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RESUMO AULA FUNDAMENTOS SOCIOANTROPOLOGICO EM SAUDE

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AULA 1
Ciências Sociais e Saúde: A diversidade do mundo contemporâneo e a complexidade da vida humana exigem considerar de forma multidimensional os inúmeros eventos presentes na sociedade. A partir do domínio de conceitos e discussões fundamentais das Ciências Sociais constrói-se um campo de possibilidades para problematizar e aprofundar a compreensão dos determinantes sociais e culturais envolvidos no campo da saúde.
Tipos de Conhecimento : A ciência é que uma das maneiras de conhecermos o mundo do qual participamos. O senso comum, a religião e a filosofia são fontes de produção de conhecimento e procuram compreender os eventos humanos a partir de uma lógica que lhe é própria. Os diversos tipos de conhecimento têm por finalidade explicar determinados conjuntos de eventos.
O Conhecimento como finalidade : Desde a Antiguidade o homem produz saberes sobre o mundo e sobre a vida humana. Entretanto, naquele momento o conhecimento estava vinculado a explicações religiosas ou sobrenaturais. A invenção da filosofia marca a passagem de uma relação imediata com a realidade para o entendimento do conhecimento como um fim em si mesmo.
O surgimento das Ciências Sociais: As ciências sociais surgiram no contexto das grandes transformações culturais, econômicas, políticas e sociais que abalaram a Europa e deram origem a Era Moderna.
1687 Revolução Científica 
1760 Revolução Econômica 
1789 Revolução Política 
 1848 Revolução Social
As ciências sociais hoje : As ciências sociais nascem com a preocupação de explicar a estrutura e o funcionamento das sociedades e culturas humanas. Contemporaneamente, compõe as chamadas ciências sociais a antropologia a sociologia e a ciência política. Cada uma dessas ciências têm suas peculiaridades e buscam, através de observações e pesquisas, dar explicações plausíveis ao comportamento humano em sociedade.
Saúde, cultura e sociedade: Sociedade e cultura estão presentes em todos os momentos de nossa vida, e mesmo antes de nascermos. Nascemos em uma sociedade organizada de uma determinada forma, com crenças, hábitos, costumes e valores específicos. Aprendemos a entender o mundo que os rodeia a partir do que nos é disponibilizado pelos grupos dos quais fazemos parte. Não podemos desconsiderar as relações entre saúde, cultura e sociedade ou não conseguiremos compreender claramente nosso universo acadêmico e profissional.
A herança social: O que nos torna diferentes de outras espécies animais? Diferentemente de outros animais, nosso arsenal genético, nossa bagagem hereditária não nos garante a sobrevivência. Mais do que da genética, dependemos de aprendizado social.
Os seres humanos não nascem prontos: Para sobreviver nos ambientes físicos e sociais, os indivíduos da espécie humana precisam aprender a ser humanos. O que distingue homem de outros animais é menos a organização social (que nos animais também pode estar vinculada a sexo, divisão de trabalho etc) ou a comunicação do que a troca de símbolos. 
Os símbolos e as culturas: Da mesma forma que existe um pensamento e uma linguagem nos animais, existem sociedades animais e até formas de sociabilidade animal que podem ser regidas por modos de interação antagónicas ou comunitárias. O que distingue a sociedade humana da sociedade animal é a forma de comunicação propriamente cultural que se dá através da troca de símbolos, e por elaboração das atividades rituais aferentes a estes. O homem é o único capaz de criar símbolos!
A diversidade cultural humana: As formas culturais diversas são frutos da experiência particular de um grupo de homens.
O Positivismo e as Ciências Sociais: O positivismo foi um sistema de pensamento (filosófico) desenvolvido por Auguste Comte (1798-1857), discípulo de Saint-Simon, e continuado por diversos seguidores. Comte acreditava que, através do método característico das ciências naturais (biologia, física, química, astronomia), seria possível ordenar as ciências experimentais, considerando-as o modelo por excelência do conhecimento humano, em detrimento das especulações metafísicas ou teológicas. O positivismo pretende aplicar o mesmo rigor das ciências naturais experimentais aos eventos sociais.
As Ciências Sociais e a crítica ao positivismo: As ciências naturais estudam eventos que têm causas simples e são facilmente isoláveis, recorrentes e sincrônicos. Já as ciências sociais estudam fenômenos complexos, eventos com determinações complexas e que podem ocorrer em ambientes diferenciados, fazendo com que toda análise de fenômenos dessa natureza seja parcial, subjetiva. Seu objeto de investigação é o homem nas relações intersubjetivas, os fenômenos sociais, ou seja, A ideia positivista de encontrar as leis do comportamento social que permitiriam a previsibilidade do comportamento humano se mostram privas de cientificidade, tendo mais um caráter ideológico.
AULA 2
Toda ciência possui um conjunto de termos, ideias e expressões que permitem compreender seus principais enunciados. A clarificação dos conceitos de uma ciência permite que se compreenda boa parte de seus achados e explicações.
