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Nota de aula 14 Moeda e infla+º+úo

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Universidade do Estado do Rio de Janeiro 
Faculdade de Ciências Econômicas 
Introdução à Economia II 
1º. semestre 2014 
 
Nota de aula 14 – Moeda e inflação 
1. Inflação: países selecionados 
O gráfico 1 apresenta a taxa de inflação em 2013, medida pelo índice de preços ao consumidor, 
para um grupo de países selecionados. Nota-se que neste grupo, os países desenvolvidos têm 
uma inflação baixa enquanto os países em desenvolvimento apresentam inflações maiores, à 
exceção do Chile e da China. O caso da Venezuela é atípico. 
 
Fonte: Banco Mundial 
 
2. Teoria clássica de inflação 
Inflação  redução do valor da moeda 
Por exemplo, uma moeda de R$ 1 compra uma menor quantidade de bens e serviços com a 
inflação. 
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Gráfico 1 - Inflação (IPC) 2013 
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Valor da moeda = 
 
 
 = poder de compra da moeda 
Exemplo com um bem: 
P = 1  
 
 
 = 1 unidade 
P = 2  
 
 
 = 0,5 unidade 
Exemplo com n bens: 
 ̅ = 1  
 
 
 = 1 unidade 
 ̅ = 2  
 
 
 = 0,5 unidade 
 ̅ = nível geral de preços 
O que determina o valor da moeda? 
Como qualquer bem, o valor da moeda depende da demanda (MD) e da oferta (MO). 
MO  controlado pelo Bacen 
MD  depende da taxa de juros (negativamente) e do valor dos gastos ou renda 
(positivamente) 
Como fazer MD = MO? 
Curto prazo  a taxa de juros se ajusta 
Longo prazo  o nível de preços se ajusta 
O equilíbrio de longo prazo é apresentado no gráfico 2. No eixo vertical do lado esquerdo, se 
mede o valor da moeda, com valores decrescentes de cima para baixo. No eixo vertical do lado 
direito, se mede o nível de preços, com valores crescentes de cima para baixo. 
Se o nível de preços for 1, a demanda de moeda será menor do que a oferta de moeda. Portanto, 
o preço aumenta para elevar a quantidade demandada de moeda necessária para efetuar os 
gastos. O equilíbrio ocorre com o nível de preços 2 e o valor da moeda é 0,5. 
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Gráfico 2 – Equilíbro de longo prazo no mercado monetário 
 
 
 
 
 
 
 
 
Se o Bacen aumenta a quantidade de moeda na economia, a curva de oferta de moeda se 
desloca para a direita de MO1 para MO2. 
Gráfico 3 – Equilíbro de longo prazo no mercado monetário com aumento na oferta de moeda 
 
 
 
 
 
 
 
Por que no longo prazo, o aumento na quantidade provoca somente uma alteração no nível de 
preços, se depende dos gastos que é igual ao produto vezes o preço? 
No longo prazo, o produto é determinado pela quantidade de trabalho, de capital, de recursos 
naturais e do nível de tecnologia. Nenhum destes fatores são afetados pela quantidade de moeda. 
Se fosse, o crescimento econômico dependeria da capacidade de emissão de moeda. 
Portanto, se o produto real é dado, todo ajuste ocorre no nível de preços. 
Valor da 
moeda, (1/P) 
M M1 
MO 
 MD 
1 
1/2 
i2 
EO 
ED 
Nível de 
preços, P 
2 
1 
4 
Valor da 
moeda, (1/P) 
M M1 
MO1 
 MD 
1 
1/2 
1/3 
Nível de 
preços, P 
2 
1 
3 
MO2 
M2 
 4 
 
