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As Grandes Linhas do Debate Ideológico Contemporâneo Questão: Devemos ou não, atualmente, manter a exploração do homem pelo homem? Duas respostas possíveis: Sim (conservadores) x Não (revolucionários) A resposta conservadora Está na essência do homem ser mau: individualista, mesquinho, egoísta. Como o homem é individualista, a história demonstraria, em diferentes momentos, essa essência mesquinha dos homens. “Em suma, a resposta conservadora à nossa questão (devemos hoje manter a exploração do homem pelo homem?) afirma que há uma essência humana que faz dos homens necessariamente individualistas. Esta essência não poderia ser alterada pela história, o que impossibilitaria a superação da forma da sociedade atual por uma outra sem classes e sem opressão. Como os homens são essencialmente individualistas, argumentam os conservadores, a melhor sociedade possível é a capitalista.” O autor cita nesse grupo: M. Heidegger, J. Habermas, H. Arendt, N. Bobbio e J. Rawls. A resposta revolucionária Não existe uma “essência humana” separada da história. Os homens são o que eles se fazem a cada momento histórico. Se a humanidade se fez burguesa, ela também pode se fazer comunista. {A pergunta é: o homem é obrigado a explorar ele mesmo? Resposta conservadora: Sim, porque é da essência humana. A história dos homens vai passar, mas sempre reproduzindo essa essência. Resposta revolucionária: Não existe uma essência humana desligada da história. Se nossa sociedade está estruturada nessa exploração, ela também pode se estruturar num outro modelo.} A Relação do Homem com a Natureza: o Trabalho. - os homens, para poderem existir, devem transformar constantemente a natureza. - o homem transforma a natureza através do trabalho. - ao trabalhar o homem está transformando a natureza – ele precisa transformar a natureza para existir – só que ao transformar a natureza, o homem transforma a si mesmo. - a relação dos animais com a natureza é determinística, ou seja, quando as abelhas modificam a natureza, elas não se modificam a si mesmas. Prévia-ideação e objetivação - o homem consegue idear (criar idéias) antes de objetivar/materializar (construir, executar). - imaginemos que alguém tenha a necessidade de abrir um coco. Há diversas formas de fazê-lo. Uma delas é abrir com um machado. Para tanto, há que se fazer um machado. Como machados não dão em árvores, transforma-se o que se há na natureza para se fazer um machado. Com a natureza transformada em forma de machado utiliza-se este para abrir o coco. - o que aconteceu? 1. há uma necessidade: quebrar o coco. 2. há diversas alternativas para atender essa necessidade. 3. o indivíduo projeta, em sua consciência, o resultado de cada uma das alternativas, faz uma avaliação delas e escolhe a que julga mais conveniente; 4. depois de projetado na consciência (idealizado) o indivíduo age objetivamente. - objetivação é converter em objeto uma prévia-ideação. “O resultado do processo de objetivação é, sempre, alguma transformação da realidade. Toda objetivação produz uma nova situação, pois tanto a realidade já não é a mesma (em alguma coisa ela foi mudada), quanto também o indivíduo já não é mais o mesmo, uma vez que ele aprendeu algo com aquela ação [...] ao construir o mundo objetivo, o indivíduo também se constrói.” - o indivíduo ao transformar a natureza, transformou-se, pois adquiriu novos conhecimentos e habilidades. O indivíduo transformado vai ter novas necessidades e, ao tentar solucionar essas novas necessidades, o indivíduo vai se transformar novamente, e, consequentemente, criar outras novas necessidades. - 1. A objetivação significa a transformação da natureza no sentido desejado pelos homens; 2. Nenhuma prévia-ideação brota do nada, ela é sempre uma resposta a uma dada necessidade que surge em uma situação determinada; 3. Como toda objetivação origina uma nova situação, a história jamais se repete. O Trabalho e a Sociedade. [15.maio.20XI] - Não há indivíduos fora da sociedade. - Portanto, nenhuma prévia-ideação surge do nada. Ela está sempre inserida num contexto, recebendo o acúmulo das experiências passadas e, dada a objetivação, acumulando para as experiências futuras. Objetivação e sociedade - A coisa objetivada passa a fazer parte da história dos homens, passa a influenciar e a sofrer influências dessa história, a história humana. Tem, portanto, uma dimensão social, coletiva. “O objeto construído pelo trabalho do indivíduo possui, portanto, [...] uma ineliminável dimensão social: ele tem por base a história passada; faz parte da vida da sociedade; faz parte da história dos homens de um modo geral.” Objetivação e conhecimento - Tem a natureza. O ser humano pode transformar a natureza através do seu trabalho. O ser humano transforma a natureza de acordo com suas necessidades. Dada a necessidade, o ser humano imagina uma solução para saciar sua necessidade. Essa atividade mental que o ser humano é capaz de fazer para saciar sua necessidade é a prévia-ideação. Depois de imaginar uma possível forma de resolver seu problema, o ser humano vai executar essa idéia. Essa execução, objetivação, ou ainda, materialização é feita através do trabalho transformando a natureza. Ao transformar a natureza, o homem transforma a si mesmo, pois, adquire novas habilidades e conhecimentos. 