O que caracteriza uma sociedade? 
Podemos dizer que sociedade (humana) é um conjunto de indivíduos organizados em grupos, formando as instituições sociais. E a partir da definição de sociedade que as ciências sociais constituem seus demais conceitos. A sociologia estuda as instituições sociais.
Instituições sociais: Definir instituição social não é simples. Trata-se de um conceito dos mais abstratos, que remete a um conjunto de regras e valores padronizados, reconhecidos e adotados por uma sociedade. Assim, instituição social é ideia, lei, regra. E é através das organizações sociais que as instituições sociais se expressam. 
Grupo social: Refere-se a um "conjunto de indivíduos que agem de maneira coordenada, autorreferida ou recíproca, isto é, numa situação na qual cada membro leva em consideração a existência dos demais membros do grupo e em que o objetivo de suas ações é, na maior parte das vezes, dirigido aos outros" (COSTA, 2005, p. 394).
Socialização: Processo pelo qual o indivíduo assimila os valores, as normas e as experiências sociais de um grupo ou de uma sociedade“. Divide-se em socialização primária, onde a transmissão dos valores e da cultura é feita pela família; e em socialização secundária, onde a transmissão é assumida por outros grupos, como a escola e os grupos de referência.
Normas sociais “São mecanismos que asseguram a regularidade da vida social e a existência de suas instituições...” (COSTA, 2005, p. 402). Para que as normas sociais possam ser introjetadas e a socialização ocorra, é necessária certa "pressão" da sociedade sobre os indivíduos. Esta pressão é exercida por diversos dispositivos sociais e resume-se no conceito de coerção social.
O conceito de cultura: É na dinâmica da vida social que vamos aprendendo a ser humanos, no sentido pleno do termo. Pelo contato com os diversos dispositivos e sistemas sociais, vamos incorporando e compreendendo o mundo. O conceito de cultura dá conta deste "conjunto de significados partilhados por um grupo"
A cultura é fruto do pensamento humano: Inicialmente concebida de forma mais concreta, cultura relaciona-se a hábitos, costumes e formas de vida que diferenciam um grupo de outro. Também pode referir-se às produções materiais como ferramentas, técnicas, alimentos etc. Hoje, pensa-se que a cultura como "um conjunto de interpretações da realidade". Todos os grupos humanos são produtores de cultura, nenhuma sendo melhor ou superior a outra.
Etnocentrismo e evolucionismo cultural: Consequência de uma concepção típica do século XIX, o evolucionismo cultural utiliza-se da lógica das ciências naturais, particularmente da biologia, para fazer entender a diversidade social e cultural. A transposição de conceitos físicos e biológicos para o estudo das sociedades e do comportamento humano serviu para emprestar uma garantia de cientificismo a ações guiadas por preconceito e interesses particulares. No etnocentrismo, temos a identificaçãopelo indivíduo com a cultura do seu grupo.
Relativismo cultural : "designa a ideia de que qualquer parte do comportamento deve ser julgada primeiramente em relação ao lugar por ela ocupado na estrutura da cultura em que ocorre e em termos do sistema de valor especifico daquela cultura. Encerra, deste modo, um principio de contextualismo". A perspectiva relativista procura compreender os eventos socioculturais presentes nos diversos grupos e sociedades a partir do próprio grupo.
Descentramento cultural: Esse descentramento que devemos fazer permite que a diferença (social, cultural, étnica, de gênero etc.) não seja valorada negativamente. Ao contrário, podemos reconhecer, apesar das diferenças, que o outro é possível e coerente, como nós.
O que isto tem a ver com saúde? As ideias de saúde e doença devem ser compreendidas a partir dos significados próprios que cada grupo lhes atribui. Saúde e doença não estão apenas referidas a uma dimensão orgânica ou fisiológica. Mais do que isso, estão intimamente relacionadas com a forma como os grupos humanos e a sociedade significam suas vivências. O que é considerado doença (ou sinal de saúde) em uma sociedade, pode não ser em outra.
AULA 3
Saúde e Doença: Num passado ainda recente a doença era frequentemente definida como "ausência de saúde", sendo a saúde definida como "ausência de doença" - definições que não eram esclarecedoras.
Mas afinal, o que é saúde? "Saúde e doença não são estados ou condições estáveis, mas sim conceitos vitais, sujeitos a constante avaliação e mudança“. 
Saúde e Sociedade: São as transformações nas condições sócio-históricas, tecnológicas, políticas, econômicas etc. que permitirão lançar novos olhares sobre questões que envolvem os processos de saúde e doença. Cada proposição (historicamente localizada) do que é saúde e doença permite a formulação de modelos explicativos e estratégias de intervenção.
Concepções sobre doença: Para Albuquerque e Oliveira (2002), existem duas concepções fundamentais sobre a doença e, consequentemente, a saúde: Concepção fisiológica: A concepção fisiológica sustenta que as doenças têm origem em um desequilíbrio entre as forças da natureza que estão dentro e fora do indivíduo. Considera-se o sujeito como um todo, bem como seu ambiente. A doença é algo que fala de uma totalidade e não de particularidades, como órgãos corporais específicos. É uma perspectiva centrada no paciente.
