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Indaial – 2021 Metodologia e Conteúdos BásiCos de geografia Prof. Carlos Odilon da Costa 2a Edição Copyright © UNIASSELVI 2021 Elaboração: Prof. Carlos Odilon da Costa Revisão, Diagramação e Produção: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. Impresso por: C837m Costa, Carlos Odilon da Metodologia e conteúdos básicos de geografia. / Carlos Odilon da Costa – Indaial: UNIASSELVI, 2021. 268 p.; il. ISBN 978-65-5663-863-8 ISBN Digital 978-65-5663-864-5 1. Conhecimento geográfico. - Brasil. II. Centro Universitário Leonardo da Vinci. CDD 370 apresentação Olá, acadêmico! Seja bem-vindo a esta jornada pelo conhecimento. Teremos como base de apoio para percorrer este caminho o Livro Didático de Metodologia e conteúdos básicos da Geografia. Estudaremos a origem do conhecimento geográfico, compreenderemos como esse conhecimento virou Ciência e, por fim, uma disciplina escolar. Veremos os principais métodos e abordagens epistemológicas da geografia que fundamentam o ensinar e aprender em sala de aula. Também abordaremos as novas formas de aprender e ensinar em Geografia no Século XXI, bem como entraremos em reflexões e aprofundamentos sobre a BNCC, e o ensino de Geografia. Lembrando que sua formação será em Pedagogia. Preparamos os assuntos a partir de um enfoque relacionado com a Educação, principalmente a Educação Infantil e Anos Iniciais da Educação Básica. Sucesso em sua caminhada acadêmica! Prof. Carlos Odilon da Costa Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novidades em nosso material. Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo. Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto em questão. Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar seus estudos com um material de qualidade. Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes – ENADE. Bons estudos! NOTA Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma disciplina e com ela um novo conhecimento. Com o objetivo de enriquecer seu conhecimento, construímos, além do livro que está em suas mãos, uma rica trilha de aprendizagem, por meio dela você terá contato com o vídeo da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiais complementares, entre outros, todos pensados e construídos na intenção de auxiliar seu crescimento. Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo. Conte conosco, estaremos juntos nesta caminhada! LEMBRETE suMário UNIDADE 1 — GEOGRAFIA: MÉTODOS E CONCEITOS ......................................................... 1 TÓPICO 1 — GEOGRAFIA: CIÊNCIA E ENSINO ......................................................................... 3 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 3 2 CONHECIMENTO GEOGRÁFICO ................................................................................................. 3 2.1 O ENSINO DA GEOGRAFIA ..................................................................................................... 30 RESUMO DO TÓPICO 1..................................................................................................................... 35 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 37 TÓPICO 2 — ABORDAGENS E MÉTODOS NA GEOGRAFIA ................................................ 39 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 39 2 PRINCIPAIS ABORDAGENS EPISTEMOLÓGICAS DA GEOGRAFIA .............................. 39 2.1 ABORDAGEM DA GEOGRAFIA TRADICIONAL E ABORDAGEM DA GEOGRAFIA PRAGMÁTICA ............................................................................................. 40 2.2 ABORDAGEM DA GEOGRAFIA FENOMENOLÓGICA ...................................................... 42 2.3 ABORDAGEM DA GEOGRAFIA CRÍTICA ............................................................................. 43 2.4 ABORDAGEM DA GEOGRAFIA PÓS-MODERNA ............................................................... 44 3 PRINCIPAIS MÉTODOS DA GEOGRAFIA ............................................................................... 46 3.1 O USO DAS TEORIAS DO CONHECIMENTO GEOGRÁFICO NO COTIDIANO .......................................................................................................................... 50 RESUMO DO TÓPICO 2..................................................................................................................... 60 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 61 TÓPICO 3 — CONCEITOS E TEMAS NA GEOGRAFIA ............................................................ 63 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 63 2 ESPAÇO GEOGRÁFICO .................................................................................................................. 64 2.1 LUGAR E TERRITÓRIO .............................................................................................................. 68 2.2 PAISAGEM E REGIÃO ................................................................................................................ 72 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................ 78 RESUMO DO TÓPICO 3..................................................................................................................... 79 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 80 REFERÊNCIAS ...................................................................................................................................... 82 UNIDADE 2 — ENSINAR E APRENDER GEOGRAFIA ............................................................. 85 TÓPICO 1 — O ENSINO DA CARTOGRAFIA ............................................................................. 87 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 87 2 INTRODUÇÃO À CARTOGRAFIA .............................................................................................. 87 2.1 ALFABEIZAÇÃO CARTOGRÁFICA ...................................................................................... 102 2.2 CARTOGRAFIAE SALA DE AULA, EDUCAÇÃO INFANTIL E ANOS INICIAIS .............................................................................................................. 105 RESUMO DO TÓPICO 1................................................................................................................... 116 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 117 TÓPICO 2 — O ENSINO DA GEOGRAFIA E A VIRTUALIDADE EM SALA DE AULA .................................................................................................. 119 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 119 2 NOVAS TECNOLOGIAS E A EDUCAÇÃO .............................................................................. 119 2.1 VIRTUALIDADE ........................................................................................................................ 129 2.2 GEOGRAFIA E NOVAS TECNOLOGIAS .............................................................................. 135 RESUMO DO TÓPICO 2................................................................................................................... 144 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 145 TÓPICO 3 — O ENSINO DA GEOGRAFIA NO SÉCULO XXI ................................................ 147 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 147 2 GEOGRAFIA AMBIENTAL EM SALA DE AULA.................................................................... 147 3 GEOGRAFIA CULTURAL EM SALA DE AULA ...................................................................... 159 3.1 GEOGRAFIA DA RELIGIÃO EM SALA DE AULA ............................................................. 164 LEITURA COMPLEMENTAR .......................................................................................................... 168 RESUMO DO TÓPICO 3................................................................................................................... 170 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 171 REFERÊNCIAS .................................................................................................................................... 173 UNIDADE 3 — BNCC: ESTRUTURA E APLICABILIDADE NA GEOGRAFIA .................. 177 TÓPICO 1 — A ESTRUTURA DA BNCC ...................................................................................... 179 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 179 2 INTRODUÇÃO À BNCC ............................................................................................................... 179 3 BNCC ANOS FINAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL ........................................................... 183 4 BNCC E O ENSINO MÉDIO ......................................................................................................... 187 RESUMO DO TÓPICO 1................................................................................................................... 191 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 192 TÓPICO 2 — BNCC: O ENSINO DA GEOGRAFIA E A EDUCAÇÃO INFANTIL .................... 195 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 195 2 BNCC E A EDUCAÇÃO INFANTIL ............................................................................................ 195 3 BNCC E A GEOGRAFIA NA EDUCAÇÃO INFANTIL........................................................... 198 4 BNCC, GEOGRAFIA E A SALA DE AULA NA EDUCAÇÃO INFANTIL .......................... 208 RESUMO DO TÓPICO 2................................................................................................................... 