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Globalização, pobreza, desigualdade social e cultura em Bauman.


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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO
DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO, POLÍTICA E SOCIEDADE
TÓPICOS ESPECIAIS DE ENSINO DE 
SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA
Globalização, pobreza, desigualdade social e os relacionamentos humanos em Bauman.
Vitória – E.S
Dezembro de 2008
Paulo Sergio Brandão
Trabalho apresentado à prof. Idalice Ribeiro Silva Lima, na disciplina de Tópicos Especiais de Ensino de Sociologia e Antropologia, como requisito parcial para a obtenção da aprovação. 
Vitória – E.S
Dezembro de 2008.
Vida 
Sociólogo polonês, professor, Zygmunt Bauman, iniciou sua carreira na Universidade de Varsóvia, onde ocupou a cátedra de sociologia geral. Em 1968 foi afastado da universidade e, em seguida, emigrou da Polônia, reconstruindo sua carreira no Canadá, Estados Unidos e Austrália. Em 1971 torna-se professor titular de sociologia da Universidade de Leeds, na Grã-Bretanha, cargo que ocupou por vinte anos. Atualmente é professor emérito das universidades de Leeds e de Varsóvia. Seus trabalhos estão entre os mais importantes da sociologia moderna, tendo como um dos seus temas principais a globalização e suas conseqüências, tanto no que tange suas transformações, assim como as mudanças trazidas para a vida das pessoas em geral. 
Introdução
No seu livro “Modernidade Líquida”, Bauman define o que é modernidade líquida e suas conseqüências para a nossa vida. Neste quadro dá para analisar melhor: 
	Sólidos a derreter
	Conseqüências
	Lealdades
Tradição
Passado
Crenças
Direitos costumeiros
Obrigações éticas e morais, que impediam o movimento e restringiam as iniciativas 
OBS. São deixados somente os vínculos com o dinheiro
	Tem-se uma complexa rede de relações sociais no ar – nua, desprotegida, desarmada e exposta, incapaz de resistir ou competir com as regras de ação e critérios de racionalização inspirados pelos negócios
Progressiva libertação da economia de seus tradicionais embaraços políticos, éticos e culturais
Sedimentação de uma nova ordem, definida principalmente em termos econômicos
Dissolução das forças que poderiam ter mantido a questão da ordem e do sistema na agenda política
Rompimento dos elos que entrelaçavam as escolhas individuais em projetos e ações coletivas
Criação das categorias “zumbi” – mortas e ainda vivas – como a família, a classe e o bairro
Carência referencial – padrões, códigos e regras – que podíamos selecionar como pontos estáveis de orientação e pelos quais poderíamos nos deixar guiar
Passagem de uma era de grupos de referência para a comparação universal.
Autoconstrução individual, os padrões e configurações, não está dado de antemão e tende a sofrer numerosas e profundas mudanças. 
O peso da trama dos padrões e a responsabilidade pelo fracasso caem principalmente sobre os ombros dos indivíduos
Liquefação dos padrões de dependência e interação – como todos os fluídos – não mantêm a forma por muito tempo
A modernidade, para Bauman, começa quando o espaço e o tempo são separados da prática da vida e entre si. O mundo atual para Bauman se resume assim:
Desprendimento dos bens. Essa mutabilidade de relações também promove o desprendimento, no sentido afetivo e de posse eterna dos bens lucrativos, bastando dizer que hoje devem sim ser de favorável retorno financeiro, mas já tendo noção que são altamente perecíveis e, decorrente a isto, devem ser rapidamente rotacionados.
Liberdade. Nessa aparente e sedutora emancipação, Bauman questiona a liberdade como real objetivo almejado, cravando o leitor com uma revelação formulada como indagação: “A libertação é uma bênção ou uma maldição? Uma maldição disfarçada de bênção, ou uma bênção temida como maldição?” (BAUMAN, 2001, p. 26). Embasado por seu estudo, ele mesmo responde: “A verdade que torna os homens livres é, na maioria dos casos, a verdade que os homens preferem não ouvir” (BAUMAN, 2001, p. 26). Os indivíduos não têm controle sobre seus destinos e decisões, pois a pseudo-liberdade é uma ilusão criada como possibilidade de fuga, da incapacidade deste, que não ousa extrapolar os paradigmas. 
Revolução e mudança. Desse modo, as idéias tradicionais de revolução e mudança nesta sociedade já estão póstumas porque os reacionários já não estão mais conosco, o mundo fluído não permite a “tradicionalidade ideológica”. Ausência de se auto-questionar e se posicionar.
