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CLEYSON DE MORAES MELLO CIVIL 1

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CAP. 05 – DIREITO CIVIL I, CLEYSON DE MORAES MELLO 
NOVOS PRINCIPIOS DO CC. : 
SOCIALIDADE: 
 
ETICIDADE: traduz uma hermenêutica lastreada nas 
noções de moral, ética, boa-fé, honestidade, lealdade e confiança. 
 
OPERABILIDADE: Miguel Reale afirma que “dar ao Anteprojeto antes um sentido operacional do 
que conceituai, procurando configurar os modelos jurídicos à luz do princípio da realizabilidade, em 
função das forças sociais operantes no País, para atuarem como instrumentos de paz social e de 
desenvolvimento”. 
O Código Civil se destina, pois, a regular as relações jurídicas Inter privadas (pessoas naturais e 
pessoas jurídicas), bem como as questões fundamentais do direito empresarial. 
 
Capítulo6 - PESSOAS NATURAIS 
A pessoa natural é, pois, o ser humano e sua dignidade é um dos fundamentos do Estado Democrático 
de Direito, conforme o artigo I o, inciso III, 
da Constituição da República Federativa do Brasil. 
CLÓVIS BEVILÁQUA anota que “pessoa é o ser, a que se atribuem direitos e obrigações. Equivale, assim, 
a sujeito de direitos”. O autor afirma, 
ainda, que “personalidade é a aptidão, reconhecida pela ordem jurídica a alguém, para exercer 
direitos e contrair obrigações”. 
A personalidade difere da capacidade. No mesmo sentido, FRANCISCO 
AMARAL ensina que a personalidade não se identifica com a capacidade. 
Pode existir personalidade sem capacidade, como se verifica com o nascituro, que ainda não tem 
capacidade. Já as pessoas jurídicas têm capacidade de 
direito e não dispõem de certas formas de proteção da personalidade. 
Início da Pessoa Natural 
 
O artigo 2o do Código Civil diz: “A personalidade civil da pessoa começa 
do nascimento com vida; mas a lei põe a salvo, desde a concepção, os direitos 
do nascituro”.7 A pessoa é o ser humano, sujeito da relação jurídica, podendo 
auferir direitos e contrair obrigações e nascituro o ser humano já concebido 
que há de nascer. 
Em relação ao início da personalidade da pessoa humana, existem várias 
teorias. Vejamos: 
a) Teoria Natalista 
 
Para a teoria Natalista é necessário que a pessoa nasça com vida e o recém-nascido tenha respirado, 
ou seja, tenha entrado ar nos pulmões, ainda 
que por alguns instantes. A docimasia pulmonar hidrostática é o exame de 
investigação realizado na criança visando à verificação de entrada de ar nos 
pulmões. 
b) Teoria Concepcionista 
 
A outra corrente, chamada de Concepcionista, alega que a personalidade 
civil da pessoa começa a partir da concepção (momento de união do gameta 
masculino e feminino). É uma teoria alinhada com o projeto do Código Civil 
de Teixeira de Freitas, Nabuco de Araújo e Joaquim Felício dos Santos. Aqui, 
o ser que está para nascer já possui personalidade jurídica. 
 
c) Teoria da Personalidade Condicional 
 
Aqui a personalidade civil começa com o nascimento com vida, mas os direitos do nascituro ficam 
sujeitos a uma condição suspensiva (evento futuro 
e incerto), qual seja, o nascimento com vida. É, pois, um direito eventual. 
Os defensores desta teoria se baseiam no artigo 130 do CCB que permite ao 
titular de direito eventual. Esta teoria é, pois, um aprimoramento da teoria 
Natalista. 
d) Teoria da Nidação 
 
Com a Teoria da Nidação defende-se que o embrião passaria a adquirir vida com sua implantação no 
útero da mulher. Anteriormente a este fenômeno, haveria apenas um aglomerado de células que 
constituiria posteriormente os alicerces do embrião. 
Para esta teoria, não há viabilidade de vida para o embrião em laboratório, necessitando, portanto, ser 
implantado no útero da mulher. 
 
