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O CASO DOS EXPLORADORES DE CAVERNAS

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O CASO DOS EXPLORADORES DE CAVERNAS: UM MANUAL PARA SEUS DEFENSORES 
A presente tese tem fundamento no episódio que marcou a vida de quatro homens, exploradores de cavernas, que em circunstâncias anormais foram obrigados a sacrificar um de seus amigos para se protegerem da ameaça de morte. Estavam os cinco homens no interior de uma caverna quando esta desmoronou, perto da saída, impedindo-lhes de deixar o local. Os dias que se seguiram foram de muita fome e desespero, os exploradores encontravam-se num intenso estado de necessidade e para evitar que todos morressem surgiu a ideia a qual está em questão: a morte de Whetmore - que serviu de alimento para que os demais sobrevivessem. 
TESES DE DEFESA
EXPLORADORES DE CAVERNAS: Os réus são membros da Sociedade Espeleológica – organização que explora cavernas. Os quatro acusados na companhia de Whetmore penetraram no interior de uma caverna que infelizmente desmoronou, bloqueando a única saída, sendo libertados somente após trinta e dois dias depois de ocorrido o episódio.
CAUSAS: Todo esse tempo que os réus passaram na caverna foi marcado com muita ansiedade e desespero. Somado à isso, tiveram que suportar altas temperaturas, pouca luz e um ambiente muito úmido. Tudo isso gerou um enorme desconforto no ambiente. Somente vinte e dois dias após o deslizamento que bloqueou a única saída da caverna foi que conseguiram estabelecer contato com o mundo exterior, por meio de um rádio capaz de receber e enviar mensagens. Até então, não tinham mais expectativas de voltarem a civilização. Esta prisão subterrânea deixou estes homens enfraquecidos psicologicamente, uma vez que a saudade pelos familiares só aumentava e a dor que a fome trouxe tornou-se cada vez mais intensa. 
DAS CONDIÇÕES DO AMBIENTE: O ar estava rarefeito e, por isso, não permitia que eles respirassem normalmente. É bem provável que estes homens tenham machucados oriundos do desabamento. E ainda, é possível que tenham cortes que não cicatrizaram na caverna, em face de estarem num ambiente com muita umidade. 
FATOS: Os engenheiros responsáveis pela operação de salvamento, em comunicação direta com os exploradores, disseram-lhes que precisavam de pelo menos dez dias para libertá-los. Porém, os médicos presentes no local afirmaram que eles não conseguiriam sobreviver por mais dez dias em face de suas escassas provisões de alimentos estarem acabando e, que, novos desmoronamentos poderiam acontecer. Desesperados, estes homens passaram o resto do dia pensando num plano que pudesse evitar suas mortes por inanição. Logo surge uma ideia. Whetmore convence o restante do grupo a sacrificar um dentre eles para que servisse de alimento para os demais. Mas quem iria ser sacrificado? A resposta a este problema seria dada por meio do lançamento de dois dados. 
SOBRE AS AUTORIDADES: A equipe de socorros foi enviada ao local para tentar desobstruir as camadas de rocha. No entanto, houve novos deslizamentos de terra. Mesmo assim, os réus, em companhia de Whetmore, encheram-se de esperanças quando o presidente da comissão médica, em sentido afirmativo, disse-lhes que sobreviveriam caso se alimentassem de um entre eles. A partir dessa afirmação foi proposto um acordo e o desfecho dele resultou no sacrifício de Roger whetmore, em beneficio para que os réus sobrevivessem. E, por terem feito isso, não podemos condená-los, até porque nenhuma autoridade governamental, juiz, sacerdote ou integrantes da missão de salvamento disse ser contra esse plano e, além disso, ninguém apresentou outra solução para o problema. O Estado se omitiu em comentar naquele momento se eles deviam ou não executar o acordo. 
Quando Roger ligou e perguntou se havia algum juiz ou alguma outra entidade disposta a se manifestar ninguém se pronunciou. Eles deixaram a mercê do direito natural. Nenhuma autoridade exerceu o direito positivo. Então, não há que se falar em penalizar estes homens. Por isso peço que ouçam a defensoria e deem total absolvição aos acusados, pois ninguém se ateu a julgá-los na hora certa.
