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A Era das Revoluções Hobsbawn inicia sua interpretação ao apresentar o mundo da época como 
“maior” e “menor”, se comparado ao atual. “Menor”, já que tanto a população, quanto a estrutura 
física do homem do período era bem reduzida. Mesmo entre os homens da ciência, o 
conhecimento sobre o Mundo que o cercava e a sua população era estreito. “Maior”, já que, para 
seus habitantes, o Mundo era extremamente grande enquanto visto pela ótica das dificuldade nas 
comunicações e a pequena (ou quase inexistente) mobilidade de seus habitantes entre suas 
regiões. Ou seja, a maior parte das notícias chegavam às pessoas através dos viajantes e nômades e 
muito posteriormente às suas ocorrências, dada a ausência de jornais e periódicos ou mesmo em 
virtude do comum analfabetismo. Além disso, a maioria dos indivíduos, a não ser por causas como 
o recrutamento militar, nasciam, viviam e morriam em seu local de nascimento. Era um mundo 
rural, com raras grandes áreas “urbanas” (como Londres e Paris), permeado por uma economia 
voltada ao campo. O trabalhador rural não possuía um conceito muito diferenciado do escravo: 
dedicava-se ao trabalho forçado nas terras de seu senhor, submetia-se a exploração e, em alguns 
casos, poderia até mesmo ser vendido. Em vista deste quadro feudal, gradativamente desponta 
uma sociedade rural diferenciada em algumas partes da Europa. A Inglaterra é o grande exemplo 
desta diferença, com um número considerável de seus agricultores voltados aos empreendimentos 
comerciais médios, dotados de mão-de-obra contratada. Outro fator relevante para a implantação 
industrial, segundo o autor, quanto a Grã-Bretanha, era o incentivo econômico de seu governo às 
atividades comerciais e manufatureiras. Não devendo a este ponto se subestimar no período ao 
Iluminismo, enquanto facilitador e incentivador da propagação do conhecimento e ao mesmo 
tempo, sendo fruto do progresso da classes mercantis, economicamente progressistas e pré-
industriais. Formam-se, assim, sociedades provincianas através de homens que incentivavam ao 
progresso científico, político e econômico, tendo como principais núcleos a própria Inglaterra e a 
França – os centros da “dupla revolução”. Através da ideologia propagada pelo Iluminismo, surgem 
os princípios universais que guiariam a Revolução Francesa: Liberté, Egalité, Fraternité (liberdade, 
igualdade e fraternidade). Fato é, entretanto, que este mesmo pensamento, apesar de inovador, 
repleto de idéias humanitárias, de racionalidade e de progresso, ainda que indiretamente, 
favoreceu à consolidação do capitalismo. Ainda que muitos pensadores iluministas estivessem ao 
lado dos governantes monárquicos, em muito esta ideologia colaborou para o declínio do Antigo 
Regime. Desta forma, com o desenvolvimento do capitalismo, a burguesia continuou sua ascensão 
econômica na como Inglaterra e França. Entretanto, o fator preponderante para que existisse a 
Revolução Industrial na Inglaterra não foi apenas a presença de pensamentos inovadores ou 
mesmo do avanço científico e tecnológico. Na realidade, a Inglaterra dispunha de uma estrutura 
político-econômica anterior que já favorecia às atividades mercantis, assim como uma agricultura 
que igualmente beneficiava ao crescimento econômico. Todavia, a verdadeira e real explosão da 
Revolução Industrial ocorreu na medida em que vislumbrou-se uma possibilidade de alcançar 
dividendos na produção de consumo de massa (do algodão, por exemplo), através uma tecnologia 
relativamente rudimentar e pouco onerosa. Aliado a este aspecto, tais empresários descobriram o 
mercado externo, como real fonte de lucro, ajustando-se plenamente às estruturas capitalistas. 
