país. Estudou em São Petersburgo, onde 
se interessou pela Geografia, cujas pesquisas e explorações lhe abriram caminho para uma destacada 
carreira científica. Em 1862, foi para o exército, servindo como oficial na Sibéria, onde fez levantamentos 
topográficos e geográficos. Sua reputação como geógrafo se deu em grande parte pelas viagens e pelos 
estudos que realizou naquele lugar.
Segundo Vesentini (1988), Kropotkin não aceitava o estado‑nação, as fronteiras políticas e a 
glorificação da pátria. Para ele, a tarefa da Geografia era mostrar que a humanidade era uma só; as 
fronteiras são relíquias de um passado e o nacionalismo, as guerras e os preconceitos entre as nações só 
servem para manter ou reforçar os interesses de grupos ou classes dominantes.
Entre suas obras mais importantes, destacam‑se A conquista do pão, Ajuda mútua, Memórias de um 
revolucionário, O anarquista e a ciência moderna, e Campos, fábricas e oficinas.
Élisée Reclus e Piotr Kropotkin foram geógrafos libertários, nas palavras de Andrade (1987). Apesar de 
serem positivistas, receberam influência dialética de Karl Marx (1818‑1883). Por suas posições políticas, 
foram excluídos da vida universitária, exilados, presos e perseguidos, e seus livros não agradavam as 
classes dominantes.
Élisée Reclus e Piotr Kropotkin foram dois grandes geógrafos que viveram 
no fim do século XIX e início do XX e deram uma contribuição bem diversa 
daquela dada pelos geógrafos anteriormente estudados. Enquanto os 
primeiros se colocaram de acordo com a classe dominante, ocuparam 
cátedras universitárias e assessoraram príncipes e presidentes, os dois 
se colocaram contra a estrutura de poder, negaram validade ao Estado, 
adotaram ideias de reformas sociais radicais e defenderam as classes 
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Unidade III
menos favorecidas. Embora positivistas e com posições que se opunham a 
Marx na militância política, eles adotaram algumas categorias marxistas e 
abriram perspectivas de uma visão libertária, tanto da sociedade como da 
Geografia como ciência. Tiveram origem social distinta, mas lutaram juntos 
pelos mesmos ideais e colaboraram tanto em obras de cunho político como 
científico (ANDRADE, 1987, p. 56).
 Observação
Karl Marx (1818‑1883) nasceu em Treves, Alemanha. Estudou na 
Universidade de Berlim e doutorou‑se em Filosofia, em Jena. Em 1842, 
mudou‑se para Paris, onde conheceu Friedrich Engels, seu parceiro de 
textos e ideias. Foi expulso da França e morou em Bruxelas, participando 
da Liga dos Comunistas. Em 1848, escreveu O manifesto do partido 
comunista, obra de cunho mais político que científico, mas de grande 
importância histórica e que teria originado o chamado marxismo. Sua 
obra mostrou uma preocupação em lançar as bases científicas para o 
pensamento socialista e, politicamente, defendeu a causa operária, marca 
que acompanhará toda e qualquer tendência ou postura que se tenha 
intitulado de marxista. Malogrado o projeto de revolução social, em 1848, 
mudou‑se para Londres. Com isso, podemos perceber que conhecia de 
perto boa e importante parcela da sociedade industrial. Entre seus livros, 
destacam‑se A ideologia alemã, Miséria da filosofia, Para a crítica da 
economia política e O capital.
Marx viveu numa Europa próspera e conturbada. Percebeu e estudou as 
contradições do desenvolvimento do capitalismo e sua obra apontava para 
uma possibilidade de superação dos conflitos e contradições desse modo 
de produção que acumulava e concentrava riqueza nas mãos de poucos; 
teve (e ainda tem) grande quantidade de seguidores na intelectualidade e 
entre políticos em todo o mundo.
Alfred Hettner e Richard Hartshorne e a Geografia
Outra corrente do pensamento geográfico vinculou‑se aos nomes de Alfred Hettner (1859‑1941) 
e Richard Hartshorne (1899‑1992). Denominada de Geografia racionalista, tinha como objetivo 
desenvolver uma Geografia de menor carga empirista e privilegiar o raciocínio dedutivo. Essa corrente, 
diferentemente da Geografia de Ratzel e La Blache, que tiveram suas raízes no positivismo de Augusto 
Comte, fundamentava‑se no neokantismo de Rickert e Windelband.
Alfred Hettner foi um geógrafo alemão, professor da Universidade de Heidelberg, na cidade de 
mesmo nome, na Alemanha. Publicou obras entre 1890 e 1910. Buscou um novo caminho para a análise 
geográfica que não fosse o do determinismo e o do possibilismo; propôs a Geografia como a ciência que 
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FUNDAMENTOS DE GEOGRAFIA: ORGANIZAÇÃO DO ESPAÇO E CONCEITOS
estuda a diferenciação de áreas, isto é, a que visa a explicar “por que” e “em que” diferem as porções da 
superfície terrestre. As ideias de Hettner ficaram pouco conhecidas em sua época.Em Hettner, a Geografia se torna a ciência que estuda a diferenciação 
de áreas da superfície terrestre. Em La Blache, a Geografia se transforma 
numa Geografia regional (estruturada num método regional, a região vira o 
conteúdo temático e o método da Geografia). [...] Na perspectiva lablachiana, 
a conexão regional é um dado para dentro. A sequência das descrições e 
inscrições dos elos vai não só formando a síntese da totalidade dos fenômenos 
e seus componentes, como decidindo a referência do marco dos limites que 
vão recortar a região no todo da superfície terrestre e garantindo‑lhe seu 
caso único de identidade. Lacoste condenou‑a como um “poderoso conceito 
obstáculo” (Lacoste, 1974 e 1988). Na perspectiva hetteneriana a conexão 
vem do movimento de diferenciação de um dado todo em recortes (o 
clima terrestre em seu movimento de variação na superfície terrestre), a 
sequência das descrições e elos servindo para flagrar o movimento em sua 
diferenciação na superfície, em busca da sua diversificação paisagística [...] 
