Buscar

04_aula1408819643

Prévia do material em texto

�PAGE �2�
	 Prof. Paulo Younes
 Aula 04					
TEORIA DA PENA
Penas Restritivas de Direitos
Introdução: (...) a verificação de que a pena privativa de liberdade, longe de recuperar e reinserir o condenado no meio social, traz profundos males, ensejando a reincidência, levou os cientistas à procura e ao encontro de alternativas à pena de prisão (Ney Moura Teles).
Beccaria já havia antecipado que é a celeridade e a certeza da pena, mais que a sua severidade, que produz a efetiva intimidação. Baumann complementa: a liberdade é um bem jurídico extremamente valioso para ser sacrificado desnecessariamente.
Espécies de penas restritivas de direitos (ou alternativas ou substitutivas): prestação pecuniária, perda de bens e valores, prestação de serviço à comunidade ou a entidades públicas; interdição temporária de direitos e limitação de fim de semana (art. 43 CP, com a redação da Lei n.º 9.714/98).
Condições de substituição da pena privativa de liberdade: (art. 44 CP) o juiz, após condenar o acusado a uma pena privativa de liberdade, poderá substituí-la por uma pena restritiva de direitos, desde que observe algumas condições.
- CRIMES DOLOSOS (sem violência ou grave ameaça à pessoa): pp. de liberdade (reclusão/detenção) < ou = 4 anos.
- CRIMES CULPOSOS: qualquer quantidade de pena.
Requisitos: (em ambas as hipóteses acima) (1) acusado não reincidente em crime doloso, salvo se, não sendo específica a reincidência, o juiz verificar que a substituição é, ainda assim, recomendável para os fins a que se destina a sanção penal, isto é, necessária e suficiente para a reprovação ao crime; (2) circunstâncias favoráveis previstas no art. 59 CP.
OBS: 
Condenação < ou = 1 ano de pp. de liberdade: PENA DE MULTA ou RESTRITIVA DE DIREITO.
Condenação > 1 ano de pp. de liberdade: PENA RESTRITIVA DE DIREITO E MULTA ou DUAS PENAS RESTRITIVAS DE DIREITOS.
Conversão da pena privativa de liberdade em pena restritiva de direitos: art. 180 da LEP: a pena privativa de liberdade, não superior a dois anos, poderá ser convertida em restritiva de direitos, desde que: I – o condenado a esteja cumprindo em regime aberto; II – tenha sido cumprido pelo menos um quarto da pena; III – os antecedentes e a personalidade do condenado indiquem ser a conversão recomendável (revogado).
Crimes de menor potencial ofensivo: (lei 9.099/95) pena máxima igual ou inferior a dois anos e as contravenções penais – aplicação imediata de pena não privativa de liberdade (aplicação imediata de penas restritivas de direitos, consoante aos arts. 72 e seguintes da lei supra que define o instituto da transação penal).
Pressupostos para a transação: (1) não ter sido o autor da infração condenado, pela prática de crime, à pena privativa de liberdade, por sentença definitiva; (2) não ter sido ele beneficiado anteriormente, no prazo de cinco anos, pela aplicação de pena nos termos de outra transação; (3) indicarem os antecedentes, conduta social e personalidade do agente, e os motivos e circunstâncias do fato, ser a transação necessária e suficiente, para prevenção e reprovação do crime.
OBS: a iniciativa da transação é do MP. Aceita pelo agente do fato, o juiz aplicará pena restritiva de direitos ou multa.
Espécies de penas restritivas de direitos:
Prestação pecuniária: é o pagamento, em dinheiro, de um valor fixado pelo juiz, entre um e 360 salários mínimos, a ser feito à própria vítima ou a seus dependentes, ou, quando o crime não tiver atingido interesse jurídico de particular, à entidade pública ou privada com destinação social. A prestação pecuniária é uma antecipação, na esfera da jurisdição penal, da indenização reparatória a que tiver direito o ofendido, deduzindo-se seu valor do montante de eventual condenação civil.
Perda de bens e valores: consiste na transmissão, para o patrimônio do Fundo Penitenciário Nacional, de bens e valores pertencentes ao condenado, equivalentes ao montante do prejuízo causado ou do proveito obtido em conseqüência do crime. Não se confunde com a perda do produto do crime ou bem auferido com o crime, efeito da condenação definido no art. 91, II, b, do CP.