Ainda que alguns percalços tenham atingido esta estrutura econômica, na visão dos capitalistas, os 
problemas sociais gerados a partir da transição econômica só seriam relevantes se quebrassem a 
ordem social. Assim, geraram-se novos investimentos, ainda que crescessem as revoltas por parte 
da classe trabalhadora, o que facilitou o surgimento das ferrovias. Estas possibilitaram tanto no 
transporte de mercadorias, quanto de pessoas e até mesmo da comunicação, a ampliação 
vertiginosa da velocidade que chegavam de um ponto a outro, ainda que distante. Se por um lado, 
a economia mundial estava completamente modificada após a Revolução Industrial inglesa, por 
outro, na França, a Revolução Francesa mudaria o Mundo pela sua nova forma de conceber a 
política e ideologia. A crise social e econômica na França desencadeou a oposição das classes 
baixas, os burgueses, os trabalhadores e os camponeses – o Terceiro Estado. Enquanto camponeses 
e trabalhadores em geral consumiam-se na mais amarga miséria, aspirando uma melhor condição 
de vida; a burguesia possuía uma melhor condição social. Entretanto, a burguesia desejava uma 
maior participação política, além de desejar ardentemente sua liberdade econômica. Hobsbawn vê 
a Revolução Francesa como uma revolução no âmbito social, marcada pela presença de grupos que, 
mesmo que semelhantes não eram idênticos – os jacobinos, os girandinos e os sansculottes. Estes 
grupos possuíam concepções próprias o que, por vezes, levou a conflitos entre estes. Nesta esteira 
entre conflitos, surgirá por fim a figura de Napoleão Bonaparte como catalisador dos ideais 
franceses. E não só isso, a Revolução Francesa causou a comoção estrangeira que, mesmo 
posteriormente à queda de Bonaparte, não se arrefeceu. Ainda que existissem muitos grupos que 
pregassem antagonismo à França, muitos outros manifestavam apoio a esta nação. Entretanto, 
notadamente, os grandes inimigos da França eram os ingleses. Os franceses eram conhecidos pela 
eficiência de seus exércitos, porém, não foram capazes de fazer frente à frota marítima inglesa. 
Portanto, viram-se obrigados a anular a Inglaterra economicamente, isto através do Bloqueio 
Continental. A França, por fim, derrotada na Rússia viu-se vencida pela coalizão de seus inimigos e 
abandonada por alguns de seus defensores. No entanto, a guerra havia mudado – política-
economica e socialmente - em muito o panorama europeu e até mundial, de forma inexorável. 
Depois de aproximadamente vinte anos de guerra, a iniciativa dos governantes foi no sentido de 
promover a paz, especialmente aqueles que ainda se detinham na concepção do Antigo Regime. 
Mesmo a França, enquanto o lado derrotado, não sofreu sanções tão duras se comparadas as da 
Alemanha durante o século 20. Os congressos foram um importante instrumento diplomático na 
manutenção da paz no período pós-napoleônico, ainda que não tenham resistido por muito tempo 
à crise da fome de 1816-17 e à depressão econômica. Ainda que a “Questão Oriental” tenha 
amedrontado a Europa, na iminência de uma guerra entre britânicos e russos, não desencadeou um 
conflito de grandes proporções ou que pudesse ser duramente sentido como a princípio se 
esperava. Externamente, a Inglaterra se impunha militarmente no período, mas a sua atuação se 
restringia às parcelas externas à Europa. Sublinham-se, no período, as revoluções de ordem 
libertária na América espanhola e a onda revolucionária de 1830. O ano de 1830, além das 
revoluções, ficou notório também pela industrialização dos EUA e do continente europeu, assim 
como pelas ondas migratórias humanas e os avanços no pensamento humano e artes. Tão somente 
em 1848, a possibilidade uma guerra de grandes proporções se fez presente, ainda que esta só 
viesse realmente a eclodir no século 20. Um ponto que o autor esclarece, é que a Revolução 
Francesa foi um levante que serviu de modelo aos posteriores. Os revolucionários que se 
sucederam demonstravam claramente o descontentamento econômico e social dos envolvidos, 
antagônicos a sistemas e governantes igualmente inadequados. Viam-se assim os revolucionários,a 
exemplo dos franceses em 1789, como defensores de um povo ignorante e iludido contra um 
sistema ineficaz e desigual. As revoluções de 1830, no entanto, configuraram-se como um 
movimento revolucionário proletário-socialista que separou moderados de radicais e criou uma 
nova situação internacional. Ainda que os problemas da revolução fossem semelhantes na Europa, 
não eram iguais - provocavam grande tensão entre os moderados e os radicais. Nos princípios 
democráticos antes ventilados, tornaram-se incertos o suficiente entre ideologias e posturas 
diversas. Os liberais minimizaram seus intuitos reformistas e passaram a suprimir a esquerda 
radical, em especial, os revolucionários da classe operária. Visto por este ângulo, percebe-se a falta 
de clareza entre radicais, republicanos e os novos movimentos proletários e os liberais. O que ficou 
notório, outrossim, é o descontentamento crescente das classes desfavorecidas em toda Europa, 
inclusive na Grã-Bretanha e França, marcado pelo receio que tais incutiam nos governantes. Desta 
forma, compilando todas as informações anteriores, segundo o historiador e sociólogo Fábio 
Metzger, sobre as ondas de revolução citadas por Hobsbawn: Em 1820, ocorreu a primeira onda 
revolucionária, com a libertação de países latino-americanos do jugo espanhol, e revoltas na Itália, 
na Espanha e na Grécia. Em 1830, a segunda, ameaçando Estados liberais moderados, com guerras 
civis e revoltas populares. Essa seqüência de acontecimentos eliminou os últimos vestígios de 
feudalismo na Europa. E, em 1848, a terceira onda de revoluções tomou o continente como um 
todo, derrubando governos. Só que nenhum dos governos rebeldes que assumiram o poder 
sobreviveria por muito tempo. No fim das contas, triunfou a organizada articulação dos liberais. 
