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livro Metodologia e Conteúdos Básicos de Geografia (SOC16)

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Indaial – 2021
Metodologia e 
Conteúdos BásiCos de 
geografia
Prof. Carlos Odilon da Costa
2a Edição
Copyright © UNIASSELVI 2021
Elaboração:
Prof. Carlos Odilon da Costa
Revisão, Diagramação e Produção:
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI
Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri 
UNIASSELVI – Indaial.
Impresso por:
C837m
Costa, Carlos Odilon da
 
 Metodologia e conteúdos básicos de geografia. / Carlos Odilon da 
Costa – Indaial: UNIASSELVI, 2021.
 
 268 p.; il.
 ISBN 978-65-5663-863-8
 ISBN Digital 978-65-5663-864-5
 
 1. Conhecimento geográfico. - Brasil. II. Centro Universitário 
Leonardo da Vinci.
 CDD 370
apresentação
Olá, acadêmico! Seja bem-vindo a esta jornada pelo conhecimento. 
Teremos como base de apoio para percorrer este caminho o Livro Didático 
de Metodologia e conteúdos básicos da Geografia. 
Estudaremos a origem do conhecimento geográfico, compreenderemos 
como esse conhecimento virou Ciência e, por fim, uma disciplina escolar. 
Veremos os principais métodos e abordagens epistemológicas da geografia que 
fundamentam o ensinar e aprender em sala de aula.
Também abordaremos as novas formas de aprender e ensinar 
em Geografia no Século XXI, bem como entraremos em reflexões e 
aprofundamentos sobre a BNCC, e o ensino de Geografia. Lembrando que 
sua formação será em Pedagogia. Preparamos os assuntos a partir de um 
enfoque relacionado com a Educação, principalmente a Educação Infantil e 
Anos Iniciais da Educação Básica.
Sucesso em sua caminhada acadêmica!
Prof. Carlos Odilon da Costa
Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para 
você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há 
novidades em nosso material.
Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é 
o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um 
formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. 
O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova 
diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também 
contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo.
Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, 
apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade 
de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. 
 
Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para 
apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto 
em questão. 
Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas 
institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa 
continuar seus estudos com um material de qualidade.
Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de 
Desempenho de Estudantes – ENADE. 
 
Bons estudos!
NOTA
Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma disciplina e com ela 
um novo conhecimento. 
Com o objetivo de enriquecer seu conhecimento, construímos, além do livro 
que está em suas mãos, uma rica trilha de aprendizagem, por meio dela você terá 
contato com o vídeo da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiais complementares, 
entre outros, todos pensados e construídos na intenção de auxiliar seu crescimento.
Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo.
Conte conosco, estaremos juntos nesta caminhada!
LEMBRETE
suMário
UNIDADE 1 — GEOGRAFIA: MÉTODOS E CONCEITOS ......................................................... 1
TÓPICO 1 — GEOGRAFIA: CIÊNCIA E ENSINO ......................................................................... 3
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 3
2 CONHECIMENTO GEOGRÁFICO ................................................................................................. 3
2.1 O ENSINO DA GEOGRAFIA ..................................................................................................... 30
RESUMO DO TÓPICO 1..................................................................................................................... 35
AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 37
TÓPICO 2 — ABORDAGENS E MÉTODOS NA GEOGRAFIA ................................................ 39 
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 39
2 PRINCIPAIS ABORDAGENS EPISTEMOLÓGICAS DA GEOGRAFIA .............................. 39
2.1 ABORDAGEM DA GEOGRAFIA TRADICIONAL E ABORDAGEM
 DA GEOGRAFIA PRAGMÁTICA ............................................................................................. 40
2.2 ABORDAGEM DA GEOGRAFIA FENOMENOLÓGICA ...................................................... 42
2.3 ABORDAGEM DA GEOGRAFIA CRÍTICA ............................................................................. 43
2.4 ABORDAGEM DA GEOGRAFIA PÓS-MODERNA ............................................................... 44
3 PRINCIPAIS MÉTODOS DA GEOGRAFIA ............................................................................... 46
3.1 O USO DAS TEORIAS DO CONHECIMENTO GEOGRÁFICO 
 NO COTIDIANO .......................................................................................................................... 50
RESUMO DO TÓPICO 2..................................................................................................................... 60
AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 61
TÓPICO 3 — CONCEITOS E TEMAS NA GEOGRAFIA ............................................................ 63
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 63
2 ESPAÇO GEOGRÁFICO .................................................................................................................. 64
2.1 LUGAR E TERRITÓRIO .............................................................................................................. 68
2.2 PAISAGEM E REGIÃO ................................................................................................................ 72
LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................ 78
RESUMO DO TÓPICO 3..................................................................................................................... 79
AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 80
REFERÊNCIAS ...................................................................................................................................... 82
UNIDADE 2 — ENSINAR E APRENDER GEOGRAFIA ............................................................. 85
TÓPICO 1 — O ENSINO DA CARTOGRAFIA ............................................................................. 87
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 87
2 INTRODUÇÃO À CARTOGRAFIA .............................................................................................. 87
2.1 ALFABEIZAÇÃO CARTOGRÁFICA ...................................................................................... 102
2.2 CARTOGRAFIAE SALA DE AULA, EDUCAÇÃO 
 INFANTIL E ANOS INICIAIS .............................................................................................................. 105
RESUMO DO TÓPICO 1................................................................................................................... 116
AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 117
TÓPICO 2 — O ENSINO DA GEOGRAFIA E A VIRTUALIDADE 
 EM SALA DE AULA .................................................................................................. 119
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 119
2 NOVAS TECNOLOGIAS E A EDUCAÇÃO .............................................................................. 119
2.1 VIRTUALIDADE ........................................................................................................................ 129
2.2 GEOGRAFIA E NOVAS TECNOLOGIAS .............................................................................. 135
RESUMO DO TÓPICO 2................................................................................................................... 144
AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 145
TÓPICO 3 — O ENSINO DA GEOGRAFIA NO SÉCULO XXI ................................................ 147
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 147
2 GEOGRAFIA AMBIENTAL EM SALA DE AULA.................................................................... 147
3 GEOGRAFIA CULTURAL EM SALA DE AULA ...................................................................... 159
3.1 GEOGRAFIA DA RELIGIÃO EM SALA DE AULA ............................................................. 164
LEITURA COMPLEMENTAR .......................................................................................................... 168
RESUMO DO TÓPICO 3................................................................................................................... 170
AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 171
REFERÊNCIAS .................................................................................................................................... 173
UNIDADE 3 — BNCC: ESTRUTURA E APLICABILIDADE NA GEOGRAFIA .................. 177
TÓPICO 1 — A ESTRUTURA DA BNCC ...................................................................................... 179
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 179
2 INTRODUÇÃO À BNCC ............................................................................................................... 179
3 BNCC ANOS FINAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL ........................................................... 183
4 BNCC E O ENSINO MÉDIO ......................................................................................................... 187
RESUMO DO TÓPICO 1................................................................................................................... 191
AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 192
TÓPICO 2 — BNCC: O ENSINO DA GEOGRAFIA E A EDUCAÇÃO INFANTIL .................... 195
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 195
2 BNCC E A EDUCAÇÃO INFANTIL ............................................................................................ 195
3 BNCC E A GEOGRAFIA NA EDUCAÇÃO INFANTIL........................................................... 198
4 BNCC, GEOGRAFIA E A SALA DE AULA NA EDUCAÇÃO INFANTIL .......................... 208
RESUMO DO TÓPICO 2................................................................................................................... 213
AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 214
TÓPICO 3 — BNCC: O ENSINO DA GEOGRAFIA E O ENSINO 
 FUNDAMENTAL NOS ANOS INICIAIS ............................................................. 217
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 217
2 BNCC E O ENSINO FUNDAMENTAL DOS ANOS INICIAIS ............................................. 217
2.1 A ÁREA DE CIÊNCIAS HUMANAS ...................................................................................... 220
3 BNCC E A GEOGRAFIA NOS ANOS INICIAIS ...................................................................... 223
LEITURA COMPLEMENTAR .......................................................................................................... 261
RESUMO DO TÓPICO 3................................................................................................................... 263
AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 264
REFERÊNCIAS .................................................................................................................................... 266
1
UNIDADE 1 — 
GEOGRAFIA: MÉTODOS E CONCEITOS
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:
• compreender que o conhecimento produzido serve para o ser humano 
viver e compreender o tempo e espaço em que vive;
• compreender que o conhecimento dito geográfico, antes de tornar-se um 
conhecimento científico, foi usado como um conhecimento prático, para 
interpretar ou auxiliar na interpretação da realidade;
• perceber que o uso das abordagens epistemológicas na geografia tem 
como objetivo analisar os principais métodos da Geografia e seus usos 
em sala de aula, assim como a política trata do funcionamento e poder 
na e da sociedade, a epistemologia se ocupa do saber, do conhecimento 
produzido pelo ser humano;
• entender também que o método na Geografia não é compreendido enquanto 
uma articulação estrita de abordagens ou concepções, mas como totalidade 
aberta e tensionada por visões de mundo, inclusive, contraditórios;
• aprender os principais conceitos da Geografia e adaptar-se à linguagem 
geográfica. Ao se apropriar dessa linguagem e dos conceitos, o acadêmico 
desencadeará um processo de leitura do mundo, com o olhar mais amplo.
2
Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos 
em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá 
melhor as informações.
CHAMADA
PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade 
você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo 
apresentado.
