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CAP. 05 – DIREITO CIVIL I, CLEYSON DE MORAES MELLO NOVOS PRINCIPIOS DO CC. : SOCIALIDADE: ETICIDADE: traduz uma hermenêutica lastreada nas noções de moral, ética, boa-fé, honestidade, lealdade e confiança. OPERABILIDADE: Miguel Reale afirma que “dar ao Anteprojeto antes um sentido operacional do que conceituai, procurando configurar os modelos jurídicos à luz do princípio da realizabilidade, em função das forças sociais operantes no País, para atuarem como instrumentos de paz social e de desenvolvimento”. O Código Civil se destina, pois, a regular as relações jurídicas Inter privadas (pessoas naturais e pessoas jurídicas), bem como as questões fundamentais do direito empresarial. Capítulo6 - PESSOAS NATURAIS A pessoa natural é, pois, o ser humano e sua dignidade é um dos fundamentos do Estado Democrático de Direito, conforme o artigo I o, inciso III, da Constituição da República Federativa do Brasil. CLÓVIS BEVILÁQUA anota que “pessoa é o ser, a que se atribuem direitos e obrigações. Equivale, assim, a sujeito de direitos”. O autor afirma, ainda, que “personalidade é a aptidão, reconhecida pela ordem jurídica a alguém, para exercer direitos e contrair obrigações”. A personalidade difere da capacidade. No mesmo sentido, FRANCISCO AMARAL ensina que a personalidade não se identifica com a capacidade. Pode existir personalidade sem capacidade, como se verifica com o nascituro, que ainda não tem capacidade. Já as pessoas jurídicas têm capacidade de direito e não dispõem de certas formas de proteção da personalidade. Início da Pessoa Natural O artigo 2o do Código Civil diz: “A personalidade civil da pessoa começa do nascimento com vida; mas a lei põe a salvo, desde a concepção, os direitos do nascituro”.7 A pessoa é o ser humano, sujeito da relação jurídica, podendo auferir direitos e contrair obrigações e nascituro o ser humano já concebido que há de nascer. Em relação ao início da personalidade da pessoa humana, existem várias teorias. Vejamos: a) Teoria Natalista Para a teoria Natalista é necessário que a pessoa nasça com vida e o recém-nascido tenha respirado, ou seja, tenha entrado ar nos pulmões, ainda que por alguns instantes. A docimasia pulmonar hidrostática é o exame de investigação realizado na criança visando à verificação de entrada de ar nos pulmões. b) Teoria Concepcionista A outra corrente, chamada de Concepcionista, alega que a personalidade civil da pessoa começa a partir da concepção (momento de união do gameta masculino e feminino). É uma teoria alinhada com o projeto do Código Civil de Teixeira de Freitas, Nabuco de Araújo e Joaquim Felício dos Santos. Aqui, o ser que está para nascer já possui personalidade jurídica. c) Teoria da Personalidade Condicional Aqui a personalidade civil começa com o nascimento com vida, mas os direitos do nascituro ficam sujeitos a uma condição suspensiva (evento futuro e incerto), qual seja, o nascimento com vida. É, pois, um direito eventual. Os defensores desta teoria se baseiam no artigo 130 do CCB que permite ao titular de direito eventual. Esta teoria é, pois, um aprimoramento da teoria Natalista. d) Teoria da Nidação Com a Teoria da Nidação defende-se que o embrião passaria a adquirir vida com sua implantação no útero da mulher. Anteriormente a este fenômeno, haveria apenas um aglomerado de células que constituiria posteriormente os alicerces do embrião. Para esta teoria, não há viabilidade de vida para o embrião em laboratório, necessitando, portanto, ser implantado no útero da mulher. - Capacidade de Direito (ou de Gozo) e Capacidade de Fato (ou de Exercício) A capacidade de direito ou capacidade de gozo é a aptidão para ser titular de direitos e deveres no mundo jurídico. A capacidade de fato ou capacidade de exercício é a aptidão para a prática dos atos jurídicos, ou seja, é a possibilidade de alguém praticar atos jurídicos visando a aquisição, modificação ou extinção das relações jurídicas. A capacidade de fato é variável, já que depende do grau de entendimento e vontade própria da pessoa. - Capacidade e Legitimidade A capacidade não se confunde com a legitimidade. A capacidade é a aptidão para ser titular de direitos e deveres no mundo jurídico e a legitimidade é a posição em que a pessoa se encontra em