SOBRE A ESCASSEZ: A caverna não possuía vegetação. Existia água. À água era ácida, provocada pelo alto teor de gás carbônico. No âmbito da química, a palavra acidez se refere a um composto capaz de transferir íons numa reação química, que por via de consequência diminui o pH duma solução aquosa, ou a um composto capaz de formar ligações covalentes com um par de elétrons. Isso significa que nem até mesmo um inseto poderia sobreviver naquele local onde estes homens se encontravam. Cientistas dizem que uma barata sobreviveria à uma explosão nuclear. Então por que não tinha uma barata naquela caverna?. Simplesmente, as substâncias presentes naquela água são algumas substâncias semelhantes às que são encontradas em inseticidas. Então, sabe-se que até os seres mais resistentes a agentes químicos não conseguiriam sobreviver ali. Percebam que a defensoria não está falando do sabor azedo da água e sim das substâncias presentes nela.  Sendo a água impossível de ser consumida, e não existindo nenhuma planta ou animal na caverna, como podem os promotores condenar estes pobres exploradores?
Se os jurados não se satisfazem com essa afirmação, a defensoria pede provas da possível existência de seres que poderiam servir de alimento. Considerando que nem todos os ecossistemas são os mesmos. 
SOBRE AS CONDIÇÕES BIOLÓGICAS: Quando uma pessoa está com fome e não se alimenta, o organismo queima a gordura acumulada. Vocês acham que esses mineiros, trabalhando duramente desobstruindo rochas, trabalho árduo que demanda muito esforço físico, tinham muita gordura acumulada no corpo? Não né?. Mesmo assim, esse processo pra gerar energia ocorre em todos, com maior ou menor intensidade. Primeiro acontece queima de massa muscular, deixando o indivíduo esquelético; depois o cérebro começa a perder todas as funções de comando e por fim, o cérebro perde a capacidade de raciocínio. Os principais sintomas são: tonturas, inconsciências, náuseas, alucinações, o organismo deixa de produzir hormônios, os neurônios morrem ou vão diminuindo, a pessoa pode ver vultos, etc. tudo isso acarreta no mal funcionamento do corpo. 
ESTADO DE NECESSIDADE: Havendo escassez de alimentos na caverna, a ameaça de morte atingia níveis cada vez mais elevados. Os acusados estavam situados em condição de perigo extremo de morte por inanição, dessa forma, alegamos que os mesmos encontravam-se em estado de necessidade quando sacrificaram Whetmore. Constitui-se estado de necessidade os atos pelo qual não foi provocado pelo individuo ou que por ele não era previsto. Cumpre-se dessa forma a prova de existência de estado de necessidade quando em razão dos fatos mencionados os acusados não tiveram culpabilidade no desmoronamento da caverna e por não esperar que o fato acontecesse não levaram consigo muitas provisões, ou seja, não provocaram por sua vontade nem de outro modo poderiam evitar. O estado de necessidade é comprovado nos autos do processo quando houve o elemento caracterizador do sacrifício: a falta de substância animal ou vegetal. Eles estavam famintos e precisavam comer alguma coisa. 
Obs.: Estado de necessidade ocorre quando um direito, em conflito com outro, é sacrificado. Não estamos falando em agressão, pois não houve uma consequente reação a uma discussão que pode ter acontecido. Houve somente uma conduta de preservação do direito. Somente o perigo causado com dolo é que impede que os réus aleguem terem-se encontrados em estado de necessidade. Temos apoio no próprio Código Penal, que define a tentativa como vontade. No entanto, não houve dolo e nem vontade. Desta forma, os exploradores serão julgados pelo estado de necessidade.
ASPECTO SOCIAL: Não há que se falar em condenação dos acusados quando estes não estavam em um estado de consciência psicologicamente normal. Quando estes homens foram resgatados apresentaram comportamentos conflitantes com a peculiar vida normal que tinham antes de terem vivenciado este episódio. No lugar de grandes sonhadores, estavamhomens angustiados, sem ânimo nenhum para seguir vivendo normalmente suas vidas. Essa fase de mudanças pessoais inclui diversos aspectos que serão mencionados posteriormente: mudanças físicas e psicológicas; relações de grupo; construção de valores morais relacionado a seu ambiente social, etc., que por consequência, nos mostram indícios de que os réus fizeram isso com muito remorso. A consciência é o pior juiz de todos, que martela a alma de qualquer pessoa. Nós não temos a clara noção de tudo o que aconteceu na caverna; do quanto os exploradores sofreram. Imaginar é uma coisa, passar por tudo o que eles passaram lá dentro é outra coisa totalmente diferente.
