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A Engenharia transformando ideias em soluções inteligentes Anais do 2° COEN – Congresso de Engenharias – Universidade Federal de São João del-Rei – MG Anais do 12° CONEMI – Congresso Nacional de Engenharia Mecânica e Industrial AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO MECÂNICO DE UM COMPÓSITO PARTICULADO COMO REFORÇO EM VIGAS DE MADEIRA Júlio César Ferreira Braz (juliof.braz@gmail.com), Roberto Bianchini Layber (roberto.bianchini@hotmail.com), Vânia Regina Velloso Silva (velloso@ufsj.edu.br), André Luis Christoforo (alchristoforo@ufsj.edu.br) Universidade Federal de S. João del-Rei (UFSJ), Departamento de Engenharia Mecânica, Campus S. Antônio, Praça Frei Orlando 170, 36307-352, S. J. del-Rei, MG, Brasil. RESUMO: Vigas são elementos estruturais comumente empregados nas construções civis. Dos materiais utilizados na sua confecção destaca-se o emprego da madeira, por ser um material de fonte renovável, de baixa densidade e de desempenho mecânico satisfatório. As estruturas construídas com madeira, quando não tratadas corretamente, podem apresentar problemas que venham a comprometer as finalidades para as quais foram projetadas, requerendo para tanto, o emprego de técnicas e metodologias de reparos. Este trabalho objetiva apresentar o desenvolvimento de um material compósito particulado de epóxi reforçado com cimento Portland branco estrutural, como forma de reforço em vigas de madeira. O estudo do desempenho mecânico do emprego deste material em vigas de madeira é essencialmente numérico, sendo fundamentado no Método dos Elementos Finitos. A madeira utilizada na simulação é o Eucalipto (Eucalyptus grandis), tendo suas propriedades mecânicas obtidas de literarutas especializadas na área de estruturas de madeira. Os resultados em deslocamentos e tensões obtidos da análise numérica indicam que o material compósito desenvolvido pode ser empregado como forma de reforço em vigas de madeira de Eucalipto. PALAVRAS-CHAVE: Materiais Compósitos, Reforço Estrutural, Método dos Elementos Finitos. EVALUATION OF THE MECHANICAL BEHAVIOUR OF A PARTICULATE COMPOSITE MATERIAL AS REINFORCEMENT IN TIMBER BEAMS Abstract: Beams are structural elements commonly used in structure for construction designs. The use of wood as structural elements is very important because it is a material of renewable source, low density and satisfactory mechanical performance. When the wood surface is not properly treated, the structure can be destroyed not only by environmental conditions but also the attack of insects compromising the design. This paper presents the development of a particulate composite material of epoxy reinforced with white Portland cement in order to be applied as repair of wooden beams. The mechanical performance of this material into wood beams is essentially numerical, based on the Finite Element Method. The wood used in the simulation is the Eucalyptus (Eucalyptus grandis). The elastic properties were obtained from the specialist literature in the field of timber structures. The numerical results indicate that the developed composite material can be used as repair of wooden beams of Eucalyptus. KEYWORDS: Composite Material, Structural Reinforcement, Finite Element Method 2° COEN – UFSJ 12° CONEMI São João del-Rei, Minas Gerais, 02 a 05 de Outubro de 2012 A Engenharia transformando ideias em soluções inteligentes Anais do 2° COEN – Congresso de Engenharias – Universidade Federal de São João del-Rei – MG Anais do 12° CONEMI – Congresso Nacional de Engenharia Mecânica e Industrial 2 1.INTRODUÇÃO Vigas são elementos presentes na maioria das estruturas. Em se tratando da construção civil, destaca-se o emprego da madeira, por ser um material de fonte renovável, tendo como uma de suas principais características a excelente relação entre resistência e densidade que, segundo Calil et al. (2003), esta chega a ser quatro vezes superior quando comparada ao aço. Segundo Christoforo (2007), no Brasil, o emprego da madeira na construção civil destina-se em maior parte à obras provisórias, tais como escoras, formas para estruturas de concreto entre outras, tendo como uma das possíveis justificativas, a falta de conhecimento sobre as suas propriedades físicas e mecânicas por parte dos profissionais da construção. As construções elaboradas com madeira requerem manutenção e uso de forma apropriada. Segundo Fiorelli (2002), problemas relacionados à baixa eficiência de elementos estruturais, ao aumento da sobrecarga e degradação por envelhecimento existem com grande frequência na construção civil, motivando o desenvolvimento de pesquisas envolvendo o estudo de reforços e recuperação para estruturas. Recentemente, materiais alternativos vêm sendo utilizados para recuperar e reforçar estruturas, dando destaque ao uso de materiais compósitos, principalmente fibras reforçadas com polímeros, que são materiais flexíveis, altamente resistentes e que podem substituir com vantagens, em alguns casos, as técnicas convencionais de reforços como o emprego de reparos com aço e parafusos, (Miotto e Dias, 2006). Neste contexto, este trabalho objetiva a elaboração e emprego de uma blenda polímero-cerâmica constituída de resina epóxi e de cimento Portland branco estrutural como reforço em vigas de madeira. Este material se difere dos demais uma vez que investiga o efeito da adição de um polímero termorrígido de alta resistência mecânica, em pastas cimentícias sem adição de água. A verificação do desempenho mecânico do conjunto (viga de madeira com a adição do compósito) foi realizada com o auxílio do Método dos Elementos Finitos (MEF), através da simulação do modelo mecânico de flexão estática de quatro pontos em uma peça de madeira de Eucalipto com dimensões estruturais. Para tanto, o compósito particulado é aplicado em cavidades semicirculares criadas na face superior da viga, de maneira a reproduzir a existência de falhas no material madeira. 2.REPAROS EM VIGAS DE MADEIRA As idéias de reforçar estruturas de madeira não são recentes e ao longo do tempo estas vem sendo desenvolvidas e aperfeiçoadas. De acordo com Mettem e Robinson (1991), dentre os métodos mais empregadas na recuperação de estruturas de madeira destacam-se os Tradicionais, onde a estrutura é recuperada com novas peças que substituem as degradadas, 2° COEN – UFSJ 12° CONEMI São João del-Rei, Minas Gerais, 02 a 05 de Outubro de 2012 A Engenharia transformando ideias em soluções inteligentes Anais do 2° COEN – Congresso de Engenharias – Universidade Federal de São João del-Rei – MG Anais do 12° CONEMI – Congresso Nacional de Engenharia Mecânica e Industrial 3 com dimensões e propriedades semelhantes às originais, os Mecânicos, em que os reparos estruturais são feitos utilizando conectores metálicos e o Método Adesivo, onde são utilizadas variações de resina combinadas com reforços estruturais. Muitos estudos utilizando o método adesivo vêm sendo realizados no campo de recuperação e reforço, principalmente no que diz respeito aos materiais utilizados no reforço e na interação reforço/viga. Segundo Ritter (1990), a técnica mais eficiente para recuperar peças de madeira é aquela que utiliza resina epóxi. O epóxi é um gel de betume, facilmente maleável, podendo ser injetado manualmente nas partes danificadas, promovendo o aumento da resistência mecânica da peça estrutural. Este material é usado para preencher rachaduras superficiais (atacadas por insetos) e espaços vazios. O epóxi, além de vedar a área danificada, reduzindo o aparecimento de futuras rachaduras, pode ainda aumentar a capacidade de carga da estrutura. Recentemente, visando-se o estudo do reparo e reforçoem vigas de madeira, muitos trabalhos estão sendo desenvolvidos, dando ênfase ao emprego de fibras reforçadas com polímeros. Fiorelli (2002) analisou experimentalmente o desempenho mecânico do emprego de fibras reforçadas com polímeros (FRP) coladas ao longo da parte inferior de uma viga de madeira da espécie