TÓPICO 1 – GEOGRAFIA: CIÊNCIA E ENSINO
TÓPICO 2 – ABORDAGENS E MÉTODOS NA GEOGRAFIA
TÓPICO 3 – CONCEITOS E TEMAS NA GEOGRAFIA
3
TÓPICO 1 — 
UNIDADE 1
GEOGRAFIA: CIÊNCIA E ENSINO
1 INTRODUÇÃO
O Conhecimento Geográfico objetiva compreender como foi construída 
a história do conhecimento na sociedade humana. O ser humano enfrenta e 
confronta o seu mundo e o mundo dos outros seres da natureza no sentido pleno, 
como um ser que age de forma objetiva e prática, isto é, age tendo em vista seus 
próprios interesses: tempo, espaço determinado e contexto de relação social. A 
realidade é, para o ser humano, o campo que ele exerce a sua atividade prática 
sensível, o horizonte determinante de sua vida, espaço em que se delimitam, 
distingue-se e diferenciam-se os seres confrontados.A Ciência Geográfica identifica os principais acontecimentos e autores 
que possibilitaram a construção da Geografia enquanto Ciência. A sistematização 
da Geografia e sua colocação como uma ciência particular e autônoma foi um 
desdobramento das transformações operadas na vida social, pela emergência 
do modo de produção capitalista. Além disso, a Geografia foi, na verdade, um 
instrumento da etapa final deste processo de consolidação do capitalismo em 
determinados países da Europa.
O ensino da Geografia apresenta as principais formas de ensinar e aprender 
a disciplina em sala de aula. Ensinar geografia significa compreender o mundo, 
suas transformações e representações sociais em suas múltiplas dimensões da 
realidade social. As transformações que ocorrem no mundo apresentam-se cada 
vez mais dinâmicas e têm originado questionamentos no âmbito educacional.
2 CONHECIMENTO GEOGRÁFICO
O ser humano enfrenta e confronta o mundo e os seres e da natureza em seu 
sentido pleno, como um ser que age de forma objetiva e prática, isto é, age tendo 
em vista seus próprios interesses em tempo e espaço determinado, e no contexto de 
determinada relação social. A realidade é, para o ser humano, o campo que exerce 
sua atividade prática sensível, o horizonte determinante de sua vida, espaço em que 
se delimitam, distingue-se e diferenciam-se os seres com que se confronta.
Na medida em que o ser humano está dentro de uma determinada 
realidade – participando das aventuras de estar no mundo, relacionando-se com 
os outros seres – ele desenvolve a sua capacidade de pensar, isto é, de perceber-se 
no mundo e perceber os seres como separados e diferentes, em diferentes tempos 
UNIDADE 1 — GEOGRAFIA: MÉTODOS E CONCEITOS
4
e espaços. Entrega-se o ser humano ao desempenho de pensar, falar a realidade 
na intercomunicação com os outros seres humanos e no trabalho de transformar 
a natureza. Além disso, institui-se o fenômeno humano do conhecimento.
O conhecimento produzido serve para o ser humano viver, compreender 
o tempo e espaço em que vive e perceber as relações sociais que constituiu ao 
longo de sua existência. O conhecimento dito geográfico, antes de tornar-se 
um conhecimento científico, foi usado como um conhecimento prático para 
interpretar, ou auxiliar na interpretação da realidade.
FIGURA 1 – SER HUMANO, SOCIEDADE E CONHECIMENTO
FONTE: <https://wwwp.uniriotec.br/sistemascolaborativos/wp-content/uploads/si-
tes/18/2017/09/ilustracao1EvolucaoSociedade-1024x863.jpg>. Acesso em: 2 jul. 2021.
Importante: ao compreender que o conhecimento humano é produzido a 
partir da realidade existente e dos diversos tipos de conhecimentos elaborados pelo ser 
humano. Percebemos a sua importância para a escola e para a universidade, ou seja, de 
modo geral, para a Educação. Ao planejar uma aula, o professor precisa entender que 
devemos sempre proporcionar novas aprendizagens partir do conhecimento (prévio) que 
os alunos trazem para a sala de aula, tendo como parâmetro esse entendimento. Desta 
forma, possibilita-se aos alunos outros tipos de conhecimentos (mais elaborados), tais 
como o conhecimento filosófico ou o científico.
ATENCAO
https://wwwp.uniriotec.br/sistemascolaborativos/wp-content/uploads/sites/18/2017/09/ilustracao1EvolucaoSociedade-1024x863.jpg
https://wwwp.uniriotec.br/sistemascolaborativos/wp-content/uploads/sites/18/2017/09/ilustracao1EvolucaoSociedade-1024x863.jpg
TÓPICO 1 — GEOGRAFIA: CIÊNCIA E ENSINO
5
• O conhecimento dito geográfico é bastante antigo. Qual seria a sua origem? 
As primeiras preocupações nas observações com a distribuição dos 
fenômenos surgiram desde os primórdios da humanidade. Nesse período, o ser 
humano pouco modificava a natureza. Seus mais importantes deslocamentos 
eram a procura de meios de subsistência, ou em atividades guerreiras, que de 
certa forma condiciona a uma necessidade de conservar informações sobre os 
caminhos percorridos e as suas direções. Dessa maneira, surgem os primeiros 
esboços representando a superfície da Terra, isto é, os primeiros mapas. 
Percebeu como esses eram conhecimentos práticos, gerados pelo 
conhecimento geográfico? Vamos testar nossa hipótese: pergunte a uma pessoa 
analfabeta qual é o melhor caminho para ir a um lugar. Provavelmente, ela será 
capaz de fazer um esboço, mostrando o caminho a seguir, os fatos mais importantes 
que existem ao longo do percurso e os principais obstáculos. Não precisamos 
de uma grande ciência para realizar esses esboços; assim, é na escola que certos 
conhecimentos práticos da geografia são relatados pelo aluno. Trata-se daquilo que 
Paulo Freire mencionava em seus escritos – que para se fazer a leitura de uma obra 
ou um texto é necessário primeiro realizar a leitura de mundo. Dito de outra forma, 
precisamos do conhecimento prático, do dia a dia, para chegarmos ao conhecimento 
científico; é preciso ter um diálogo de saberes. Não há um conhecimento superior e 
outro inferior, e sim a diversidade de conhecimentos e saberes.
FIGURA 2 – PINTURA RUPESTRE
FONTE: <https://super.abril.com.br/wp-content/uploads/2017/02/pinturas-pontilhistas-de-38-
mil-anos-encontradas-na-terra-de-georges-seurat-fb.png?w=1024>. Acesso em: 2 jul. 2021.
A Geografia é uma das áreas do conhecimento mais antigas, pois desde 
que o ser humano surgiu na face da Terra, sempre esteve em luta para organizar 
o “seu espaço”. É provável que a noção de espaço tenha sido uma das primeiras a 
ser percebida pelos seres humanos, inclusive o próprio tempo era “especializado”, 
https://super.abril.com.br/wp-content/uploads/2017/02/pinturas-pontilhistas-de-38-mil-anos-encontradas-na-terra-de-georges-seurat-fb.png?w=1024
https://super.abril.com.br/wp-content/uploads/2017/02/pinturas-pontilhistas-de-38-mil-anos-encontradas-na-terra-de-georges-seurat-fb.png?w=1024
UNIDADE 1 — GEOGRAFIA: MÉTODOS E CONCEITOS
6
conforme os documentos deixados pelas línguas mais antigas, como a língua dos 
sumérios e dos egípcios. Mesmo na língua portuguesa, espacializamos o tempo, 
quando o qualificamos como “curto” ou “longo”. Com isso, estamos tentando 
dizer que a Geografia tem uma relação bastante profunda com a História.
O período pré-científico corresponde aos saberes geográficos, 
desprovidos de sistematização e organização metodológica, produzidos pelos 
seres humanos desde a pré-história até a consolidação científica. Abarcam as 
pinturas rupestres encontradas em cavernas, representando a organização 
espacial da sociedade, os estudos de astronomia, cartografia, correntes marinhas, 
organização social entre outros.
Desde a Antiguidade, a cartografia tem grande importância. O mapa 
mais antigo de que se tem notícia, data de 2500 a.C. e é uma representação de um 
rio, provavelmente o Eufrates, com uma montanha de cada lado, desaguando 
por um delta de três braços. Nesse período, a concepção existente era de uma 
Terra plana, com a forma de um disco, e constituída por uma massa flutuante na 
água, com a abóbada celeste por cima (DANTAS; MEDEIRO, 2008, p. 3).
O Mapa de Ga-SUR, datado entre 3.800 e 2.500 a.C., é considerado um dos 
mapas mais antigos. Foi encontrado na região da Mesopotâmia, e representa o rio 
Eufrates e acidentes geográficos adjacentes. É uma pequena placa de barro cozido 
que cabe na palma da mão, e que foi descoberta perto da cidade de Harran, no 
nordeste do Iraque atual (OLIVEIRA, 1983).
FIGURA 3 – O MAPA MAIS ANTIGO
FONTE: Oliveira (1983, p.13)
Com o crescimento demográfico da humanidade – e com sua expansão 
sobre a superfície terrestre –, outros espaços passaram a ser dominados. Com 
isso, a compreensão da atividade geográfica ganha um grande impulso. A partir 
do momento em que o pensamento humano passa a fazer uso da razão, as 
preocupações com as relações do ser humano com o espaço se tornaram presentes 
nas elocubrações teóricas, e filosóficas, de inúmeros pensadores.
TÓPICO 1 — GEOGRAFIA: CIÊNCIA E ENSINO
7
Périplo na antiga navegação dos fenícios, gregos e romanos, era um documento 
manuscrito que registrava,em uma sequência, os portos e os pontos geográficos costeiros, 
com as distâncias aproximadas entre eles, que o capitão de uma embarcação poderia 
esperar encontrar ao navegar em volta de um mar ou ao longo das costas de um país. 
Vários exemplares de periplo foram preservados: 
• A Circunavegação fenícia da África ordenada pelo faraó Neco II, descrito por Heródoto. 
• O périplo de Hanno, o Navegador, um almirante cartaginês que, na primeira metade 
do Século VI a.C., empreendeu uma viagem de colonização e exploração pela costa 
atlântica da África, descrevendo o litoral desde o atual Marrocos até o Golfo da Guiné. 
