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Elaboração e análise de projetos Sibele Ganz e Eduard Marquardt 03 Sumário CAPÍTULO 3 – Temas contemporâneos na educação..........................................................05 Introdução ....................................................................................................................05 3.1 As tecnologias digitais da informação e comunicação (TDICs) e seu uso na educação .....06 3.1.1 Os métodos de aprendizagem e as TDICs ..........................................................07 3.2 Projetos educacionais inclusivos .................................................................................10 3.3 Projetos educacionais sustentáveis ..............................................................................13 3.4 Diversidade em projetos educacionais ........................................................................17 3.4.1 As questões de gênero e orientação sexual na escola ..........................................18 Síntese ..........................................................................................................................20 Referências Bibliográficas ................................................................................................21 05 Capítulo 3 05 Introdução A reflexão sobre temas contemporâneos na educação abrange um amplo espectro de questões que vão além do multiculturalismo. Existem também os aspectos de gênero, étnicos e as questões ambientais, comum a todos. Com a abrangência e a velocidade da transmissão de informação por multimeios, o educador é colocado em uma situação de contínua necessidade de estar infor- mado e de ser capaz de se posicionar como um cidadão planetário, alguém que compreende o mundo como um espaço comum e que deve ser cuidado por todos. De acordo com Boff (2003, p. 13), essa ética que se expande para o global “é o lugar onde habita a humanidade, agora, interconectada”. Toda informação disponível atualmente precisa de um balizamento que permita encontrar um padrão ético em que viver com respeito pelos outros e pela natureza e agir para criar um mundo melhor são duas funções inerentes a um educador. Dessa forma, além de ter o conhecimento técnico relativo à sua disciplina, os professores são também exemplos de comportamento para seus alunos, de tal modo que são seguidos não apenas pelos seus saberes científicos, mas também pela sua postura diante dos alunos. Um dos saberes necessários para a educação do futuro, de acordo com Morin (2001), é “educar para a compreensão”. Nesse item, é reforçada a ideia de que educação deve primar por um posicionamento ético, algo que deve ser constantemente cobrado de um cidadão, principalmente quando ele é um educador. Morin (2007, p. 124) ainda reforça a ideia anterior em outra obra, com uma frase contundente: “Compreender não é compreender tudo, mas reconhecer que há algo de incompreensível”. Essa postura tende a gerar o sentimento de tolerância, isenta de pre- conceito, tal como preconizava Freire (2006): Não foi por acaso nem por motivos outros, que Paulo foi indicado para o Prêmio Nobel da Paz, em 1993. Foi por esta sua postura de coerência impregnada de generosidade, mansidão e respeito diante das diferenças étnicas, religiosas, políticas; por sua tolerância autêntica diante das diversidades de posturas e leituras de mundos culturais dos homens e mulheres no mundo; por seu comportamento de cuidado ético com as vidas; por sua luta incessante pela Paz através da sua compreensão de educação para a autonomia e libertação. (FREIRE apud FREIRE, 2006, p. 388). É preciso que os alunos, futuro do planeta, tomem conhecimento dos valores que os levem a “agir localmente, pensando globalmente”, tal como é intrínseco a um cidadão planetário. Moacir Gadotti (2009, p. 311) preconiza ações como “educação para todos, respeito à diversidade, às minorias étnicas, à pluralidade de doutrinas, aos direitos humanos, eliminando os estereótipos, ampliando o horizonte de conhecimentos e visões de mundo” que, segundo o autor, “é o cami- nho para a convivência harmônica, apesar das diferenças”. Trata-se de mais um autor contem- porâneo a frisar que a educação é indissociável da ética. A função da educação na escola do futuro não é eliminar os conteúdos disciplinares, e sim aprofundá-los de maneira significativa e coerente com a proposta de uma educação para a paz. Para tanto, de acordo com Morin (2000, p. 45), é “necessário que haja uma religação dos sa- beres, a religação do homem com a natureza, a religação do homem com ele mesmo”. E assim, segundo o autor, (2000, p. 178) “valores como solidariedade, colaboração e experimentação Temas contemporâneos na educação 06 Laureate- International Universities Elaboração e análise de projetos compartilhada” devem ser uma constante na prática da escola, em um sistema de valores agindo de forma contínua sobre a convivência entre os alunos. Diante dessas premissas referentes às necessidades da escola para o futuro, os tópicos deste capítulo (comunicação, inclusão, sustentabilidade e diversidade) convergem para um sentido único: uma educação de qualidade que preza por valores humanos essenciais e cujo objetivo é a busca pela paz, pois, segundo Gandhi: “Não existe caminho para a paz. A paz é o caminho”. Figura 1 – Educação para a paz. Fonte: Shutterstock, 2015. 