relação a um interesse, bens ou situação jurídica, sobre os quais possa agir. Melhor dizendo, a legitimidade é a possibilidade que a pessoa tem de agir, de manifestar sua vontade, autorizada pela lei, sobre um interesse, bens ou situação jurídica. - Incapacidades A incapacidade ou falta de capacidade é a restrição legal ao exercício dos atos da vida civil. Quanto à capacidade, as pessoas estão agrupadas em três espécies, a saber: a) as pessoas absolutamente incapazes, b) as pessoas relativamente incapazes e c) as pessoas capazes. “são absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos da vida civil os menores de 16 (dezesseis) anos.” “a deficiência não afeta a plena capacidade civil da pessoa, inclusive para: I - casar-se e constituir união estável; II - exercer direitos sexuais e reprodutivos; III - exercer o direito de decidir sobre o número de filhos e de ter acesso a informações adequadas sobre reprodução e planejamento familiar; IV - conservar sua fertilidade, sendo vedada a esterilização compulsória; V - exercer o direito à família e à convivência familiar e comunitária; e VI - exercer o direito à guarda, à tutela, à curatela e à adoção, como adotante ou adotando, em igualdade de oportunidades com as demais pessoas.” Todavia, em caráter excepcional, a pessoa com deficiência mental ou intelectual poderá ser submetida a curatela, no seu legítimo interesse. Essa curatela está delineada no artigo 84, §1° do Estatuto da Pessoa com Deficiência: “Quando necessário, a pessoa com deficiência será submetida à curatela, conforme a lei.” A definição de curatela de pessoa com deficiência constitui medida protetiva extraordinária, proporcional às necessidades e às circunstâncias de cada caso, e durará o menor tempo possível (artigo 84, § 3o da Lei 13.146/2015). Os curadores são obrigados a prestar, anualmente, contas de sua administração ao juiz, apresentando o balanço do respectivo ano (artigo 84, § 4o da Lei 13.146/2015). Importante destacar que a curatela afetará tão somente os atos relacionados aos direitos de natureza patrimonial e negociai. A definição da curatela não alcança o direito ao próprio corpo, à sexualidade, ao matrimônio, à privacidade, à educação, à saúde, ao trabalho e ao voto. ‘A tomada de decisão apoiada é o processo pelo qual a pessoa com deficiência elege pelo menos 2 (duas) pessoas idôneas, com as quais mantenha vínculos e que gozem de sua confiança, para prestar-lhe apoio na tomada de decisão sobre atos da vida civil, fornecendo-lhes os elementos e informações necessárias para que possa exercer sua capacidade. ” a) Absolutamente incapazes Os absolutamente incapazes são aqueles que não podem exercer os atos da vida civil desacompanhados. O ato jurídico somente poderá ser praticado pelo seu representante legal. O artigo 3o do nosso Código Civil trata dos absolutamente incapazes. Como visto acima, ficam nesta categoria apenas os menores de 16 anos. Assim os menores de dezesseis anos são absolutamente incapazes, já que o legislador deduziu que eles não possuem um desenvolvimento intelectual maduro para a prática dos atos jurídicos e para a condução própria de sua vida sem a representação de seus pais, tutores ou curadores. Considera-se criança a pessoa até 12 (doze) anos de idadeincompletos, e adolescente aquela entre doze e dezoito anos de idade (ECA, art. 2o). b) Relativamente incapazes A incapacidade relativa é a limitação a certos atos, ou à maneira de os exercer. Os relativamente incapazes podem manifestar sua vontade, mas devem ser assistidos. A assistência é o instituto jurídico que representa a intervenção nos atos jurídicos praticados pelos relativamente incapazes. São assistentes: pais e tutores. Dessa maneira, são representados (representação) os absolutamente incapazes e assistidos (assistência) os relativamente incapazes. 