213 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 214 TÓPICO 3 — BNCC: O ENSINO DA GEOGRAFIA E O ENSINO FUNDAMENTAL NOS ANOS INICIAIS ............................................................. 217 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 217 2 BNCC E O ENSINO FUNDAMENTAL DOS ANOS INICIAIS ............................................. 217 2.1 A ÁREA DE CIÊNCIAS HUMANAS ...................................................................................... 220 3 BNCC E A GEOGRAFIA NOS ANOS INICIAIS ...................................................................... 223 LEITURA COMPLEMENTAR .......................................................................................................... 261 RESUMO DO TÓPICO 3................................................................................................................... 263 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 264 REFERÊNCIAS .................................................................................................................................... 266 1 UNIDADE 1 — GEOGRAFIA: MÉTODOS E CONCEITOS OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de: A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de: • compreender que o conhecimento produzido serve para o ser humano viver e compreender o tempo e espaço em que vive; • compreender que o conhecimento dito geográfico, antes de tornar-se um conhecimento científico, foi usado como um conhecimento prático, para interpretar ou auxiliar na interpretação da realidade; • perceber que o uso das abordagens epistemológicas na geografia tem como objetivo analisar os principais métodos da Geografia e seus usos em sala de aula, assim como a política trata do funcionamento e poder na e da sociedade, a epistemologia se ocupa do saber, do conhecimento produzido pelo ser humano; • entender também que o método na Geografia não é compreendido enquanto uma articulação estrita de abordagens ou concepções, mas como totalidade aberta e tensionada por visões de mundo, inclusive, contraditórios; • aprender os principais conceitos da Geografia e adaptar-se à linguagem geográfica. Ao se apropriar dessa linguagem e dos conceitos, o acadêmico desencadeará um processo de leitura do mundo, com o olhar mais amplo. 2 Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações. CHAMADA PLANO DE ESTUDOS Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado. TÓPICO 1 – GEOGRAFIA: CIÊNCIA E ENSINO TÓPICO 2 – ABORDAGENS E MÉTODOS NA GEOGRAFIA TÓPICO 3 – CONCEITOS E TEMAS NA GEOGRAFIA 3 TÓPICO 1 — UNIDADE 1 GEOGRAFIA: CIÊNCIA E ENSINO 1 INTRODUÇÃO O Conhecimento Geográfico objetiva compreender como foi construída a história do conhecimento na sociedade humana. O ser humano enfrenta e confronta o seu mundo e o mundo dos outros seres da natureza no sentido pleno, como um ser que age de forma objetiva e prática, isto é, age tendo em vista seus próprios interesses: tempo, espaço determinado e contexto de relação social. A realidade é, para o ser humano, o campo que ele exerce a sua atividade prática sensível, o horizonte determinante de sua vida, espaço em que se delimitam, distingue-se e diferenciam-se os seres confrontados.A Ciência Geográfica identifica os principais acontecimentos e autores que possibilitaram a construção da Geografia enquanto Ciência. A sistematização da Geografia e sua colocação como uma ciência particular e autônoma foi um desdobramento das transformações operadas na vida social, pela emergência do modo de produção capitalista. Além disso, a Geografia foi, na verdade, um instrumento da etapa final deste processo de consolidação do capitalismo em determinados países da Europa. O ensino da Geografia apresenta as principais formas de ensinar e aprender a disciplina em sala de aula. Ensinar geografia significa compreender o mundo, suas transformações e representações sociais em suas múltiplas dimensões da realidade social. As transformações que ocorrem no mundo apresentam-se cada vez mais dinâmicas e têm originado questionamentos no âmbito educacional. 2 CONHECIMENTO GEOGRÁFICO O ser humano enfrenta e confronta o mundo e os seres e da natureza em seu sentido pleno, como um ser que age de forma objetiva e prática, isto é, age tendo em vista seus próprios interesses em tempo e espaço determinado, e no contexto de determinada relação social. A realidade é, para o ser humano, o campo que exerce sua atividade prática sensível, o horizonte determinante de sua vida, espaço em que se delimitam, distingue-se e diferenciam-se os seres com que se confronta. Na medida em que o ser humano está dentro de uma determinada realidade – participando das aventuras de estar no mundo, relacionando-se com os outros seres – ele desenvolve a sua capacidade de pensar, isto é, de perceber-se no mundo e perceber os seres como separados e diferentes, em diferentes tempos UNIDADE 1 — GEOGRAFIA: MÉTODOS E CONCEITOS 4 e espaços. Entrega-se o ser humano ao desempenho de pensar, falar a realidade na intercomunicação com os outros seres humanos e no trabalho de transformar a natureza. Além disso, institui-se o fenômeno humano do conhecimento. O conhecimento produzido serve para o ser humano viver, compreender o tempo e espaço em que vive e perceber as relações sociais que constituiu ao longo de sua existência. O conhecimento dito geográfico, antes de tornar-se um conhecimento científico, foi usado como um conhecimento prático para interpretar, ou auxiliar na interpretação da realidade. FIGURA 1 – SER HUMANO, SOCIEDADE E CONHECIMENTO FONTE: <https://wwwp.uniriotec.br/sistemascolaborativos/wp-content/uploads/si- tes/18/2017/09/ilustracao1EvolucaoSociedade-1024x863.jpg>. Acesso em: 2 jul. 2021. Importante: ao compreender que o conhecimento humano é produzido a partir da realidade existente e dos diversos tipos de conhecimentos elaborados pelo ser humano. Percebemos a sua importância para a escola e para a universidade, ou seja, de modo geral, para a Educação. Ao planejar uma aula, o professor precisa entender que devemos sempre proporcionar novas aprendizagens partir do conhecimento (prévio) que os alunos trazem para a sala de aula, tendo como parâmetro esse entendimento. Desta forma, possibilita-se aos alunos outros tipos de conhecimentos (mais elaborados), tais como o conhecimento filosófico ou o científico. ATENCAO https://wwwp.uniriotec.br/sistemascolaborativos/wp-content/uploads/sites/18/2017/09/ilustracao1EvolucaoSociedade-1024x863.jpg https://wwwp.uniriotec.br/sistemascolaborativos/wp-content/uploads/sites/18/2017/09/ilustracao1EvolucaoSociedade-1024x863.jpg TÓPICO 1 — GEOGRAFIA: CIÊNCIA E ENSINO 5 • O conhecimento dito geográfico é bastante antigo. Qual seria a sua origem? As primeiras preocupações nas observações com a distribuição dos fenômenos surgiram desde os primórdios da humanidade. Nesse período, o ser humano pouco modificava a natureza. Seus mais importantes deslocamentos eram a procura de meios de subsistência, ou em atividades guerreiras, que de certa forma condiciona a uma necessidade de conservar informações sobre os caminhos percorridos e as suas direções. Dessa maneira, surgem os primeiros esboços representando a superfície da Terra, isto é, os primeiros mapas. Percebeu como esses eram conhecimentos práticos, gerados pelo conhecimento geográfico? Vamos testar nossa hipótese: pergunte a uma pessoa analfabeta qual é o melhor caminho para ir a um lugar. Provavelmente, ela será capaz de fazer um esboço, mostrando o caminho a seguir, os fatos mais importantes que existem ao longo do percurso e os principais obstáculos. Não precisamos de uma grande ciência para realizar esses esboços; assim, é na escola que certos conhecimentos práticos da geografia são relatados pelo aluno. Trata-se daquilo que Paulo Freire mencionava em seus escritos – que para se fazer a leitura de uma obra ou um texto é necessário primeiro realizar a leitura de mundo. Dito de outra forma, precisamos do conhecimento prático, do dia a dia, para chegarmos ao conhecimento científico; é preciso ter um diálogo de saberes. Não há um conhecimento superior e outro inferior, e sim a diversidade de conhecimentos e saberes. FIGURA 2 – PINTURA RUPESTRE FONTE: <https://super.abril.com.br/wp-content/uploads/2017/02/pinturas-pontilhistas-de-38- mil-anos-encontradas-na-terra-de-georges-seurat-fb.png?w=1024>. Acesso em: 2 jul. 2021. A Geografia é uma das áreas do conhecimento mais antigas, pois desde que o ser humano surgiu na face da Terra, sempre esteve em luta para organizar o “seu espaço”. É provável que a noção de espaço tenha sido uma das primeiras a ser percebida pelos seres humanos, inclusive o próprio tempo era “especializado”, https://super.abril.com.br/wp-content/uploads/2017/02/pinturas-pontilhistas-de-38-mil-anos-encontradas-na-terra-de-georges-seurat-fb.png?w=1024 https://super.abril.com.br/wp-content/uploads/2017/02/pinturas-pontilhistas-de-38-mil-anos-encontradas-na-terra-de-georges-seurat-fb.png?w=1024 UNIDADE 1 — GEOGRAFIA: MÉTODOS E CONCEITOS 6 conforme os documentos deixados pelas línguas mais antigas, como a língua dos sumérios e dos egípcios. Mesmo na língua portuguesa, espacializamos o tempo, quando o qualificamos como “curto” ou “longo”. Com isso, estamos tentando dizer que a Geografia tem uma relação bastante profunda com a História. O período pré-científico corresponde aos saberes geográficos, desprovidos de sistematização e organização metodológica, produzidos pelos seres humanos desde a pré-história até a consolidação científica. Abarcam