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AT 1 2 32 S U M Á R IO 2 3 INTRODUÇÃO 5 UNIDADE 1 - Família 5 1.1 Desenvolvimento humano e relacionamentos amorosos 10 1.2 Família 17 UNIDADE 2 - Conflitos e litígios 23 UNIDADE 3 - Mediação 27 UNIDADE 4 - Conjugalidade e parentalidade 30 UNIDADE 5 - Guarda e visitação 30 5.1 A criança filha de divorciados: guarda e visitação 33 5.2 Guarda compartilhada 36 5.3 Atuação do psicólogo 41 5.4 Síndrome da alienação parental 47 UNIDADE 6 - Implicações da separação para a criança 51 UNIDADE 7 - Violência de gênero e violência doméstica 55 UNIDADE 8 - Lei maria da penha 60 UNIDADE 9 - Atendimento à mulher vitimizada e ao agressor 60 9.1 Atendimento às vítimas de violência doméstica 62 9.2 Atendimento aos agressores 64 REFERÊNCIAS 2 333 INTRODUÇÃO Dando prosseguimento ao curso, neste material iremos enfatizar a importância do psicólogo nas questões inerentes às Varas de Família e nas questões acerca da violência de gênero – situação tão preocu- pante, relevante estatisticamente e atual na sociedade brasileira. Partimos nossa reflexão a partir de uma análise – superficial, devido às limitações de espaço – porém marcante, de deter- minados fatores associados ao contexto histórico-cultural brasileiro que auxiliam uma melhor compreensão do conceito de família, divórcio e do papel que a mulher desempenha na sociedade. O panorama atual possui suas origens numa sociedade machista, patriarcalista, na qual a mulher não gozava de uma série de direitos, tais como o de voto, de admi- nistração de seus bens quando casada ou de trabalhar sem a permissão do marido. As mudanças que envolvem as relações familiares e relacionadas à violência de gênero foram acontecendo a partir da promulgação de leis, tais como a lei do Di- vórcio, lei Maria da Penha, lei da Alienação parental, dentre outras que serão eluci- dadas no decorrer do material. A importância do movimento feminista, associado a outras conquistas, garanti- ram mudanças na mentalidade social que beneficiaram não apenas as mulheres, mas também as famílias e os filhos. Como membro da equipe multiprofis- sional que atua nas Varas de Família, o psicólogo deve conhecer um pouco do Di- reito de Família, a legislação vigente, além de técnicas que possam embasar o traba- lho de avaliação para a elaboração de pa- receres que auxiliam os juízes a tomarem suas decisões, assim como em situações que envolvam o trabalho em equipe, vi- sando ao bem-estar das pessoas que bus- cam a lei. O Direito de Família regula e assegura direitos individuais, pois a vida familiar funda-se na autonomia, onde a inter- venção dos órgãos públicos tem caráter excepcional: restringindo poderes e atri- buindo direitos nas relações domésticas; fazendo-se árbitro através do juiz dos conflitos entre os membros da família (KRUGER, 2009, p.238). Além disso, conhecer aspectos do de- senvolvimento humano na adolescência ajuda, assim como aspectos relacionais, a contribuir para uma maior compreen- são de como se dão as escolhas conjugais, além de elucidar fatores que são respon- sáveis pelo sucesso do casamento ou para a ocorrência de divórcio. Assim, terminamos a introdução afir- mando que os temas que aqui serão abor- dados são extensos, sendo impossível es- gotar os mesmos, trazemos apenas uma discussão sobre os aspectos essenciais envolvidos em cada um deles que podem servir de subsídios para a prática do psi- cólogo jurídico. Como reforçamos desde o início do curso, pelos motivos já elucida- dos, não iremos descrever o uso de testes psicológicos. Esta apostila foi formulada a partir da pesquisa bibliográfica realizada, principal- mente, nas obras de Gonçalves e Brandão (2011) e Rovinski e Cruz (2009), que fa- 4 5 zem parte da coletânea de diversas obras relacionadas ao universo da psicologia ju- rídica. Além disso, ressaltamos também a utilização da “Cartilha do Divórcio para os Pais” (CNJ/AMB, 2013), referenciada ao final da apostila. Esse material, além de servir como subsídio teórico da apostila, é um importante referencial que deve ser recomendado a genitores em processo de divórcio para auxiliá-los em sua relação com os filhos. Leis também serão citadas e referenciadas. 4 4 55 UNIDADE 1 - Família 1.1 Desenvolvimento hu- mano e relacionamentos amorosos Atualmente, discutir o conceito de fa- mília abre margem para diferentes inter- pretações, visto que a família vem pas- sando por uma série de transformações sociais, históricas, políticas, culturais e psicológicas ao longo do tempo. Antes de adentrarmos ao estudo de como o Psicó- logo Jurídico atua nos contextos das Varas de Família – nesse caso citaremos situa- ções de divórcio e a posterior relação com os filhos – pretendemos discorrer breve- mente sobre o conceito de família e sobre como costuma acontecer o processo de formação das famílias. Voltaremos nosso foco para o estudo do desenvolvimento humano, que trará subsídios para compreendermos como acontece a escolha do parceiro. Compre- ende-se que, quando um casal começa a namorar e deseja se casar para constituir sua família, pensa que será para sempre, porém, nem sempre o relacionamento dá certo e o fim de muitos acaba sendo o di- vórcio. Por que as pessoas constituem família? Parte-se do pressuposto que é afirmado inclusive em meios não científicos: “o ho- mem é um ser social”. Segundo Gazzanin- ga e Heatherton (2005), o homem possui a necessidade de pertencer, além do de- sejo por contatos sociais. Esse é um dos pontos que justifica por que as pessoas buscam relacionamentos estáveis. A questão da escolha do parceiro re- mete à adolescência. Erikson postula que, nessa faixa etária, o adolescente vive a crise da identidade versus confusão de identidade (ou confusão de papel) e ca- racteriza-se como o momento em que o indivíduo busca desenvolver um senso coerente de identidade, incluindo o papel que ele irá desempenhar na sociedade. Nesse quesito, a definição de identida- de caminha paralelamente à questão da intimidade e, segundo o teórico, há dife- renças entre os gêneros (PAPALIA; OLDS; FELDMAN, 2006). Não há necessidade de pormenorizarmos aqui essa diferença que ocorre no feminino e no masculino, apenas ressaltamos que há diferenças – assim como várias outras que serão apon- tadas ao longo deste material. Segundo os mesmos autores, na ado- lescência, a questão da sexualidade vem à tona, o que interfere na escolha dos parceiros e, futuramente, na constituição de uma família. A formação da identidade sexual do adolescente inclui a identifica- ção do mesmo enquanto um ser sexual, o reconhecimento de sua orientação sexu- al, a consonância entre a excitação sexu- al e a formação de vínculos românticos e sexuais. Nessa etapa do desenvolvimen- to, a consciência urgente da sexualidade relaciona-se diretamente à formação da identidade, influenciando a autoimagem e os relacionamentos que podem se esta- belecer a partir dessa fase. É um processo conduzido biologicamente (marcado pela puberdade), porém sua expressão sofre também influências culturais. Com o final da adolescência – perío- do que, segundo a lei, encerra-se aos 18 6 7 anos, mas que pode perdurar por mais tempo se considerarmos as característi- cas psicossociais de cada sujeito individu- almente – o início da vida de adulto é mar- cado por outra crise definida por Erikson como intimidade versus isolamento. Como afirmamos anteriormente, na adolescên- cia, a identidade foi a questão central da crise característica dessa etapa da vida e espera-se que o adulto jovem consiga o equilíbrio entre um pouco de isolamento para pensar em suas próprias questões e uma intimidade madura, que vai além de encontros sexuais casuais. Essa intimida-de possui relação direta com a identidade, pois subentende-se que num relaciona- mento mais íntimo e duradouro ocorre verdadeira fusão entre a própria identida- de e a identidade do parceiro. A resolução dessa crise tem como virtude o amor: “de- voção mútua entre parceiros que esco- lheram compartilhar suas vidas, ter filhos e ajudar esses filhos a realizar seu próprio desenvolvimento saudável” (PAPALIA; OLDS; FELDMAN, 2006, p.556-557). O amor é o sentimento que justifica a constituição de uma família e a posterior conservação da mesma e também possui variações culturais. O casamento é o ato jurídico ou o sacramento religioso que existe para reafirmar o amor. Quando fala- mos em diferenças culturais, sabe-se que há diversas formas de constelações fami- liares ao redor do mundo, mas no Brasil, o casamento é monogâmico e instituído en- tre um homem e uma mulher. Atualmente, a justiça brasileira já prevê o casamento de casais homoafetivos, porém, a defini- ção de diversos casais (além da configu- ração original homem-mulher) enquanto família ainda é um tema bastante contro- verso. Compreender brevemente o amor se faz importante para que o psicólogo jurí- dico possa refletir que o mesmo amor que une os casais pode se transformar e apa- recer como um dos motivos para a dissolu- ção da união: A ideia do amor como uma história sugere que as pessoas não ‘caem de amor’, elas o criam. A história de amor de um casal pode basear-se em um ‘ro- teiro’ familiar, o qual modificam para que se adapte à sua situação. O amor, para algumas pessoas, é um vício – uma vinculação forte, ansiosa, de- pendente. Outros pensam nele como uma fantasia, em que uma das partes (geralmente a mulher) espera ser sal- va por um ‘cavaleiro de armadura bri- lhante’, ou como uma relação de poder, com um ganhador ou perdedor ou go- vernador e governado. O amor pode ser uma história de horror, com agres- sor e