0 artigo 4o, também modificado pela Lei 13.146/2015, determina que ‘ são incapazes, relativamente a certos atos ou à maneira de os exercer: 1 - os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos; II - os ébrios habituais e os viciados em tóxico;29 30 31 III - aqueles que, por causa transitória ou permanente, não puderem exprimir sua vontade;30 31 IV - os pródigos. Parágrafo único. A capacidade dos indígenas será regulada por legisla ção especial (artigo 4o, parágrafo único). O artigo 171, inciso I, do CCB determina que é anulável o negócio jurídico por incapacidade relativa do agente. Os maiores de dezesseis anos e menores de dezoito anos são considerados relativamente incapazes, conforme artigo 4o, inciso I, do CCB. Certos atos, entretanto, podem praticar sem a assistência de seus representantes legais, tais como: a) ser eleitor, já que o voto secreto e direto é facultativo para os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos; b) podem ser admitidos como testemunha; c) podem se casar; d) podem ser mandatários; e) podem fazer testamento. - Emancipação A emancipação é a antecipação da maioridade. É, pois, um mecanismo através do qual a pessoa com idade inferior à maioridade legal adquire maturidade suficiente para reger a si e seus bens. Um menor emancipado está livre de qualquer autoridade de seus pais ou do responsável legal. A emancipação está prevista no artigo 5o, parágrafo único, do nosso Có digo Civil, ao informar que “cessará, para os menores, a incapacidade:41 I - pela concessão dos pais, ou de um deles na falta do outro, mediante instrumento público, independentemente de homologação judicial, ou por sentença do juiz, ouvido o tutor, se o menor tiver dezesseis anos completos; II - pelo casamento; III - pelo exercício de emprego público efetivo; IV - pela colação de grau em curso de ensino superior; V - pelo estabelecimento civil ou comercial, ou pela existência de relação de emprego, desde que, em função deles, o menor com dezesseis anos completos tenha economia própria. A emancipação prevista no artigo 5o, parágrafo único, inciso I, do Código Civil é a denominada emancipação voluntária e, dos demais incisos, chama- -se emancipação legal. - Pelo casamento O casamento acarreta a emancipação. O homem e a mulher com dezesseis anos podem casar, exigindo-se autorização de ambos os pais, ou de seus Capítulo 6 - PESSOAS NATURAIS 119 representantes legais, enquanto não atingida a maioridade civil (CC, art. 1.517). De acordo com o artigo 1.520, “excepcionalmente, será permitido o casamento de quem ainda não alcançou a idade núbil (art. 1517), para evitar imposição ou cumprimento de pena criminal ou em caso de gravidez”. Pelo exercício do emprego público efetivo O exercício do emprego público efetivo, também, dá azo a emancipação. Aqui deve prevalecer o status de servidor público, já que denota maturidade e discernimento para os atos da vida civil. Pela colação de grau em curso de ensino superior Esta é uma hipótese de emancipação de difícil ocorrência, já que é incomum uma pessoa conseguir colar grau em curso de nível superior com menos de dezoito anos de idade. Pelo estabelecimento civil ou comercial, ou pela existência de relação de emprego, desde que, em função deles, o menor com dezesseis anos completos tenha economia própria. Aqui a emancipação ocorrerá pelo estabelecimento civil ou comercial, ou pela existência de relação de emprego, que não seja trabalho eventual, possibilitando ao menor com dezesseis anos completos uma economia pró pria. Daí que os requisitos necessários para esta hipótese de emancipação são: a) estabelecimento civil ou comercial ou relação de emprego, e b) idade mínima de dezesseis anos completos. Extinção da Personalidade Natural De acordo com a regra do artigo 6o do nosso Código Civil, “a existência da pessoa natural termina com a morte; presume-se esta, quanto aos ausentes, nos casos em que a lei autoriza a abertura de sucessão definitiva”. Morte real A morte real é causa de extinção da personalidade natural, conforme artigo 6o, la parte, do Código Civil. A morte da pessoa é provada pelo atestado de óbito, de acordo com o caput do artigo 77 da Lei de Registro Público (LRP) que diz “nenhum sepultamento será feito sem certidão, do oficial de registro do lugar do falecimento, extraída após a lavratura do assento de óbito, em vista do atestado de médico, se houver no lugar, ou em caso contrário, de duas pessoas qualificadas que tiverem presenciado ou verificado a morte”. No caso de óbito de criança de menos de um ano, caberá ao oficial de registro do lugar de falecimento verificar se houve registro de nascimento, que, em caso de falta, será previamente feito (LRP, art. 77, § I o). Comoriência ou morte simultânea Se duas ou mais pessoas