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Material de Direito Civil

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DIREITO CIVIL I 
 
1. O Código Civil Brasileiro 
 
1.1. O Direito Civil como ramo do Direito Privado 
 
- Revisão de conteúdo 
 Conceito de direito 
 Relação entre Direito e Moral 
 Fontes do Direito 
 Classificação dos vários ramos do Direito 
 
- Estudo da Lei de Introdução às Normas de Direito Brasileiro (LINDB) 
 Vide livro didático da disciplina e material de sala de aula (slides) 
 
- DC identificado como principal ramo do Direito Privado 
 Bem como instrumento de realização dos direitos fundamentais no âmbito das relações privadas, 
regulando as relações entre os particulares com fundamento na igualdade jurídica e na 
autodeterminação 
 
- O DC extrai seu nome do latim cives (cidadãos) 
 E se dirige ao núcleo da vida em sociedade, ou seja, às relações sociais travadas de pessoa a 
pessoa, desde o nascimento até a morte, ou até mesmo antes daquele e depois desta 
 
- Para ilustrar a diferença entre moral e direito em termos práticos, eis o seguinte precedente do STJ: 
 
 EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO RECURSO ESPECIAL. CARÁTER INFRINGENTE 
INCOMPATÍVEL COM A VIA INTEGRATIVA. DIREITO CIVIL E PROCESSUAL. FAMÍLIA. 
DANOS MATERIAIS E MORAIS. ALIMENTOS. IRREPETIBILIDADE. DESCUMPRIMENTO DO 
DEVER DE FIDELIDADE. IMPUTAÇÃO AO CÚMPLICE DA TRAIÇÃO. IMPOSSIBILIDADE. 
INDENIZAÇÃO. JUROS MORATÓRIOS. PERCENTUAL. (1) Não se reconhece a negativa de 
prestação jurisdicional alegada quando o acórdão embargado encontra-se suficientemente 
fundamentado, abordando, com a profundidade adequada, toda a matéria devolvida a esta Corte 
Superior em sede de recurso especial. (2) O intuito infringente contido nas razões dos 
declaratórios é incompatível com a via recursal integrativa. (3) O dever de fidelidade recíproca dos 
cônjuges é atributo básico do casamento e não se estende ao cúmplice de traição a quem não 
pode ser imputado o fracasso da sociedade conjugal por falta de previsão legal. (4) O STJ firmou 
posicionamento no sentido de que os juros serão calculados à base de 0,5% ao mês, nos termos 
do artigo 1.062 do CC/16 até a entrada em vigor do Novo CC. A partir da vigência deste, os juros 
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moratórios deverão observar a taxa que estiver em vigor para a mora do pagamento de impostos 
devidos à Fazenda Nacional (art. 406). Atualmente, a taxa dos juros moratórios a que se refere o 
referido dispositivo é a taxa referencial do Sistema Especial de Liquidação e Custódia- SELIC. (5) 
Embargos de declaração acolhidos apenas para esclarecer o percentual dos juros moratórios em 
virtude da condenação decorrente do provimento do recurso especial. (EDcl no REsp 922.462/SP, 
Rel. Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA, TERCEIRA TURMA, julgado em 08/04/2014, DJe 
14/04/2014) 
 
1.2. O fenômeno da codificação 
 
- Código 
 É uma lei que busca disciplinar relações jurídicas da mesma natureza (civis, penais, trabalhistas 
etc.), organizando e sistematizando o direito material. Não se pode confundir código com 
consolidação, compilação e estatuto 
 
- Sob o ponto de vista histórico 
 Todo Código deve ser visto como ponto de chegada, pois, embora tente projetar comportamentos 
futuros reflete acontecimentos passados e a sociedade atual 
 Por isso que a codificação deve evitar ao máximo a descrição de situações circunstanciadas e 
casuísticas, eis que o risco de se tornar obsoleta é muito maior 
 A codificação apresenta vantagens e desvantagens: 
 
- Vantagens 
 Unificação do Direito vigente em uma determinada sociedade a partir de critérios uniformes 
 Estudo sistematizado do Direito 
 
- Desvantagens 
 Fossilização do Direito, impedindo o desenvolvimento e o curso natural da evolução jurídica. Isso 
ocorreu no Código Napoleão, em que os valores predominantes eram a propriedade e a 
autonomia da vontade 
 A legislação codificada atende às exigências da vida social apenas no instante em que é 
estabelecida 
 O apego à letra pura da Lei torna-se mais evidente, como se inexistisse Direito fora do Código 
 
- Mario Luiz Delgado 
 A principal desvantagem da codificação, e talvez a única, seria a rigidez, o que implica na 
dificuldade de sua alteração 
 Entretanto, em termos científicos, não nos convence o argumento porquanto calcado em razões 
de ordem estritamente psicológicas 
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 A apontada 'rigidez' é fruto tão somente da mentalidade do jurista que, acostumado a trabalhar 
com determinados e conhecidos textos, torna-se inconscientemente conservador e avesso a 
mudanças 
 Demais disso, a alteração de um código, para fins de adaptação da ordem jurídica, não se dá, 
exclusivamente, pela alteração formal dos dispositivos normativos 
 
1.3. A codificação civil brasileira 
 
- Antes do Código de 1916 
 O DC brasileiro era regulamentado pelas Ordenações Filipinas de 1603, com algumas adaptações 
 Até mesmo após a independência o Brasil não acabou com a aplicação deste diploma português, 
pois a Constituição de 1824 recepcionou as Ordenações 
 
- Constituição do Império (1824) 
 Trazia disposição expressa pela elaboração de um CC. A primeira manifestação nesse sentido foi 
a Consolidação das Leis Civis (1855) elaborada por Teixeira de Freitas, que foi o mesmo que 
redigiu o primeiro esboço do CC. Este esboço, porém, não foi aceito 
 
- Depois de várias outras tentativas de codificação 
 O projeto de Clóvis Beviláqua foi aceito em 1899, aprovado em 1915, promulgado em 1916, com 
vigência a partir de 1917 
 Códigos Históricos que influenciaram a codificação brasileira: 
 
- Código de Napoleão (1804) 
 Tentativa de aproximação com o Direito Romano; individualista e burguês. Refletia o pensamento 
jurídico e político do Estado Liberal 
 O CC brasileiro de 1916 refletia valores do iluminismo e do Estado Liberal e tinha por pilares 
fundamentais a família, a propriedade e o contrato 
 
- Código Alemão (1900) 
 Até então, o direito privado alemão era demais fracionado. O DC foi, então, sistematizado e 
organizado em um código aberto, pois Savigny entendia que para que o Código conseguisse 
ultrapassar barreiras espaciais e temporais, deveria conter princípios jusnaturalistas 
 Apartou-se do casuísmo e priorizou princípios abstratos e generalizados, como uma das formas 
de dar segurança ao direito e garantir que a legislação não se tornasse logo obsoleta 
 Foi o primeiro Código a dividir-se em uma parte geral e mais quatro livros especiais, ao lado de 
uma lei de introdução ao CC. Tal código influenciou a estrutura formal do CC brasileiro de 1916 
(parte geral e livros especiais) 
 
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Texto de Leitura Complementar: Autonomia privada sob a visão jurídica contemporânea, de autoria de Gisele Leite, Professora universitária, 
Mestre em Direito, Mestre em Filosofia, pedagoga, advogada, conselheira do Instituto Nacional de Pesquisas Jurídicas. 
 
AUTONOMIA PRIVADA SOB A VISÃO JURÍDICA CONTEMPORÂNEA 
 
A grande relevância repaginada do princípio da autonomia privada no direito contratual brasileiro permite que esse seja apontado com um dos 
principais paradigmas do Direito Civil contemporâneo. E é exatamente por essa razão tal paradigma deve ser repensado e redimensionado. 
 
O conceito surgiu a partir das concepções liberais que especialmente se desenvolveram nos séculos XIX e XX, principalmente em função do 
prestígio que ganhou a liberdade inserida nos textos constitucionais dos chamados países democráticos. 
 
Na verdade foi a autonomia da vontade uma grande força propulsora das relações negociais e sofreu evolução conforme ensina
Francisco Amaral 
influência dos glosadores, da escola do direito natural, da teoria do contrato social de Rousseau e de Kant que informava que a partir da autonomia 
da vontade adquire conotação dogmática, passando a ser imperativo categórico da ordem moral. 
 
Justificava-se amplamente, nesse tempo, o rigor excessivo sobre o pacta sunt servanda, quer dizer, os pactos devem ser respeitados. Concebendo 
o contrato como instrumento jurídico vinculativo, criada pela vontade das partes e por isso mesmo, ato de força obrigatória. 
 
A liberdade de contratar é a faculdade de se criar sem constrangimento, um pacto que concluído, nega a cada uma das partes a possibilidade de 
se afastar unilateralmente dele. Até por que o pacto nascia de duas vontades convergentes e livres. 
 
A razão da vinculação do pacto está que a promessa livremente aceita gera expectativas fundadas. Portanto, o acordo realiza fins dignos de tutela 
de direito. A autodeterminação das partes gera a vinculação recíproca que não viola o princípio da autonomia privada. 
 
A partir do incremento capitalista da metade do século XX bem como com o surgimento dos chamados direitos de segunda e terceira geração ou 
dimensão[1], observou-se progressiva preocupação legislativa na proteção dos vulneráveis nas relações negociais, como trabalhadores, 
consumidores e hipossuficientes em geral. 
 