Concepção ontológica: A concepção ontológica "defende que as doenças são 'entidades' exteriores ao organismo, que o invadem para se localizar em várias das suas partes". A concepção ontológica busca um diagnóstico preciso, relacionando órgãos corporais e agentes perturbadores. A doença é uma coisa em si própria, sem relação com a personalidade ou o modo de vida do paciente
A evolução dos conceitos de saúde e doença: Podemos identificar quatro períodos que permitem entender a evolução dos conceitos de saúde e doença.
Período pré-cartesiano :A Grécia Antiga é o berço da ciência médica ocidental. Os procedimentos terapêuticos têm como objetivo os efeitos nocivos das forças naturais e as influências do ar, da água, do ambiente e da alimentação. A saúde era a expressão de um equilíbrio harmonioso entre os humores corporais.
O modelo biomédico: Os princípios teóricos do modelo biomédico baseiam-se na orientação científica do séc. XVII. Consiste numa visão mecanicista e reducionista do Homem e da Natureza que concebe a realidade do mundo como uma máquina. Curar significaria consertar ou reparar esta máquina formada por peças que se encaixam e podem ser decompostas.
Primeira Revolução da Saúde: A evolução da compreensão dos processos saúde-doença, neste momento, permite o desenvolvimento de estratégias capazes de barrar o avanço e disseminação de agentes patogénicos. Por exemplo, através de medidas sanitárias como esgotamento e distribuição de água potável, bem como, já em pleno século XX, na utilização de vacinas ou a utilização de antibióticos.
Principais conceitos da 2ª Revolução da Saúde: Promoção da Saúde tem por objetivo produzir a gestão compartilhada entre usuários, movimentos sociais, trabalhadores do setor sanitário e de outros setores, produzindo autonomia e co-responsabilidade. Estilo de vida é um aglomerado de padrões comportamentais, intimamente relacionados, que dependem das condições econômicas e sociais, da educação, da idade e de outros fatores.
AULA 4
As mudanças sociais promovem novas formas de compreender os fenômenos no âmbito dos processos saúdedoença. Assim, temos que pensar os eventos que envolvem saúde e doença como multideterminados ou multicausais. Devemos, portanto, ampliar o sentido e incorporar novas dimensões à leitura destes fenómenos.
O conceito ampliado de saúde: Ampliar o sentido dos processos de saúde e doença é passar a considerá-los algo mais complexo e diretamente relacionado a fatores sociais, políticos, econômicos, ideológicos e de representação social. Ao fazer isso, a saúde deixa de ser compreendida a partir de uma perspectiva médica curativa, e passa a ser concebida como um processo que envolve promoção e prevenção.
“O processo saúde-doença é um processo social caracterizado pelas relações dos homens com a natureza e com outros homens num determinado espaço geográfico e num determinado tempo histórico"
Uma nova compreensão de saúde Esta "nova" compreensão de saúde orienta novos olhares sobre os fenômenos e reorganiza ações e serviços. "A garantia à saúde transcende, portanto, a esfera das atividades clínico-assistenciais, suscitando a necessidade de um novo paradigma que dê conta da abrangência do processo saúde-doença."
A Organização Mundial da Saúde: (OMS) foi fundada em abril de 1948, com a finalidade de desenvolver o nível de saúde da população mundial, através do planejamento e patrocínio de programas e ações em saúde.
OMS e o conceito de saúde: A OMS define saúde como "um estado de completo bem-estar físico, mental e social, e não apenas ausência de enfermidade ou doença“. Essa definição tem sido considerada problemática por alguns, à medida que é vista como utópica. Uma posição mais favorável permite tomá-la como um indicador para compreender a saúde como um fenómeno complexo que não se esgota na dimensão física ou fisiológica.
OMS e a saúde no mundo: A consideração da dimensão social nos estados de saúde-doença será fundamental para a elaboração de politicas públicas capazes de fomentar vidas mais saudáveis. Assim, a OMS promove encontros e discussões para discutir e propor acordos e ações na área da saúde em âmbito mundial.
Declaração de Alma-Ata: Em 1978, como resultado da Conferência Internacional sobre Cuidados Primários de Saúde, a Declaração de Alma-Ata expressa as necessidades dos governos e das organizações que trabalham no campo da saúde que centrem seus esforços no sentido de promoção da saúde para todos os povos do mundo. O item I reafirma a definição de saúde elaborada pela OMS e reafirma ser a saúde um direito humano fundamental.
Carta de Ottawa: Resultado da 1ª Conferência Internacional sobre Promoção da Saúde, realizada em novembro de 1986, baseia-se nos progressos das discussões de Alma-Ata. Na Carta de Ottawa, o ponto central é a ideia de promoção da saúde. São condições e recursos para a saúde: paz, habitação, educação, alimentação, renda, ecossistema estável, recursos sustentáveis, justiça social e equidade.