falecerem na mesma ocasião, não se podendo afirmar quem morreu primeiro, presumir-se-ão simultaneamente mortas. A comoriência é fundamental no direito sucessório, já que não existe transmissão de bens entre os comorientes. Diogo Leite de Campos ensina que “a prova do momento da morte interessa para determinar a ordem dos sucessores. Morte civil O Código Civil sustenta a morte civil, timidamente, quando trata dos excluídos da sucessão. O artigo 1.816 dispõe que “são pessoais os efeitos da exclusão; os descendentes do herdeiro excluído sucedem, como se ele morto fosse antes da abertura da sucessão”. - Morte presumida - Morte presumida com declaração de ausência De acordo com a regra do artigo 6o do nosso Código civil, “a existência da pessoa natural termina com a morte; presume-se esta, quanto aos ausentes, nos casos em que a lei autoriza a abertura de sucessão definitiva”.52 O instituto da ausência encontra-se tipificado em nosso Código Civil, na Parte Geral, Livro I - Das pessoas, Título I - Das Pessoas Naturais, Capítulo Da Ausência, Seções I a III, nos artigos 22 a 39. A ausência comporta 3 momentos distintos: a curadoria dos bens do ausente (arts. 22 a 25), a sucessão provisória (arts. 26 a 36) e a sucessão definitiva (arts. 37 a 39). Assim, a morte é presumida quanto aos ausentes, nos casos em que a lei autoriza a abertura da sucessão definitiva. Isto ocorre quando o ausente desaparece de seu domicílio sem notificar seu paradeiro ou deixar representante. A sentença declaratória de ausência deverá ser registrada em registro público (CC, art. 9°, IV). Morte presumida sem declaração de ausência 0 artigo 7o do Código Civil brasileiro permite que seja declarada a morte presumida, sem decretação de ausência, nos seguintes casos: 1 - se for extremamente provável a morte de quem estava em perigo de vida; II - se alguém, desaparecido em campanha ou feito prisioneiro, não for encontrado até dois anos após o término da guerra. A declaração da morte presumida, nesses casos, somente poderá ser requerida depois de esgotadas as buscas e averiguações, devendo a sentença fixar a data provável do falecimento (CC, art. 7o, parágrafo único).Desaparecimento em razão de atividade política A Lei 9.140, de 4.12.95, reconhece como mortas pessoas desaparecidas em razão de participação, ou acusação de participação, em atividades políticas, no período de 2 de setembro de 1961 a 15 de agosto de 1979. São reconhecidas como mortas, para todos os efeitos legais, as pessoas que tenham participado, ou tenham sido acusadas de participação, em atividades políticas, no período de 2 de setembro de 1961 a 5 de outubro de 1988, e que, por este motivo, tenham sido detidas por agentes públicos, achando- -se, deste então, desaparecidas, sem que delas haja notícias (art. I o da Lei 9.140/95 com redação dada pela Lei n° 10.536, de 2002). CAP. 09 DAS PESSOAS JURÍDICAS Na definição de Arnaldo Rizzardo, a pessoa jurídica é “o ente personalizado composto de duas ou mais pessoas físicas, unidas por um nexo visando a uma finalidade específica, e com a capacidade para realizar vários atos da vida civil; ou o ente público instituído por lei, mas que pressupõe normalmente a presença de vários indivíduos; ou o acervo de bens com destinação especial, no qual também se congregam indivíduos”. Natureza Jurídica A natureza jurídica da pessoa jurídica é permeada por divergências doutrinárias, fruto dos diversos pensamentos filosóficos de seus idealizadores. Em linhas gerais, alguns autores preferem agrupar as teorias em dois grandes grupos, a saber: a) as teorias afirmativistas e b) as teorias negativas. Os defensores destas teorias afirmam que as pessoas jurídicas não estão sujeitas a direitos e obrigações. Somente os indivíduos que as integram podem exercer tal titularidade. É uma teoria ultrapassada, já que se encontra em distonia com a realidade uma vez que os entes jurídicos societários podem ser sujeitos de direitos e obrigações na ordem jurídica civilística. Uma variação desta teoria é a da ficção, não admitindo a pessoa jurídica salvo como uma construção fictícia, ou seja, uma ficção artificial do ordenamento jurídico. A pessoa jurídica não existe de forma autônoma, mas sim através de seus membros. São estes que praticam os atos jurídicos e não a pessoa jurídica. Já