as pinturas rupestres encontradas em cavernas, representando a organização espacial da sociedade, os estudos de astronomia, cartografia, correntes marinhas, organização social entre outros. Desde a Antiguidade, a cartografia tem grande importância. O mapa mais antigo de que se tem notícia, data de 2500 a.C. e é uma representação de um rio, provavelmente o Eufrates, com uma montanha de cada lado, desaguando por um delta de três braços. Nesse período, a concepção existente era de uma Terra plana, com a forma de um disco, e constituída por uma massa flutuante na água, com a abóbada celeste por cima (DANTAS; MEDEIRO, 2008, p. 3). O Mapa de Ga-SUR, datado entre 3.800 e 2.500 a.C., é considerado um dos mapas mais antigos. Foi encontrado na região da Mesopotâmia, e representa o rio Eufrates e acidentes geográficos adjacentes. É uma pequena placa de barro cozido que cabe na palma da mão, e que foi descoberta perto da cidade de Harran, no nordeste do Iraque atual (OLIVEIRA, 1983). FIGURA 3 – O MAPA MAIS ANTIGO FONTE: Oliveira (1983, p.13) Com o crescimento demográfico da humanidade – e com sua expansão sobre a superfície terrestre –, outros espaços passaram a ser dominados. Com isso, a compreensão da atividade geográfica ganha um grande impulso. A partir do momento em que o pensamento humano passa a fazer uso da razão, as preocupações com as relações do ser humano com o espaço se tornaram presentes nas elocubrações teóricas, e filosóficas, de inúmeros pensadores. TÓPICO 1 — GEOGRAFIA: CIÊNCIA E ENSINO 7 Périplo na antiga navegação dos fenícios, gregos e romanos, era um documento manuscrito que registrava,em uma sequência, os portos e os pontos geográficos costeiros, com as distâncias aproximadas entre eles, que o capitão de uma embarcação poderia esperar encontrar ao navegar em volta de um mar ou ao longo das costas de um país. Vários exemplares de periplo foram preservados: • A Circunavegação fenícia da África ordenada pelo faraó Neco II, descrito por Heródoto. • O périplo de Hanno, o Navegador, um almirante cartaginês que, na primeira metade do Século VI a.C., empreendeu uma viagem de colonização e exploração pela costa atlântica da África, descrevendo o litoral desde o atual Marrocos até o Golfo da Guiné. • Píteas de Massília, por volta do ano 325 a.C., fez uma viagem de exploração ao Noroeste da Europa, circum-navegando a Grã-Bretanha nessa mesma época. Seu périplo Do Oceano, não foi preservado, apenas restaram excertos citados e parafraseados por autores posteriores. • O Périplo de Pseudo-Scylax, um manuscrito da Grécia Antiga atribuído ao Século IV ou III a.C. FONTE: <https://educalingo.com/pt/dic-pt/periplo>. Acesso em: 2 jul. 2021. DICAS Referente à sistematização do conhecimento geográfico: “A palavra geografia (descrever a Terra) foi criada pelos gregos, povos que originalmente vão se preocupar com a sistematização desse conhecimento.” (DANTAS; MEDEIRO, 2008, p. 4). QUADRO 1 – ORIGEM DA PALAVRA De origem grega, a palavra geografia é formada pelo radical “geo”, que significa Terra. Contudo, também é formada pelo termo “grafia”, que quer dizer descrição. Essas definições se referiam à antiga ciência geográfica. Isto é: relacionava- se essa ciência apenas aos fenômenos que ocorrem na superfície terrestre. FONTE: Adaptado de <https://conhecimentocientifico.r7.com/geografia-o-que-e/>. Acesso em: 2 jul. 2021. O primeiro mapa grego de que se tem notícia, foi elaborado por Anaximandro de Mileto (650-615 a.C.), que viajou e escreveu relatos das suas viagens. No Século 4 a.C., o matemático e filósofo grego Anaximandro de Mileto criou um dos primeiros mapas do mundo em forma circular. Esse serviu de base para todos os outros que vieram depois. A projeção se limitava apenas às terras conhecidas e habitadas naquele tempo. No centro do desenho a Europa, https://conhecimentocientifico.r7.com/geografia-o-que-e/ UNIDADE 1 — GEOGRAFIA: MÉTODOS E CONCEITOS 8 Ásia e Líbia eram cortadas pelos mares Mediterrâneo e Egeu e circundadas por um oceano. Para criá-lo, Anaximandro baseou-se em notícias e conhecimentos de navegantes da época, ou seja, os limites geográficos conhecidos pelos povos dominantes eram as únicas informações disponíveis para os desenhos. FIGURA 4 – O MUNDO FORMADO POR EUROPA, ÁSIA E LÍBIA FONTE: <https://miro.medium.com/max/1586/0*0nYC0nTp6bHTDmeb>. Acesso em: 2 jul. 2021. Discípulo de Tales de Mileto, é provável que Anaximandro de Mileto tenha sido o inventor do gnômon, instrumento que serve para medir a altura do Sol. FIGURA 5 – GNÔMON FONTE: <https://nova-escola-producao.s3.amazonaws.com/3WNQ49hmYbTPyYAsYmVwggEm- g3uY7xxSnnadj6uPeHgDYSazpfjCNgSpPCFt/contexto>. Acesso em: 2 jul. 2021. Assim, analisando as obras de alguns pensadores da antiguidade, encontramos elementos em que podemos considerá-los como precursores da Geografia, enquanto conhecimento sistematizado. https://nova-escola-producao.s3.amazonaws.com/3WNQ49hmYbTPyYAsYmVwggEmg3uY7xxSnnadj6uPeHgDYSazpfjCNgSpPCFt/contexto https://nova-escola-producao.s3.amazonaws.com/3WNQ49hmYbTPyYAsYmVwggEmg3uY7xxSnnadj6uPeHgDYSazpfjCNgSpPCFt/contexto TÓPICO 1 — GEOGRAFIA: CIÊNCIA E ENSINO 9 A expansão política, comercial e marítima dos povos da Mesopotâmia, Fenícia, Egito levou à elaboração de mapas marítimos e, à descrição de lugares e de povos. Tais descrições eram denominadas de périplos. A mais antiga data do Século VII a.C. por marinheiros fenícios a serviço do faraó egípcio (DANTAS; MEDEIRO, 2008, p. 3). Tales de Mileto (624-556 a.C.) estudou as estrelas e fez especulações sobre as dimensões e a órbita do sol e da lua, medindo o intervalo entre os solstícios. No entanto, sua grande contribuição foi o abandono das explicações religiosas para buscar, por meio da razão e da observação, um novo sentido para o Universo (HEINSFELD, 2012). Heródoto (484-420 a.C.) é denominado o “Pai da História”. Em sua obra aparece a preocupação com a descrição pormenorizada dos lugares onde os fenômenos históricos, sobre os quais pretendia escrever, se desenrolaram. Em função disso, percorreu o mundo conhecido da época: do Sudão até a Ucrânia e da Índia até o Estreito de Gibraltar (HEINSFELD, 2012). Platão (427-347 a.C.) discutiu se a situação marítima ou a continental era a que teria maiores vantagens para um Estado (HEINSFELD, 2012). Eratóstenes (276-194 a.C.): acreditava na esfericidade da Terra, e calculou o diâmetro terrestre, com bastante precisão para a época. Calculou também a distância da Terra ao Sol, e elaborou um catálogo com nome de 675 estrelas (HEINSFELD, 2012). Estrabão (63 a.C-24 d.C.): em sua obra intitulada Geografia, em 17 volumes, relaciona o homem com o meio, destacando a relação da ascensão do Império Romano com as características geográficas da Itália. Sua obra marca o início da utilização da palavra Geografia. De origem grega, nascido em território que atualmente pertence à Turquia, Estrabão estudou em Roma, sendo que mais tarde iniciou uma série de viagens pela Europa, Ásia e África, tendo viajado por quase todo o mundo conhecido da época, coletando material para sua obra (HEINSFELD, 2012). Segundo o geógrafo alemão Friedrich Ratzel, Estrabão considerava Heródoto também o Pai da Geografia, por ter ele superado todos os seus predecessores e seus sucessores não apenas na arte poética, mas talvez também no conhecimento da vida civil. No entanto, pela sua obra e por ter dado o nome a esta área do conhecimento, Estrabão é considerado por muitos como o “Pai da Geografia antiga” e por outros o “Pai da Geografia regional”. A Geografia de Estrabão, até pelo contexto em que foi produzida, poderia ser classificada como utilitária, pois seus textos parecem mais o que hoje conhecemos como guias, e eram escritos para uso militar (RATZEL apud HEINSFELD, 2012, p.17). UNIDADE 1 — GEOGRAFIA: MÉTODOS E CONCEITOS 10 Claudio Ptolomeu (90-168): considerado o último dos grandes cientistas gregos, cabe-lhe a glória de ter feito a síntese da obra de seus predecessores, tratando de astronomia, física e geografia. Em sua principal obra, A Grande Síntese (que foi traduzida para o árabe no período medieval com o nome de Almagesto, pelo qual é mais conhecida) defendia o geocentrismo, colocando a Terra no centro do Universo. Nesta sua tese, ao redor da Terra giravam o Sol, a Lua, Mercúrio, Vênus, Marte, Júpiter, Saturno e as estrelas. Ptolomeu estudou também as dimensões da Lua e a distância entre ela e o Sol. Ele examinou a duração do ano, a sucessão dos dias, os eclipses do Sol e da Lua, e as conjunções planetárias. Foi ele também o primeiro a usar, em Introdução à Geografia, os termos “paralelo” e “meridiano”. Por ter sido traduzida e preservada pelos árabes, as obras de Ptolomeu vão constituir-se num dos principais veículos de acesso ao conhecimento do pensamento geográfico grego clássico, ao final da Idade Média (HEINSFELD, 2012). Ao longo da Idade Média, com o obscurantismo e o analfabetismo gene- ralizado, o conhecimento teórico geográfico não progrediu na Europa. Obvia- mente que as viagens empreendidas por alguns nobres, as guerras, as Cruzadas, contribuíram para que as mais diversas partes da Europa se tornassem conhe- cidas, o que ajudará na sistematização da Geografia posteriormente. Quanto ao conhecimento, é necessário considerar que a justificação dogmática em nome da fé cristã, substituiu a livre forma de pensar e indagar intelectualmente. Desta forma, a imagem do mundo será concebida de acordo com as Escrituras Sagra- das (BROEK, 1981). FIGURA 6 – AS CRUZADAS FONTE: <https://s2.glbimg.com/Xa3q8hO-sodWtEzZX523e6FxJ4o=/e.glbimg.com/og/ed/f/ori-ginal/2017/12/06/1280px-counquest_of_jeusalem_1099.jpg>. Acesso em: 2 jul. 2021 Dessa forma, até o fim do Século XVIII, não era possível falar do conhecimento geográfico como algo padronizado, com um mínimo de unidade temática e de continuidade nas formulações. A sistematização do conhecimento geográfico ocorreu somente no início do Século XIX, pois pensar em geografia TÓPICO 1 — GEOGRAFIA: CIÊNCIA E ENSINO 11 como um conhecimento autônomo, demandaria um certo número de condições históricas. “Estes pressupostos históricos da sistematização geográfica objetivam- se no processo de avanço e domínio das relações capitalista de produção” (MORAES, 1988, p. 34). QUADRO 2 – OS PRESSUPOSTOS (MATERIAIS) O primeiro: diz respeito ao conhecimento efetivo da extensão real do planeta. Isto é, era necessário que a Terra toda fosse conhecida, para que fosse pensado de forma unitária seus estudos. O conhecimento da dimensão e da forma real dos continentes, era a base para a ideia de conjunto terrestre, concepção basilar para a reflexão geográfica. Outro pressuposto era a existência de um repositório de informações, sobre variados lugares da Terra. Isto é, que os dados referentes aos pontos mais diversificados da superfície, já estivessem levantados e agrupados em alguns grandes arquivos. Tal condição incidia na formação de uma base empírica para a comparação em Geografia. Só a partir daí, seria possível discorrer, com base em evidências, sobre o caráter variável dos lugares, sobre a diversidade da superfície da Terra. Assim, o levantamento de realidades locais, em número elevado, aparece como fundamento de uma reflexão geográfica sólida. O Terceiro pressuposto estava associado ao aprimoramento das técnicas cartográficas, o instrumento por excelência do geógrafo, onde era necessário haver possibilidade de representação dos fenômenos observados e da localização dos territórios. Assim, a representação gráfica, de modo padronizado, e preciso era um requisito da reflexão geográfica. FONTE: Moraes (1988, p. 34-36) Como você percebe, todas essas condições materiais, para a sistematização da Geografia, são forjadas no processo de avanço e domínio das relações Capitalistas. Entretanto, existe uma outra classe de pressupostos, a dos referidos a evolução do pensamento, ao conjunto de formulações que, incidindo sobre os temas tratados pela Geografia os valorizam e legitimam. UNIDADE 1 — GEOGRAFIA: MÉTODOS E CONCEITOS 12 QUADRO 3 – VALORIZAÇÃO DO TEMA GEOGRÁFICO Uma primeira valorização do temário geográfico vai ocorrer na discussão da Filosofia. As correntes filosóficas do Século XVIII vão propor explicações abrangentes do mundo; formulam sistemas que buscam a compreensão de todos os fenômenos do real. A meta geral de todas as escolas, neste período, será a afirmação das possibilidades da razão humana; a aceitação da existência de uma ordem na manifestação de todos os fenômenos, passível de ser aprendida pelo entendimento e enunciada em termos sistemáticos; uma fé na viabilidade de uma explicação racional do mundo. Esta perspectiva de explicar todos os fenômenos englobava também aqueles tratados pela Geografia, sendo assim um fundamento geral de sua sistematização. Havia discussões filosóficas específicas, que diretamente tratavam de temas geográficos. Os autores que se dedicaram à Filosofia do Conhecimento, como Kant ou Liebniz, enfatizaram a questão do espaço. No caso de Kant, sem articular esta discussão (posta ao nível da “razão pura”) com aquela por ele efetuada com o rótulo explícito de Geografia (posta ao nível da “razão prática”). Outros filósofos, que discutiram a Filosofia da História, como Hegel ou Herder, destacaram a questão da influência do meio sobre a evolução das sociedades. Herder levanta uma ideia, que será acatada com entusiasmo pelos geógrafos, a de ver a Terra como “teatro da humanidade”. Enfim, estas formulações trouxeram uma valorização do temário da Geografia. (MORAES, 1988) Outra fonte da sistematização geográfica pode ser detectada nos pensadores políticos do Iluminismo. Estes autores foram os porta-vozes do novo regime político, os ideólogos das revoluções burguesas, os propositores da organização institucional, que interessava ao modo de produção emergente. Em suas argumentações, passaram por temas próprios da Geografia, notadamente ao discutir as formas de poder e de organização do Estado. Rousseau, por exemplo, discutiu a relação entre a gestão do Estado, as formas de representação e a extensão do território de uma sociedade. Dizia ele que a democracia só era possível nas nações pouco extensas, e que os Estados de grandes dimensões territoriais tendiam necessariamente a formas de governo autocráticas. Outro autor iluminista, Montesquieu, em sua célebre obra O espírito das leis, dedica todo um capítulo à discussão sobre a ação do meio no caráter dos povos. Nesse sentido, elabora teses profundamente deterministas, como a de que os povos que habitam regiões montanhosas teriam uma índole pacífica (pois contariam com uma proteção natural do meio), ao passo que os habitantes da planície seriam naturalmente guerreiros (em face da contínua possibilidade de invasões propiciada pelo relevo plano). De todo modo, estas discussões vieram enriquecer a posição desfrutada pelos temas geográficos; suas citações são comuns nos trabalhos dos primeiros geógrafos. (MORAES, 1988) TÓPICO 1 — GEOGRAFIA: CIÊNCIA E ENSINO 13 Também os trabalhos desenvolvidos pela Economia Política atuaram na valorização dos temas geográficos. Esta disciplina foi responsável pelas primeiras análises sistemáticas de fenômenos da vida social. Seu desenvolvimento precoce se deve às próprias necessidades práticas postas pelo incremento do comércio e das relações econômicas em geral, que impunham a criação de uma contabilidade racional e a ordenação padronizada das finanças. Os economistas políticos discutiram questões geográficas, ao tratar de temas como a produtividade natural do solo; a dotação diferenciada dos lugares, em termos de recursos minerais; o problema da distância, o do aumento populacional, entre outros. Suas teorias divulgaram estas questões, que posteriormente constituiriam o temário clássico da Geografia. Daí o fato de autores, como Adam Smith e Malthus serem citados com frequência pelos sistematizadores do conhecimento geográfico. (MORAES, 1988) Finalmente, o temário geográfico vai obter o pleno reconhecimento de sua autoridade, com o aparecimento das teorias do Evolucionismo. Estas, contemporâneas da sistematização da geografia, forneceram o patamar imediato da legitimação científica desta disciplina. O Evolucionismo, visto como conjunto de teorias, que partem das formulações de Darwin e Lamarck, dá um lugar de destaque, em sua explicação, ao papel desempenhado pelas condições ambientes; na evolução das espécies, a adaptação ao meio seria um dos processos fundamentais. São inúmeras as alusões a Darwin e Lamarck, nas obras dos primeiros geógrafos. Também um discípulo deste, Haeckel, vai ser bastante citado; desenvolveu a ideia de Ecologia, isto é, do estudo da inter-relação dos elementos que coabitam um dado espaço. Dada a difusão das teorias evolucionistas, no meio acadêmico da época, a Geografia nelas teve uma base científica sólida para suas indagações. Tal fonte foi, em grande parte, responsável pela metodologia naturalista, que impregnou as propostas dos primeiros geógrafos e que passou, como herança, aos seus sucessores. (MORAES, 1988) FONTE: Moraes (1988, p. 37-40) A sistematização da Geografia e sua colocação como uma ciência particular e autônoma foi um desdobramento das transformações operadas na vida social pela emergência do modo de produção capitalista. E mais: a Geografia foi, na verdade, um instrumento da etapa final deste processo de consolidação do capitalismo, em determinados países da Europa. UNIDADE 1 — GEOGRAFIA: MÉTODOS E CONCEITOS 14 O pressuposto científico: construção de conhecimento,a partir da compreensão e interpretação dos significados construídos socialmente. DICAS Os cientistas prussianos Alexander von Humboldt e Karl Ritter dividem a condição de fundadores da Geografia moderna, dando à Geografia um caráter sistematizado. Os dois pertencem à geração que vivenciou a Revolução Francesa e, juntos, fundam a Sociedade Geográfica de Berlim. Ambos vão dar à Geografia um caráter científico, contribuindo para o desenvolvimento desta ciência. Humboldt, um dos homens mais conhecidos do seu tempo. Membro da nobreza prussiana, ele foi conselheiro de Frederico Guilherme IV, Rei da Prússia, quando este reino se preparava para liderar a unificação alemã. Possuía uma formação de naturalista (geólogo e botânico), sendo um dos cientistas mais polivalentes de todos os tempos, empreendeu inúmeras viagens de estudos a muitos lugares do planeta. FIGURA 7 – ALEXANDER VON HUMBOLDT (1769-1859) FONTE: <https://ichef.bbci.co.uk/news/640/cpsprodpb/17388/production/_108821159_15b- 4576d-cba0-44e7-bc69-f4cd6294c5c2.jpg>. Acesso em: 2 jul. 2021. Humboldt é considerado um homem de firmes convicções políticas liberais, que defendia sempre as aspirações dos grupos sociais oprimidos e as instituições livres. É considerado o “Pai” da moderna Geografia. No desenvolvimento das suas investigações, Humboldt desenvolve diversas bases para a geografia física, como a climatologia, botânica, oceanografia, geologia. Consegue trazer para a Geografia fatores pouco explorados que agem sobre as populações, como a estatística, a economia