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Introdução ao metabolismo Juliano Lemos Bicas Universidade Estadual de Campinas Faculdade de Engenharia de Alimentos Departamento de Ciência de Alimentos TA514 – Bioquímica de Alimentos 1 Sumário Introdução Conclusão Como a energia é gerada? - O papel do ATP Vias metabólicas - Aspectos gerais - Regulação das vias metabólicas Introdução ao Metabolismo Cada reação é catalisada por uma enzima específica O metabolismo - Seres vivos estado estacionário (≠ equilíbrio!); - Necessidade constante de energia; - Conjunto de reações químicas manutenção das funções biológicas; Energia Homeostase O que é metabolismo? Um pouco sobre termodiâmica... ΔG = variação da energia livre ΔG° = variação da energia livre padrão, determinada em condições específicas: 25°C, 1atm, [reagentes] = 1M, pH = 0 ΔG°’, utilizada em bioquímica. Determinada em condições de: 25°C, 1atm, [reagentes] = 1M, pH = 7 ΔG = ΔG°’ + R.T.ln([C]ic.[D]id)/([A]ia.[B]ib) aA + bB cC + dD O metabolismo - ΔG varia com a [reagentes]: G = H - TS No equilíbrio, deltaG’ = 0, portanto deltaG°’ = -2,3 RT log(K’eq) 6 Reações reversíveis e irreversíveis ΔGo’ < 0: reação espontânea, tende a ocorrer no sentido A B ΔGo’ > 0: reação não espontânea, tende a ocorrer no sentido B A ΔGo’ = 0: reação tende a permanecer em equilíbrio [B]/[A] = Keq O metabolismo Reações c/ ΔGo’ > 0 podem ser revertidas em dois casos: A B - alteração nas [reagentes], de forma que ΔG’ < 0 - acoplamento com outra reação com ΔGo’ < 0 (vide adiante) “Nas transformações em que há liberação de energia, o sistema que sofreu a transformação tem, no estado final, um conteúdo energético menor que o estado inicial; estas transformações são ditas espontâneas. (...) O fato de uma reação ser espontânea não significa que ela ocorrerá imediatamente, tão logo se ponham em contato os reagentes; significa, tão-somente, que, se ocorrer, haverá liberação de energia. Em outras palavras, a espontaneidade da reação está completamente desvinculada de parâmetros cinéticos, como a velocidade” (Marzocco, p. 49) Delta G muito negativo não significa alta tendência a ocorrer. Quer dizer apenas que se ocorrer, ela liberará grande quantidade de energia. (Marzocco, p. 54) DeltaG is a measure of the distance of a system from its equilibrium position. When a reaction has reached equilibrium, no driving force remains and it can do no work: DeltaG = 0. (Lehninger 5ª ed. P. 24) 7 Sumário Introdução Conclusão Como a energia é gerada? - O papel do ATP Vias metabólicas - Aspectos gerais - Regulação das vias metabólicas Vias metabólicas Vias metabólicas - Série de reações consecutivas que produzem produtos específicos; - Metabólitos: reagentes, intermediários ou produtos dessas vias; - Muitas vias se inter-relacionam (intermediários comuns); - Duas categorias: Catabolismo degradação, produção de energia; Anabolismo biossíntese, consumo de energia; Principais fontes de energia = ATP e NADPH Vias metabólicas Características gerais das vias metabólicas: 1. São irreversíveis, porém pode haver contornos 2. Vias catabólicas são diferentes das anabólicas 3. Todas são reguladas 4. Em eucariotos: ocorrem em localizações celulares específicas Rotas de síntese e degradação diferem em pelo menos 1 reação Ambas termodinamicamente favoráveis mesmas condições Permite que sejam independentemente controladas A B C D S P E F Sumário Introdução Conclusão Como a energia é gerada? - O papel do ATP Vias metabólicas - Aspectos gerais - Regulação das vias metabólicas Regulação (recíproca) das vias de síntese e degradação Manutenção da homeostase (equilíbrio dinâmico), frente a variações no fluxo (resposta à demanda); Evitar ciclo “fútil”; Ocorre em pontos onde as reações podem ser independentemente controladas (reações irreversíveis) Onde, como, por que? Regulação das vias metabólicas A B 6CO2 + 18ATP + 12NADPH + 12H+ + 12H2O glicose + 18ADP + 18Pi + 12NADP+ 6 CO2 + 6 H2O 6 Ru1,5P 6 Ru5P 12 