para os defensores da teoria da realidade, a pessoa jurídica é um ente realmente existente na vida social. A natureza da pessoa jurídica é uma realidade, sendo autônoma e distinta dos membros que a integram, ou seja, a pessoa jurídica possui personalidade própria. No Brasil, desde o Código Civil brasileiro de 1916, adota-se esta teoria. O anterior diploma civilístico afirmava no caput do artigo 20 que “as pessoas jurídicas têm existência distinta da dos seus membros”. Daí, que a consequência imediata é a distinção da personalidade jurídica da pessoa jurí dica com a dos membros que a compõem. A personalidade jurídica da pessoa jurídica é, pois, uma realidade. Requisitos Os requisitos para a constituição da pessoa jurídica são em princípio: a) a união de várias pessoas com a intenção de criação de um ente jurídico com personalidade jurídica distinta da dos seus membros (affectio societatis); b) a elaboração de um ato constitutivo, requisito formal exigido por lei, que poderá ser o estatuto (no caso das associações), o contrato social (quando se tratar de sociedade simples ou empresárias) ou escritura pública ou testamento (no caso das fundações); c) o registro do referido ato constitutivo no órgão competente; d) licitude de suas finalidades, ou do objeto social motivacional de sua criação. Pessoa jurídica de direito público As pessoas jurídicas de direito público são aquelas que procuram atender às finalidades do Estado, são criadas pela Constituição da República ou através de lei.8 As pessoas jurídicas de direito público subdividem-se em pessoas de direito público interno e direito público externo. As pessoas jurídicas de direito público interno englobam os órgãos da administração direta (União, Estados, Distrito Federal, Territórios e Municípios) e da administração indireta (autarquias, fundações públicas e demais entidades de caráter público criadas por lei). As pessoas jurídicas de direito público externo são aquelas regidas pelo Direito Internacional Público, tais como a UNESCO e a ONU. Pessoa jurídica de direito público interno 0 artigo 41 do Código Civil brasileiro informa que são pessoas jurídicas de direito público interno:9 1- a União; II - os Estados, o Distrito Federal e os Territórios; III - os Municípios; IV - as autarquias, inclusive as associações públicas;10 1 V - as demais entidades de caráter público criadas por lei. Pessoa jurídica de direito público externo São pessoas jurídicas de direito público externo os Estados estrangeiros e todas as pessoas que forem regidas pelo direito internacional público (CC, art. 42).16 Pessoa jurídica de direito privado De acordo com o artigo 44 do nosso Código Civil, as pessoas jurídicas de direito privado são: I - as associações; II- as sociedades; III - as fundações. IV - as organizações religiosas; (Incluído pela Lei n° 10.825, de 22.12.2003) V- os partidos políticos. (Incluído pela Lei n° 10.825, de 22.12.2003) VI - as empresas individuais de responsabilidade limitada (Incluído pela Lei 12.441, de 2011). Quanto à nacionalidade Quanto à nacionalidade, a pessoa jurídica pode ser classificada como nacional e estrangeira. Aquela é organizada em conformidade com a legislação brasileira, e que tenha no País a sede de sua administração. O Código Civil brasileiro trata da sociedade nacional nos artigos 1.126 a 1.133.17 A sociedade estrangeira, por sua vez, não pode, sem autorização do Poder Executivo, funcionar, no País, ainda que por estabelecimentos subordinados, podendo, todavia, ressalvados os casos expressos em lei, ser acionista de sociedade anônima brasileira. No Código Civil, a sociedade estrangeira é disciplina nos artigos 1.134 a 1.141.18. Quanto à estrutura interna, a pessoa jurídica pode ser classificada em: corporação (universitas personarum) e fundação (universitas honorum). Aquela representa a união de pessoas para a consecução dos seus fins e podem ser divididas em associações e sociedades; esta, ao contrário, é composta de um patrimônio estabelecido pelo instituidor destinado a um fim, como exemplo, a Fundação Vale do Rio Doce - FVRD. Administração Direta (União, Estados, Territórios, Distrito Federal e Municípios) Administração Indireta (Autarquias, associações públicas, fundações públicas, agências executivas e reguladoras) Pessoa S