• Píteas de Massília, por volta do ano 325 a.C., fez uma viagem de exploração ao Noroeste 
da Europa, circum-navegando a Grã-Bretanha nessa mesma época. Seu périplo Do 
Oceano, não foi preservado, apenas restaram excertos citados e parafraseados por 
autores posteriores. 
• O Périplo de Pseudo-Scylax, um manuscrito da Grécia Antiga atribuído ao Século IV 
ou III a.C.
FONTE: <https://educalingo.com/pt/dic-pt/periplo>. Acesso em: 2 jul. 2021.
DICAS
Referente à sistematização do conhecimento geográfico: “A palavra 
geografia (descrever a Terra) foi criada pelos gregos, povos que originalmente 
vão se preocupar com a sistematização desse conhecimento.” (DANTAS; 
MEDEIRO, 2008, p. 4).
QUADRO 1 – ORIGEM DA PALAVRA
De origem grega, a palavra geografia é formada pelo radical “geo”, que 
significa Terra. Contudo, também é formada pelo termo “grafia”, que quer dizer 
descrição. Essas definições se referiam à antiga ciência geográfica. Isto é: relacionava-
se essa ciência apenas aos fenômenos que ocorrem na superfície terrestre.
FONTE: Adaptado de <https://conhecimentocientifico.r7.com/geografia-o-que-e/>. Acesso em: 
2 jul. 2021.
O primeiro mapa grego de que se tem notícia, foi elaborado por Anaximandro 
de Mileto (650-615 a.C.), que viajou e escreveu relatos das suas viagens.
No Século 4 a.C., o matemático e filósofo grego Anaximandro de 
Mileto criou um dos primeiros mapas do mundo em forma circular. Esse serviu 
de base para todos os outros que vieram depois. A projeção se limitava apenas 
às terras conhecidas e habitadas naquele tempo. No centro do desenho a Europa, 
https://conhecimentocientifico.r7.com/geografia-o-que-e/
UNIDADE 1 — GEOGRAFIA: MÉTODOS E CONCEITOS
8
Ásia e Líbia eram cortadas pelos mares Mediterrâneo e Egeu e circundadas por 
um oceano. Para criá-lo, Anaximandro baseou-se em notícias e conhecimentos de 
navegantes da época, ou seja, os limites geográficos conhecidos pelos povos 
dominantes eram as únicas informações disponíveis para os desenhos.
FIGURA 4 – O MUNDO FORMADO POR EUROPA, ÁSIA E LÍBIA
FONTE: <https://miro.medium.com/max/1586/0*0nYC0nTp6bHTDmeb>. Acesso em: 2 jul. 2021.
Discípulo de Tales de Mileto, é provável que Anaximandro de Mileto tenha 
sido o inventor do gnômon, instrumento que serve para medir a altura do Sol.
FIGURA 5 – GNÔMON
FONTE: <https://nova-escola-producao.s3.amazonaws.com/3WNQ49hmYbTPyYAsYmVwggEm-
g3uY7xxSnnadj6uPeHgDYSazpfjCNgSpPCFt/contexto>. Acesso em: 2 jul. 2021.
Assim, analisando as obras de alguns pensadores da antiguidade, 
encontramos elementos em que podemos considerá-los como precursores da 
Geografia, enquanto conhecimento sistematizado. 
https://nova-escola-producao.s3.amazonaws.com/3WNQ49hmYbTPyYAsYmVwggEmg3uY7xxSnnadj6uPeHgDYSazpfjCNgSpPCFt/contexto
https://nova-escola-producao.s3.amazonaws.com/3WNQ49hmYbTPyYAsYmVwggEmg3uY7xxSnnadj6uPeHgDYSazpfjCNgSpPCFt/contexto
TÓPICO 1 — GEOGRAFIA: CIÊNCIA E ENSINO
9
A expansão política, comercial e marítima dos povos da Mesopotâmia, 
Fenícia, Egito levou à elaboração de mapas marítimos e, à descrição de 
lugares e de povos. Tais descrições eram denominadas de périplos. A 
mais antiga data do Século VII a.C. por marinheiros fenícios a serviço 
do faraó egípcio (DANTAS; MEDEIRO, 2008, p. 3).
Tales de Mileto (624-556 a.C.) estudou as estrelas e fez especulações sobre 
as dimensões e a órbita do sol e da lua, medindo o intervalo entre os solstícios. No 
entanto, sua grande contribuição foi o abandono das explicações religiosas para 
buscar, por meio da razão e da observação, um novo sentido para o Universo 
(HEINSFELD, 2012).
Heródoto (484-420 a.C.) é denominado o “Pai da História”. Em sua obra 
aparece a preocupação com a descrição pormenorizada dos lugares onde os 
fenômenos históricos, sobre os quais pretendia escrever, se desenrolaram. Em 
função disso, percorreu o mundo conhecido da época: do Sudão até a Ucrânia e 
da Índia até o Estreito de Gibraltar (HEINSFELD, 2012). 
Platão (427-347 a.C.) discutiu se a situação marítima ou a continental era a 
que teria maiores vantagens para um Estado (HEINSFELD, 2012).
Eratóstenes (276-194 a.C.): acreditava na esfericidade da Terra, e calculou 
o diâmetro terrestre, com bastante precisão para a época. Calculou também a 
distância da Terra ao Sol, e elaborou um catálogo com nome de 675 estrelas 
(HEINSFELD, 2012).
Estrabão (63 a.C-24 d.C.): em sua obra intitulada Geografia, em 17 
volumes, relaciona o homem com o meio, destacando a relação da ascensão do 
Império Romano com as características geográficas da Itália. Sua obra marca o 
início da utilização da palavra Geografia. De origem grega, nascido em território 
que atualmente pertence à Turquia, Estrabão estudou em Roma, sendo que mais 
tarde iniciou uma série de viagens pela Europa, Ásia e África, tendo viajado 
por quase todo o mundo conhecido da época, coletando material para sua obra 
(HEINSFELD, 2012).
 Segundo o geógrafo alemão Friedrich Ratzel, Estrabão considerava 
Heródoto também o Pai da Geografia,
por ter ele superado todos os seus predecessores e seus sucessores 
não apenas na arte poética, mas talvez também no conhecimento da 
vida civil. No entanto, pela sua obra e por ter dado o nome a esta 
área do conhecimento, Estrabão é considerado por muitos como o 
“Pai da Geografia antiga” e por outros o “Pai da Geografia regional”. 
A Geografia de Estrabão, até pelo contexto em que foi produzida, 
poderia ser classificada como utilitária, pois seus textos parecem mais 
o que hoje conhecemos como guias, e eram escritos para uso militar 
(RATZEL apud HEINSFELD, 2012, p.17).
UNIDADE 1 — GEOGRAFIA: MÉTODOS E CONCEITOS
10
Claudio Ptolomeu (90-168): considerado o último dos grandes cientistas 
gregos, cabe-lhe a glória de ter feito a síntese da obra de seus predecessores, 
tratando de astronomia, física e geografia. Em sua principal obra, A Grande 
Síntese (que foi traduzida para o árabe no período medieval com o nome de 
Almagesto, pelo qual é mais conhecida) defendia o geocentrismo, colocando a 
Terra no centro do Universo. Nesta sua tese, ao redor da Terra giravam o Sol, a 
Lua, Mercúrio, Vênus, Marte, Júpiter, Saturno e as estrelas. Ptolomeu estudou 
também as dimensões da Lua e a distância entre ela e o Sol. Ele examinou a 
duração do ano, a sucessão dos dias, os eclipses do Sol e da Lua, e as conjunções 
planetárias. Foi ele também o primeiro a usar, em Introdução à Geografia, os 
termos “paralelo” e “meridiano”. Por ter sido traduzida e preservada pelos 
árabes, as obras de Ptolomeu vão constituir-se num dos principais veículos de 
acesso ao conhecimento do pensamento geográfico grego clássico, ao final da 
Idade Média (HEINSFELD, 2012).
Ao longo da Idade Média, com o obscurantismo e o analfabetismo gene-
ralizado, o conhecimento teórico geográfico não progrediu na Europa. Obvia-
mente que as viagens empreendidas por alguns nobres, as guerras, as Cruzadas, 
contribuíram para que as mais diversas partes da Europa se tornassem conhe-
cidas, o que ajudará na sistematização da Geografia posteriormente. Quanto ao 
conhecimento, é necessário considerar que a justificação dogmática em nome da 
fé cristã, substituiu a livre forma de pensar e indagar intelectualmente. Desta 
forma, a imagem do mundo será concebida de acordo com as Escrituras Sagra-
das (BROEK, 1981).
FIGURA 6 – AS CRUZADAS
FONTE: <https://s2.glbimg.com/Xa3q8hO-sodWtEzZX523e6FxJ4o=/e.glbimg.com/og/ed/f/ori-ginal/2017/12/06/1280px-counquest_of_jeusalem_1099.jpg>. Acesso em: 2 jul. 2021
Dessa forma, até o fim do Século XVIII, não era possível falar do 
conhecimento geográfico como algo padronizado, com um mínimo de unidade 
temática e de continuidade nas formulações. A sistematização do conhecimento 
geográfico ocorreu somente no início do Século XIX, pois pensar em geografia 
TÓPICO 1 — GEOGRAFIA: CIÊNCIA E ENSINO
11
como um conhecimento autônomo, demandaria um certo número de condições 
históricas. “Estes pressupostos históricos da sistematização geográfica objetivam-
se no processo de avanço e domínio das relações capitalista de produção” 
(MORAES, 1988, p. 34).
QUADRO 2 – OS PRESSUPOSTOS (MATERIAIS)
O primeiro: diz respeito ao conhecimento efetivo da extensão real 
do planeta. Isto é, era necessário que a Terra toda fosse conhecida, para que 
fosse pensado de forma unitária seus estudos. O conhecimento da dimensão 
e da forma real dos continentes, era a base para a ideia de conjunto terrestre, 
concepção basilar para a reflexão geográfica.
