Prévia do material em texto
BIODEGRADAÇÃO DE CONTAMINANTES ORGÂNICOS Profa. Daniele de Oliveira Bezerra de Sousa UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ DEPARTAMENTO DE BIOQUÍMICA E BIOLOGIA MOLECULAR CURSO DE BACHARELADO EM BIOTECNOLOGIA DISCIPLINA: BIOTECNOLOGIA AMBIENTAL Quais compostos orgânicos • Xenobióticos – Compostos não pertencentes a organismos vivos e que têm a característica de se acumularem no meio- ambiente. • Pesticidas • Combustíveis • Solventes • Hidrocarbonetos policíclicos • Antibióticos • Corantes azo • Dioxinas e bifenilas policloradas • Nitrocompostos • Compostos aromáticos • etc Organismos envolvidos na degradação de xenobióticos AERÓBIOS • Pseudomonas • Escherichia • Sphingobium • Pandoraea • Rhodococcus • Gordonia • Bacillus • Moraxella • Micrococcus ANAERÓBIOS • Pelatomaculum • Desulfotomaculum • Syntrophobacter • Syntrophus • Desulphovibrio • Methanospirillum • Methanosaeta • Moraxella • Micrococcus Biodegradação de compostos orgânicos • Biodegradação – Degradação de compostos orgânicos por microrganismos ou plantas através de vias metabólicas que resultam na oxidação da molécula parental. Degradação completa - Mineralização Degradação incompleta Degradação incompleta e formação de polímeros • É quando ocorre a oxidação de uma molécula (xenobiótico) que, normalmente, não seria alvo das enzimas microbianas. Entretanto, na presença do substrato natural das enzimas ela passa a ser oxidada; • Substrato primário x Substrato secundário • O substrato secundário somente é oxidado na presença do substrato primário pois este último é quem atua ativando enzimas e fornecendo energia para sua oxidação. Essas enzimas, na maioria das vezes, são NÃO específicas. • Há casos em que a degradação não é completa Co-metabolismo Fatores que interferem na degradação Nível máximo de atividade microbiana esperado em determinada condição ambiental Capacidade de carga Pode ser limitada por fatores biológicos e físico- químicos (baixo número de microrganismos, quantidade insuficiente de oxigênio ou nutrientes, temperatura e disponibilidade de água) e propriedades físico-químicas dos contaminantes. Estrutura do contaminante e potencial genético A eficiência da degradação depende da similaridade estrutural do contaminante com substratos naturais do ambiente e da adaptação do microrganismo ao ambiente contendo o poluente (indução de enzimas e aumento no número de microrganismos) Estrutura do contaminante e potencial genético A eficiência da degradação depende da similaridade estrutural do contaminante com substratos naturais do ambiente e da adaptação do microrganismo ao ambiente contendo o poluente (indução de enzimas e aumento no número de microrganismos) Se não há similaridade e nem adaptação é necessária uma alteração genética no microrganismo (mutação ou transferência de genes) que possibilite o desenvolvimento de uma nova via metabólica Essas mudanças genéticas podem levar semanas, anos ou, simplesmente, nunca ocorrerem! Características químicas do contaminante • Impedimentos estéricos (ramificações e grupos funcionais) • Bloqueio do sítio ativo de enzimas • Alterações no transporte dos compostos através da membrana celular Características químicas do contaminante • Efeitos eletrônicos • Grupos funcionais que aumentam a densidade de elétrons no sitio ativo de enzimas – Aumento na taxa de degradação • Grupos funcionais que diminuem a densidade de elétrons no sitio ativo de enzimas – Diminuição na taxa de degradação Características químicas do contaminante Toxicidade do contaminante • A toxicidade do contaminante para os microrganismos pode prolongar o tempo de remediação; • Compostos lipofílicos - Hidrocarbonetos e solventes orgânicos • Interação e rompimento da integridade das membranas celulares Biodisponibilidade do contaminante • Os estudos para aumento na taxa de degradação de compostos orgânicos, não devem ser voltados apenas para a caracterização de novas enzimas e genes. É preciso estar atento à disponibilidade dos compostos. Baixa solubilidade em água Compostos fortemente adsorvidos ao solo ou sedimentos (ligações covalentes) Compostos mais densos ou menos densos que a água (baixo acesso aos compostos) Presença de contaminantes em micro sítios existentes no solo. Incorporação dos contaminantes ao húmus (humificação) Baixa disponibilidade • Captação do contaminante (A)Contato com composto solubilizado na água (B)Contato na interface água-hidrocarboneto (C)Contato com gotículas dispersas (D)Uso de surfactantes Biodisponibilidade do contaminante Biodisponibilidade do contaminante Zona Vadosa Zona Saturada Biodisponibilidade do contaminante Disponibilidade de oxigênio e matéria orgânica • Alguns compostos são degradados apenas aerobicamente. Ex: Hidrocarbonetos do petróleo ou compostos altamente reduzidos como alcanos • Alguns compostos são degradados por vias anaeróbicas. Ex: compostos altamente clorados • Baixo teor de matéria orgânica Baixo número de microrganismos Disponibilidade de oxigênio e matéria orgânica Disponibilidade de nitrogênio • Biomassa de microrganismos – Proporção C:N (5:1 a 10:1) • Fornecimento de N (C:N de 200:1) • Fornecimento de P (C:P de 1000:1) Exemplo: Regiões onde houve derramamento de óleos do petróleo há escassez de nitrogênio sendo necessário o fornecimento C, N e P nesses locais. Condições ambientais Temperatura • Degradação de hidrocarbonetos - Temperatura até 30 ˚C • Flutuações nas temperaturas podem afetar as taxas de degradação • Maiores taxas de degradação em pH neutro • Eventualmente pode haver degradação em pH ácido (2 a 3) • Moderada ou alta concentração de sal pode afetar a degradação de hidrocarbonetos mesmo em ambientes marinhos. Salinidade pH Xenobióticos mais problemáticos • Pesticidas clorados • Alta resistência a biodegradação • Grande hidrofobicidade • Alta afinidade pela matéria orgânica do solo e lipídeos teciduais (bioacumulação) • Condições mais propícias para a degradação – anaerobiose. • Desalogenação redutiva – Condições fortemente redutoras nem sempre são encontradas no ambiente. • Garantia da completa degradação? • Criação de produtos mais tóxicos? Xenobióticos mais problemáticos • Pesticidas clorados Xenobióticos mais problemáticos • Detergentes • Aniônicos • Catiônicos – Muitos são tóxicos para microrganismos • Não-iônicos Xenobióticos mais problemáticos • Pesticidas organofosforados • Extremamente tóxicos mas facilmente degradados em meio aquoso (enzimaticamente ou quimicamente); Malation Vias de degradação • Aeróbicas – Ação de mono-oxigenases ou dioxigenases com geração de intermediários que serão conduzidos ao ciclo de Krebs • Utilização de oxigênio como aceptor de elétrons • Anaeróbicas • Utilização de nitrato, sulfato, manganês, ferro, carbonato etc, são os aceptores de elétrons (respiração anaeróbica) • Metanogênese- Produção de metano em condições anóxicas Vias de degradação Microrganismo + Fonte de carbono (Glicose) + Fonte de nitrogênio (NH3) + Nutrientes + O2 (aceptor de elétrons) Microrganismo + Fonte de carbono (Glicose) + Fonte de nitrogênio (NH3) + Nutrientes + NO3, CO2, Fe3 +, SO4 2- (aceptor de elétrons) Novas células + CO2 + H2O + CH4 (Em anaerobiose ) Hidrocarbonetos aromáticos • BTEX – Combustíveis e solventes; • Intermediários do processo de degradação: catecol e protocatecoato Degradação de hidrocarbonetos aromáticos • Hidrocarbonetos aromáticos apresentam grande estabilidade termodinâmica; • Como