DO SUPOSTO ABANDONO CONTRATUAL: O principal argumento da promotoria está no fato do suposto abandono do acordo por parte de Whetmore.  No entanto, todos os integrantes do grupo sabiam que se ele não participasse do sorteio iria consumir da carne de um dos réus da mesma forma como se tivesse participado. Pois, em conformidade com as leis da natureza somos animais racionais e queremos preservar à nossa vida. Dessa forma seria injusto aos demais que Whetmore não participasse do sorteio, uma vez que cedo ou tarde acabaria por participar do ato em si, por causa da necessidade que se encontravam. Ainda, pra justificar que o contrato foi irrevogável, dizemos que a base da vida social está no interesse comum e no consentimento unânime do homem em renunciar as suas vontades particulares em favor da coletividade. Negar a vontade da maioria são argumentos de quem não tem razão. Quem está provido da razão pode exercê-los de maneira sadia. 
SOBRE AS PILHAS: Eles passaram nove dias calados, sem se comunicar. As pericias revelaram que as pilhas não estavam descarregadas no momento do resgate. Sustentamos nossa tese na possibilidade das pilhas estarem descarregas e depois terem-se recarregadas sozinhas. Tomem como base o celular de vocês, se ele estiver descarregado e você desligá-lo em instantes a bateria recarrega alguns pontinhos. Esse processo também ocorre nas pilhas, só que de forma mais lenta. O que supõe-se que as pilhas estavam descarregadas no dia 23 e no dia 32 estava com alguma carga.
HOMICÍDIO CULPOSO: Sob a ótica do Código Penal, a morte deste homem constitui crime culposo, pois não houve intenção de matá-lo. Qualquer um que fazia-se presente naquela caverna poderia ter sido sacrificado ao invés dele. Os exploradores tinha firmado um contrato social favorável à todos, todos possuíam chances iguais de morrer ou de sobreviver. A morte de Whetmore foi o resultado dos dados e não de possíveis intensões que a acusação supõe ter acontecido. Dessa forma, é evidente que ninguém teve intensão de sacrificá-lo e sim, de garantir a sobrevivência da maioria. Os autos não nos deixam dúvida nenhuma sobre o episódio. Era sacrificar ou morrer. Ou todos partiam dessa pra outra ou sacrificariam um para sobreviverem. No estado de natureza todos os homens tem direito as mesmas coisas. E, de fato, todos tiveram o mesmo direito de ser sacrificado a depender do resultado do sorteio. Do que os réus estão sendo culpados se não houve intensão propriamente dita, sem contar na falta de provas?. Existe provas de que tudo foi planejado?. Aqui entra o Principio da Legalidade, onde o artigo 1º do nosso código penal reza que: “não se admite dolo sem a prova”. 
DIREITO NATURAL: Quando a caverna se fechou e eles passaram esse longo intervalo de tempo aprisionados, nenhuma lei poderia alcançá-los senão a própria criada por eles. O contrato estabelecido foi um meio para diminuir a possibilidade de morte por desnutrição. As dificuldades enfrentadas por eles são inimagináveis, nem que passássemos uma vida inteira buscando fatos sobre o episódio que aconteceu teríamos uma definição exata de tudo o que que ocorreu. Então por quê julgaríamos esses pobres desafortunados por terem tentado preservar suas vidas em detrimento de uma? Se estivéssemos presos lá naquela caverna não faríamos a mesma coisa? Ou ficaríamos lá sem fazer nada, sofrendo até a morte? Teria sido a morte dos dez operários em vão? Pois aqueles dez trabalhadores também deram suas vidas para que os exploradores conseguissem sobreviver. Estes homens fizeram um acordo entre si, se o contrato foi estabelecido (onde estava certo a morte de um deles) então não tem que haver questionamento, pois não há nenhum motivo para acusar estes senhores já que o próprio Whetmore estava de acordo com o estabelecido, sendo que ele próprio o sugeriu.