vítima, um suspense ou uma história de detetive, em que uma das partes procura não perder a outra de vista. Ou ele pode ser a história de um jardim que precisa ser cultivado (PA- PALIA; OLDS; FELDMAN, 2006, p.563). A teoria triangular do amor explica os três elementos que compõem o amor – intimidade, paixão e comprometimento. A intimidade é o elemento emocional do amor e consiste em, através da autorre- velação, proporcionar conexão, afetuosi- dade e confiança entre os casais. A paixão pode ser compreendida como um elemen- to motivacional para o amor, impulsos in- ternos traduzem a excitação fisiológica em desejo sexual. Finalmente, o compro- 6 7 metimento é o elemento cognitivo, é a decisão de amar e de ficar junto com o ser amado. O grau de cada um desses compo- nentes define diferentes tipos de amor, mas vale a pena destacar que a falta de correspondência pode gerar problemas (STERNBERG, 1985 apud PAPALIA; OLDS; FELDMAN, 2006). O esquema a seguir ilustra os sete tipos de amor, ressaltando-se que no centro en- contra-se o amor consumado, o qual inclui paixão, intimidade e comprometimento e é o tipo de amor que a maioria das pessoas buscam. Figura 1: Teoria triangular de Sternberg Fonte: Gazzaninga e Heatherton (2005, p.466). Existem dois tipos de amor bastante presentes nas relações amorosas: o amor apaixonado, caracterizado por um esta- do de intenso anseio e desejo sexual e o amor companheiro, que se define por um sólido compromisso de cuidar do outro e apoiá-lo. Convém ressaltar que o amor companheiro se desenvolve lentamente ao longo do tempo e embasa-se em ami- zade, confiança, respeito e intimidade (GAZZANINGA; HEATHERTON, 2005). Homens e mulheres procuram caracte- rísticas que se diferem de acordo com o gênero e são explicadas pela teoria evolu- cionista: Os psicólogos evolucionistas sus- tentam que os homens, por natureza, são motivados a produzir muitos filhos de modo a aumentar as chances de perpetuar sua herança genética; eles, assim, procuram mulheres que sejam jovens, atraentes e saudáveis. As mu- lheres são biologicamente motivadas a proteger sua prole, procuram parceiros mais velhos que serão bons provedo- res (BUSS, 1994, HARVEY; PAUWELS, 1999) Assim, os traços que tornam as mu- lheres atraentes são menos controlá- veis do que os que tornam os homens atraentes. Essa análise pode ajudar a explicar por que as mulheres são mais sujeitas do que os homens a humores negativos, à depressão, à baixa auto- estima e à insatisfação com a imagem corporal (PAPALIA; OLDS; FELDMAN, 2006, p.564). Pesquisadores buscam compreender os fatores que influenciam as escolhas que as pessoas fazem em relação a ami- gos e parceiros. Um primeiro ponto que é levantado é a proximidade – a frequência com que os indivíduos entram em conta- to – através da qual se pode deduzir que as pessoas frequentemente fazem mais amizades com pessoas com as quais se relacionam com frequência. Deduz-se que a proximidade tem seus efeitos devido à familiaridade, gostam-se mais de coisas familiares do que das estranhas, do novo. Outro ponto que merece ser considerado 8 9 é a semelhança. Pesquisas apontam que pessoas que são parecidas em atitudes, valores, interesses e personalidade ten- dem a gostar umas das outras. (GAZZA- NINGA; HEATHERTON, 2005). Também vale a pena destacar que, ao contrário do ditado popular que postula que “os opostos se atraem”, normalmen- te as pessoas buscam parceiros que têm algo em comum com elas, que sejam pa- recidos com elas nos quesitos aparência física, inteligência, popularidade, afetu- osidade, temperamento (PAPALIA; OLDS; FELDMAN, 2006). Nesse sentido, Gazzaninga e Heather- ton (2005) elucidam que pessoas muito diferentes costumam se gostar, pois sen- tem que complementam suas forças e fra- quezas através da diversidade. Em nossa sociedade, as pessoas esco- lhem livremente os parceiros que dese- jam constituir família após um período de namoro, sendo que essa eleição é fruto de fatores conscientes e inconscientes. Quanto menos contraditórias forem as ra- zões, observa-se que há mais chances do casamento dar certo. Assim, casais com afinidades culturais, religiosas, políticas e socioeconômicas têm maior facilidade de adaptação (FALCETO, 2008). De maneira geral, as pessoas tendem a buscar pessoas com determinadas ca- racterísticas – sinceridade, honestidade, compreensão, lealdade, verdade, confian- ça, inteligência, fidelidade, ponderação e atenção – ao passo que costumam rejeitar outras características, tais como grosse- ria, falta de confiabilidade, malícia, anti- patia, deslealdade, desonestidade, cruel- dade, mesquinharia, falsidade e mentiras (GAZZANINGA; HEATHERTON, 2005). Nem sempre uma historia de amor que foi iniciada permanece para o clássico “fe- lizes para sempre”. Depois que uma his- tória de amor é iniciada torna-se difícil de modificá-la, pois para isso seria necessá- rio reinterpretar e reorganizar tudo o que o casal construiu e compreendeu enquan- to relacionamento. Quando algo entra em conflito com esse relacionamento, as pessoas resistem em mudar sua história e passam a interpretar novas informa- ções para que elas se encaixem (PAPALIA; OLDS; FELDMAN, 2006). Gazzaninga e Heatherton elucidam que, na America do Norte, a metade de dois terços dos casamentos termina em separação ou divórcio logo nos primeiros anos e, além disso, há também os casais que não se divorciam, mas brigam cons- tantemente ou vivem juntos como estra- nhos. Observa-se que normalmente as pessoas não dão valor aos seus parceiros, fazem muitas críticas em relação a eles e descontam nos mesmos suas frustrações, sendo cruéis ou frias. A tabela a seguir busca compilar, resu- midamente, fatores que contribuem para o êxito ou o fracasso de uma relação con- jugal. É importanteque o psicólogo jurídi- co que atua nas Varas de Família conheça esses fatores. 8 9 Enfim, ressalta-se que na prática não há uma idade específica para a consoli- dação de um relacionamento duradouro e formação de uma família, estudos como de Erikson apontam que na idade adul- ta jovem, o indivíduo já tem maturidade para gerir um relacionamento, porém es- tes podem se iniciar bem cedo, no início da adolescência, até bem tarde, já na terceira idade. Inúmeros fatores podem ser cita- dos como responsáveis por um casamen- to se dissolver e o divórcio também pode ocorrer em diversas fases do desenvolvi- mento. Do ponto de vista do desenvolvimento humano, as altas taxas de divórcio na atu- alidade abrem margem para o estudo das famílias mistas – aquelas que incluem fi- Fatores de êxito Fatores de fracasso senso de compromisso; comunicação, tomada de decisão entre os parceiros; forma dos parceiros lidarem com con- flitos (discutir e expressar a raiva aberta- mente); idade – casamentos que ocorrem pelo menos após o final dos 20 anos; paixão desaparece com o tempo, assim como a frequência das relações sexuais, mas o casal encontra outras formas de satisfação como amizade, apoio social e intimidade; pensar positivamente sobre o casa- mento, elogiar ocasionalmente e tentar conquistar sempre a afeição do parceiro; igualdade de poder entre os cônjuges; ampla expressão de ideias e afetos; incentivo à autonomia pessoal com respeito às necessidades do outro; percepção e respeito pela interdepen- dência entre os membros da família; história familiar compartilhada; capacidade de usar adequadamente o humor; envolvimento com grupos e movimen- tos sociais. forma dos parceiros lidarem com confli- tos (atitudes defensivas, teimosia, retrai- mento); idade – casamentos na adolescência; coabitação antes do casamento, pais divorciados, ter filhos antes do casamento, não ter filhos e ter enteado em casa; desemprego, pobreza, idade menor que 30 anos, ambos os cônjuges com filhos e que trabalham em tempo integral; incompatibilidade de gênios; falta de apoio emocional; violência doméstica; diferenças nas expectativas acerca do casamento para o marido e a mulher; perda da paixão (e não aparecimento de novas formas de satisfação do casal); nfidelidade; ciúme e possessividade Tabela 1: Fatores de êxito ou fracasso conjugal Fonte: adaptado de Gazzaninga e Heatherton (2005), Papalia, Olds e Feldman (2006) e Falceto (2008, p.224). 10 11 lhos biológicos e adotivos de um os de am- bos os cônjuges antes do atual casamento (PAPALIA; OLDS; FELDMAN, 2006). Observa-se que o estudo de caracterís- ticas relacionadas ao amor mostra como esse pode justificar o início das relações, mas, ao mesmo tempo, pode ser respon- sável pela manutenção ou pela dissolução dos casamentos, junto a outras caracte- rísticas que também foram levadas em conta – mesmo que de maneira incons- ciente – na ocasião em que o casal se co- nheceu e se sentiu atraído e apaixonado um pelo outro. 1.2 Família a) Definição e dinâmica familiar A definição de família na atualidade é bastante complexa e, por que não se di- zer, controversa. Partindo-se de uma de- finição de dicionário tem-se que: 1 Conjunto de pessoas, em geral liga- das por laços de parentesco, que vivem sob o mesmo teto, particularmente o pai, a mãe e os filhos. 2 Conjunto de as- cendentes, descendentes, colaterais e afins de uma linhagem ou provenien- tes de um mesmo tronco; estirpe. 3 Pessoas do mesmo sangue ou não, li- gadas entre si por casamento, filiação, ou mesmo adoção, que vivem ou não em comum; parentes, parentela. 4 fig Grupo de pessoas unidas por convic- ções, interesses ou origem comuns [...] 