3.1 As tecnologias digitais da informação e comunicação (TDICs) e seu uso na educação Devido às tecnologias da informação e da comunicação (TDICs), a humanidade vem sentindo os efeitos da comunicação global, um dos principais motivos que têm levado o mundo a um formato globalizado, com um novo jeito de se comunicar e aprender que compõe uma nova sociedade: da cibercultura. Relativamente novas, essas tecnologias levaram os educadores de uma geração que cresceu em um mundo sem internet a se reinventarem para atenderem às expectativas de seus alunos, que já nasceram em um mundo interconectado pela rede mundial de computadores e toda a facilidade de comunicação que ela oferece. Cabe à escola oferecer um serviço de internet compatível com a inclusão do aluno no universo da comunicação, da cibercultura. Segundo Silva (2004, p. 65), quando o professor indica um site, “ele não apenas lança mão da nova mídia para potencializar a aprendizagem de um conte- údo curricular, mas contribui pedagogicamente para a inclusão desse aprendiz na cibercultura”. Do surgimento das tecnologias da informação e comunicação (TDICs) até hoje ocorreram muitas mudanças na maneira de ensinar e também de aprender. As experiências diárias com as TDICs são tantas e tão diversas que seria impossível acreditar que a aprendizagem ocorre apenas den- tro de uma sala de aula. Para que o uso da internet seja eficiente, é necessário balizar seus parâmetros entre três tópi- cos: rapidez, segurança e abrangência, ou seja, um serviço que contemple toda a população. 07 McLuhan previu, já na década de 1960, que haveria uma “interconexão entre as nações em um processo de retribalização em que as afinidades seriam encontradas facilmente ao ponto de quebrar barreiras socioculturais e geográficas” (MCLUHAN, 1969, p. 42). Ainda de acordo com o autor, [...] a rede mundial de comunicações vai se estender e melhorar. Serão introduzidos novos feedbacks (tomada de consciência do efeito real produzido no outro) levando a comunicação a se tornar diálogo antes que monólogo. Vai transpor o velho muro que separa a escola da vida cotidiana. Atingirá as pessoas onde elas estiverem. Sim, quando tudo isso for realidade, nós perceberemos que o lugar dos nossos estudos é o mundo mesmo, o planeta de todos. A ‘escola-clausura’ está a ponto de tornar-se ‘escola-abertura’ ou, melhor ainda, ‘escola- planeta’. (MCLUHAN apud GADOTTI, 1999, p. 296). 3.1.1 Os métodos de aprendizagem e as TDICs O breve históricodas TDICs nas escolas brasileiras tem, de acordo com Kenski (2007, p. 32), três períodos. O primeiro, na década de 1990, foi marcado pela abertura de salas ou labora- tórios de informática nas unidades de ensino. Apesar de a internet ter iniciado seu processo de popularização ainda nessa década, as escolas não possuíam o acesso para seus alunos nas salas de informática. Portanto, os alunos utilizavam os computadores como “máquinas de escrever” modernas e aprendiam a digitar, desenhar na tela, criar planilhas, copiar e colar figuras e pala- vras, enfim, uma instrumentalização do computador que ainda não tinha conexão com a inter- net. Em uma nova fase, os multimeios, como CDs, DVDs, jogos educacionais, etc., puderam ser utilizados, mesmo sem sincronização com a proposta da escola. O terceiro período foi marcado pelo acesso à rede mundial de computadores. Um mundo novo se abriu e as pessoas passaram a se comunicar de onde estivessem, em qualquer lugar do mundo, potencializando a troca e o compartilhamento de informações. Com a internet, a comunicação foi expandida para níveis nunca antes imaginados. Foi possível, a partir de então, pesquisar, trocar informações entre grupos de diferentes cidades e até países, opinar sobre questões polêmicas com uma multidão, debater sobre os mais variados assuntos com pessoas desconhecidas e muito mais. São situações que se encaixam perfeitamente em uma escola que adota a pedagogia de projetos como metodologia de ensino/aprendizagem. O posi- cionamento de Lévy (2010) refere-se à questão da educação coletiva da seguinte forma: [...] um mundo virtual, no sentido amplo, é um universo de possíveis, calculáveis a partir de um modelo digital. Ao interagir com o mundo virtual, os usuários o exploram e o atualizam simultaneamente. Quando as interações podem enriquecer o modelo, o mundo virtual torna-se um vetor de inteligência e criação coletivas. (LÉVY, 2010, p. 75) Kenski (2007) considera que “o salto nas relações entre educação e tecnologias deu-se com as possibilidades de comunicação e o surgimento da Internet”. De acordo com dados do MEC (BRASIL, 2015), 84 mil escolas brasileiras possuem acesso à internet; no entanto, é necessário que os professores sejam direcionadores do processo educativo, visto que é uma ferramenta que também dispersa a atenção do aluno se não for conduzida adequadamente. A pesquisa pela pesquisa não é o caminho. Demo (2004, p. 92) alerta que “a mera coleta de dados dispersos ao léu, deve ser evitada [...] o importante é analisar dados, produzindo texto inteligente”. Este seria apenas um dos formatos de uso dessas tecnologias. Embora seja muito importante, existem outras maneiras tão importantes quanto. Entre estas, há um recurso que pode ser explorado de maneira abrangente. Trata-se do hipertex- to. Silva (2004, p. 65) explica que, “na tela do computador, o hipertexto supõe uma escritura não sequencial, uma montagem de conexões