JUSTIÇA SUPERIOR: Após este episódio ter acontecido, eles passaram a necessitar de uma justiça superior. As leis legais não se encaixam neste processo. Como as leis legais são para a sociedade, os quatro réus não estavam numa sociedade, então as leis legais perdem seu valor e entra as leis naturais. Não é suficiente recorrer a Geologia, ou a fatos como a Desnutrição; desidratação, etc. O problema é que ninguém deu outra alternativa para sobrevivência do grupo. Se a defensoria vem defender alguém aqui é a natureza, porque esses homens são o reflexo da natureza. Eu estou indignado com tudo isso senhores, eles não mereciam estar nessas cadeiras hoje, depois de tudo o que passaram.
ESTADO DE NATUREZA: Os réus passaram de um estado civil para um estado de natureza no dia em que perderam as esperanças de voltarem para suas casas, quando tudo desabou e os impediu de sair. Percebe-se que as esperanças se renovaram quando houve comunicação com os médicos e engenheiros; que estes deram um prazo mínimo de dez dias para o resgate e dez dias no máximo para todos estarem mortos caso não se alimentassem. Percebam a gravidade do problema enfrentado por estes homens, que não tinham nenhum tipo de alimento. Percebam que a única maneira da maioria sair com vida era se acontecesse um sacrifício. Então, os acusados quando tiveram que tomar esta trágica decisão estavam totalmente distantes dos mandamentos deste tribunal. Assim, não temos motivos para condená-los, e sim absolvê-los deste processo, porque pela situação extraordinariamente difícil que se achavam, a lei que lhes é aplicável é aquela apropriada a sua condição, e não a nossa. Levando-se em consideração os estado de necessidade e o psicológico de cada um. É claro que a materialidade dos fatos existe. A autoria foi por eles confessada. Consta nos autos. Mas se forem condenados que seja de forma justa. Vivemos num direito positivo hoje, mas observem que o Direito é aplicado quando há possibilidade dos indivíduos coexistir em sociedade. E estes homens não estavam em estado de sociedade, só se você tapar os olhos e não perceber que a leitura dos autos constitui um estado de natureza, que por via de consequência, gerou um estado de necessidade.
CONTRATO SOCIAL: O nosso direito positivo, incluindo todas as suas disposições legisladas e todos seus precedentes, perdeu sua capacidade de coerção. Nossas leis não tinham significado algum para o grupo dos cinco exploradores, pois estes homens estavam vivendo em circunstâncias divergentes da nossa. As condições ambientais, as relações humanas e psicológicas eram muito precárias e suscetíveis à ataques de pânico, ansiedade, delírios, estresse, psicoses, e etc. Como alguém suportaria estas circunstâncias sem criar uma nova ordem social?. Isso só prova que estes homens estavam regidos por um direito denominado “Natural” e, que, nosso direito positivo não tem justificativa nenhuma para acusa-los, em decorrência de não ser válido, pelo menos naquela ocasião, para os cinco exploradores.
O ACORDO: Desde o momento que se evidenciou a fome presente naquele ambiente subterrâneo, tornou-se fundamental para os acusados esquecer os princípios usuais que regulam as relações entre os homens para dar espaço a uma nova constituição. Uma acordo firmado pela maioria que resultaria no preenchimento das maiores necessidades que enfrentavam. A prioridade era acabar com a fome, sendo assim, construíram uma ordem capaz de manter a justiça entre todos: O lançamento dos dados foi o ponto de equilíbrio mais apropriado paramanter a igualdade entre os homens. Dessa forma, mesmo que Whetmore não tenha lançado os dados a justiça se fez presente. Pois o acordo estabelecia o uso dos dados no sorteio e o explorador não fez nenhuma objeção quanto ao lançamento ter sido realizado por um dos réus.
DA OPINIÃO PÚBLICA: Ainda, para sustentar a absolvição, foi feita uma pesquisa com a população, e esta com 90% das pessoas pedindo a absolvição dos acusados. Percebam, aceitem, estes homens preenchem todos os requisitos do Estado de Necessidade. Eu peço, em nome de todo o conceito de justiça, que seja atendido o pedido dezenas de milhares de pessoas, talvez mais, que estão lá fora, clamando por esta esta absolvição.