Assim, uma maior disponibildiade de moeda aumenta a demanda por bens e serviços elevando os 
preços se a quantidade permanece fixa. Ao elevar o nível de preços, aumenta a demanda de 
moeda. 
Esta explicação é conhecida como Teoria Quantitativa da Moeda (TQM). 
A TQM analisa os pontos de equilíbrio de longo prazo de A e C, não considerando o ponto de 
equilíbrio de curto prazo B. Por exemplo, se o Bacen muda a regra monetária expandindo a 
quantidade de moeda, a curva de demanda agregada se desloca para a direita de DA1 para DA2, 
gerando um equilibrio de curto prazo no ponto B com inflação de π1 maior e um hiato expansivo 
H1 (gráfico 3). 
Gráfico 3 – Aumento da quantidade de moeda e taxa de inflação 
 
 
 
 
 
 
 
. 
Diante da inflação mais elevada, os trabalhadores e os empresários reajustam suas expectativas 
de preço e a economia alcança o ponto C, com inflação π2 e hiato nulo. 
Portanto, pela TQM, o aumento na quantidade de moeda provoca somente maior inflação sem 
alterar o PIB real. 
A TQM pode ser expressa da seguinte forma: 
M*V = Y*P 
 
PIB real 
OACP1 
0 
2 
OALP 
DA2 
C 
OACP0 
1 B 
H1 
0 
DA1 
A 
 5 
 
onde M representa a quantidade de moeda, V a velocidade da moeda, Y o PIB real e P o nível 
geral de preços. 
A velocidade da moeda mede quantas vezes em um determinado período, por exemplo, uma nota 
de R$ 10 circula na economia, isto é, passa de uma pessoa a outra quando as transações são 
efetuadas. 
Se eu tenho uma nota de R$ 10 e compro um sanduíche, o dono da lanchonete fica com esta 
nota. Ele paga o fornecedor que passa a ter posse desta nota. O fornecedor paga o empregado 
com esta nota que, por sua vez, gasta no supermercado. Assim, uma nota de R$ 10 é utilizada em 
várias transações. A velocidade da moeda calcula quantas vezes a moeda circula na economia 
em um período. 
A TQM argumenta que Y é determinado pelo produto potencial e V é estável, isto é, não sofre 
grandes alterações. Portanto, variações na quantidade de moeda geram mudanças idênticas no 
nível geral de preços: 
M = P 
Este resultado é conhecido como princípio da neutralidade da moeda no longo prazo. 
O gráfico 4 ilustra a estabilidade da velocidade da moeda (PIB/M1) no Brasil, no período de janeiro 
de 2006 a abril de 2014. 
 
Fonte: Ipeadata. 
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Gráfico 4 - PIB/M1 
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Os economistas clássicos dividem as variáveis econômicas em dois grupos: variáveis nominais e 
variáveis reais. 
Por exemplo, um agricultou que produz 5 toneladas de milho e vendeu ao preço de R$ 10 por 
tonelada. A quantidade de milho é uma variável real e o preço em reais uma variável nominal. Da 
mesma forma, a renda do agricultor em reais é uma variável nominal. No entanto, o preço do milho 
em relação ao preço da soja é uma variável real. 
Assim, o PIB em reais é uma variável nominal e o PIB real, medida pela quantidade de bens e 
serviços produzidos em uma economia no ano é uma variável real. 
Esta separação das variáveis econômicas em dois grupos é denominada dicotomia clássica. 
A economia clássica afirma que as variáveis reais somene podem ser afetadas por variáveis reais 
e as variáveis nominais pelas variáveis nominais. Seguindo este raciocínio, a quantidade de 
moeda é uma variável nominal e sua variação somente pode afetar variáveis nominais como o 
nível geral de preços, o PIB nominal, etc. No entanto, não pode afetar o PIB real. 
3. Hiperinflação 
Se no longo prazo, o aumento na quantidade de moeda gera apenas mais inflação, por que alguns 
países passam por hiperinflação? 
Exemplos de inflação elevada: 
Zimbábue: 11.000.000% em 2008 
A quantidade de moeda loca equivalente a US$ 100 pesava 20 quilos. 
Armênia: 27.000% em 1994 
Nicarágua: 60.000% em 1991 
O gráfico 5 apresenta a evolução da quantidade de moeda e do nível de preços em 4episódios de 
hiperinflação 
O governo tem 3 formas de cobrir seus gastos: cobrando impostos, tomando empréstimos e 
emitindo moeda. 
 7 
 