em rede que, ao permitir/exigir uma multiplicidade de recorrências, transforma a leitura em escritura”. Com o hipertexto, a escrita/leitura deixa de ser linear, pois cada palavra pode estar relacionada com outro texto que, por sua vez, pode ter sido 08 Laureate- International Universities Elaboração e análise de projetos escrito por outra pessoa, o que caracteriza um texto coletivo. Há inúmeras formas de trabalhar com essa ferramenta. Figura 2 – Interconectividade. Fonte: Shutterstock, 2015. Além do hipertexto, existem muitos outros exemplos de ferramentas educacionais que são desen- volvidas nas interfaces on-line. Segue um quadro com uma pequena listagem: Conceito Efeito pedagógico Chat Espaço on-line de bate-papo com hora marcada. Aprendizagem dialogada com temas específicos; cuidado na lin- guagem e aprendizado de idiomas (se o interlocutor se expressar em outra língua). Fórum Espaço on-line de discussão em grupo. Uma provocação (que pode ser feita pelo professor) desencadeia discussões de forma assíncrona, isto é, sem hora marcada para ser realizada, pois ocorre por meio de postagens. Lista Lista de discussão é um espaço on-line que reúne uma comunidade virtual por e-mail. Estende discussões iniciadas em aula presencial ou na própria lista. 09 Conceito Efeito pedagógico Blog Diário on-line no qual seu respon- sável publica histórias, notícias, ideias e imagens. Pode ter autoria coletiva, permitin- do a todos publicar ou postar seus textos e imagens, por exemplo, como registro da memória de um curso. Site Espaço, ambiente ou lugar na WWW (world wide web) que ofere- ce informações sobre determinada pessoa, empresa, instituição ou evento. O professor pode ter o seu site e nele incluir diversas interfaces que permitam seu encontro com os aprendizes. Ele pode disponi- bilizar textos, imagens, animações gráficas, sons e até vídeos que irão compor propostas de apren- dizagem, fazendo do seu site uma extensão da sua sala de aula presencial. AVA Ambiente Virtual de Aprendizagem. É um ambiente de gestão e cons- trução integradas de informação, comunicação e aprendizagem on-line. O professor ou responsável dis- ponibiliza o acesso a um mundo de informações, fornece conteúdo didático multimídia para estudo, objetos de aprendizagem, materiais complementares. Quadro 1 – Exemplos de interfaces on-line e seus efeitos pedagógicos. Fonte: Adaptado de Silva, 2004. Escolas que incluem em seu projeto político pedagógico a metodologia da pedagogia de proje- tos encontram nas TDICs fortes aliadas. Assim como os projetos têm como um de seus alicerces a coletividade, a internet pode aproximar as pessoas por meio de canais por elas criados e, desse modo, construir conhecimento coletivo. Um hipertexto é um exemplo de desfecho para um projeto pedagógico. Com esse formato de produção de conhecimento, os alunos podem publicar, com texto coletivo, suas conclusões. Herbert Marshall McLuhan, cuja trajetória corresponde a um marco no pensamento sobre a complexa rede de comunicações em que o homem está imerso na era da ele- trônica, da cibernética e da automação. VOCÊ O CONHECE? Com relação à gestão da escola, as TDICs contribuem no sentido de favorecer a atualização do projeto político pedagógico (PPP) sempre que necessário. Ideias aprovadas após discussões nas interfaces on-line podem ser adicionadas ao PPP para que ele seja realmente um documento coletivo e democrático. Todavia, em termos pedagógicos, os professores devem estar atualizados e seguros para utilizar as tecnologias de um modo tão eficaz ou até melhor que seus alunos. Com os projetos pedagó- gicos, professores e alunos são parceiros e formam equipes de trabalho, sendo assim, é preciso aproveitar o interesse natural dos jovens estudantes pelas tecnologias e transpor as paredes da 10 Laureate- International Universities Elaboração e análise de projetos sala de aula com interesse e participação ativa dos alunos por tecnologias que, para eles, são tão familiares. Cite três itens que você julga imprescindíveis no site de uma escola. Para cada item, cite quem – alunos, professores, pedagogos, grupos colegiados, etc. – seriam os ali- mentadores dos dados. NÓS QUEREMOS SABER! A perspectiva de propor uma aprendizagem baseada em projetos leva cada docente a analisar, a refletir e a criar sua própria prática pedagógica. Enfatiza-se que o sucesso da metodologia base- ada em projetos e da aprendizagem colaborativa com tecnologia interativa implica a vivência de situações diferentes das que os alunos estão acostumados em uma ação docente conservadora. Na proposição da metodologia de aprendizagem colaborativa por projetos, não existem recei- tas e prescrições a serem seguidas, embora algumas recomendações possam ser apresentadas, tais como: a investigação de problemas, a contextualizaçãodo tema, a tomada de decisões em grupo, as situações de troca, a reflexão individual e coletiva, a tolerância e a convivência com as diferenças, as constantes negociações e as ações conjuntas. Ressalta-se que o professor, ao optar por essa metodologia, instiga a responsabilidade do aluno pelo seu próprio aprendizado e pelo aprendizado do grupo. A vivência fraterna e solidária nas situações de aprendizagem tende a se estender às relações do estudante com os demais membros da sociedade, e só esse proce- dimento bastaria para defender a relevância dessa metodologia. A tecnologia da informação e da comunicação é uma delas e deve estar sempre atualizada para acompanhar a sociedade, principalmente o jovem, que naturalmente se atualiza com seus gadgets (dispositivos eletrônicos portáteis como PDAs, celulares, smartphones, leitores de MP3, entre outros) mais modernos. 