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AULA DE HERMENÊUTICA - UNIP – 2010 2/11/2010 “Tinha uma pedra no meio do caminho No meio do caminho tinha uma pedra Tinha uma pedra no meio do caminho Nunca me esquecerei desse acontecimento Na vida de minhas retinas tão fatigadas Nunca me esquecerei que Tinha uma pedra no meio do caminho No meio do caminho tinha uma pedra Tinha uma pedra no meio do caminho.” Carlos Drumonnd de Andrade “Eu só queria te contar, que eu fui lá fora e vi dois sóis num dia e a vida aqui ardia sem explicação sem explicação, explicação....” Nando Reis FAIXA DE GAZA- 2009 A palavra grega HERMEIOS remete ao Deus Hermes, que segundo a mitologia grega foi o descobridor da linguagem e da escrita. Hermes foi o deus que descobriu o objeto utilizado pela compreensão humana para alcançar o significado das coisas e para transmitir esse significado para as pessoas. O deus Hermes era ligado a uma função de transmutação, transformava aquilo que a compreensão humana não alcançava em algo compreensível. Ele era o canal de comunicação entre os deuses do Olimpo e os homens, transmitindo mensagens. Hermes era fruto de uma aventura extraconjugal de Zeus com a ninfa Maya. Ele assumiu as funções de conselheiro e mensageiro de Zeus entre os homens, sendo conhecido também por seu caráter ardiloso e dissimulado. Recebeu o pouco elogiável título de “Duque dos Ladrões”, porque furtou de Apolo 50 dos melhores exemplares de seu rebanho. ALGUMAS REFLEXÕES: O direito é uma ciência? A ciência contemporânea está mergulhada em uma crise, uma transição entre o paradigma da ciência moderna e da ciência pós-moderna; Boaventura Sousa Santos sugere que façamos um perfil teórico-sociológicos da ciência pós-moderna e que utilizemos para isso de uma hermenêutica de suspeição e de recuperação. Em outras palavras, ele entende que a reflexão sobre a ciência que se faz não pode escapar ao círculo hermenêutico, o que significa dizer que não podemos compreender qualquer das partes sem saber como trabalha o seu todo e vice- versa, não podemos compreender a totalidade sem termos alguma compreensão de como trabalham suas partes. O princípio hermenêutico é o de que a parte é tão determinada pelo todo como o todo pelas suas partes, conforme já ensinava Gadamer. (Hans-Georg Gadamer, que ficou conhecido como o autor de "Verdade e Método - Esboços de uma Hermenêutica Filosófica" – faleceu em março de 2002 aos 102 anos de idade e 42 após haver publicado sua obra maior). Hermenêutica: Boaventura de Souza Santos afirma que a hermenêutica nos permitirá compreender criticamente a ciência contemporânea; A hermenêutica transforma o distante em próximo, o estranho em familiar, através de um discurso racional, numa linguagem compreensível. Ele acredita que dessa maneira a ciência se torna relevante para nós, nos enriquece e contribui para aprofundar a autocompreensão do nosso papel na construção da sociedade. CIÊNCIA COMO ALGUMA COISA DISTANTE DO SER HUMANO COMUM Discurso científico é diferente do discurso comum, e tem mesmo que ser diferente; A matriz desse distanciamento aparece desde Bacon, Locke, Hobbes e Descartes, no século XVII; A própria comunidade científica tem dificuldade para compreender o que se passa nos diferentes habitáculos do conhecimento científico. Para Boaventura de Souza Santos a reflexão hermenêutica torna-se, assim, necessária para transformar a ciência, de um objeto estranho, distante e incomensurável com a nossa vida, num objeto familiar e próximo que, não falando a língua de todos os dias, é capaz de nos comunicar os seus objetivos, os seus limites, o que realiza aquém e além deles. Compreender a ciência é compreendê-la enquanto prática social de conhecimento, uma tarefa que vai se cumprindo em diálogo com o mundo e que é, afinal, resultado das opressões e das lutas que o compõem e que nos compõem. Em relação às ciências sociais, a reflexão hermenêutica tem um duplo cabimento: tornar compreensível o que as ciências sociais são na sociedade e o que elas dizem sobre a sociedade. CONHECIMENTO E PODER Objetos teóricos se transformam em objetos sociais que podem ser apropriados pelos sujeitos sociais; Quem puder se apropriar de mais conhecimento terá mais poder e todos os que forem relegados a não ter conhecimento, terão maior dificuldade para ter poder. COMO CONSTRUIMOS CONHECIMENTO? Relação entre um SUJEITO COGNOSCENTE e um OBJETO COGNOSCÍVEL; Primeira forma de construir conhecimento: nossos próprios sentidos e a observação da natureza; Mas isso não é suficiente, porque muitas vezes nossas impressões