(MOREIRA, 2006, p. 128).
Foi por meio do geógrafo americano Richard Hartshorne que suas teses seriam divulgadas.
Hartshorne lecionou na Universidade de Wisconsin, nos Estados Unidos, procurando desenvolver 
reflexões sobre a natureza da Geografia como ciência, em dois livros: A natureza da geografia, 
publicado em 1939, que trata da evolução do pensamento geográfico; e Questões sobre a natureza 
da geografia, publicado em 1959, que revisa posições de vinte anos antes e apresenta o conteúdo 
final de sua proposta.
A primeira diferença da proposta de Hartshorne residiu em este defender 
a ideia de que as ciências se definiriam por métodos próprios, não por 
objetos singulares. Assim, a Geografia teria sua individualidade e autoridade 
decorrentes de uma forma própria de analisar a realidade. O método 
especificamente geográfico viria do fato de essa disciplina trabalhar o real 
em sua complexidade, abordando fenômenos variados, estudados por outras 
ciências. Para Hartshorne, o estudo geográfico não isolaria os elementos, 
ao contrário, trabalharia com suas inter‑relações. A forma antissistemática 
seria mesmo a singularidade da análise geográfica. Desta forma, Hartshorne 
deixou de procurar um objeto da Geografia, entendendo‑a como um “ponto 
de vista”. Seria um estudo das inter‑relações entre fenômenos heterogêneos, 
apresentando‑as numa visão sintética. Entretanto as inter‑relações não 
interessariam em si, e sim, na medida que “desvendam o caráter variável das 
diferentes áreas da superfície da Terra”. Pois, para Hartshorne, a Geografia 
seria um estudo da “variação de áreas”. Os conceitos básicos formulados por 
Hartshorne foram os de “área” e de “integração”, ambos referidos ao método 
(MORAES, 1987, p. 87‑88).
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Unidade III
A área, segundo Hartshorne, seria uma unidade da superfície terrestre delimitada pelo observador 
e construída subjetivamente com base nos dados escolhidos. Em La Blache, a região era vista como 
realidade exterior ao observador. Segundo Moraes (1987), “a singularidade de cada área seria dada pela 
integração de fenômenos inter‑relacionados, conforme a escolha do observador”.
Com base nessas inter‑relações, ele desenvolveu duas formas de estudo em Geografia: a particular 
(a região), quando se faz a Geografia a qual denominou de “ideográfica”; e a geral, quando se faz a 
Geografia a que chamou de “nomotética” (RODRIGUES, 2008).
O autor se ocupou longamente da problemática da dicotomia na ciência geográfica. Para ele, 
existem várias na Geografia (humana versus física; sistemática versus regional) e, ao seu ver, não cabe 
ao geógrafo distinguir entre fatos naturais e humanos, porque sua perspectiva seria a de realizar um 
estudo espacial ligado à diferenciação de áreas, e não um estudo sistemático ou histórico, que seriam 
duas perspectivas cognitivamente possíveis.
Com Hartshorne, encerram‑se as proposições da Geografia tradicional que, segundo Moraes (1987), 
“deixou uma ciência elaborada, um conjunto de conhecimento sistematizado; possibilitou a formação de 
uma ciência autônoma; elaborou um rico acervo empírico; e, finalmente, a Geografia tradicional elaborou 
alguns conceitos como: território, região, habitat, paisagem, área etc., que ainda merecem ser rediscutidos”.
 Saiba mais
Os textos a seguir podem aprofundar mais o assunto abordado nesse 
item; todos estão disponíveis na internet:
COUTINHO, B. T. A tônica epistemo‑metodológica da(s) geografia(s) 
dos clássicos. Espaço em Revista, Goiás, v. 14, n. 2, p. 45‑58, jul./dez. 2012. 
Disponível em: <http://www.revistas.ufg.br/index.php/espaço/article/
view/19003#.UuE4FNJTvlU>. Acesso em: 18 fev. 2014.
SILVEIRA, R. W. D.; VITTE, A. C. Debate e epistemologia na gênese da 
geografia moderna: pensamento e imaginação geográfica. In: COLÓQUIO 
IBÉRICO DE GEOGRAFIA, 12., 2010, Porto. Actas. Porto: Faculdade de Letras 
da Universidade do Porto, 2010. Disponível em: <http://web.letras.up.pt/
xiicig/comunicacoes/202.pdf>. Acesso em: 18 fev. 2014.
6 GEOGRAFIA CONTEMPORÂNEA: A RENOVAÇÃO DA GEOGRAFIA
O século XX trouxe para o mundo várias transformações políticas, econômicas, sociais, filosóficas, 
científicas e tecnológicas que atingiram, também, a ciência geográfica, provocando um processo de 
renovação e mudanças, principalmente, a partir da década de 1950, quando a Geografia tradicional 
entra em declínio e a ciência geográfica busca novos caminhos para seguir em frente.