- Capacidade de Direito (ou de Gozo) e Capacidade de Fato (ou de Exercício) 
 
A capacidade de direito ou capacidade de gozo é a aptidão para ser titular de direitos e deveres no 
mundo jurídico. 
A capacidade de fato ou capacidade de exercício é a aptidão para a prática dos atos jurídicos, ou 
seja, é a possibilidade de alguém praticar atos jurídicos visando a aquisição, modificação ou extinção 
das relações jurídicas. A capacidade de fato é variável, já que 
depende do grau de entendimento e vontade própria da pessoa. 
 
- Capacidade e Legitimidade 
 
A capacidade não se confunde com a legitimidade. A capacidade é a aptidão para ser titular de 
direitos e deveres no mundo jurídico e a legitimidade 
é a posição em que a pessoa se encontra em relação a um interesse, bens ou 
situação jurídica, sobre os quais possa agir. Melhor dizendo, a legitimidade é 
a possibilidade que a pessoa tem de agir, de manifestar sua vontade, autorizada pela lei, sobre 
um interesse, bens ou situação jurídica. 
 
- Incapacidades 
 
A incapacidade ou falta de capacidade é a restrição legal ao exercício dos 
atos da vida civil. Quanto à capacidade, as pessoas estão agrupadas em três 
espécies, a saber: a) as pessoas absolutamente incapazes, b) as pessoas relativamente incapazes 
e c) as pessoas capazes. 
 
“são absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos da vida civil os menores de 16 
(dezesseis) anos.” 
“a deficiência não afeta a plena capacidade civil da pessoa, inclusive para: 
I - casar-se e constituir união estável; II - exercer direitos sexuais e reprodutivos; III - exercer o direito 
de decidir sobre o número de filhos e de ter 
acesso a informações adequadas sobre reprodução e planejamento familiar; 
IV - conservar sua fertilidade, sendo vedada a esterilização compulsória; V 
- exercer o direito à família e à convivência familiar e comunitária; e VI - 
exercer o direito à guarda, à tutela, à curatela e à adoção, como adotante ou 
adotando, em igualdade de oportunidades com as demais pessoas.” 
Todavia, em caráter excepcional, a pessoa com deficiência mental ou 
intelectual poderá ser submetida a curatela, no seu legítimo interesse. Essa 
curatela está delineada no artigo 84, §1° do Estatuto da Pessoa com Deficiência: “Quando necessário, a 
pessoa com deficiência será submetida à curatela, 
conforme a lei.” 
A definição de curatela de pessoa com deficiência constitui medida protetiva extraordinária, 
proporcional às necessidades e às circunstâncias de cada 
caso, e durará o menor tempo possível (artigo 84, § 3o da Lei 13.146/2015). 
Os curadores são obrigados a prestar, anualmente, contas de sua administração ao juiz, apresentando 
o balanço do respectivo ano (artigo 84, § 4o 
da Lei 13.146/2015). 
Importante destacar que a curatela afetará tão somente os atos relacionados aos direitos de natureza 
patrimonial e negociai. A definição da curatela 
não alcança o direito ao próprio corpo, à sexualidade, ao matrimônio, à privacidade, à educação, à 
saúde, ao trabalho e ao voto. 
 
‘A tomada de decisão apoiada é o processo pelo qual a pessoa com deficiência elege pelo menos 2 
(duas) pessoas idôneas, com as quais 
mantenha vínculos e que gozem de sua confiança, para prestar-lhe apoio na 
tomada de decisão sobre atos da vida civil, fornecendo-lhes os elementos e 
informações necessárias para que possa exercer sua capacidade. ” 
 
a) Absolutamente incapazes 
 
Os absolutamente incapazes são aqueles que não podem exercer os atos 
da vida civil desacompanhados. O ato jurídico somente poderá ser praticado 
pelo seu representante legal. 
O artigo 3o do nosso Código Civil trata dos absolutamente incapazes. 
Como visto acima, ficam nesta categoria apenas os menores de 16 anos. 
 