Outro pressuposto era a existência de um repositório de informações, 
sobre variados lugares da Terra. Isto é, que os dados referentes aos pontos mais 
diversificados da superfície, já estivessem levantados e agrupados em alguns 
grandes arquivos. Tal condição incidia na formação de uma base empírica para 
a comparação em Geografia. Só a partir daí, seria possível discorrer, com base 
em evidências, sobre o caráter variável dos lugares, sobre a diversidade da 
superfície da Terra. Assim, o levantamento de realidades locais, em número 
elevado, aparece como fundamento de uma reflexão geográfica sólida.
O Terceiro pressuposto estava associado ao aprimoramento das técnicas 
cartográficas, o instrumento por excelência do geógrafo, onde era necessário 
haver possibilidade de representação dos fenômenos observados e da localização 
dos territórios. Assim, a representação gráfica, de modo padronizado, e preciso 
era um requisito da reflexão geográfica.
FONTE: Moraes (1988, p. 34-36)
Como você percebe, todas essas condições materiais, para a sistematização 
da Geografia, são forjadas no processo de avanço e domínio das relações 
Capitalistas. Entretanto, existe uma outra classe de pressupostos, a dos referidos 
a evolução do pensamento, ao conjunto de formulações que, incidindo sobre os 
temas tratados pela Geografia os valorizam e legitimam.
UNIDADE 1 — GEOGRAFIA: MÉTODOS E CONCEITOS
12
QUADRO 3 – VALORIZAÇÃO DO TEMA GEOGRÁFICO
Uma primeira valorização do temário geográfico vai ocorrer na discussão 
da Filosofia. As correntes filosóficas do Século XVIII vão propor explicações 
abrangentes do mundo; formulam sistemas que buscam a compreensão de 
todos os fenômenos do real. A meta geral de todas as escolas, neste período, será 
a afirmação das possibilidades da razão humana; a aceitação da existência de 
uma ordem na manifestação de todos os fenômenos, passível de ser aprendida 
pelo entendimento e enunciada em termos sistemáticos; uma fé na viabilidade 
de uma explicação racional do mundo. Esta perspectiva de explicar todos os 
fenômenos englobava também aqueles tratados pela Geografia, sendo assim 
um fundamento geral de sua sistematização. Havia discussões filosóficas 
específicas, que diretamente tratavam de temas geográficos. Os autores que se 
dedicaram à Filosofia do Conhecimento, como Kant ou Liebniz, enfatizaram 
a questão do espaço. No caso de Kant, sem articular esta discussão (posta ao 
nível da “razão pura”) com aquela por ele efetuada com o rótulo explícito de 
Geografia (posta ao nível da “razão prática”). Outros filósofos, que discutiram 
a Filosofia da História, como Hegel ou Herder, destacaram a questão da 
influência do meio sobre a evolução das sociedades. Herder levanta uma ideia, 
que será acatada com entusiasmo pelos geógrafos, a de ver a Terra como “teatro 
da humanidade”. Enfim, estas formulações trouxeram uma valorização do 
temário da Geografia. (MORAES, 1988)
Outra fonte da sistematização geográfica pode ser detectada nos 
pensadores políticos do Iluminismo. Estes autores foram os porta-vozes do 
novo regime político, os ideólogos das revoluções burguesas, os propositores da 
organização institucional, que interessava ao modo de produção emergente. Em 
suas argumentações, passaram por temas próprios da Geografia, notadamente 
ao discutir as formas de poder e de organização do Estado. Rousseau, por 
exemplo, discutiu a relação entre a gestão do Estado, as formas de representação 
e a extensão do território de uma sociedade. Dizia ele que a democracia só era 
possível nas nações pouco extensas, e que os Estados de grandes dimensões 
territoriais tendiam necessariamente a formas de governo autocráticas. Outro 
autor iluminista, Montesquieu, em sua célebre obra O espírito das leis, dedica 
todo um capítulo à discussão sobre a ação do meio no caráter dos povos. Nesse 
sentido, elabora teses profundamente deterministas, como a de que os povos 
que habitam regiões montanhosas teriam uma índole pacífica (pois contariam 
com uma proteção natural do meio), ao passo que os habitantes da planície 
seriam naturalmente guerreiros (em face da contínua possibilidade de invasões 
propiciada pelo relevo plano). De todo modo, estas discussões vieram enriquecer 
a posição desfrutada pelos temas geográficos; suas citações são comuns nos 
trabalhos dos primeiros geógrafos. (MORAES, 1988)
TÓPICO 1 — GEOGRAFIA: CIÊNCIA E ENSINO
13
Também os trabalhos desenvolvidos pela Economia Política atuaram na 
valorização dos temas geográficos. Esta disciplina foi responsável pelas primeiras 
análises sistemáticas de fenômenos da vida social. Seu desenvolvimento 
precoce se deve às próprias necessidades práticas postas pelo incremento 
do comércio e das relações econômicas em geral, que impunham a criação 
de uma contabilidade racional e a ordenação padronizada das finanças. Os 
economistas políticos discutiram questões geográficas, ao tratar de temas como 
a produtividade natural do solo; a dotação diferenciada dos lugares, em termos 
de recursos minerais; o problema da distância, o do aumento populacional, 
entre outros. Suas teorias divulgaram estas questões, que posteriormente 
constituiriam o temário clássico da Geografia. Daí o fato de autores, como 
Adam Smith e Malthus serem citados com frequência pelos sistematizadores 
do conhecimento geográfico. (MORAES, 1988)
Finalmente, o temário geográfico vai obter o pleno reconhecimento 
de sua autoridade, com o aparecimento das teorias do Evolucionismo. Estas, 
contemporâneas da sistematização da geografia, forneceram o patamar 
imediato da legitimação científica desta disciplina. O Evolucionismo, visto 
como conjunto de teorias, que partem das formulações de Darwin e Lamarck, 
dá um lugar de destaque, em sua explicação, ao papel desempenhado pelas 
condições ambientes; na evolução das espécies, a adaptação ao meio seria um 
dos processos fundamentais. São inúmeras as alusões a Darwin e Lamarck, 
nas obras dos primeiros geógrafos. Também um discípulo deste, Haeckel, 
vai ser bastante citado; desenvolveu a ideia de Ecologia, isto é, do estudo da 
inter-relação dos elementos que coabitam um dado espaço. Dada a difusão 
das teorias evolucionistas, no meio acadêmico da época, a Geografia nelas 
teve uma base científica sólida para suas indagações. Tal fonte foi, em grande 
parte, responsável pela metodologia naturalista, que impregnou as propostas 
dos primeiros geógrafos e que passou, como herança, aos seus sucessores. 
(MORAES, 1988)
FONTE: Moraes (1988, p. 37-40)
A sistematização da Geografia e sua colocação como uma ciência 
particular e autônoma foi um desdobramento das transformações operadas na 
vida social pela emergência do modo de produção capitalista. E mais: a Geografia 
foi, na verdade, um instrumento da etapa final deste processo de consolidação do 
capitalismo, em determinados países da Europa.
UNIDADE 1 — GEOGRAFIA: MÉTODOS E CONCEITOS
14
O pressuposto científico: construção de conhecimento,a partir da 
compreensão e interpretação dos significados construídos socialmente.
DICAS
Os cientistas prussianos Alexander von Humboldt e Karl Ritter dividem 
a condição de fundadores da Geografia moderna, dando à Geografia um caráter 
sistematizado. Os dois pertencem à geração que vivenciou a Revolução Francesa 
e, juntos, fundam a Sociedade Geográfica de Berlim. Ambos vão dar à Geografia 
um caráter científico, contribuindo para o desenvolvimento desta ciência.
Humboldt, um dos homens mais conhecidos do seu tempo. Membro 
da nobreza prussiana, ele foi conselheiro de Frederico Guilherme IV, Rei da 
Prússia, quando este reino se preparava para liderar a unificação alemã. Possuía 
uma formação de naturalista (geólogo e botânico), sendo um dos cientistas mais 
polivalentes de todos os tempos, empreendeu inúmeras viagens de estudos a 
muitos lugares do planeta.
FIGURA 7 – ALEXANDER VON HUMBOLDT (1769-1859)
FONTE: <https://ichef.bbci.co.uk/news/640/cpsprodpb/17388/production/_108821159_15b-
4576d-cba0-44e7-bc69-f4cd6294c5c2.jpg>. Acesso em: 2 jul. 2021.
Humboldt é considerado um homem de firmes convicções políticas 
liberais, que defendia sempre as aspirações dos grupos sociais oprimidos e as 
instituições livres. 
É considerado o “Pai” da moderna Geografia. No 
desenvolvimento das suas investigações, Humboldt 
desenvolve diversas bases para a geografia física, como a 
climatologia, botânica, oceanografia, geologia. Consegue trazer 
para a Geografia fatores pouco explorados que agem sobre as 
populações, como a estatística, a economia política, a origem 
das línguas e das migrações humanas. Ele considerava a Terra 
https://ichef.bbci.co.uk/news/640/cpsprodpb/17388/production/_108821159_15b4576d-cba0-44e7-bc69-f4cd6294c5c2.jpg
https://ichef.bbci.co.uk/news/640/cpsprodpb/17388/production/_108821159_15b4576d-cba0-44e7-bc69-f4cd6294c5c2.jpg
TÓPICO 1 — GEOGRAFIA: CIÊNCIA E ENSINO
15
um todo orgânico, onde os diferentes fenômenos se apresentam 
interdependentes. Assim, ele rompe com uma linha tradicional 
de pensamento que considerava a natureza como algo 
estático e inamovível, passando a integrar o grupo daqueles 
que construíram uma nova era científica, denominada de 
corrente evolucionista. Em função disso, é considerado um dos 
fundadores da geografia moderna, porque o seu trabalho deu à 
geografia descritiva um caráter sistemático e uma metodologia 
própria (HEINSFELD, 2012, p. 29).
No entanto, em que pese a contribuição de Humboldt para o 
desenvolvimento da ciência geográfica, ele não estava preocupado em formular 
os princípios de uma nova disciplina. 