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FUNDAMENTOS DE GEOGRAFIA: ORGANIZAÇÃO DO ESPAÇO E CONCEITOS
Esse declínio se deu, principalmente, pelas transformações que ocorreram depois da Segunda Guerra 
Mundial, conforme salienta Moraes (1987):
Isto defasou o instrumental de pesquisa da Geografia, implicando uma 
crise das técnicas tradicionais de análise (...). Criadas para explicar situações 
simples, quadros locais fechados, não conseguia apreender a complexidade 
da organização atual do espaço. O instrumental elaborado para explicar 
comunidades locais não conseguia apreender o espaço da economia 
mundializada. Estabeleceu‑se uma crise de linguagem, de metodologia de 
pesquisa. O movimento de renovação vai buscar novas técnicas para a análise 
geográfica. De um instrumental elaborado na época do levantamento de 
campo, vai se tentar passar, para o sensoriamento remoto, as imagens de 
satélite, o computador (MORAES, 1987, p. 95‑96).
Geografia teórico‑quantitativa
Essa corrente se desenvolveu entre as décadas de 1960 e 1970, e se caracteriza pela utilização 
de modelos matemático‑estatísticos. Rompendo com a Geografia moderna tradicional, se apresentou 
como “nova Geografia” e foi contrária ao uso de excursão e das aulas práticas de campo, por achar 
desnecessária a observação e a descrição da realidade empírica. Substituiu esses trabalhos por pesquisas 
em laboratório, onde seriam feitas as medições matemáticas, os gráficos e as tabelas sofisticadas, 
procurando representar os fenômenos geográficos por meio de desenhos e diagramas. Seus defensores 
adotaram os fundamentos do neopositivismo e se voltaram para a matemática, em especial, a estatística, 
para provar as hipóteses e explicar os fenômenos geográficos.
Para Moraes (1987), os autores defensores da Geografia teórico‑quantitativa vão propor um estudo 
voltado para o planejamento, para uma Geografia instrumentalizada aplicada. O objetivo geral é buscar 
novas técnicas e nova linguagem que possibilitem dar conta das tarefas postas pelo planejamento 
do Estado e do capital. Se, anteriormente, a Geografiatradicional contribuiu para um conhecimento 
que levantava informações para a expansão das relações capitalistas, agora, com a Geografia 
teórico‑quantitativa, busca‑se um saber que direciona essa expansão, fornecendo opções e orientando 
estratégias de alocação do capital, no espaço geográfico.
Há uma continuidade entre o pensamento geográfico teórico‑quantitativo e o tradicional, na 
medida em que ambos possuem uma continuidade dada por seu conteúdo de classe, ou seja, pela 
elaboração de instrumentos práticos e ideológicos da burguesia. Pode‑se chamar essa corrente de uma 
renovação conservadora da Geografia, pois também ocorre a passagem do positivismo clássico para o 
neopositivismo. Na teórico‑quantitativa se troca o empirismo da observação direta pelo empirismo mais 
abstrato dos dados filtrados pela estatística.
De fato, a expressão “Geografia quantitativa”, utilizada para exprimir a 
existência de uma Geografia nova, introduziu certo mal estar e confusão. 
A expressão “Geografia matemática” ou “quantitativa” pode, na realidade, 
aplicar‑se a qualquer dos paradigmas da Geografia, novos ou antigos, mesmo 
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Unidade III
aos que hoje não são mais válidos para nenhuma escola. A quantificação 
representa apenas um instrumento ou, no máximo, o instrumento. Seria 
melhor chamar a atenção sobre os aspectos mais teóricos ou conceituais, 
quer dizer, sobre os próprios paradigmas. O que continua fundamental é a 
construção teórica (SANTOS, 1986, p. 52).
Segundo Rodrigues (2008):
Os defensores da corrente teórico‑quantitativa consideram o seguinte 
princípio: se a matemática é a linguagem das ciências em geral, então 
ela também deve ser a da Geografia, pois, por intermédio da matemática, 
é possível a formulação de teorias na Geografia e, também, a utilização 
de teorias de outras ciências. Portanto é dada grande importância à 
matemática, especialmente à estatística, pois esta pode garantir a exatidão 
e a confiabilidade dos resultados (RODRIGUES, 2008).
Os principais autores dessa corrente são: J. H. Von Thünen (1783‑1850), que elaborou um modelo de 
ordenamento teórico para o uso do solo, o impacto da distância sobre uma dada produção; Alfred Weber 
(1868‑1958), sobre a questão da escolha para a localização industrial; Walter Christaller (1893‑1969), 
sobre “lugares centrais”.
Em última análise, segundo Moraes (1987), a Geografia teórico‑quantitativa propôs uma tecnologia 
de intervenção da realidade e foi uma arma de dominação para os detentores do Estado, pois era 
constituída de um conjunto de técnicas que se transformou em ideologia.
Atualmente os geógrafos que trabalham sob sua orientação metodológica têm realizado uma 
renovação nas abordagens e voltaram seus estudos, também, para a problemática ambiental e social, 
afastando‑se, assim, do tecnicismo a serviço do Estado.