PROVAS CABÍVEIS: Os mais importantes são as provas. Onde estão as provas da promotoria? Em lugar nenhum! Enquanto isso, as provas da defensoria estão aqui, neste tribunal. É só observar atentamente estes homens, magros, se recuperando da baixa visão, etc. Estamos acompanhados de provas. Esse líquido, coletado no interior da caverna, era a única água disponível. Testes feitos em laboratórios mostraram que ela é tóxica e por isso estes homens não poderiam ingeri-la. E, se alguém questiona a acidez desta água, eu desafio a tomar um único gole, e duvido que não reclame do mal cheiro e da queimação que provocará na língua. E, ao chegar no estômago você não estará mais consciente. Até que seja levado ao pronto socorro mais próximo, não estará mais vivo. Promotoria... Tomem essa água, eu duvido que depois disso os réus continuem culpados no coração de vocês.
RECORRENDO AO EMOCIONAL: Eu peço uma coisa a vocês: imaginem-se naquela caverna, um calor enorme, insuportável. Você está com gripe, com tosse, e o ambiente está extremamente úmido. E aí você lembra da sua mãe, pai, amigos, pensa que nunca mais irá vê-los. Os dias vão passando e você está cada vez mais fraco. Não tem nada para comer, e você não sabe se é noite ou se é dia. Ouçam o som do silêncio, você não tem nada pra conversar. Plantem essa visão nas suas mentes, num local desconfortável, onde só tem pedras e uma angústia que cresce como um câncer maligno, no subconsciente de 05 homens inquietos. E depois de uma eternidade um lazer de luz neon toca o som do silêncio. Você fica sabendo que o resgate vai chegar. Um sinal faiscou a seu aviso, por meio de um rádio. Acabou o silêncio. Vocês estão fora da caverna. Agora ouçam minhas palavras: estes homens, que se curvaram e oravam para a constituição que eles criaram, ganharam forças nas palavras dos profetas que disseram que o resgate chegaria em, no mínimo, dez dias, já estão fora das profundezas deste silêncio. Se os réus não forem absolvidos hoje, o silencio vai permanecer, na cabeça de vocês, e vocês estarão nos próximos tempos no inferno do arrependimento.
DA RESPONSABILIDADE DOS JURADOS: Jurados eu observo a face de vocês, não vejo nenhum desconforto, nenhuma raiva. Acredito que os senhores estão curiosos para saber como é estar naquela caverna. Então coloquem-se no lugar destes homens. A vida destes homens estão em suas mãos, pensem na família deles, pensem que se eles forem condenados estarão privando-os de seguirem suas vidas; um já é casado e tem uma filha de 04 anos com síndrome de down, e precisa muito da presença do pai em sua vida. Os outros ainda estão solteiros, se os colocarem na cadeia entrarão inocentes e sairão os piores bandidos que se pode imaginar. Porque o próprio sistema carcerário é quem gera neles um sentimento desumano. Percebam que a existência da geração de 04 familias podem nunca existir se eles forem presos. A vida destes exploradores está em suas mãos. Por isso, peço com todas as minhas forças, que estes homens sejam absolvidos. Cabe a vossa senhoria fazer justiça. Lembrem-se que ter uma penalidade mental já é uma grande penalidade.
NOTAS FINAIS: Sustentamos ainda que o contrato firmado pelos exploradores, nas condições em que estavam submetidos na caverna, eram superior a nossa ordem jurídica porque se encontrou mais forte e coercitiva do que nossas normas legisladas. Mesmo a Norma Hipotética Fundamental é vaga para provar que se fez presente naquele episódio a suposta existência ou aceitação do direito positivo. 
CONCLUSÃO: Excelentíssimo doutor presidente deste tribunal do júri- o senhor é quem vai anunciar o julgamento com os outros jurados, eu digo, que se agirem erroneamente, carregarão a partir de hoje, em vossas consciências, a sensação de culpa por terem julgado injustamente os acusados. Por isso, peço total liberdade e perdão. Conclui-se que nossas leis não penetraram no subconsciente dos acusados. E mesmo que eles tivessem a plena consciência de que após saírem da caverna seriam julgados e condenados a morte, teriam feito o sacrifício assim mesmo. Pois eles SABIAM das condições em que se encontravam e que poderiam ficar vivos caso se alimentassem de um entre eles. Por fim, que os réus sejam absolvidos!