3.2 Projetos educacionais inclusivos A Meta 4 do Plano Nacional de Educação (INEP, 2014) consiste em “universalizar, para a po- pulação de quatro a dezessete anos, o atendimento escolar aos estudantes com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação na rede regular de ensino”. Essa meta pretende, dessa forma, atuar de modo a incluir os alunos com deficiência nas escolas regulares. Contudo, a meta, por si só, não garante a inclusão. Arantes in Mantoan et alli (2006, p. 66) alerta que é preciso “evitar o descompromisso do poder público com a educação e que a inclusão escolar acabe sendo traduzida como mero ingresso de alunos com necessidades educacionais especiais nas classes comuns”. Entre os compromissos que devem ser assumidos, destaca-se a garantia do cumprimento dessa meta com a adequação dos espaços e a prepara- ção dos profissionais por parte do Poder Público e da sociedade civil. Por parte das escolas, uma adequação factível seria a inclusão dos alunos portadores de defici- ência nos projetos educacionais planejados em parceria com os próprios alunos. Nesse caso, os alunos que possuem tais deficiências poderiam expor suas necessidades ainda na elaboração dos projetos. Dada sua flexibilidade e estruturação, um projeto abre as possibilidades para os alunos portadores de necessidades especiais quando direciona atividades que eles sejam capazes de executar, às vezes até com um desempenho melhor do que os alunos sem deficiência. Exemplo 11 disso são alunos cegos habilidosos nas tecnologias de informação (rádio, pesquisas na internet), alunos surdos com habilidade para criação de imagens (desenhos, vídeos) e tantas outras habi- lidades a serem descobertas e valorizadas em alunos que merecem atenção especial. As escolas devem oferecer condições de acesso aos espaços, aos recursos pedagógicos e à comunicação de modo a favorecer a aprendizagem e a valorização das diferenças para que haja a real inclusão. O Sistema Integrado de Monitoramento e Controle (Simec) é um site do Governo Fede- ral que permite o acompanhamento de uma série de programas e projetos vinculados ao Ministério de Educação. Um dos programas é o Escola Acessível, que subsidia refor- mas nas escolas para promover a acessibilidade dos portadores de deficiência. Saiba mais em: <http://simec.mec.gov.br/>. NÃO DEIXE DE LER... Figura 3 – A inclusão pela natureza. Fonte: Shutterstock, 2015. A Política Nacional de Educação Inclusiva – contida na Resolução no 4/2009 do Conselho Na- cional de Educação – tem como objetivo o acesso, a participação e a aprendizagem dos alunos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades/superdotação nas escolas regulares, orientando os sistemas de ensino para promover respostas às necessidades educacionais especiais que garantem, em um compêndio de leis específicas federais: • transversalidade da educação especial desde a educação infantil até a educação superior; • atendimento educacional especializado; 12 Laureate- International Universities Elaboração e análise de projetos • continuidade da escolarização nos níveis mais elevados do ensino; • formação de professores para o atendimento educacional especializado e demais profissionais da educação para a inclusão escolar; • participação da família e da comunidade; • acessibilidade urbanística, arquitetônica, nos mobiliários e equipamentos, nos transportes, na comunicação e informação; e • articulação intersetorial na implementação das políticas públicas. Entre as atividades de atendimento educacional especializado, são disponibilizados programas de enriquecimento curricular, o ensino de linguagens e códigos específicos de comunicação e sinalização e tecnologia assistiva. Ao longo de todo o processo de escolarização, esse atendi- mento deve estar articulado com a proposta pedagógica do ensino comum. Em todas as etapas e modalidades da educação básica, o atendimento educacional especializado é organizado para apoiar o desenvolvimento dos alunos, sendo oferta obrigatória nos sistemas de ensino. Maria Teresa Mantoan expõe a ideia a respeito de inclusão [...] quando não é a universalidade da espécie que define um sujeito, mas suas peculiaridades, ligadas ao sexo, etnia, origem, crenças, tratar as pessoas diferentemente pode enfatizar suas diferenças, assim como tratar igualmente os diferentes pode esconder as suas especificidades e excluí- los do mesmo modo; portanto, ser gente é correr sempre o risco de ser diferente. (MANTOAN et alli, 2006, p. 17). Figura 4 – Acessibilidade. Fonte: Shutterstock, 2015. Com as experiências teórico-práticas vivenciadas, posso afirmar que uma das grandes dificulda- des de incluir alunos com essas necessidades deve-se à abordagem metodológica instrucionista praticada nas escolas: todos devem saber tudo, respeitando um mesmo tempo, ritmo e caminhos, buscando-se promover na escola uma homogeneização de seres heterogêneos. Portanto, incluir crianças especiais, sob a perspectiva metodológica instrucionista, é uma atitude a ser repensada. Dessa forma, percebo que a escola deve rever sua maneira de ensinar e propiciar a