Pinus Elliotti (Pinus elliotti) e Eucaliptos Grandis (Eucalyptus grandis). A técnica desenvolvida mostrou-se de simples aplicação além de apresentar uma interessante característica, a presença de uma grande deformação antes da ruptura, justificada pelo rebaixamento da linha neutra, causando esmagamento de uma grande quantidade de madeira na parte comprimida. Miotto e Dias (2006) discutem sobre o emprego de fibras de naturais (fibra de sisal) como forma de reforço em vigas de Madeira Laminada Colada (MLC), mostrando-se como uma alternativa propícia para um melhor aproveitamento dos recursos florestais brasileiros. Os autores concluem, além de outras, que a adição de fibras na face tracionada das peças de madeira garante excelente desempenho mecânico na flexão, entretanto, sendo modesta a contribuição em termos de rigidez. Discutem ainda que a resistência da MLC pode ser melhorada com a adição de fibras (de vidro ou de carbono) na região tracionada, resultando no aumento da confiabilidade do material e em uma redução de 30% a 40% no volume de madeira utilizada. Acrescenta-se ainda que o reforço aplicado a uma razão de 2% a 3% pode aumentar a resistência à flexão de vigas de MLC em mais de 100%. Neste âmbito, Campilho et al. (2010) avaliaram experimentalmente a influência do emprego de materiais compósitos laminados com fibras de carbono adicionados na superfície superior de uma viga de madeira da espécie Pinus pinaster, segundo o esquema de flexão estática de quatro pontos, com orifício semicircular criado no meio do vão da viga e na sua face superior, assim como ilustra a Figura 1. Este entalhe semicircular reproduz um defeito na 2° COEN – UFSJ 12° CONEMI São João del-Rei, Minas Gerais, 02 a 05 de Outubro de 2012 A Engenharia transformando ideias em soluções inteligentes Anais do 2° COEN – Congresso de Engenharias – Universidade Federal de São João del-Rei – MG Anais do 12° CONEMI – Congresso Nacional de Engenharia Mecânica e Industrial 4 madeira, criado para o emprego do compósito como forma de reforço. Os resultados obtidos da análise experimental revelam que o compósito laminado, projetado para esforços de tração, mesmo inserido na região solicitada por tensões compressivas, ainda sim foi capaz de aumentar a resistência mecânica do conjunto. FIGURA 1. Modelo mecânico utilizado para o estudo do emprego do compósito laminado. Pensando em alternativas de aplicações práticas e eficientes, este trabalho propõe o emprego de uma blenda polímero-cerâmica projetada para resistir a forças compressivas, a ser inserida em cavidades de geometria semicirculares. Algumas características peculiares justificam o interesse em se estudar o emprego de materiais compósitos particulados, solicitados por forças compressivas, como reforço em vigas de madeira. No caso do emprego de compósitos laminados, a eficiência do reparo é altamente dependente da eficácia do adesivo usado. Por definição, adesivo é uma substância capaz de unir materiais através do contato entre suas superfícies. Porém a capacidade de unir materiais não é uma propriedade intrínseca da substância, mas dependente do contexto em que a mesma é utilizada (Fiorelli, 2002). Balseiro (2008) realizou ensaios de colagem em corpos-de-prova de compósitos de fibra de carbono em peças de madeira utilizando resina epóxi Sikadur®, com objetivo de verificar a influência do tamanho da área de colagem e das condições higrotérmicas. Nos corpos-de-prova que foram colados com um teor de água elevado a resistência apresentada foi muito reduzida ou nula, indicando que a presença de umidade nas peças de madeira durante a sua colagem é muito prejudicial. Já os corpos-de-prova que mostraram a influência do comprimento de colagem na ligação tiveram valores superiores aos esperados, sendo os de maior comprimento e área de colagem os que apresentaram maior resistência ao cisalhamento. Neste trabalho a blenda polímero-cerâmico é injetada na cavidade semicircular da face superior da seção transversal, criada