O conceito ampliado de saúde no Brasil: Considerando as discussões internacionais, já estamos longe de um modelo puramente organicista dos processos saúde-doença. Documentos como a Declaração de AlmaAta e a Carta de Ottawa reorganizam a compreensão do campo da saúde, destacando a importância de outras esferas da vida. No Brasil, as orientações internacionais irão se consolidar na Constituição Federal de 1988.
A 8ª Conferência Nacional de Saúde (1986) Seu relatório final reafirma que "em seu sentido mais abrangente, a saúde é a resultante das condições de alimentação, habitação, educação, renda, meio ambiente, trabalho, transporte,emprego, lazer, liberdade, acesso e posse da terra e acesso a serviços de saúde. É, assim, antes de tudo, o resultado das formas de organização social da produção, as quais podem gerar grandes desigualdades nos níveis da vida"
A Constituição Federal de 1988: As propostas da 8ª Conferência serão consideradas pela Constituição Federal de 1988 e pelas Leis Orgânicas da Saúde, que darão sustentação ao Sistema Único da Saúde (SUS). A Constituição de 1988 representa um avanço importante em direção à democracia.
Saúde é direito de todos Os artigos 196 a 200 da Constituição encerram as principais diretrizes sobre a saúde. No Título VII, Capítulo II, Seção II - DA SAÚDE, Artigo 196, lemos: "A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação."
AULA 5
Estilo de vida Por este conceito, o indivíduo, o ator social, passa a ser o centro das considerações sobre a saúde, já que é o principal agente no gerenciamento das atividades sociais. Através de decisões individuais que afetam sua vida e sobre as quais tem algum controle, o indivíduo torna-se mais ou menos saudável. As considerações sobre o estilo de vida são importantes na construção de respostas aos problemas que envolvem promoção, prevenção e atenção, influenciando a formulação das políticas públicas em saúde.
As Políticas Públicas “As políticas públicas podem ser definidas como conjuntos de disposições, medidas e procedimentos que traduzem a orientação política do Estado e regulam as atividades governamentais relacionadas às tarefas de interesse público. São também definidas como todas as ações de governo, divididas em atividades diretas de produção de serviços pelo próprio Estado e em atividades de regulação de outros agentes econômicos”
Políticas Públicas em Saúde “As políticas públicas em saúde integram o campo de ação social do Estado orientado para a melhoria das condições de saúde da população e dos ambientes natural, social e do trabalho. Sua tarefa específica em relação às outras políticas públicas da área social consiste em organizar as funções públicas governamentais para a promoção, proteção e recuperação da saúde dos indivíduos e da coletividade”
A Constituição e as Políticas de Saúde A responsabilidade do Estado pelas condições de saúde de sua população é materializada nos princípios de universalidade, equidade e integralidade. “As políticas públicas se materializam através da ação concreta de sujeitos sociais e de atividades institucionais que as realizam em cada contexto e condicionam seus resultados. Por isso, o acompanhamento dos processos pelos quais elas são implementadas, e a avaliação de seu impacto sobre a situação existente, devem ser permanentes”
O Sistema Único de Saúde - SUS - foi criado pela Constituição Federal de 1988 e regulamentado pelas Leis n.º 8080/90 e nº 8.142/90, Leis Orgânicas da Saúde, com a finalidade de alterar a situação de desigualdade na assistência à Saúde da população, tornando obrigatório o atendimento público a qualquer cidadão, sendo proibidas cobranças de dinheiro sob qualquer pretexto.
Os princípios do SUS Três princípios organizam o SUS e têm relação direta com a compreensão ampliada de saúde, bem como com as preocupações sociais. São eles: universalidade, integralidade e equidade. Cada um destes princípios reafirma o caráter holístico, isto é, busca uma compreensão integral dos eventos e a dimensão social dos processos de saúde
O princípios da universalidade compreende a saúde como um direito de cidadania. Como vimos, a Constituição Federal define saúde como um direito de todos e um dever do Estado. Assim, considerando que o Estado tem o dever de prestar atendimento a toda população brasileira, este princípio garante acesso e atendimento nos serviços do SUS, independentemente de contribuição à previdência.
O princípios da integralidade garante o direito de atendimento de forma plena, através de um conjunto articulado e contínuo de ações preventivas e curativas, individuais e coletivas, nos três níveis de atenção ou complexidade: • Atenção primária ou básica; • Atenção secundária; • Atenção terciária.
O princípios da equidade Este é um princípio de justiça social que objetiva diminuir as desigualdades. Pode ser enunciado pela fórmula: tratar os iguais de forma igual e desigualmente os desiguais. Isto significa que, na distribuição de bens e serviços, deve-se levar em conta as necessidades, investindo mais onde a carência é maior.
O Sistema Único de Assistência Social - SUAS Assentada nas diretrizes de descentralização políticoadministrativa, participação da população na formulação das políticas e controle das ações e na primazia da responsabilidade do Estado na condução da política de assistência social, permite a formulação de uma Política Nacional de Assistência Social – PNAS, 2004 - e de um Sistema Único de Assistência Social, em 2005.