Tratando-se de pena alternativa, o condenado poderá recusá-la, preferindo a privação da liberdade, se lhe convier. Alguns autores entendem que melhor teria sido que esse tipo de pena tivesse sido instituída para certos tipos de crimes de natureza econômica.
Prestação de serviços à comunidade ou a entidades públicas: é a atribuição de tarefas gratuitas ao condenado junto a entidades assistências, hospitais, orfanatos e outros estabelecimentos similares, em programas comunitários ou estatais (Guilherme Nucci). Esta espécie de pena obriga o autor do crime, a reparar o dano causado através do seu trabalho, reeducando-se, enquanto cumpre pena. 
As entidades referidas no art. 46 do CP são apenas exemplificativas. O trabalho do condenado será realizado na proporção de uma hora por dia de condenação, fixado de maneira a não prejudicar sua jornada de trabalho. Um ano de detenção, por exemplo, será convertido em 365 horas de serviços à comunidade. Poderá ser cumprida de modo descontínuo. As tarefas atribuídas ao condenado devem ser compatíveis com suas aptidões. Cabe ao Juiz da Execução Penal designar a entidade, o estabelecimento ou o programa comunitário estatal no qual o condenado prestará serviços.
Conversão em pena privativa de liberdade: no caso de condenação, por outro crime, a uma pena privativa de liberdade, terá o Juiz a faculdade da conversão; no caso de descumprimento, sem justificativa, de qualquer restrição imposta pelo magistrado (art. 181, p. 1.º da LEP). Deverá o condenado, no caso de conversão, cumprir a pena privativa de liberdade substituída, deduzido o tempo cumprido da pena restritiva de direitos, respeitando o saldo mínimo de trinta dias de prisão (por exemplo: condenado a dois anos de reclusão teve sua pena substituída pela prestação de serviços equivalente a 365 x 2 = 730 horas. Se tiver cumprido 600 horas, e for o caso de conversão, deverá cumprir 130 dias de reclusão. Se tiver cumprido 720 horas de trabalho, a conversão se dará para o cumprimento de 30 dias de reclusão, no mínimo.
Interdição temporária de direitos: tem por finalidade impedir o exercício de determinada função ou atividade por um período determinado, como forma de punir o agente de crime relacionado à referida função ou atividade proibida. Quatro hipóteses:
Proibição do exercício de cargo, função atividade, mandato: proibi-se exercê-los por tempo determinado na sentença. É necessária a vinculação entre o efetivo exercício da atividade pública e o crime praticado (art. 56 CP). 
Exemplos: condenados aos crimes de peculato, prevaricação, advocacia administrativa etc.
Proibição do exercício de profissão, atividade ou ofício que dependam de habilitação especial, de licença ou autorização do poder público: por exemplo, a profissão dos médicos, engenheiros, advogados, odontólogos, enfermeiros. Os demais requisitos para a substituição devem estar presentes, bem como aquele tipificado no art. 56 do CP. Exemplo: art. 154 CP.
Suspensão de autorização ou habilitação para dirigir veículo: só pode ser aplicada aos crimes culposos de trânsito, de acordo com a regra do art. 57 do CP. O juiz determinará a apreensão da carteira de habilitação.
Proibição de freqüentar determinados lugares: busca-se evitar a presença do condenado em ambientes favoráveis à reincidência, daí porque os lugares proibidos, devem guardar relação com o crime praticado. Por exemplo, não se proibirá o estelionatário de freqüentar estádios de futebol, mas se o crime praticado foi o de rixa, essa medida será viável.
Conversão em pena privativa de liberdade: no caso de condenação posterior por outro crime, no caso do condenado não ser encontrado, por estar em lugar incerto e não sabidoou se desatender a intimação feita por edital. O condenado cumprirá a pena privativa de liberdade pelo tempo que restar.
Limitação de fim de semana: trata-se da obrigação do condenado de permanecer, aos sábados e domingos, por cinco horas diárias, em Casa do Albergado ou lugar adequado, a fim de participar de cursos e ouvir palestras, bem como desenvolver atividades educativas. Não há a produção de seqüelas profundas no condenado, o que, na pena privativa de liberdade normalmente acontece.
Conversão em pena privativa de liberdade: (descumprimento da medida), por exemplo, o não comparecimento ao estabelecimento designado, a prática de alguma falta grave, o desatendimento à intimação etc.
Pena de Multa
É a obrigação de pagar ao fundo penitenciário a quantia fixada na sentença e calculada em dias-multa (art. 49 CP).