3-fosfoglicerato 12 1,3-BFG 3 G3P 3 DHKP 3 F1,6P 2 F6P + 1 F6P 1 G6P 2 Xu5P 2 E4P 2 S1,7P 2 S7P 2 Xu5P 2 R5P 3 G3P 2 G3P 2 G3P 3H2O 3Pi 2 DHKP 2 G3P 2H2O 2Pi 12ADP 12ATP 12NADPH 12NADP+ + 12Pi 6ATP 6ADP 1 3 4 2 5 6 7 8 9 5 10 11 12 13 Exemplo: Ciclo de Calvin (fotossíntese) Regulação das vias metabólicas Etapa Enzima ΔG°’ (KJ/mol) ΔG (KJ/mol) 1 Fosforribulocinase –21,8 –15,9 2 Ribulosebisfosfatocarboxilase –35,1 –41,0 3 + 4 Fosfogliceratocinase+ Gliceraldeído-3-fosfatodesidrogenase +18,0 –6,7 5 Triose fosfatoisomerase –7,5 –0,8 6 Aldolase –21,8 –1,7 7 Frutosebifosfatase –14,2 –27,2 8 Transcetolase +6,3 –3,8 9 Aldolase –23,4 –0,8 10 Sedoeptulosebifosfatase –14,2 –29,7 11 Transcetolase +0,4 –5,9 12 Fosfopentoseepimerase +0,8 –0,4 13 Ribose fosfatoisomerase +2,1 –0,4 Mudanças nas Energias Livres Padrão (ΔG°’) e Fisiológica (ΔG) para as reações do ciclo de Calvin Regulação das vias metabólicas Voet & Voet, p. 901 14 Estratégias de regulação metabólica 1. Interações alostéricas Interações não-covalentes Detecção rápida de sinais Ajuste da atividade c/ sinais Ex.: Fosfofrutoquinase, Acetil-CoA carboxilase Regulação das vias metabólicas 1. Interações alostéricas 2. Modificação covalente Ex.: fosforilação enzimática Com frequência em resposta a hormônios Cascatas de amplificação Mais duradouras (s a min) que interações alostéricas (ms a s) Ex.: glicogênio sintase Estratégias de regulação metabólica Regulação das vias metabólicas Principais hormônios com efeito nas vias de produção de energia Produzida no pâncreas em resposta ↑[glicose] (sinaliza estado alimentado) ↑[glicose] = Produzida no pâncreas em resposta ↓[glicose] (Parênteses) Insulina Glucagon Adrenalina Desfosforilação enzimática Fosforilação enzimática ↑insulina ↓glucagon ↓[glicose] = ↓insulina ↑glucagon Envolvido em Envolvido em Produzida na medula adrenal em resposta a situações que requerem elevada atividade (fuga, luta etc) Regulação das vias metabólicas 1. Interações alostéricas 2. Modificação covalente 3. Ajustes nos níveis enzimáticos Altera velocidade de síntese e degradação de enzimas Longo prazo (h ou dias) Basicamente altera frequência de transcrição do gene Depende da [S] ou da presença de hormônios Estratégias de regulação metabólica Regulação das vias metabólicas Ex.: colesterol = Inibe síntese e tradução do RNAm para HMG-CoA redutase; Aumentam velocidade de degradação da HMG-CoA redutase; Inibe síntese de receptores de LDL (< incorporação e > [ ] plasmática). 18 1. Interações alostéricas 2. Modificação covalente 3. Ajustes nos níveis enzimáticos 4. Compartimentação Células eucarióticas Citoplasma: Via glicolítica Via pentoses-fosfato Síntese AG Memb. mitocondrial interna: Fosforilação oxidativa Matriz mitocondrial: β-oxidação Ciclo de Krebs Cetogênese Gliconeogênese Ciclo da ureia Estratégias de regulação metabólica Regulação das vias metabólicas 19 1. Interações alostéricas 2. Modificação covalente 3. Ajustes nos níveis enzimáticos 4. Compartimentação 5. Especialização metabólica dos órgãos Órgãos com diferentes papeis metabólicos Resultado da expressão gênica diferenciada Estratégias de regulação metabólica Regulação das vias metabólicas Sumário Introdução Conclusão Como a energia é gerada? - O papel do ATP Vias metabólicas - Aspectos gerais - Regulação das vias metabólicas De onde vem a energia? - Quimiotróficos: energia proveniente da oxidação de compostos; - Fototróficos: energia proveniente da luz; Quimiolitotróficos: oxidação de compostos inorgânicos Quimiorganotróficos: oxidação de compostos orgânicos Carboidratos Lipídeos Proteínas CO2 H+ + e– Coenzimas (oxidadas) Coenzimas (reduzidas) O2 + ADP + Pi + H2O ATP Fontes de acoplamento de energia Sumário Introdução Conclusão Como a energia é gerada? - O papel do ATPVias metabólicas - Aspectos gerais - Regulação das vias metabólicas O papel do ATP - Para que a energia derivada da oxidação dos compostos orgânicos possa ser aproveitada pelas células, ela deve estar sob a