RESUMO DOS PRINCIPAIS PONTOS
1.	Os engenheiros e autoridades que dirigiam a operação de salvamento disseram que só resgatariam os exploradores em, no mínimo, dez dias. No entanto, dez dias a mais naquele ambiente só dificultava as condições de sobrevivência. 
2.	Os acusados não tinham mais alimentos e morreriam de desnutrição se permanecessem mais dez dias sem comer absolutamente nada na caverna.
3.	Um dos mais antigos aforismas da sabedoria jurídica ensina que um homem pode infringir a letra da lei sem violar a própria lei. 
4.	Tiveram que passar por intensivo tratamento psicológico e emocional.
5.	Os réus encontravam-se famintos, fracos e psicologicamente arruinados. Tudo isso somado a ameaça de morte por inanição gerou uma necessidade imensa de buscar uma forma de sobreviver.
6.	 O contrato não foi criado pelo mais forte ou mais velho. Foi proposto primeiramente pela própria vítima e aceito por todos. 
7.	O poder moral é válido quando é aceito pela maioria. Quando Whetmore desistiu, os réus continuaram com o contrato pois para o acordo ser justo todos teriam que participar e, sendo a maioria a favor do pacto, seria desfavorável para os acusados que um deles não participasse do sorteio e depois comesse da carne de um deles.
8.	Esperar mais uma semana antes de prosseguir com o acordo poderia ser fatal por razões óbvias: desequilíbrios no organismo, debilidades gerais, etc. Os exames clínicos feitos em dois acusados revelou que os mesmos estão com baixa visão e problemas nos rins. Se tivessem passado mais alguns dias sem comer poderiam haver quedas de pressão, arritmias cardíacas, redução das proteínas, diminuição do tamanho dos órgãos –incluindo o cérebro-, etc. Enfim, sem alimentação o quadro se converteria em morte por insuficiência hepática ou falência dos órgãos.
9.	Toda proposição de direito positivo, tanto suas disposições legisladas quanto seus precedentes, deve ser interpretada segundo seu propósito evidente. Nesse caso, as evidencias comprovam que os acusados sacrificaram Whetmore com uma única intensão:  SOBREVIVER. 
10.	O contrato estabelecia direitos e obrigações que deveriam ser cumpridas. 
11.	Não houve homicídio, houve sacrifício. Que são duas coisas diferentes.
12.	A justiça surge com o acordo firmado entre os cinco exploradores. O direito, através dos interesses do grupo, manteria a igualdade.
13.	O direito dos acusados é aquele estabelecido no interior da caverna. É o produto do voto da maioria através de suas obrigações morais, os dados limitariam a ação do indivíduo para preservar à dos demais.
14.	O direito neste caso especial independe da vontade deste tribunal, ou da ameaça de punição. Depende do reconhecimento social do acordo, por meio da pressão que exerceu no psicológico dos réus.
15.	O estado de necessidade é o instinto de sobrevivência. Todo animal possui esse instinto de sobreviver, nem que para isso, tenha que matar aquele com o que depende sua salvação.
16.	Não é considerado ato ilícito, quando o agente para se salvar de perigo atual que não provocou nem podia evitar, ou seja, para removero perigo eminente, destruiu coisa alheia.
17.	Condená-los novamente ao inferno não seria justo. Qualquer um faria isso.
- Doutrina: NUCCI (2010): (Guilherme de Souza Nucci é Juiz de Direito em São Paulo e professor de direito penal da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).)  “O estado de necessidade é o sacrifício de um interesse juridicamente protegido para salvar de perigo atual e inevitável, o direito do próprio agente ou do terceiro desde que outra conduta não seja exigida”. O jurista entende a importância do direito ligado ao estado de necessidade, pelo qual a justiça por si só já garante a sua eficácia.
-DAS LEIS DO CÓDIGO PENAL
Art. 4º - “Considera-se praticado o crime no momento da ação ou omissão, ainda que outro seja o momento do resultado”. Por não estarem num estado civil e sim de natureza quando aconteceu o sacrifício, os réus não podem ser indiciados em nenhum tipo de crime, tendo em vista que na ocasião as normas jurídicas se encontravam inválidas.
Art. 6º - “Considera-se praticado o crime no lugar em que ocorreu a ação ou omissão, no todo ou em parte, bem como onde se produziu ou deveria produzir-se o resultado.” Como já mencionado no art. 4º, o episódio estava regido por outra ordem que não a positiva.