Dia-multa: (art. 49, p. 1.º CP) – valor do dia-multa: salário mínimo mensal à época do fato entre 1/30 (um trigésimo) e 5 (cinco) vezes esse valor.
Exemplo: no dia do fato, o valor do salário mínimo era de R$ 600,00. O valor de cada dia-multa deve ser fixado pelo juiz entre, no mínimo, 1/30 de R$ 600,00, que é = R$ 600,00/30 = R$ 20,00 e 5 x R$ 600,00 = R$ 3.000,00.
Questão tormentosa refere-se ao termo inicial de incidência da correção monetária. O entendimento dominante é o de que a multa passou a constituir dívida de valor, devendo ser atualizada a partir da data do fato (Súmula 43 do STJ).
Cominação: regra-geral – art. 49, segunda parte, CP – apesar da ausência de referência quanto à quantidade de dias-multa junto aos tipos penais, diante da regra geral, deve-se observar os limites de 10 e 360 dias-multa.
OBS: A pena de multa pode ser aplicada, independentemente de cominação legal, como substitutiva da pena privativa de liberdade, cumulativamente com a pena restritiva de direitos, no caso de crimes culposos cuja pena privativa de liberdade seja igual ou superior a um ano (art. 44, p. segundo, CP). Podendo ainda, ser aplicada em substituição à pena privativa de liberdade não superior a 6 (seis) meses, observados os critérios dos incisos II e III do art. 44 do CP (art. 60, p. segundo).
Pagamento da multa: deve ser paga dentro de 10 (dez) dias depois de transitada em julgado a sentença condenatória (art. 50, caput, CP). De acordo com a nova redação do art 51 do CP, já não se pode falar em conversão da pena de multa em privativa de liberdade, tornando-se a pena de multa, pura e simplesmente, uma dívida de valor, da qual o condenado é o devedor, e credor o Estado. Doravante, não paga a multa deve ser instaurado o executivo fiscal, para o recebimento do crédito do Estado, tudo de acordo com o procedimento trazido na Lei n.º 6830/80.
Suspensão da execução da multa: é suspensa a execução da pena se sobrevém ao condenado doença mental (arts. 52, CP e 167, LEP). Alberto Silva Franco ensina que, se a doença for irreversível, não caberá, por falte de previsão legal, a substituição da pena pecuniária pela medida de segurança, tal como ocorre em ralação à pena privativa de liberdade (art. 183 LEP). Por outro lado, não teria sentido uma suspensão, por tempo indefinido, do cumprimento da pena pecuniária. Nessa situação, a solução mais correta é a de declarar extinta a pena imposta a partir do momento em que o tempo da suspensão equivaler ao prazo exigido para ó reconhecimento da prescrição do título penal executório.
Aplicação da Pena.
Aplicar a pena é dar, ao condenado, a pena justa, que deverá ser aquela suficiente e necessária para a reprovação e prevenção do crime (Ney Moura Teles). 
Como deve proceder o juiz, após reconhecer que o acusado praticou um crime, para determinar a pena, em qualidade e quantidade? Tem ele a liberdade total para fixar a pena que considerar justa? Apesar da liberdade para determiná-la, tal liberdade, todavia, há de ser exercida com a estrita observância de um conjunto de regras claras, que presidem essa tarefa do julgador. O juiz possui discricionariedade e não arbitrariedade, pois é obrigado a motivar a aplicação da pena, externando as razões que o levaram ao quantum estabelecido (art. 93, IX, CF). Se não fundamentá-la, ela será nula.
Cálculo da Pena: o art. 68 do CP estabelece o caminho que o juiz deve seguir para encontrar a pena justa: 
1.º Passo: fixação da pena-base – observar as circunstâncias judiciais do art. 59 do CP.
2.º Passo: incidência das circunstâncias atenuantes e/ou agravantes (arts. 61/62 e 65/66 CP) com observância da regra do art. 67 do CP.
3.º Passo: incidência das causas de diminuição e aumento de pena previstas tanto na parte geral, quanto na parte especial do CP. 
Finalmente, tratando-se de pena privativa de liberdade, o juiz deverá verificar a possibilidade de sua substituição por pena restritiva de direitos ou de multa, e, caso não o possa fazer, fixará o regime inicial de cumprimento da privação de liberdade.
Concluindo, o juiz, que o acusado praticou um crime - fato típico, ilícito e culpável - , deverá prolatar uma sentença, condenando-o a uma pena criminal.