política, a origem das línguas e das migrações humanas. Ele considerava a Terra https://ichef.bbci.co.uk/news/640/cpsprodpb/17388/production/_108821159_15b4576d-cba0-44e7-bc69-f4cd6294c5c2.jpg https://ichef.bbci.co.uk/news/640/cpsprodpb/17388/production/_108821159_15b4576d-cba0-44e7-bc69-f4cd6294c5c2.jpg TÓPICO 1 — GEOGRAFIA: CIÊNCIA E ENSINO 15 um todo orgânico, onde os diferentes fenômenos se apresentam interdependentes. Assim, ele rompe com uma linha tradicional de pensamento que considerava a natureza como algo estático e inamovível, passando a integrar o grupo daqueles que construíram uma nova era científica, denominada de corrente evolucionista. Em função disso, é considerado um dos fundadores da geografia moderna, porque o seu trabalho deu à geografia descritiva um caráter sistemático e uma metodologia própria (HEINSFELD, 2012, p. 29). No entanto, em que pese a contribuição de Humboldt para o desenvolvimento da ciência geográfica, ele não estava preocupado em formular os princípios de uma nova disciplina. Para Humboldt, a Geografia tem que ter uma preocupação universal. As singularidades locais só têm importância se estiverem subordinadas às leis universais, apreendidas pela regularidade. Em decorrência de tudo isso, ele dizia que o objeto da Geografia deve ser o de reconhecer a unidade na imensa variedade de fenômenos, descobrir, pelo livre exercício do pensamento e combinando as observações, a constância dos fenômenos em meio às suas variantes aparentes. Se na exposição da parte terrestre do Cosmos deve-se descer a fatos muito especiais, é só para recordar a conexão que têm as leis da distribuição dos seres no espaço. Na concepção de Humboldt, o método a ser utilizado pela Geografia deveria basear-se na observação direta, na descrição detalhada e na preocupação permanente em se proceder à comparações e a raciocínios gerais e evolutivos (HEINSFELD, 2012, p. 30). Karl Ritter, tutor de uma família de banqueiros, possuía uma boa formação humanista (Filosofia e História). Foi o primeiro professor fixo e regular de geografia numa universidade. FIGURA 8 – KARL RITTER (1779-1859) FONTE: <https://www.unicamp.br/unicamp/sites/default/files/ju/2018-02/img_PESQ_geografia- ritter_capaJU_20180207.jpg>. Acesso em: 2 jul. 2021. https://www.unicamp.br/unicamp/sites/default/files/ju/2018-02/img_PESQ_geografia-ritter_capaJU_20180207.jpg https://www.unicamp.br/unicamp/sites/default/files/ju/2018-02/img_PESQ_geografia-ritter_capaJU_20180207.jpg UNIDADE 1 — GEOGRAFIA: MÉTODOS E CONCEITOS 16 A cátedra de Geografia foi criada em 1820, especialmente para Karl Ritter na Universidade de Berlim. Teve como alunos alguns dos maiores geógrafos do final do Século XIX e início do Século XX e que marcaram a história da Geografia: Friedrich Ratzel, Paul Vidal de La Blache, Eliseé Réclus. No entanto, “não fez escola”. Em função da sua formação histórica, sua concepção de Geografia não podia prescindir da História. Daí sua afirmação: a ciência geográfica não pode igualmente privar-se do fator histórico, se ela quer ser uma verdadeira disciplina das relações terrestres espaciais e não um feixe de abstrações, um compêndio que fixa um quadro e permite avaliar o vasto mundo, mas não permite conhecer a realidade espacial através de suas relações essenciais (HEINSFELD, 2012, p. 32). A obra de Ritter é explicitamente metodológica, que tinha como objetivo de promover uma Geografia científica, esforçando-se por introduzir um método, como ele deixou claro na sua Geografia Comparada. Revela também que o desprezo pela História, tão evidente na Geografia universitária e escolar atual, não é uma "doença congênita" e sim adquirida. Defendia ainda que aqueles geógrafos que buscavam no recurso ao tempo histórico uma alavanca para a renovação da Geografia, não estavam rompendo com uma tradição, mas tentando recuperar um fio perdido em alguma encruzilhada do passado. Um dos aspectos em que a contribuição de Karl Ritter foi profundamente marcada é a Geografia regional. Como afirma Sandra Lencioni, “sem dúvida, é com Ritter que os fundamentos dos estudos regionais, ou de uma Geografia Regional, se estabelecem” (HEINSFELD, 2012, p. 33) Vamos, então, realizar certas comparações destes dois grandes geógrafos, para que você, acadêmico, perceba as diferenças entre eles. Numa perspectiva comparativa entre Humboldt e Ritter, compreendemos que: • A contribuição de Ritter para a geografia é inegável, sobretudo nas questões metodológicas com as comparações de diferentes regiões, além do antropocentrismo nas pesquisas geográficas, ou seja, a relação existente e intrínseca do homem com a natureza. • O que difere de Humboldt, que fundamenta suas ideias a partir dos pressupostos naturalistas; o espaço do homem é reconhecido pela sua percepção da natureza. • A comumente comparação entre Ritter e Humboldt, é decorrente dos trabalhos desenvolvidos no campo, de forma empírica, por Humboldt que se tornaram subsídios para os trabalhos teóricos de Ritter. • Em muitos aspectos, os dois cientistas discordam, Ritter e Humboldt, por diferentes caminhos; concebiam a Terra como um todo harmônico com múltiplas relações. Entretanto, enquanto Humboldt buscava a unidade da natureza por seus aspectos físicos, não fundamentando sua posição numa perspectiva antropocêntrica, Ritter centrava-se na história e na ideia de que o sentido da vida, estava em Deus. TÓPICO 1 — GEOGRAFIA: CIÊNCIA E ENSINO 17 • Uma outra distinção digna de nota é a de que a ênfase dada nos estudos de Ritter se concentra muito mais no particular do que no geral ou, mais regional do que geral, enquanto no de Humboldt, mais no geral ou, em outros termos, mais sistemática. • É comum as referências à Ritter como o fundador da Geografia regional e Humboldt como fundador da Geografia geral. Divisões da geografia As divisões da Geografia são o resultado da estruturação moderna das ciências, responsável por uma ampla compartimentação dessa ciência. A Geografia é a ciência que estuda o espaço geográfico, isto é, aquele espaço o qual o ser humano transforma e se relaciona. Ela se preocupa também em estudar a relação entre as atividades humanas e o meio natural. Ao longo de sua história, a Geografia dividiu-se em duas frentes principais, aquela que se preocupa em estudar o espaço em sua totalidade – também chamada de Geografia Geral – e aquela interessada em estudar os eventosparticulares – conhecida por Geografia Regional. Apesar de os mais diferentes autores dividirem a Geografia com base em outros critérios, a distinção acima é atualmente a mais aceita no meio acadêmico, de forma que as demais divisões estariam inseridas dentro dessa mais genérica. Assim, a Geografia Geral estaria subdividida em Geografia Humana e Geografia Física, enquanto a Regional, em tese, não entraria nessa divisão, pois ela teria o método de abordar os conhecimentos naturais e os humanos ao mesmo tempo. Observe o organograma a seguir: ATENCAO FIGURA – DIVISÃO GEOGRAFIA FONTE: <https://www.preparaenem.com/upload/conteudo/images/divisoes-da- geografia.jpg>. Acesso em: 6 jul. 2021. UNIDADE 1 — GEOGRAFIA: MÉTODOS E CONCEITOS 18 Como podemos notar, existem subáreas tanto no aspecto humano da ciência geográfica quanto no aspecto físico. É válido, porém, ressaltar que podem existir outros ramos que a Geografia se preocupa em estudar, dependendo da abordagem do pesquisador, como as religiões, os movimentos sociais e muitos outros elementos. Além disso, muitas vezes, as áreas acima se correlacionam, sendo trabalhadas em conjunto. Na verdade, atualmente, existem constantes esforços em unir e atenuar as cisões causadas pelas constantes compartimentações, e ramificações dos conhecimentos geográficos (PENA, 2020). No início do Século XIX, o território da atual Alemanha era uma verdadeira colcha de retalhos, divido em inúmeros reinos. Tanto a burguesia alemã quanto a nobreza aristocrática viam a necessidade de uma unificação, para que surgisse uma Alemanha forte. Com isso, questões como a definição da identidade nacional, formação da nação, delimitação da “área dos alemães”, faziam parte das discussões da sociedade alemã, e a Geografia não ficou fora disso. Qual seria a origem, ou fator, que fez com que os Alemães buscassem na Geografia um dos aportes para a Unificação Alemã? Os alemães eram compelidos à discussão de temas geográficos, pois as questões espaciais estavam no centro das suas preocupações. A problemática do espaço é vital para quem discute poder, pois ao se discutir território, está se discutindo poder. Quem pretende espaço está reclamando poder. Parece ser esta a razão que faz a Geografia nascer entre os alemães. A Geografia encarna uma necessidade política e por isto é tão bem aceita pelos prussianos. O conteúdo progressista das obras de Alexander von Hulboldt e Karl Ritter foi aceito na Prússia e nos demais reinos alemães, bem como nos demais países europeus. A obra daqueles dois autores foi fundamental numa época que sociedades de Geografia são fundadas por toda a Europa, patrocinadas por governos e burguesias desejosas de conhecer e conquistar novos territórios coloniais. O nacionalismo e o capitalismo se afirmavam por todo o território alemão. Assim, as formulações geográficas de Humboldt e Ritter serviam perfeitamente na construção de um ideário de nação alemã (HEINSFELD, 2012, p. 35) No entanto, as bases intelectuais definitivas da geografia clássica alemã são encontradas na obra do geógrafo Friedrich Ratzel (1844-1904). TÓPICO 1 — GEOGRAFIA: CIÊNCIA E ENSINO 19 FIGURA 9 – FRIEDRICH