Ao lado da sociedade de consumo de massa surgiu a estandardização contratual, passou a liberdade contratual passou a contar com limitações de 
caráter protetivo, e o dirigismo contratual e com a intervenção estatal e da lei cada vez maior nas relações negociais. 
 
E justifica-se a intervenção do Estado culmina com a adoção do princípio da função social dos contratos[2], que é regramento aplicável tanto aos 
contratos de consumo como aos contratos civis. A função social do contrato inaugura então uma nova vertente: o Estado Social. 
 
A autonomia privada confirma-se como fundamento das relações negociais inserido em contratos, no direito de família e no direito das coisas. 
Darcy Bessone lecionava mesmo antes da vigência do CDC e do CC de 2002 a vedação a lesão, possibilidade de revisão contratual por fato 
superveniente, vedação do enriquecimento sem causa e o abuso do direito e consagra que a evolução principiológica consagra os princípios da 
função social dos contratos e da boa-fé objetiva. 
 
O conceito da autonomia privada e sua óbvia importância no atual direito contratual terão que ser dimensionados a partir da Constitucional Federal 
de 1988 e particularmente e a tendência de se privilegiar as normas fundamentais que protege a dignidade da pessoa humana e que possuem 
aplicação nas relações privadas, perfazendo a eficácia horizontal dos direitos fundamentais, o que justifica sua aplicação nas relações entre 
particulares, entre iguais. O que rompe com a concepção original de eficácia vertical, imposta pela lei, pelo Estado. 
 
A importância salutar da autonomia privada é essência para a teoria geral do negócio jurídico e para conservação negocial, e as atuais limitações à 
autonomia previstas seja pelo CDC ou pelo CC de 2002 seguem a finalidade de demonstrar a abertura do regramento do direito civil brasileiro 
contemporâneo escapando das linhas privatísticas tradicionais. 
 
Situa-se o contrato no âmbito dos direitos pessoais obrigacionais, que veicula inegável importância da expressão da vontade humana, mais 
particularmente da vontade jurígena. Percebe-se que o negócio jurídico constitui verdadeiro instrumento da liberdade humana tendo sua origem na 
vontade. 
 
É a declaração de vontade[3] que constitui o elemento central e mais característico do negócio jurídico, sendo o seu estudo comum às declarações 
que afetam a relação negocial. 
 
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O domínio da vontade dos contratantes foi conquista advinda de um lento processo histórico, culminando com respeito à palavra dada, principal 
herança dos contratos romanos de cunho ritualístico e cerimonial. 
 
Inicialmente, percebe-se plena liberdade para celebração de pactos e avenças, reconhecendo-se o direito à contratação como valor inerente à 
própria pessoa humana, um direito de personalidade advindo do princípio da liberdade. Por outro lado, a liberdade de contratar corresponde à 
escolha da pessoa ou das pessoas com quem o negócio será celebrado. Mas, num outro plano ainda, esta face da autonomia da vontade humana, 
dirigida à celebração dos contratos, pode estar relacionada com o conteúdo do negócio jurídico, onde estarão fixadas as limitações ainda mais 
severas à liberdade da pessoa humana, surge então o conceito da liberdade contratual. 
 
A liberdade de contratar comum a todos os indivíduos sem preocupação, a priori, com o conteúdo negocial, se revela assim em conceito de plena 
liberdade que cada um tem de realizar contratos, ou de não os realizar, conforme sua exclusiva vontade. 
 
A liberdade de contratar é em princípio ilimitada, levando-se em conta a autonomia privada daqueles que pretendem contratar enquanto a liberdade 
contratual pode ser limitada, principalmente por força de normas de ordem pública. 
 
Atinente à essa diferença o art. 425 do CC de 2002 expressa a possibilidade de celebrar contratos atípicos, isto é, aqueles que apesar de estarem 
legalmente previstos, mas que são lícitos plenamente. 
 
Expressiva parte da doutrina pátria e da estrangeira propõe a substituição do antigo princípio da autonomia da vontade pelo princípio da autonomia 
privada, pois seria consentânea com a revisão sofrida pelo liberalismo econômico, sobretudo, as concepções individualistas e voluntaristas de 
negócio jurídico que se passou a cogitar em autonomia privada. 
 
De fato, se a antiga autonomia da vontade com o conteúdo que lhe era atribuído já era alvo de críticas, a atual autonomia privada é noção mais 
sólida e temperada. 
 
Foi Enzo Roppo um dos autores que melhor prescreveu sobre os elementos que formam o contrato, e referindo-se ao Código Civil Italiano aduz: “a 
autonomia e a liberdade dos sujeitos privados em relação à escolha do tipo contratual, embora afirma em linha de princípio pelo art. 1322º e 2 do 
CC, estão na realidade, bem longe de ser tomadas como absolutas, encontrando pelo contrário, limites não descuráveis no sistema de direito 
positivo.” 
 
Assim o renomado doutrinado italiano reconhece explicitamente restrições à liberdade de contratar ou não o contrato, e tais restrições podem ser 
de caráter subjetivo, pois se referem particularmente aos sujeitos de direito com quem as avenças são celebradas. 
 
Mas as principais limitações a liberdade de contratar gravitam no conteúdo dos pactos, daí ser curial entender o significado da chamada eficácia 
interna da função social dos contratos entre os contratantes. 
 
A repersonalização do direito privado[4] e da valorização da dignidade da pessoa humana como centro do direito privado, o conceito de autonomia 
privada é mais adequado que a autonomia da vontade. Visto que não é da vontade, e sim da pessoa. 
 
Assim brilhantemente expões Francisco Amaral quando aponta que autonomia privada é poder que os particulares possuem para regular, através 
do exercício de sua própria vontade,, as relações de que participam, estabelecendo-lhe o conteúdo e a respectiva disciplina jurídica. 
 
Não seria sinônimo da autonomia da vontade posto que esta tem conotação mais subjetiva, psicológica ao passo que a autonomia privada marca o 
poder de vontade jurígena de modo objetivo, concreto e real. E, ouso acrescentar, finalístico. 
 
A vontade, por si mesma, perdeu o destaque e a eloqüência que
exercia no passado relativamente à formação dos contratos e dos negócios 
jurídicos. E, são variados fatores que entraram em cena para a concretização da crise instaurada nas relações pessoais, o que acarreta em 
mudança estrutural nas relações negociais, sendo certo que deve ser analisado o contrato pelo que representa para o meio social. 
 
Sem dúvida, corresponde a autonomia privada a um dos principais fundamentos do direito privado, tratando-se de projeção de direito 
personalíssimo, ético, axiológico da pessoa tratada como centro e destinatário principal da ordem jurídica privada, sem o que apesar da pessoa 
humana estar formalmente revestida de titularidade de direitos e jurídica, nada mais seria do que mero instrumento a serviço da sociedade, 
perdendo sua primacial qualidade de sujeito de direito. E, disputando lugar ao lado dos objetos de direito. 
 
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Inicialmente cravamos o campo de incidência da autonomia privada na seara patrimonial, no qual também se situam os contratos, mas não se 
pode esquecer que também exerce influencia importante no direito existencial, como no direito de família. Assim a autonomia privada traz nítidas 
limitações principalmente quanto à formação e reconhecimento de validade dos negócios jurídicos. (sendo a função social do contrato[5] também 
apontada como uma dessas limitações, mas acredito ser vetor para releitura conceitual dos contratos e da autonomia privada). 
 
A essência a autonomia privada reside na identidade entre sujeito do negócio e sujeito do interesse regulado, ou na coincidência imediata entre 
interesse regulado e poder regulador. Por essa razão, o princípio da autonomia privada pode ser conceituado como regramento basilar da ordem 
particular mas certamente influenciado pela norma de ordem pública, pela qual a formação dos contratos, além de depender da vontade das 
partes, também reputa atenção a outros fatores como psicológicos, políticos, econômicos e sociais. 
 
É direito indeclinável do contratante de auto-regulamentar seus interesses, decorrente de sua própria dignidade humana, mas que encontra 
limitações em normas de ordem pública , particularmente nos princípios sociais contratuais. 
 
Por vezes, é preciso defender a pessoa de sua própria torpeza e ignorância, no sentido de não estimular aos espertalhões o enriquecimento ilícito, 
o locupletamento indevido e outras formas fraudulentas de aferir vantagens nas relações negociais. 
 
Salutar recordar que o Enunciado 23 do CJF aponta que a função social do contrato não elimina o princípio da autonomia contratual, mas atenua o 
alcance desse princípio quando presentes interesses metaindividuais ou interesse individual relativo à dignidade da pessoa humana. É interessante 
exemplo da eficácia interna da função social do contrato em prol da valorização da dignidade humana. 
 
Larenz aponta concretamente que a autonomia privada é a possibilidade, oferecida e assegurada aos particulares, de regularem suas relações 
mútuas dentro de determinados limites, por meio de negócios jurídicos, em especial mediante contratos. É o poder auto-regulamentação dos 
próprios interesses e relações, exercida pelo próprio titular deles, de que cogita Betti, a ser exercido dentro dos limites e com as finalidades 
assinaladas pela função social do contrato. 
 
É poder de auto-regulamentar seis próprios interesses, é o autogoverno de sua esfera jurídica e tem com matriz a concepção do ser humano com 
agente moral, dotado de razão e discernimento, capaz de decidir e prover escolhas, desde que estas não perturbem os direitos de terceiros e nem 
violem outros valores relevantes da comunidade. 
 