1. o trabalho está inserido numa realidade histórica. O trabalho é realizado para saciar alguma necessidade material anterior. 2. a realização do trabalho, ao saciar a necessidade material anterior, pode criar novas necessidades materiais. 3. além disso, a realização do trabalho gera conhecimento. - O conhecimento é generalizado em dois níveis: 3-A. o conhecimento gerado num determinado trabalho que é realizado para específica necessidade material, pode ser ampliado e aplicado para outras necessidades. 3-B. o conhecimento produzido por um indivíduo para resolver aquela necessidade material vai se difundir por toda a sociedade. Mais cedo ou mais tarde todo mundo vai saber de que forma alguém solucionou a necessidade que afeta todo mundo. “O trabalho é o fundamento do ser social porque transforma a natureza na base material indispensável ao mundo dos homens. Ele possibilita que, ao transformarem a natureza, os homens também se transformem. E essa articulada transformação da natureza e dos indivíduos permite a constante construção de novas situações históricas, de novas relações sociais, de novos conhecimentos e habilidades, num processo de acumulação constante.” O que é, mesmo, um machado? - Dada uma necessidade material o ser humano imagina uma possível solução e, por meio do seu trabalho, transforma a natureza e cria um objeto que possa resolver o problema. - a idéia do objeto é diferente do objeto. - a idéia do objeto precisa da consciência humana para existir. O objeto, uma vez feito, independe da consciência de qualquer pessoa para existir. - depois de feito, o objeto recebe influências alheias a quem o imaginou e o materializou. O machado, por exemplo, pode receber influências naturais, ou seja, ser desgastado por chuvas, e influências humanas, e.g. quebrar ao ser utilizado. - há independência entre a idéia e o objeto, entre a consciência e a realidade. Assim, depois de feito o objeto tem sua própria história, independente do seu criador. A consciência acaba com a morte do criador, o objeto continua, e ao continuar o objeto receberá a influência de quem o utilizar e influenciará outras consciências que desenvolverão novas soluções para outras necessidades materiais. [e.g. a existência do machado pode ajudar a invenção de um martelo] “Em outras palavras, a idéia que é objetivada se transforma em objeto. O novo objeto se converte em parte da causalidade e passa a sofrer influências e a influenciar a evolução da realidade da qual é parte. Ao fazê-lo, é submetido a uma relação de causas e efeitos que impulsionam a sua evolução com autonomia frente à consciência que o idealizou.” - Lukács chama de causalidade essa história própria que o objeto terá,ou seja, “algo que possui um princípio próprio de movimento”. - Assim, os produtos resultantes do trabalho humano, ou mesmo de todas as ações humanas, sofrerá influências e influenciará outras ações, sem o controle daquele que o criou, objetivou. Idealismo e Materialismo. Idealismo: prioridade da idéia sobre a matéria Materialismo: prioridade da matéria sobre a idéia. Essas são as duas correntes filosóficas que dominaram desde a Grécia antiga até o sec. 19, mas para termos didáticos serão analisados o idealismo do Kant e o materialismo iluminista francês do sec. 18. - As duas correntes devem ser analisadas do ponto de vista do desenvolvimento das forças produtivas. - Antes da dupla-rev. a humanidade dependia muito mais da natureza para sobreviver. Com a dupla-rev. sobretudo a RI, a humanidade começou a desenvolver suas forças produtivas para se reproduzir e, consequentemente, a depender menos da natureza. Hegel, ao presenciar o desenvolvimento das forças produtivas, resultantes da dupla-rev., diz que na relação entre homem-natureza é o homem quem predomina. Ou seja, não é a natureza, mas o próprio homem, o responsável pela história da humanidade. Mas esse avanço dos homens é feito pela mudança das idéias deles (zeitgeist – o espírito do tempo). - Marx diz que pelo trabalho o homem transforma a natureza. O resultado do trabalho cria novas possibilidade e novas necessidades. Então, são as novas condições de existência que determinarão o desenvolvimento da consciência. - Marx aceita a idéia de Hegel de que o homem faz sua própria história, mas o contradiz ao defender que o trabalho, e não as idéias, é que vai evoluindo. O materialismo - tudo é matéria, inclusive as idéias. - o materialismo não apreende o papel das idéias no desenvolvimento histórico. Para ele, a história se reduz a um movimento mecânico de leis que se impõe de forma inevitável aos seres humanos. - não