Assim os menores de dezesseis anos são absolutamente incapazes, já que 
o legislador deduziu que eles não possuem um desenvolvimento intelectual 
maduro para a prática dos atos jurídicos e para a condução própria de sua 
vida sem a representação de seus pais, tutores ou curadores. 
 
Considera-se criança a pessoa até 12 (doze) anos de idadeincompletos, e 
adolescente aquela entre doze e dezoito anos de idade (ECA, art. 2o). 
 
b) Relativamente incapazes 
A incapacidade relativa é a limitação a certos atos, ou à maneira de os 
exercer. Os relativamente incapazes podem manifestar sua vontade, mas devem ser assistidos. 
A assistência é o instituto jurídico que representa a intervenção nos atos 
jurídicos praticados pelos relativamente incapazes. São assistentes: pais e tutores. Dessa maneira, são 
representados (representação) os absolutamente 
incapazes e assistidos (assistência) os relativamente incapazes. 
 
0 artigo 4o, também modificado pela Lei 13.146/2015, determina que 
‘ são incapazes, relativamente a certos atos ou à maneira de os exercer: 
1 - os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos; 
II - os ébrios habituais e os viciados em tóxico;29 30 31 
III - aqueles que, por causa transitória ou permanente, não puderem 
exprimir sua vontade;30 31 
IV - os pródigos. 
Parágrafo único. A capacidade dos indígenas será regulada por legisla 
ção especial (artigo 4o, parágrafo único). 
 
O artigo 171, inciso I, do CCB determina que é anulável o negócio jurídico por incapacidade relativa do 
agente. 
Os maiores de dezesseis anos e menores de dezoito anos são considerados relativamente incapazes, 
conforme artigo 4o, inciso I, do CCB. Certos atos, entretanto, podem praticar sem a assistência de seus 
representantes 
legais, tais como: 
 
a) ser eleitor, já que o voto secreto e direto é facultativo para os maiores de dezesseis e menores de 
dezoito anos; 
b) podem ser admitidos como testemunha; 
c) podem se casar; 
d) podem ser mandatários; 
e) podem fazer testamento. 
 
- Emancipação 
A emancipação é a antecipação da maioridade. É, pois, um mecanismo 
através do qual a pessoa com idade inferior à maioridade legal adquire maturidade suficiente para 
reger a si e seus bens. Um menor emancipado está livre 
de qualquer autoridade de seus pais ou do responsável legal. 
 
A emancipação está prevista no artigo 5o, parágrafo único, do nosso Có 
digo Civil, ao informar que “cessará, para os menores, a incapacidade:41 
I - pela concessão dos pais, ou de um deles na falta do outro, 
mediante instrumento público, independentemente de homologação judicial, ou por sentença do juiz, 
ouvido o tutor, se o 
menor tiver dezesseis anos completos; 
II - pelo casamento; 
III - pelo exercício de emprego público efetivo; 
IV - pela colação de grau em curso de ensino superior; 
V - pelo estabelecimento civil ou comercial, ou pela existência 
de relação de emprego, desde que, em função deles, o menor 
com dezesseis anos completos tenha economia própria. 
 
A emancipação prevista no artigo 5o, parágrafo único, inciso I, do Código Civil é a denominada 
emancipação voluntária e, dos demais incisos, chama- 
-se emancipação legal. 
- Pelo casamento 
 
O casamento acarreta a emancipação. O homem e a mulher com dezesseis anos podem casar, exigindo-se 
autorização de ambos os pais, ou de seus 
Capítulo 6 - PESSOAS NATURAIS 119 
representantes legais, enquanto não atingida a maioridade civil (CC, art. 
1.517). De acordo com o artigo 1.520, “excepcionalmente, será permitido o 
casamento de quem ainda não alcançou a idade núbil (art. 1517), para evitar 
imposição ou cumprimento de pena criminal ou em caso de gravidez”. 
Pelo exercício do emprego público efetivo 
 
O exercício do emprego público efetivo, também, dá azo a emancipação. 
Aqui deve prevalecer o status de servidor público, já que denota maturidade 
e discernimento para os atos da vida civil. 
Pela colação de grau em curso de ensino superior 
 
Esta é uma hipótese de emancipação de difícil ocorrência, já que é incomum uma pessoa conseguir colar grau 
em curso de nível superior com menos 
de dezoito anos de idade. 
Pelo estabelecimento civil ou comercial, ou pela existência 
de relação de emprego, desde que, em função deles, o menor 
com dezesseis anos completos tenha economia própria. 
 