Geografia da percepção e do comportamento
Essa corrente do pensamento geográfico surgiu no fim da década de 1960 e início da de 1970 e 
caracteriza‑se por realizar estudos para explicar como o indivíduo tem a percepção do lugar, pois, para 
cada indivíduo, o lugar é aquele em que ele se encontra ambientado, faz parte de seu mundo, seus 
sentimentos e suas ações.
Esta buscaria entender como os homens percebem o espaço por eles 
vivenciado, como se dá sua consciência em relação ao meio que os encerra, 
como percebem e como reagem frente às condições e aos elementos da 
natureza ambiente, e como este processo se reflete na ação sobre o espaço. 
Os seguidores desta corrente tentam explicar a valorização subjetiva do 
território, a consciência do espaço vivenciado, o comporta mento em 
relação ao meio. Estes estudos fazem uso do instrumental desenvolvido pela 
psicologia, em particular as teorias behavioristas. As pesquisas efetuadas 
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FUNDAMENTOS DE GEOGRAFIA: ORGANIZAÇÃO DO ESPAÇO E CONCEITOS
abordam temas como os seguintes: o comportamento do homem urbano 
em relação aos espaços de lazer; a influência das formas na produtividade do 
trabalho; a relação das sociedades com a natureza, expressa na organização 
dos parques; a atitude frente a novas técnicas de plantio numa determinada 
comunidade rural; a concepção e as formas de representação do espaço 
numa sociedade indígena africana, entre outros (MORAES, 1987, p. 106).
A fenomenologia, a cultura e a psicologia, segundo a Geografia da percepção e comportamento, são 
fundamentais para o entendimento do lugar, da relação entre o homem e o meio ambiente, visando à 
compreensão do homem no ambiente, experiências de vida, ações e realizações individuais ou coletivas.
Podemos citar como geógrafos dessa corrente David Lowentahal, Yi‑Fu Tuan e Anne Buttiner. 
Atualmente as principais vertentes dessa corrente são a Geografia da percepção, a Geografia humanística 
e a Geografia cultural. Essas correntes valorizam a percepção, o pensamento, os símbolos, a cultura, os 
sentimentos e a ação do homem em seu “mundo vivido”.
Muitos são os temas abordados por essas novas orientações geográficas: qualidade ambiental, 
paisagens valorizadas, riscos ambientais, representações do mundo, imagens de lugares distantes, 
história das paisagens, relações entre arte, paisagens e lugares, espaços pessoais, construção de mapas 
mentais, percepção ambiental e planejamento.
Geografia ecológica
A década de 1970 foi um marco para a história do pensamento geográfico. É a partir dessa década, 
juntamente com o surgimento dos movimentos ecológicos, que se intensificaram os movimentos de 
renovação do pensamento geográfico que, num primeiro momento, se dividiram em duas correntes 
distintas: a Geografia pragmática, de vasta aplicação no planejamento, ligada fortemente ao empirismo 
e, consequentemente, à Geografia tradicional; e a Geografia crítica, com sua preocupação voltada para 
as relações dos homens dentro da sociedade.
É certo que questões antigas como a dicotomia entre Geografia física e Geografia humana estão 
longe de serem resolvidas, conforme assinalou Vesentini:
O distanciamento do geógrafo físico ou ambientalista e o geógrafo humano 
ou estudioso do social (mesmo que se trate do espaço social construído) 
sempre foi sensível, e nos nossos dias tende, cada vez mais, a crescer. Há os 
especialistas em cartografia, geomorfologia, climatologia, Geografia urbana, 
Geografia política, Geografia da população, teoria e história do pensamento 
geográfico etc., e a pretensa unidade fica sendo apenas uma justificativa 
acadêmica ou meramente de rótulos. É certo que há análise ambiental, 
o estudo global do meio ambiente na perspectiva do impacto realizado 
pelo homem. É certo ainda que há expansões da análise economicista 
até a natureza, na questão da produção da segunda natureza pelo social 
(VESENTINI, 1997, p. 10).
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Unidade III
A dicotomia entre o natural e o social se deve ao fato dessas duas vertentes terem “lógicas” diferentes. 
No social há dialética, contradição e lutas, vencedores e vencidos, que, trazidas para a explicação da 
natureza, sempre fracassaram. O mesmo acontece com o inverso, a natureza pode ser conhecida por 
métodos – como hipóteses, testes, aplicabilidade – que, no estudo do social, geraram o positivismo.
Como já vimos, essa dicotomia se dá por estar ligada às origens da Geografia como ciência que 
estava intimamente ligada à legitimação dos estados‑naçõese à expansão do sistema escolar.
Essa unidade só tem sentido com vistas à legitimação da Geografia no sistema escolar; no nível 
acadêmico, porém, não há necessidade de uma disciplina geográfica unificada: os estudos integrados, 
que levam em conta as ações humanas e os processos fisiográficos, podem ser feitos por equipes de 
especialistas (até formados por profissionais de outras áreas).
A divisão entre Geografia da natureza e da sociedade é um subproduto dessa oposição homem‑natureza 
que a modernidade gerou ao se constituir e reproduzir. Essa tendência de separar o homem da natureza é 
uma característica marcante do pensamento que tem dominado o mundo ocidental, cuja matriz filosófica 
se encontra na Grécia e Roma clássicas; isso não quer dizer, todavia, que não existam outras formas de 
pensar a relação homem‑natureza, mas o que se coloca em questão no momento é o conceito de natureza 
que tem vigorado, e a forma como ele perpassa o sentir, o pensar e o agir de nossa sociedade. Na verdade 
coloca em questão o modo de ser, de produzir e de viver dessa sociedade.