consegue ver as coisas como uma evolução, mas sim como uma coisa mecânica e forçada. O idealismo - O idealismo teve maior desenvolvimento que o materialismo. - isso não é por acaso: diante de uma sociedade de classes em que um manda e outros trabalham. E aqueles que mandam só o fazem pq os outros trabalham, é fácil ver pq o idealismo teve tanto espaço. - a sociedade de classes cai como uma luva para a tese idealista, na qual a sociedade só existe por causa das idéias. A partir das idéias as coisas se moldam. “O pressuposto do idealismo é o reconhecimento do papel ativo, decisivo, das idéias e da consciência humana na história.” - pelo que eu entendi, se vermos o idealismo como uma expressão de determinada sociedade de classes, teremos que o idealismo diz que são as idéias que determinam como será a matéria. E, quem eram os idealistas? Aqueles que podiam pensar, ou seja, aqueles que não trabalhavam. Então, o idealismo serve pra justificar a sociedade de classes, como quem diz: olha trabalhador, sou eu quem mando, pq eu penso. Sem minhas idéias vc não existiria. (ocultando o fato de que só pq alguém trabalha que pode haver uma “elite intelectual”). - todo conhecimento humano passa pelos sentidos. Sem as sensações nenhum conhecimento seria possível. As sensações tem, contudo, duas limitações fundamentais: elas são produzidas através de alguém, o que significa que informam como percebemos as coisas, mas não nos dizem como as coisas são. As sensações sozinhas não dizem muita coisa, algo precisa conferir significado pra elas, e esse algo é a razão. A razão é algo intrínseco ao ser humano que adéqua as sensações ao universo, ou seja, ao tempo e o espaço em que elas estão ocorrendo. - para os kantianos não se pode saber o que as coisas são, mas sim o que nós pensamos que elas são, através de nossas sensações, adequadas a um determinado tempo e espaço por nossa consciência. Essa consciência vai se desenvolvendo. - a história passa a ser vista como o resultado de uma luta de idéias, ou de um processo constante de auto-aperfeiçoamento do espírito humano. O que Marx aproveita: Idealismo: o papel decisivo das ideais; Materialismo: o fundamento material do espírito humano; O que Marx critica: Idealismo: não percebe o peso determinante da vida social objetiva sobre as concepções de mundo; Materialismo: não reconhece o papel ativo das idéias sobre o desenvolvimento humano. O materialismo histórico-dialético - o homem é, ao mesmo tempo, distinto e dependente da natureza. - A dupla-rev influencia muito o pensamento de Marx. - A Revolução Industrial, ao elevar as forças produtivas a um novo patamar, contradisse em muito os materialistas iluministas, ao mostrar que muito da história dos homens é independente da natureza. - A Revolução Francesa deixou ainda mais claro como as idéias dos homens e as possibilidades objetivas se articulam para compor a história humana. Diferente do que queriam os idealistas, a história é bem mais do que o desenvolvimento do espírito humano. “Para Marx, o mundo dos homens nem é pura idéia nem é só matéria, mas sim uma síntese de idéia e matéria que apenas poderia existir a partir da transformação da realidade (portanto, é material) conforme um projeto previamente ideado na consciência (portanto, possui um momento ideal).” - Em Marx, a matéria é diferente da idéia, mas ambas são igualmente reais. - A matéria é anterior à idéia, mas qndo a idéia surge ela é tão real quanto a matéria. Tanto assim que a partir dela a matéria poderá ser modificada. “As idéias são resultado tardio do desenvolvimento do universo, mas isso não as torna “menos reais” do que a materialidade natural. Nesse preciso sentido, o materialismo histórico-dialético concebe o mundo dos homens como a síntese de prévia-ideação e matéria natural. Nem apenas idéias, nem só matéria, mas uma síntese entre as duas, tipicamente realizada no e pelo trabalho, que origina uma nova forma de ser: o mundo dos homens.” O conhecimento. [12.julho.20XI] Pressuposto: a realidade não é só matéria nem só idéia; antes, é a intensa mediação entre elas, através do trabalho. De um lado, é pelo trabalho que os projetos ideais são convertidos em produtos objetivos; do outro lado, os produtos objetivos realizados através do trabalho oferece novas possibilidades e necessidades que sustentam e instigam a criação de novos projetos idéias pela consciência. Realidade objetiva e realidade subjetiva são dois momentos distintos, mas sempre necessariamente articulados. Pelo q eu entendi: diante das necessidades materiais, o ser humano consegue antecipar sua ação para tentar saciar essa necessidade, ou seja, ele imagina alguma coisa que possa fazer para que consiga alcançar o objetivo imposto pela necessidade material. Essa antecipação mental/imaginação é a prévia-ideação. Contudo, na hora da execução da ação imaginada podem acontecer muitas coisas. Porque o ser humano imagina que vá acontecer tal coisa se ele realizar tal ação, mas como o futuro