Aqui a emancipação ocorrerá pelo estabelecimento civil ou comercial, 
ou pela existência de relação de emprego, que não seja trabalho eventual, 
possibilitando ao menor com dezesseis anos completos uma economia pró 
pria. Daí que os requisitos necessários para esta hipótese de emancipação 
são: a) estabelecimento civil ou comercial ou relação de emprego, e b) idade 
mínima de dezesseis anos completos. 
Extinção da Personalidade Natural 
 
De acordo com a regra do artigo 6o do nosso Código Civil, “a existência 
da pessoa natural termina com a morte; presume-se esta, quanto aos ausentes, nos casos em que a lei autoriza 
a abertura de sucessão definitiva”. 
Morte real 
 
A morte real é causa de extinção da personalidade natural, conforme artigo 6o, la parte, do Código Civil. A morte 
da pessoa é provada pelo atestado 
de óbito, de acordo com o caput do artigo 77 da Lei de Registro Público (LRP) 
que diz “nenhum sepultamento será feito sem certidão, do oficial de registro 
do lugar do falecimento, extraída após a lavratura do assento de óbito, em 
vista do atestado de médico, se houver no lugar, ou em caso contrário, de 
duas pessoas qualificadas que tiverem presenciado ou verificado a morte”. 
No caso de óbito de criança de menos de um ano, caberá ao oficial de registro do lugar de falecimento verificar 
se houve registro de nascimento, que, 
em caso de falta, será previamente feito (LRP, art. 77, § I o). 
Comoriência ou morte simultânea 
 
Se duas ou mais pessoas falecerem na mesma ocasião, não se podendo 
afirmar quem morreu primeiro, presumir-se-ão simultaneamente mortas. A 
comoriência é fundamental no direito sucessório, já que não existe transmissão de bens entre os comorientes. 
Diogo Leite de Campos ensina que “a prova do momento da morte interessa para determinar a ordem dos 
sucessores. 
Morte civil 
 
O Código Civil sustenta a morte civil, timidamente, quando trata dos 
excluídos da sucessão. O artigo 1.816 dispõe que “são pessoais os efeitos da 
exclusão; os descendentes do herdeiro excluído sucedem, como se ele morto 
fosse antes da abertura da sucessão”. 
- Morte presumida 
 
- Morte presumida com declaração de ausência 
 
De acordo com a regra do artigo 6o do nosso Código civil, “a existência 
da pessoa natural termina com a morte; presume-se esta, quanto aos ausentes, nos casos em que a lei autoriza 
a abertura de sucessão definitiva”.52 
O instituto da ausência encontra-se tipificado em nosso Código Civil, na 
Parte Geral, Livro I - Das pessoas, Título I - Das Pessoas Naturais, Capítulo Da Ausência, Seções I a III, nos artigos 
22 a 39. A ausência comporta 3 momentos distintos: a curadoria dos bens do ausente (arts. 22 a 25), a sucessão 
provisória (arts. 26 a 36) e a sucessão definitiva (arts. 37 a 39). 
Assim, a morte é presumida quanto aos ausentes, nos casos em que a 
lei autoriza a abertura da sucessão definitiva. Isto ocorre quando o ausente 
desaparece de seu domicílio sem notificar seu paradeiro ou deixar representante. 
A sentença declaratória de ausência deverá ser registrada em registro 
público (CC, art. 9°, IV). 
Morte presumida sem declaração de ausência 
 