Para Humboldt, a Geografia tem que ter uma preocupação 
universal. As singularidades locais só têm importância se 
estiverem subordinadas às leis universais, apreendidas pela 
regularidade. Em decorrência de tudo isso, ele dizia que o 
objeto da Geografia deve ser o de reconhecer a unidade na 
imensa variedade de fenômenos, descobrir, pelo livre exercício 
do pensamento e combinando as observações, a constância 
dos fenômenos em meio às suas variantes aparentes. Se na 
exposição da parte terrestre do Cosmos deve-se descer a fatos 
muito especiais, é só para recordar a conexão que têm as leis da 
distribuição dos seres no espaço. Na concepção de Humboldt, 
o método a ser utilizado pela Geografia deveria basear-se na 
observação direta, na descrição detalhada e na preocupação 
permanente em se proceder à comparações e a raciocínios 
gerais e evolutivos (HEINSFELD, 2012, p. 30).
Karl Ritter, tutor de uma família de banqueiros, possuía uma boa 
formação humanista (Filosofia e História). Foi o primeiro professor fixo e regular 
de geografia numa universidade. 
FIGURA 8 – KARL RITTER (1779-1859)
FONTE: <https://www.unicamp.br/unicamp/sites/default/files/ju/2018-02/img_PESQ_geografia-
ritter_capaJU_20180207.jpg>. Acesso em: 2 jul. 2021.
https://www.unicamp.br/unicamp/sites/default/files/ju/2018-02/img_PESQ_geografia-ritter_capaJU_20180207.jpg
https://www.unicamp.br/unicamp/sites/default/files/ju/2018-02/img_PESQ_geografia-ritter_capaJU_20180207.jpg
UNIDADE 1 — GEOGRAFIA: MÉTODOS E CONCEITOS
16
A cátedra de Geografia foi criada em 1820, especialmente para Karl Ritter na 
Universidade de Berlim. Teve como alunos alguns dos maiores geógrafos do final do 
Século XIX e início do Século XX e que marcaram a história da Geografia: Friedrich 
Ratzel, Paul Vidal de La Blache, Eliseé Réclus. No entanto, “não fez escola”.
Em função da sua formação histórica, sua concepção de 
Geografia não podia prescindir da História. Daí sua afirmação: 
a ciência geográfica não pode igualmente privar-se do fator 
histórico, se ela quer ser uma verdadeira disciplina das relações 
terrestres espaciais e não um feixe de abstrações, um compêndio 
que fixa um quadro e permite avaliar o vasto mundo, mas não 
permite conhecer a realidade espacial através de suas relações 
essenciais (HEINSFELD, 2012, p. 32).
 A obra de Ritter é explicitamente metodológica, que tinha como objetivo 
de promover uma Geografia científica, esforçando-se por introduzir um método, 
como ele deixou claro na sua Geografia Comparada. 
Revela também que o desprezo pela História, tão evidente 
na Geografia universitária e escolar atual, não é uma "doença 
congênita" e sim adquirida. Defendia ainda que aqueles 
geógrafos que buscavam no recurso ao tempo histórico 
uma alavanca para a renovação da Geografia, não estavam 
rompendo com uma tradição, mas tentando recuperar um fio 
perdido em alguma encruzilhada do passado. Um dos aspectos 
em que a contribuição de Karl Ritter foi profundamente 
marcada é a Geografia regional. Como afirma Sandra Lencioni, 
“sem dúvida, é com Ritter que os fundamentos dos estudos 
regionais, ou de uma Geografia Regional, se estabelecem” 
(HEINSFELD, 2012, p. 33)
Vamos, então, realizar certas comparações destes dois grandes geógrafos, 
para que você, acadêmico, perceba as diferenças entre eles. Numa perspectiva 
comparativa entre Humboldt e Ritter, compreendemos que: 
• A contribuição de Ritter para a geografia é inegável, sobretudo nas 
questões metodológicas com as comparações de diferentes regiões, além do 
antropocentrismo nas pesquisas geográficas, ou seja, a relação existente e 
intrínseca do homem com a natureza.
• O que difere de Humboldt, que fundamenta suas ideias a partir dos pressupostos 
naturalistas; o espaço do homem é reconhecido pela sua percepção da natureza. 
• A comumente comparação entre Ritter e Humboldt, é decorrente dos trabalhos 
desenvolvidos no campo, de forma empírica, por Humboldt que se tornaram 
subsídios para os trabalhos teóricos de Ritter.
• Em muitos aspectos, os dois cientistas discordam, Ritter e Humboldt, por 
diferentes caminhos; concebiam a Terra como um todo harmônico com 
múltiplas relações. Entretanto, enquanto Humboldt buscava a unidade da 
natureza por seus aspectos físicos, não fundamentando sua posição numa 
perspectiva antropocêntrica, Ritter centrava-se na história e na ideia de que o 
sentido da vida, estava em Deus.
TÓPICO 1 — GEOGRAFIA: CIÊNCIA E ENSINO
17
• Uma outra distinção digna de nota é a de que a ênfase dada nos estudos de 
Ritter se concentra muito mais no particular do que no geral ou, mais regional 
do que geral, enquanto no de Humboldt, mais no geral ou, em outros termos, 
mais sistemática.
• É comum as referências à Ritter como o fundador da Geografia regional e 
Humboldt como fundador da Geografia geral.
Divisões da geografia
As divisões da Geografia são o resultado da estruturação moderna das ciências, responsável 
por uma ampla compartimentação dessa ciência. A Geografia é a ciência que estuda o 
espaço geográfico, isto é, aquele espaço o qual o ser humano transforma e se relaciona. Ela 
se preocupa também em estudar a relação entre as atividades humanas e o meio natural. 
Ao longo de sua história, a Geografia dividiu-se em duas frentes principais, aquela que se 
preocupa em estudar o espaço em sua totalidade – também chamada de Geografia Geral – e 
aquela interessada em estudar os eventosparticulares – conhecida por Geografia Regional.
Apesar de os mais diferentes autores dividirem a Geografia com base em outros critérios, a 
distinção acima é atualmente a mais aceita no meio acadêmico, de forma que as demais 
divisões estariam inseridas dentro dessa mais genérica. Assim, a Geografia Geral estaria 
subdividida em Geografia Humana e Geografia Física, enquanto a Regional, em tese, não 
entraria nessa divisão, pois ela teria o método de abordar os conhecimentos naturais e os 
humanos ao mesmo tempo. Observe o organograma a seguir:
ATENCAO
FIGURA – DIVISÃO GEOGRAFIA
FONTE: <https://www.preparaenem.com/upload/conteudo/images/divisoes-da-
geografia.jpg>. Acesso em: 6 jul. 2021.
UNIDADE 1 — GEOGRAFIA: MÉTODOS E CONCEITOS
18
Como podemos notar, existem subáreas tanto no aspecto 
humano da ciência geográfica quanto no aspecto físico. É válido, porém, 
ressaltar que podem existir outros ramos que a Geografia se preocupa em 
estudar, dependendo da abordagem do pesquisador, como as religiões, 
os movimentos sociais e muitos outros elementos. Além disso, muitas 
vezes, as áreas acima se correlacionam, sendo trabalhadas em conjunto. 
Na verdade, atualmente, existem constantes esforços em unir e atenuar as 
cisões causadas pelas constantes compartimentações, e ramificações dos 
conhecimentos geográficos (PENA, 2020).
No início do Século XIX, o território da atual Alemanha era uma verdadeira 
colcha de retalhos, divido em inúmeros reinos. Tanto a burguesia alemã quanto a 
nobreza aristocrática viam a necessidade de uma unificação, para que surgisse 
uma Alemanha forte. Com isso, questões como a definição da identidade nacional, 
formação da nação, delimitação da “área dos alemães”, faziam parte das discussões 
da sociedade alemã, e a Geografia não ficou fora disso.
Qual seria a origem, ou fator, que fez com que os Alemães buscassem na 
Geografia um dos aportes para a Unificação Alemã?
Os alemães eram compelidos à discussão de temas geográficos, 
pois as questões espaciais estavam no centro das suas 
preocupações. A problemática do espaço é vital para quem 
discute poder, pois ao se discutir território, está se discutindo 
poder. Quem pretende espaço está reclamando poder. Parece 
ser esta a razão que faz a Geografia nascer entre os alemães. 
A Geografia encarna uma necessidade política e por isto é tão 
bem aceita pelos prussianos. O conteúdo progressista das 
obras de Alexander von Hulboldt e Karl Ritter foi aceito na 
Prússia e nos demais reinos alemães, bem como nos demais 
países europeus. A obra daqueles dois autores foi fundamental 
numa época que sociedades de Geografia são fundadas por 
toda a Europa, patrocinadas por governos e burguesias 
desejosas de conhecer e conquistar novos territórios coloniais. 
O nacionalismo e o capitalismo se afirmavam por todo o 
território alemão. Assim, as formulações geográficas de 
Humboldt e Ritter serviam perfeitamente na construção de 
um ideário de nação alemã (HEINSFELD, 2012, p. 35)
No entanto, as bases intelectuais definitivas da geografia clássica alemã 
são encontradas na obra do geógrafo Friedrich Ratzel (1844-1904).
TÓPICO 1 — GEOGRAFIA: CIÊNCIA E ENSINO
19
FIGURA 9 – FRIEDRICH RATZEL
FONTE: <https://s1.static.brasilescola.uol.com.br/be/conteudo/images/friedrich-ratzel-um-dos-
fundadores-geografia-moderna-519b866539cfc.jpg>. Acesso em: 2 jul. 2021.
Em 1882, Ratzel publicou “Antropogeografia: Fundamentos da Aplicação 
da Geografia à História”, uma das obras mais importantes de todos os tempos para 
a compreensão da Geografia. Ele é considerado o iniciador da Geografia Humana, 
exatamente por ter dado uma maior ênfase ao homem na sua formulação geográfica.