Dimensão Pública. Atualmente tem tentado se livrar do poder que havia já há muito tempo gerenciado, enquanto o privado se apossa e o desfigura não para extinguí-lo, mas para dar forma a seus interesses momentâneos e ininterruptos.
Consumo. O mais evidente e nocivo comportamento desta sociedade. Propagou-se um comportamento geral de comprar, não apenas produtos e serviços, mas o ato de aquisição fica também evidenciado na busca e anexação de personas do indivíduo e as pessoas que com este se relacionam, seja o empregado, empregador ou até mesmo o par amoroso. Logo, esta sociedade é vista e se porta como consumidora, e não mais produtora. A regra da padronização visual e comportamental, para que os itens que simbolizam a ostentação agora em pouco, pouquíssimo tempo, se tornem itens de necessidade as próprias pessoas que, cada vez mais, deixam de adquirir bens para se entregar, viver para eles.
Relacionamento. As relações interpessoais não se dá pelas inter-relações, mas por uma busca da eficácia de mútua vigilância, de saber quem é você no limitado universo de sua vizinhança, ressalta-se, homogênea. Acabam-se os contatos? Bauman afirma que estas relações foram removidas das situações de casualidade e desnutridas de qualquer interação afetiva, já que nunca foi tão fácil se relacionar com outrem sem ter o mínimo de contato com estes, com discursos preestabelecidos (de aquisição e não de interação) e em lugares já determinados, na verdade, denominados pelo autor de “não-lugares”. As regras são claras: conversa-se, negocia-se, cumprimenta-se cordialmente, mas sempre evitando maior contato.
Produção e Trabalho. Instabilidade entre o ideal e o real dos planos de cada um e do senso coletivo. O trabalho surge como principal esperança do controle do presente para, conseguinte, tentativa de controle do futuro, da manutenção da ordem de controle deste por vir caótico. As pessoas líquidas ignoram os novos espectros e seus inéditos assombros (da instabilidade em curto prazo, do mal-estar social, da impessoalidade atual, etc.). 
Durabilidade. É precária ou inexistente nessa realidade. 
Confiança. Extrema falta de confiança, o medo da perda brusca do que já se conseguiu e/ou do que se está galgando. Essa desconfiança não é pecado, pelo Evangelho comunitário (termo de Bauman) dessa sociedade o dogma de convivência enaltece um discurso/sentimento patriota e suas “virtudes”, de benevolência e tolerância para com o próximo (a bem da verdade, visto como competidor) e sua carga cultural multifacetada enquanto repudia o sentimento nacionalista e sua fama de agressão e ódio aos outros, os mesmo competidores vistos como responsáveis pelos infortúnios não só da nação, da coletividade, mas como tramitáveis obstáculos de objetivos pessoais.
Alguns conceitos importantes na teoria de Bauman. 
Globalização e suas conseqüências.
Bauman dedicou um livro “Globalização: as conseqüências humanas” para analisar este conceito e em outros livros como “Tempos Líquidos” no seu segundo capítulo, ele também volta a falar das conseqüências da globalização. 
Ele analisa os fenômenos da globalização que não são visualizados como, por exemplo, o espaço e o tempo e a noção de local e global. 
Quando analisa as grandes corporações e sua localização no tempo e no espaço, mostra a companhia pertence as pessoas que investem e não aos seus empregados ou a localidade em que se situa. Para os investidoreso que está em jogo é o maior acúmulo de capital, ou seja, a busca incessante pelo lucro, sendo a exploração da mão-de-obra uma constante. Neste sentido a comunidade e os empregados das empresas não tem por nenhum momento voz ativa nas tomadas de decisão. As decisões são tomadas por investidores não locais que são insensíveis a realidade local. 
Diferentemente dos acionistas o empregado não pode mudar-se de acordo com a necessidade da empresa, ele está preso ao espaço. Quando a empresa muda de localidade vislumbrando maiores oportunidades, os empregados que residem no local ficam com a tarefa de “lamber as feridas”. Segundo Bauman quem está livre da localidade pode escapar dos adventos da globalização. Já os que estão presos ao local, têm que cumprir as penalidades do processo. 
Com isso não há mais atitudes de pressão ao capital, pois como a empresa perdeu seu vínculo com o local, tornou-se também resistente à ação dos trabalhadores. 
Todo esse processo de transformação redundou na precarização e na desintegração dos “laços humanos” (Amor liquido: as fragilidades dos laços humanos) onde as relações sociais se tornaram autônomas. 
