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Ressonância Magnética 1. Introdução “Fenômenos de ressonância ocorrem em vários sistemas físicos. Sempre que um sistema apresentar freqüências naturais de vibração, ele pode ser excitado pela ação de um agente externo que esteja em ressonância com aquelas vibrações naturais.” 1 A Ressonância Magnética (RM) é um fenômeno físico estudado há cerca de 50 anos. Consiste da troca de energia entre força periódica (ondas eletromagnéticas) e corpos em movimento. A condição para que aconteça o fenômeno da Ressonância é que a freqüência das ondas eletromagnéticas seja exatamente igual à freqüência de movimentos dos corpos. 2 A técnica possui várias aplicações nas áreas da física, biologia e química. Fundamenta-se em três etapas: alinhamento, excitação e detecção de radiofreqüência. Neste artigo será apresentado, de forma introdutória e simplificada, como é realizado a Ressonância Magnética, e algumas de suas aplicações. Para isso, será abordado inicialmente, o processo de obtenção de imagens por RM na medicina, onde a técnica é mais comum. 2. O Spin Além da massa e carga, descobriu-se mais uma propriedade elementar das partículas, o spin. As partículas, como o elétron, possuiem um momento magnético, que é interpretado como conseqüência do movimento giratório dessa partícula em torno do próprio eixo ou, mais precisamente, do momento angular intrínseco, chamado spin. Este é quantizado, só pode ser múltiplos inteiros de ½. 3 O campo criado gera um dipolo magnético conforme ilustra a Figura 1. Figura 1: Spin gerando dipolo magnético O Momento angular do núcleo é causado pela desigualdade entre prótons e elétrons no átomo, algo comum no espaço. A magnitude do dipolo gerado pode ser expressa pela Equação 1: (1) Onde µ é uma grandeza vetorial proporcional a I (número quântico de spin) sendo gama a constante de proporcionalidade chamada de ApostilasBrasil.com Seu Futuro é o Nosso Presente! constante magnetogírica que é característica de cada núcleo. De acordo com esta fórmula podemos observar que núcleos atômicos com I=0 não terão momento magnético nuclear. Assim C12 e O16 estão entre os grupos de nuclídeos que não podem ser observados em RM. 4 Núcleos como 1H, 13C, 19F 31P podem ser considerados como pequeníssimos imãs, sem orientação preferida na ausência de um campo magnético e apresentam µ=1/2 sendo os mais estudados em RM. 4 Na ausência de um campo magnético os núcleos estariam girando ao acaso conforme ilustra a Figura 2: Figura 2: Spins nucleares em sentidos aleatórios Essa distribuição aleatória faz com que a magnetização resultante de um volume de tecido seja igual a zero. As partículas estão em contínua movimentação na matéria que compõe as moléculas, e assim como induzem, também ficam submetidas a forças devido ao campo magnético. 3. Polarização Magnética A ordenação dos campos magnéticos atômicos, provocada por um campo magnético externo é chamada polarizaçào magnética. 5 Em uma RM realizada em tecido humano, prefere-se a utilização do átomo de Hidrogênio por três motivos básicos: 6 • É o mais abundante no corpo humano: cerca de 10% do peso corporal se deve ao hidrogênio; • As características de RM se diferem bastante entre o hidrogênio presente no tecido normal e no tecido patológico; • O próton do hidrogênio possui o maior momento magnético e, portanto, a maior sensibilidade a RM. Quando o tecido analisado fica sob ação de um campo magnético externo de grande energia, os núcleos se orientam de acordo com a direção do campo aplicado, “como se fossem pequenas bússolas; porém, ao contrário das bússolas, que apontariam seu norte marcado na agulha para o sul magnético, os prótons de hidrogênio apontam tanto paralelamente quanto antiparalelamente ao campo. As duas orientações representam dois níveis de energia que o próton pode ocupar: o nível de baixa energia (alinhamento paralelo) e o nível de maior energia (alinhamento antiparalelo)”, como mostra a Figura 3. 6 No modelo quântico, um dipolo nuclear somente pode ter 2I+1 orientações com o campo, correspondendo a 2I+1 níveis de energia. O próton de hidrogênio (I=1/2) possui duas possíveis orientações, que correspondem aos níveis de baixa e alta energia. 6 Quando o momento magnético µ é µ=1/2 ele é alinhado ao campo magnético externo. É o estado de energia mais baixo (orientação energeticamente preferida), já para µ=-1/2, o momento angular está antiparalelo ao campo externo e tem energia maior. 5 Figura 3: Prótons de hidrogênio sob ação do campo magnético externo aplicado A distribuição dos spins nos dois níveis é regida pela distribuição de Boltzmann (Equação 2): 6 (2) onde: NP: número de spins alinhados paralelamente; NAP: número de spins alinhados anti-paralelamente; k: constante de Boltzmann (k=1,3805x10 -23 joules/kelvin); T: temperatura absoluta, em kelvin. 