A substituição do princípio da autonomia da vontade pela autonomia privada traz em seu bojo a relativização do princípio da força obrigatória dos 
contratos [6]como um dos principais aspectos da eficácia interna da função social dos contratos, o que nos dá a nova dimensão em que se 
encontra a contratação privada. 
 
A grande interação que existe entre o direito civil e a Constituição Brasileira vigente traz como tendência definitiva a valorização da pessoa 
humana, e produz as cláusulas gerais (mecanismos de eficácia horizontal) contidas na codificação civil, como a boa-fé objetiva e a função social do 
contrato e que deverão ser preenchidas, conforme o caso concreto e de acordo com os valores, regras e princípios constitucionais. 
 
Mas igualmente jaz a valorização constitucional da autonomia privada já que a liberdade é valor previsto e assegurado pela Magna Carta, e em seu 
art. 3º, inciso I reconhece como um dos objetivos da República Federativa do Brasil a construção de uma sociedade[7] livre, justa e solidária. 
 
Novamente a valorização da liberdade surge no art. 5º caput da CF de 1988 que garante o direito à liberdade como direito fundamental, e em 
complemento, o inciso II, do mesmo dispositivo prevê que: “ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de 
lei”, e adiante, o inciso XVII assegura ainda o direito à associação para fins lícitos, sem falar, na livre concorrência como um dos princípios gerais 
da atividade econômica (art. 170, inciso IV da CF). 
 
Mas mesmo enquanto valor constitucional, também a liberdade encontra limitação em razão de outros valores e princípios constitucionais, como é 
o caso do princípio que protege a dignidade da pessoa humana, previsto no art. 1º, inciso II do mesmo diploma legal. 
 
Há célebre caso da jurisprudência francesa envolvendo a prática de arremesso de anão, à guisa de espetáculo em uma casa noturna. Quando 
então o prefeito local decidiu impedir aquele bizarro gênero de divertimento público que consistia em lançar um anão sobre um colchão 
pneumático, a fundamentação baseava-se no respeito à dignidade da pessoa humana que conflitou com a liberdade do anão, que se declara então 
satisfeito por trabalhar e para o qual a interdição promovida atentava contra a sua dignidade, tornando-o um excluído. 
 
Na verdade, o referido Conselho de Estado francês, no caso do lançamento de anão, pretendeu moralizar o indivíduo, mesmo contra a sua 
vontade, restringindo a sua atividade privada, sendo que, a priori, não o fez em face ou em prol da dignidade humana, mas ao contrário, colocou o 
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atributo da dignidade humana em situação de correlação com o atributo da liberdade, o que não poderia in casu, ser possível, por se tratar de 
paradigmas distintos. 
 
Não se conjugava prioritariamente o atributo da liberdade do anão de trabalhar e consentir ser lançado, pois se a liberdade é a essência dos 
direitos do homem, a dignidade é a essência da Humanidade. O respeito à dignidade humana, por ser conceito absoluto, não conceberia 
acomodar-se a qualquer concessão em função de apreciações subjetivas que cada um possa ter a seu próprio respeito... 
 
Daí, ser irrelevante o consentimento do anão ao tratamento degradante ao qual se submetia , posto que não poderia renunciar à dignidade, e 
porque uma pessoa pode excluir de si mesma, a humanidade. Seja este anão, acéfalo, em estado vegetativo, ativo ou latente. 
 
O Tribunal de Versalhes, fulcrou entendimento de que o respeito à dignidade da pessoa humana é um dos componentes da noção de ordem 
pública, e que a autoridade investida do poder de polícia municipal pode, mesmo na ausência de circunstâncias locais específicas, interditar um 
espetáculo atentatório à dignidade da pessoa humana. 
 
Apesar de ser antiga a decisão francesa, mantém relação direta com o Enunciado 23 do CJF segundo o qual a liberdade contratual deve ser 
atenuada quando estiverem presentes interesses individuais relativos
à dignidade humana, o que, em última palavra, corresponde à eficácia 
interna da função social do contrato em prol dos direitos da personalidade. 
 
O que dizer então, dos contratos que envolvem os realities shows e que expõem escatologicamente os seres humanos diante de várias câmaras 
desde mais inocentes poses, até as mais cruéis quando são submetidos a provas degradantes dentro de catres caninos, por horas a fio, a fim de 
galgarem alguma vantagem num jogo... Acirrando-lhes os ânimos tal qual ratos em laboratório... 
 
Num âmbito maior e mais profundo é possível a reflexão hermenêutica sobre o denominado conflito de princípios como aborda Robert Alexy 
registrando que ocorrendo colisão de princípios como a liberdade e a dignidade humana, um deles deve recuar, sem que, no entanto, o princípio 
preterido seja atacado de invalidade, uma vez que, na hipótese concreta, o que aplicou foi apenas uma ponderação de pesos dados aos princípios, 
fazendo que um deles, ou apenas um deles, preponderasse, afastando o outro. 
 
No âmbito mais restrito, o negocial, a reflexão tem viés mais prático, e considerando-se a eventual colisão de princípios[8], como o da liberdade 
(contida fundamentalmente na autonomia privada) daqueles que negociam, e o princípio da função social (do qual decorrem normas cogentes para 
assegurá-lo), que determina restrições a essa mesma liberdade, no âmbito contratual. 
 
Superada a ponderação entre a liberdade e a função social, passa-se analisar o conteúdo das normas que limitam a autonomia privada e suas 
repercussões práticas. As normas restritivas da autonomia privada constituem exceção e não admitem analogia ou interpretação extensiva, 
justamente diante da tão mencionada valorização da liberdade. 
 
Sinaliza o art. 496 do CC que é anulável venda de ascendente para descendente, não havendo autorização dos demais descendentes e do 
cônjuge do alienante. Tal dispositivo também é aplicável a hipoteca, direito real de garantia sobre coisa alheia? A resposta é negativa, pois caso 
contrário, estar-se-ia aplicando o citado artigo por analogia, a uma determinada situação não alcançada pela subsunção da norma jurídica. 
 
Porém, eventualmente se admite que norma restritiva da autonomia privada pode admitir a interpretação extensiva ou a analogia, visando proteger 
a parte mais vulnerável da relação negocial, tal como o trabalhador, o consumidor ou do aderente. 
 
Para reforçar tal constatação, é relevante lembrar-se da proteção constitucional dos vulneráveis, particularmente, os trabalhadores( art. 7º.) e dos 
consumidores( art. 5º., inciso XXXII). E, em relação aos aderentes, a proteção resta consagrada nos arts. 423 e 424 do CC de 2002, onde pode ser 
invocado o princípio da especialidade, segunda parte da isonomia constitucional. 
 
Na célebre “Oração aos moços” o princípio da isonomia tem sentido de que a lei deve tratar de maneira igual os iguais, e de maneira desigual os 
desiguais, na medida de suas desigualdades.[9] 
 
Daí, é fácil constatar que em alguns casos de contratação, existe bem mais que mera autonomia privada, e sim realmente verdadeira necessidade 
de contratara, devendo então a norma restritiva também ser guiada para proteger a pessoa que tem necessidade em todas as fases do negócio. E, 
seguindo a tese do patrimônio mínimo, podemos citar os contratos de plano de saúde e aqueles firmados para aquisição de casa própria, já que 
moradia e a saúde são reconhecidamente protegidas pela Constituição como direitos sociais. O que impõe uma interpretação diferenciada das 
demais contratações. 
 
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Negócio jurídico é o principal meio de funcionamento da autonomia privada e segundo Pontes de Miranda, há três planos a serem analisados: o 
plano de existência, o plano de validade e o plano de eficácia. O plano de existência sempre trouxe dúvidas metodológicas, que foram acentuadas 
com a vigência do C.C. de 2002, posto que não trouxe tratamento específico quanto a esse plano, a fim de dirimir as controvérsias. 
 
Já o art. 104 do CC refere-se diretamente no plano da validade e, ainda o art. 2.035, caput do mesmo diploma legal que também somente faz 
referência à validade e à eficácia. 
 
Então, constatamos que não existe qualquer regulamentação no C.C. quanto à inexistência do negócio jurídico, particularmente quanto às suas 
hipóteses e seus efeitos bem como procedimentos relativos. 
 
Assim com base na concepção ponteana para se galgar a perfeição e a completude do negócio jurídico, deve-se pensar que, em regra, para que 
possa gerar os seus efeitos, é necessário, que primeiro, se pressuponha sua existência e que se verifique a sua validade. E, ipso facto, saber-se-á 
se estará apto à produção de seus efeitos. E, aí estão os três indispensáveis planos ao exame completo de qualquer negócio jurídico. 
 
No entanto, tal regra pode ser quebrada, pois um negócio poderá ser existente, porém inválido, mas pode estar gerando efeitos jurídicos. A título 
de exemplo, um contrato anulável pela lesão (art. 157 do CC) antes de ser proposta a ação anulatória. Sem prejuízo disso, é preciso lembrar que, 
não sendo proposta a ação de anulação, dentro do prazo decadencial de quatro anos, o negócio é convalidado pelo tempo. Passando, a ser, 
portanto, um negócio existente, válido e eficaz. 
 
A anulabilidade de um negócio depende de ação específica conforme pode ser retirado do art. 177 do atual CC e não tem efeito antes de julgada 
por sentença e nem se pronuncia de ofício, somente os interessados a podem alegar e se aproveita exclusivamente aos que a alegarem, salvo o 
caso de solidariedade ou indivisibilidade. 
 