para representar um defeito na madeira, como por exemplo, um nó na peça ou algum outro tipo de falha natural. Esta condição implica que a blenda estará confinada na madeira por forças compressivas, tornando a sua eficiência menos dependente da adesão entre a resina e a madeira. Ainda, tratando-se da consideração de 2° COEN – UFSJ 12° CONEMI São João del-Rei, Minas Gerais, 02 a 05 de Outubro de 2012 A Engenharia transformando ideias em soluções inteligentes Anais do 2° COEN – Congresso de Engenharias – Universidade Federal de São João del-Rei – MG Anais do 12° CONEMI – Congresso Nacional de Engenharia Mecânica e Industrial 5 projeto, na condição de pequenos deslocamentos (linearidade geométrica) e comportamento linear físico para os materiais, tem-se maior segurança na integridade da interface entre a madeira e o compósito, permitindo-se a consideração de adesão perfeita entre os materiais. 3.BLENDA POLÍMERO-CERÂMICA A blenda polímero-cerâmica utilizada foi desenvolvida para resistir a forças de compressão, constituindo-se de um polímero termorrígido de alta resistência mecânica adicionado em cimento Portland CP-V sem adição de água. Somente uma formulação de referência, i.e., pasta de cimento puro, foi confeccionada com água para efeito de comparação. Os compósitos cimentícios em estudo foram fabricados com as seguintes proporções da fase polimérica: 100% (0% de cimento), 75%, 50%, 25% e 0% (100% de cimento). As condições experimentais analisadas nesta investigação podem ser observadas na Tabela 1, e ilustradas pela Figura 2. TABELA 1. Condições experimentais. Polímero Cimento H2O C1 100% * * C2 75% 25% * C3 50% 50% * C4 25% 75% * C5 * 100% 30% FIGURA 2. Foto dos compósitos investigados no experimento. O cimento Portland utilizado no experimento foi o CPB-40, do fabricante Cauê - indústria Brasileira. Já a resina epóxi é constituída de duas partes, sendo uma denominada araldite e a outra endurecedor. O Araldite usado foi LY 1564BR e o endurecedor Aradur 2954. A proporção da mistura em massa utilizada foi de 74% de araldite para 26% de endurecedor. O ensaio de resistência mecânica à compressão foi baseado nas recomendações da norma britânica (BS-12390, 2002). Sete corpos-de-prova foram fabricados para cada condição experimental. Os testes foram realizados de forma aleatória. Os compósitos investigados 2° COEN – UFSJ 12° CONEMI São João del-Rei, Minas Gerais, 02 a 05 de Outubro de 2012 A Engenharia transformando ideias em soluções inteligentes Anais do 2° COEN – Congresso de Engenharias – Universidade Federal de São João del-Rei – MG Anais do 12° CONEMI – Congresso Nacional de Engenharia Mecânica e Industrial 6 foram medidos para um período de cura de 28 dias. Os módulos de elasticidade e resistência a compressão foram determinados em função dos gráficos tensão-deformação obtidos dos ensaios de compressão. A densidade volumétrica dos compósitos foi calculada dividindo a massa do compósito seco (após 24 horas na estufa a 105°C) pelo volume das amostras (28 mm de diâmetro e 56 mm de altura). A Tabela 2 exibe as médias e os desvios-padrões (DP) dos resultados de resistência à compressão (Rc), módulo de elasticidade longitudinal (E) e densidade volumétrica (Dv) para as condições experimentaisinvestigadas. TABELA 2. Resultados experimentais médios e desvios-padrões. Rc (MPa) DP E (GPa) DP Dv (g/cm3) DP C1 64,33 0,23 23,76 1,43 1,17 0,01 C2 67,07 0,56 25,29 1,52 1,34 0,02 C3 98,80 2,11 33,98 4,69 1,64 0,01 C4 81,73 2,55 46,27 4,65 1,84 0,02 C5 28,93 1,90 47,88 1,63 1,92 0,03 O material selecionado para a simulação foi o compósito C3, constituído de 50% de fase polimérica e 50% de fase cimentícia. A relação resistência mecânica e densidade volumétrica apresentada por este compósito é bastante promissora, exibindo elevada resistência mecânica, baixa densidade, além de alta tenacidade, comparado com os compósitos C4 e C5. Segundo Panzera et al. (2010), a análise por FTIR (Infra-Vermelho por Transformada de Fourier) comprovou que há hidratação dos grãos de cimentos pela resina epoxídica mesmo sem adição de água. O comportamento elasto-plástico do compósito C3 pode ser resultante de uma interação (pontes de hidrogênio) entre a resina e portlandita formada, aliada a uma baixa porosidade que evita o início de fissuras e prolonga a elasticidade. 