Os programas de saúde e de assistência social As políticas públicas e suas consequências: para concluir nossa aula, vamos enumerar alguns dos principais programas desenvolvidos na área das políticas públicas em saúde e assistência social.
O BPC Benefício de Prestação Continuada da Assistência Social (BPC) – Um salário mínimo vigente ao idoso, com idade de 65 anos ou mais ou a pessoa com deficiência ou qualquer outra situação que a impeça de participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas, sem condição de garantir sua própria manutenção, nem tê-la provida por sua família.
As políticas públicas e o conceito ampliado de saúde Se retomarmos agora o conceito de saúde considerando sua perspectiva ampliada, podemos notar que políticas, programas e ações desenvolvidas pelos setores públicos levam em conta não só os estados de disfunção física ou fisiológica, como também as variações do mundo social e psicológico. Temos, portanto, uma conjugação de esforços entre as políticas e programas de saúde e as políticas e programas de assistência social.
O estado de bem-estar social Na verdade, temos uma relação complementar e indissociável entre estas esferas, apontando para a garantia do chamado Bem-estar social. Garantido pelo Estado como agente da promoção social, defendendo e protegendo a sociedade e os cidadãos, o estado de bem-estar social assegura a todo o indivíduo o direito à educação, assistência médica gratuita, auxílio em caso de desemprego, renda mínima e recursos adicionais para a criação dos filhos.
AULA 6
Globalização é um fenômeno social que ocorre em escala global. Esse processo consiste em uma integração em caráter econômico, social, cultural e político entre diferentes países. A globalização é oriunda de evoluções ocorridas, principalmente, nos meios de transportes e nas telecomunicações, fazendo com que o mundo “encurtasse” as distâncias.
A globalização pode assim ser definida como a intensificação das relações sociais em escala mundial, que ligam localidades distantes de tal maneira que acontecimentos locais são modelados por eventos ocorrendo a muitas milhas de distância e vice-versa. É a fase mais avançada do capitalismo. Com o declínio do socialismo, o sistema capitalista tornouse predominante no mundo. A consolidação do capitalismo iniciou a era da globalização, principalmente, econômica e comercial.
Fatores da Globalização: A integração mundial decorrente do processo de globalização ocorreu em razão de dois fatores: as inovações tecnológicas e o incremento no fluxo comercial mundial.
Tecnologia: As inovações tecnológicas, principalmente nas telecomunicações e na informática, promoveram o processo de globalização. A partir da rede de telecomunicação (telefonia fixa e móvel, internet, televisão, aparelho de fax, entre outros) foi possível a difusão de informações entre as empresas e instituições financeiras, ligando os mercados do mundo.
Fluxo Comercial: O incremento no fluxo comercial mundial temcomo principal fator a modernização dos transportes, especialmente o marítimo, pelo qual ocorre grande parte das transações comerciais. Isso permite a mundialização das mercadorias, ou seja, um mesmo produto é encontrado em diferentes pontos do planeta.
A Sociedade em Rede: As redes sociais constituem a nova morfologia da nossa sociedade e a difusão da lógica de redes modifica de forma substancia a operação e os resultados dos processos produtivos e de experiencia, poder e cultura.
Blocos Econômicos: Outra faceta da globalização é a formação de blocos econômicos, que buscam se fortalecer no mercado que está cada vez mais competitivo.
A Globalização Excludente: O mundo unificado é um mundo dividido. O modelo da industrialização capitalista visivelmente não é universalizável.
Globalização e Meio Ambiente: O moderno sistema industrial capitalista depende de recursos naturais numa dimensão desconhecida a qualquer outro sistema social na história da humanidade, liberando emissões tóxicas no ar, nas águas e nos solos e portanto, também na biosfera.
AULA 7
Cidadania, igualdade e desigualdade A noção de cidadania parte da ideia de que todos devem ter acesso aos bens e serviços produzidos pela sociedade. Na prática o que se vê é a desigualdade entre os homens, que é sinônimo de privilégio de alguns e de pobreza ou carência absoluta de outros.
Riqueza e pobreza Curiosamente, a quantidade de bens produzidos no planeta seria mais do que suficiente para garantir a manutenção de toda a população. Apesar disso, o mundo assiste a uma crescente monopolização dos bens econômicos e sociais, gerando crescente concentração de renda. “É em meio à sociedade da abundância que a pobreza adquire um caráter contraditório e até paradoxal”
Consumismo e pobreza :convivem de modo contraditório na sociedade capitalista. Na busca de maior lucratividade as empresas criam necessidades artificiais, que são estimuladas pela publicidade, enquanto uma grande parte da população encontra-se abaixo da linha de pobreza.
Medindo a desigualdade As desigualdades não se resumem apenas à falta de bens materiais. Na verdade, uma série de elementos presentes na dinâmica das sociedades concorre para a caracterização de um grupo em certa categoria. Indicadores sociais são criados a fim de medir e comparar características presentes em diferentes populações e grupos.