aprendiza- gem, respeitando as diferenças, oportunizando aos alunos a descoberta de suas habilidades, ca- 13 pacidades e potencialidades, oferecendo, assim, reais condições para que esses alunos especiais participem do ambiente escolar. Vygotsky (1993) sinaliza para uma mudança, enfatizando a necessidade de uma revisão dos cur- rículos e métodos de ensino, substituindo a abordagem quantitativa por uma abordagem quali- tativa baseada em novos princípios educacionais. Nesse sentido, Perrenoud (1999, p. 46) afirma que uma abordagem para construir competências, tanto de professores como de alunos, seria a “voltada para o desenvolvimento de projetos”. Para Almeida (2000), com o desenvolvimento de projetos, cria-se um melhor ambiente de aprendizagem, com professores e alunos sendo sujeitos participantes de todas as etapas do processo, desde sua concepção até a reflexão final sobre as vivências desencadeadas, os resultados obtidos e a avaliação da aprendizagem. Mantoan et alli (2006) fazem ainda uma crítica aos professores em geral que, além de não terem o conhecimen- to sobre a inclusão, também não possuem a sensibilidade necessária para esse aprendizado. A inclusão é uma possibilidade que se abre para o aperfeiçoamento da educação escolar e para o benefício de alunos com e sem deficiência. Depende, contudo, de uma disponibilidade interna para enfrentar as inovações, e essa condição não é comum aos professores em geral. NÃO DEIXE DE VER... O filme O líder da classe: professor mediador, que narra história real de Brand Cohen, um professor norte-americano que convive com a Síndrome de Tourette desde os 6 anos. Na infância, Brand foi humilhado na escola por colegas e também por profes- sores pelos barulhos e movimentos involuntários que produzia. Já adulto, Brand tentouarrumar emprego em várias escolas, que o recusaram por ter essa doença. Mas, na escola que o aceitou, tornou-se o professor que sempre quis ter. Uma escola que se propõe a utilizar a pedagogia de projetos tem a oportunidade de incluir os alunos com deficiência no momento do planejamento das ações que serão efetivadas com o pro- jeto em desenvolvimento. É uma maneira de enfatizar as qualidades de cada um e proporcionar ganhos para os alunos portadores de deficiência e também para os que não têm, pois ensinar a conviver faz parte de um dos sete saberes necessários para o século XXI de Edgar Morin (2001). 3.3 Projetos educacionais sustentáveis O encantamento pelo saber é inerente ao ser humano. É também uma questão de sobrevivência, pois desde os primórdios é necessário aprender a enfrentar todos os desafios que o meio impõe. A água, por exemplo, faz parte da nossa vida desde a concepção, depois, com status de habitat (no útero) e por necessidades diárias até o fim da vida com hidratação, higiene. O organismo é um comunicador das urgências sentidas. Somos, portanto, indistintamente, abastecidos pelos mesmos insumos que permeiam a vida de todos os outros seres. Vivemos entrelaçados pelo meio, dependemos um do outro para nos mantermos vivos; ainda que não fôssemos seres sociais, se- ríamos interdependentes. Todos precisam da água potável, do ar livre de impurezas – sonoras, inclusive – do solo, etc., enfim, da natureza que nos limita e nos impulsiona, pois, a cada dia, as necessidades que ela impõe nos move a buscar suprimentos. No entanto, a sociedade atual, em uma ânsia pelo consumo, criou necessidades, isto é, acredita que precisa de algo mesmo que isto não seja verdade. Seria apenas um objeto de desejo. E, para consegui-lo, será capaz de trabalhar muito, ou então usará de outros meios para tal. Tudo em nome de uma necessidade artificial, cujo consumo extrai recursos naturais e ainda diminui as possibilidades de seu consumo pelas gerações futuras, tal como consta no conceito oficial de 14 Laureate- International Universities Elaboração e análise de projetos desenvolvimento sustentável: “É a forma com as atuais gerações satisfazem as suas necessidades sem, no entanto, comprometer a capacidade de gerações futuras satisfazerem as suas próprias necessidades” (BRUNDTLAND, 1987, p. 19). Esse documento foi um marco que deu origem a políticas públicas no mundo todo, inclusive no Brasil, com a elaboração da Agenda 21 brasi- leira, que criou ações em frentes de diferentes setores: “Gestão dos recursos naturais; Agricultura sustentável; Cidades sustentáveis; Infraestrutura e integração regional; Redução das desigual- dades sociais; Ciência e tecnologia” (BRASIL, 2004, p. 7). Existe um lugar em comum por onde passam as pessoas responsáveis pela implementação de tais políticas: a escola. É lá que o saber ambiental pode ou não ser estimulado, desvendado. O egoísmo em forma de impulso pelo consumo desnecessário, o desperdício, a competição devem ser interpelados nas escolas desde os primeiros anos escolares. Em troca, valores como cooperação, troca, compartilhamento, redução e frugalidade devem ser ensinados nas escolas para que se formem verdadeiros cidadãos do futuro. E como ensinar cordialidade, desapego, cooperação se não for por meio da educação compartilhada em projetos pedagógicos? Valores assim não se aprendem isoladamente. É necessário o grupo para desenvolver habilidades sociais que levem à sustentabilidade ambiental. Figura 5 – Água como recurso natural. Fonte: Shutterstock, 2015. Um exemplo de prática que relaciona um recurso natural (água) com as atitudes é a história do rei, extraída de Educação ambiental: abordagens múltiplas, de Peralta apud Ruscheinsky (2002, p. 123), que propõe a figura de um narrador que conta a história de um rei doente, que pede aos seus três filhos que busquem a água da vida, única possibilidade de cura para ele, em outro país. Em um dado momento, o narrador cria uma ponte entre o universo imaginário – dado pela narrativa – e a vida real. Retira de uma bolsa, inesperadamente, uma ânfora antiga e diz: “Aqui está a água da vida!”