4.METODOLOGIA A madeira adotada para as simulações foi o Eucalipto (Eucalyptus grandis), por ser, dentre as madeiras catalogadas pela norma NBR 7190 (1997), a de caráter renovável e que apresenta uma crescente demanda na sua aplicação. Para a avaliação numérica da madeira torna-se necessário o conhecimento do módulo de elasticidade na flexão (Em), resistência à compressão paralela (fc,0) e resistência à tração paralela (ft,0), para tanto, estas variáveis foram obtidas do documento normativo Brasileiro (NBR 7190:1997). A resistência a tração e a compressão paralela da madeira Eucalipto são respectivamente iguais a fc,0 = 40,3 MPa e ft,0 = 70,2 MPa. No item Propriedades Mecânicas 2° COEN – UFSJ 12° CONEMI São João del-Rei, Minas Gerais, 02 a 05 de Outubro de 2012 A Engenharia transformando ideias em soluções inteligentes Anais do 2° COEN – Congresso de Engenharias – Universidade Federal de São João del-Rei – MG Anais do 12° CONEMI – Congresso Nacional de Engenharia Mecânica e Industrial 7 deste código normativo, apresenta-se uma relação entre o módulo de elasticidade na flexão com o módulo de elasticidade na compressão paralela (Ec,0) que, para as dicotiledôneas, como é o caso do Eucalipto, é expressa por Em = 0,90·Ec,0. O valor do módulo de elasticidade do Eucalipto na compressão paralela é igual a Ec,0 = 12813 MPa, resultando num módulo de elasticidade na flexão de 11531,7 MPa. Admitindo-se os coeficientes parciais de modificação kmod,1=0,6, kmod,2=1,0 e kmod,3=1,0 chega-se ao valor do coeficiente de modificação kmod = 0,6. O valor efetivo do módulo de elasticidade na flexão (Em,ef) é expresso por Em,ef = kmod·Em = 6919,02 MPa. A partir do valor do coeficiente de ponderação (γw) é possível determinar os valores das resistências a compressão e tração paralelas de cálculo (fc0,d e ft0,d) através da relação fd = (kmod.f)/ γw . Com isso, obtemos os valores fc0,d = 17,27 MPa e ft0,d = 23,4 MPa, que representam, respectivamente, os valores das resistências a compressão e tração paralelas de cálculo. Ainda sobre a madeira, a mesma é tratada como material isotrópico. Esta consideração é comumente utilizada em projetos estruturais, visto que a norma NBR 7190 (1997) não faz referências sobre os procedimentos de cálculo para determinação dos módulos de elasticidade longitudinal (E) nas três direções, longitudinal, radial e tangencial, nem para os módulos de elasticidade transversais (G) e os respectivos coeficientes de Poisson ( ) do material. De forma empírica, neste documento normativo, o módulo de elasticidade transversal da madeira é obtido pela equação G = E/20. Esta relação quando substituída na equação que estabelece a igualdade entre módulo de elasticidade longitudinal e transversal para materiais isotrópicos (G = E/[2∙(1+ )]) ultrapassa os limites para o coeficiente de Poisson, podendo extrapolar o valor máximo de 0,50 em dezoito vezes. Desta forma, aqui foi considerado nulo o valor de Poisson da madeira nas simulações, sabido também da sua pequena influência em projetos de vigas sujeitas à flexão. Para a blenda da condição C3, ver Tabela 2, o módulo de elasticidade utilizado nas simulações juntamente com o valor de resistência à compressão são respectivamente iguais a 33,98 GPa e 98,80 MPa. O valor do coeficiente de Poisson para o material compósito foi adotado como sendo o da resina epóxi que, segundo Daniel e Ishai (1994), este valor é aproximadamente igual a 0,35. Como comentado anteriormente, as simulações numéricas são desenvolvidas com o intuito de verificar a eficiência do emprego do material compósito em vigas de madeira de dimensões estruturais, sendo avaliadas através do modelo de flexão estática de quatro pontos (ver Figura 3), esquema de ensaio proposto pela norma ASTM D198-97 que trata da determinação do módulo de elasticidade longitudinal em peças de dimensões estruturais. 