O que são os Indicadores Sociais? São estatísticas sobre aspectos da vida de uma nação que, em conjunto, retratam o estado social dessa nação e permitem conhecer o seu nível de desenvolvimento social a partir da coleta de informações sobre a população, a renda, a saúde, a educação e as condições de vida das famílias. Dois importantes indicadores são o Índice de Gini e o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH).
Índice de Gini: Mede o grau de concentração de renda. Ele aponta a diferença entre os rendimentos dos mais pobres e dos mais ricos. No Relatório de Desenvolvimento Humano 2004 o Brasil aparece com Índice de 0,576, quase no final da lista de 127 países. Apenas sete nações apresentavam maior concentração de renda.
. Índice de Desenvolvimento Humano: é um dado utilizado pela Organização das Nações Unidas (ONU) para analisar a qualidade de vida de uma determinada população. Seu cálculo considera o Produto Interno Bruto (PIB) per capita; a Educação e o Nível de saúde da população. Na listagem do Índice de Desenvolvimento Humano de 2011 divulgado pelo PNUD, o Brasil figura na 84ª posição entre os 187 países, registrando a escala de 0,718.
Existem grandes disparidades sociais e econômicas no Brasil. As diferenças socioeconômicas entre os estados brasileiros são tão grandes que o país apresenta realidades distintas em seu território, e se torna irônico classificar o país com alto Índice de Desenvolvimento Humano. 
Capitalismo e Exclusão Social: As desigualdades e os antagonismos são sustentados e resultantes do intenso e abrangente desenvolvimento do capitalismo que força a movimentação de trabalhadores, principalmente em rota migratória do campo para as cidades em busca de terra, trabalho e condições de vida, além de garantia e direitos.
O dualismo da sociedade brasileira: “‘A característica fundamental da sociedade brasileira é seu profundo dualismo’. A um lado ‘encontra-se uma moderna sociedade industrial, que já é a oitava economia do mundo ocidental e acusa um extraordinário dinamismo’. No outro ‘encontrase uma sociedade primitiva, vivendo em nível de subsistência, no mundo rural, ou em condições de miserável marginalidade urbana.’”
A pobreza e as condições de saúde: Diversos estudos apontam importantes relações entre mortalidade infantil e renda das famílias, nível de educação da mãe, as condições habitacionais, local onde se vive e situação social da família da criança. 
“É muito importante a mobilização de profissionais de saúde em geral e de sanitaristas, em particular, de todo mundo na compreensão, crítica e luta contra a globalização injusta, a pobreza e a exclusão, contra a corrida armamentista e a violência, por um meio ambiente sustentável, pela equidade na saúde, pela paz e solidariedade entre todos os povos do mundo, para que alcancemos melhores condições de saúde e qualidade de vida não num futuro distante, mas hoje, aqui e agora!”
AULA 8
Corpo físico e corpo social Desde sempre, somos um corpo social, um corpo simbólico. Assim, nosso corpo será o portador e veículo de mensagens e disposições próprias de dada sociedade e dada cultura em certo contexto e momento historicamente determinado.
Corpo simbólico Ao apreendermos a cultura da sociedade da qual fazemos parte, construímos um entendimento de nós mesmos, dos outros e do mundo.
Duas realidades do corpo A realidade social informa e localiza o sujeito na sociedade: seu papel, sua função, seu status, suas possibilidades e limitações como membro de um grupo. É uma realidade constituída pelas expectativas do grupo sobre o sujeito, a correta observância das regras e normas, limitações e privilégios vinculados à posição que ocupa na sociedade.
Por sua vez, a realidade física funciona como suporte concreto para a (necessária) organização simbólica. Nesse sentido, “O corpo é um reflexo da sociedade, não sendo possível conceber processos exclusivamente biológicos, instrumentais ou estéticos no comportamento humano”
Corpo e cultura Não se pode pensar o ser humano desvinculado do meio (necessariamente cultural) em que vive. Assim, todas as experiências que vivencia trazem as marcas da cultura, isto é, das regras, normas, valores e crenças produzidas pelo grupo.
Corpo, saúde e doença: Se nos voltarmos agora aos eventos de saúde e doença, e considerarmos o corpo um elemento que participa ativamente destas construções, veremos que a forma como é concebido é de vital importância para sua compreensão.
Interpretações dos sintomas Os estados de doença exigem que sejam classificados e esclarecidos. Para tanto, na construção diagnóstica, o profissional de saúde (médico ou outro) deve levar em conta os sintomas descritos pelo paciente, e também os aspectos constatados objetivamente – os sinais.
O corpo sígnico: As sensações corporais experimentadas pelos indivíduos e as interpretações médicas dadas a estas sensações serão feitas de acordo com códigos específicos a estes dois grupos
Compreender os significados Profissionais e usuários têm formas diferenciadas de significar suas experiências e compreender sinais e sintomas. Quanto maior a possiblidade de compreensão das significações e sentidos expressados por pacientes e profissionais, nos dois sentidos, melhor a relação que se estabelece, mais inteligível o diálogo e, consequentemente, mais bem preparado estará o campo para acolhimento e atenção à saúde.