9 Quím V grupo. F. conjugal, Sociol: grupo constituído por marido, mulher e filhos menores ou solteiros. [...] F. pa ternal, Sociol: grupo constituído por um casal, todos os descendentes mas- culinos e seus filhos menores. F. pa- triarcal, Sociol: tipo da família gover- nada pelo pai, ou, na antiga Roma, pelo chefe varão mais velho: o patriarca. F. tronco, Sociol: grupo constituído por marido, mulher e um filho casado, com sua prole, vivendo todos sob o mesmo teto. [...] (MICHAELIS, 2009, s.p.) A definição anterior denota um signi- ficado amplo para o conceito de família, o qual abrange não apenas questões de ascendência, descendência, consanguini- dade, questões legais (o casamento civil), mas também questões afetivas que po- dem fazer com que um grupo de pessoas viva junto e, independente de outros la- ços, considere-se uma família. Uma outra definição, que aborda mais os processos psicossociais envolvidos em torno do conceito de família merece ser destacada: A família é mais do que a soma dos seus membros. É um sistema vivo com leis próprias de funcionamento. Essas leis configuram uma estrutura com dupla capacidade de morfogênese, ou seja, flexibilidade para mudar com o passar do tempo e de homeostase, que garante a estabilidade de seu funcio- namento ao longo do ciclo vital (BATE- SON; FERREIRA; JACKSON, 1971 apud FALCETO, 2008, p.223). 10 11 Nas famílias com bom funcionamen- to, é possível observar um equilíbrio dos processos de morfogênese e homeostase (BEAVERS; HAMPSON, 1990 apud FALCE- TO, 2008), porém, por outro lado, quando não há esse equilíbrio, a dinâmica de fun- cionamento familiar pode apresentar de- sajustes, sendo que em casos mais sérios, esse desequilíbrio pode culminar com a dissolução da família. É importante que o psicólogo jurídico compreenda a dinâmica familiar, pois o mesmo irá intervir direta- mente nesses contextos. Se aprofundarmos um pouco no estu- do das famílias fica possível compreender que, assim como é possível dividir o pro- cesso de desenvolvimento humano em fases, também é possível realizar a divi- são das fases do ciclo vital das famílias. Segundo Falceto (2008), essas fases são: individuação do adulto, casamento, nasci- mento do primeiro filho, família com filhos pequenos, família com filhos adolescentes e família da maturidade (ou ninho vazio). A família apresenta diferenças em cada um desses momentos, porém, normalmente, a família da maturidade apresenta gran- des semelhanças com o momento do ca- samento, já que os filhos saem de casa e o casal volta à situação original. Conhecer as principais características do ciclo vital da família se faz de extrema importância para o psicólogo jurídico que irá atuar em Vara de Família, como tam- bém para o psicólogo clínico que realiza psicoterapia familiar – lembrando-se de que em determinadas situações, a auto- ridade judicial pode decidir sobre a reali- zação desse tipo de tratamento e enca- minhar a família para um profissional que realize esse tipo de atendimento. A chegada do primeiro filho é um mo- mento bastante delicado para o casal, por- tanto, é recomendado que ocorra quando o casamento já se encontra em situação de maior estabilidade. A chegada de um bebê faz com que o casal volte sua aten- ção integral para esse fato, o que pode fazer com que o casal se afaste. É comum a reaproximação dos avós, que podem ajudar nos cuidados do bebê. A cada novo filho que nasce a situação se torna mais complexa e a família, antes tão voltada para um bebê, começa a voltar-se para o exterior, sendo a primeira instituição ex- trafamiliar a creche ou a escola (FALCETO, 2008). A chegada dos filhos à adolescência cos- tuma marcar uma crise familiar, pois além desse episódio de desenvolvimento que pode ser crítico, os pais estão chegando à meia idade e os avós à aposentadoria e à velhice, os quais podem passar a requerer cuidados dos filhos. A saída dos filhos de casa tem ocorrido tardiamente em função das opções de carreirae nesse momento os pais voltam a ficar sozinhos, face con- sigo mesmo e com o outro, lidando com o envelhecimento e morte dos pais e com o seu próprio envelhecimento. Todas essas fases exigem, por parte dos membros da família, acomodação e mudança, sendo necessário que todos busquem a estabili- dade do grupo (FALCETO, 2008). Entretanto, as crises podem acontecer em todas essas etapas. É esperado que as famílias tenham condições de resolvê-las por si mesmos ou, quando se fizer neces- sário, contar com a ajuda da terapia fami- liar ou de casal. Entretanto, há situações em que os casamentos acabam e ocorre a dissolução familiar. Nesses casos, a atu- 12 13 ação do psicólogo jurídico pode se fazer extremamente necessária, visando-se ao bem-estar de todos os membros da famí- lia, em especial dos filhos, os quais costu- mam ficar “divididos” frente o processo de separação. Nessas situações em que se faz necessária a intervenção do psicólogo jurídico, é imprescindível observar que: Não lhe será indiferente interrogar se, a cada vez que falar ou escrever a respeito de certa situação familiar, ele estará ou não atendendo a mecanis- mos sutis de poder que, com o apoio das leis jurídicas, são mascarados pela pretensa isenção política de sua ciên- cia (BRANDÃO, 2011, p.75). Frente ao que ainda será discutido nesta apostila, o psicólogo deve levar em consideração que esses mecanismos de poder – às vezes sutis e em outras vezes bastante explícitos – encontram marcas visíveis em nossa sociedade quando nos referimos ao direito de família e à questão da violência de gênero. Discutir sobre o papel da mulher nessa sociedade – a mãe, a esposa, a profissional, a cidadã com di- reito de voto – abre margem para questio- namentos sobre seus direitos e deveres numa sociedade ainda marcada por estig- mas construídos ao longo da história que revelam uma ótica machista, a qual acre- ditamos que já não existe, mas ainda hoje vislumbra o campo da família e da socie- dade, como veremos na seção a seguir. b) A família e a mulher na socieda- de brasileira Na maioria das sociedades, o casa- mento é considerado a melhor forma de garantir uma criação ordenada dos filhos. Ele permite uma divisão dos afazeres em uma unidade de consumo e trabalho. Idealmente, ele oferece in- timidade, amizade, afeição, realização sexual, companheirismo e oportunida- de de crescimento emocional. Em al- gumas tradições filosóficas orientais, a união harmoniosa entre homem e mulher é considerada essencial para a realização espiritual e para a sobre- vivência da espécie (GARDINER et al., 1998 apud PAPALIA; OLDS; FELDMAN, 2006, p.569). Se voltarmos nosso foco para as ques- tões legais que envolvem o conceito de família, é possível observar que na socie- dade brasileira houve alguns eventos que modificaram bastante a concepção de fa- mília. Pretendemos abordar brevemente alguns momentos históricos e as leis vol- tadas à família que existiram e ainda exis- tem. Ressaltamos que aqui faremos também menção ao papel da mulher no decorrer da história brasileira, o que servirá de subsí- dio para o tema que será abordado mais ao final desta apostila: a violência de gênero. Segundo Brandão (2011), no Brasil Im- pério, o Código Civil Português era o do- cumento que regulava as famílias. Nesse período, os casamentos reconhecidos eram aqueles realizados na igreja católica, assim, casais de outras religiões e uniões extramatrimoniais não eram reconheci- das. Com o passar dos anos, já no Brasil República, o Decreto 181, de 1890, aboliu 12 13 a ligação entre Igreja e Estado, assim, os casamentos realizados perante as autori- dades civis foram considerados como vá- lidos. “Com o Código de 1916, consolida-se a definição de família como sendo a união legalmente constituída pela via do casa- mento civil”. Disso, pode-se depreender que, além da regulamentação do casa- mento, a transmissão dos bens familia- res também passa a ser regulamentada, assim como a prática do concubinato era repudiada como forma de defesa do ca- samento. A partir disso, tinha-se que nos casos de concubinato não era regulamen- tada a transmissão de bens, mesmo quan- do havia filhos da união extraconjugal, os quais não eram reconhecidos como her- deiros. A família era compreendida como o núcleo fundamental da sociedade, le- galizada através da ação do Estado – ca- samento civil. A família nuclear é compos- ta por pai, mãe e filhos e define-se como família extensa os demais membros tam- bém ligados por laços de consanguinidade ou dependência (BRANDÃO, 2011, p.75). O Código de 1916 também traz postu- lados acerca da participação do homem e da mulher na família e na sociedade. O homem é o chefe da sociedade conjugal e da administração dos bens dos mesmos, inclusive quando estes foram exclusivos da mulher. Por outro lado, a situação da mulher é bastante diferente. A mulher casada é considerada juridicamente inca- paz, diferente do que ocorre com a mulher solteira e maior de idade. Com isso, ob- serva-se claramente que a mulher casa- da é incapaz de tomar decisões acerca da prole e do patrimônio, o que é visto como competência masculina. Decisões como trabalhar e local de moradia só podem ser tomadas com autorização do marido, em caso contrário não há valor legal. Apenas em caso de falta ou impedimento do pai é que a mãe poderia exercer o pátrio poder ao qual os filhos se encontravam subme- tidos até a maioridade. (BRANDÃO, 2011). Não havia divórcio, a separação de cor- pos – desquite – só ocorria sob justa cau- sa, mas não tinha o poder de dissolução, apenas era uma forma de combater os desvios morais que poderiam surgir. Nes- ses casos, a justiça buscava no casal o inocente e o culpado. O inocente detinha a guarda dos filhos, o culpado tinha o di- reito de visitação, salvo sob impedimen- tos (BRANDÃO, 2011). Com o passar do tempo, outras mu- danças foram acontecendo no que diz respeito às famílias e ao papel do homem e da mulher na sociedade brasileira, nes- se contexto, destacam-se a Lei 883/49 – reconhecimento de filhos ilegítimos e o Estatuto da Mulher Casada, de 1962, que outorga plena capacidade jurídica à mulher, independente do seu estado civil (BRANDÃO, 2011). Se, do período autoritário ao demo- crático, permanece inalterado o mode- lo jurídico de família nuclear, com laços extensos, centrado no pátrio poder e, portanto, assimétrico e hierárquico, por sua vez, ele começa a falir com as práticas sociais que marcaram o final dos anos 60 e a década de 70 (BRAN- DÃO, 2011, p.79). 