2° COEN – UFSJ 12° CONEMI São João del-Rei, Minas Gerais, 02 a 05 de Outubro de 2012 A Engenharia transformando ideias em soluções inteligentes Anais do 2° COEN – Congresso de Engenharias – Universidade Federal de São João del-Rei – MG Anais do 12° CONEMI – Congresso Nacional de Engenharia Mecânica e Industrial 8 FIGURA 3. Ensaio de flexão de quatro pontos. As dimensões das peças de madeira, comprimento (L), altura (h) e largura da seção transversal (b) são respectivamente iguais a 2100mm, 100mm e 50mm. A relação L/h definida para estas medidas respeita a relação apresentada no trabalho de Lahr (1983), desprezando o efeito das forças cisalhantes no cálculo das deflexões de vigas. Depois de selecionadas as dimensões das peças, foram definidos as dimensões das cavidades semicirculares a serem “retiradas” da parte superior da seção transversal, localizadas no ponto médio da viga (região de ocorrência da maior tensão normal de compressão), para posterior emprego do material reforço. Os raios das cavidades semicirculares adotados são iguais a 10, 20, 30 e 40 mm. Para a viga inicialmente sem defeito, descobriu-se, por meio da análise inversa, o valor aproximado da força no ensaio de flexão responsável por provocar um deslocamento máximo (meio do vão) próximo a 10,50 mm, respeitando-se a condição de pequenos deslocamentos (L/200) sugerida pela norma brasileira NBR 7190 (1997), tendo-se garantia de comportamento linear geométrico para a viga. Este valor de força foi dividido em doze incrementos. Para cada incremento de força utilizado na consideração de peça sem defeitos foram realizados outros dois ensaios numéricos, com o objetivo de se verificar o deslocamento calculado no ponto médio para as suas outras condições, com defeito sem reforço e com defeito e com reforço. Esta metodologia permite avaliar a eficiência mecânica do conjunto. Dessa forma, as simulações consistem em avaliar nove condições, uma com a peça íntegra, sem a presença de “defeitos”, e para cada uma das quatro dimensões de raio da cavidade semicircular foram analisadas duas condições, com e sem a presença do material compósito. Os ensaios numéricos foram denominados como R1, R2, R3 e R4 para os entalhes de 10mm, 20mm, 30 mm e 40 mm de raio e, as extensões SS, CC e SC são utilizadas para identificar respectivamente a condição sem a presença de defeitos e com o emprego ou não do compósito como reforço, assim como ilustrado na Figura 4 e apresentado na Tabela 3. 2° COEN – UFSJ 12° CONEMI São João del-Rei, Minas Gerais, 02 a 05 de Outubro de 2012 A Engenharia transformando ideias em soluções inteligentes Anais do 2° COEN – Congressode Engenharias – Universidade Federal de São João del-Rei – MG Anais do 12° CONEMI – Congresso Nacional de Engenharia Mecânica e Industrial 9 FIGURA 4. Diagrama das seções semicirculares. TABELA 3. Denominação das condições de teste. Experimento Raio do entalhe (mm) Aplicação de reforço SS Sem Sem R1-SC 10 Sem R1-CC 10 Com R2-SC 20 Sem R2-CC 20 Com R3-SC 30 Sem R3-CC R4-SC R4-CC 30 40 40 Com Sem Com As simulações numéricas das vigas de madeira com e sem reforços foram desenvolvidas com o emprego de elementos finitos com o auxílio do software ANSYS ® . As malhas de elementos finitos foram construídas com o elemento PLANE82 em formatos tridimensionais, e modeladas em 2D. O critério de resistência adotado foi o da máxima tensão para ambos os materiais, madeira e blenda, implicando na verificação e comparação direta entre os valores de resistência dos materiais com as tensões calculadas pelo software. As condições de contorno aplicadas foram à fixação de uma extremidade com restrição horizontal e vertical e a outra extremidade com restrição vertical (apoio fixo e móvel respectivamente). Foi utilizada uma malha de elementos finitos de geometria triangular com aresta de 10 mm para a madeira e de 2mm para a blenda, assim como ilustrado na Figura 5. 