A noção de saúde é social “A noção de saúde e doença é também uma construção social, pois o indivíduo é/está doente segundo a classificação de sua sociedade e de acordo com os critérios e modalidades que ela fixa”, ressalta Ferreira (1994, p. 103). O que significa dizer que cada grupo social ou sociedade classificaos eventos de acordo com determinados critérios socioculturais, o que permite localizá-los em uma ou outra categoria.
Relativizando a noção de saúde O que é considerado doença em uma sociedade, em dado momento, poderá não ser em outro. Da mesma forma, o que é considerado sinal de saúde em grupo pode não ser considerado da mesma maneira em outro. Do ponto de vista antropológico, a cultura fornece os elementos (significados) capazes de dar sentido a todas as significações sociais.
Colocando-se no lugar do outro: Ao colocar-se no lugar do outro, ao considerar as particularidades socioculturais de seu paciente, cria-se uma atmosfera de acolhimento e valorização onde se estabelece um diálogo, e não um monólogo.
As considerações anteriores não excluem a evidência dos estados de adoecimento físico ou psicológico; não se nega a concretude dos estados de doença: febre, dores, infecções, loucura, ferimentos etc. são reais e merecem atenção. Entretanto, devem-se considerar outros determinantes, além dos puramente fisiológicos ou orgânicos.
AULA 9
Construindo a identidade Dizemos que nossa identidade vai sendo construída à medida que estabelecemos relações com outros indivíduos nos diversos grupos. Cada um deles funciona como uma espécie de espelho no qual nos vemos refletidos e nos orientamos mais ou menos à sua imagem e semelhança.
A identidade pós-moderna: Para Goldenberg e Ramos (2002), o mundo contemporâneo é marcado por um enfraquecimento das instituições sociais clássicas: família, escola, igreja etc. À medida que estas instituições não têm mais a mesma importância que no passado, que, de certa forma, sua força e influência estão diminuídas, os sujeitos irão buscar em outro contexto os elementos essenciais à construção de suas identidades.
O corpo fala: Substituindo os valores tradicionais das clássicas instituições sociais, para alguns, o corpo resume e passa a expressar ou representar suas identidades, seus "eus". Não mais identificados com valores ou ideais, estes sujeitos atribuem ao corpo a obrigação de falar em seu nome.
Marcas sociais: Estas marcas não são simples desenhos sem sentido, mas expressões de aspectos subjetivos que "falam" do sujeito, de sua identidade social ou psicossocial. As escolhas das marcas estão vinculadas a valores e ideias presentes nos grupos aos quais os sujeitos pertencem e falam do lugar que eles ocupam ou desejam ocupar neste universo.
Uma nova moral, uma nova estética: Para Goldenberg e Ramos (2002), "um olhar mais cuidadoso sobre esta 'redescoberta' do corpo permite que se enxerguem não apenas os indícios de um arrefecimento dos códigos da obscenidade e da decência, mas, antes, os signos de uma nova moralidade, que, sob a aparente libertação física e sexual, prega a conformidade a determinado padrão estético, convencionalmente chamado de 'boa forma”.
Responsaveis pela aparencia: A moral subjacente a esse novo padrão estético vê o indivíduo como principal responsável por sua aparência física. A Natureza, que antes podia "justificar" os insucessos estéticos, agora é substituída pelo controle e disciplina dos sujeitos. Os que não conseguem dominar a natureza adversa de sua biologia são considerados preguiçosos, indolentes, fracos, perdedores.
A boa forma como mercadoria: Certezas (ou ilusões) "bem fundamentadas" carregam atrás de si fórmulas e soluções, por vezes quase mágicas, que garantem o fim de todos os problemas e sofrimentos. Testemunhamos a veracidade das promessas anunciadas pela apresentação do "antes e depois" ou pela exibição do corpo esculpido da modelo pelo uso do aparelho tonificante, desenvolvido com a mais moderna tecnologia, depois de "anos de pesquisa".
Corpo abstrato significado: Vimos que os padrões e valores em uma sociedade variam de acordo com o contexto e o momento histórico. Isto vale também para nosso corpo. Este é social; o uso que fazemos dele é social, é simbólico. Essa reflexão nos leva a questionar o padrão estético da sociedade brasileira contemporânea.
O corpo simbólico: Muito mais do que uma evidência anatomofisiológica, nosso corpo é um corpo simbólico. “O corpo é um corpo coberto por signos distintivos. Um corpo que, apesar de aparentemente mais livre por seu maior desnudamento e exposição pública, é, na verdade, muito mais constrangido por regras sociais interiorizadas pelos seus portadores"
Ocupar-se do corpo simbólico: É também deste corpo simbólico que o profissional de saúde deve se ocupar, ou chegará apenas pela metade ao sujeito que pretende acolher. São corpos com sentidos e sentimentos. Corpos com história, com passados, com presentes singulares, com expectativas para o futuro.