RATZEL FONTE: <https://s1.static.brasilescola.uol.com.br/be/conteudo/images/friedrich-ratzel-um-dos- fundadores-geografia-moderna-519b866539cfc.jpg>. Acesso em: 2 jul. 2021. Em 1882, Ratzel publicou “Antropogeografia: Fundamentos da Aplicação da Geografia à História”, uma das obras mais importantes de todos os tempos para a compreensão da Geografia. Ele é considerado o iniciador da Geografia Humana, exatamente por ter dado uma maior ênfase ao homem na sua formulação geográfica. Ratzel vai despender uma parcela significativa de seu esforço teórico na elaboração de uma teoria do Estado, cujo surgimento demandaria um certo patrimônio cultural acumulado e teria por pressuposto a delimitação do território. Preconizava a necessidade do estudo do que é nacional. Para este pensador, a defesa do espaço vital seria a causa e função da existência do Estado. O Estado seria a “emanação natural da Sociedade destinada à defesa do território”. Além do Estado, temas como relações internacionais, fronteiras e guerra estão no centro das considerações teóricas de Ratzel. É importante salientar que a Geografia encontrou respaldo numa Alemanha agora unificada, que desejava se expandir e alcançar seus objetivos imperialistas (HEINSFELD, 2012, p. 36). Nas disputas expansionistas entre os novos estados nações que estavam sendo constituídos na Europa Ocidental, a conquista de novos territórios necessitava de um conhecimento prévio dos mesmos, que pode ser conseguido facilmente através da Geografia, os franceses perceberam isso quando perderam a guerra franco-prussiana em 1870. A consolidação da Geografia prossegue através de estudos dos territórios coloniais que exigem conhecimentos cada vez mais especializados. A partir do momento em que a Geografia, enquanto ciência, é implantada na Alemanha, seu objetivo principal reside na inculcação à boa parte da população de uma ideologia nacionalista e patriótica, veiculada através da ideia de que a forma Estado-nação ou país é natural e eterna. Tal fato explica por que o estudo geográfico de qualquer país UNIDADE 1 — GEOGRAFIA: MÉTODOS E CONCEITOS 20 se inicia pelos aspectos relativos ao seu território: localização, extensão, limites, quadro natural etc. Assim, é possível afirmar que a Geografia foi incluída nos currículos escolares por razões geopolíticas, sendo o discurso nacional reforçado pelo conhecimento dos elementos físicos (HEINSFELD, 2012, p. 36). Friedrich Ratzel foi o criador de dois conceitos fundamentais para a Geografia política, que serão utilizados, mais tarde, para a elaboração das doutrinas geopolíticas: Espaço vital (Lebensraum), “razão de equilíbrio entre a população de determinada sociedade, seus recursos naturais e seu território potencial.” O espaço vital manifestaria a necessidade territorial de uma sociedade, seu efetivo demográfico e os recursos naturais de que dispunha (HEISFELD, 2012, p. 37) e, sentido de espaço (Raumsinn), “espécie de atitude natural de um povo para infundir dinamismo à natureza e para organizá-la” (HEINSFELD, 2012, p. 37). Geopolítica pode ser definida como o conjunto de ações e práticas realizadas no âmbito do poder, geralmente envolvendo os Estados Nacionais, no sentido de promover o gerenciamento e o controle de seus territórios. No entanto, podemos perceber que essas relações muitas vezes vão além da própria noção de Estado, como a constituição regional e mecanismos interacionais, a exemplo da ONU (Organização das Nações Unidas) e da OTAM (Organização do Tratado do Atlântico Norte), que constituem território supracionais. FONTE: <https://bit.ly/3iSIEna>. Acesso em: 5 jul. 2021. DICAS Uma das máximas do pensamento geográfico de Ratzel: “Espaço é Poder”. Em uma de suas principais obras – Geografia Política (1897) – ele partiu do princípio de que existia uma estreita ligação entre o solo e o Estado. Trata-se de uma ilustração política daquilo que seus detratores chamaram de “determinismo geográfico”. A crítica à obra de Ratzel foi desenvolvida principalmente na França. Um dos primeiros a atacar o Ratzel “determinista” foi o historiador Lucien Febvre. O ataque de Febvre foi em relação à proposta antropogeográfica de Ratzel, desqualificando-a como sendo “determinista”, “dogmática”, “não científica” e pretensiosa, ou seja, “uma rapina audaciosa dos domínios reservados aos economistas e aos sociólogos. Estudando a obra do geógrafo alemão, Moraes conclui que “Ratzel foi um crítico do determinismo simplista, o qual em sua opinião prestou um desserviço à geografia ao tentar explicar de imediato a complexa questão das influências das condições naturais sobre a humanidade”. Outro estudioso da questão, Marcos Carvalho, afirma que se fosse dado à Ratzel o direito de resposta contra esse tipo de simplificação, provavelmenteele apontaria em muitos de seus escritos a formulação de convicções bastante diferentes dessas TÓPICO 1 — GEOGRAFIA: CIÊNCIA E ENSINO 21 que se popularizaram, provavelmente ele apontaria em muitos de seus escritos a formulação de convicções bastante diferentes dessas que se popularizaram. Ao analisar o pensamento de Ratzel, podemos enumerar uma série de citações extraídas de sua obra que deixariam transparecer uma concepção determinista. No entanto, Horacio Capel afirma que estas frases descontextualizadas podem, sem dúvida, apoiar a tese de um Ratzel determinista (HEINSFELD, 2012, p. 39). O que é Determinismo Geográfico? O determinismo geográfico é a crença de que o ambiente determina os padrões da cultura humana de um determina local, e seu desenvolvimento social. Neste caso, são levados em consideração principalmente os fatores físicos, como formas de relevo e clima. Os especialistas que acreditam no determinismo geográfico, afirmam que somente os fatores ecológicos, climáticos e geográficos são responsáveis pelas culturas e decisões individuais. Além disso, eles afirmam que as condições sociais praticamente não têm impacto sobre o desenvolvimento cultural. FONTE <https://bit.ly/3f47vDl>. Acesso em: 5 jul. 2021. DICAS Em defesa de um Ratzel não determinista, utilizamos suas próprias palavras: O processo cultural emancipa o homem da natureza”, mas, prossegue o geógrafo, não “no sentido do desprendimento completo” e sim no da “ampliação e multiplicação das alianças” ou “no sentido de uma coligação mais complexa, mais vasta e menos imperiosa”. A concepção determinista da geografia, na verdade, foi obra de discípulos de Ratzel, mais precisamente Ellen Semple e Elsworth Huntington, que deturparam e radicalizaram as formulações do mestre. Ellen Churchil Semple (1863-1932) foi a principal responsável pela divulgação das ideias ratzelianas nos EUA. Levando o pensamento do seu mestre ao extremo, desenvolveu uma teoria que relaciona a religião com relevo: nas regiões planas, predominariam religiões monoteístas, enquanto nas regiões montanhosas, predominariam religiões politeístas. O inglês Elsworth Huntington (1876-1947) concebia um determinismo invertido. Para ele, as condições mais hostis seriam as que propiciariam maior desenvolvimento. Em seu livro Clima e Sociedade argumentava que os rigores do inverno explicariam, pelas necessidades impostas, o desenvolvimento das sociedades europeias (HEINSFELD, 2012, p. 40). O que fica claro é que Ratzel defendia que o meio físico exerce influência sobre a organização dos seres humanos. Ele identifica quatro formas de influência da natureza sobre o homem: UNIDADE 1 — GEOGRAFIA: MÉTODOS E CONCEITOS 22 I- a que se exerce sobre os indivíduos e produz nestes uma modificação profunda; primeiramente ela age sobre o corpo e sobre o espírito do indivíduo; posteriormente age no âmbito da história e da geografia, estendendo-se a povos inteiros; II- a que direciona, acelera ou dificulta a expansão das massas étnicas, determinando a direção desta expansão, sua amplitude e posição geográfica, culminando com os limites; III- sobre a essência íntima de cada povo, impondo condições geográficas que favoreçam seu isolamento, conservando e reafirmando determinadas características, ou ao contrário, facilitando a miscigenação com outros povos e perdendo as próprias características; IV- sobre a constituição social de cada povo, oferecendo-lhe, maior ou menor quantidade de riquezas naturais, facilitando ou dificultando a obtenção dos meios necessários à vida (HEINSFELD, 2012, p. 40). A Geografia política de Ratzel é uma Geografia do Estado, que não poderia ser diferente, tendo em vista o contexto histórico em que formulou sua teoria geográfica, pois veicula uma concepção totalitária a de um Estado poderosíssimo. Ratzel enxergava no Estado e, portanto, no território delimitado por fronteiras políticas – o objeto de estudo da Geografia. Sob a poderosa influência da filosofia da história de Hegel, o geógrafo interpretou a construção do território estatal como a mais elevada conquista do espírito e da cultura, elaborando algumas das ideias que, mais tarde e em outro contexto, seriam manipuladas para fins de legitimação do expansionismo nazista (HEINSFELD, 2012, p. 40). Para explicar sua concepção orgânica estatal, Ratzel formulou Leis sobre o crescimento espacial dos Estados: (HEINSFELD, 2012): • As dimensões do Estado crescem com sua cultura. • O crescimento dos Estados segue outras manifestações do crescimento dos povos, que necessariamente devem preceder o crescimento do Estado. • O crescimento do Estado procede pela anexação dos membros menores ao agregado. Ao mesmo tempo, a relação entre a população e a terra torna-se continuamente mais próxima. • As