No Ocidente já houve época em que o modo de pensar a natureza foi diferente do que tem dominado 
nas épocas moderna e contemporânea. Essa fase remonta ao período dos filósofos pré‑socráticos que 
pensavam a natureza como um todo. Para esses filósofos, os deuses eram manifestações da natureza, 
não viviam numa região longínqua, separada, pois tudo, todo o mundo que circunda o homem e que se 
oferece ao seu pensamento, está repleto de deuses e dos efeitos de seu poder.
É com Platão e Aristóteles que se começa assistir um crescente privilegiar do homem e da ideia. 
Entretanto foi com a influência judaico‑cristã que as oposições homem‑natureza e espírito‑matéria 
adquiriram maior dimensão. A ideia de que o homem foi criado à imagem e semelhança de Deus 
faz com que o homem tenha privilégios em relação aos outros seres, por ser dotado de uma 
alma, enquanto as demais criaturas não o são. Esse fato irá acentuar a separação entre espírito e 
matéria, entre o homem e a natureza. Porém apenas com Descartes essa oposição homem‑natureza, 
espírito‑matéria, sujeito‑objeto se tornará mais completa, constituindo‑se no centro do pensamento 
moderno e contemporâneo.
Dois aspectos da filosofia cartesiana vão marcar a modernidade. Em primeiro lugar, o caráter 
pragmático que o conhecimento adquire, ou seja, o conhecimento deve ser útil à vida. Dessa forma, o 
conhecimento cartesiano vê a natureza como recurso, um meio para se atingir um fim. Em segundo lugar, 
o antropocentrismo, pelo qual o homem passa a ser visto como o centro do mundo e, instrumentalizado 
pelo método científico, pode penetrar nos mistérios da natureza e, assim, tornar‑se “senhor e possuidor 
da natureza”. O antropocentrismo e o sentido pragmático‑utilitarista do pensamento cartesiano não 
podem ser desvinculados do mercantilismo que se afirmava e já se tornava, com o colonialismo, senhor 
e possuidor de todo o mundo.
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FUNDAMENTOS DE GEOGRAFIA: ORGANIZAÇÃO DO ESPAÇO E CONCEITOS
Na filosofia cartesiana, o antropocentrismo consagrará a capacidade humana de dominar a natureza 
que, dessacralizada, já que não mais povoada por deuses, pode ser tornada objeto e, visto que não tem 
alma, pode ser dividida.
Com a instituição do capitalismo, essa tendência será levada às últimas consequências. O Iluminismo, 
no século XVIII, vai criticar a Metafísica, em nome da Física, em nome da natureza tomada aqui no 
sentido do concreto. O século XIX será o triunfo desse mundo pragmático onde a natureza é considerada 
cada vez mais um objeto a ser possuído e dominado. O positivismo de Augusto Comte, que norteia todos 
os trabalhos científicos de meados do século XIX até início do nosso século, também assimilou esse 
conceito de natureza.
Segundo a concepção positivista, a natureza é vista nela e por ela mesma, externa às atividades 
humanas. Essa concepção é dada dualisticamente, pois se considera que a “natureza” é estudada 
exclusivamente pela ciência natural, enquanto a ciência social preocupa‑se com a sociedade que, por 
sua vez, não tem relação nenhuma com a natureza. Conforme essa concepção existem “duas naturezas” 
distintas entre si: a “natureza” da ciência natural, supostamente independente das atividades humanas, 
e a “natureza” da ciência social, criada socialmente.
Ainda de acordo com a concepção positivista, o homem, como ser natural, é regido pelas mesmas 
leis que regulam qualquer ser vivo sobre a Terra. Mas a natureza humana exerce seu domínio sobre as 
“leis da natureza” no processo de apropriação. A concepção de natureza também foi um dos temas de 
Karl Marx em sua crítica ao modo de produção capitalista.
A interpretação historicista da natureza surge na ideologia alemã, obra de Marx e Friedich Engels 
(1820‑1895), em que os autores fundamentam que a história pode ser examinada por dois aspectos: 
história da natureza e história dos homens.
A história da natureza precederia a história da humanidade, mas, uma vez 
que esta última houvesse atingido um elevado grau de desenvolvimento 
tecnológico (o que ocorreu com o advento do capitalismo, da modernidade 
afinal) e agisse cada vez mais eficazmente no sentido de modificar a 
natureza, a história natural ficaria subordinada à história social, seria uma 
parte integrante desta. A grande preocupação dessa linha interpretativa não 
é, evidentemente, o estudo da natureza em si, mas a fundamentação do 
socialismo como continuação lógica do capitalismo, como “etapa” histórica 
posterior e mais avançada numa interpretação evolucionista (SOARES 
PONTES, 1999, p. 38).
As referências à natureza, em Marx, são voltadas para a fundamentação evolucionista da sociedade, 
numa sequência de modos de produção que, indubitavelmente, levaria ao socialismo real.
A partir da década de 1970, com o surgimento dos movimentos ecológicos, se começa a pensar 
sobre como a sociedade atual enxerga a natureza. Se, antes, a ideia central era a sua dominação, hoje 
é a destruição provocada pelo homem que acentua esse distanciamento. É comum em nossos dias nos 
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Unidade III
depararmos com a frase: “o homem está destruindo a natureza”. Não é o homem que destrói a natureza, 
como se não fizesse parte dela, e sim o modo de produção que predomina em nossa sociedade, nos 
tempos atuais, e que tem como filosofia a dominação não só da natureza, como do próprio homem, que 
está por destruí‑la.