4. Movimento de precessão e equação de Larmor A medida que a força do campo aumenta a diferença em energia entre os dois estados de spin aumenta, conforme ilustra a Figura 4: 5 Figura 4: Energia x Campo magnético ApostilasBrasil.com Seu Futuro é o Nosso Presente! A interação do campo magnético externo, que aponta para cima, com o campo magnético nuclear que aponta para outra direção, faz com que o núcleo gire como um “pião” que está perdendo a força, como ilustra a Figura 5: Figura 5: Movimento de precessão A freqüência com que estes núcleos vão girar, na presença de um campo externo, será a freqüência de Larmor, dada pela Equação 3, conhecida como Equação Fundamental da RM: 5 (3) Essa freqüência é similar às utilizadas nas faixas de rádios FM, e varia em proporção à magnitude do campo magnético externo aplicado. A ressonância de 1,5 Tesla tem uma freqüência de 64 MHz, enquanto que uma máquina de 8 Tesla tem uma freqüência de 343 MHz. 7 Como dito anteriormente, e mostrado na Figura 3, o estado de energia mais baixo é a orientação energética preferida, ou seja, existe uma quantidade um pouco maior de núcleos orientados na mesma direção do campo magnético externo. Devido a isso, o vetor resultante da magnetização macroscópica, que se deve a diferença de população entre os níveis energéticos mais baixos e mais altos, aponta para a mesma direção do campo externo, como ilustra a Figura 6: Figura 6: Direita: spins alinhados paralelamente e antiparalelamente ao campo magnético externo aplicado (eixo z), realizando movimento de precessão. Esquerda: Vetor magnetização resultante (M0). Os núcleos de baixa energia podem absorver energia do meio e “pularem” para o lado mais energético, e os núcleos de alta energia, por sua vez, podem liberar energia para o meio e irem para o lado menos energético, estabelecendo o que se conhece como Equilíbrio Dinâmico. 2 5. Aplicação do pulso eletromagnético Embora tenha-se uma magnetização diferente de zero, esta ainda não pode ser medida, para isso é necessário deslocar a magnetização para um eixo perpendicular ao do Campo externo, chamado de eixo transversal (onde também estão localizadas bobinas para captação de corrente elétrica induzida). Para passar a magnetização do eixo longitudinal ao transversal, emite-se uma onda eletromagnética, conhecida também como radiofreqüência(RF), na mesma freqüência que a de Larmor medida, causando o efeito de ressonância, onde a magnetização passa a sentir somente o campo transversal aplicado, e com isso passa a fazer, por um breve momento, um movimento de precessão em torno desse eixo, Nesse breve momento, as bobinas devem captar a corrente elétrica induzida pela variação do campo magnético. 8 Quando encerra a aplicação do pulso de RF, o sinal gradualmente decai como resultado do processo de relaxação ou de retorno do vetor magnetização para o equilíbrio, ou seja, para o alinhamento com o campo externo. O formato do sinal induzido é o de uma onda seno amortecida e funciona como uma função do tempo (amplitude x tempo). Já transformada de Fourier é um processo matemático que vai transformar esta função de tempo em função de freqüência (amplitude ApostilasBrasil.com Seu Futuro é o Nosso Presente! x freqüência) produzindo os bens conhecidos espectros de RM. Figura 7: 4 Figura 7: Esquerda: Amplitude x tempo. Direita: Amplitude x freqüência. 6. Relaxamento longitudinal e transversal “A relaxação dos spins que gera o sinal induzido é causada pelas trocas de energia entre spins e entre spins e sua vizinhança (rede). Estas interações são chamadas de relaxação spin-spin e spin-rede e juntas fazem com que o vetor retorne ao seu estado de equilíbrio (paralelo a campo externo). Duas constantes de tempo foram criadas para caracterizar cada um destes processos: T1 e T2. A constante T1 está relacionada ao tempo de retorno da magnetização para o eixo longitudinal e é influenciada pela interação dos spins com a rede. Já a constante T2 faz referência à redução da magnetização no plano transversal e é influenciada pela interação spin-spin (dipolo-dipolo).” 6 Essa interação do momento magnético nuclear com os campos gerados ao seu redor é que permite à técnica de RM desvendar características da vizinhança dos núcleos e, portanto, fazer uma análise apurada da estrutura e da dinâmica molecular da amostra estudada. 7. Algumas aplicações Com dito anteriormente, a RM tem várias aplicações, não só na física, mas também na química, na biologia e na medicina. Na física, a RM é utilizada principalmente para a determinação das distribuições espaciais de momentos magnéticos e de cargas elétricas existentes dentro de diversos materiais, bem como os processos de interações entre estes momentos e suas vizinhanças. Na química e na biologia, a RM tem sido um poderoso auxiliar para o estudo das estruturas de moléculas complexas, como polímeros, proteínas, etc. Finalmente, na medicina a RM é a técnica utilizada nos tomógrafos que produzem imagens do interior do corpo humano em pleno funcionamento, de forma não-invasiva. Tais imagens auxiliam na identificação de tumores no organismo. Mais recentemente, especificamente a partir do ano de 1997, a RM se apresentou como uma promissora candidata para a implementação de chaves lógicas e algoritmos quânticos. 1 A possibilidade da utilização da RM para manipular a informação quântica baseia-se no fato de os spins nucleares serem entidades que obedecem às leis da física quântica. Nesse caso, cada orientação do spin nuclear com relação ao campo magnético aplicado é associada a um estado lógico, e as operações que levam de um estado a outro (operações lógicas) são realizadas por pulsos de radiofreqüência. Utilizando conjuntos de operações lógicas básicas, vários algoritmos quânticos foram demonstrados utilizando RM. 3 ApostilasBrasil.com Seu Futuro é o Nosso Presente!
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