Ratzel vai despender uma parcela significativa de seu esforço 
teórico na elaboração de uma teoria do Estado, cujo surgimento 
demandaria um certo patrimônio cultural acumulado e teria 
por pressuposto a delimitação do território. Preconizava a 
necessidade do estudo do que é nacional. Para este pensador, 
a defesa do espaço vital seria a causa e função da existência 
do Estado. O Estado seria a “emanação natural da Sociedade 
destinada à defesa do território”. Além do Estado, temas como 
relações internacionais, fronteiras e guerra estão no centro 
das considerações teóricas de Ratzel. É importante salientar 
que a Geografia encontrou respaldo numa Alemanha agora 
unificada, que desejava se expandir e alcançar seus objetivos 
imperialistas (HEINSFELD, 2012, p. 36).
Nas disputas expansionistas entre os novos estados nações que estavam 
sendo constituídos na Europa Ocidental, a conquista de novos territórios 
necessitava de um conhecimento prévio dos mesmos, que pode ser conseguido 
facilmente através da Geografia, os franceses perceberam isso quando perderam 
a guerra franco-prussiana em 1870. 
A consolidação da Geografia prossegue através de estudos 
dos territórios coloniais que exigem conhecimentos cada vez 
mais especializados. A partir do momento em que a Geografia, 
enquanto ciência, é implantada na Alemanha, seu objetivo 
principal reside na inculcação à boa parte da população de 
uma ideologia nacionalista e patriótica, veiculada através da 
ideia de que a forma Estado-nação ou país é natural e eterna. 
Tal fato explica por que o estudo geográfico de qualquer país 
UNIDADE 1 — GEOGRAFIA: MÉTODOS E CONCEITOS
20
se inicia pelos aspectos relativos ao seu território: localização, 
extensão, limites, quadro natural etc. Assim, é possível afirmar 
que a Geografia foi incluída nos currículos escolares por 
razões geopolíticas, sendo o discurso nacional reforçado pelo 
conhecimento dos elementos físicos (HEINSFELD, 2012, p. 36).
Friedrich Ratzel foi o criador de dois conceitos fundamentais para a 
Geografia política, que serão utilizados, mais tarde, para a elaboração das 
doutrinas geopolíticas: 
Espaço vital (Lebensraum), “razão de equilíbrio entre a população de 
determinada sociedade, seus recursos naturais e seu território potencial.” O 
espaço vital manifestaria a necessidade territorial de uma sociedade, seu efetivo 
demográfico e os recursos naturais de que dispunha (HEISFELD, 2012, p. 37) 
e, sentido de espaço (Raumsinn), “espécie de atitude natural de um povo para 
infundir dinamismo à natureza e para organizá-la” (HEINSFELD, 2012, p. 37).
Geopolítica pode ser definida como o conjunto de ações e práticas realizadas 
no âmbito do poder, geralmente envolvendo os Estados Nacionais, no sentido de promover 
o gerenciamento e o controle de seus territórios. No entanto, podemos perceber que essas 
relações muitas vezes vão além da própria noção de Estado, como a constituição regional 
e mecanismos interacionais, a exemplo da ONU (Organização das Nações Unidas) e da 
OTAM (Organização do Tratado do Atlântico Norte), que constituem território supracionais.
FONTE: <https://bit.ly/3iSIEna>. Acesso em: 5 jul. 2021.
DICAS
Uma das máximas do pensamento geográfico de Ratzel: “Espaço é Poder”. 
Em uma de suas principais obras – Geografia Política (1897) – ele partiu do princípio 
de que existia uma estreita ligação entre o solo e o Estado. Trata-se de uma ilustração 
política daquilo que seus detratores chamaram de “determinismo geográfico”. 
A crítica à obra de Ratzel foi desenvolvida principalmente na 
França. Um dos primeiros a atacar o Ratzel “determinista” foi o 
historiador Lucien Febvre. O ataque de Febvre foi em relação à 
proposta antropogeográfica de Ratzel, desqualificando-a como sendo 
“determinista”, “dogmática”, “não científica” e pretensiosa, ou seja, 
“uma rapina audaciosa dos domínios reservados aos economistas e 
aos sociólogos. Estudando a obra do geógrafo alemão, Moraes conclui 
que “Ratzel foi um crítico do determinismo simplista, o qual em 
sua opinião prestou um desserviço à geografia ao tentar explicar de 
imediato a complexa questão das influências das condições naturais 
sobre a humanidade”. Outro estudioso da questão, Marcos Carvalho, 
afirma que se fosse dado à Ratzel o direito de resposta contra esse 
tipo de simplificação, provavelmenteele apontaria em muitos de 
seus escritos a formulação de convicções bastante diferentes dessas 
TÓPICO 1 — GEOGRAFIA: CIÊNCIA E ENSINO
21
que se popularizaram, provavelmente ele apontaria em muitos de 
seus escritos a formulação de convicções bastante diferentes dessas 
que se popularizaram. Ao analisar o pensamento de Ratzel, podemos 
enumerar uma série de citações extraídas de sua obra que deixariam 
transparecer uma concepção determinista. No entanto, Horacio Capel 
afirma que estas frases descontextualizadas podem, sem dúvida, 
apoiar a tese de um Ratzel determinista (HEINSFELD, 2012, p. 39).
O que é Determinismo Geográfico?
O determinismo geográfico é a crença de que o ambiente determina os padrões da cultura 
humana de um determina local, e seu desenvolvimento social. Neste caso, são levados 
em consideração principalmente os fatores físicos, como formas de relevo e clima. Os 
especialistas que acreditam no determinismo geográfico, afirmam que somente os fatores 
ecológicos, climáticos e geográficos são responsáveis pelas culturas e decisões individuais. 
Além disso, eles afirmam que as condições sociais praticamente não têm impacto sobre o 
desenvolvimento cultural.
FONTE <https://bit.ly/3f47vDl>. Acesso em: 5 jul. 2021.
DICAS
Em defesa de um Ratzel não determinista, utilizamos suas próprias palavras: 
O processo cultural emancipa o homem da natureza”, mas, prossegue 
o geógrafo, não “no sentido do desprendimento completo” e sim no 
da “ampliação e multiplicação das alianças” ou “no sentido de uma 
coligação mais complexa, mais vasta e menos imperiosa”. A concepção 
determinista da geografia, na verdade, foi obra de discípulos de 
Ratzel, mais precisamente Ellen Semple e Elsworth Huntington, que 
deturparam e radicalizaram as formulações do mestre. Ellen Churchil 
Semple (1863-1932) foi a principal responsável pela divulgação das 
ideias ratzelianas nos EUA. Levando o pensamento do seu mestre 
ao extremo, desenvolveu uma teoria que relaciona a religião com 
relevo: nas regiões planas, predominariam religiões monoteístas, 
enquanto nas regiões montanhosas, predominariam religiões 
politeístas. O inglês Elsworth Huntington (1876-1947) concebia um 
determinismo invertido. Para ele, as condições mais hostis seriam 
as que propiciariam maior desenvolvimento. Em seu livro Clima e 
Sociedade argumentava que os rigores do inverno explicariam, pelas 
necessidades impostas, o desenvolvimento das sociedades europeias 
(HEINSFELD, 2012, p. 40).
O que fica claro é que Ratzel defendia que o meio físico exerce influência 
sobre a organização dos seres humanos. Ele identifica quatro formas de influência 
da natureza sobre o homem:
UNIDADE 1 — GEOGRAFIA: MÉTODOS E CONCEITOS
22
I- a que se exerce sobre os indivíduos e produz nestes uma 
modificação profunda; primeiramente ela age sobre o corpo e sobre 
o espírito do indivíduo; posteriormente age no âmbito da história 
e da geografia, estendendo-se a povos inteiros; II- a que direciona, 
acelera ou dificulta a expansão das massas étnicas, determinando 
a direção desta expansão, sua amplitude e posição geográfica, 
culminando com os limites; III- sobre a essência íntima de cada povo, 
impondo condições geográficas que favoreçam seu isolamento, 
conservando e reafirmando determinadas características, ou ao 
contrário, facilitando a miscigenação com outros povos e perdendo as 
próprias características; IV- sobre a constituição social de cada povo, 
oferecendo-lhe, maior ou menor quantidade de riquezas naturais, 
facilitando ou dificultando a obtenção dos meios necessários à vida 
(HEINSFELD, 2012, p. 40).
A Geografia política de Ratzel é uma Geografia do Estado, que não poderia 
ser diferente, tendo em vista o contexto histórico em que formulou sua teoria 
geográfica, pois veicula uma concepção totalitária a de um Estado poderosíssimo. 
Ratzel enxergava no Estado e, portanto, no território delimitado por 
fronteiras políticas – o objeto de estudo da Geografia. Sob a poderosa 
influência da filosofia da história de Hegel, o geógrafo interpretou 
a construção do território estatal como a mais elevada conquista do 
espírito e da cultura, elaborando algumas das ideias que, mais tarde 
e em outro contexto, seriam manipuladas para fins de legitimação do 
expansionismo nazista (HEINSFELD, 2012, p. 40).
 
Para explicar sua concepção orgânica estatal, Ratzel formulou Leis sobre o 
crescimento espacial dos Estados: (HEINSFELD, 2012):
• As dimensões do Estado crescem com sua cultura.
• O crescimento dos Estados segue outras manifestações do crescimento dos 
povos, que necessariamente devem preceder o crescimento do Estado.
• O crescimento do Estado procede pela anexação dos membros menores ao 
agregado. Ao mesmo tempo, a relação entre a população e a terra torna-se 
continuamente mais próxima.
• As fronteiras são o órgão periférico do Estado, o suporte e a fortificação de seu 
crescimento, e participam de todas as transformações do organismo do Estado.
• No seu crescimento, o Estado esforça-se pela delimitação de posições 
politicamente valiosas.
• Os primeiros estímulos ao crescimento espacial dos Estados vem do exterior.
