Buscar

Freud e a Psicanálise

Prévia do material em texto

Freud e a Psicanálise
“O nosso sofrimento provém de três fontes: o poder superior da natureza, a fragilidade de nossos próprios corpos e a inadequação das regras que procuram ajustar os relacionamentos mútuos dos seres humanos na família, no Estado e na Sociedade” (Sigmund Freud – O Mal-Estar da Civilização)
“A renúncia progressiva dos instintos parece ser um dos fundamentos do desenvolvimento da civilização humana.” (Sigmund Freud)
“Não somos apenas o que pensamos ser.
Somos mais; somos também, o que lembramos e aquilo de que nos esquecemos;
somos as alvarás que trocamos, os enganos que cometemos,os impulsos a que cedemos, "sem querer".”
(Sigmund Freud)
Introdução
“O que Freud descobriu, numa época em que se venerava a razão e negava-se tanto o valor quanto o poder da emoção, foi que não somos basicamente animais racionais, mas somos dirigidos por forças emocionais poderosas cuja gênese é inconsciente.” (Fadiman e Frager: Teorias da Personalidade, pag. 25). 
Freud traz à tona a necessidade de levarmos em conta que somos dirigidos por forças que não são racionais e sim por processos mentais inconscientes e por instintos. 
Breve Histórico
Freud formou-se em medicina na Universidade de Viena em 1881 e por questões financeiras foi obrigado a abandonar a exclusividade da vida acadêmica e a se dedicar ao trabalho enquanto clínico em psiquiatria.
Entretanto, ele encontrava impasses para o tratamento de muitos de seus pacientes cujos males não podiam ser explicados pela medicina, como é o caso da “anestesia de luva”: paralisia apenas na mão, mas sensações e movimentos normais de braço, pulso e ombro, o que fisiologicamente é impossível, já que não haveria um nervo que lesionado causasse tal sintoma.
Freud então se questiona se poderia uma ideia na mente do paciente a causa de seus sintomas, porém, não consegue também encontrar resquícios desta idéia em uma consulta normal pois mesmo os pacientes a desconhecem.
Durante um tempo acompanhou os trabalhos de Charcot com hipnose e percebe que com tal técnica ele consegue atingir idéias “escondidas” pelos pacientes.
Freud então passou a utilizar a hipnose em sua clínica até abandoná-la por suas limitações e desenvolver outras técnicas até finalmente criar a a técnica da associação livre até hoje utilizada pela psicanálise. Essa técnica pretende trazer à tona a idéia que faz com que tenhamos o sintoma. Com a consciência da idéia é possível tentar reelaborá-la, para que assim ela não cause mais males físicos e psíquicos, ou ao menos que tais males possam ser menores.
Primeira Tópica de Freud sobre a Estrutura do Aparelho Psíquico
Uma das maiores criações do autor foi o conceito de inconsciente. Já em 1900 no livro – A Interpretação dos Sonhos� – Freud apresenta a estrutura da personalidade com base na existência de três instâncias psíquicas:
O Inconsciente: é a parte dos processos mentais que não está disponível para as pessoas, contém pensamentos, sentimentos, desejos e lembranças daquilo que nem estamos cientes, mas que, apesar disso, exerce uma influência considerável para nosso bem-estar e saúde mental além de estruturar a nossa personalidade. O inconsciente é formado por instintos e pulsões que nunca foram conscientes e por materiais que certa vez foram conscientes, mas que foram reprimidos ou recalcados. Uma forma de tornar o inconsciente conhecido é por meio da técnica da Associação Livre desenvolvida pela psicanálise.
O Pré-consciente: O pré-consciente pode ser considerado um pequeno arquivo, tem memória assim como o inconsciente, mas é uma porção que pode vir à tona com facilidade, depende apenas de um ato de vontade para se tornar consciente, e nisto difere do inconsciente. Entre os exemplos que podem ser dados: um antigo número de telefone, o ano em que eclodiu a 2ª Guerra Mundial, o cheiro das folhas do outono, a forma do bolo de seu aniversário de 15 anos.
 