Em relação ao Estado há um condicionamento ao fator econômico. A “nova desordem mundial” conforme diz Bauman, permite as empresas pressionarem o Estado. Pois uma empresa pode demitir pessoas nos mais diversas localidades sem ter prejuízos econômicos, deixando para o Estado as futuras conseqüências que este fato vai gerar. 
Bauman diz que Hoje não se sabe quem está controle, ou pior, não existe ninguém no comando da situação, sendo assim, não existe um consenso global dos rumos que a humanidade deve seguir e por onde se locomover. Desta forma a globalização está constituída por seu caráter indeterminado, indisciplinado e de autopropulsão dos assuntos mundiais, portanto, a nova desordem mundial é uma seqüência de ações, que parte da falta de um centro que uma os interesses da civilização. Assim, globalização nada mais é do que o processo de desordem da economia e das relações sociais. 
Bauman diante da globalização identifica a morte da soberania do Estado. A globalização impõe pressões que o Estado não é capaz de dirimir, ou seja, para Bauman alguns minutos bastam para que as empresas e a nação entrem em colapso. 
O Estado está despido de seu poder e de sua autoridade e somente lhe restou ferramentas básicas para manutenção do interesse das grandes organizações empresarias. 
	Em “Tempos líquidos” Bauman fala do enfraquecimento do Estado- Nação, quando aborda a questão do aumento de refugiados em diversas áreas do globo. O autor assevera que, a única indústria que floresce nas terras dos retardatários - conhecida pelo apelido tortuoso e frequentemente enganoso, de “países em desenvolvimento” - seja a produção em massa de refugiados. 
Neste sentido, o número de vítimas da globalização sem teto e sem Estado cresce rápido demais para que o planejamento, a instalação e a construção de zonas que possam conter esses refugiados. Bauman aponta para a desregulamentação das guerras como um grande efeito da globalização, que em grande medida contribuem diretamente para o aumento destes refugiados. 
Bauman  descreve que, tornar-se um refugiado significa perder os meios em que se baseia a existência social, ou seja, um conjunto de coisas e pessoas comuns que têm significados - terra, casa, aldeia, cidade, pais, posses, empregos e outros pontos de referência cotidianos. Essas criaturas à deriva e à espera não têm coisa alguma senão sua “vida indefesa, cuja continuação depende da ajuda humanitária”. 
Um outro ponto preocupante relacionado a esta questão, se refere a absorção de parte destes excedentes populacionais pelas guerrilhas, gangues de criminosos e traficantes de drogas, que em seus conflitos aniquilam e reabsorvem o “excedente populacional”. 
Pobreza de desigualdade social. 
A promessa do livre comércio e o desenvolvimento econômico como profícuo a diminuição das desigualdades sociais, tem se mostrado uma falácia, o que se apresenta é um aumento cada vez mais elevado da riqueza dos mais ricos e uma diminuição drástica das condições de vida dos mais pobres. Condições estas que estão imobilizadas exatamente pela “imobilidade dos miseráveis” em suprimir as pressões da globalização e a “liberdade dos opressores”, em seus discursos que dão legitimidade ao modelo proposto de sociedade moderna e mundo globalizado, ou seja, um mundo econômico, tecnológico, científico, extremamente desigual e excludente. 
Este novo mundo proposto é o da fome, pobreza e miséria absoluta, onde 800 milhões de pessoas estão em condições de subnutridas e 4 bilhões de pessoas vivendo na miséria. Para Bauman a pobreza leva ao processo de degradação social que nega as condições mínimas de vida humana. A soma do resultado “fome=pobreza”, derivam outros fatores que “enfraquecem os laços sociais” e passam a destruir também, os laços afetivos e familiares. 
Estado, cria condições para o mercado financeiro e investidores. Este Estado tem como modelo um maior controle dos gastos públicos, redução de impostos, reformulação dos sistemas de proteção social e diminuição da rigidez das leis trabalhistas. 
Portanto, prioriza os setores do capital financeiro e bloqueia os poucos recursos destinados aos setores sociais em nome de maior controle dos gastos públicos. Assim sendo, este livro traz consigo a reflexão teórica das conseqüências da globalização para os seres humanos. 
Onde a cada momento temos um aumento da pobreza, diminuição das condições mínimas de sobrevivência. Em contrapartida, existe um aumento das grandes potências empresarias e da exploração advinda do seu modelo desvinculado do local, tendo na sua visão e modelo global, um alicerce para sua manutenção e precarização da vida humana.