0 artigo 7o do Código Civil brasileiro permite que seja declarada a morte presumida, sem decretação de ausência, 
nos seguintes casos: 
1 - se for extremamente provável a morte de quem estava em perigo de 
vida; 
II - se alguém, desaparecido em campanha ou feito prisioneiro, não for 
encontrado até dois anos após o término da guerra. 
A declaração da morte presumida, nesses casos, somente poderá ser requerida depois de esgotadas as buscas e 
averiguações, devendo a sentença 
fixar a data provável do falecimento (CC, art. 7o, parágrafo único).Desaparecimento em razão de atividade política 
 
A Lei 9.140, de 4.12.95, reconhece como mortas pessoas desaparecidas 
em razão de participação, ou acusação de participação, em atividades políticas, no período de 2 de setembro de 
1961 a 15 de agosto de 1979. 
São reconhecidas como mortas, para todos os efeitos legais, as pessoas 
que tenham participado, ou tenham sido acusadas de participação, em atividades políticas, no período de 2 de 
setembro de 1961 a 5 de outubro de 1988, 
e que, por este motivo, tenham sido detidas por agentes públicos, achando- 
-se, deste então, desaparecidas, sem que delas haja notícias (art. I o da Lei 
9.140/95 com redação dada pela Lei n° 10.536, de 2002). 
 
CAP. 09 DAS PESSOAS JURÍDICAS 
Na definição de Arnaldo Rizzardo, a pessoa jurídica é “o ente personalizado composto de duas ou mais pessoas 
físicas, unidas por um nexo visando 
a uma finalidade específica, e com a capacidade para realizar vários atos da 
vida civil; ou o ente público instituído por lei, mas que pressupõe normalmente a presença de vários indivíduos; 
ou o acervo de bens com destinação 
especial, no qual também se congregam indivíduos”. 
Natureza Jurídica 
 
A natureza jurídica da pessoa jurídica é permeada por divergências doutrinárias, fruto dos diversos 
pensamentos filosóficos de seus idealizadores. 
Em linhas gerais, alguns autores preferem agrupar as teorias em dois 
grandes grupos, a saber: a) as teorias afirmativistas e b) as teorias negativas. 
Os defensores destas teorias afirmam que as pessoas jurídicas não estão sujeitas a direitos e obrigações. 
Somente os indivíduos que as integram podem 
exercer tal titularidade. É uma teoria ultrapassada, já que se encontra em distonia com a realidade uma vez que 
os entes jurídicos societários podem ser 
sujeitos de direitos e obrigações na ordem jurídica civilística. Uma variação 
desta teoria é a da ficção, não admitindo a pessoa jurídica salvo como uma 
construção fictícia, ou seja, uma ficção artificial do ordenamento jurídico. A 
pessoa jurídica não existe de forma autônoma, mas sim através de seus membros. São estes que praticam os 
atos jurídicos e não a pessoa jurídica. 
Já para os defensores da teoria da realidade, a pessoa jurídica é um ente 
realmente existente na vida social. A natureza da pessoa jurídica é uma realidade, sendo autônoma e distinta 
dos membros que a integram, ou seja, a 
pessoa jurídica possui personalidade própria. 
No Brasil, desde o Código Civil brasileiro de 1916, adota-se esta teoria. 
O anterior diploma civilístico afirmava no caput do artigo 20 que “as 
pessoas jurídicas têm existência distinta da dos seus membros”. Daí, que a 
consequência imediata é a distinção da personalidade jurídica da pessoa jurí 
dica com a dos membros que a compõem. A personalidade jurídica da pessoa 
jurídica é, pois, uma realidade. 
Requisitos 
 
Os requisitos para a constituição da pessoa jurídica são em princípio: a) 
a união de várias pessoas com a intenção de criação de um ente jurídico com 
personalidade jurídica distinta da dos seus membros (affectio societatis); b) a 
elaboração de um ato constitutivo, requisito formal exigido por lei, que poderá ser o estatuto (no caso das 
associações), o contrato social (quando se tratar 
de sociedade simples ou empresárias) ou escritura pública ou testamento (no 
caso das fundações); c) o registro do referido ato constitutivo no órgão competente; d) licitude de suas 
finalidades, ou do objeto social motivacional de 
sua criação. 
Pessoa jurídica de direito público 
 