• A tendência geral para a anexação e fusão territoriais, transmite-se de Estado a 
Estado, e cresce continuamente de intensidade.
Ao elaborar estas “leis” sobre o crescimento espacial dos Estados, Ratzel 
deixava de forma explícita sua concepção de que o Estado conquista e ocupa 
determinado espaço vital (lebensraum) para manter o seu poder sobre ele. 
Para Ratzel, quanto maior for o espaço territorial, com maior 
liberdade se desenvolverá nele a sociedade humana e menor será o 
perigo de ser pressionada a partir de fora deste território. Da mesma 
forma, Ratzel afirma que quanto maior for o espaço territorial, 
TÓPICO 1 — GEOGRAFIA: CIÊNCIA E ENSINO
23
maiores serão os contatos que poderão evitar o isolamento e o 
estancamento socioeconômico. Os povos mais expandidos são os 
que tem as relações mais variadas. Ao fazer a defesa de um Estado 
poderoso, Ratzel afirmava que “os povos fortes visam alcançar o mar 
ou a estender sobre este seu domínio.” O geógrafo alemão lembrava 
que a tarefa primordial do Estado, em última análise, continua 
sendo a da proteção: o Estado protege o território contra os ataques 
exteriores que procuram diminuí-lo. Salienta que a luta do Estado 
pela conquista e manutenção do espaço conduz facilmente à guerra 
(HEINSFELD, 2012, p. 43).
Ratzel é considerado um dos fundadores da geopolítica clássica. Ele é 
citado como o fundador da Geografia Humana. Em contraposição à geografia 
alemã, acusada de ter fortes conotações deterministas, surge uma nova escola 
geográfica, na França, que tem em Paul Vidal de la Blache (1845- 1918) seu maior 
expoente – e que vai influenciar toda uma geração de geógrafos.
FIGURA 10 – PAUL VIDAL DE LA BLACHE
FONTE: <https://bit.ly/2WtSKU3>. Acesso em: 2 jul. 2021.
Por meio da revista Annales de Géographie, fundada em 1898, as ideias 
de uma nova forma de se fazer Geografia são propagadas. 
Ao contrário da Alemanha, a França se unificou precocemente: 
a centralização do poder estava assegurada há centena de anos 
com o advento da monarquia absolutista Do mesmo modo como 
a concepção geográfica de Friedrich Ratzel estava estreitamente 
ligado à situação concreta da sua época e de sua sociedade 
(a sociedade Alemã), a geografia de La Blache somente será 
compreensível a partir, principalmente, da conjuntura do 
desenvolvimento capitalista francês e do antagonismo franco-
alemão (que havia se fortalecido com a guerra franco-prussiana 
de 1871 e, especialmente, com a derrota francesa). A Alemanha 
no final do Século XIX era uma potência que disputava com 
a França a hegemonia da Europa, culminando com a Guerra 
UNIDADE 1 — GEOGRAFIA: MÉTODOS E CONCEITOS
24
Franco-prussiana, a qual a Prússia vence. Uma das explicações 
aceitas é que os alemães ganharam a guerra porque tinham 
amplo conhecimento geográfico. Inclusive foi tornado voz 
corrente que “a guerra haviasido ganha pelo mestre-escola 
alemão” (HEINSFELD, 2012, p. 48)
A partir da derrota, a França resolveu implantar a Geografia nas escolas 
em todas as séries de ensino básico, com vistas à expansão do território francês, 
mas principalmente, com o objetivo de recuperar os territórios das províncias 
de Alsácia e da Lorena, perdidos com a guerra. Por esse motivo, a Geografia se 
desenvolve bastante nesse país. 
Paul Vidal de La Blache foi o primeiro geógrafo a ocupar uma 
cátedra universitária de Geografia na França, na Universidade 
de Nancy. Depois foi transferido para a Sorbonne, onde fundou 
a revista Annales de Géographie, que teve papel fundamental 
na divulgação das suas ideias. Tendo acesso fácil ao poder do 
Estado, La Blache institucionalizou, através da universidade, 
uma Geografia do Estado e ligada às classes conservadoras. O 
pensamento geográfico francês terá como finalidade combater 
a geografia ratzeliana legitimadora da ação imperialista do 
Estado alemão. Por isso as críticas que La Blache fazia à 
geografia alemã (HEINSFELD, 2012, p. 49)
Caro acadêmico, vamos conhecer as principais críticas feitas por La Blache:
TÓPICO 1 — GEOGRAFIA: CIÊNCIA E ENSINO
25
QUADRO 4 – CRÍTICAS POR LA BLACHE
• A crítica mais importante que é feita à Ratzel é a respeito da politização 
explícita de seu discurso, ou seja, condenava o fato de as teses ratzelianas 
abordarem abertamente questões políticas ligadas ao poder. Em função 
de uma suposta objetividade, La Blache condenava a vinculação entre 
o pensamento geográfico e a defesa dos interesses políticos imediatos. 
Acenando com o clássico argumento liberal da “necessária neutralidade 
do discurso científico”, a ideia era produzir uma Geografia despolitizada. 
Na verdade, o discurso da neutralidade científica não passava de uma 
dissimulação da ideologia burguesa, temerosa do potencial revolucionário 
do avanço das ciências humanas.
• La Blache critica também o caráter naturalista da obra de Ratzel, onde o 
elemento humano aparece quase passivamente frente às imposições do meio. 
A este “determinismo geográfico” é contraposto o “possibilismo geográfico”, 
teoria que procurará mostrar a reciprocidade de influências entre o homem 
e o meio natural, no interior do qual a capacidade humana dota o homem 
de ampla “possibilidade” de dominar o meio. La Blache dará um papel 
maior à história para levar em conta as maneiras pelas quais o homem se 
relaciona com os fatores físicos. Esta é a maior contribuição lablachiana para 
o desenvolvimento do pensamento geográfico. Apesar disso, não houve um 
rompimento total com a visão naturalista, pois afirmava que “a Geografia é 
uma ciência dos lugares, não dos homens.”
• Outra crítica era feita à concepção fatalista e mecanicista da relação entre os 
homens e a natureza. Atacava assim, a ideia da determinação da História 
pelo meio natural. Propõe La Blache uma postura relativista no trato desta 
questão, afirmando que tudo o que interessa ao homem é “mediado pela 
contingência”. Diante disso, vai definir o objeto da Geografia como a relação 
homem-natureza, na perspectiva da paisagem, colocando o homem como 
um ser “ao mesmo tempo, ativo e passivo”, que apesar de sofrer a influência 
do meio, atua sobre este meio, transformando-o. No entanto, La Blache faz 
um alerta: em todo caso, as causas físicas, cuja importância os geógrafos 
se tinham anteriormente esforçado por sublinhar, não devem por isso ser 
desprezadas; importa sempre assinalar a influência do relevo, do clima, da 
posição continental ou insular sobre as sociedades humanas. 
UNIDADE 1 — GEOGRAFIA: MÉTODOS E CONCEITOS
26
• Vidal de La Blache fortaleceu o propósito humano da Geografia. Sua geografia 
fala da população, de agrupamentos humanos, nunca de sociedade; aborda 
estabelecimentos humanos, mas não relações sociais; estuda técnicas e 
instrumentos de trabalhos, mas não o processo de produção. Discutindo a 
relação homem-natureza, esquece das relações existentes entre os homens. 
Metodologicamente, a proposta de Vidal de La Blache não rompeu com as 
formulações de Ratzel; foi antes um prosseguimento destas. La Blache era, 
entretanto, mais relativista, negando a ideia de causalidade e determinação 
de Ratzel: “Na perspectiva vidaliana, a natureza passou a ser vista como 
possibilidades para a ação humana; daí o nome de Possibilismo dado a esta 
corrente por Lucien Febvre.
FONTE: Heinsfeld (2012, p. 50-51)
Determinismo X Possibilismo
Com relação ao determinismo, a Escola Francesa, de Vida De La Blache, lançou o possibilismo, 
que afirmava que as pessoas poderiam atuar no meio, modificando-o e determinando o 
seu desenvolvimento, ou seja, o meio natural oferece um conjunto de possibilidades, e 
sua utilização depende dos costumes e das técnicas (gênero de vida) diferenciados e do 
desenvolvimento histórico de cada sociedade.
DICAS
Nos desdobramentos da proposta de Paul Vidal de La Blache, o principal 
foi em relação a Geografia Regional. Ele estava convicto de que somente nos 
estudos regionais minuciosos é que se daria a unidade da Geografia.
A ideia de região foi sendo compreendida como um produto 
histórico, que expressaria a relação dos homens com a natureza. 
Este processo de historicização do conceito de região representou 
um fortalecimento da Geografia Humana. O grande número 
de estudos regionais fez aparecer as especializações: Geografia 
Agrária, Geografia Urbana, Geografia da População, Geografia da 
Industrialização, entre tantas outras. A partir de Vidal de La Blache 
o conceito de região foi sendo humanizado; ele não concebeu nem 
praticou nunca a descrição regional como uma aplicação do mesmo 
sistema para todos os compartimentos do espaço. Durante muito 
tempo sua atenção esteve voltada, com marcada preferência, para as 
unidades naturais. Seu critério evoluiu muito depois de aposentado: 
insistiu sobre a função da cidade na formação das regiões modernas 
(HEINSFELD, 2012, p. 54).
TÓPICO 1 — GEOGRAFIA: CIÊNCIA E ENSINO
27
Para Vidal de La Blache a Geografia é a ciência dos lugares e não dos 
homens. Assim, o homem não era parte integrante da região, mas apenas alguém 
que ocupava este determinado espaço.