. Começa, então, a derramar na terra a água da vida. Motivados pela história, os participantes tentam segurar, com as mãos em concha, o pouco de água que conseguem reter. Como uma decorrência natural, todos tentam amparar a água que escorre das mãos em concha, uns dos outros, colocando suas mãos embaixo, umas das outras, como se fossem estágios de um sistema. Como resultado final, todos os participantes montam, em grupamentos menores, agregados, um sistema integrado para se represar a água que cai, e não raro a bebem e a compartilham. Recria- -se, assim, a partir desse experimento, a metáfora da água da vida. 15 Duvoisin apud Ruscheinsky (2002, p. 92) alerta para as recomendações da Conferência de Tbilisi em 1977, na ocasião da escrita da Declaração do Meio Ambiente, que existe a necessidade ur- gente da “investigação de novos métodos e desenvolvimento de materiais educativos e há ainda um consenso neste e em encontros subsequentes sobre o enfoque interdisciplinar orientado para a resolução de problemas concretos do meio ambiente”. Nesse enfoque, o objetivo é desenvolver um novo sentido, uma nova percepção da Terra, expressão adotada, segundo Gadotti (2009, p. 30), “para expressar um conjunto de valores, atitudes e comportamentos que demonstram esta nova percepção”. A obra de Manuel Castells, A sociedade em rede, é o primeiro volume da trilogia A era da informação: economia, sociedade e cultura e mapeia um cenário mediado pelas novas tecnologias de informação e comunicação – TICs e como estas interferem nas estruturas sociais. NÃO DEIXE DE LER... Figura 6 – Cidadania planetária. Fonte: Shutterstock, 2015. De acordo com Bárcena apud Gadotti (2009, p. 31), a “formação de uma cidadania ambiental é verdadeiramente planetária, pois, no movimento ecológico, o global e o local se interligam”. Além disso, “A cidadania planetária é por si, uma cidadania integral, portanto, uma cidadania ativa e plena, não apenas em relação aos direitos sociais, políticos, culturais, institucionais, mas também em relação aos direitos econômicos” (GADOTTI, 2009, p. 33). 16 Laureate- International Universities Elaboração e análise de projetos Entre as ações recomendadas pela Organização das Nações Unidas, está a elaboração de uma Agenda 21, um documento que oriente um cronograma de ações para o século 21 de modo a buscar o desenvolvimento sustentável. A Agenda 21 pode ser definida como um instrumento de planejamento para a construção de sociedades sustentáveis, em diferentes bases geográfi- cas, que concilia métodos de proteção ambiental, justiça social e eficiência econômica (BRASIL, 2004). Este documento, a Agenda 21, pode ser formulado desde instâncias macro, como o país como um todo, estados, municípios e instituições, como na própria escola. Alunos, professores, fun- cionários e comunidade se envolvem na elaboração de procedimentos que eduquem e valorizem os recursos naturais. Ações que podem ser desenvolvidas visando não só a um funcionamento sustentável, mas, também, e o mais duradouro, a um aprendizado para toda a vida de quem se propõe a nela trabalhar. Afinal, sem uma educação para uma vida sustentável, o planeta está fadado a ser apenas um espaço de fornecimento de bens para seus moradores, o que traria um esgotamento acelerado dos recursos naturais. A Agenda 21 é um documento concebido na Rio Eco-92 para implantação global, prevendo, em mais de 40 tópicos, as possibilidades de desenvolvimento sustentável para o planeta, em que se possa gerar desenvolvimento sem prejuízos à qualidade de vida do ser humano e às condições ambientais. Pode-se resumir essa filosofia no en- caminhamento das condições de vida do planeta para um ambiente justo e saudável,com o equilíbrio perfeito entre o ser humano, a natureza e a economia, sem prejudicar o desenvolvimento e a qualidade de vida e sem degradar o ambiente planetário. Esse mesmo documento prevê a implantação da Agenda 21 nacional, que deverá ser im- plementada, em cada país, observando-se suas características peculiares e, ainda, a Agenda 21 local que, em tese, deve ser implementada em cada cidade ou localidade onde exista um núcleo humano com necessidades de crescimento e de sustentabilida- de ambiental e econômica, sem prejuízo da qualidade de vida e da degradação dos ecossistemas. O documento prevê ainda o estímulo à elaboração da Agenda 21 em instituições públicas, entre elas, as escolas. Cite um tema que pode ser abordado na Agenda 21 e como ele pode ser vinculado a, no mínimo, três outras disciplinas e suas abordagens específicas no projeto. NÓS QUEREMOS SABER! Ao analisar a obra de Paulo Freire, Pernambuco e Silva definiram a Educação Ambiental da se- guinte forma: [...] uma educação interdisciplinar, transversal, de saberes, atitudes, sensibilidades, dialogando com novos problemas e produzindo reflexões, concepções, métodos e experiências, construindo