1- Relação extraconjugal ou sem vínculo de casamento civil; pro- veniente do latim concubinatus, que significa “dormir com outra pessoa, copular, deitar-se com, repousar, ter relação carnal, estar na cama” (AZEVEDO apud BRANDÃO, 2011, p.75). 14 15 Com o passar dos anos, alguns eventos – tais como o movimento feminista, a intro- dução da mulher no mercado de trabalho, a pílula anticoncepcional, a liberação sexu- al, o milagre econômico e a abertura para o consumo – demonstraram uma modificação no papel exercido pela mulher na socieda- de, assim como interferia no modelo fami- liar preconizado pelas legislações, o que apontou a necessidade de reformulação do Código Civil. As diferenças de papéis de ho- mens e mulheres no casamento começam a se modificar, já que ela passa a se ocupar também com o sustento financeiro da famí- lia, não se restringe à função de cuidadora. Por outro lado, ele já não é mais o único que goza da exclusividade do trabalho fora de casa, da administração dos bens e da satis- fação sexual. A ênfase no indivíduo faz com que os membros da família passam a se per- ceber como iguais em suas diferenças pes- soais (BRANDÃO, 2011). Vale lembrar ainda quea responsabi- lização pelo cuidado de crianças e idosos coloca as mulheres de diferentes classes em posições diferentes. Isto é, aquelas que têm dinheiro para terceirizar o ser- viço doméstico e de cuidado, pagando creches, contratando babás ou enfer- meiras, têm possibilidade de sair de casa para estudar e trabalhar. Por outro lado, aquelas que não têm renda suficiente para pagar por esses serviços, geral- mente estão mais presas à vida domésti- ca: não podem comprometer muitas ho- ras de seu dia ao trabalho e muito menos ainda à vida política, por exemplo. Nesse sentido, é importante compreender que a concepção tradicional de família apre- senta obstáculos à vida de todas as mu- lheres, mas as atinge com intensidades diferentes, de acordo com a classe a qual fazem parte (POST; COSTA, 2015, p.4). O final da década de 70 é marcado pela promulgação da Lei 6515, de 26 de dezem- bro de 1977, conhecida como Lei do Divór- cio. Essa lei regulamenta a dissolução da sociedade conjugal e do casamento, abole o termo “desquite”, mas limita a possibili- dade de apenas um divórcio por cidadão. A guarda dos filhos fica sobre a responsabi- lidade de apenas um dos genitores, o ou- tro tem direito a visitação. Nos casos que foram possíveis apontar as causas do di- vórcio, os “inocentes” têm direito à guar- da. A pensão alimentícia é encarada como obrigação comum dos cônjuges. Em linhas gerais, normalmente a guarda dos filhos recai sobre a mulher, a cuidadora por na- tureza, exceto quando ela agir contra os padrões de moralidade; enquanto que o papel do pai divorciado fica praticamente voltado ao suporte financeiro (BRANDÃO, 2011). A Constituição de 1988 traz significa- tivas mudanças no que diz respeito aos direitos e deveres das famílias. O casa- mento deixa de ser a única forma legítima de constituição familiar; o concubinato adquire status de união estável, o que ga- rante proteção legal aos casais que se en- contram nessa situação; também se fala nas famílias monoparentais, aquelas for- madas por apenas um dos genitores e os seus descendentes. A Constituição veda a discriminação de cunho sexual – como existia, por exemplo, no Código de 1916, em relação às mulheres – mas, discrimina indiretamente a homoparentalidade. Eli- mina a chefia familiar ao afirmar que ho- mens e mulheres são iguais perante a lei. Não iremos mencionar outras leis que surgiram no decorrer do contexto histó- rico brasileiro, mas ressaltamos a impor- 14 15 tância do ECA (1990), trazendo os direitos e deveres dos adolescentes. Atualmente, um ponto que merece destaque na Justiça Brasileira é o Novo Estatuto da Família. Essa Proposta de Lei, frente ao que apresentamos brevemente neste histórico, aparece como um retro- cesso frente aos conceitos de família e da participação da mulher na sociedade, além de demonstrar claramente a ligação entre Igreja e Estado – a exemplo do que acontecia antes da proclamação da Repú- blica. Antes do PL em questão, faz-se neces- sário mencionar um outro Projeto de Lei (PL) que também pretendia institucionali- zar o conceito de família no Brasil, porém a partir de uma ótica diferente, como ex- presso na citação a seguir: O primeiro foi o PL 2285 de 2007, de autoria do deputado Sérgio Barradas Carneiro (PT/BA). Ele trabalha com um conceito de família bastante inclusivo – reconhecendo até mesmo famílias de união homoafetiva e filhos adoti- vos decorrentes destas como entida- des portadoras dos direitos familiares. Este projeto, entretanto, foi pouco debatido na Câmara. Vale lembrar que houve diversas manobras regimentais lideradas pelos parlamentares religio- sos a fim de obstruir a discussão do projeto. Ao contrário do Estatuto da Família posterior, ele não ganhou no- toriedade e não teve sua apreciação concluída (POST; COSTA, 2015, p.7). Segundo Post e Costa (2015), a conjun- tura política está polarizada, de um lado está um grupo que defende ser a família uma comunidade natural ou designada por Deus, enquanto que do lado oposto está o grupo que compreende o conceito de família pela ótica da diversidade. O PL 6583 de 2013 deixa em total evi- dência o conceito de família, tal como se pode visualizar na citação a seguir: Art. 2º Para os fins desta Lei, define-se en- tidade familiar como o núcleo social formado a partir da união entre um ho- mem e uma mulher, por meio de casa- mento ou união estável, ou ainda por comunidade formada por qualquer dos pais e seus descendentes (CAMARA, 2013). Segundo Post e Costa (2015), o Novo Estatuto da Família atende a fins ideo- lógicos antidemocráticos. Definindo-se família a partir do ideal ideológico natu- ral e cristão, exclui-se grande parcela da população brasileira dos direitos familia- res. Incluem-se nessa parcela os casais homoafetivos, as pessoas sozinhas que não desejam constituir família e os agru- pamentos familiares tão frequentes na nossa sociedade, como avós que criam netos, mães solteiras, dentre outros. Essa postura denota contrariedade ao princí- pio de Estado laico, visto que a prerroga- tiva encontra-se intimamente arraigada à visão religiosa. Além de desconsiderar os diferentes arranjos familiares presen- tes na sociedade brasileira, o Estatuto da Família também subordina a mulher a uma posição de subordinação e exclusão. Aquelas que pertencem aos arranjos tra- dicionais têm sua posição de cuidadora 16 17 institucionalizada (a despeito dos outros papéis que a mesma exerce), enquanto que aquelas que constituem outros ti- pos de arranjos têm o reconhecimento de suas famílias negado. A família, ao longo de muitos séculos, foi entendida segundo uma concepção estrita. Tradicionalmente, compreende- -se família como um arranjo baseado na união de um homem, uma mulher e seus filhos. Entretanto, essa definição cristã, baseada nos preceitos bíblicos, não abar- ca mais todos os arranjos contemporâne- os. Ela exclui dos direitos estendidos às famílias uma parcela grande das pessoas que se organizam de formas alternativas. Ao definir família apenas como aquela que compatível com o arranjo cristão, não se excluem apenas as uniões homoafetivas, mas também as famílias formadas por avós que educam os netos, por tios que se responsabilizam pela criação dos sobri- nhos, entre outros (POST; COSTA, 2015, p.2). Importante atentar a sociedade para o fato de que, com os pressupostos do Es- tatuto da Família, apenas as pessoas per- tencentes ao arranjamento familiar tradi- cional podem ter privilégios institucionais na sociedade, assim, as pessoas que cons- tituem arranjos familiares diversos – o que existe em nossa cultura – ficariam à margem de benefícios legais e direitos até então consentidos a familiares (BIROLI, 2014 apud POST; COSTA, 2015). 