As pessoas jurídicas de direito público são aquelas que procuram atender 
às finalidades do Estado, são criadas pela Constituição da República ou através de lei.8 
As pessoas jurídicas de direito público subdividem-se em pessoas de direito público interno e direito público 
externo. 
As pessoas jurídicas de direito público interno englobam os órgãos da 
administração direta (União, Estados, Distrito Federal, Territórios e Municípios) e da administração indireta 
(autarquias, fundações públicas e demais 
entidades de caráter público criadas por lei). 
As pessoas jurídicas de direito público externo são aquelas regidas pelo Direito Internacional Público, tais como 
a UNESCO e a ONU. 
Pessoa jurídica de direito público interno 
 
0 artigo 41 do Código Civil brasileiro informa que são pessoas jurídicas 
de direito público interno:9 
1- a União; 
II - os Estados, o Distrito Federal e os Territórios; 
III - os Municípios; 
IV - as autarquias, inclusive as associações públicas;10 1 
V - as demais entidades de caráter público criadas por lei. 
Pessoa jurídica de direito público externo 
São pessoas jurídicas de direito público externo os Estados estrangeiros e 
todas as pessoas que forem regidas pelo direito internacional público (CC, 
art. 42).16 
Pessoa jurídica de direito privado 
De acordo com o artigo 44 do nosso Código Civil, as pessoas jurídicas de 
direito privado são: 
I - as associações; 
II- as sociedades; 
III - as fundações. 
IV - as organizações religiosas; (Incluído pela Lei n° 10.825, de 
22.12.2003) 
V- os partidos políticos. (Incluído pela Lei n° 10.825, de 22.12.2003) 
VI - as empresas individuais de responsabilidade limitada (Incluído pela 
Lei 12.441, de 2011). 
Quanto à nacionalidade 
Quanto à nacionalidade, a pessoa jurídica pode ser classificada como nacional e estrangeira. Aquela é 
organizada em conformidade com a legislação 
brasileira, e que tenha no País a sede de sua administração. O Código Civil 
brasileiro trata da sociedade nacional nos artigos 1.126 a 1.133.17 A sociedade estrangeira, por sua vez, não 
pode, sem autorização do Poder Executivo, 
funcionar, no País, ainda que por estabelecimentos subordinados, podendo, 
todavia, ressalvados os casos expressos em lei, ser acionista de sociedade 
anônima brasileira. No Código Civil, a sociedade estrangeira é disciplina nos 
artigos 1.134 a 1.141.18. 
Quanto à estrutura interna, a pessoa jurídica pode ser classificada em: 
corporação (universitas personarum) e fundação (universitas honorum). Aquela 
representa a união de pessoas para a consecução dos seus fins e podem ser 
divididas em associações e sociedades; esta, ao contrário, é composta de um 
patrimônio estabelecido pelo instituidor destinado a um fim, como exemplo, 
a Fundação Vale do Rio Doce - FVRD. 
Administração Direta (União, Estados, Territórios, Distrito Federal e 
Municípios) Administração Indireta (Autarquias, associações públicas, fundações públicas, agências 
executivas e reguladoras) Pessoa S Jurídica. 
Associações 
Introdução e garantias constitucionais 
As associações são constituídas pela união de pessoas que se organizam 
para fins não econômicos (CC, art. 53).19 
A liberdade de associação é uma garantia constitucional, já que o artigo 
5o, inciso XVII, da nossa Constituição determina que ‘ e plena a liberdade de 
associação para fins lícitos, vedada a de caráter paramilitar”. 
A criação de associações e, na forma da lei, a de cooperativas independem 
de autorização, sendo vedada a interferência estatal em seu funcionamento, é o que determina o artigo 5o, 
inciso XVIII, da nossa Constituição.20 A partir 
da análise do texto constitucional é possível perceber que a associação difere 
da cooperativa. Esta é uma espécie de sociedade com fins econômicos e não 
se confunde com a associação. A Lei 5.764, de 16.12.71, define a Política Nacional de Cooperativismo, institui o 
regime jurídico das sociedades cooperativas, e dá outras providências.21 
Logo, o Estado não pode interferir no funcionamento da associação e 
esta poderá ser criada independentemente de autorização governamental. 
O direito de desassociação, também, égarantido a todos, já que o inciso 
XX, do artigo 5o, da nossa Constituição garante que “ninguém poderá ser 
compelido a associar-se ou a permanecer associado”. 
Sociedades 
Introdução 
Como visto acima, as associações foram tratadas nos artigo 53 a 61 do 
Código Civil. As sociedades constituem tema de direito empresarial e estão 
disciplinadas nos artigos 981 a 1.141 do nosso Código Civil. 
De acordo com o art. 44 do Código Civil, tanto as associações quanto 
as sociedades são pessoas jurídicas de direito privado. Todavia, associação 
e sociedade não se confundem. As principais diferenças entre uma e outra 
podem ser apresentadas no quadro abaixo:3132 
Em relação ao artigo 61 do CCB, a V Jornada de Direito Civil estabeleceu 
que “Enunciado 407 - Art. 61. A obrigatoriedade de destinação do patrimônio líquido, remanescente da 
associação a instituição municipal, estadual ou 
federal de fins idênticos ou semelhantes, em face da omissão do estatuto, 