O modo de produção adotado pela sociedade, principalmente neste último século, é que vai 
determinar as relações entre homens e, por conseguinte, a relação sociedade‑natureza. No sistema de 
produção capitalista, as relações de trabalho respondem pela exploração da força de trabalho e a forma 
de propriedade dos meios de produção é privada; portanto, há, nesse caso, não só a dominação do 
homem retentor do capital em relação à natureza, mas em relação ao próprio homem.
Dentro do modo de produção capitalista, a natureza é considerada como externa, mas feita como 
interna. A Geografia tem sido resistente ao conceito contraditório de “natureza”, sobretudo a partir 
do momento em que se interessa pelas relações homem‑natureza. A questão ambiental encontra‑se 
fundamentada na relação de propriedade das forças produtivas determinada pelas relações 
homem‑homem, pois é justamente essa relação que dá a direção geral à relação homem‑meio.
À medida que o caráter de apropriação privada da natureza é desenvolvido, 
o acúmulo de capital torna‑se consequência, o que além de responder peloprocesso de degradação ambiental, responde pelo antagonismo de classes 
(CASSETI, 1991, p. 14).
Daí se chega à conclusão que o desenvolvimento descontrolado das forças produtivas dentro do 
sistema capitalista tem agravado ainda mais os impactos e enfatizado as relações de produção, que 
nada mais são que relações de domínio e submissão.
Na Geografia ecológica não há uma identidade ideológica entre os 
vários geógrafos sobre soluções a serem adotadas em relação aos 
impactos destrutivos sobre o meio ambiente, mas, em comum, eles 
defendem a preservação da natureza e buscam combater as políticas 
desenvolvimentistas, de interesse principalmente capitalista, que vêm 
financiando a exploração e a destruição do meio ambiente de forma 
indiscriminada (RODRIGUES, 2008, p. 117‑118).
A Geografia ecológica está inserida nesse contexto e seus principais autores são Jean Tricart 
(1920‑2003), geógrafo francês e um dos reformuladores da geomorfologia; publicou o livro que dá visão 
global de uma Geografia ecológica – L’Ecogeographie; Roland Paskoff (1935‑2005), que publicou o livro 
Géographi de l’environnement, com observações em áreas desérticas ou em processo de desertificação; 
no Brasil, destaca‑se o geomorfólogo Aziz Nacib Ab’Saber (1924‑2012), que, após anos de trabalho e 
pesquisa, passou a militar como cientista e cidadão, publicando artigos e notas em jornais, e escrevendo 
ensaios sobre os problemas ecológicos.
A tese de doutorado do Dr. Aziz Ab´Sáber, publicada em 1957, foi sobre A geomorfologia e o sítio 
urbano da cidade de São Paulo. Uma de suas teorias mais conhecidas é a dos refúgios, quando afirma:
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[...] os domínios de paisagem geográfica atuais são o resultado da combinação 
de formas vindas das trocas de condições ambientais do passado e do 
presente, com assento histórico nos acontecimentos dos períodos glaciares 
e interglaciares do quaternário (AB´SÁBER, 1957 apud MOREIRA, 2010).
A questão ambiental tem sido foco de discussões em todo o mundo e cabe à ciência – incluindo a 
Geografia – tentar reverter a situação da degradação do meio ambiente.
Geografia crítica ou radical
A Geografia crítica ou radical é outra corrente do pensamento geográfico que se inicia na década 
de 1970, em decorrência de diversos fatores, entre eles as manifestações nos Estados Unidos contra 
a guerra do Vietnã (nos anos 1960); a luta pelos direitos civis (em diversos países); a destruição do 
meio ambiente; os problemas da urbanização; a pobreza nos países subdesenvolvidos; o racismo; os 
movimentos feministas; os movimentos estudantis; a desigualdade entre classes sociais; e a desigualdade 
entre países ricos e pobres.
Os métodos, as técnicas e os fundamentos da Geografia tradicional e da 
Geografia teórico‑quantitativa tornaram‑se insuficientes para apreender 
a complexidade do espaço. A simples descrição (Geografia tradicional) e a 
construção e explicação, por meio de modelos, utilizando‑se de elementos 
da matemática e da estatística (Geografia teórico‑quantitativa), tornaram‑se 
insuficientes para a explicação de muitos problemas do espaço geográfico. 
Era preciso realizar estudos voltados para a análise das ideologias e de 
novas questões políticas, econômicas e sociais. Assim, a partir dos anos 
1970, sob influência das teorias marxistas, surge uma tendência crítica à 
Geografia tradicional e à Geografia teórico‑quantitativa, cujo centro de 
preocupação passa a ser as relações sociais e de produção, e as relações 
sociedade‑natureza na produção do espaço geográfico, considerando o 
objeto de estudo da Geografia o espaço social (RODRIGUES, 2008, p. 121).
Essa nova corrente criticou a Geografia tradicional e a Geografia teórico‑quantitativa, pois afirmava 
que ambas estavam a serviço da ação do Estado e das empresas capitalistas. A proposta dessa nova 
corrente da Geografia seriam as denúncias e as lutas sociais, pois não bastava explicar o mundo, é 
preciso transformá‑lo.