Jurídica. Associações Introdução e garantias constitucionais As associações são constituídas pela união de pessoas que se organizam para fins não econômicos (CC, art. 53).19 A liberdade de associação é uma garantia constitucional, já que o artigo 5o, inciso XVII, da nossa Constituição determina que ‘ e plena a liberdade de associação para fins lícitos, vedada a de caráter paramilitar”. A criação de associações e, na forma da lei, a de cooperativas independem de autorização, sendo vedada a interferência estatal em seu funcionamento, é o que determina o artigo 5o, inciso XVIII, da nossa Constituição.20 A partir da análise do texto constitucional é possível perceber que a associação difere da cooperativa. Esta é uma espécie de sociedade com fins econômicos e não se confunde com a associação. A Lei 5.764, de 16.12.71, define a Política Nacional de Cooperativismo, institui o regime jurídico das sociedades cooperativas, e dá outras providências.21 Logo, o Estado não pode interferir no funcionamento da associação e esta poderá ser criada independentemente de autorização governamental. O direito de desassociação, também, égarantido a todos, já que o inciso XX, do artigo 5o, da nossa Constituição garante que “ninguém poderá ser compelido a associar-se ou a permanecer associado”. Sociedades Introdução Como visto acima, as associações foram tratadas nos artigo 53 a 61 do Código Civil. As sociedades constituem tema de direito empresarial e estão disciplinadas nos artigos 981 a 1.141 do nosso Código Civil. De acordo com o art. 44 do Código Civil, tanto as associações quanto as sociedades são pessoas jurídicas de direito privado. Todavia, associação e sociedade não se confundem. As principais diferenças entre uma e outra podem ser apresentadas no quadro abaixo:3132 Em relação ao artigo 61 do CCB, a V Jornada de Direito Civil estabeleceu que “Enunciado 407 - Art. 61. A obrigatoriedade de destinação do patrimônio líquido, remanescente da associação a instituição municipal, estadual ou federal de fins idênticos ou semelhantes, em face da omissão do estatuto, possui caráter subsidiário, devendo prevalecer a vontade dos associados, desde que seja contemplada entidade que persiga fins não econômicos.” OBJETO CRIADA POR SOCIEDADE Atividade econômica Sócios Assumem obrigações recíprocas de contribuir para sua formação e partilhar dos resultados ASSOCIAÇÃO Fins não econômicos Associados Não há direitos e obrigações recíprocos Fundações 9.7.1 Introdução As fundações pessoas jurídicas cuja organização está centrada em um patrimônio (universitas bonorum). As fundações são regidas pelos artigos 62 a 69 do diploma civilístico. 9.7.2 Constituição das fundações O artigo 62 do Código Civil preceitua que “para criar uma fundação, o seu instituidor fará, por escritura pública ou testamento, dotação especial de bens livres, especificando o fim a que se destina, e declarando, se quiser, a maneira de administrá-la”. As fundações são controladas e fiscalizadas pelo Ministério Público, em especial, pela curadoria de fundações. No Código Civil, a regra do artigo 66 preceitua que “velará pelas fundações o Ministério Público do Estado onde situadas”.39 Velar no sentido de proteger, guardar, estar em alerta com os assuntos fundacionais. Qualquer interessado ou o Ministério Público promoverá em juízo a extinção da fundação quando:421 - se tomar ilícito o seu objeto; II - for impossível a sua manutenção; III - vencer o prazo de sua existência. Organizações Religiosas Com a Lei n° 10.825, de 22.12.2003, o inciso IV foi incluído ao artigo 44 do Código Civil e as organizações religiosas passaram a fazer parte do das pessoas jurídicas de direito privado. As organizações religiosas são entidades que estão revestidas da garantia constitucional da liberdade de culto e de associação, consoante os incisos XVII e VI do artigo 5o constitucional. O art. 5o, inciso VI, determina que “é inviolável a Uberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o Hvre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias". Vale destacar, ainda, que é considerado crime, de acordo com o artigo 208 do Código Penal, “escarnecer de alguém publicamente, por motivo de crença ou função religiosa; impedir ou perturbar cerimônia ou prática de culto religioso; vilipendiar publicamente ato ou objeto