16 16 1717 UNIDADE 2 - Conflitos e litígios Recapitulando ideias que foram levan- tadas na seção anterior, é possível con- cluir que a união entre duas pessoas – que pode ou não conter a oficialização de um casamento – marca o início de uma nova família. Há vários fatores conscientes e inconscientes envolvidos no processo de escolha de um companheiro e com o pas- sar dos anos e o aumento da intimidade, esses fatores podem se tornar responsá- veis pelo sucesso ou pela dissolução de um casamento. [...] o vínculo conjugal não é regula- mentado apenas por regras fixas, es- tabelecidas pela cultura, pela moral, pela sociedade ou pela lei jurídica, mas se constrói também na relação que se estabelece entre os parceiros, dando origem a um modelo, que se traduz em normas válidas para aquele par. Toda relação possui um contrato não escri- to, sobre o qual são estabelecidas nor- mas que irão conduzir esta união, e tra- zem em si aspectos de reciprocidade e complementariedadedas necessida- des, dos desejos, anseios e medos que fazem parte da vida a dois (KRÜGER, 2009, p.236-237). Retomando brevemente aos fatores históricos e culturais relacionados à famí- lia e à mulher brasileira, a citação a seguir mostra como essas questões podem ser motivos de conflitos entre os casais. É vi- sível também na citação, a busca de psico- terapia como uma das formas de se buscar solucionar os conflitos, ou mesmo buscar preveni-los: No Brasil, a maioria dos casais fun- ciona ainda predominantemente de forma complementar, ou seja, com funções diferenciadas para o homem e a mulher, como sendo ele considerado o ‘cabeça do casal’, aquele que garan- te a sua subsistência (mesmo quando a mulher também trabalha fora do lar) e ela a responsável pelos filhos e pe- las tarefas domésticas (BUSTAMANTE, 2005). Muitos dos problemas trazidos à psi- coterapia pelos casais se relacionam com as mudanças no papel da mulher na sociedade e com a necessidade do casal de se adaptar a uma mulher pro- fissional e crescentemente autônoma. O problema é agravado pelo fato de que não houve adequada reorganiza- ção social após a intensificação do tra- balho feminino para oferecer suficien- tes creches de qualidade para cuidar das crianças (FALCETO, 2008, p.224). Na prática, dois parceiros nunca corres- pondem ou satisfazem completamente um ao outro, porém, mesmo dentro dessa realidade, espera-se que as expectativas pessoais de cada um dos cônjuges sejam compatíveis entre si. Quando essa com- patibilidade deixa de existir – ou em casos nos quais ela nunca houve – conflitos po- dem surgir e, em situações mais críticas, eles podem culminar com o divórcio (KRÜ- GER, 2009). 18 19 Não é possível afirmar o que pode cau- sar um conflito, visto que esse pode ser ocasionado a partir de inúmeras situa- ções. Weil (2002, p.15) faz uma afirma- ção bastante abrangente e verdadeira ao afirmar que “Onde se encontram dois indivíduos há problema de relações hu- manas.” Ou seja, os problemas na área do relacionamento interpessoal são comuns e acontecem desde que haja mais de uma pessoa envolvida. No relacionamento ma- rital, isso não poderia ser diferente. O autor supracitado faz um estudo so- bre o divórcio. Convém ressaltar que a obra original data de 1971, o que nos dei- xa visíveis certas diferenças culturais que ocorreram no passar dos anos, porém, muitas das reflexões do autor são extre- mamente relevantes para os dias de hoje, assim, apresentaremos as mesmas a se- guir: A psicologia retrata as causas pes- soais do divórcio, a sociologia mostra quais os usos e costumes a respeito do divórcio em cada tipo de sociedade e a psicossociologia aponta as causas e mecanismos interpessoais do divór- cio, ou melhor, das incompatibilidades, tensões e conflitos conjugais. As cau- sas invocadas na justiça em geral não são as verdadeiras (WEIL, 2002, p.195). Da citação depreende-se que o estudo do divórcio é multidisciplinar, lembrando- -se de que cada área pode abordar o fenô- meno a partir de um ponto de vista. É im- portante destacar a visão do autor de que as causas invocadas na justiça em geral não são as verdadeiras, ou seja, frente a um acontecimento complexo e que envol- ve a relação de duas pessoas no mínimo (marido e mulher), as causas são variáveis e para que um terceiro (como a Justiça) te- nha conhecimento das mesmas, depende do relato de um dos envolvidos. Assim, deve-se levar em consideração que esse relato pode não trazer a total fidedigni- dade da dinâmica envolvida no processo de divórcio, não porque há uma das par- tes interessadas em mentir para a justiça, mas porque um divórcio envolve muitas questões afetivas, financeiras e familia- res e torna-se impossível um relato plena- mente imparcial frente a tantas variáveis envolvidas. Weil (2002, p.197) aponta possíveis causas de conflitos interpessoais que po- dem levar ao divórcio, ressaltando que o termo divórcio refere-se à dissolução do vínculo matrimonial e, para algo tão grave chegar a acontecer, houve fatores antes disso que culminaram com tão prática: embriaguez e alcoolismo; incompatibilidade de humor; infidelidade conjugal; ciúme imotivado; frieza sexual; impotência sexual; ausência prolongada do lar; término do sentimento amoroso; agressões físicas; distúrbios de personalidade; neurose e psicose; gravidez anterior ao casamento; toxicomania; fraude, roubo, assassinato; prisão; homossexualidade; não-sustento econômico. 18 19 Assim, torna-se possível verificar que o divórcio pode ser causado por uma ou várias dessas causas anteriormente cita- das e outras mais que podem ser aponta- das pelos cônjuges como os motivos que levaram o casal à decisão de colocar fim à relação matrimonial. Dentre os fatores, são visíveis problemas nas áreas compor- tamentais, psicopatológicas, familiares, sexuais e da própria relação do casal. Nem sempre o pedido de divórcio acontece de forma consensual, em muitas situações apenas um dos cônjuges sente desejo de se divorciar, o que gera ainda mais confli- tos. Weil (2002) lança algumas questões sobre o divórcio que merecem ser comen- tadas. Como ressaltamos anteriormente, há diferenças culturais provenientes do fato de que o original foi lançado em 1971, porém alguns pontos são atemporais e realmente relevantes para a reflexão do psicólogo jurídico, assim iremos reprodu- zi-los na tabela abaixo. Opiniões contrárias: Questionamentos: 1. O vínculo matrimonial é indissolúvel por ser um ato santificado pela Igreja Católica. Primeiramente faz-se necessário realizar uma diferenciação entre o casamento civil e o casamento religioso (independente da religião). O divórcio diz respeito apenas ao casamento civil, cada religião possui um ponto de vista acerca do casamento. 2. Os filhos de divorciados tornam-se neuróticos e desequilibrados. É um drama permanente o fato de ter que preferir um ou outro dos pais. Nem todos os casais que se divorciam têm filhos. No caso de casais que têm filhos, é muito mais nocivo para a criança crescer num ambiente marcado por conflitos e tensões permanentes do que viver com um dos pais, convivendo também com o outro geni- tor. 3. O número de divorciados aumenta progressiva- mente, o que é um risco para a estrutura da socie- dade. Essa questão precisou ser reformulada por questões histórico-culturais. Ao se analisar estatísticas, por exemplo, dos EUA, que já têm o divórcio em sua legislação há muito tempo, observa-se que há oscilações periódicas no número de divórcios realizados. 4. Os casais deveriam fazer esforços para se en- tenderem e superarem as causas de sua desunião. Existem situações irreversíveis nas quais a separa- ção surge como a única solução. Para que manter um sofrimento a dois se cada um pode encontrar uma nova forma de equilíbrio posteriormente ao divórcio? 5. Com o divórcio, as pessoas ao se casarem têm a tentação de fazer do casamento uma simples ex- periência que pode ser renovada se não der certo, diminui-se o senso de responsabilidade. Ressalta-se que o número de experiências pré-matri- moniais aumentou consideravelmente, especialmen- te depois do advento da pílula anticoncepcional. As pessoas têm o direito de experimentar, o que não indica que, para isso, elas precisam necessariamente se casar e divorciar nos casos em que não deu certo. Tabela 2: Opiniões acerca do divórcio Fonte: adaptado de Weil (2002, p.198-199). 20 21 Observa-se que o divórcio é uma alter- nativa bastante drástica e definitiva, que implica na dissolução de um vínculo ma- trimonial, por isso precisa ser bastante pensada – daí a importância do psicólogo jurídico e do psicólogo clínico que pode ser indicado, por decisão judicial, para participarjunto ao casal dessa decisão. Ainda existem muitos tabus e preconcei- tos acerca do divórcio, muitos deles rela- cionados à questão religiosa ou à visão de que filhos de pais divorciados apresentam problemas emocionais, mas é importante verificar dados da realidade. Pretendemos mostrar dados publicados por um autor de renome há mais de quarenta anos para verificarmos que, mesmo com muitas mu- danças sócio-históricas, algumas visões sobre o divórcio persistem e podem tor- nar a decisão ainda mais difícil para aque- les casais que já perceberam que essa é a única alternativa possível frente a uma relação conjugal que já acabou devido a uma série de motivos. Independente do motivo, é possível afirmar que o período de divórcio é marca- do por intenso sofrimento, como mostra a citação a seguir: O período de ruptura do vínculo conjugal inaugura um tempo de sen- timentos de desilusão, insatisfação, alienação, ansiedade e descrença. O casal passa a perceber que o casamen- to está gravemente abalado, surgem sentimentos de desespero, medo, va- zio, raiva, autoestima baixa e perda. A ambivalência é intensa entre negar e tentar recuperar o relacionamento. O momento de revelação é de sofrimen- to e desequilíbrio na família (KASLOW, 1996 apud KRÜGER, 2009, p.237). O processo de divórcio, seja ele con- sensual ou litigioso, passa pela justiça, pois a partir do divórcio há uma série de pendências a serem resolvidas, como a guarda dos filhos, a partilha dos bens e até mesmo mudança do nome – nos ca- sos em que os cônjuges, normalmente a esposa, optaram por contrair o nome do outro em ocasião do matrimônio civil. Po- rém, não são apenas esses aspectos le- gais, objetivos, que são levados à justiça, engana-se quem pensa que a separação é ocasionada por uma situação pontual: Os Tribunais de Família acolhem es- tas pessoas que apresentam ao judici- ário suas mágoas e desejos reprimidos ou exacerbados. Por trás dos conflitos manifestos