possui caráter subsidiário, devendo prevalecer a vontade dos associados, desde que seja contemplada entidade 
que persiga fins não econômicos.” 
 OBJETO CRIADA POR 
SOCIEDADE 
Atividade 
econômica 
Sócios 
Assumem 
obrigações 
recíprocas de 
contribuir 
para sua formação 
e 
partilhar dos 
resultados 
ASSOCIAÇÃO 
Fins não 
econômicos 
Associados 
Não há direitos e 
obrigações 
recíprocos 
Fundações 
9.7.1 Introdução 
As fundações pessoas jurídicas cuja organização está centrada em um patrimônio (universitas bonorum). As 
fundações são regidas pelos artigos 62 a 
69 do diploma civilístico. 
9.7.2 Constituição das fundações 
O artigo 62 do Código Civil preceitua que “para criar uma fundação, o 
seu instituidor fará, por escritura pública ou testamento, dotação especial 
de bens livres, especificando o fim a que se destina, e declarando, se quiser, a 
maneira de administrá-la”. 
As fundações são controladas e fiscalizadas pelo Ministério Público, em especial, pela curadoria de fundações. 
No Código Civil, a regra do artigo 66 preceitua que “velará pelas fundações o Ministério Público do Estado 
onde situadas”.39 Velar no sentido de proteger, guardar, estar em alerta com os assuntos fundacionais. 
Qualquer interessado ou o Ministério Público promoverá em juízo a extinção da fundação quando:421 - se 
tomar ilícito o seu objeto; II - for impossível a sua manutenção; III - vencer o prazo de sua existência. 
Organizações Religiosas 
Com a Lei n° 10.825, de 22.12.2003, o inciso IV foi incluído ao artigo 44 do Código Civil e as organizações 
religiosas passaram a fazer parte do das pessoas jurídicas de direito privado. 
As organizações religiosas são entidades que estão revestidas da garantia constitucional da liberdade de culto 
e de associação, consoante os incisos XVII e VI do artigo 5o constitucional. 
O art. 5o, inciso VI, determina que “é inviolável a Uberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o 
Hvre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas 
liturgias". 
Vale destacar, ainda, que é considerado crime, de acordo com o artigo 208 do Código Penal, “escarnecer de 
alguém publicamente, por motivo de crença ou função religiosa; impedir ou perturbar cerimônia ou prática de 
culto religioso; vilipendiar publicamente ato ou objeto de culto religioso” com pena de detenção de 1 mês a 1 
ano, ou multa. 
Partidos Políticos 
Com a Lei n° 10.825, de 22.12.2003, o inciso V foi incluído ao artigo 44 do Código Civil e os partidos políticos 
passaram a fazer parte das pessoas jurídicas de direito privado. 
O § 3o do artigo 44 determina que os partidos políticos serão organizados e funcionarão conforme o disposto 
em lei específica (Incluído pela Lei n° 10.825, de 22.12.2003). 
A lei que regulamenta os partidos políticos é a Lei n° 9.096, de 19.9.95. O partido político, pessoa jurídica de 
direito privado, destina-se a assegurar, no interesse do regime democrático, a autenticidade do sistema 
representativo e a defender os direitos fundamentais definidos na Constituição Federal (art. I o, Lei 9.096/95). 
E livre a criação, fusão, incorporação e extinção de partidos políticos cujos programas respeitem a soberania 
nacional, o regime democrático, o pluripartidarismo e os direitos fundamentais da pessoa humana (art. 2o, Lei 
9.096/95). 
Início e Fim da Personalidade da Pessoa Jurídica de Direito Público 
O início e o fim da personalidade da pessoa jurídica de direito público ocorre através de lei. 
Início da Existência Legal das Pessoas Jurídicas de Direito Privado 
O início da existência legal das pessoas jurídicas de direito privado ocorre com a inscrição do ato constitutivo 
no respectivo registro, precedida, quando necessário, de autorização ou aprovação do Poder Executivo, 
averbando-se no registro todas as alterações por que passar o ato constitutivo 
(CC, art. 45). O registro do contrato social de uma sociedade empresária é realizado 
nas Juntas Comerciais, já que o empresário e a sociedade empresária vinculam-se ao Registro Público de 
Empresas Mercantis (CC, art. 1.150, la parte). 
Já os demais estatutos e atos constitutivos das demais pessoas jurídicas de direito privado serão registrados 
no Cartório de Registro Civil das Pessoas Jurídicas (CC, art. 1.150, 2a parte). 
Término da Existência das Pessoas Jurídicas de Direito 
Privado 
Os motivos da dissolução da pessoa jurídica podem ser encontrados no artigo 21 do anterior Código Civil (CC-
1916) ao informar que o término da existência da pessoa jurídica ocorria: 
Capítulo 9 - DAS PESSOAS JURÍDICAS 377 
I - pela sua dissolução, deliberada entre os seus membros, salvo o direito da minoria e de terceiros; 
II - pela sua dissolução, quando a lei determine; 
III - pela sua dissolução em virtude de ato do Governo, que lhe casse a autorização para funcionar, quando a 
pessoa jurídica incorra em atos opostos aos seus fins ou nocivos ao bem público. 
Dessa maneira, a dissolução poderá ocorrer porque o governo cessou a autorização para funcionamento, 
porque os membros não querem mais ficar reunidos, ou porque a finalidade não é mais permitida em lei. 
 