“Aplicar a pena significa fixá-la, na sentença, em quantidade certa e com observância dos requisitos legais, ao acusado, culpado de ter praticado ou participado de um determinado delito.”(Flávio Monteiro de Barros).
“É de todo claro que não pode ficar ao arbítrio do juiz a aplicação da pena. Se ele tem a liberdade de determiná-la, tal liberdade, todavia, há de ser exercida com a estrita observância de um conjunto de regras claras, que presidem essa tarefa do julgador. Em vez de arbítrio, fala-se em poder discricionário do juiz, pelo que não há arbitrariedade. Tanto que o juiz é obrigado a motivar a aplicação da pena, externando as razões que o levaram ao quantum estabelecido.” (Ney Moura Teles)
“A motivação da sentença é exigência de todas as legislações modernas, onde exerce, como diz Franco Cordero, função de defesa do cidadão contra o arbítrio do juiz. De outra parte, a motivação constitui também garantia para o Estado, pois interessa a este que sua vontade superior seja exatamente cumprida e se administre corretamente a justiça.” (Heleno Cláudio Fragoso)
Não fundamentada a decisão, será ela nula.
Algumas definições importantíssimas
Elementares: são dados que integram a definição da figura típica.
Circunstâncias: são dados que influenciam no aumento ou diminuição da pena.
Exemplos: no homicídio, as elementares são “matar alguém”. Já o motivo fútil é mera circunstância, porque na sua ausência o crime continua a existir; no furto, “coisa alheia” é elementar, pois inexiste furto de coisa própria. Já, o repouso noturno do p. 1º do art. 155 é uma circunstância, porque não exclui o furto.
Geralmente, as elementares encontram-se previstas no caput do artigo que define a conduta criminosa, ao passo que as circunstâncias situam-se nos respectivos parágrafos.
Classificação das circunstâncias: a) judiciais: fixadas pelo juiz, na dosagem da pena-base, com fundamento nos critérios do art. 59 CP; b) agravantes genéricas: arts. 61 e 62 CP; c) atenuantes genéricas: arts. 65 e 66 CP; d) causas de aumento de pena (ex.: 70, 71, 155, p. 1º, 157, p. 2º, etc); e) causas de diminuição de pena (ex.: 14, p. único, 26, p. único, 155, p. 2º); f) qualificadoras (ex.: 121, p. 2.º, 155, p. 4.º, etc).
Nas agravantes a pena não pode ser elevada acima do máximo legal ou trazida abaixo do mínimo legal, no caso das atenuantes. Já nas causas de aumento e diminuição de pena isso é possível.
Por sua vez, a qualificadora tem pena própria, é desvinculada do tipo fundamental (ex.: o furto noturno, previsto no p. 1º do 155, é mera causa de aumento, pois eleva a pena em um terço. Já o p. 4º do 155 é uma qualificadora, porque tem pena própria, isto é, a pena mínima é de dois e a máxima de oito anos de reclusão).
Técnica de aplicação da pena
Art. 68 CP: critério trifásico de Nélson Hungria. A pena deve ser fixada em três fases distintas e sucessivas: a) fase dapena-base (art. 59, caput); b) fase das atenuantes e agravantes genéricas (arts. 61 a 66); c) fase das causas de diminuição e de aumento.
Cada uma dessas etapas precisa ser devidamente fundamentada, com o escopo de preservar o direito de ampla defesa do réu.
Regras básicas:
 
I. a pena-base não pode ser fixada abaixo do mínimo legal nem acima do máximo;
II. as atenuantes não podem diminuir a pena abaixo do mínimo legal;
III. as agravantes não podem elevar a pena acima do máximo legal;
IV. as causas de diminuição e aumento de pena incidem sobre a pena revelada pela segunda etapa da operação, e não sobre a pena-base, fixada na primeira fase;
V. as causas de diminuição de pena podem trazer a pena abaixo do mínimo legal;
VI. as causas de aumento de pena podem elevar a pena acima do máximo legal.
Fases:
a) Fase da pena-base (observar se o crime é simples ou qualificado) – art.59 CP;
b) Fase das atenuantes e agravantes genéricas – arts. 61 a 66 CP;
c) Fase das causas de diminuição e de aumento;
d) Estabelecer o regime inicial de cumprimento de pena privativa de liberdade;
e) Analisar a possibilidade de substituição da pena privativa de liberdade por outra espécie de penalidade, se cabível, ou por sursis.
Substituição:
1º. Multa substitutiva – art. 60, p. 2º e 44, II e III CP;
2º. Pena restritiva de direitos – art. 44, p. 2º CP;
3º. Sursis – Suspensão condicional da pena – art. 77 CP.