fronteiras são o órgão periférico do Estado, o suporte e a fortificação de seu crescimento, e participam de todas as transformações do organismo do Estado. • No seu crescimento, o Estado esforça-se pela delimitação de posições politicamente valiosas. • Os primeiros estímulos ao crescimento espacial dos Estados vem do exterior. • A tendência geral para a anexação e fusão territoriais, transmite-se de Estado a Estado, e cresce continuamente de intensidade. Ao elaborar estas “leis” sobre o crescimento espacial dos Estados, Ratzel deixava de forma explícita sua concepção de que o Estado conquista e ocupa determinado espaço vital (lebensraum) para manter o seu poder sobre ele. Para Ratzel, quanto maior for o espaço territorial, com maior liberdade se desenvolverá nele a sociedade humana e menor será o perigo de ser pressionada a partir de fora deste território. Da mesma forma, Ratzel afirma que quanto maior for o espaço territorial, TÓPICO 1 — GEOGRAFIA: CIÊNCIA E ENSINO 23 maiores serão os contatos que poderão evitar o isolamento e o estancamento socioeconômico. Os povos mais expandidos são os que tem as relações mais variadas. Ao fazer a defesa de um Estado poderoso, Ratzel afirmava que “os povos fortes visam alcançar o mar ou a estender sobre este seu domínio.” O geógrafo alemão lembrava que a tarefa primordial do Estado, em última análise, continua sendo a da proteção: o Estado protege o território contra os ataques exteriores que procuram diminuí-lo. Salienta que a luta do Estado pela conquista e manutenção do espaço conduz facilmente à guerra (HEINSFELD, 2012, p. 43). Ratzel é considerado um dos fundadores da geopolítica clássica. Ele é citado como o fundador da Geografia Humana. Em contraposição à geografia alemã, acusada de ter fortes conotações deterministas, surge uma nova escola geográfica, na França, que tem em Paul Vidal de la Blache (1845- 1918) seu maior expoente – e que vai influenciar toda uma geração de geógrafos. FIGURA 10 – PAUL VIDAL DE LA BLACHE FONTE: <https://bit.ly/2WtSKU3>. Acesso em: 2 jul. 2021. Por meio da revista Annales de Géographie, fundada em 1898, as ideias de uma nova forma de se fazer Geografia são propagadas. Ao contrário da Alemanha, a França se unificou precocemente: a centralização do poder estava assegurada há centena de anos com o advento da monarquia absolutista Do mesmo modo como a concepção geográfica de Friedrich Ratzel estava estreitamente ligado à situação concreta da sua época e de sua sociedade (a sociedade Alemã), a geografia de La Blache somente será compreensível a partir, principalmente, da conjuntura do desenvolvimento capitalista francês e do antagonismo franco- alemão (que havia se fortalecido com a guerra franco-prussiana de 1871 e, especialmente, com a derrota francesa). A Alemanha no final do Século XIX era uma potência que disputava com a França a hegemonia da Europa, culminando com a Guerra UNIDADE 1 — GEOGRAFIA: MÉTODOS E CONCEITOS 24 Franco-prussiana, a qual a Prússia vence. Uma das explicações aceitas é que os alemães ganharam a guerra porque tinham amplo conhecimento geográfico. Inclusive foi tornado voz corrente que “a guerra haviasido ganha pelo mestre-escola alemão” (HEINSFELD, 2012, p. 48) A partir da derrota, a França resolveu implantar a Geografia nas escolas em todas as séries de ensino básico, com vistas à expansão do território francês, mas principalmente, com o objetivo de recuperar os territórios das províncias de Alsácia e da Lorena, perdidos com a guerra. Por esse motivo, a Geografia se desenvolve bastante nesse país. Paul Vidal de La Blache foi o primeiro geógrafo a ocupar uma cátedra universitária de Geografia na França, na Universidade de Nancy. Depois foi transferido para a Sorbonne, onde fundou a revista Annales de Géographie, que teve papel fundamental na divulgação das suas ideias. Tendo acesso fácil ao poder do Estado, La Blache institucionalizou, através da universidade, uma Geografia do Estado e ligada às classes conservadoras. O pensamento geográfico francês terá como finalidade combater a geografia ratzeliana legitimadora da ação imperialista do Estado alemão. Por isso as críticas que La Blache fazia à geografia alemã (HEINSFELD, 2012, p. 49) Caro acadêmico, vamos conhecer as principais críticas feitas por La Blache: TÓPICO 1 — GEOGRAFIA: CIÊNCIA E ENSINO 25 QUADRO 4 – CRÍTICAS POR LA BLACHE • A crítica mais importante que é feita à Ratzel é a respeito da politização explícita de seu discurso, ou seja, condenava o fato de as teses ratzelianas abordarem abertamente questões políticas ligadas ao poder. Em função de uma suposta objetividade, La Blache condenava a vinculação entre o pensamento geográfico e a defesa dos interesses políticos imediatos. Acenando com o clássico argumento liberal da “necessária neutralidade do discurso científico”, a ideia era produzir uma Geografia despolitizada. Na verdade, o discurso da neutralidade científica não passava de uma dissimulação da ideologia burguesa, temerosa do potencial revolucionário do avanço das ciências humanas. • La Blache critica também o caráter naturalista da obra de Ratzel, onde o elemento humano aparece quase passivamente frente às imposições do meio. A este “determinismo geográfico” é contraposto o “possibilismo geográfico”, teoria que procurará mostrar a reciprocidade de influências entre o homem e o meio natural, no interior do qual a capacidade humana dota o homem de ampla “possibilidade” de dominar o meio. La Blache dará um papel maior à história para levar em conta as maneiras pelas quais o homem se relaciona com os fatores físicos. Esta é a maior contribuição lablachiana para o desenvolvimento do pensamento geográfico. Apesar disso, não houve um rompimento total com a visão naturalista, pois afirmava que “a Geografia é uma ciência dos lugares, não dos homens.” • Outra crítica era feita à concepção fatalista e mecanicista da relação entre os homens e a natureza. Atacava assim, a ideia da determinação da História pelo meio natural. Propõe La Blache uma postura relativista no trato desta questão, afirmando que tudo o que interessa ao homem é “mediado pela contingência”. Diante disso, vai definir o objeto da Geografia como a relação homem-natureza, na perspectiva da paisagem, colocando o homem como um ser “ao mesmo tempo, ativo e passivo”, que apesar de sofrer a influência do meio, atua sobre este meio, transformando-o. No entanto, La Blache faz um alerta: em todo caso, as causas físicas, cuja importância os geógrafos se tinham anteriormente esforçado por sublinhar, não devem por isso ser desprezadas; importa sempre assinalar a influência do relevo, do clima, da posição continental ou insular sobre as sociedades humanas. UNIDADE 1 — GEOGRAFIA: MÉTODOS E CONCEITOS 26 • Vidal de La Blache fortaleceu o propósito humano da Geografia. Sua geografia fala da população, de agrupamentos humanos, nunca de sociedade; aborda estabelecimentos humanos, mas não relações sociais; estuda técnicas e instrumentos de trabalhos, mas não o processo de produção. Discutindo a relação homem-natureza, esquece das relações existentes entre os homens. Metodologicamente, a proposta de Vidal de La Blache não rompeu com as formulações de Ratzel; foi antes um prosseguimento destas. La Blache era, entretanto, mais relativista, negando a ideia de causalidade e determinação de Ratzel: “Na perspectiva vidaliana, a natureza passou a ser vista como possibilidades para a ação humana; daí o nome de Possibilismo dado a esta corrente por Lucien Febvre. FONTE: Heinsfeld (2012, p. 50-51) Determinismo X Possibilismo Com relação ao determinismo, a Escola Francesa, de Vida De La Blache, lançou o possibilismo, que afirmava que as pessoas poderiam atuar no meio, modificando-o e determinando o seu desenvolvimento, ou seja, o meio natural oferece um conjunto de possibilidades, e sua utilização depende dos costumes e das técnicas (gênero de vida) diferenciados e do desenvolvimento histórico de cada sociedade. DICAS Nos desdobramentos da proposta de Paul Vidal de La Blache, o principal foi em relação a Geografia Regional. Ele estava convicto de que somente nos estudos regionais minuciosos é que se daria a unidade da Geografia. A ideia de região foi sendo compreendida como um produto histórico, que expressaria a relação dos homens com a natureza. Este processo de historicização do conceito de região representou um fortalecimento da Geografia Humana. O grande número de estudos regionais fez aparecer as especializações: Geografia Agrária, Geografia Urbana, Geografia da População, Geografia da Industrialização, entre tantas outras. A partir de Vidal de La Blache o conceito de região foi sendo humanizado; ele não concebeu nem praticou nunca a descrição regional como uma aplicação do mesmo sistema para todos os compartimentos do espaço. Durante muito tempo sua atenção esteve voltada, com marcada preferência, para as unidades naturais. Seu critério evoluiu muito depois de aposentado: insistiu sobre a função da cidade na formação das regiões modernas (HEINSFELD, 2012, p. 54). TÓPICO 1 — GEOGRAFIA: CIÊNCIA E ENSINO 27 Para Vidal de La Blache a Geografia é a ciência dos lugares e não dos homens. Assim, o homem não era parte integrante da região, mas apenas alguém que ocupava este determinado espaço. Os inúmeros trabalhos realizados sobre a Geografia Regional tentavam esquadrinhar todo o Globo terrestre, objetivando com isto uma visão “completa” sobre o planeta. A Geografia Regional muito valorizada nesta corrente era tida como a mais complexa expressão do