Consciente: tudo o que estamos cientes num dado momento. Refere-se à percepção e ao raciocínio.
Censura: não é considerada uma instância psíquica, mas barreiras formadas entre as instâncias supracitadas. É uma força rígida que impede a passagem dos conteúdos inconscientes para o consciente/pré-consciente. 
Recalque e Neurose
Existem ideias e lembranças que causam tamanho desconforto psíquico que devem ser recalcadas� ou reprimidas. Isto equivale a dizer que devem ser retiradas do âmbito daquilo que temos acesso (consciente) e enviadas para o inconsciente. A questão é que apesar de permanecer no inconsciente tal ideia não deixa de nos afetar e nos constituir, gerando diversos problemas psíquicos e neuroses, que Freud dividiu em histéricas, obsessiva ou fóbicas.
Segunda Tópica de Freud sobre a Estrutura do Aparelho Psíquico
“No princípio tudo era Id. O Ego tem se desenvolvido a partir do Id, através da persistente influência do mundo exterior.” Sigmund Freud
Em 1920 Freud tenta redimensionar a sua teoria, muitos dizem que afetado pelo impacto da Primeira Grande Guerra. Desenvolve a segunda tópica em 1923 com o livro “O Ego e o ID” e em 1929, envolto em um certo pessimismo, escreve o “Mal-Estar na Civilização” que condensa e contextualiza sua segunda teoria. Sinteticamente ela pode ser demonstrada pelos seguintes conceitos:
ID: é o reservatório e fonte de energia psíquica da personalidade, sua parte psicobiológica. É onde se localizam as pulsões e os instintos, é a parte de nossa personalidade que se mantém inconsciente e guarda também o material psíquico inaceitável pela consciência. É a parte mais impenetrável da nossa personalidade. As demais instâncias (Ego e superego) são derivadas do Id.
Ego: é o que surge progressivamente quando o bebê se torna consciente de sua personalidade – de sua separação do mundo externo, ou seja, a sua origem é o Id em contato e reconhecendo o mundo exterior. (Segundo Freud: “É a parte do ID que se modificou pela proximidade e influência do mundo exterior”.) Tem a tarefa de garantir a segurança, saúde e sanidade da personalidade, a autopreservação. Em relação ao ID ele administra os instintos, recalcando instintos impronunciáveis. É responsável pela estabilidade e identidade da personalidade. Tem como metáfora o palco, onde ocorrerão os conflitos psíquicos resultantes das demais instâncias Id e Superego, além das exigências do mundo exterior (3 severos senhores).
Superego: 
Estrutura da personalidade que se desenvolve a partir do ego e atua como o depósito dos códigos morais, regras e inibições. É a internalização do “não”, dos limites, das proibições e autoridades. Refere-se à introdução da lei social, do julgamento, da avaliação e auto-observação/censura, donde também provém a culpa.
Abrange toda a moral, cultura, os valores, as crenças e preconceitos da sociedade em um aspecto mais amplo, e é o que faz com que preservemos a tradição que é passada de geração em geração. Refere-se à exigência de renúncia imposta pela cultura.
O sentimento de culpa é a atuação inconsciente do superego. 
Tópicas Coexistem
Freud não abandona a primeira tópica ao desenvolver a segunda, pelo contrário, as tópicas coexistem.
Personalidade
Para a psicanálise, ou análises psicodinâmicas, a personalidade é desenvolvida na primeira infância (até os 4 anos) quando ocorre o processo do recalque e o denominado complexo de édipo. A personalidade é marcada por estes sistemas de forças conscientes e inconscientes supracitados que, ainda, em situações vividas e não elaboradas uma ideia pode causar um sintoma psicopatológico. 
� Freud pretende ainda explicitar a existência do inconsciente ao se referir aos sonhos, uma vez que estes se mostram como produções mentais independentes do controle consciente.
� Recalque significa calcar novamente, várias vezes. Calcar por sua vez segundo o dicionário online é: 1. Pisar com o pé ou com os pés. 2. Esmagar. 3. Contundir. 4. Moer. 5. Comprimir. 6. Desprezar. 7. Decalcar. 8. Atropelar.

Continue navegando