Contrato é negócio jurídico pelo menos bilateral, e conceito derivado da clássica doutrina, embora continuemos a ter um Código Civil que continua 
a não conceituar exatamente o contrato, diferentemente do que fez o Código Civil Italiano de 1942 no seu art. 1.321 , in verb is: “é acordo de duas 
ou mais partes para constituir, regular ou extinguir entre elas uma relação jurídica patrimonial”. 
 
Sem dúvida, há uma nova dimensão conceitual de contrato, considerando os valores existenciais atinentes à proteção da pessoa humana. Paulo 
Nalin conceitua contrato de forma mais contemporânea: “relação jurídica subjetiva, nucleada pela solidariedade constitucional destinada a 
produção de efeitos jurídicos existenciais e patrimoniais, não só entre os particulares, os titulares subjetivos da relação, como também perante 
terceiros.” 
 
Portanto, o perfil contemporâneo de contrato está amparado em valores constitucionais, a eficácia externa da função social e a situação existencial 
dos contratantes. O contrato, portanto é um instituto jurídico em terceira dimensão (3D). 
 
Existem nítidas limitações à autonomia privada na parte geral do Código Civil Brasileiro vigente e as mais notórias limitações estão relacionadas 
com vícios ou defeitos do negócio jurídico do negócio jurídico. O erro ( arts. 138 a 144), o dolo ( arts. 145 a 150), a coação ( arts. 151 a 155), o 
estado de perigo( art. 156) e a lesão (art. 157) sendo os dois últimos novidades trazidas pela atual codificação. 
 
Há ainda dois outros vícios que podem igualmente afetar o negócio jurídico que são denominados vícios sociais: a fraude contra credores (arts. 
158 ao 165) e a simulação ( art. 167) e que atingem a validade e também por conseguinte, a sua eficácia. 
 
Frise-se que havendo erro, dolo, coação, estado de perigo, lesão e fraude contra credores o negócio jurídico é anulável. Enquanto que havendo 
simulação, em qualquer uma das modalidades, o negócio jurídico é nulo. 
 
Ressalte-se que
quanto à revisão contratual específica no caso de lesão, não se decretará a anulação do negócio, se for oferecido suplemento 
suficiente, ou se a parte favorecida concordar com a redução do proveito. É a prevalência do princípio da conservação do contrato, que busca a 
preservação da autonomia privada. Porém, há entendimento de que a regra seria a revisão do negócio e do contrato e não a sua anulação. 
 
É possível que o prejudicado promova ação requerendo diretamente a revisão, e não a anulação negocial diante da lesão. Merece atenção o 
entendimento de aplicação desse dispositivo para outros vícios do negócio jurídico. Isso se deve porque a conservação do contrato, da autonomia 
privada, mantém a relação com a valorização de sua função social. 
 
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Deve-se compreender que essa relação que existe entre a autonomia privada e o negócio jurídico, como perpetuadora de relações negociais vem 
a valorizar a liberdade de contratual e a função social do contrato.Admite-se a revisão, pois se a autonomia privada quando defeituosamente 
realizada. 
 
Merecem atenção as limitações à autonomia privada no CDC, principalmente em face dos contratos de consumo, onde identificamos o dirigismo 
contratual, e com a concepção do Estado Social que veio a substituir o oitocentista Estado Liberal, tendo como principal parâmetro de proteção a 
parte mais vulnerável da relação contratual. 
 
A Lei 8.078/90 veio implementar uma revolução no conceito de contrato, principalmente por sua concepção social e uma tentativa de análise do 
contrato de acordo com o meio que o cerca, assim, o CDC adotou implicitamente o princípio da função social dos contratos. 
 
Frise-se que se trata de um Código protetivo impondo claras limitações à autonomia privada, justamente em prol dos interesses dos consumidores, 
e de forma indireta, propugna também no interesse de toda a coletividade. 
 
Note-se que já existe a limitação prevista no art. 46 pelo qual não haverá vinculação de cláusulas que o consumidor desconheça ou aquelas de 
conteúdo incompreensível. A boa-fé objetiva é prestigiada de forma evidente, e pela exigência de conduta de lealdade e probidade das partes 
contratantes, principalmente relacionada com o dever de informação. Essa boa-fé conduta é mais valorizada ainda no art. 4º, inciso III do CDC. 
 
A quebra do dever de informação gera a não vinculação da cláusula, ou seja, a não aplicação da clássica regra do pacta sunt servanda. Apesar de 
não ser tendente a reconhecer ineficácia da cláusula, nos parece ser caso de invalidade, ou seja, de nulidade absoluta da cláusula, por ser 
abusiva. Mas, não afeta o contrato em sua totalidade. 
 
A maior restrição à autonomia privada no CDC ainda pode ser percebida em seu art. 51 que institui rol apertus clausus (entendimento majoritário 
na doutrina), embora haja quem entenda que se trata de rol fechado e, portanto, numerus clausus. 
 
Não coaduna com espírito do CDC em proteger o consumidor por ser a parte mais frágil na relação negocial termos um rol limitado e fechado. 
Assim é comum que a Secretaria de Direito Econômico, órgão do Ministério da Justiça edite portarias[10] sempre aduzindo novas cláusulas 
abusivas, vindo à aplicação do art. 51 do CDC. 
 
Mais ainda diante da configuração da cláusula abusiva é relevante perceber a significância do princípio da conservação do contrato, esculpido no 
art. 51, §2º da Lei 8.078/90, imputando a possibilidade de revisão do negócio jurídico, o que corre favoravelmente à sua conservação, corrigindo 
também a autonomia privada. 
 
Lembremos que o CDC admite explicitamente a revisão contratual por simples onerosidade excessiva, com adoção franca da teoria da base 
objetiva do negócio jurídico de Karl Larenz. E, também admite a resolução por simples onerosidade excessiva, sem a investigação de fato 
imprevisível ou extraordinária. 
 
Também se limita a autonomia privada, vedando a onerosidade excessiva da cláusula penal, prevendo que as multas de mora decorrentes do 
inadimplemento de obrigação não poderão ser superiores de dois porcento do valor da prestação. A jurisprudência tem entendido que se trata de 
norma de ordem pública como tantas outras do CDC, o que impõe que a liberdade contratual não pode contrariar a importante previsão. 
 
Portanto, é cabível a redução da cláusula penal, de ofício pelo juiz. Ainda há a cláusula protetiva, no art. 53, caput do CDC, bem como nas 
alienações fiduciárias em garantia, considerando-se nulas de pleno direito as cláusulas que estabeleçam a perda total das prestações já pagas, em 
benefício do credor que, em razão do inadimplemento, pleitear a resolução do contrato e a retomada do produto alienado. 
 
A construção contratual é ampla e podemos conceituar o contrato de adesão como aquele que o estipulante impõe o conteúdo do negócio, 
restando ao aderente duas únicas opções a saber: aceitá-lo in totum ou não ( “take it ou leave i”t, ou seja, pegue-o ou abandone-o). 
 
Mas cumpre não confundir contrato de adesão com o contrato de consumo em decorrência dos arts. 2º. e 3º da Lei 8.078/90. O conceito do 
contrato de adesão reside no art. 54 do CDC e descobre-se que a inserção de cláusula no formulário não desfigura a natureza de adesão do 
contrato. 
 
Sem prejuízo desta regra, nos contratos de adesão se admite cláusula resolutória, desde que alternativa, cabendo a escolha ao consumidor (art.54, 
segundo parágrafo do CDC). Diante do dever de informar, anexo ao princípio da boa-fé objetiva, os contratos de adesão escritos serão redigidas 
com destaque, permitindo sua imediata e fácil compreensão. (art. 54, quarto parágrafo). 
10 
 
As normas também restringem a autonomia privada em prol do consumidor-aderente. Sem prejuízo dessas regras consumeristas, o Código Civil de 
2002 também traz duas outras normas de proteção ao contratante-aderente (arts. 423 e 424), e que ainda serão analisadas neste estudo. 
 
Em conclusão, o que se pode concluir, é que o CC institui uma série de intervenções à liberdade contratual, possibilitando justo controle do 
conteúdo negocial de consumo. E, ainda instituiu proteção relacionando regras que regulam à publicidade e à oferta (arts. 30 a 38 do CDC). 
 
O diálogo das fontes é mesmo recomendável em face da proximidade na regulamentação dos contratos tanto pelo CC de 2002 como pelo CDC e, 
ainda é endossado pelo Enunciado 167 do CJF que admite francamente que tanto um como outro diploma legal propõe a regulação contratual 
dentro de uma nova teoria geral dos contratos. 
 
A tese do diálogo das fontes trava um diálogo de coerência, conexão, de complementaridade, é atribuída ao jurista alemão Erik Jayme e foi trazida 
para o Brasil pela Cláudia Lima Marques. 
 
Cumpre mencionar que no art. 421 do CC há dois erros técnicos redacionais ressaltados tanto por Antonio Junqueira de Azevedo e Álvaro Villaça 
Azevedo pois o referido artigo deveria mencionar liberdade contratual e não liberdade de contratar, eis que a função social dos pactos limita a 
primeira e não propriamente a segunda. Ademais a função social do contrato não é em razão do contrato. Pois a razão do contrato é justamente a 
autonomia privada. 
 
Assim resta evidente que a autonomia privada é limitada pela função social do contrato, ou seja, indica qual finalidade exerce o pacto perante o 
meio que o cerca, bem como sua utilidade em face dos demais membros da coletividade. 
 
Além dessa limitação, há igualmente a exigência do princípio da boa-fé objetiva devendo ser observado durante toda formação contratual, ou seja, 
nos primórdios, na formação, na execução e, até mesmo
depois desta. 
 