Art. 13 – “O resultado, de que depende a existência do crime, somente é imputável a quem lhe deu causa. Considera-se causa a ação ou omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido”. 
C§ 2º - A omissão é penalmente relevante quando o omitente devia e podia agir para evitar o resultado. O dever de agir incumbe a quem:
a) tenha por lei obrigação de cuidado, proteção ou vigilância; 
b) de outra forma, assumiu a responsabilidade de impedir o resultado;
 Causa é aquilo sem o qual a morte não teria acontecido. Quem pode ter dado causa? Whetmore por ter dado a ideia? Os engenheiros que disseram-lhes que poderiam salvá-los em, no mínimo, dez dias, criando enormes ansiedades na caverna? Os médicos por terem-lhes contado que não tinham condições de passar mais dez dias vivos caso não se alimentassem? As autoridades que sabiam do plano e mesmo assim não orientaram nem repudiaram para que não fizessem o sacrifício? Enfim, todos poderiam omitir o prazo e fazê-los crer que aguentassem mais dias (embora todos nós saibamos que eles acabariam realizando o sorteio, pelo próprio estado de necessidade), mesmo assim, a omissão torna-se relevante quando sabemos que os juízes, sacerdotes e autoridades podiam agir para evitar o resultado.
Art. 23 – “Não há crime quando o agente pratica o fato: I - em estado de necessidade. 
Art. 24 – “Considera-se em estado de necessidade quem pratica o fato para salvar de perigo atual, que não provocou por sua vontade, nem podia de outro modo evitar, direito próprio ou alheio, cujo sacrifício, nas circunstâncias, não era razoável exigir-se”. Os réus se viram forçados a cometer a ação. Nesse caso não há crime pois é um estado de necessidade: ou praticavam a ação ou morreriam de fome.
“Art. 26 - É isento de pena o agente que, por doença mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado, era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento”. No momento, os acusados estavam inimputáveis criminalmente. Pois não mais estavam inseridos na sociedade. E obviamente se estivessem presos na caverna até hoje, e se ainda estivessem vivos, estariam praticando o canibalismo. Pois, as circunstâncias do meio influenciariam no comportamento psicossocial deles. Não possuíam, desta forma, o discernimento mental mínimo necessário para tornar o sacrifício punível pessoalmente, ou que não estavam totalmente integrados à nossa sociedade. Sendo assim, pedimos perdão.
O Estado não tem o direito de tirar a vida destes réus. Em conformidade com o artigo 5º, inciso XLVII, combinado com o artigo 1º, inciso III, ambos da Constituição Federal de 1988.
CRIME DE OMISSÃO DE SOCORRO:
Art. 135 - Deixar de prestar assistência, quando possível fazê-lo sem risco pessoal, à criança abandonada ou extraviada, ou à pessoa inválida ou ferida, ao desamparo ou em grave e iminente perigo; ou não pedir, nesses casos, o socorro da autoridade pública:
        Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.
        Parágrafo único - A pena é aumentada de metade, se da omissão resulta lesão corporal de natureza grave, e triplicada, se resulta a morte.
Alguém aqui processou os engenheiros? Alguém aqui processou os médicos por terem se omitido a oferecer outra solução para o problema que não fosse necessário realizar um sacrifício?. Não. Ninguém processou eles. Porquê que a engenheira ali não se manifestou? Porquê?. Admitam promotores, qualquer um teria feito o mesmo que estes homens fizeram. Por isso, peço aos jurados que concedam perdão total aos acusados.
Art. 18 - Diz-se o crime: Crime doloso 
        I - doloso, quando o agente quis o resultado ou assumiu o risco de produzi-lo;
Estamos diante de um típico delito de omissão. O parágrafo único deste artigo não deixa nenhuma dúvida sobre a irresponsabilidade das autoridades que assumiram o risco de deixar produzir-se o resultado.
        Art. 136 - Expor a perigo a vida ou a saúde de pessoa sob sua autoridade, guarda ou vigilância, para fim de educação, ensino, tratamento ou custódia, quer privando-a de alimentação ou cuidados indispensáveis, quer sujeitando-a a trabalho excessivo ou inadequado, quer abusando de meios de correção ou disciplina:
§ 1º - Se do fato resulta lesão corporal de natureza grave:
        Pena - reclusão, de um a quatro anos.