Após 1830, inicia-se a desintegração do movimento revolucionário europeu em segmentos 
nacionais, que dá lugar a uma mentalidade voltada a fraternidade totalizante e a liberdade mútua. 
Estes novos movimentos mais uma vez configuravam-se como consequência da “revolução dupla”, 
envolvendo, a partir de então, os proprietários menores ou pequena nobreza inferior. Surge, assim, 
uma classe média que conta com o apoio dos intelectuais profissionais que, por sua vez, emerge em 
conjunto ao progresso das escolas e universidades. Tal acontecimento, insuflou ao aumento notável 
do número de pessoas instruídas e no consequente avanço científico. Outros movimentos que 
também merecem destaque, segundo Hobsbawn, são aqueles referentes às revoltas populares 
contra o domínio estrangeiro, embora não possam ser classificados como nacionalistas modernos. 
Entretanto, mesmo com relação aos movimentos revolucionários anteriores, não se pode afirmar 
que possuissem um caráter socialista ou mesmo voltado à democracia radical, prevalecendo ainda 
os interesses das classes dominantes. É importante que se saliente a este ponto que o feudalismo 
estava erradicado da França desde a Revolução Francesa, bem como seria eliminado de outras 
regiões, como a Alemanha, Países Baixos e Suiça por obra dos consquistadores franceses. As 
conquistas liberais e o incentivo de pensadores também acabaram por invadir as regiões 
adjacentes, levando também ao banimento de tal sistema e da sociedade aristocrática, mesmo que 
em tempos diversos. As mudanças nas relações agrárias, por exemplo, foram influenciadas pela 
Revolução Francesa, no entanto, a utilização racional da terra já havia impressionado aos déspostas 
esclarecidos do período pré-revolucionário, sendo portanto, anterior ao evento francês. Da mesma 
maneira, consolidou-se a economia industrial, iniciada pela Inglaterra e firmada em 1848 neste país, 
de forma gradual e lenta, em muitos casos. Assim, enquanto a industrialização atingia índices 
vertigionosos na Inglaterra, em outras regiões, como a França parecia caminhar a passos lentos. A 
verdade é que, diferentemente da Inglaterra, a economia capitalista francesa baseava-se nas 
estruturas do campesinato e da pequena burguesia – não direcionando capital para a indústria. Nos 
Estados Unidos, no entanto, a situação era diversa; enquanto na França existia o capital, este era 
escasso em terras americanas.Estes fatos demonstram claramente a maneira diversa como a 
industrialização se comportou nas diferentes regiões e nações.Baseado nas afirmações anteriores, o 
autor ressalta que a maior consequência destes processos seria a divisão dos blocos entre países 
desenvolvidos e subdesenvolvidos. Os efeitos causados pela “dupla revolução” não se restringiram 
apenas ao âmbito político e econômico, causaram também modificações drásticas na sociedade da 
época. A sociedade aristocrática sendo devastada, também levou consigo os seus padrões e suas 
visões, abrindo espaço para uma nova forma burguesa de cultura, pensamento e coletividade. A 
arte e a cultura em geral ganham um impulso que, entretanto, não a tornou acessível para as 
massas desfavorecidas. As últimas apoiavam sua cultura especialmente nas manifestações 
populares (como o folclore), mantendo-se praticamente inalteradas de 1789 até 1830, e sendo 
colocadas à parte de outras classificações da arte. Mesmo os artistas do período, em especial os 
românticos, possuíam clara aversão às classes superiores, porém, nem sempre este antagonismo 
revelava-se na prática.

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