A exigência de lealdade também constitui clara restrição à autonomia privada eis que poderá sua transgressão constituir abuso de direito, ou até 
constituir cláusula abusiva no contrato de consumo. 
 
Presume o CDC tal qual a CLT como vulnerável uma das partes da relação contratual, o aderente que exerce um grau mínimo de autonomia 
privada, manifestando consentimento simplificado. 
 
Cumpre ainda apontar o art. 426 do CC que veda os pactos sucessórios os chamados pacta corvina que dispõe expressamente que não pode ser 
o objeto de contrato a herança de pessoa viva. Riscando assim notória separação entre os direitos pessoais inter vivos e os direitos pessoais 
mortis causa, não sendo permitidos contratos sucessórios. 
 
Trata-se de nulidade absoluta virtual pois a lei proíbe o ato sem cominar sanção direta( art. 166, inciso VII, segunda parte do C.C.). 
 
Também a onerosidade excessiva constitui outra restrição à autonomia privada, e tal limitação se extrai dos arts. 317 e 478 do CC e, pela 
conjugação desses dispositivos, está consagrada no ordenamento civil pátrio, a revisão contratual, ou mesmo de resolução do contrato, em razão 
da ocorrência de fato superveniente, constituindo-se em fato imprevisível e extraordinário, tudo somando a uma onerosidade excessiva. 
 
Vige, aliás, grande divergência doutrinária quanto à teoria enfim adotado pelo CC quanto à revisão ou resolução contratual por fato superveniente. 
Alguns juristas entendem que o CC de 2002 adotou a teoria da imprevisão cuja origem reside na cláusula rebus sic stantibus (Álvaro Villaça) mas 
há também forte corrente doutrinária no sentido de que foi adotada a teoria da onerosidade excessiva cuja inspiração é do Código Civil Italiano de 
1942 (Judith Martins-Costa). 
 
Trata-se de questão inquestionavelmente controvertida, e alvo de nenhum consenso tanto na III Jornada de Direito Civil do CJF como na IV 
Jornada (2006). De fato, art. 478 de nossa codificação corresponde ao art. 1.467 do Código Civil Italiano, no entanto, o art. 317 do nosso codex 
civil não guarda correspondência com o diploma italiano. 
 
A partir dessas pequenas constatações, pode-se concluir que o CC de 2002 traz a revisão contratual por fato superveniente diante de uma 
imprevisibilidade somada a uma onerosidade excessiva. 
 
11 
A vedação quanto à onerosidade excessiva atinge a cláusula penal, que não pode ser superior a obrigação principal (art. 412 do CC). No que tange 
aos contratos em espécie, existem várias restrições à autonomia privada, como por exemplo: compra e venda, a doação e a locação regida pela 
C.C. 
 
Quanto à compra e venda, continua haver no codex específicas limitações, como a restrição de venda de ascendente para descendente, da venda 
entre cônjuges (art. 499), de venda de bens sob administração (art. 497) e da venda de coisa comum em condomínio (art. 504) 
 
Quanto à compra e venda, o limite somente vige quanto a venda de ascendente para descendente, e não a situação inversa, envolvendo a venda 
de descendente para ascendente. 
 
Quanto à venda entre os cônjuges, somente admite quanto aos bens excluídos da comunhão havida pelo regime de bens adotado. A norma em 
questão em verdade não puramente restritiva. 
 
Pode o art. 499 do CC ser aplicado por analogia à união estável, sendo que in albis, aplica-se o regime legal de comunhão parcial de bens, salvo 
de houver contrato de convivência dispondo o contrário. Alerta-se que a venda entre cônjuges não poderá ser realizada com fraude contra 
credores, fraude à execução ou simulação. No primeiro caso, será anulável, no segundo caso será ineficaz e no terceiro e último caso será nulo. 
 
O art. 497 do CC que trata de venda de bens sob administração, traz autêntica limitação à liberdade de contratar em prol da ordem e da moralidade 
pública. É caso de nulidade absoluta e textual conforme os termos do art. 166, inciso VI do C.C. 
 
Quanto ao contrato de doação a vedação refere-se à doação universal, consoante o art. 548 do CC e que visa à manutenção do patrimônio mínimo 
da pessoa, daí ser caso de nulidade absoluta textual. 
 
E continua vedando a doação inoficiosa, como aquela que atinge a legítima que é quota intangível dos herdeiros necessários (art. 549 do CC), faz- 
notar criticável apenas prever mera anulabilidade no caso de doação do cônjuge adúltero ao seu cúmplice. 
 
Outro caso é de compra e venda quanto no caso de doação, há previsão comum de exigência da outorga uxória ou marital como regra de 
legitimação, nos termos do art. 1647 do CC. 
 
A conseqüência é mera nulidade relativa conforme dispõe o art. 1.649 do CC. A norma não se aplica à união estável pois não se exige a outorga 
convivencial. Ademais, as locações não regidas pela Lei 8.245/1991, o CC de 2002 traz outras limitações à autonomia privada. 
 
Em linhas finais pode-se afirmar que o princípio da autonomia privada veio substituir a autonomia da vontade em face da valorização da dignidade 
da pessoa humana, portanto a autonomia não é da vontade, e sim da pessoa. Ademais, nota-se mitigação do poder jurígeno da vontade no 
cenário contemporâneo negocial. 
 
A notória valorização constitucional da liberdade faz com que não admitiremos que as normas restritivas da autonomia privada sejam interpretadas 
extensivamente ou por analogia. Assim, em confronto a proteção da liberdade e do patrimônio. Deve-se dar primazia à liberdade, e sempre em prol 
da parte vulnerável da relação contratual, como é o caso do trabalhador, do consumidor e do aderente. 
 
A natureza normativa do Código Civil de 2002 exemplifica clara intervenção estatal com a recepção ativa do princípio da função social do contrato, 
da boa-fé objetiva e com a vedação da onerosidade excessiva, na vedação do enriquecimento sem causa, da cláusula penal desproporcional, além 
de outras normas que restringem à autonomia privada nos contratos em espécie. 
 
 
 
Referências 
HIRONAKA, Giselda M. F. Novaes e Flávio Tartuce. (coordenação). Direito Contratual. Temas atuais. São Paulo, Grupo Gen, Editora Método, 
2009. 
 
Notas: 
[1] Canotilho afasta qualquer tentativa de renúncia a direitos fundamentais nas relações especiais de poder ou nas relações jurídicas especiais, 
apontando, ao revés, para três hipóteses possíveis, cumulativamente consideradas: i) a restrição específica de alguns direitos fundamentais; ii) a 
indispensabilidade de lei restritiva específica para tanto; iii) a proteção jurídica dos cidadãos submetidos a relações jurídicas especiais. 
12 
[2] O princípio da função social do contrato, insculpido no artigo 421 do Novo Código Civil, é um ‘mandado de otimização’, sendo certo que a 
‘função social’ é um fator limitativo da liberdade de contratar, inclusive no que se refere ao próprio conteúdo contratual. João Hora Neto( in: 
http://bdjur.stj.gov.br/xmlui/bitstream/handle/2011/22538/principio_funcao_social_contrato.pdf?sequence=1 ). 
[3] A vontade psicológica só se converte em jurídica com o concurso de dois fatores que se engrenam numa unidade atual: a vontade real, dirigida 
a um fim protegido pelo direito; e a declaração seu prolongamento perceptível que é a manifestação externa realizada para aquele resultado 
juridicamente 
relevante(in:http://74.125.47.132/search?q=cache:UsvnOHe4u0J:www.boletimjuridico.com.br/doutrina/texto.asp%3Fid%3D108+%22declara%C3%
A7%C3%A3o+de+vontade+ou+a+vontade%22&cd=4&hl=pt-BR&ct=clnk&gl=br ). 
[4] Quanto à essa proteção, que coloca os direitos da personalidade e os direitos patrimoniais no mesmo plano, vale como consulta todo o trabalho
doutrinário construído por Luiz Edson Fachin, na sua tão aclamada obra “Estatuto Jurídico do Patrimônio Mínimo”, em que é apontada a tendência 
de “repersonalização do direito privado” como um todo (Rio de Janeiro: Editora Renovar, 2001). 
[5] A tendência constitucional é pela função social dos institutos jurídicos, do que se precisa incluir a empresa como operadora de um mercado 
socialmente socializado. Lembremos que a função social do contrato, contamina outros institutos jurídicos como a empresa, a família, a 
responsabilidade civil e, enfim, todo direito privado. 
[6] Que correspondeu por outro lado, a não relativização dos direitos fundamentais, principalmente aqueles ligados diretamente à dignidade da 
pessoa humana, permitindo patrimônio mínimo, proteção máxima diante ao desequilíbrio do sinalagma contratual. 
[7] O que constitui um dos objetivos estratégicos do Ministério Público. ( in: 
http://74.125.47.132/search?q=cache:gfk1Xdl4XY8J:www.apmp.com.br/diremacao/gruposestudos/conclusoes/resumo_cesar_salgado.doc+%22con
stru%C3%A7%C3%A3o+de+sociedade+livre,+justa+e+solid%C3%A1ria%22&cd=4&hl=pt-BR&ct=clnk&gl=br ). 
[8] A proporcionalidade é, segundo Alexy, informada por três máximas: (A) Adequação: a solução de uma colisão de princípios é adequada quando 
realiza o mandamento de pelo menos um dos princípios envolvidos. (B) Necessidade: a solução de uma colisão de princípios é necessária se 
realiza o mandamento de um dos princípios envolvidos com o menor sacrifício possível dos outros princípios envolvidos. (C) Proporcionalidade em 
sentido estrito: uma solução é proporcional se dá precedência ao princípio que, em vista das circunstâncias do caso concreto, tem de fato mais 
peso. 
[9] Daí ser curial lembrar da igualdade entre cônjuges, igualdade entre os filhos independentemente de sua origem. E, outras igualdades que 
exigem isonomia no tratamento e na tutela jurídica e jurisdicional. 
[10] http://www.advocaciaassociada.com.br/informacoes.asp?IdSiteAdv=2803&action=exibir&idinfo=1042. 
 