novas bases para conhecimentos e valores, portadora de uma nova sensibilidade e uma postura ética, comprometida com um projeto de cidadania. (PERNAMBUCO; SILVA, 2009, p. 208). Os ensinamentos de Paulo Freire, referenciados na construção de uma nova sociedade, com base na reflexão sobre a ação educativa e com real significado para os elementos da aprendi- zagem, se coadunam perfeitamente à educação ambiental. Afinal, o ambiente é de todos e para todos e está presente em qualquer lugar do planeta. Dessa forma, se há aprendizagem significa- tiva, ela se encontra na natureza. Sendo assim, não é difícil encontrar temas para desenvolver em projetos de cunho ambiental. Basta olhar em volta, ter uma ideia e desenvolvê-la, sempre com a intenção da sustentabilidade. Sendo assim, para seguir as recomendações da Unesco, é necessário colocar em prática a eco- pedagogia e suas ações transformadoras. Gadotti (2009, p. 65) coloca a ecopedagogia como 17 uma visão, um movimento que “reorienta currículos”. Currículos passam a ter temas embasados em várias ciências, não necessariamente todas as disciplinas da matriz curricular, porém inevita- velmente relacionados ao meio, aos recursos naturais. Aliás, tente pensar em um tema que não tem absolutamente nenhuma relação com o meio ambiente. Conseguiu? Dessa forma, qualquer tema sugerido terá como substrato o meio ambiente; sendo abordado ou não, ele estará lá. O rearranjo que a pedagogia de projetos sugere sobre o currículo pode não impedir de gerar “frustrações, desânimo, incertezas, cansaço, mas também é o espaço onde se vivenciam rea- lizações, compromissos ético-políticos que vão configurando outros profissionais e outros edu- candos”, como se referiu Arroyo (2013, p. 10). Permitir que o aluno vivencie situações, ainda que simuladas, que o façam refletir e agir adequadamente, de maneira ética com a natureza e com os outros seres. Os momentos com os alunos que abordem temas realmente pertinentes às necessidades individuais, mas, sobretudo, às coletivas, certamente moldarão um novo olhar e um novo agir sobre as questões que envolvem a vida, ou melhor, todas as formas de vida. Ensinar a viver e a deixar viver. Projetos pedagógicos que transmitem não apenas valores éticos, mas conhecimento científico útil para a busca incessante da sustentabilidade. Pressupõe-se, contudo, que a questão ambiental, facilmente inserida no contexto de qualquer uma das disciplinas, deve permear todo e qualquer projeto pedagógico que a escola elabora e executa, pois o compromisso com o futuro sustentável depende do conhecimento adquirido pelos jovens e crianças. 3.4 Diversidade em projetos educacionais Figura 7 – Diversidade na escola. Fonte: Shutterstock, 2015. Diversidade é um tema que pode estar classificado em inúmeros contextos. Diferenças étnicas e de orientação sexual são exemplos da necessidade de saber como lidar com o que se considera diferente. O papel do professor, nesse aspecto, é de extrema importância em uma sociedade que pretende, por direito, tratar a todos como iguais. A Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) em parceria com o Ministério da Educação (MEC) e o Instituto Nacional de Pesquisas (Inep) aplicou uma pesquisa para analisar a abrangên- cia e incidência do preconceito e da discriminação em 7 áreas temáticas: étnico-racial, gênero, geracional, territorial, orientação sexual, socioeconômica e de necessidades especiais. Mais de 18 Laureate- International Universities Elaboração e análise de projetos 18 mil pessoas, de diferentes grupos envolvidos, responderam à pesquisa que tem a seguinte conclusão: O preconceito, a distância social e práticas discriminatórias estão presentes no ambiente escolar em todos os atores, especialmente nos alunos. As pessoas não assumem que são preconceituosas, contudo, estão predispostas a manter distância social de outros grupos. Seria oportuno iniciar e potencializar um processo de mudança no ambiente escolar para promover a diversidade por meio de um plano, envolvendo: ações para disseminação de informações (condição necessária, mas não suficiente para a promoção de mudanças); ações específicas e pontuais que visem à mudança de comportamento e, principalmente, no longo prazo, ações para a mudança de valores dos agentes escolares em relação ao preconceito e à discriminação. (FIPE, 2009). O papel dos agentes escolares citados na conclusão da pesquisa merece destaque porque, se há discriminação e atitudes preconceituosas por parte destes, certamente serão percebidas pelos alunos e copiadas. Souza e Poli (2012, p. 3) afirmam que “na maioria dos casos nossos professores não sabem como fazer quando as desavenças são manifestadas com fortes estereótipos, e preconceitos”. 