ou latentes existe outro conflito, que já se acha patente des- de o momento da escolha do parcei- ro. É no início da relação que começa a se delinear o modelo de casamento e seus conflitos inerentes, que se não superados, podem resultar em sepa- ração. Há conflitos que são evidentes e mostram-se ostensivos nas sepa- rações judiciais; outros, camuflados nas separações consensuais, só vêm à tona no transcorrer da vida pós-sepa- ração (KRÜGER, 2009, p.238). Quando não há consenso acerca da separação – o que, como explícito na ci- tação anterior, não ocorre de maneira tão simples e objetiva quanto pode apa- rentar – e o casal se encontra em situa- ção de litígio, a intervenção judicial pode ser ainda mais custosa e penosa para os envolvidos, não apenas do ponto de vis- ta das custas financeiras, mas do grande desgaste emocional que a situação acarreta: 20 21 Em um litígio, os oponentes são in- capazes de resolver o conflito por con- ta própria, de tal modo que recorrem a um terceiro, no caso, a autoridade judicial, com objetivo de satisfazer as suas exigências. A formalização des- sa demanda ao juiz exige que a fala de cada sujeito seja representada por seu advogado que, por sua vez, fala de acordo com a lógica jurídica, o advo- gado demonstra que os interesses de seu cliente estão amparados na lei, ao mesmo tempo em que responsabiliza o outro pela ação ou omissão gera- dora do conflito. Há nessa passagem, da vivência da insatisfação do sujeito à enunciação jurídica do seu proble- ma, uma mudança na configuração do conflito, em que o discurso de insatis- fação cede lugar ao discurso de mere- cimento (BRANDÃO, 2011, p.103). O judiciário aparece como o terceiro que pode auxiliar o casal a resolver seus conflitos, geralmente marcados por for- tes animosidades e ressentimentos, as- sim, o processo judicial surge como o úl- timo e por que não dizer o único canal de conversação possível entre duas pesso- as que não mais conseguem conversar e tomar as decisões necessárias. Na interface entre o psicossocial e o jurídico, ou seja, entre a objetividade das leis e a subjetividade dos relacio- namentos íntimos, coloca-se o tema da ruptura do vínculo conjugal, cons- tituindo-se num objeto de estudo e intervenção interdisciplinar (KRÜGER, 2009, p.237-238). Assim, depreende-se que o discurso jurídico visa a tornar o conflito “decidí- vel”, ou seja, para isso, faz-se necessário ser “prático”, “racional”, o que se torna difícil, já que numa separação há muitos conflitos emocionais envolvidos. O papel da justiça é retirar os aspectos subjetivos do discurso dos sujeitos e transferir os atos decisórios, o que implica em retirar do casal a responsabilidade pela toma- da de decisão. A fala das partes é trazida ao juiz pelos advogados, o que ilustra de maneira clara como a subjetividade é dei- xada de lado (BRANDÃO, 2011). Convém ressaltar que a perpetuação do embate familiar via poder judiciário pode ser interpretada como um modo de dar continuidade ao trabalho de luto ou separação, ou, por outro lado, surge como um meio de se manter o vínculo com o ex-companheiro. Assim, nessa situação, “o litígio está a serviço de uma busca de reencontro ou aproximação daquele ou daqueles que não se conformam em es- tar separados” (VAINER, 1999, p.15 apud BRANDÃO, 2011, p.92). Nos casos em que a autoridade judicial determina a intervenção do psicólogo enquanto técnico judiciário, dá-se a am- bas as partes o direito de falar e serem escutadas por um profissional capacita- do para esse tipo de intervenção. Nor- malmente, a intervenção do psicólogo jurídico acontece nos casos de disputa de guarda, na mediação, casos que serão elucidados num outro momento nesse mesmo material. Os profissionais que trabalham com o divórcio têm demonstrado insatisfa- ção com a forma como o judiciário vem abordando as questões de família, e ainda, preocupação crescente com os efeitos psicossociais da separação 22 2322 nos pais e filhos, configurando a ne- cessidade de desenvolver de maneira integrada os campos psicossocial e ju- rídico para responder de forma eficaz às crescentes demandas nessa área (KRÜGER, 2009, p.239). 22 2323 UNIDADE 3 - Mediação A prática da mediação existe em vários países e foi implantada no Brasil mais re- centemente. Visa, em linhas gerais, de- volver ao casal a competência para gerir a própria situação de conflito. É uma prática embasada por diversas teorias e técnicas (BRANDÃO, 2011). Pode envolver todos os pontos do di- vórcio ou focar apenas as questões de guarda e visitação; pode envolver advo- gados das partes ou não (VAINER, 1999 apud BRANDÃO, 2011). A mediação do divórcio transita na fron- teira de várias disciplinas com o campo jurídico, dentre elas a psicologia. Alguns fatores podem ser responsáveis pelo au- mento da prática da mediação no contex- to jurídico nos últimos trinta anos, tais como o reconhecimento mais amplo dos direitos humanos, a expansão das aspira- ções pela participação das pessoas em to- dos os níveis sociais e políticos, uma maior tolerância na convivência com as diversi- dades. Além disso, outro fator que justifi- ca a mediação é a crescente insatisfação com processos autoritários de tomada de decisões, além de acordos impostos em nome de verdades que não são realmente relacionadas aos interesses genuínos das pessoas envolvidas nos conflitos (KRÜ- GER, 2003 apud KRÜGER, 2009). Alguns juristas admitem que, em certas áreas judicativas, o tradicional processo litigioso não é o melhor meio para a reivindicação efetiva dos direitos. Entende-se então que o movimento de acesso à justiça encontra razões para caminhar em direção a formas alternati- vas de resolução de conflitos, entre elas, a mediação. Preservando a relação,na medida em que trata o litígio como per- turbação temporária e não como ruptura definitiva, tal procedimento é mais aces- sível, rápido, informal e menos dispen- dioso (KRÜGER, 1998 apud BRANDÃO, 2011, p.106-107). Deve-se ressaltar que nos casos em que há busca pela mediação ou mesmo por uma decisão arbitrária por parte do judicial, parte-se do pressuposto de que o casal não conseguiu gerir sozinho as cri- ses relacionadas ao processo de divórcio, pois, como já ressaltamos na seção ante- rior, além das partes práticas envolvidas (divisão de bens, disputa de guarda), há também muitas questões afetivas envol- vidas e esse lado emocional normalmente dificulta o processo de resolução de con- flitos de modo satisfatório para ambas as partes. Como foi possível verificar na seção anterior, atualmente, não há mais o estigma de “culpado” e “vítima” no con- texto de divórcio, assim a mediação apa- rece como uma das formas possíveis de se trabalhar os conflitos e buscar soluções sem, para isso, tomar partido de uma das partes ou taxá-las como culpadas pelo fim do casamento ou como vítimas de uma re- lação que não deu certo. Nesse sentido, Gergen (1999) sugere quatro pressupostos importantes ao es- tabelecimento do diálogo: superar a culpa através do reconhecimento da responsa- bilidade, buscar um ambiente que permita a autoexpressão, a conversação coorde- 24 25 nada e a autorreflexão. Ao culpar alguém, a pessoa se coloca numa posição total- mente íntegra, ao passo que coloca o ou- tro na posição de fonte de todos os erros. A verdade é que, numa relação, mesmo que de modos diferentes, cada um é res- ponsável pelo acontecido. Porém, para se enxergar nessa realidade, faz-se neces- sário superar a lógica da verdade única, de perder ou ganhar, de certo ou errado, ou mesmo do discurso que coloca as pessoas como fontes originárias e únicas de suas ações. A culpa ganha status de responsa- bilidade mútua e, vencendo essa etapa, é importante que o mediador invista na construção de um ambiente que propicie a autoexpressão. A opinião de cada pes- soa é importante, pois se o que se sente e pense não é dito, não há diálogo. A for- ma de revelar esses pensamentos e sen- timentos é também de suma importância, nesse sentido, é importante incentivar cada pessoa a contar sua história em pri- meira pessoa, já que ao contar sua própria história não é possível ser confrontado pelo outro, pois a narrativa que se refere à percepção pessoal de uma parte não pode ser questionada pelo outro. Assim, o con- flito construído vai gerando um ambiente propício à necessária afirmação do outro (KRÜGER, 2009). Mesmo afirmando as vantagens da me- diação, é importante deixar explícitas as vantagens da arbitragem que, em certas situações, aparece como a única alterna- tiva possível numa situação de divórcio, especialmente nas partes nas quais há muito conflito e divergência entre as par- tes. A figura a seguir elucida vantagens da mediação e da arbitragem: Figura 2: Vantagens da mediação e da arbitragem Fonte: Senado (2013). 