13 
Texto de Leitura Complementar: Notas sobre a constitucionalização do direito civil: da individualidade à socialidade, de autoria de Adriane 
Medianeira Toaldo, Mestre em Direito pela Universidade de Santa Cruz do Sul, RS, UNISC. Especialista em Direito Civil e Processo Civil pelo 
Instituto Ritter dos Reis, Canoas, RS. Professora da Graduação e Pós-Graduação em Direito Processual Civil na Universidade Luterana do Brasil, 
ULBRA – Campus Santa Maria. Advogada. 
 
NOTAS SOBRE A CONSTITUCIONALIZAÇÃO DO DIREITO CIVIL: DA INDIVIDUALIDADE À SOCIALIDADE 
 
1 Introdução 
 
O presente trabalho tem a finalidade de promover a análise do direito civil à luz dos princípios e garantias constitucionais, em face da 
constitucionalização do direito civil, porque profundas foram as transformações, em especial, nas relações jurídicas privadas promovidas com o 
advento da Constituição Federal de 1988. 
 
A Constituição de 1988, ao eleger a dignidade da pessoa humana e o pleno exercício da cidadania como fundamentos da nova ordem jurídica e 
social, e ao consagrar a justiça comutativa, promoveu uma profunda alteração nos valores jurídicos, obrigando assim a revisão dos conceitos e 
finalidades dos vários institutos jurídicos. 
 
Pode-se assim dizer que a Constituição Federal de 1988 interferiu e alterou sobremaneira nosso direito privado, baseado em interesses individuais. 
Essa interferência vem sendo denominada constitucionalização do direito civil, fato esse que tem propiciado o estudo deste à luz do texto 
constitucional. 
 
Para a compreensão dessa nova ordem jurídica, a discussão, acerca da existência de um espaço entre o direito público e o direito privado, é o 
ponto de partida da presente reflexão. Atualmente, nega-se a grande dicotomia entre direito público e direito privado nos moldes clássicos em que 
essa divisão de conteúdo ficou conhecida, em face da emergência de uma esfera social publicamente relevante. 
 
O Código Civil não mais se localiza no centro das relações de direito privado. Tal pólo foi deslocado, a partir da consciência da unidade do sistema 
e do respeito à hierarquia das fontes normativas, para a Constituição, base única dos princípios fundamentais do ordenamento. Isso é uma 
decorrência da intervenção cada vez mais acentuada do público sobre o particular, na consagração do primado do social sobre o individual. 
 
Isso representa um dos pontos essenciais que a pesquisa pretende assentar. Atualmente, o direito privado também contempla normas de ordem 
pública, contém preceitos de interesse geral e os seus institutos possuem marcada função social. 
 
Diante dessas premissas, o propósito é examinar, em renovada perspectiva, as relações entre o direito público – Constituição – e o direito privado 
– direito civil – bem como a influência da Constituição Federal no sistema privado mediante a atenção para os reflexos dos valores, princípios e 
direitos fundamentais constitucionais. 
 
2 A Superação do Sistema do Direito Privado Clássico 
 
De acordo com a tradição do direito civil clássico, o âmbito de estudo do direito privado partia e findava no exame do Código Civil. Tal Código, 
como se sabe, é fruto das doutrinas individualista e voluntarista que, consagradas pelo Código de Napoleão e incorporadas pelas codificações do 
século XIX, inspiraram o legislador brasileiro a redigir o nosso Código Civil de 1916. Nessa época, o valor fundamental era o indivíduo e as 
situações de natureza patrimoniais. Dessa forma, a codificação do direito privado traduzia determinado modelo de sistema, constituindo o “espelho 
e metáfora do sistema fechado”,[1] o que levou ao declínio do Código oitocentista. Gustavo Tepedino muito bem resume a filosofia dessa 
codificação: 
 
“O direito privado tratava de regular, do ponto de vista formal, a atuação dos sujeitos de direito, notadamente o contratante e o proprietário, os 
quais, por sua vez, a nada aspiravam senão ao aniquilamento de todos os privilégios feudais: poder contratar, fazer circular as riquezas, adquirir 
bens como expansão da própria inteligência e personalidade, sem restrições ou entraves legais. Eis aí a filosofia do século XIX, que marcou a 
elaboração do tecido normativo consubstanciado no Código Civil.”[2] 
 
O sistema clássico do direito civil, que possui tais categorias como fundamento, está em crise, ou seja, não mais se coaduna com a realidade atual. 
Outro é o horizonte contemporâneo. No entanto, a crise do sistema privado clássico suscita, antes de mais nada, questões concernentes à sua 
historicidade. É, para esse norte, que aponta a refinada lição de Clóvis do Couto e Silva: 
 
14 
“Para conhecer a situação atual de um sistema jurídico, ainda que em suas grandes linhas, é necessário ter uma idéia de seu desenvolvimento 
histórico, das influências que lhe marcaram as soluções no curso dos tempos. De outro modo, ter-se-á a justaposição de soluções jurídicas, sem 
que se defina a sua estrutura íntima. Convém, assim, examinar a posição do direito de determinado país em face dos Códigos mais influentes e, 
nesse caso, não haverá dúvida que a questão é a de saber em que medida o direito privado brasileiro, especialmente o Código Civil Brasileiro, 
sofreu influência do Código Napoleônico, ou do Código Civil Germânico, de 1900, levando-se em conta o fato de que ele foi publicado em 1916.”[3] 
 
Afirmava-se que, o Código Civil brasileiro, como os outros Códigos de sua época, era a “Constituição do direito privado”. O direito público, por sua 
vez, não interferia na esfera privada. Desse modo, o Código Civil, assumia, portanto, o
papel de estatuto único e monopolizador das relações 
privadas. 
 
Tal quadro começa a se redefinir gradativamente na Europa, desde o início do século XX e, no Brasil, depois da década de 30, com a maciça 
intervenção do Estado na economia e, com o processo daí decorrente, de restrição à autonomia privada, ao qual se associa o fenômeno conhecido 
como dirigismo contratual. A intensificação desse processo intervencionista subtrai, do Código Civil, inteiros setores da atividade privada, quando o 
legislador se movimenta então mediante leis extracodificadas. 
 
A partir de então, altera-se profundamente o papel do Código Civil que perde seu caráter de exclusividade na regulação das relações patrimoniais 
privadas, ou seja, “a disciplina codificada deixa de representar o direito exclusivo, transformando-se em centro normativo do direito comum”,[4] ao 
lado do qual, proliferam as leis especiais, destinadas a regular novos institutos, surgidos com a evolução econômica e não-previstas pelo 
codificador. Constituíram, por isso mesmo, o direito especial. 
 
Posteriormente, em face das profundas transformações econômicas, o Código Civil perde sua função de normatização do direito comum. Verifica-
se, com efeito, que inteiras matérias são subtraídas da esfera codificada e não mais apenas os institutos do chamado direito especial. Anuncia-se a 
era dos estatutos. Assim é que surgiram, ao longo do tempo, numerosos estatutos, bastando indicar, a título de exemplo, o Estatuto da Criança e 
do Adolescente. Mas, em matéria de contratos, hoje avulta a importância do Código de Defesa do Consumidor. 
 
Esse longo percurso histórico, em que as leis esparsas esvaziaram a disciplina codificada, caracteriza o que se convencionou chamar de processo 
de descodificação do direito civil, com o deslocamento do centro de gravidade do direito privado, do Código Civil, antes denominado de 
monossistema, para uma pluralidade de estatutos, configurando-se um polissistema, verdadeiros microssistemas do direto privado. A respeito do 
sistema de descodificação, Francisco dos Santos Amaral Neto define como 
 
“[...] um fenômeno contemporâneo que consiste na fragmentação do sistema unitário do Código Civil, com a proliferação de leis civis especiais que 
reduzem o primado do Código e criam uma pluralidade de núcleos legislativos, os chamados microssistemas jurídicos. Representa o ocaso dos 
Códigos civis e a passagem do monossistema jurídico da modernidade centralizado no Código, ao polissistema, centralizado na Constituição”.[5] 
 
Daí reconhecer o “despovoamento dos núcleos mais centrais do direito privado tradicional”.[6] Entretanto, a unidade do ordenamento não está 
confiada nem à continuidade dos valores do vetusto Código Civil, nem aos valores emergentes na forma de legislação extravagante, 
freqüentemente contraditórios e conflituais, mas aos valores e princípios constitucionais.[7] 
 
A partir do longo processo de industrialização, que tem curso na primeira metade do século XX, verifica-se a introdução nas Cartas Políticas e nas 
grandes Constituições do pós-guerra, de princípios e normas que estabelecem deveres sociais no desenvolvimento da atividade privada, como 
observa Gustavo Tepedino: 
 
“O Código Civil perde, assim, definitivamente, o seu papel de Constituição do direito privado. Os textos constitucionais paulatinamente, definem 
princípios relacionados a temas antes reservados exclusivamente ao Código Civil e ao império da vontade: a função social da propriedade, os 
limites da atividade econômica, a organização da família, matérias típicas do direito privado, passam a integrar uma nova ordem pública 
constitucional. Por outro lado, o próprio direito civil, através da legislação extracodificada, desloca sua preocupação central, que já não se volta 
tanto para o indivíduo, senão para as atividades por ele desenvolvidas e os riscos dela decorrentes”.[8] 
 
Dessa forma, a Constituição Federal, de 1988 passou a disciplinar diretamente matéria que, até então, era exclusiva do Código Civil, o que 
inaugura uma nova fase e um novo papel para o Estatuto Civil. Daí dizer que o Código Civil perdeu, para a Constituição, a posição de centralidade 
da ordem jurídica. 
 