Por exemplo, o governo compra bens e serviços emitindo uma nota de R$ 100. A pessoa aceitou 
receber esta nota de R$ 100 por que propiciava um poder de compra equivalente a este valor. 
Gráfico 5 – Episódios de hiperinflação: Áustria, Hungria, Alemanha e Polônia 
 
 
Fonte: Mankiw 
 
Depois de um ano, se a inflação for de 20%, esta nota de R$ 100 terá um poder de compra 
aproximadamente de R$ 80. A diferença de R$ 20 é denominada imposto inflacionário ou 
senhoriagem. 
Nota: o termo senhoriagem vem do direito de cunhar outro e prata em moeda e cobrar uma 
comissão por fazê- lo que os senhores (lordes) tinham na França na Idade Média. 
No entanto, as pessoas ao perceberem esta perda evitam que ficar com moeda. Para não perder 
o imposto inflacionário, o governo emite mais moeda que por sua vez gera mais inflação. 
As hiperinflações seguem o mesmo padrão. O governo tem despesas elevadas, receita tributária 
inadequada e capacidade limita de tomar empréstimos. Logo, ele financia seus gastos por meio de 
emissão de moeda. A hiperinflação acaba quando o governo executa uma reforma fiscal que 
elimina a necessidade do imposto inflacionário. 
 8 
 
4. Efeito Fisher 
M = quantidade de moeda  variável nominal 
P = nível geral de preços  variável nominal 
M  P (variável nominal afeta variável nominal – princípio da neutralidade da 
moeda) 
M  não afeta variáveis reais 
Questão 1: M pode alterar a taxa de juros real (ir) no longo prazo? 
Lembrando: ir = in -  
ou taxa de juros nominal = taxa de juros real – taxa de inflação. 
Se M não altera a taxa de juros real:  = in 
Este resultado é conhecido como efeito Fisher em homenagem ao economista Irving Fisher 
(1867-1947) que foi o primeiro a estudar este tema. 
Questão 2: M pode alterar a taxa de juros real (ir) no curto prazo? 
Sim, desde que a inflação não seja atencipada (ocorra de surpresa ou seja diferente da esperada). 
E se for antecipada? 
Para responder, vamos utilizar um exemplo. 
Você pretende emprestar R$ 1.000 por um ano e como prêmio quer obter uma taxa de juros de 
5%. 
Se a taxa de inflação for de 10% neste período, qual será seu ganho? 
No final do empréstimo, você terá 1050 = 1000 + 50 
Poder de compra de R$ 1.000 = 
 
 
 = 1.000 
Poder de compra de R$ 1.050 = 
 
 
 = 954 
 9 
 
Resultado: o empréstimo de R$ 1.000 a taxa de juros de 5%, na presença de inflação de 10%, 
provoca uma perda de R$ 46, isto é, de 4,6%. 
Como evitar esta perda? 
Além dos juros, é necessário uma compensação pela perda imposta pela inflação. 
Para obter aproximadamente uma taxa de juros real de 5% é necessário cobrar uma taxa de juros 
nominal de 15%. 
ir = in -  
5 = 15 – 10 
No final do empréstimo, você terá 1150 = 1000 + 150 
Poder de compra de R$ 1.000 = 
 
 
 = 1.000 
Poder de compra de R$ 1.050 = 
 
 
 = 1.045 
Resultado: o empréstimo de R$ 1.000 a taxa de juros de 15%, na presença de inflação de 10%, 
provoca um ganho R$ 45, isto é, de 4,5%, próximo ao ganho almejado de 5%. 
Em resumo, a taxa de juros nominal é ajustada pela taxa de inflação. 
No entanto, muitas vezes a taxa de inflação esperada é diferente da taxa de inflação efetiva, o que 
altera a taxa de juros real. 
Portanto, o efeito Fisher é válido somente no longo prazo quando a inflação se estabiliza em um 
patamar de modo que a inflação esperada é igual a inflação ocorrida no período. 
5. Custo da inflação 
Qual é a perda que uma inflação impõe à sociedade? 
5.1 “Ruído” no sistema de preços 
Revendo microeconomia: qual é o papel dos preços? 
Os movimentos do preços procuram compatibilizar a demanda com a oferta de bens e serviços. 
 10 
 