A desconsideração da personalidade jurídica permite que o magistrado, em casos de fraude e má-fé, coloque 
de lado, naquele caso concreto decidendo, a autonomia patrimonial da sociedade, possibilitando a 
responsabilização direta e ilimitada do sócio por obrigação que, em princípio, é da sociedade. 
A finalidade deste ato é impossibilitar que a sociedade seja utilizada por seus sócios como um escudo protetor 
de seus atos fraudulentos no dia a dia das transações comerciais. 
Teoria da aparência 
A teoria da aparência ocorre no momento em que o sujeito pratica atos 
em nome da sociedade, extrapolando os limites da representação, ou até 
mesmo inexistindo tais poderes, de forma reiterada e sem oposição desta, 
presentes os requisitos da aparência escusável e boa-fé do terceiro. 
Thelma Fraga ensina que “uma vez caracterizada a teoria da aparência, 
responderá a pessoa jurídica pelos atos praticados por aquele que não detinha poderes para agir em nome da 
empresa, em proteção aos interesses do 
terceiro de boa-fé, assegurando o direito de regresso em benefício da pessoa 
jurídica e em detrimento do verdadeiro causador do ato”.60 
Cristiano Chaves de Farias e Nélson Rosenvald afirmam que a responsabilidade civil decorrente da aparência 
é o acolhimento do princípio da boa- 
-fé, “fazendo com que terceiros que estão, aparentemente, negociando com a 
pessoa jurídica estejam protegidos, responsabilizando-a mesmo não se tratando de ato próprio da 
sociedade”.61

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