24 25 A mediação do divórcio é um modelo de encaminhamento de resolução de confli- tos judiciais mais breve e com menor cus- to emocional para as famílias, já bastante carregadas afetivamente devido à situ- ação de separação. O mediador se coloca no papel de facilitador de um ambiente propício à construção de um entendimen- to viável e que atenda às necessidades fundamentais de cada pessoa envolvida. Para isso, faz-se necessário, por parte do mediador, uma postura de acolhimento às diferenças, de facilitação da comunicação e da utilização de recursos que propiciem várias soluções (KRÜGER, 2009). O mediador deve compreender que o conflito é parte integrante da vida dos indivíduos e não deve ser compreendido apenas como algo negativo. Existem con- flitos destrutivos que, como diz o nome, levam à destruição, mas também conflitos construtivos, que surgem como uma ten- tativa de romper o marasmo, como uma alternativa para se buscar soluções cons- trutivas. O mediador deve buscar compre- ender que o conflito serve para construir, para transformar e, assim, trabalhar com as partes dentro dessa perspectiva. As- sim, o mediador deve se desviar de buscar incessantemente a conciliação e compre- ender que sua ação pode obter êxito mes- mo se as partes opostas não chegarem a um acordo. Muitas vezes existe algo de não ne- gociável e até mesmo de insolúvel num conflito, justamente porque é o que garante um precário equilíbrio ao su- jeito, assim como às alianças conjugais e familiares, mesmo que isso custe certa quota de sofrimento e angústia (BRANDÃO, 2011, p.109). De acordo com Krüger: Uma conversa entre duas pessoas ou mais pode estar dominada por crí- ticas mútuas, ameaças e exigências litigiosas, expressando e exacerbando o conflito. O diálogo, como instrumen- to de medição, se caracteriza por uma ação que constrói realidades comuns e solidificadoras, diminuindo a distância entre os participantes. Desta forma, o diálogo surge como gerador de ações que sustentam os relacionamentos, cujo foco não está nem no interior do indivíduo, nem na família, mas na pes- soa em relação (KRÜGER, 2009, p.242). A importância da mediação se faz por- que o mediador busca a resolução das controvérsias de forma pacífica, evitan- do o litígio e buscando o acordo que as partes podem compor entre si. Visando esse objetivo, o mediador deve evitar fazer imposições e buscar trazer à tona apenas o que o casal quer negociar – ponto de suma importância, visto que num momento de crise, como o divórcio, é comum as pessoas perderem o foco do problema e diluírem o mesmo em diver- sas situações adversas, mas que não se relacionam diretamente com o fato em si – orientando e buscando ideias facilita- doras para a construção de um compro- misso favorável às partes antagônicas. É importante deixar ressaltado que am- bas as partes precisam concordar pre- viamente em se submeterem à mediação (BRANDÃO, 2011). Como expresso na citação a seguir, mediação não é terapia de casal, tam- pouco aconselhamento psicológico: 26 2726 O mediador deve igualmente ter o cuidado de não se deter na análise das determinações psíquicas do conflito do casal. Se não fugir dessa tarefa, ele corre o risco de prolongar o atendi- mento para além do tempo disponível no judiciário, além de dar um caráter terapêutico sem garantir a resolução dos acordos necessários para o fim do litígio (BRANDÃO, 2011, p.110). A mediação familiar é considerada uma atribuição essencialmente interdiscipli- nar, porém ela assume características es- pecíficas quando é desempenhada pelo psicólogo. Segundo Ramirez e Melo (2005 apud BRANDÃO, 2011), o psicólogo é o profissio- nal que considera os aspectos emocionais, assim como aqueles que transcendem o discurso objetivo, que são pertencentes à subjetividade do sujeito, além de levar em conta a presença de conteúdos in- conscientes. Dessa forma, o psicólogo, diferentemente dos outros profissionais, é aquele apto a manejar os processos de transferência e contratransferência. Assim, é o mediador – em especial, quando a mediação é executada pelo psicólogo jurídico – o profissional que se atenta aos aspectos afetivos relaciona- dos ao divórcio. Isso é positivo, já que os advogados se encontram mais livres para concretizar os acordos dentro dos termos jurídicos (VAINER, 1999, apud BRANDÃO, 2011). 26 2727 UNIDADE 4 - Conjugalidade e parentalidade Como elucidamos nas seções anteriores, as famílias, os casamentos e as questões de gênero sofreram uma série de transfor- mações no decorrer dos tempos. Focamos nosso estudo ao Brasil, onde apresentamos algumas leis que norteiam os direitos e as re- laçõesque se estabelecem entre as famílias. Voltaremos nosso estudo, nessa seção, ao estudo da conjugalidade e da parentali- dade. Em linhas gerais, não é difícil compre- ender que, no contexto familiar, as pessoas exercem diferentes papéis ao mesmo tem- po. Pensando-se numa família “tradicional”, o homem exerce papel de marido em rela- ção à esposa e papel de pai em relação aos filhos; a mulher, por sua vez, exerce o papel de esposa em relação ao marido e papel de mãe em relação aos filhos. Espera-se que o desempenho de todos esses papéis seja po- sitivo, entretanto, nem sempre é isso que acontece. Principalmente em situações de divórcio costumam-se confundir os papéis de ex-esposos com os papéis de pais, o que gera uma série de conflitos, dificultando ainda mais o entendimento entre as partes, deixando a situação ainda mais difícil para os filhos. Iniciemos nossas considerações acerca da conjugalidade: Historicamente, os relacionamen- tos afetivos sexuais têm mudado sua forma e temos compreendido a conju- glidade, hoje, desde uma união contra- tual realizada por duas famílias até o relacionamento em residências sepa- radas desde que motivados por amor (OLTRAMARI, 2009, p.247). O tema estudado na seção anterior – a mediação – surge como uma estratégia bastante utilizada nos meios jurídicos para se buscar a resolução de conflitos e a tomada de decisão em aspectos que en- volvam a conjugalidade. O fim do amor nos relacionamentos conjugais ocupa lugar de destaque. Parece contraditório, mas, na atualidade, observa-se que o amor é, ao mesmo tempo, motivo de união entre os casais e uma das principais causas dos rompimentos. Segundo Grunspun (2000 apud OL- TRAMARI, 2009), existe um mito do amor nos relacionamentos de conjugalidade. Os amantes esperam mais dos amados, o que se torna um problema que chega até o ambiente de mediação. Cabe ao media- dor fazer com que essas representações sobre o casamento sejam expressas pelos cônjuges para que se torne possível dis- cuti-las em toda sua dimensão e intensi- dade. Como expresso na citação a seguir, per- cebe-se que o casal pode construir o amor, ao mesmo tempo que é capaz de destituí- -lo e, na maioria das vezes, o sentimento termina antes de se oficializar o fim da relação: [...] em uma pesquisa realizada por Salles (2007), no Serviço de Mediação do Fórum de São José (Santa Catarina), foi identificado que homens e mulhe- res entrevistados já haviam dissolvido o laço de conjugalidade que eles perce- biam como constituinte do laço amoro- so até chegar ao casamento, mas não 28 29 conseguiam identificar porque o mes- mo tinha terminado. Porque o amor entre eles(as) e a pessoa amada foi constituído, mas quando romperam o relacionamento apenas percebiam que o ‘sentimento tinha acabado’ (OLTRA- MARI, 2009, p.252). Observa-se que atualmente as pessoas estabelecem rápidas relações conjugais devido à busca de emoções apaixonadas a todo momento, o que torna esse tipo de relação cada vez mais instável (OLTRAMA- RI, 2009). Conjugalidade e parentalidade apre- sentam uma série de diferenças, como expusemos brevemente no início dessa seção. Ambas se caracterizam pela solida- riedade familiar, porém essa solidarieda- de é vivenciada de formas diferentes na conjugalidade e na parentalidade (MORA- ES, 2006). As relações conjugais são caracterizadas em fundamentos de liberdade e igualdade, pela aceitação das escolhas e pela auto- nomia dos indivíduos, além da renúncia à exigência e ao cumprimento coercitivo dos direitos e deveres entre os cônjuges. Por outro lado, as relações parentais são base- adas na responsabilidade e pela ampliação, cada vez maior, das intervenções jurídicas nas relações de filiação, as quais objetivam a proteção dos menores. Relações paren- tais consistem em relações assimétricas, entre pessoas que estão em posições dife- rentes, sendo uma delas – o filho – dotada de particular vulnerabilidade. Além disso, uma diferenciação básica merece ser des- tacada: enquanto a relação conjugal pode ser dissolvida por meio do divórcio, na rela- ção parental o vínculo que existe é indisso- lúvel (MORAES, 2006). Compreendendo que o divórcio não é o fim da família e sim o início de uma organização binuclear, em que os pais são codependentes, mesmo se- parados, na tarefa de criar os filhos, a equipe interprofissional do SERPP tem como imperativo a distinção entre pa- rentalidade e conjugalidade. Assim, ela evita que um membro da família ava- lie a competência parental do outro pela competência conjugal (BRANDÃO, 2011, p.110-111). Ressaltamos novamente que a conju- galidade é dissolúvel, enquanto que a pa- rentalidade é indissolúvel. Assim, é papel da equipe multidisciplinar técnica judiciá- ria – na qual está inserida o psicólogo ju- rídico – atentar-se para esse fato e auxi- liar as famílias em processo de divórcio a sempre realizar a separação entre os dois tipos de relação que acontecem na dinâ- mica familiar. Em situações de litígio, os ex-cônjuges têm dificuldades de realizar essa diferenciação, acabam por genera- lizar situações, o que acarreta uma série de prejuízos para os envolvidos, espe- cialmente para os filhos. Assim, é impor- tante compreender que “um marido ruim pode ser um bom pai” ou “uma esposa ruim pode ser uma boa mãe” e vice-versa. Como já citamos na seção anterior, as re- lações familiares são caracterizadas por uma série de afetos, assim, conflitos mal resolvidos entre o casal podem gerar pre- juízos na relação entre pais e filhos, o que é muito negativo: Nesses casos, presencia-se o de- saparecimento do casal conjugal, mas deve-se conservar o casal parental, 28 29 garantindo-se a continuidade das re- lações pessoais da criança com seu pai e sua mãe (BRITO, 1996, p.141 apud BRANDÃO, 2011, p.87). 