alguns deles são produzidos endogenamente então muitos microrganismos têm desenvolvido vias catabólicas para degradar esses compostos. • Plasmídeos catabólicos para a degradação desses compostos • Via principal: aeróbica Hidrocarbonetos aromáticos não substituídos – CONDIÇÕES AERÓBICAS Hidrocarboneto aromático Catecol (ou outros compostos aromáticos dihidroxilados) Hidroxilação (Dioxigenases) Orto-clivagem (intradiol dioxigenases) OU Meta-clivagem (extradiol dioxigenases) Cis-cis-muconato Acetil-CoA β- oxidação Bactérias Ciclo de Krebs Hidrocarbonetos aromáticos não substituídos – CONDIÇÕES AERÓBICAS Citocromo P-450 Isomerização Hidratação Microrganismos eucarióticos (maioria) – Não mineralizam aromáticos Hidrocarbonetos aromáticos não substituídos – CONDIÇÕES AERÓBICAS Citocromo P-450 Isomerização Hidratação Microrganismos eucarióticos – Não mineralizam aromáticos Não são mineralizados completamente! Hidrocarbonetos aromáticos – CONDIÇÕES AERÓBICAS Fungos lignolíticos – Degradação de compostos aromáticos como a lignina • Produção de enzimas extracelulares (lacases e peroxidases) Geração de radicais livres de oxigênio – reação com lignina Phanerochaete chrysosporium Hidrocarbonetos aromáticos não substituídos – CONDIÇÕES AERÓBICAS Hidrocarbonetos poliaromáticos (HPA ou PHA) • Um, dois ou três anéis condensados – rápida e completa mineralização • Quatro ou mais anéis – Transformação lenta (cometabolismo) por conta da baixa biodisponibilidade (baixa solubilidade em água e grande interação com partículas do soloHidrocarbonetos aromáticos não substituídos – CONDIÇÕES AERÓBICAS Bifenilas 2,3-dihidro-2,3-dihidroxibifenila • Estrutura molecular semelhante às bifenilas policloradas que são compostos altamente tóxicos e recalcitrantes. Hidroxilação 2,3-dihidroxibifenila Benzoato (catecol, etc) 2-hidroxi-6-oxo-6fenilhexa-2,4- dienoato Quebra do anel Hidrocarbonetos aromáticos substituídos– CONDIÇÕES AERÓBICAS • Introdução de grupos substituintes no benzeno aumenta a possibilidade de degradação. • Tolueno – O mais simples composto derivado do benzeno Hidrocarbonetos aromáticos substituídos ou não – CONDIÇÕES ANAERÓBICAS • Produção de benzoil-CoA • OBS: incluindo os BTEX • Compostos oxigenados – Biodegradação rápida • 1 mol de BTEX pode gerar 3 mol de acetil CoA e 1 mol de CO2 Hidrocarbonetos aromáticos substituídos ou não – CONDIÇÕES ANAERÓBICAS Hidrocarbonetos aromáticos – CONDIÇÕES ANAERÓBICAS Consórcio de microrganismos Hidrocarbonetos Aromáticos Clorados Degradação de compostos aromáticos clorados • Usados como solventes ou pesticidas (pentaclorofenol, DDT, 2,4-D) • Dificuldade na formação de catecol devido ao bloqueio do cloro • Quanto mais cloro, maior a toxicidade Degradação de compostos aromáticos clorados • Usados como solventes ou pesticidas • Dificuldade na formação de catecol devido ao bloqueio do cloro • Quanto mais cloro, maior a toxicidade Estratégia utilizada por algumas bactérias: Remoção dos halogênios através de reações denominadas desalogenações Desalogenação de compostos aromáticos halogenados • Desalogenação oxidativa – Neste processo os halogênios são perdidos durante a oxigenação do anel. • Desalogenação hidrolítica – Neste caso um grupo hidroxila, proveniente de uma molécula de água, desloca um halogênio. • Desalogenação redutiva - Reduz o grau de cloração da molécula e consequentemente torna o produto mais acessível à mineralização pelas bactérias aeróbicas. • Ocorre em condições aneróbicas • Dividido em conversão metabólica ou cometabólica • Desalogenação fototrófica – Utilizada por bactérias que crescem fototroficamente sob condições anaeróbicas usando xenobióticos. Degradação de pentaclorofenol • Muito tóxico • Devido a presença