ainda não aconteceu, outras coisas podem acontecer. Ou seja, eu quero algo, pra conseguir isso, eu imagino uma ação que se eu fizer creio que conseguirei o que eu pretendia. Porém, ao fazer a ação imaginada, no concreto posso ter um outro resultado diverso daquilo que eu esperava. Daí, esse outro resultado vai me impor uma nova realidade, a que poderá me propor novas necessidades e novas possibilidades, daí eu irei imaginar uma nova ação pra poder alcançar o novo objetivo. Temos, portanto: realidade objetiva → necessidade material → idéia → ação → nova realidade objetiva → nova necessidade material → novas idéias. A ação motivada pela idéia resultou num resultado não previsto. Esse resultado criou novas possibilidades e necessidades. Essa nova situação imporá que a consciência resolva os novos desafios impostos. Isso é o que o Lukács chama de “período de conseqüências”, o ato retroage sobre a consciência por meio dos efeitos que ela provoca. “[o período de conseqüências] fornece novas indicações e informações sobre a realidade e sobre o que foi produzido, possibilitando aos homens adquirirem conhecimentosaté então sequer imagináveis. [...] o “período de conseqüências” abre a possibilidade de conhecermos a realidade por meio dos efeitos que resultam dos nossos atos.” Conhecimento e “período de consequências” “Para que o ato de trabalho alcance seu objetivo, é necessário o conhecimento que possibilite escolher os meios da realidade que são adequados à objetivação da prévia-ideação. [...] Por isso, quase sempre, o ato de trabalho bem sucedido se baseia em um ‘conhecimento adequado’ da realidade que foi transformada.” - Diante da necessidade material o homem tenta supri-la transformando a natureza, através do trabalho. - O trabalho só tem êxito, ou seja, consegue transformar a natureza para saciar uma necessidade material, quando se transforma a natureza/realidade objetiva de maneira adequada. - Para se transformar a natureza/realidade objetiva é preciso conhecer os dados dela que queremos transformar. - Ao tentarmos conhecer os dados da realidade objetiva que queremos transformar, só conseguiremos conhecer aquilo que se sabe dela até o momento, ou seja, entramos em contato com o conhecimento que foi produzido num determinado momento histórico. - O conhecimento da realidade, portanto, evolui muito influenciado pelas necessidades e pelos objetivos que se tem a cada momento histórico. - Ou seja, motivado pelas necessidades materiais, vamos tentar transformar a natureza através do trabalho. Contudo, só iremos imaginar que uma transformação da natureza será capaz de suprir nossas necessidades se primeiramente conhecermos aquela natureza que, num segundo momento, nos proporemos a transformar para saciar nossa necessidade material. - O conhecimento da natureza/realidade objetiva nos é possível inserido num momento histórico, resultado de anteriores necessidades materiais. Ou seja, o conhecimento que se entra em contato foi construído. - Ao executarmos o trabalho esse conhecimento construído será posto a prova. Porque na prévia-ideação do trabalho tomamos ele como pressuposto. Se o trabalho der errado o pressuposto será questionado, podendo ele receber uma nova compreensão do ser humano (afinal, a madeira não é tão resistente assim, por exemplo). “a consciência deve refletir a realidade para ser capaz de produzir um conhecimento adequado. Por isso, ao investigar a realidade, é da máxima importância que a consciência possa construir uma idéia que reflita o real do modo mais fiel possível. Contudo, essa fidelidade do reflexo é condicionada pelas necessidades e pelos objetivos que orientam a investigação. O reflexo jamais poderá ser um reflexo fotográfico, mecânico, da realidade. Ele é sempre uma construção da consciência, uma atividade dela. Tal atividade é a apropriação das propriedades da realidade segundo as necessidades e objetivos do momento. E, como essas necessidades e objetivos surgem ao longo da história, todo reflexo do real é historicamente condicionado.” - Defende-se, portanto, que a realidade e a subjetividade estão sempre em evolução. Por isso mesmo, é impossível um conhecimento absoluto da realidade. “já que tanto a realidade quanto a subjetividade estão sempre em evolução, é impossível um conhecimento absoluto da realidade. O conhecimento é uma atividade da consciência que, por meio da construção de idéias, reflete as qualidades do real. Por outro lado, o real é um processo histórico. Uma realidade e uma consciência, ambas em movimento, não podem jamais resultar em um conhecimento absoluto, fixo, imutável. Por isso a reflexão da realidade pela consciência é um constante processo de aproximação das idéias em relação à realidade em permanente evolução. Em suma: conhecemos a realidade externa à consciência porque, ao transformá-la tipicamente pelo trabalho, podemos verificar a validade e a veracidade dos nossos conhecimentos.”
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