Obs: não sendo cabível nenhuma das três substituições, o juiz, na sentença, deve conferir ou negar ao acusado o direito de apelar em liberdade. Se reincidente ou portador de maus antecedentes esse direito ser-lhe-á negado.
Pena-base – Fixação.
a) escolha do tipo de pena a ser aplicada (de acordo com a análise do art. 59);
b) se qualificado, a fixação da pena-base partirá da própria qualificadora;
c) se duplamente qualificado, utiliza-se uma qualificadora para a fixação da pena-base. A outra qualificadora funcionará como agravante genérica, desde que prevista nos arts. 61 e 62 CP. Caso contrário, poderá ser empregada como circunstância judicial na exasperação da pena-base.
Critérios do art. 59 CP:
a) culpabilidade (imputabilidade, potencial consciência da ilicitude, exigibilidade de conduta diversa) : é o juízo de censura que analisa a relação entre o autor e o fato praticado, indagando se ele tinha a possibilidade de realizar a conduta na direção da ordem jurídica e de evitar o mal cometido. Essa circunstância judicial serve para medir a quantidade da pena-base, aumentando-a ou diminuindo-a.
b) antecedentes: passado criminal do acusado. Deve-se entender apenas as condenações transitadas em julgado. Uma única condenação definitiva será valorada como agravante genérica; sendo duas as condenações definitivas, utiliza-se uma como agravante e a outra na exasperação da pena-base.
c) conduta social: estilo de vida honesto ou reprovável do agente perante a coletividade, familiares e companheiros de trabalho e de estudo (ex.: passagens pelo juizado da infância e juventude, perda ou suspensão do pátrio poder, decretação de falência).
d) personalidade do agente: investiga-se a índole do acusado, se o seu caráter é ou não voltado para o crime.
e) motivos do crime: antecedentes psíquicos da ação, fatores causais que conduziram o agente a delinqüir.
f) circunstâncias do crime: instrumentos do crime, seu modo de execução, as relações entre o agente e a vítima, etc.
g) conseqüências do crime: exaurimento do crime, efeitos danosos produzidos pelo delito à vítima, seus familiares ou coletividade.
h) comportamento da vítima: há certos delitos em que a vítima provoca ou facilita a prática delituosa.
Circunstâncias agravantes (art. 61).
Incidem na segunda fase de aplicação da pena. Não há quantum de majoração indicado pela lei, reservando-se o aumento à discricionariedade do juiz, que não pode elevar a pena acima do máximo legal abstratamente previsto pelo delito.
O juiz não pode deixar de considerá-las, salvo quando:
a) a pena-base é fixada no máximo legal;
b) já funcionam como elementar, qualificadora ou causa de aumento de pena do tipo legal (exs. 61, II, e/244; 61, II, a/121, p. 2º, I; 61, II, e/226, II, todos do CP).
OBS: As agravantes, à exceção da reincidência, só incidem nos crimes dolosos.
Art. 61, II, a: Fútil: insignificante, totalmente desproporcional à conduta criminosa (ex. agredir a pessoa que lhe negou cigarro). Torpe: abjeto, moralmente reprovável (ex. furtar dinheiro para comprar cocaína).
Art. 61, II, b: É a agravante da conexão, que incide ainda que o crime-fim não chegue a se iniciar.
Art. 61, II, c: Traição: deslealdade, quebra de confiança que a vítima depositava no agente (ex. esfaquear pelas costas, atrair a vítima a um local de areia movediça); Emboscada: aguardar escondido a passagem da vítima, a fim de atacá-la (ex. esperar a vítima atrás da moita); Dissimulação: disfarce, escondimento da vontade ilícita (ex. fantasiar-se de funcionário da Telesp para penetrar na residência da vítima);
OBS: essa enumeração é meramente exemplificativa, porque a fórmula genérica permite que também se enquadrem como agravantes outras condutas que dificultam ou impossibilitam a defesa da vítima (ex. a surpresa).
Art. 61, II, d: 	Meio insidioso: é o dissimulado em sua eficiência maléfica (ex. veneno).
Meio cruel: provoca sofrimento brutal, fora do comum (ex. tortura e fogo).
Meio de que possa resultar perigo comum: apto a criar a probabilidade de dano a um número indeterminado de pessoas (ex. fogo e explosivo).
OBS: idem ao anterior (ex. asfixia).