sobre a natureza são equivocadas. Por exemplo: a Terra não é quadrada e nem fica parada enquanto o Sol se movimenta.... A necessidade de uma reflexão crítica sobre as observações que o Homem faz, fez surgir a Filosofia e a Ciência “como modos diferenciados de operar o conhecimento de forma mais rigorosa. Pedro Demo afirma que o processo de evolução da humanidade está diretamente vinculado à qualidade do conhecimento adquirido. Mas, para isso, é necessário que o conhecimento “se elabore e reelabore no âmbito educativo”. O autor quer dizer com isso que nós herdamos de forma consciente, ou inconsciente, uma enorme quantidade de conhecimentos que tendemos a reproduzir e desenvolver, mas que só conseguimos atualizar em consonância com novas perspectivas e necessidades do momento que vivemos. Hegel apontou para o caráter dialético do conhecimento, como produto de uma síntese entre sujeito e objeto, ou seja, entre racionalidade e realidade. Dialético no sentido heggeliano é a SÍNTESE DOS OPOSTOS, ou seja, “é a resolução das contradições em que se enreda a realidade finita, que como tal é objeto do intelecto.” Em outras palavras, Hegel afirma que é preciso reconhecer a inseparabilidade dos contraditórios, e em descobrir o princípio dessa união numa categoria superior. GASTON BACHELARD definiu que o importante é perceber que o conhecimento é produto de uma relação que se dá em um contexto histórico. Afinal, para que se busca o CONHECIMENTO? Porque o homem quer conhecer a VERDADE DOS FATOS; VERDADE, em sentido científico, pode ser compreendida como: O ATRIBUTO DE UMA PROPOSIÇÃO DE CARÁTER LÓGICO CUJO OPOSTO É A FALSIDADE. VERDADE X DOGMA Dogma é uma verdade a priori, é algo que aceitamos como verdade já no ponto de partida de nosso raciocínio e que, portanto, não questionamos; O pensamento ou a atitude dogmática é aquele que trata seus objetos de conhecimento a partir de pressupostos aceitos como verdadeiros, dispensando reflexão; As coisas, as leis, a vida já nos vêem apresentadas como dadas, pensadas e acabadas; Ser contra dogmático significa ser CRÍTICO. Ser CRÍTICO é adotar uma atitude reflexiva diante do mundo. “ A atitude crítica não trata o conhecimento como uma caixinha fechada onde está contida uma quantidade determinada de informações acumuladas, mas como o processo cognitivo que capacita o homem para a ação.” Mezzaroba afirma que “ O dogmatismo é irmão gêmeo da intolerância e por isso é perigoso.” Ele cita exemplos de dogmatismo muito trágicos para o mundo. Os confrontos entre israelenses e palestinos, todos acreditando em suas verdades dogmáticas e sem nenhuma compreensão para as razões e argumentos alheios. Hitler e seus dogmas arianos de superioridade da raça. Os sérvios e a limpeza étnica promovida na Bósnia. O fundamentalismo islâmico que não vê verdades fora do Alcorão e de sua interpretação desse texto sagrado. O QUE É UM PARADIGMA??? Paradigma é toda a constelação de crenças, valores e técnicas compartilhados por membros de um dado agrupamento em determinado momento histórico; PARADIGMA SOCIAL temos um perfil de como a sociedade se organiza, como identificaseus problemas, o modo pelo qual se habitua a respondê-los, o modo de produção econômica, sua forma de organização política e jurídica, enfim, seu modo de desenvolvimento. PARADIGMA EPISTEMOLÓGICO temos a forma como a atividade científica enfrenta seus objetos de pesquisa. O termo paradigma foi introduzido no campo da Ciência por Thomas Khun, em seu clássico livro A ESTRUTURA DAS REVOLUÇÕES CIENTÍFICAS. Este pensador percebeu que quando um paradigma é aceito pela maioria da comunidade científica, ele acaba impondo-se como um modo obrigatório de abordagem dos problemas. Um novo paradigma só surge, então, com a mudança de velhas crenças e formas de pensar. No momento, os cientistas de várias áreas do conhecimento humano como a Física, a Química, a Biologia, a Filosofia, a Administração e o Direito apontam para o esgotamento do PARADIGMA DA MODERNIDADE, que surgiu e evoluiu entre nós a partir do Iluminismo, no século XVIII. É por isso que Boaventura de Sousa Santos, afirma que estamos vivendo uma transição paragmática, uma fase que ele define como semi-cega e semi- invisível. No entender de muitos cientistas o novo paradigma é o da pós-modernidade. FINALIZANDO: Como você, como estudante de direito, se sente em relação ao Direito como Ciência? Como você sente que essa discussão poderá repercutir na sua prática profissional como juiz, promotor, advogado, defensor público, delegado...?
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