A Geografia crítica tem suas raízes na ala mais progressista da Geografia 
regional francesa. A figura de Jean Dresch aparece, no seio desse movimento, 
como um exemplo único de afirmação de um discurso político crítico; suas 
teorias foram já uma antecipação (Dresch escreve suas obras nas décadas 
de 1930 e 1940). Esta ala da Geografia regional vai progressivamente se 
inteirando do papel dos processos econômicos e sociais, no direcionamento 
da organização do espaço. Assim, abre uma discussão mais política na 
análise geográfica. Tal abertura embasou‑se na crescente importância do 
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elemento humano na Geografia francesa, que aparece na diferenciação 
entre meio e meio geográfico, na sujeição da Geografia física à humana, e 
na ideia da região como produto histórico (e sua valorização como objeto 
primordial). Assim, a Geografia regional francesa aproximou‑se da História 
e da Economia. É no bojo desse processo que germinam as primeiras 
manifestações de um pensamento geográfico crítico, ao se introduzir, na 
análise regional, novos elementos (MORAES, 1987, p. 117).
Segundo o autor, a primeira manifestação clara da renovação crítica pode ser constatada na proposta 
da obra Geografia ativa (escrita por P. George, Y. Lacoste, B. Kayser e R. Guglielmo). Esta obra tinha 
como objetivo uma Geografia de denúncia de realidades espaciais contraditórias e buscava explicar as 
regiões, abordando formas e funcionalidades e, também, contradições sociais: a miséria, a subnutrição, 
as favelas etc.
Andrade (1987) afirma que na Geografia crítica encontram‑se grandes subdivisões, como a corrente 
de geógrafos não marxistas, mas comprometidos com os problemas sociais; geógrafos com formação 
anarquista que utilizam os discursos de Élisée Reclus e Piotr Kropotkin nas críticas à sociedade burguesa; 
e geógrafos de formação marxista, dando ênfase às formações econômicas e aos modos de produção.
Um dos principais autores dessa corrente de pensamento foi Yves Lacoste, que formulou uma crítica 
severa à Geografia tradicional em seu livro A geografia: isso serve, em primeiro lugar, para fazer a guerra. 
Nesse livro Lacoste argumenta que há uma Geografia dos Estados‑maiores ligada à prática do poder, 
cuja função é conhecer o espaço para organizá‑lo, a partir e a serviço dos interesses do Estado. Ainda 
segundo Lacoste, existe, também, uma Geografia dos professores, que repassa aos alunos um saber inútil 
que descreve lugares e enumera informações sem lhes dar o significado que realmente têm.
Outro importante autor dessa corrente, reconhecido internacionalmente, foi Milton Santos 
(1926‑2001), que foi um geógrafo comprometido com uma visão totalizadora e dinâmica das 
transformações da sociedade. Em seus trabalhos apresenta uma visão crítica da sociedade capitalista. 
A obra Por uma geografia nova contém uma proposta geral para o estudo geográfico, é um livro de 
conteúdo normativo.
Milton Santos argumenta que é necessário discutir o espaço social e 
ver a produção do espaço como objeto. Este espaço social ou humano é 
histórico, obra do trabalho, morada do homem. É, assim, uma realidade e 
uma categoria de compreensão da realidade. Toda sua proposta será, então, 
uma tentativa de apreendê‑lo, de como estudá‑lo. Diz que se deve ver o 
espaço como um campo de força, cuja energia é a dinâmica social. Que ele 
é um fato social, um produto da ação humana, uma natureza socializada, 
que pode ser explicável pela produção. Afirma, entretanto, que o espaço é 
também umfator, pois é uma acumulação de trabalho, uma incorporação de 
capital na superfície terrestre, que cria formas duráveis, as quais denomina 
“rugosidades”. Estas criam imposições sobre a ação presente da sociedade; 
são uma “inércia dinâmica” – tempo incorporado na paisagem – e duram 
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mais que o processo que as criou. São, assim, a herança espacial, que 
influi no presente. Por esta razão, o espaço é também uma instância, no 
sentido de ser uma estrutura fixa e, como tal, uma determinação que atua 
no movimento da totalidade social. As formas espaciais são resultados de 
processos passados, mas são também condições para processos futuros. As 
velhas formas são continuamente revivificadas pela produção presente, que 
as articula em sua lógica. Caberia, antes de mais nada, entender como se dá 
este movimento (MORAES, 1987, p. 123‑124).
 Observação
Consagrado cientista e geógrafo, o brasileiro Milton Santos, natural da 
Bahia, teve uma longa carreira docente e de pesquisas.
Tornou‑se bacharel em Direito; doutor em Geografia pela Universidade 
de Estrasburgo, na França, sob a orientação do professor Jean Tricart; foi 
professor catedrático de Geografia humana na Universidade Federal da 
Bahia, onde fundou um laboratório de geociências; presidiu a Fundação 
Comissão de Planejamento Econômico do Estado da Bahia; atuou como 
representante da Casa Civil do Presidente Jânio Quadros.
Devido à situação política do Brasil, na década de 1960, empreendeu 
carreira internacional – inicialmente na França – como professor convidado 
nas universidades de Toulouse, Bordeaux, Sorbonne, no Instituto de 
Estudos do Desenvolvimento Econômico e Social; dentre outras atuações 
no exterior.