AULA 10
A experiência cultural da dor Sempre que falamos dos estados de doença, ou quase sempre, nos reportamos a experiências que envolvem sofrimento, que tanto podem ser físicos quanto psicológicos ou morais. Não raro, tais eventos vêm acompanhados de significações sobre importantes processos (subjetivos) a que chamamos dor. A dor é um fenômeno sempre presente na vida cotidiana e aponta para transformações no corpo ou no "espírito".
Doença: reflexo de um repertório sociocultural: Seja de que maneira for, temos que a dor não é um mero evento físico ou neurofisiológico, mas que a significação e a atenção a ela dispensada serão "escolhidas" de um repertório sociocultural particular. 0 que significa dizer que os grupos sociais lidam com este fenômeno universal, bem como com outros fenômenos mais restritos, de forma distinta.
Fatores socioculturais associados à dor
1. Nem todos os grupos sociais e culturais reagem à dor da mesma forma. 
2. A maneira como as pessoas percebem e reagem à dor, tanto em si como em outras pessoas, pode ser influenciada pela sua origem e formação cultural e social. 
3. A maneira como as pessoas comunicam a dor - se é que o fazem - aos profissionais de saúde ou a outras pessoas também pode ser influenciada por fatores sociais e culturais.
Dor e outros sintomas como dados privados: Como um "dado privado", a dor deve ser comunicada na forma de expressão verbal ou não verbal e se torna pública e carregada de sentido. Assim, os sintomas passam de uma perspectiva privada e tornam-se públicos, comunicados, significados: "A dor privada se transforma em dor pública."
A dor passa por uma codificação cultural: Ao se tornar pública, a dor e outros eventos relacionados à saúde passam por uma codificação cultural que deverá ser compreendida (decodificada) nas relações entre usuários e profissionais. As mudanças físicas e psicológicas tomarão uma forma típica do grupo na qual os sujeitos estão inseridos, isto é, serão significadas.
Um "filtro" subjetivo: "Parte da decisão de tornar pública ou não a dor privada depende da interpretação individual da significância da dor, por exemplo, se a dor é considerada normal ou anormal. A dor vista como anormal tem maior probabilidade de ser levada ao conhecimento de outras pessoas"
Relativização da dor e outros infortúnios: A dor e outras expressões de infortúnios são compreendidas como resultado de inúmeras causas naturais ou sobrenaturais: processos degenerativos, disfunções fisiológicas, desequilíbrio emocional, punição divina, transgressões morais, feitiçarias, bruxaria etc. Cada uma destas causas, ou a combinação delas, admite uma forma de exibição e prescrições de ação com vistas a combatê-la.
0 social constitui o corpo como realidade: A dor e a doença deixam de ser fenômenos puramente objetivos e passíveis de intervenções técnicas universais para transformarem-se em eventos relativos e contextualizados. Ao considerar a dor como um fenômeno sociocultural, tomamos o corpo como uma realidade que não existe fora do social e nem tem existência anterior a ele. O social não atua ou intervém sobre um corpo pré- existente, conferindo-lhe significado. (...). O corpo é "feito", "produzido" em cultura e em sociedade"
Culturalização dos sentimentos: A passagem de um estado privado para um estado público das percepções dos estados de saúde e doença é marcada por uma espécie de culturalização,isto é, a expressão dos estados subjetivos, dos sintomas, estará submetida aos padrões disponíveis na sociedade. Assim, podemos afirmar que, como em outros eventos, temos a culturalização dos sentimentos.
Homem não chora: A sociedade tem expectativas de como os sujeitos devem lidar com seus estados internos e interpretará ou julgará as expressões afetivas de acordo com os padrões construídos. Crenças como a que "homem não chora" e que "mulheres são mais sensíveis do que homens" expressam expectativas sociais que contribuem para moldar formas concretas de comportamento.
A subjetividade do sofrimento: O importante texto do sociólogo francês Marcel Mauss, A expressão obrigatória dos sentimentos, datado de 1921, nos permite compreender claramente a construção de modelos sociais de expressão dos afetos. Desta maneira, temos que os sentimentos, ao serem submetidos às expectativas da sociedade e da cultura, tornam-se mais um aspecto importante a ser considerado na compreensão dos estados de saúde e doença.
Dor e a doença não se separam de seu significado: Os eventos envolvendo processos de saúde e doença são mais do que meras evidências empíricas e universais. São fenômenos relacionais, dialógicos e multifatoriais. Assim, precisamos estabelecer um processo de comunicação adequado, inteligível, se quisermos desenvolver boas ações em saúde.
Fatores culturais das doenças: Apresentamos alguns dos fatores culturais listados por Heiman que ajudam a compreender a complexidade dos estados de saúde, doença e cura: Fatores econômicos Papéis de gênero Comportamento sexual Criação dos filhos Imagem corporal Higiene Saneamento Trabalho Religião Lazer

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