forma de ATP. - Portanto, ATP = moeda energética das células (transmissor de energia livre e não um reservatório!). - Energia química armazenada no ATP: processos químicos (ex: biossíntese); processos mecânicos (ex: contração muscular); processos elétricos (ex: condução estímulo nervoso); processos osmóticos (ex: transporte ativo através de membrana); processos luminosos (ex: bioluminescência); Visão geral Adenosina Fosfato Fosfato Fosfato Ribose Adenina O papel do ATP - ATP AR-P~P~P (ATP) Ligação de alta energia (ΔGo’ < –25 KJ/mol) 25 O papel do ATP - ATP, ADP, AMP ATP ADP AMP PPi Pi Pi Pi Pi + H2O H2O H2O H2O 26 O papel do ATP - ATP, ADP, AMP Reação ΔGo’(KJ/mol) Fosfoenolpiruvato –61,9 1,3-bisfosfoglicerato ( 3-fosfoglicerato) –49,3 Fosfocreatina –43,0 ADP ( AMP +Pi) –32,8 ATP ( ADP +Pi) –30,5 ATP ( AMP +PPi) –45,6 AMP ( adenosina +Pi) –14,2 PPi( 2Pi) –19,2 Glicose-1-fosfato –20,9 Frutose-6-fosfato –15,9 Glicose-6-fosfato –13,8 Glicerol-1-fosfato –9,2 Energia livre padrão de hidrólise de alguns compostos fosforilados Lehninger 5ª ed. p. 505 27 O papel do ATP Fluxo de grupos fosforila ATP atua como “condutor” de energia entre doadores de fosfato com “alta energia” e aceptores de fosfato de “baixa energia” (Voet & Voet, p. 568-9) 28 O papel do ATP - Exemplo de como o ATP atua como “doador” de energia Glicose + Pi Glicose-6-P + H2O ΔG°’ = +14 KJ/mol ATP + H2O ADP + Pi ΔG°’ = -31 KJ/mol Glicose + AR-P~P~P Glicose-6-P + ADP ΔG°’ = -17 KJ/mol X + Y XY ΔG°’ > 0 X + AR-P~P~P X-P + ADP ΔG°’ < 0 X + Y + ATP XY + ADP + Pi ΔG°’ < 0 X-P + Y XY + Pi ΔG°’ < 0 Reversão de reações c/ ΔGo’ > 0 O papel do ATP Formação do ATP - Fosforilação em nível de substrato - Fosforilação oxidativa Transferência direta de grupo fosfato (composto “alta energia” ADP); Comumente nos estágios iniciais do metabolismo de carboidratos. Resultado de um gradiente de [H+] por uma membrana (cadeia transportadora de elétrons/fotossíntese); Maior parte do ATP produzido em organismos que respiram e fotossintéticos. Fosfoenolpiruvato + H2O Piruvato + Pi ΔG°’ = -62 KJ/mol ADP + Pi ATP + H2O ΔG°’ = +31 KJ/mol Fosfoenolpiruvato + ADP Piruvato + ATP ΔG°’ = -31 KJ/mol O que vem por aí... Corpos cetônicos Ácidos graxos NADH FADH2 ATP síntese / oxidação ácidos graxos Glicogênio Triacilgliceróis Fosforilação oxidativa ATP Proteínas Aminoacidos glicogênicos Aminoacidos cetogênicos Acetil-CoA NADH FADH2 C.K. Glicose-6-fosfato Piruvato Glicose fosfoenolpiruvato ATP Lactato Nucleotídeos Via das Pentoses-fosfato NADPH Ribose-5P oxalacetato ATP glicólise / gliconeogênese Sumário Introdução Conclusão Como a energia é gerada? - O papel do ATP Vias metabólicas - Aspectos gerais - Regulação das vias metabólicas Próxima aula: Via glicolítica e gliconeogênese Conclusão Metabolismo: - Série de reações bioquímicas - Dinâmico, complexo, com diversas vias inter-relacionadas - Catabolismo + anabolismo ATP: - Papel central na bioenergética Regulação das vias: - Necessário para manter homeostase - Reações irreversíveis: candidatas a pontos de regulação - Interações alostéricas, modificação covalente (sensibilidade e hormônios) entre outros Explique o que é AMPc (AMP ciclo). Explique o que são proteína cinases e qual sua importância para o metabolismo. Como AMPc e Ca2+ podem mediar a regulação dessas enzimas. Descreva a cascata enzimática de regulação do metabolismo de glicogênio. Explique o que são zimogênios, comente sobre sua importância e cite exemplos. Questões complementares Berg, J.M.; Tymoczko, J.L.; Stryer, L. Bioquímica. 6a. Ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2008. Nelson, DL; Cox, MM. Lehninger - Princípios de bioquímica. Traduzido por Simões, A. A.; Lodi, W. R. N. 3ª ed. São Paulo: Sarvier, 2002. Marzzoco, A; Torres, BB. Bioquímica básica. 3a. Ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2007. Voet, D; Voet, JG. Bioquímica. 3a. Ed. Porto Alegre: Artmed, 2006. Bibliografia
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