        § 2º - Se resulta a morte:
        Pena - reclusão, de quatro a doze anos.
        § 3º - Aumenta-se a pena de um terço, se o crime é praticado contra pessoa menor de 14 (catorze) anos.
Os acusados devem ter suas sentenças reformuladas, de modo que tenham perdão e liberdade total. Pedimos, com base em todos os pressupostos do direito natural, e dos argumentos jurídicos que fundamentam tal situação que estes homens sejam absolvidos
O que é desespero clínico?
O desespero clínico é conceituado por psicólogos como uma profunda e existencial desesperança, desamparo, impotência e pessimismo sobre a vida e o futuro. Ainda, é um desânimo profundo e perda de fé sobre a capacidade de encontrar significado, realização e felicidade, para criar um futuro satisfatório para si.
Sendo uma condição psicológica grave, pode tanto ser resultado quanto estar em conjunto de:
Depressão maior
Insatisfação com a vida
Traumas
Sentimento de solidão e isolamento
Senso de mortalidade
Crença de que a vida não possui propósito
O psiquiatra existencial Viktor Frankl, cuja experiência no campo de concentração durante o Holocausto fez dele um especialista no assunto, definiu o desespero como um sofrimento infundado, em uma simples, porém, poderosa fórmula:
D= S-M.
Desespero é igual ao sofrimento menos significado (meaning, em inglês). Sua implicação clínica é que o desespero pode ser tratado, ajudando o paciente a atribuir ou descobrir algum significado em seu sofrimento pessoal, angústia seus sintomas.
Causas do desespero
O desespero é geralmente provocado por algum evento significativo na vida: trauma, divórcio, morte de alguém próximo, ter vivenciado situações de extremo perigo, abuso de drogas, filhos indo embora, crises existenciais, etc
O delírio e a paranoia
Sem querer abrir um novo parênteses ou muito menos parecer sensacionalista, iremos aprofundar um pouco mais no estado patológico do isolamento social, onde o próprio estado de isolamento pode induzir um indivíduo ao estado de delírio, o que não é nada bom para um paciente que já possui depressão. O delírio acontece aos poucos e pode levar ao estado de paranoia. 
Delírio
O delírio não surge apenas em estado de isolamento social, vários são os fatores que podem levar uma pessoa ao delírio, mas vamos defini-lo no estrito senso: O delírio é basicamente quando a pessoa não consegue distinguir o que ou quemestá certo ou errado, ela perde as suas bases, o que induz à uma fuga da realidade, que pode levar ao estado de paranoia.
Paranoia
A paranoia já é um estado um pouco mais avançado do isolamento social, mas assim como o delírio, ela não se limita apenas à comportamentos de isolamento social. Mesmo que ela não esteja somente ligada à um isolamento, ambos andam em conjunto e uma hora, talvez com exceção daqueles indivíduos que realmente curtem o isolamento, ela pode surgir.
Porém, a paranoia é outro assunto complexo, existem muitos outros fatores que influenciam a forma do paranoico pensar e agir, assim como na forma de ver o mundo. Um indivíduo paranoico, para definir o próprio estado de paranoia, costuma criar inimigos, estes, que nem sempre se tratam de um só indivíduo mas sim de grupos de pessoas, como uma real conspiração que busca o extermínio do ou de parte do indivíduo.
Ela aparece pelo fato do indivíduo não socializar, não ter com quem conversar; quando a pessoa possui muitos pensamentos em sua cabeça e não tem ninguém ao seu lado pra dizer até que ponto ela está sendo sensata. Surge logo após o delírio pela falta de bases e morais que ele proporciona, é sensato afirmar que ambos estão próximos e dependentes, assim como ambos fazem parte de um estado de isolamento social patológico
Isolamento social 
As pessoas que sofrem de isolamento social possuem muitas dificuldades de se relacionarem e, por isso, se afastam do convívio social, o que pode levar a diminuição das funções mentais, e nos casos mais extremos, problemas psiquiátricos.
Consequências
Diversas consequências denotam a isolamento social e podem levar a perturbações de ordem psíquica:
Individualismo
Fobia Social
Solidão
Depressão
Stress
Tristeza
Rejeição
Loucura
Ansiedade
Esquizofrenia
Toxicodependência
Misantropia
Suicídio

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