Consolida-se assim o entendimento de que a unidade do sistema só pode ser compreendida com a atribuição do papel centralizador à 
Constituição: 
 
15 
“Se o Código Civil mostra-se ineficaz – até mesmo por sua posição hierárquica – de infomar, com princípios estáveis, as regras contidas nos 
diversos estatutos, não parece haver dúvida que o texto constitucional poderá fazê-lo, já que o constituinte, deliberadamente, através de princípios 
e normas, interveio nas relações de direito privado, determinando, conseguintemente, os critérios interpretativos de cada uma das leis especiais. 
Recupera-se, assim, o universo desfeito, reunificando-se o sistema.”[9] 
 
Na mesma direção, Pietro Perlingieri afirma que: 
 
“O Código Civil certamente perdeu a centralidade de outrora. O papel unificador do sistema, tanto nos seus aspectos mais trad icionalmente 
civilísticos quanto naqueles de relevância publicística, é desempenhado de maneira cada vez mais incisiva pelo Texto Constitucional.”[10] 
 
Conforme aduz Konrad Hesse, “el derecho constitucional ofrece al derecho privado directrices e impulsos que son, considerablemente importantes, 
en particular, para una evolución adecuada del derecho privado. Corresponde al derecho constitucional una función de guia”.[11] 
 
Assim, tem-se reconhecido a aplicação das normas e princípios constitucionais nas relações privadas. Com isso, mostra-se superada a teoria 
tradicional do direito civil, chegando-se ao ponto de se apregoar a existência de um direito da pós-modernidade. 
 
Dá-se particular relevo à elaboração do direito com base em princípios e directivas ou standards, reconhecendo “que o centro de gravidade se vai 
deslocando lentamente do sistema codificado para uma casuística judicial orientada por princípios”. Entretanto, há diferença entre princípios e 
normas jurídicas. Para Herbert L. A. Hart há, pelo menos, dois aspectos que os distinguem das regras: 
 
“O primeiro é uma questão de grau: os princípios são, relativamente às regras, extensos, gerais ou não específicos, no sentido de que, com 
freqüência, aquilo que seria encarado como um número de regras diferentes pode ser apontado como exemplificações ou ilustrações de um único 
princípio. O segundo aspecto reside em que os princípios, porque se referem mais ou menos explicitamente a um certo objectivo, finalidade, direito 
ou valor, são encarados, a partir de certo ponto de vista, como desejáveis de manter ou de ser objecto de adesão, e, por isso, não apenas 
enquanto capazes de fornecer uma explicação ou fundamento lógico das regras que os exemplificam, mas também, pelo menos, enquanto 
capazes de contribuir para a justificação destas.”[12] 
 
Substitui-se assim o modelo de sistema fechado e totalizante, dos Códigos oitocentistas por um modelo de sistema relativamente aberto, no qual 
ganha espaço um Código rico em “cláusulas gerais”,[13] dotado de mecanismos flexíveis, facilmente adaptáveis às novas situações da vida 
contemporânea, permitindo a mobilidade do sistema jurídico, como bem ponderou Judith Martins-Costa[14]. Trata-se de um novo Código informado 
pelos princípios constitucionais fundamentais, preocupado com a dignidade da pessoa humana. 
 
Como resultado da nova ordem constituída, no momento histórico atual, caminha-se na direção da “socialização”, “publicização”, 
“constitucionalização” e “despatrimonialização” do direito privado. Sobre esse tema,
Michele Giorgianni sublinha: 
 
“Que deste modo, o Direito Privado tenha perdido o caráter de tutela exclusiva do indivíduo para “socializar-se”, como se costuma dizer, não se 
poderia colocar em dúvida. Não se deveria duvidar, por outro lado, seja dito incidentalmente, que a atividade econômica privada já transcende as 
fronteiras das relações entre indivíduos, e penetrou no centro do corpo social através de dilatadas dimensões da empresa econômica e através da 
possibilidade de satisfazer um número e uma variedade de necessidades antes nem mesmo imagináveis. Esta “socialização” já impregnou 
intimamente todos os institutos do Direito Privado”.[15] 
 
Com a socialização dos institutos de direito privado, visa-se a priorizar, sobretudo, a pessoa humana: 
 
“[...] enquanto o Código dá prevalência e precedência às situações patrimoniais, no novo sistema de Direito Civil fundado pela Constituição a 
prevalência é de ser atribuída às situações existenciais, ou não patrimoniais, porque à pessoa humana deve o ordenamento jurídico inteiro, e o 
ordenamento civil em particular, dar a garantia e a tutela prioritárias. Por isto, neste novo sistema, passam a ser tuteladas, com prioridade, as 
pessoas das crianças, dos adolescentes, dos idosos, dos consumidores, dos não-proprietários, dos contratantes em situação de inferioridade, dos 
membros da família, das vítimas de acidentes anônimos e de atentados a direitos da personalidade.”[16] 
 
Há aqui, em verdade, a “constitucionalização do direito civil” que deve ser lida à luz da Constituição e que, segundo Paulo Luiz Neto Lôbo, “é o 
processo de elevação ao plano constitucional dos princípios fundamentais do direito civil, que passam a condicionar a observância pelos cidadãos, 
e a aplicação pelos tribunais, da legislação infraconstitucional”.[17] Constitui também a etapa mais importante do processo de transformação ou de 
mudanças de paradigmas, por que passou o direito civil, trânsito do Estado liberal para o Estado social. 
 
16 
O fenômeno da “constitucionalização” não se resume à noção de Constituição em sentido formal, pois, se assim o fosse, cambiar-se-ia a 
codificação civil por um “macrocódigo”, o que não procede, consoante leciona Marcela Castro de Cifuentes: 
 
“Si bien el derecho privado debe acoger e incorporar los principios y valores de la nueva Constitución y sobre todo debe propugnar por las medidas 
que tiendan a evitar o remediar la inequidad, no todos los conflictos entre particulares deben constitucionalizarse. Como lo afirma el autor Mathias 
Herdeger ‘De llevar todos los conflictos jurídicos al campo constitucional, cobraría vigencia a metáfora griega del rey Midas, quien convertía en oro 
todo lo que tocaba, de manera que arriesgaba su propia vida por falta de pan. De manera similar, una excesiva constitucionalización del derecho, 
podría ocasionar un anquilosamiento del derecho, acabando así, con el campo de acción requerido y reclamado por el legislador dentro del corsete 
constitucional.”[18] 
 
A compreensão da “constitucionalização do direito civil”, não pode prescindir do estudo do papel da Constituição para o direito civil, bem como do 
reexame da tradicional separação entre o direito público e o direito privado. 
 
3 O Direito Civil Constitucional 
 
Pelas considerações anteriormente realizadas, resta claro que o direito civil está constitucionalizado, e há uma indistinta e direta aplicação da 
norma constitucional às relações privadas. Assim, toda visão do direito civil passa necessariamente por uma releitura, tendo como cerne principal a 
nova ótica descrita na Carta Magna. 
 
De acordo com Maria Celina Bodin de Moraes Tepedino, “o direito civil constitucionalizado”, isto é, o direito civil, transformado pela normativa 
constitucional, tem como fundamento a superação da lógica patrimonial (proprietária, produtivista, empresarial) pelos valores existenciais da 
pessoa humana que se tornam prioritários no âmbito do direito civil, porque privilegiados pela Constituição.[19] 
 
A adjetivação atribuída ao direito civil, que se diz “constitucionalizado”, “socializado”, “despatrimonializado”, ressalta o trabalho que incumbe ao 
intérprete, de reler a legislação civil à luz da Constituição, de modo a privilegiar os valores não-patrimoniais, a dignidade da pessoa humana, o 
desenvolvimento de sua personalidade, os direitos sociais e a justiça comutativa, à qual devem submeter-se a iniciativa econômica privada e as 
situações jurídicas patrimoniais. Nesse contexto, merece transcrição a lição de Paulo Luiz Neto Lôbo: 
 
“A patrimonialização das relações civis, que persiste nos códigos, é incompatível com os valores da dignidade da pessoa humana, adotada pelas 
constituições modernas, inclusive pela brasileira (artigo 1°, III). A repersonalização reencontra a trajetória da longa história da emancipação 
humana, no sentido de repor a pessoa humana como centro do direito civil, passando o patrimônio ao papel de coadjuvante, nem sempre 
necessário”.[20] 
 
A restauração da primazia da pessoa humana, nas relações civis, é condição indispensável de adequação do direito à realidade e aos 
fundamentos constitucionais. Passa o direito civil, então desvencilhado de suas matizes originais, a atender aos interesses não mais presos à 
autodeterminação do indivíduo frente ao Estado e seus demais pares, mas à própria existência da sociedade de que se faz parte e se está inserto. 
 