Retornando ao Brasil, atuou na Universidade Federal do Rio de Janeiro; 
na Universidade de São Paulo, onde foi professor titular de Geografia 
humana, recebendo o título de professor emérito. Seus estudos sobre o 
meio técnico‑científico‑informacional visaram a entender a organização 
do espaço atual.
Podemos destacar algumas obras produzidas relacionadas com a Geografia crítica ou radical: 
Geografia da fome, de Josué de Castro; Geografia do subdesenvolvimento, de Yves Lacoste; Sociologia 
e Geografia, de P. George; Geografia e dialética, de R. Guglielmo; Geografia e ideologia, de J. Anderson; 
Marxismo e Geografia, de Massimo Quaine.
Segundo Rodrigues (2008), a Geografia crítica é uma frente que reúne diversos grupos e 
orientações, mas todos assumem uma perspectiva de transformação da ordem social, uma sociedade 
mais justa e solidária, uma Geografia solidária, que trabalhe por justiça social, considerando a 
sociedade‑natureza, tendo como principal fundamentação teórico‑metodológica a dialética 
materialista de Karl Marx.
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 Lembrete
A Geografia crítica ou radical é a corrente do pensamento geográfico 
que se inicia em decorrência de diversos fatores, como as manifestações 
nos Estados Unidos contra a guerra do Vietnã (nos anos 1960); a luta 
pelos direitos civis (em diversos países); a destruição do meio ambiente; 
os problemas da urbanização; a pobreza nos países subdesenvolvidos; 
o racismo; os movimentos feministas; os movimentos estudantis; a 
desigualdade entre classes sociais; e a desigualdade entre países ricos e 
pobres.
 Saiba mais
Três livros que abordam mais profundamente a questão do método e 
o objeto na Geografia, a História do pensamento geográfico e a Geografia 
crítica:
MORAES, A. C. R de. Geografia: pequena história crítica. 8. ed. São Paulo: 
Hucitec, 1987.
RODRIGUES, A. J. Geografia: introdução à ciência geográfica. São Paulo: 
Avercamp, 2008.
SANTOS, M. Por uma geografia nova. São Paulo: Hucitec, 1986.
 Resumo
Nesta unidade, vimos que a produção científica do conhecimento 
geográfico teve suas características nos princípios da concepção positivista 
da realidade, elaborados por Augusto Comte, que predominou em toda a 
produção científica geral do século XIX e meados do século XX.
A Geografia moderna nasceu na Alemanha, a partir de interesses 
específicos de conhecimento de territórios. Sob o paradigma tradicional “a 
terra e o homem”, decorrente de uma necessidade ideológica, criou‑se a ideia 
de unidade, de “ciência de síntese”, de “ponte” entre o natural e o social.
As bases da Geografia, como conhecimento científico, foram lançadas 
em meados do século XIX, por dois cientistas alemães, Humboldt e Ritter, 
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que se baseavam no empirismo, ou seja, se limitavam ao detalhamento 
das características físicas dos lugares, mensurando‑as e catalogando‑as, 
ao mesmo tempo em que procuravam explicações para suas dinâmicas e o 
estabelecimento de leis, numa tentativa de sistematizar os conhecimentos 
apreendidos. Datam desse período as expedições científicas na própria 
Europa e em outros continentes.
Dando continuidade à produção científica iniciada por Humboldt e Ritter, 
aparece outro cientista alemão, Ratzel, que produziu uma descrição dos 
lugares onde o natural e o humano se apresentavam dissociados, lançando, 
assim, a corrente determinista, segundo a qual os lugares influenciavam o 
modo de ser e agir dos homens, sempre justificando a dominação cultural.
O geógrafo francês Vidal de La Blache, contrapondo‑se a Ratzel, propõe 
a corrente possibilista. A contribuição que La Blache deu para a evolução do 
pensamento geográfico foi marcante, tanto por sua abordagem regional, 
como por acentuar a separação entre os elementos físico‑naturais e os 
elementos humano‑sociais das paisagens. Sua proposta de análise regional, 
no entanto, não conseguiu inter‑relacionar o homem com o meio natural; 
o meio físico nada mais era que um suporte para o desenvolvimento dos 
grupos humanos.
Seguindo a mesma linha de La Blache, porém com uma proposta mais 
elaborada, temos Max Sorre, que entendia a Geografia como um estudo da 
ecologia do homem, isto é, da relação dos agrupamentos com o meio em 
que estão inseridos, processo pelo qual o homem transforma esse meio, 
sendo que as condições do meio geográfico, fruto da ação do homem, 
não seriam as mesmas daquele meio natural original. A ideia de espaço 
geográfico de Sorre é a de espaços sobrepostos (o físico, o econômico, o 
social, o cultural) em inter‑relação.
Elisée Reclus aborda assuntos como a luta de classes, a educação e 
as ciências, as formas de propriedade, o colonialismo e a dominação dos 
países desenvolvidos. Nesses estudos, procurava não fazer separação entre 
Geografia física e humana; estudava suas inter‑relações.
Outra corrente do pensamento geográfico vinculou‑se aos nomes de 
Hettner e Hartshorne. Essa corrente, diferentemente da Geografia de Ratzel 
e La Blache, que tiveram suas raízes no positivismo de Augusto Comte, 
fundamentava‑se no neokantismo de Rickert e Windelband.
Hartshorne se ocupou longamente da problemática da dicotomia 
na ciência geográfica. Para ele, existem várias dicotomias na Geografia 
(humana versus física; sistemática versus regional) e, a seu ver, não cabe 
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