do cloro esse composto é um ácido relativamente forte quando comparado ao fenol. • São degradados tanto pela via aeróbica como anaeróbica. • Fenóis menos clorados - + via aeróbica • Fenóis mais clorados - + via anaeróbica Degradação de pentaclorofenol (pesticida) Pentaclorofenol (PCP) Composto menos clorado e hidroxilado Oxigenases Ácido benzoico Oxidação Clivagem Oxidação Via aeróbica Substituição de -Cl por –OH (desalogenação oxigenolítica) Degradação de pentaclorofenol (pesticida) PCB (aceptor de elétrons) Hidrocarboneto Via anaeróbica (desalogenação redutiva) Sedimentos, detritos orgânicos, partículas orgânicas do solo, algas mortas, etc. (doadores de elétrons) Cl- Cl- Cl- Cl- (menos tóxicos e talvez susceptível a degradação aeróbica) Cl- Bifenilas policloradas (PCBs) Degradação de bifenilas policloradas (PCBs) • Utilizadas desde 1930 – Capacitores elétricos, transformadores, adesivos, corantes, etc. • Em torno de 210 tipos • Altamente recalcitrantes • Degradação – condições ambientais e microrganismos adequados devem estar presentes concomitantemente. • Degradação – Condições de aerobiose e anaerobiose. • Moléculas menos cloradas – + Aerobiose • Moléculas mais cloradas - + Anaerobiose Degradação de bifenilas policloradas (PCBs) • A recalcitrância aumenta com o aumento do número de cloro na molécula. • A halogenação torna o composto mais eletrofílico dificultando a ação das oxigenases bacterianas. • Melhores condições para degradação – Consórcio entre microrganismos aeróbios e anaeróbios • Etapa crítica na degradação – Quebra das ligações carbono-halogênio Dioxinas Degradação de dioxinas • Compostos produzidos como sub-produtos de uma variedade de processos (branqueamento de polpa celulósica, incineração de lixo, produção de solventes, etc); • 2,3,7,8-tetraclorodibenzo-p-dioxina(TCDD) – Um dos compostos sintéticos mais venenosos já produzido. • Teratogênico e carcinogênico • Pode causar cloro acne, perda de peso, insônia, hepatotoxicidade, aborto espontâneo, etc. • Altamente resistentes a degradação (lipossolúveis) • Degradação aeróbica e anaeróbica. Degradação de dioxinas Dioxinas Análogos Mono- e dihidroxilados Monoxigenases ou dioxigenases (acúmulo sem que haja degradação posterior) Processo muito lento Aerobicamente Desalogenação redutiva Composto desalogenado Anaerobicamente Algumas espécies de bactérias entretanto podem utilizar dioxigenases específicas que geram produtos completamente biodegradáveis Nitrocompostos Degradação de nitrocompostos 2,4-dinitrotolueno Redução • Produzidos pela indústria de corantes, plásticos e explosivos. • Compostos tóxicos, mutagênicos e desacopladores da fosforilação oxidativa. • Compostos com 1 ou 2 grupos nitro são mais facilmente degradados Compostos contendo grupos nitro e amino que serão acumulados A redução além de ser feita por enzimas pode também ocorrer abioticamente. Mono- ou dioxigenases Retirada de grupos nitro e inserção de –OH com subsequente mineralização Degradação de nitrocompostos TNT Redução dos grupos nitro para formação de grupos amino Compostos contendo grupos amino (podem interagir com o solo ou outros componentes gerando produtos não degradáveis) Muito comum a presença no solo de intermediários contendo grupos nitro e amino 2,4,6-trinitrotolueno (TNT) Rapidamente transformados mas não completamente mineralizados Qual desses compostos é mais facilmente degradado? Ácido 2,4- diclorofenoxiacético (2,4-D) X Ácido 2,4,5- triclorofenoxiacético (2,4,5-T) Qual desses compostos é mais facilmente degradado? Propham X Propachlor Qual desses compostos é mais facilmente degradado? Aldrin X Carbaryl Qual desses compostos é mais facilmente degradado? Methoxychlor X DDT (diclorodifeniltricloroetano)