2° COEN – UFSJ 12° CONEMI São João del-Rei, Minas Gerais, 02 a 05 de Outubro de 2012 A Engenharia transformando ideias em soluções inteligentes Anais do 2° COEN – Congresso de Engenharias – Universidade Federal de São João del-Rei – MG Anais do 12° CONEMI – Congresso Nacional de Engenharia Mecânica e Industrial 10 FIGURA 5. Geometria da malha utilizada. O valor da força responsável por provocar um valor de deslocamento no ponto médio da viga aproximadamente igual a 10,5 mm é de 1135 N. Para tanto, como comentado anteriormente, este valor foi divido em doze partes iguais, aplicando-se sobre a estrutura incrementos de força iguais a 100 N. 5.ANÁLISE DO RESULTADOS A Tabela 4 exibe os valores dos deslocamentos obtidos para cada condição mediante o emprego dos dez incrementos de força. TABELA 4. Deslocamentos (mm) obtidos no ponto médio da viga para as nove condições. Viga Força (N) 0 100 200 300 400 500 600 700 800 900 1000 1100 1200 SS 0 0,929 1,857 2,786 3,715 4,644 5,572 6,501 7,430 8,359 9,287 10,22 11,145 R1-SC 0 0,942 1,884 2,827 3,769 4,711 5,653 6,596 7,538 8,480 9,422 10,36 11,307 R1-CC 0 0,925 1,850 2,775 3,699 4,624 5,549 6,474 7,399 8,324 9,248 10,17 11,098 R2-SC 0 0,982 1,963 2,945 3,927 4,909 5,890 6,872 7,854 8,835 9,817 10,80 11,780 R2-CC 0 0,916 1,833 2,749 3,666 4,582 5,499 6,415 7,332 8,248 9,165 10,08 10,998 R3-SC 0 1,058 2,116 3,175 4,233 5,291 6,349 7,407 8,465 9,524 10,58 11,64 12,698 R3-CC 0 0,907 1,814 2,721 3,628 4,535 5,442 6,349 7,256 8,163 9,070 9,977 10,884 R4-SC 0 1,201 2,402 3,603 4,804 6,005 7,206 8,407 9,609 10,81 12,01 13,21 14,413 R4-SC 0 0,898 1,795 2,693 3,591 4,488 5,386 6,284 7,181 8,079 8,977 9,874 10,772 Os resultados apresentados na Tabela 4 revelam o ganho em termos de eficiência mecânica do emprego do compósito como reforço na viga de madeira, visto que o deslocamento da peça no ponto médio com a adição do reforço é menor que o deslocamento da peça de madeira sem defeito. A Figura 6 exibe os valores dos incrementos de força juntamente com os deslocamentos obtidos para as nove condições numéricas avaliadas. 2° COEN – UFSJ 12° CONEMI São João del-Rei, Minas Gerais, 02 a 05 de Outubro de 2012 A Engenharia transformando ideias em soluções inteligentes Anais do 2° COEN – Congresso de Engenharias – Universidade Federal de São João del-Rei – MG Anais do 12° CONEMI – Congresso Nacional de Engenharia Mecânica e Industrial 11 FIGURA 6. Deslocamento × Força. Como esperado, o comportamento entre força e deslocamento para os incrementos de força nas nove condições numéricas avaliadas exibe um regime linear. Dessa forma, utilizou- se o modelo de regressão linear para o ajuste de cada uma das nove curvas apresentadas na Figura 6, de maneira a se estimar, com maior precisão, o valor de força responsável por provocar, nos nove casos, um deslocamento no meio do vão da viga igual a 10,5 mm. Os valores destas forças estão apresentados na Tabela 5. TABELA 5. Força aplicadas para obtenção da flecha de 10,5 mm. Viga Força (N) Interiça (SS) 1130,6 R1-SC 1114,3 R1-CC 1135,4 R2-SC 1069,6 R2-CC 1145,7 R3-SC 992,20 R3-CC R4-SC R4-CC 1157,7 874,20 1169,7 Com base nos valores de força apresentados na Tabela 5, foram realizadas nove novas simulações, de maneira a verificar e comparar a magnitude do campo das tensões exibidas 0 2 4 6 8 10 12 14 16 0 100 200 300 400 500 600 700 800 900 1000 1100 1200 D es lo ca m en to ( m m ) Força (N) SS R1-SC R1-CC R2-SC R2-CC R3-SC R3-CC R4-SC R4-SC 2° COEN – UFSJ 12° CONEMI São João del-Rei, Minas Gerais, 02 a 05 de Outubro de 2012 A Engenharia transformando ideias em soluções inteligentes Anais do 2° COEN – Congresso de Engenharias – Universidade Federal de São João del-Rei – MG Anais do 12° CONEMI – Congresso Nacional de Engenharia Mecânica e Industrial 12 pelo software, avaliadas na seção localizada no ponto médio da viga, permitindo-se comparar os valores das tensões encontradas para com os limites de resistência dos materiais. Vale ressaltar, assim como comentado e justificado anteriormente, que a condição de interface foi tomada como perfeita, evitando-se a preocupação da análise das tensões normais e cisalhantes na interface de contato entre os materiais. As simulações numéricas envolvendo a análise das tensões normais na direção paralela às fibras (S11) são apresentadas na Figura 7, sendo enfatizadas as suas distribuições nas seções transversais localizadas nos pontos médios das vigas. 