 
Os inúmeros trabalhos realizados sobre a Geografia Regional 
tentavam esquadrinhar todo o Globo terrestre, objetivando com 
isto uma visão “completa” sobre o planeta. A Geografia Regional 
muito valorizada nesta corrente era tida como a mais complexa 
expressão do método geográfico. La Blache explicita a importância 
da Geografia regional: A síntese regional [...] é o objetivo último da 
tarefa do geógrafo, o único terreno sobre o qual ele se encontra a si 
mesmo. Ao compreender e explicar a lógica interna de um fragmento 
da superfície terrestre, o geógrafo destaca uma individualidade que 
não se encontra em nenhuma outra parte. Com o desenvolvimento 
da Geografia lablachiana a cartografia acabou sendo uma técnica 
privilegiada da pesquisa e da reflexão geográficas, tendo em vista 
seu poder de sintetizar as relações regionais a serem estudadas 
(HEINSFELD, 2012, p. 55).
Na Escola Geográfica francesa sobressai-se também Élisée Reclus (1830-
1905), que teve destaque antes de Vidal de La Blache.
FIGURA 11 – ÉLISÉE RECLUS
FONTE: <https://www.anarkismo.net/attachments/feb2013/101.jpg>. Acesso em: 2 jul. 2021.
Sua importância não se dá somente pelas suas inovações metodológicas 
no campo da Geografia, mas também, no que tange ao seu engajamento político. 
Militante anarquista, foi membro ativo da Primeira Internacional dos 
Trabalhadores (1864-1876), quando entrou em confronto com Karl 
Marx. Ajudou nas conspirações que tentaram impedir o golpe de Luís 
Bonaparte, em 1851, lutou como soldado na guerra contra a Prússia 
(1870), na qual a França foi derrotada e no ano seguinte participou 
https://www.anarkismo.net/attachments/feb2013/101.jpg
UNIDADE 1 — GEOGRAFIA: MÉTODOS E CONCEITOS
28
da Comuna de Paris, o que lhe valeu a deportação e o exílio. Manuel 
Correia de Andrade chama de Geografia Libertáriaa que foi produzia 
por Reclus, que defendia que a Geografia deve servir para a solução dos 
problemas sociais e explicar a origem desses problemas (HEINSFELD, 
2012, p. 56).
O que é anarquismo?
A palavra “anarquismo” tem origem na palavra grega anarkhia, que significa “ausência de 
governo”. O anarquismo é uma corrente de pensamento; uma teoria e ideologia política 
que não acredita em nenhuma forma de dominação – inclusive a do Estado sobre a 
população – ou de hierarquia e prega a cultura da autogestão e da coletividade.
Alguns dos valores defendidos pelos anarquistas são:
• liberdade individual e coletiva, para o desenvolvimento de pensamento crítico e todas 
as capacidades individuais das pessoas;
• igualdade – em termos econômicos, políticos e sociais, valor que inclui questões de 
gênero e raça;
• solidariedade – a teoria anarquista só tem sentido se há entre as pessoas apoio mútuo, 
com colaboração e espírito de coletividade.
O anarquismo critica principalmente exploração econômica do sistema capitalista e o que 
chama de dominação político-burocrática e da coação física do Estado. Os anarquistas 
não buscam uma revolução política, mas uma revolução social, que parta da maioria da 
população, dos trabalhadores, da classe que sofre alguma forma de dominação. Sua ideia 
principal é a horizontalidade: um território em que não exista Estado, nem hierarquia e em 
que a população faça a autogestão da vida coletiva (MERELES, 2017).
Reclus, em sua afirmação, explicita o papel da geografia e de seu estudo: 
“A luta de classes, a procura do equilíbrio e a decisão soberana do indivíduo, 
tais são as três ordens de fatos que nos revela o estudo da geografia social e que, 
no caos das coisas, se mostram bastante constantes para que se possa dar-lhes o 
nome de leis” (HEINSFELD, 2012, p. 57).
É interessante perceber que os grandes geógrafos do seu tempo, como 
Ratzel e La Blache, ignoravam em seus estudos as classes sociais, considerando-as 
categorias que deveriam ser estudadas por sociólogos e historiadores.
Especificamente sobre a Geografia e suas divisões, Reclus era contra a 
divisão entre geografia física e geografia humana, pois em sua opinião “este atrito 
atraía as atenções para uma briga sem fundamento, perdendo-se de vista a maior 
preocupação que a geografia deve ter, que é com a divisão de classes, a miséria e 
a dominação burguesa até em tão em curso” (HEINSFELD, 2012, p. 56).
IMPORTANT
E
TÓPICO 1 — GEOGRAFIA: CIÊNCIA E ENSINO
29
Além disso, pensava que esta divisão quebrava a harmonia da geografia 
como ciência. A proposição metodológica de Reclus, é que os geógrafos deveriam 
trabalhar a partir dos seguintes princípios: (HEINSFELD, 2012, p. 56):
 
I- a sociedade é dividida em classes sociais, decorrente das formas de 
apropriação dos meios de produção; II- esta diferença entre as classes 
provoca a luta entre as classes dominadas que desejam uma melhor 
sorte e as classes dominantes que não querem perder o poder sobre 
as riquezas; III- há uma tendência ao aperfeiçoamento individual 
e à melhoria das estruturas sociais em função do aperfeiçoamento 
progressivo do homem.
O terceiro princípio defendido por Reclus estava ligado a crença no progresso.
O terceiro princípio era resultado da sua crença que a ciência 
desenvolvida seria capaz de solucionar os problemas e aperfeiçoar 
socialmente os homens. Além do que, Reclus tinha uma crença 
inabalável no progresso. Percebe-se aí também a influência do 
positivismo na sua concepção de mundo (HEINSFELD, 2012, p. 57)
A obra de Reclus levanta uma série de problemas, como o relacionado 
ao crescimento urbano, o desenvolvimento industrial, a análise das estruturas 
econômicas, políticas e sociais, a colonização e as formas de dominação, 
demonstrando até mesmo o caráter imperialista da expansão colonial, no 
momento em que os geógrafos, em geral, procuravam justificar essa expansão 
como necessária ao progresso e à civilização.
Por ter ficado muito tempo exilado e por somente ter entrado na academia 
com idade relativamente avançada, o pensamento de Reclus acabou tendo pouca 
importância na evolução e formação do pensamento geográfico francês. Somente 
na segunda metade do Século XX é que o seu pensamento será retomado, em 
alguns aspectos, por alguns geógrafos na formação da chamada Geografia Crítica 
ou Radical.
Portanto, no Século XIX, a Geografia adquiriu o status de ciência. Um 
dos primeiros passos para esta concretização, foi transformá-la em uma matéria 
universitária. Foi na Prússia, um dos reinos alemães, que surge a geografia 
universitária, método de transmissão de conhecimento de grande importância 
para a formação das escolas geográficas nacionais. A Geografia, a partir do 
momento em que passou a ser concebida como ciência, apresentou algumas 
concepções ou correntes de pensamento, que nortearam o ofício daqueles que se 
dedicaram a estudá-la. Uma série de postulados fundamentais sobre o mundo, 
que centram a atenção do estudo sobre certos fenômenos, determinando sua 
interpretação, apareceram nas diversas concepções da Geografia a partir do 
Século XIX. Duas grandes escolas nortearam o pensamento geográfico no mundo, 
no final do Século XIX e início do Século XX, a alemã considerada “determinista”, 
e a Francesa denominada “possibilista”. Estas duas escolas constituíram-se em 
referências clássicas da Geografia. A partir delas é que surgiram outras correntes 
de pensamento nesta área do conhecimento humano.
UNIDADE 1 — GEOGRAFIA: MÉTODOS E CONCEITOS
30
2.1 O ENSINO DA GEOGRAFIA
Caro acadêmico, de certa forma, ensinar a geografia significa compreender 
o mundo, suas transformações e representações sociais em suas múltiplas 
dimensões da realidade social. As transformações que ocorrem no mundo se 
apresentam, de forma cada vez mais dinâmicas e têm originado questionamentos 
no âmbito educacional. Diante das transformações impostas pela introdução de 
novas técnicas nas relações estabelecidas pelos vários sujeitos de uma sociedade, 
bem como pelo processo de globalização da economia, a geografia vem efetuando 
análises que permitem compreender e interpretar essa realidade, para fomentar o 
processo de intervenção na construção do espaço. É possível dizer que a velocidade 
das mudanças dificulta a sua compreensão, de maneira que, nesse contexto, a 
educação, em geral, e a escola, em particular, assumem um papel relevante no 
alcance dessa compreensão. Se pretendemos que as práticas pedagógicas em 
Geografia sejam adequadas à compreensão da contemporaneidade, devemos 
considerar a dinâmica espacial, que evidencia a alteração das formas e funções 
postas no cotidiano vivido pelo indivíduo.
FIGURA 12 – LEITURA DE MUNDO
FONTE: <https://bit.ly/3zE7n5x>. Acesso em: 23 mar. 2021.
As abordagens do conhecimento geográfico mais recentes no Brasil 
resultam de várias correntes de pensamento, desde a influência da Escola de Vidal 
de La Blache até as contemporâneas. Alguns pesquisadores orientam-se pelas 
correntes do neopositivismo, da fenomenologia, das humanísticas e psicológicas 
da geografia da percepção, do materialismo histórico e dialético, da Geografia 
Cultural, entre outras. Conteúdos e métodos, embora diferentes entre si, não 
existem um sem o outro em educação. Na formação inicial ou continuada do 
professor, é preciso designar sua opção teórico-metodológica de modo coerente.
É importante ressaltar que, durante o Século XIX, o centro de discussão 
da Geografia, na Europa, concentrou-se na Alemanha e, só no final do século, o 
pensamento geográfico francês encontrou seu espaço. As ideias dos mestres 
alemães chegaram ao Brasil, trazidas pelos geógrafos franceses, mas acrescidas de 
críticas embasadas na escola criada por Vidal de La Blache e seus discípulos. As 
ideias de Vidal de La Blache e de seus seguidores são denominadas, atualmente, 
TÓPICO 1 — GEOGRAFIA: CIÊNCIA E ENSINO
31
por muitos, de Geografia Tradicional e exerceram grande influência na formação 
das Universidades de São Paulo e do Rio

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