método geográfico. La Blache explicita a importância da Geografia regional: A síntese regional [...] é o objetivo último da tarefa do geógrafo, o único terreno sobre o qual ele se encontra a si mesmo. Ao compreender e explicar a lógica interna de um fragmento da superfície terrestre, o geógrafo destaca uma individualidade que não se encontra em nenhuma outra parte. Com o desenvolvimento da Geografia lablachiana a cartografia acabou sendo uma técnica privilegiada da pesquisa e da reflexão geográficas, tendo em vista seu poder de sintetizar as relações regionais a serem estudadas (HEINSFELD, 2012, p. 55). Na Escola Geográfica francesa sobressai-se também Élisée Reclus (1830- 1905), que teve destaque antes de Vidal de La Blache. FIGURA 11 – ÉLISÉE RECLUS FONTE: <https://www.anarkismo.net/attachments/feb2013/101.jpg>. Acesso em: 2 jul. 2021. Sua importância não se dá somente pelas suas inovações metodológicas no campo da Geografia, mas também, no que tange ao seu engajamento político. Militante anarquista, foi membro ativo da Primeira Internacional dos Trabalhadores (1864-1876), quando entrou em confronto com Karl Marx. Ajudou nas conspirações que tentaram impedir o golpe de Luís Bonaparte, em 1851, lutou como soldado na guerra contra a Prússia (1870), na qual a França foi derrotada e no ano seguinte participou https://www.anarkismo.net/attachments/feb2013/101.jpg UNIDADE 1 — GEOGRAFIA: MÉTODOS E CONCEITOS 28 da Comuna de Paris, o que lhe valeu a deportação e o exílio. Manuel Correia de Andrade chama de Geografia Libertáriaa que foi produzia por Reclus, que defendia que a Geografia deve servir para a solução dos problemas sociais e explicar a origem desses problemas (HEINSFELD, 2012, p. 56). O que é anarquismo? A palavra “anarquismo” tem origem na palavra grega anarkhia, que significa “ausência de governo”. O anarquismo é uma corrente de pensamento; uma teoria e ideologia política que não acredita em nenhuma forma de dominação – inclusive a do Estado sobre a população – ou de hierarquia e prega a cultura da autogestão e da coletividade. Alguns dos valores defendidos pelos anarquistas são: • liberdade individual e coletiva, para o desenvolvimento de pensamento crítico e todas as capacidades individuais das pessoas; • igualdade – em termos econômicos, políticos e sociais, valor que inclui questões de gênero e raça; • solidariedade – a teoria anarquista só tem sentido se há entre as pessoas apoio mútuo, com colaboração e espírito de coletividade. O anarquismo critica principalmente exploração econômica do sistema capitalista e o que chama de dominação político-burocrática e da coação física do Estado. Os anarquistas não buscam uma revolução política, mas uma revolução social, que parta da maioria da população, dos trabalhadores, da classe que sofre alguma forma de dominação. Sua ideia principal é a horizontalidade: um território em que não exista Estado, nem hierarquia e em que a população faça a autogestão da vida coletiva (MERELES, 2017). Reclus, em sua afirmação, explicita o papel da geografia e de seu estudo: “A luta de classes, a procura do equilíbrio e a decisão soberana do indivíduo, tais são as três ordens de fatos que nos revela o estudo da geografia social e que, no caos das coisas, se mostram bastante constantes para que se possa dar-lhes o nome de leis” (HEINSFELD, 2012, p. 57). É interessante perceber que os grandes geógrafos do seu tempo, como Ratzel e La Blache, ignoravam em seus estudos as classes sociais, considerando-as categorias que deveriam ser estudadas por sociólogos e historiadores. Especificamente sobre a Geografia e suas divisões, Reclus era contra a divisão entre geografia física e geografia humana, pois em sua opinião “este atrito atraía as atenções para uma briga sem fundamento, perdendo-se de vista a maior preocupação que a geografia deve ter, que é com a divisão de classes, a miséria e a dominação burguesa até em tão em curso” (HEINSFELD, 2012, p. 56). IMPORTANT E TÓPICO 1 — GEOGRAFIA: CIÊNCIA E ENSINO 29 Além disso, pensava que esta divisão quebrava a harmonia da geografia como ciência. A proposição metodológica de Reclus, é que os geógrafos deveriam trabalhar a partir dos seguintes princípios: (HEINSFELD, 2012, p. 56): I- a sociedade é dividida em classes sociais, decorrente das formas de apropriação dos meios de produção; II- esta diferença entre as classes provoca a luta entre as classes dominadas que desejam uma melhor sorte e as classes dominantes que não querem perder o poder sobre as riquezas; III- há uma tendência ao aperfeiçoamento individual e à melhoria das estruturas sociais em função do aperfeiçoamento progressivo do homem. O terceiro princípio defendido por Reclus estava ligado a crença no progresso. O terceiro princípio era resultado da sua crença que a ciência desenvolvida seria capaz de solucionar os problemas e aperfeiçoar socialmente os homens. Além do que, Reclus tinha uma crença inabalável no progresso. Percebe-se aí também a influência do positivismo na sua concepção de mundo (HEINSFELD, 2012, p. 57) A obra de Reclus levanta uma série de problemas, como o relacionado ao crescimento urbano, o desenvolvimento industrial, a análise das estruturas econômicas, políticas e sociais, a colonização e as formas de dominação, demonstrando até mesmo o caráter imperialista da expansão colonial, no momento em que os geógrafos, em geral, procuravam justificar essa expansão como necessária ao progresso e à civilização. Por ter ficado muito tempo exilado e por somente ter entrado na academia com idade relativamente avançada, o pensamento de Reclus acabou tendo pouca importância na evolução e formação do pensamento geográfico francês. Somente na segunda metade do Século XX é que o seu pensamento será retomado, em alguns aspectos, por alguns geógrafos na formação da chamada Geografia Crítica ou Radical. Portanto, no Século XIX, a Geografia adquiriu o status de ciência. Um dos primeiros passos para esta concretização, foi transformá-la em uma matéria universitária. Foi na Prússia, um dos reinos alemães, que surge a geografia universitária, método de transmissão de conhecimento de grande importância para a formação das escolas geográficas nacionais. A Geografia, a partir do momento em que passou a ser concebida como ciência, apresentou algumas concepções ou correntes de pensamento, que nortearam o ofício daqueles que se dedicaram a estudá-la. Uma série de postulados fundamentais sobre o mundo, que centram a atenção do estudo sobre certos fenômenos, determinando sua interpretação, apareceram nas diversas concepções da Geografia a partir do Século XIX. Duas grandes escolas nortearam o pensamento geográfico no mundo, no final do Século XIX e início do Século XX, a alemã considerada “determinista”, e a Francesa denominada “possibilista”. Estas duas escolas constituíram-se em referências clássicas da Geografia. A partir delas é que surgiram outras correntes de pensamento nesta área do conhecimento humano. UNIDADE 1 — GEOGRAFIA: MÉTODOS E CONCEITOS 30 2.1 O ENSINO DA GEOGRAFIA Caro acadêmico, de certa forma, ensinar a geografia significa compreender o mundo, suas transformações e representações sociais em suas múltiplas dimensões da realidade social. As transformações que ocorrem no mundo se apresentam, de forma cada vez mais dinâmicas e têm originado questionamentos no âmbito educacional. Diante das transformações impostas pela introdução de novas técnicas nas relações estabelecidas pelos vários sujeitos de uma sociedade, bem como pelo processo de globalização da economia, a geografia vem efetuando análises que permitem compreender e interpretar essa realidade, para fomentar o processo de intervenção na construção do espaço. É possível dizer que a velocidade das mudanças dificulta a sua compreensão, de maneira que, nesse contexto, a educação, em geral, e a escola, em particular, assumem um papel relevante no alcance dessa compreensão. Se pretendemos que as práticas pedagógicas em Geografia sejam adequadas à compreensão da contemporaneidade, devemos considerar a dinâmica espacial, que evidencia a alteração das formas e funções postas no cotidiano vivido pelo indivíduo. FIGURA 12 – LEITURA DE MUNDO FONTE: <https://bit.ly/3zE7n5x>. Acesso em: 23 mar. 2021. As abordagens do conhecimento geográfico mais recentes no Brasil resultam de várias correntes de pensamento, desde a influência da Escola de Vidal de La Blache até as contemporâneas. Alguns pesquisadores orientam-se pelas correntes do neopositivismo, da fenomenologia, das humanísticas e psicológicas da geografia da percepção, do materialismo histórico e dialético, da Geografia Cultural, entre outras. Conteúdos e métodos, embora diferentes entre si, não existem um sem o outro em educação. Na formação inicial ou continuada do professor, é preciso designar sua opção teórico-metodológica de modo coerente. É importante ressaltar que, durante o Século XIX, o centro de discussão da Geografia, na Europa, concentrou-se na Alemanha e, só no final do século, o pensamento geográfico francês encontrou seu espaço. As ideias dos mestres alemães chegaram ao Brasil, trazidas pelos geógrafos franceses, mas acrescidas de críticas embasadas na escola criada por Vidal de La Blache e seus discípulos. As ideias de Vidal de La Blache e de seus seguidores são denominadas, atualmente, TÓPICO 1 — GEOGRAFIA: CIÊNCIA E ENSINO 31 por muitos, de Geografia Tradicional e exerceram grande influência na formação das Universidades de São Paulo e do Rio
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