de culto religioso” com pena de detenção de 1 mês a 1 ano, ou multa. Partidos Políticos Com a Lei n° 10.825, de 22.12.2003, o inciso V foi incluído ao artigo 44 do Código Civil e os partidos políticos passaram a fazer parte das pessoas jurídicas de direito privado. O § 3o do artigo 44 determina que os partidos políticos serão organizados e funcionarão conforme o disposto em lei específica (Incluído pela Lei n° 10.825, de 22.12.2003). A lei que regulamenta os partidos políticos é a Lei n° 9.096, de 19.9.95. O partido político, pessoa jurídica de direito privado, destina-se a assegurar, no interesse do regime democrático, a autenticidade do sistema representativo e a defender os direitos fundamentais definidos na Constituição Federal (art. I o, Lei 9.096/95). E livre a criação, fusão, incorporação e extinção de partidos políticos cujos programas respeitem a soberania nacional, o regime democrático, o pluripartidarismo e os direitos fundamentais da pessoa humana (art. 2o, Lei 9.096/95). Início e Fim da Personalidade da Pessoa Jurídica de Direito Público O início e o fim da personalidade da pessoa jurídica de direito público ocorre através de lei. Início da Existência Legal das Pessoas Jurídicas de Direito Privado O início da existência legal das pessoas jurídicas de direito privado ocorre com a inscrição do ato constitutivo no respectivo registro, precedida, quando necessário, de autorização ou aprovação do Poder Executivo, averbando-se no registro todas as alterações por que passar o ato constitutivo (CC, art. 45). O registro do contrato social de uma sociedade empresária é realizado nas Juntas Comerciais, já que o empresário e a sociedade empresária vinculam-se ao Registro Público de Empresas Mercantis (CC, art. 1.150, la parte). Já os demais estatutos e atos constitutivos das demais pessoas jurídicas de direito privado serão registrados no Cartório de Registro Civil das Pessoas Jurídicas (CC, art. 1.150, 2a parte). Término da Existência das Pessoas Jurídicas de Direito Privado Os motivos da dissolução da pessoa jurídica podem ser encontrados no artigo 21 do anterior Código Civil (CC- 1916) ao informar que o término da existência da pessoa jurídica ocorria: Capítulo 9 - DAS PESSOAS JURÍDICAS 377 I - pela sua dissolução, deliberada entre os seus membros, salvo o direito da minoria e de terceiros; II - pela sua dissolução, quando a lei determine; III - pela sua dissolução em virtude de ato do Governo, que lhe casse a autorização para funcionar, quando a pessoa jurídica incorra em atos opostos aos seus fins ou nocivos ao bem público. Dessa maneira, a dissolução poderá ocorrer porque o governo cessou a autorização para funcionamento, porque os membros não querem mais ficar reunidos, ou porque a finalidade não é mais permitida em lei. A desconsideração da personalidade jurídica permite que o magistrado, em casos de fraude e má-fé, coloque de lado, naquele caso concreto decidendo, a autonomia patrimonial da sociedade, possibilitando a responsabilização direta e ilimitada do sócio por obrigação que, em princípio, é da sociedade. A finalidade deste ato é impossibilitar que a sociedade seja utilizada por seus sócios como um escudo protetor de seus atos fraudulentos no dia a dia das transações comerciais. Teoria da aparência A teoria da aparência ocorre no momento em que o sujeito pratica atos em nome da sociedade, extrapolando os limites da representação, ou até mesmo inexistindo tais poderes, de forma reiterada e sem oposição desta, presentes os requisitos da aparência escusável e boa-fé do terceiro. Thelma Fraga ensina que “uma vez caracterizada a teoria da aparência, responderá a pessoa jurídica pelos atos praticados por aquele que não detinha poderes para agir em nome da empresa, em proteção aos interesses do terceiro de boa-fé, assegurando o direito de regresso em benefício da pessoa jurídica e em detrimento do verdadeiro causador do ato”.60 Cristiano Chaves de Farias e Nélson Rosenvald afirmam que a responsabilidade civil decorrente da aparência é o acolhimento do princípio da boa- -fé, “fazendo com que terceiros que estão, aparentemente, negociando com a pessoa jurídica estejam protegidos, responsabilizando-a mesmo não se tratando de ato próprio da sociedade”.61
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