Art. 61, II, e:	Exige-se prova documental; se, ao tempo do crime, o casal já estava judicialmente separado, exclui-se a agravante; se houver união estável, exclui-se também, pois o CP usa o termo “cônjuge”, sendo vedada a analogia in malam partem.
Art. 61, II, f:	Termo “autoridade”: é a situação de dependência da vítima perante o agente, originária das relações privadas (ex. empregador e empregado).
Relações domésticas: entre patrões e criados.
Coabitação: morada duradoura sob o mesmo teto.
Hospitalidade: recepção passageira.
Art. 61, II, g:	Abuso de poder ou violação de dever inerente ao cargo: pressupõe no agente a qualidade de funcionário público.
Violação de dever inerente a ofício, ministério ou profissão: ex. médico, sacerdote, professor.
Art. 61, II, h (modificada pela lei 10.741/03):	Criança: pessoa que ainda não atingiu 12 anos de idade (art. 1º da Lei 8.069/90); maior de 60 anos; enfermo: pessoa que, em razão de alguma doença, encontra-se com debilidade em sua capacidade física ou mental; mulher grávida: urge que o agente tenha ciência da gravidez, pois é vedada a responsabilidade objetiva.
Art. 61, II, i:	Proteção da autoridade: é o desrespeito do agente para com a autoridade que mantém a vítima sob sua proteção.
Art. 61, II, j:	O fundamento é a falta de solidariedade do agente, bem como a situação de inferioridade em que se encontra a vítima.
Art. 61, II, l:	Embriaguez preordenada, encorajando-se à prática do crime.
Agravantes no concurso de pessoas (art. 62 CP).
OBS: As agravantes do art. 61 também incidem no caso de concurso de pessoas.
Art. 62, I – autores intelectuais; promove o crime quem diligencia originariamente a sua realização; organiza quem estabelece as bases, o plano de sua realização; dirige quem orienta cada um dos agentes.
Art. 62, II – se irresistível a coação, só o coator responde pelo crime (lembre-se que neste caso não há concurso de agentes, e sim, autoria mediata); se resistível, ambos respondem; o coator com a pena agravada e o coagido com a pena atenuada (art. 65, III, c).
Art. 62, III – autoridade é o poder de uma pessoa sobre outra derivado de poder público ou de direito privado. Quem induz ou instiga a cometer crime pessoa não punível, como o menor de 18 anos ou o louco, terá a pena agravada.
Art. 62, IV – delinqüentemercenário; na paga, o recebimento é prévio; na promessa, é posterior ao delito; a razão da agravante é o animus lucrandi; não se aplica a quem paga ou promete a recompensa, pois a ratio da agravante é punir severamente a cobiça do executor; não se aplica ao homicídio nem aos crimes contra a honra, pois já funciona como qualificadora desses delitos (121, p. 2º, I, e 141, p. único).
Caso concreto: transcrição do dispositivo final de uma sentença penal condenatória (caso real – nomes fictícios).
	“Na dosagem da pena considero que ambos são primários, houve confissão por parte do acusado José e assim me atenho ao patamar mínimo previsto nos artigos 297 e 304 do Código Penal, dois (02) anos de reclusão em regime aberto e pagamento de dez (10) dias multa no valor unitário de um trigésimo do salário mínimo em vigor na data do fato.
	
Presentes os requisitos do art. 44, p. 2.º, 2.ª parte, do Código Penal, substituo a pena privativa de liberdade por prestação de serviços à Comunidade perante entidade pública ou privada já credenciada pelo Juízo das Execuções Criminais desta Comarca e limitações de finais de semana pelo prazo de dois (02) anos, sem prejuízo da multa acima cominada.
	Ante o exposto JULGO PROCEDENTE a denúncia para CONDENAR os réus JOSÉ DE TAL e JOÃO DE TAL a prestação de serviços à comunidade perante entidade pública ou privada já credenciada pelo Juízo das Execuções Criminais e limitação de finais de semana, pelo prazo de dois (02) anos, bem como pagamento de dez (10) dias multa no valor unitário de um trigésimo (1/30) do salário mínimo em vigor na data do fato para cada um, dando-os como incursos, respectivamente, nos artigos 304 e 297, caput, c.c. o artigo 44, p. 2.º, 2.ª parte, do Código Penal.”
Custas pelo Estado.
Transitada em julgado tenham os réus seus nomes lançados no rol dos culpados.
P.R.I.C.
Cidade, data.
Fulano de tal
Juiz de Direito

Continue navegando