3.4.1 As questões de gênero e orientação sexual na escola Ferreira e Luz in Luz et alli (2009, p. 24) colocam o sexo como um dado biológico e gênero como uma construção cultural. Segundo as autoras, é preciso “descolar o sexo do gênero para enten- der as questões culturais que envolvem o comportamento e características femininas e masculinas nas mais diferentes sociedades e culturas”. Sayão (1997, p. 113), explica que “o trabalho de orientação sexual desenvolvido pela escola deve diferenciar-se, pois, da abordagem assistemática realizada pela família”, que pode se reve- lar marcada por preconceitos. Ferreira in Luz et alli (2009, p. 19) enfatiza que “a sexualidade não é apenas um conjunto de atos e reflexos herdados ou adquiridos na convivência social. Ela é também uma forma de atender às exigências psicológicas do indivíduo. [...] Sexualidade é a autoidentidade”. Um quadro que ilustra os estereótipos atribuídos ao masculino e feminino é transcrito a seguir para demonstrar o quanto os estereótipos podem marcar a identidade de uma pessoa de modo a con- ferir-lhe uma generalização preconceituosa e marcada pelo desconhecimento da individualidade: MASCULINO FEMININO Objetividade Senso comum Universalidade Localidade Racionalidade Sensibilidade Neutralidade Emoção Dominação Passividade Cérebro Coração Controle Descontrole Conhecimento Natureza Civilizado Primitivo Público Privado Quadro 2 – Estereótipos culturais para o masculino e o feminino. Fonte: Adaptado de Ferreira e Luz in Luz et alli, 2009. 19 Ao abordar a questão de gênero como construção social, passa-se a desconfiar dos dualismos universais, isto é, olhar as mulheres como todas iguais e os homens também. Sob esse prisma, as noções de gênero como algo construído pela sociedade e as diferenças tidas como inatas caem por terra e o preconceito não encontra apoio para hostilizar. Quando o professor encontraesse caminho de desconstrução cultural dos conceitos existentes, descobre que é possível favorecer o bom convívio, independentemente do gênero e da orienta- ção sexual. A abordagem formal desse tema é complexa e cercada de tabus. Muitas são as ciências que tentam explicar essa questão: Medicina, Psicologia, Psiquiatria, Biologia, Filosofia e Sociologia. No entanto, foi preciso um autor que desconstruísse os parâmetros e as análises objetivas sobre esse tema. Giddens (1992) focou a questão da sexualidade na individualidade, isto é, cada qual tem sua própria sexualidade. Essa visão corrobora Freire (2003, p. 45), que salienta que “educar é construir, libertar homens e mulheres do determinismo, passando a reconhecer o seu papel na história, considerando a sua identidade cultural na sua dimensão individual e coletiva”. A aplicação da pedagogia de projetos na escola é compatível com a diversidade, pois permite ao aluno demonstrar suas habilidades que talvez não pudessem ser percebidas em um ambiente de escola tradicional. Santos e Farias in Luz et alli (2009, p. 91) propõem diferentes “meios para ensinar sobre as ques- tões de gênero. Filmes, literatura, artefatos tecnológicos e mídia impressa de conteúdo emanci- patório e não sexista”. Esses instrumentos pedagógicos podem acrescentar, ilustrar os projetos, que, por sua vez, dão vazão à criatividade e ao conhecimento do outro. Dessa forma, a adesão à pedagogia de projetos é uma maneira de quebrar mais este paradigma: o do preconceito, pois a metodologia aplicada nas atividades motiva a interação entre os alunos que, em vez de ficarem dispostos em fileiras, poderão interagir com maior proximidade, fator que agrupa os diferentes e permite um convívio de acordo com os preceitos de uma escola que pretende buscar um caminho de compreensão. A diversidade ganha corpo nas discussões atuais, algo que não acontecia há vinte anos nas escolas. Hoje, a regra é quebrar tabus e desconstruir preconceitos. Cabe ao professor, isento de imagens pré-construídas, ou seja, livre de preconceitos, conduzir seus alunos a um caminho de paz, grande objetivo da humanidade. 20 Laureate- International Universities Síntese • Neste capítulo, foi feita uma abordagem sobre temáticas consideradas contemporâneas na educação. Sob influência de alguns autores como Edgar Morin, Paulo Freire, Moacir Gadotti, Manuel Castells, entre outros especialistas do nosso tempo, foram discorridos fenômenos decorrentes do multiculturalismo, dos problemas ambientais, da globalização, da diversidade e das questões que envolvem as minorias como tópicos imprescindíveis para a formação dos educadores do nosso tempo. • O primeiro tema especificamente abordado refere-se às tecnologias de informação e comunicação (TDICs) e sua influência na metodologia que emprega os projetos pedagógicos, apresentando algumas maneiras de utilizar essas tecnologias e a influência que elas, as TDICs podem suscitar. • A segunda temática diz respeito aos projetos educacionais inclusivos. Neste tópico, foram abordadas as questões sobre as exigências legais que são impostas à escola de modo a atender os alunos portadores de deficiência. Os projetos, nesse caso, seriam uma alternativa de metodologia para valorizar as habilidades dos alunos e também incentivar o contato e a compreensão por parte dos outros alunos e dos professores. • O terceiro tema considerado contemporâneo neste capítulo é o meio ambiente e a necessidade de estimular uma educação por meio de projetos interdisciplinares cujo pano de fundo seja desenvolvimento sustentável. Para isso, foram elencados alguns conceitos considerados imprescindíveis para praticar uma educação ambiental de amplo espectro na pedagogia de projetos. • E, finalmente, o último tema aborda as questões da diversidade na escola, mais especificamente, como os projetos podem ser enriquecidos com a diversidade, seja ela de origem étnica-racial, de gênero ou de orientação sexual, analisados sob um foco especial. Síntese 21 Referências ALMEIDA, F. J.; FONSECA JÚNIOR, F. M. Aprendendo com projetos. In: Projetos e ambientes inovadores. 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