Se a demanda de um bem aumenta, o preço relativo deste bem, isto é, o preço do bem 
comparado com os preços dos demais bens, precisa se elevar estimulando os produtores a 
produzirem mais deste bem. Note que um aumento no preço relativo de um bem significa que a 
produção deste bem torna-se mais lucrativo do que a de outros. 
Com a inflação, o produtor tem dificuldade de perceber se o preço relativo aumentou ou o preço 
do bem se elevou por que os demais bens também aumentaram de modo que o preço relativo 
permaneceu constante. 
Se isso ocorre, o produtor pode produzir mais quando não é necessário ou deixar de aumentar 
quando a demanda se ampliou. Assim, o sistema de mercados deixa de funcionar corretamente. 
5.2 Distorções no sistema tributário 
Pense no imposto de renda. Exemplo: 
Renda até de R$ 2.000, paga um imposto de 5%. 
Renda entre R$ 2001 e R$ 3.000, paga imposto de 10%. 
Agora, considere um indivíduo que ganha R$ 1.900. Portanto, ele paga R$ 95 de imposto. 
No ano seguinte, com uma inflação de 10%, o seu salário é corrigido para R$ 2.090. No entanto, o 
seu poder de compra permanece constante, ou seja, não teve aumento no salário real. 
Agora, ele vai pagar o seguinte imposto: 
Até 2.000, imposto de R$ 100. 
Acima de R$ 2.001, imposto R$ 9. 
Total do imposto é de R$ 109. 
Se o imposto fosse ajustado pela inflação ele deveria pagar R$ 104,5 (95 vezes 1,1). 
Resultado: ele paga mais imposto de renda devido a inflação. 
5.3 Custo de evitar o imposto inflacionário 
Se a inflação é de 20% ao ano, manter durante um ano um nota de R$ 100 implica em uma perda 
de R$ 20. 
Como evitar esta perda? 
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Mantendo menos moeda. No entanto, manter menos moeda implica em ir mais aos bancos ou 
caixas eletrônicos provocando uma perda de tempo. Este efeito é denominado “custo da sola do 
sapato”. 
5.4 Custo de alterar os catálogos com os preços com frequência 
As empresas geralmente fixam os preços em catálogos que vigoram por um determinado período . 
Se a inflação é elevada, os preços precisam ser ajustados e os catálogos precisam ser impressos 
diversas vezes em um ano. Este efeito é denominado “custos de menu”. 
5.5 Redistribuição de renda 
Se você toma um empréstimo pagando juros de 10% quando a inflação esperada é de 5%, o custo 
real do empréstimo é de 5%. 
No entanto, se a inflação efetiva for de 15% ao invés de 5%, o custo real do empréstimo será de 
5% negativo. 
Isto significa que com empréstimo, você ganhou 5% e o emprestador perdeu 5%. A inflação 
inesperada gerou uma redistribuição de renda entre você e o emprestador. 
Se os preços aumentam e os salários não, ocorre também uma redistribuição de renda entre 
trabalhadores e proprietários de capital. 
Conclusão: a inflação prejudica a economia de várias maneiras. Nem todos os efeitos são fáceis 
de determinar e, por isso, são polêmicos. Contudo, a maioria dos economistas considera que uma 
inflação baixa e estável é fundamental para manter uma economia saudável. 
 
Referências bibliográficas 
Mankiw, G. N. Princípios de macroeconomia. São Paulo: Cengage Learning, 2013 (6ª. edição), 
cap. 17, p. 333-354. 
Taylor, J. B. Princípios de Macroeconomia. São Paulo: Editora Ática, 2007, cap. 10, p. 277-280.

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