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g1.docx livro investiga relação perigosa de Freud com a cocaína.

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Domingo, 20/04/2014, às 10:00, por Luciano Trigo
Livro investiga a relação perigosa de Freud com a cocaína
Quando jovem pesquisador, entre os 28 e os 39 anos, Sigmund Freud usou e abusou da cocaína como estimulante e analgésico – e acreditava que a droga podia ajudar a curar diversos problemas físicos e mentais, incluindo a depressão e o vício em morfina. Sua defesa do alcaloide, que era então uma droga lícita, está registrada em quatro artigos escritos na década de 1880 – nenhum deles incluído na edição definitiva de suas obras completas – destacando-se “Über Coca”, de 1884 (somente na década de 1960, muito depois da morte de Freud, os artigos foram reunidos num volume independente, “The cocaine papers”, com notas de sua filha Anna).
Freud fez, ainda, uma apresentação para a Sociedade Psiquiátrica de Viena sobre os usos terapêuticos da cocaína, que considerava fundamental para curar as "doenças da alma", como hipocondria, neurastenia, histeria, melancolia e prostração nervosa (“Em minha última depressão severa, eu usei coca novamente e uma pequena dose elevou-me às alturas de uma forma maravilhosa”, relata. “Agora mesmo, estou envolvido em pesquisar a literatura para uma canção de louvor a esta substância mágica.”)
Além do uso pessoal, o pai da psicanálise fez uma série de experiências de aplicação da cocaína em colegas e pacientes, na base da tentativa e erro – algumas com resultados desastrosos. Uma delas foi com o médico Ernst von Fleischl-Marxow, que, sob acompanhamento de Freud, usou cocaína em excesso para aliviar dores e desenvolveu uma psicose associada à dependência da droga, morrendo poucos anos depois. Assustado, as poucos Freud deixou de receitar a cocaína, mas continuou a usá-la até 1899, para aliviar sintomas de depressão, enxaqueca e sinusite. Freud também apresentou a droga à sua noiva, Martha Bernays.
Ao todo, Freud consumiu cocaína regularmente por um período de pelo menos 11 anos, até desenvolver outra dependência: a amizade com seu colega e confidente Fliess, com quem trocou vasta correspondência – parte dela desaparecida, outra parte ainda protegida legalmente pelo sigilo. Obcecado com o nariz, que acreditava estar associado à maioria das neuroses, Fliess realizou estranhas cirurgias nasais em pacientes como Emma Eckstein, quase provocando a sua morte. Mais tarde, como era frequente nas relações de Freud com seus discípulos sempre que estes contestavam sua autoridade, Fliess se tornou um inimigo odiado.
Segundo David Cohen, a criação da teoria psicanalítica foi diretamente influenciada pelo uso da cocaína.
Cohen envereda pela análise da infância de Freud, seu difícil contexto familiar, sua complexa relação com o judaísmo e sua personalidade de traços incomuns. O autor faz também um detalhado mapeamento dos sonhos de Freud em sua obra mais famosa, “A interpretação dos sonhos”, identificando alusões explícitas ou veladas ao uso da cocaína. E apresenta a busca por reconhecimento público e sucesso financeiro na juventude como motivações para Freud se empenhar em fazer descobertas científicas de peso, ainda que por vias médicas não convencionais.
A cocaína apareceu assim como uma droga milagrosa, uma panaceia da psicofarmacologia capaz de estabelecer sua reputação como cientista. Evidentemente, Freud estava equivocado. Aos poucos ele percebeu que seus pacientes ficavam perigosamente viciados e decidiu largar as experiências com a cocaína e iniciar um novo empreendimento:  investigar o inconsciente a partir de um método novo, sem medicamentos, baseado na escuta e na fala e na análise dos sonhos e seus laços com o inconsciente.
http://g1.globo.com/pop-arte/blog/maquina-de-escrever/post/livro-investiga-relacao-perigosa-de-freud-com-cocaina.html

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