30 3130 UNIDADE 5 - Guarda e visitação Conforme já mencionamos anterior- mente, a legislação brasileira acerca de guarda e visitação sofreu uma série de mudanças se considerarmos desde a Pro- clamação da República até os dias de hoje. Com o advento da Constituição de 1988 e o Estatuto da Criança e do Adolescente, passou-se a objetivar o melhor para o fi- lho menor de pais divorciados. Parte-se do pressuposto de que o di- vórcio é uma situação muito delicada para toda a família envolvida: não apenas os cônjuges, mas especialmente os filhos so- frem o impacto da separação: O divórcio é considerado um dos rompimentos mais significativos no processo de ciclo de vida familiar; per- dendo apenas, para os casos de mor- te e, nesse sentido se configura como uma das principais causas de estresse familiar. A crise familiar decorrente do divórcio possui consequências, por ve- zes desastrosas, resultando em brigas homéricas na família e também nos tri- bunais de justiça. As delimitações en- tre o que é da esfera pública e da parti- cular se confundem ocasionando uma maior exposição da família, levando os conflitos do âmbito doméstico ao co- nhecimento de uma vasta rede social que, por conseguinte, gera constrangi- mentos a todos os envolvidos (MACIEL; CRUZ, 2009, p.48). Já mencionamos também que não é possível generalizar que todo filho de di- vorciados irá apresentar algum tipo de transtorno psicológico, já que em muitas situações o conflito do casal é mais da- noso para a criança do que o término do casamento em si. Entretanto, sabemos que muitos divórcios não são consensu- ais, os ex-cônjuges guardam uma série de rancores entre si e vivem em conflito, em muitos dos quais acabam, de maneira in- consciente ou consciente, envolvendo a criança como uma forma de atingir o ex de quem ainda é um grande desafeto. Esse tipo de situação sem dúvida é bastante negativa para o processo de desenvolvi-mento psicossocial da criança. O psicólogo jurídico, assim como o as- sistente social, podem ser solicitados pelo juiz em situações de disputa de guarda ou para definir os termos de visitação, também visando o melhor para a criança. Através do estudo psicossocial, esses pro- fissionais visam observar qual parte teria melhores condições de abrigar a criança, além de verificar aspectos acerca da visi- tação. Para fins didáticos iremos subdividir essa seção em “a criança filha de divorcia- dos: guarda e visitação”; “guarda compar- tilhada”; “atuação do psicólogo” e “síndro- me da alienação parental”. 5.1 A criança filha de divor- ciados: guarda e visitação Citamos anteriormente o ECA, porém, aqui cabe mencionarmos também um outro documento que data aproximadamente da mesma época e também serve de subsídio para nosso estudo sobre guarda e visitação: a Convenção Internacional de 1989, rati- ficada pelo Congresso Nacional Brasileiro 30 3131 em 1990. Ambos os documentos elucidam o direito da criança de ser criada pelos pais, exceto quando o seu melhor interesse tor- ne necessária a separação. Mesmos nesses casos em que há separação, a criança tem o direito de manter relações regulares com ambos os pais (BRANDÃO, 2011). Aqui, observa-se uma mudança no para- digma veiculado em ocasião da Lei do Divór- cio, que não se voltava na relação da crian- ça com o genitor que não detinha a guarda (BRITTO, 1996 apud BRANDÃO, 2011). Conforme já citamos anteriormente, até então, a própria justiça acabava por refor- çar a confusão entre parentalidade e con- jugalidade, já que a questão da guarda e da visitação de filhos de casais separados era diretamente relacionada às falhas no cumprimento do contato matrimonial. Ou seja, o cônjuge que era reconhecido como a “vítima” do processo de divórcio detinha a guarda da criança, salvo sob raras exceções, enquanto que o “culpado” não poderia deter a guarda, ou seja, em decorrência de fatores ligados ao fracasso na função de cônjuge era vetada a execução do papel de pai ou mãe, diferentemente do que acontece atu- almente (BRANDÃO, 2011). Passam-se a privilegiar os melhores interesses da criança, como mostra a ci- tação a seguir: Na medida em que os códigos jurídicos passam a priorizar o melhor interesse da criança, tal critério deve se sobrepor ao de falta conjugal em toda decisão judicial a respeito da guarda dos filhos de pais se- parados e divorciados. As falhas no cum- primento do contrato matrimonial não devem ser deslocadas às funções paren- tais (BRANDÃO, 2011, p.87). Assim, se resumirmos a situação, temos que um casal que se divorcia decide que, a partir de uma série de motivos, não possui mais condições de coabitar com seu cônju- ge. A dissolução de um casamento por si só é um fator bastante delicado, cercado de emoções e afetos, o que se complica ainda mais quando há filhos em jogo. Cada ex- -cônjuge decide seguir seu caminho, morar em casas – e, em certos casos, em cidades, estados ou países – diferentes e costuma restar para a justiça a decisão de qual dos pais será detentor da guarda da criança. Como já reforçamos, independente da si- tuação que motivou o divórcio, ambos os pais têm direito à visitação, já que as rela- ções de parentalidade são indissolúveis e essenciais ao desenvolvimento saudável de toda criança, inclusive aquelas filhas de pais divorciados. O detentor da guarda pode ser a mãe, o pai, ou ambos, nos casos em que prevalece a guarda compartilhada. Isso será abordado na subseção a seguir. Primeiramente, pre- cisamos compreender o que é guarda. Segundo o Conselho Nacional de Jus- tiça e a Associação dos Magistrados do Brasil (CNJ/AMB, 2013): Guarda consiste na obrigação de man- ter o filho em sua companhia, dando-lhe os cui¬dados necessários conforme sua idade e se responsabilizando por seus atos. Em caso de divórcio ou dissolução de união estável, se as partes não esti- verem de acordo, o juiz vai decidir como a guarda do filho menor será exercida, sempre considerando o que for melhor para o menor. Porém, havendo acordo de vontades entre os pais, eles mesmos poderão estabelecer como a guarda será exercida (p.113). 32 33 Compreende-se, assim, que a criança ou adolescente menor de idade encontra- -se em condição de vulnerabilidade e, por- tanto, necessita que um adulto – prefe- rencialmente um dos pais, quando assim o houver, ou outro membro da família – seja detentor da sua guarda, para responsabi- lizar-se acerca dos direitos e dos deveres da criança. Nos casos em que não há consenso en- tre os pais, o juiz analisará qual dos pais tem melhores condições de criar a criança ou adolescente, sempre visando ao seu bem-estar. Importante destacar que o termo “condições” não se refere à situa- ção financeira de ambas as partes, mas às condições gerais para acolher o filho, tais como atenção, amor, carinho e preocupa- ção com seu bem-estar. A guarda pode ser unilateral – atribuída a apenas um dos pais – ou compartilhada – atribuída a ambos os pais (CNJ/AMB, 2013). A guarda compartilhada é uma nova re- alidade no contexto jurídico brasileiro, por isso iremos focar exclusivamente nessa modalidade na próxima seção. O psicólogo e o assistente social podem auxiliar o juiz nesse processo – fator que também será estudado numa outra subseção. Quando a guarda é unilateral, compre- ende-se que um dos pais fica na condição de detentor da guarda da criança, enquan- to que o outro se encontra na condição de visitante, sendo que o direito de visi- tas ou convivência é compreendido como o direito de quem não reside com o filho de acompanhar o seu desenvolvimento. A visitação pode ser definida pelos pais, quando há acordo, ou, em caso de confli- tos, é definida pelo juiz, com dias e horá- rios predeterminados, visando sempre ao bem-estar da criança (AMB/CNJ, 2013). Entretanto, o termo “visitação” pode gerar interpretações errôneas que podem influenciar negativamente na qualidade da relação de ambos os genitores com a criança, como expresso na citação a se- guir: Muitos dos pais terminam por acredi- tar que, por serem visitantes, devem se manter a distância dos filhos, pois consi- deram que a justiça dá plenos poderes ao detentor da guarda. Sentindo-se impo- tentes no papel de coadjuvantes, esses pais esbarram nas decisões unilaterais das ex-mulheres a respeito da vida dos filhos, assim como elas, enquanto mães, sentem-se sobrecarregadas física, fi- nanceiramente e psicologicamente, haja vista o ex-marido mal visitar as crianças. Em resumo, a guarda monoparental ou exclusiva provoca um desequilíbrio de poder entre o casal litigiante, deixando um dos genitores numa posição frágil frente àquele que detém a guarda de seu filho. Assim, respaldar essa exclu- sividade através de argumentos psico- lógicos em nada poderá contribuir para uma divisão mais equitativa de respon- sabilidades parentais (BRANDÃO, 2011, p.91). A regulamentação das visitas deve ser bem pensada, de forma a se evitar modelos rígidos, burocráticos e preconcebidos de rela- cionamentos. Cada família é única, cada situ- ação idem, assim, caso realmente deseja-se priorizar os interesses da criança, a visitação deve ser regulamentada de forma que o geni- tor descontínuo possa, assim como detentor da guarda, acompanhar e participar do desen- volvimento de seus filhos (BRANDÃO, 2011). 32 33 Segundo o mesmo autor, há de se espe- rar também situações em que os genitores visitantes desaparecem da vida de seus filhos por não suportarem os constantes desentendimentos com o ex-cônjuge ou por não concordarem com o papel de “visi- tantes”, além daqueles que não suportam buscar os filhos na casa que anteriormente foi sua. Outras questões acerca da
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