2° COEN – UFSJ 12° CONEMI São João del-Rei, Minas Gerais, 02 a 05 de Outubro de 2012 A Engenharia transformando ideias em soluções inteligentes Anais do 2° COEN – Congresso de Engenharias – Universidade Federal de São João del-Rei – MG Anais do 12° CONEMI – Congresso Nacional de Engenharia Mecânica e Industrial 13 FIGURA 7. Distribuição das tensões normais. Os resultados encontrados nas simulações ilustradas pela Figura 7 são apresentados na Tabela 6. TABELA 6. Valores de tensão normal para a condição de flecha igual a 10,5 mm. Condições Força (N) Tensão Máxima de Compressão na Viga (MPa) Tensão Máxima de Tração na Viga (MPa) Tensão Máxima de Compressão no Reforço (MPa) SS 1130,6 8,80 7,17 X R1-SC 1114,3 18,06 7,74 X R2-SC 1069,6 18,76 9,31 X R3-SC R4-SC 992,2 874,2 19,47 20,56 11,55 14,23 X X R1-CC 1135,4 9,60 7,20 9,60 R2-CC 1145,7 9,32 7,26 9,32 R3-CC R4-CC 1157,7 1169,7 9,92 10,44 7,34 7,42 9,92 10,44 Os resultados apresentados na Tabela 6 revelam que nas quatro condições em que há apenas o defeito na viga, sem a presença do compósito, as tensões máximas de compressão na 2° COEN – UFSJ 12° CONEMI São João del-Rei, Minas Gerais, 02 a 05 de Outubro de 2012 A Engenharia transformando ideias em soluções inteligentes Anais do 2° COEN – Congresso de Engenharias – Universidade Federal de São João del-Rei – MG Anais do 12° CONEMI – Congresso Nacional de Engenharia Mecânica e Industrial 14 viga ultrapassamo valor da resistência a compressão paralela de cálculo (fco,d) da madeira. Entretanto, com a aplicação do compósito, houve uma redução nas tensões máximas de compressão em cerca de 50% em cada condição, levando-as a valores abaixo da fco,d da madeira e, com isso, assegurando que as peças projetadas resistam aos carregamentos impostos. 6.CONCLUSÕES Ao analisar e estudar os valores encontrados para as tensões máximas de tração e compressão atuantes na madeira e das tensões de compressão atuantes no reparo constata-se que, pelos valores de resistência já conhecidos de cada material, com a aplicação do reforço a peça projetada resiste seguramente à ação dos carregamentos impostos. A estratégia do emprego da blenda polímero-cerâmica na região comprimida da peça mostrou-se como promissora alternativa no reforço de vigas, evitando-se o estudo prévio das condições de interface entre os materiais para pequenos entalhes, visto que o conjunto foi projetado para pequenos deslocamentos e o material compósito está confinado na madeira. O emprego da blenda na cavidade semicircular de raio 40 mm mostrou ser a solução mais intressante para a viga estudada, visto ter a maior área de contato entre os materiais (maior dos raios estudados), minorando-se o valor das tensões cisalhantes na região de inteface e permitindo o emprego de uma força em torno de trinta e quatro por cento superior a força de referência aplicada na viga com cavidade sem a blenda. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR7190 - Projeto de estruturas de madeira. Rio de Janeiro, ABNT, 1997. AMERICAN SOCIETY FOR TESTING AND MATERIALS. ASTM D198 – Static tests of timbers in structural sizes. Philadelphia, PA, 1976. BALSEIRO, A.; NEGRÃO, J.; FARIA, J. A. Reforço de vigas de madeira com laminados de carbono pré-esforçados. In: Construlink nº 16, Volume 6, Nov. 2008, Lisboa, pp 14-24, ISSN 1645-5576, publicada por Construlink.com -Tecnologias de Informação, S.A.,2008. BENAZZOUK, A.; DOUZANE, O.; MEZREB, K.; QUE´NEUDEC, M. 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