Interessante é a observação de Maria Celina Bodin de Moraes, no que se refere ao “direito civil constitucional”: 
 
“Pode-se falar em ‘Direito Civil Constitucional’ em pelo menos dois significados: sob um ponto de vista formal, é direito civil constitucional toda 
disposição de conteúdo historicamente civilístico contemplada pelo Texto Maior; isto é, todas as disposições relativas ao clássico tripé do direito 
civil – pessoa, família e patrimônio -, porque presentes na Constituição, compõem o direito civil constitucional. O outro significado atribuído à 
expressão ‘Direito Civil Constitucional’ é o que aqui nos interessa: de acordo com este segundo significado, é direito civil constitucional todo o 
direito civil e não apenas aquele que recebe expressa indumentária constitucional, desde que se imprima às disposições de natureza civil uma 
ótica de análise através da qual se pressupõe a incidência direta, e imediata, das regras e dos princípios constitucionais sobre todas as relações 
interprivadas”.[21] 
 
Pode-se concluir, com base nas lições da referida autora, que “a articulação entre a eficácia normativa dos princípios e a abertura do sistema 
jurídico através da aplicação dos princípios constitucionais é o que serve a fundamentar metodologicamente a reconstrução do direito civil em 
chave constitucional”. 
 
Desse modo, “a renovação do direito civil brasileiro tem no chamado ‘direito civil constitucional’, o seu mais firme ponto de apoio”.[22] Infelizmente, 
com muita freqüência, ignoram-se as potencialidades do direito civil constitucional que nasceu para ser aplicado e não para ficar preso às páginas 
dos livros. 
 
17 
4 A Superação da Dicotomia Direito Público/Direito Privado 
 
Na ótica da ordem jurídica, a distinção entre direito público e direito privado constitui uma noção histórica, tradicionalmente dominante em todo o 
direito civil codificado. Nesse universo jurídico, o direito privado insere-se no âmbito dos direitos naturais e inatos dos indivíduos; o direito público, 
por sua vez, é aquele emanado pelo Estado para a tutela de interesses gerais. Visão essa que sobrevive desde os romanos. Havia então a esfera 
do Estado contraposta
à esfera da sociedade civil. 
 
Todavia, com a crescente complexidade do direito e de suas instituições, a distinção merece ser repensada. A concepção original resta ameaçada 
à medida que o interesse individual, o social e o estatal assumem contornos de difícil separação, como observa Silvio Augusto de Bastos Meira: 
 
“A divisão dicotômica em direito público e direito privado, de remotas origens romanas, se desfigura ante a trepidação do século, em que o 
interesse individual, o social e o estatal se entrelaçam de tal forma que nem sempre é fácil estabelecer suas fronteiras e as suas prioridades”[23]. 
 
Não há como negar que o direito público e o direito privado se complementam, não devendo perder-se de vista, outrossim, que o público não se 
esgota no estatal. 
 
Não resta dúvida que a distinção entre direito privado e público está em profunda crise, pois em uma sociedade como a atual “torna-se difícil 
individuar um interesse particular, que seja completamente autônomo, independente, isolado do interesse dito público”. Essa dificuldade aumenta 
ainda mais, diante das categorias de interesses difusos, coletivos e individuais homogêneos (CDC, art. 81). 
 
A divisão do direito não pode permanecer ancorada àqueles tradicionais conceitos, mas se transforma em distinção meramente “quantitativa”, 
segundo preleciona Pietro Perlingieri: 
 
“Técnicas e institutos nascidos no campo do direito privado tradicional são utilizados naquele do direito público e vice-versa, de maneira que a 
distinção, neste contexto, não é mais qualitativa, mas quantitativa. Existem institutos em que é predominante o interesse dos indivíduos, mas é, 
também, sempre presente o interesse dito da coletividade e público; e institutos em que, ao contrário, prevalece, em termos quantitativos, o 
interesse da coletividade, que é sempre funcionalizado, na sua íntima essência, à realização de interesses individuais e existenciais dos 
cidadãos.”[24] 
 
Passou-se assim a visualizar a incidência de uma perspectiva de ordem pública sobre o ordenamento privado, como um sinal de decadência do 
direito privado. No entanto, não cabe ver o direito privado e, sobretudo, o direito civil como uma espécie de antítese ao direito público, como lugar 
em que os particulares estejam a salvo das ingerências do Estado. A atividade do Estado, contemporaneamente, não deve ser pautada pela cega 
subordinação do indivíduo, mas pela atuação do valor constitucional do respeito à dignidade da pessoa humana (CF de 1988, art. 1º, inc. III). 
 
Diante desse cenário, os confins do público e do privado apontam intentos de harmonização, no dizer de Giorgio Oppo: “Non si tratta – neppure 
nella congiuntura attuale – di difendere gelosamente il privato ma di perseguire, in scelte certamente non facili, una effetiva armonia tra privato e 
pubblico”.[25] 
 
Efetivamente, com a acolhida da tese de unidade do ordenamento jurídico, mostra-se superada a clássica dicotomia direito público-direito privado: 
 
“Acolher a construção da unidade (hierarquicamente sistematizada) do ordenamento jurídico significa sustentar que seus princípios superiores, isto 
é, os valores propugnados pela Constituição, estão presentes em todos os recantos do tecido normativo, resultando, em conseqüência, inaceitável 
a rígida contraposição direito público-direito privado. Os princípios e valores constitucionais devem se estender a todas as normas do ordenamento, 
sob pena de se admitir a concepção de um ‘mondo in frammenti’, logicamente incompatível com a idéia de sistema unitário.”[26] 
 
Diante do abandono da dicotomia clássica, o interesse coletivo e os interesses dos particulares devem ser pesados na mesma balança. Dessa 
forma, hodiernamente, não se pode mais aceitar o esquema que separa o Estado e sociedade civil, e concebe, de um lado, a Constituição como lei 
do Estado e, de outro, o direito privado como ordenamento da sociedade civil, e que vê certas normas constitucionais como intromissões em um 
setor estranho, reservado aos particulares. Tal concepção pressupõe o direito privado como uma dimensão rígida, apolítica e aistórica. Ao 
contrário, é necessário trazer a lume o valor político das normas de direito privado e definir as suas funções em relação ao sistema sociopolítico-
econômico. 
 
A superação da dicotomia direito público-direito privado favorece que se reconheça a incidência dos valores e princípios constitucionais na 
disciplina civilística, priorizando a pessoa humana, sua dignidade, sua personalidade e seu livre desenvolvimento. 
 
18 
5 A influência da Constituição Federal de 1988 nas relações privadas 
 
A Constituição de 1988, como uma Constituição de um Estado social, teve influência decisiva nas relações jurídicas privadas, já que esta, ao 
contrário das Constituições liberais, introduziu “a ordem econômica e social”, como muito bem expressa Paulo Luiz Neto Lôbo: 
 
“A Constituição garantista das liberdades formais converte-se na Constituição dirigente, para a promoção da justiça social. Além das funções de 
organização do Estado, delimitando o poder político, e da garantia das liberdades individuais decorrentes, a Constituição do Estado social 
incorpora outra função, que a identificará: a de reguladora da ordem econômica e social.”[27] 
 
Segundo Eros Roberto Grau, “a ordem econômica liberal é substituída pela ordem econômica intervencionista”. Para o autor “intervir é atuar em 
área de outrem: atuação, do Estado, no domínio econômico, área de titularidade do setor privado, é intervenção”. A nova ordem econômica, 
compreende não apenas “normas de ordem pública”, mas também e em profusão enorme, normas que instrumentam a intervenção do Estado na 
economia – normas de intervenção[28]. 
 
Em nosso sistema constitucional positivo, está determinado que a ordem econômica está “fundada na valorização do trabalho humano e na livre 
iniciativa” e tem por finalidade “assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social...”. (art. 170, caput). À justiça social 
importa “reduzir as desigualdades sociais e regionais” (art. 3º, inc. I e III e inc. VII do art. 170, da CF). Acrescente-se ainda que “a livre 
concorrência”, a “defesa do consumidor” e a “redução das desigualdades regionais e sociais” são princípios da ordem econômica nos termos da 
Carta Maior.[29] 
 
A livre iniciativa, corolário do sistema econômico capitalista, é tida como princípio fundamental da República Federativa do Brasil[30]. Esse princípio 
é reforçado no caput do art. 170 e no seu parágrafo único, in verbis: “É assegurado a todos o livre exercício de qualquer atividade econômica, 
independentemente de autorização de órgãos públicos, salvo nos casos previstos em lei”. Percebe-se assim que o texto constitucional contempla a 
exploração direta da atividade econômica, cabendo ao Estado o papel de agente normativo e regulador (art. 174, da CF), no intuito de limitar a 
liberdade de iniciativa econômica. 
 
Assim, quando se tem em mente o princípio da livre iniciativa, este “há de ser encarado no contexto de uma Constituição preocupada com a Justiça 
Social e com o bem-estar coletivo”, ressaltou José Afonso da Silva.[31] Essa idéia de justiça social se encontra presente quando a Constituição 
revela seus objetivos fundamentais no seu art. 3º.[32] A propósito, assinala Carlyle Popp, que “nestas finalidades precípuas, percebe-se, 
claramente, a presença da livre iniciativa, pois não se pode negar que construir uma sociedade livre, justa e solidária, [...] passa por um necessário 
desenvolvimento econômico e, este somente pode ser alcançado, de forma democrática, por meio da liberdade

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