 3. Os laços humanos
O autor, faz uma análise do relacionamento humano, dentro do contexto daquilo que ele chama de “modernidade líquida”, ou seja, dentro da fluidez da vida moderna, preocupando-se em apontar questões consideradas emblemáticas para a consolidação dos laços humanos nos dias atuais, porém, se reserva a não dar receitas pela situação de fragilidade dos vínculos entre os sujeitos. 
Para o autor a fragilidade dos laços humanos seria causa e origem do nosso egocentrismo, da nossa solidão. Solidão esta que ao mesmo tempo nos permite estar em sintonia com uma multidão, ampliando assim a possibilidade de relacionamentos; mas distantes e frios para relacionamentos firmes e com compromissos. 
Para muitos, a leitura de Bauman sugere a “destruição” das convenções que durante muito tempo sustentaram e garantiram o bom funcionamento da sociedade e de suas instituições, revelando assim uma visão apocalíptica das formas de relacionamento humano. Pois segundo a sua visão, os laços contratuais que amarram tão bem o funcionamento da vida cotidiana, sejam eles entre Estado e Sociedade, Família e Religião, ou mesmo entre as pessoas, estariam dando lugar a vínculos deslizantes, imprecisos. Essa fluidez líquida deixa muitos em estado de alerta, às vezes em situação de desespero, pois o tecido social até hoje seguro estaria desmanchando-se frente a fragilidade dos laços humanos. Segundo estas leituras, Bauman demonstra um tom de pessimismo ao tratar das relações humanas em Amor Líquido. 
Esse caminho apresentado pelo autor leva á iminente solidão dos sujeitos porque esses não conseguem se vincular uns aos outros, levando assim ao iminente egocentrismo, a um exagerado individualismo, à arrogante superficialidade dos relacionamentos humanos. Olhando dessa forma, a fluidez líquida presente nos relacionamentos humanos leva a total separação das pessoas ou a um sujeito apaixonado por si mesmo. 
Após analisar e discutir intercalando com outros autores, pude constatar que não podemos olhar este contexto em que nos encontramos só de forma negativa, faz-se necessário pensar este momento como uma possibilidade importante de auto-governo, em que a pessoas possam estabelecer vínculosde qualquer ordem uns com os outros a partir de um cenário social que permita que esses vínculos sejam construídos a partir de uma ética que não dependa de um sistema de valores num sentido macro, e sim de valores pessoais e comuns àqueles que se relacionam, podendo, depois sim se tornar referência para manutenção de um sistema universal. Temos que olhar este momento com outro olhar, que não o que veja a instabilidade ou a superficialidade dos relacionamentos contemporâneos, com sendo algo péssimo ou censurável, mas como uma alternativa que se coloca diante do que não está mais posto, ou seja, da forma institucional. 
Com relação a Internet, que para o autor é um instrumento, junto com o celular, que permite e favorece a instituição da chamada modernidade liquida, revelando o quanto a vida social pós-moderna é marcada pela extraterritorialidade e fluidez. Algumas das principais manifestações dessas duas características da organização social contemporânea são: o exercício extraterritorial do poder; passível de ser levado a cabo a partir de qualquer lugar; a circulação constante, fácil e rápida do capital e da informação; e o novo tipo de nomadismo instaurado pela derrubada das fronteiras e barreiras da era moderna. 
Conclusão 
Para finalizar vou citar o próprio Bauman (pg. 141 – Vidas desperdiçadas), “Nós, seres humanos, somos, e não podemos deixar de ser, animais “transgressores” e “transcendentes”. Vivemos a frente do presente. Nossas representações podem ser destacadas dos sentidos e correr na frente deles. O mundo em que vivemos está sempre um passo, ou um quilômetro, ou um ano – luz à frente do mundo que vivenciamos. A essa parte do mundo que se estende a frente da experiência vivida damos o nome de “ideais”. A missão dos ideais é conduzir-nos a um território ainda inexplorado a não mapeado”. 
	O papel dos ideais é puxar-nos e empurrar-nos para longe daquilo que é, impedir-nos de permanecer imóveis, pois imobilidade é aquilo de que se ocupam os cemitérios. 
	O sentimento que advém das leituras de Bauman é de impotência, mas o autor nos incentiva a continuar visionando um mundo melhor. Precisamos perseguir a utopia. 
BIBLIOGRAFIAS CONSULTADAS
BAUMAN, Zygmunt. Tempos líquidos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2007.
BAUMAN, Zygmunt. Globalização: As conseqüências humanas. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor,1999. 
BAUMAN, Z. Amor Líquido: a fragilidade dos laços humanos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2004. 
BAUMAN, Z. Vidas Desperdiçadas. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2005.
BAUMAN, Z. Modernidade Líquida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2001.