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Evolução da Legislação Brasileira

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NORMAS GERAIS 
 
 
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Normas Gerais 
A legislação brasileira vem passando por um processo de evolução. A concepção positivista tem sido 
flexibilizada, o legislador tem buscado integrar o sistema jurídico com ferramentas legislativas que 
carregam alta carga de valor, delegando as normas maior grau de funcionalidade. 
Este fenômeno decorreu de um processo intitulado de crise normativa do século XX. O ordenamento 
jurídico tornou-se deficiente para reger as relações sociais que surgiram com o desenvolvimento 
industrial. A legislação não acompanhava as situações inusitadas que afloravam no mundo jurídico. 
A partir de então, surgiram novos instrumentos legais que conciliavam a segurança jurídica inerente à 
positivação e a maleabilidade do texto normativo que conduzia a uma nova perspectiva de 
interpretação do direito. 
Recentemente, o Código Civil de 2002 ratificou a mudança de paradigma, realçando a presença das 
cláusulas gerais no direito brasileiro. Estes enunciados normativos carregam conteúdo 
propositadamente indeterminado e que têm o intuito de propiciar uma adaptação entre o sistema 
jurídico calcado em normas de conteúdo rígido e uma realidade cambiante a requerer respostas mais 
ágeis para a solução dos conflitos sociais. 
O aplicador do direito, diante desta nova realidade, teve sua importância aumentada, haja vista que 
as cláusulas gerais exigem importante atividade interpretativa na criação e fundamentação da norma, 
colocando suas conclusões ao judiciário para que realize as necessárias adaptações ao sistema 
jurídico vigente. 
Crise normativa do século XX 
A partir do século XVIII, especialmente no século XIX, as relações sociais tornaram-se mais 
complexas, carecendo de amparo legal que garantisse certeza jurídica, de modo a viabilizar o pleno 
desenvolvimento social da época. Neste cenário de evolução, surgiram as grandes codificações 
européias. Este fenômeno foi batizado como a era da codificação, tendo como principais expoentes o 
Código de Napoleão, o Código Civil alemão – B.G.B. e o Código Civil Italiano. 
Como conseqüência desta nova perspectiva, a atividade interpretativa passou a ser vinculada à 
estrita aplicação da lei e ao juiz coube a tarefa de aplicar a legislação dentro da legalidade mais 
restrita. 
Nesta linha de acontecimentos, o sistema de regras jurídicas foi pensado para reger a conduta dos 
sujeitos de direito de forma plena, franqueando solução para todos os conflitos da vida, no âmbito 
privado. 
Paralelo ao estágio de segurança jurídica, o mundo presenciou grandes avanços tecnológicos, a 
ponto de tal período ser classificado como revolução industrial, acarretando enorme desenvolvimento 
econômico e cultural para a civilização da época. 
A fase de expansão exigiu grandes mudanças estruturais da sociedade contemporânea, quando se 
passou a explorar a força de trabalho em prol do retorno econômico. Entretanto, tal situação deu 
origem a um efeito inverso. Os trabalhadores que se sentiam explorados passaram a buscar seus 
direitos e garantias, revelando senso crítico aos acontecimentos oriundos dos objetivos capitalistas. 
À vista de uma sociedade pluralista, com diferentes ambientes culturais e econômicos, ocorrendo 
transformações em alta velocidade, houve a necessidade de buscar um sistema legislativo que, de 
alguma forma, acompanhasse as novas relações emanadas da sociedade. 
Desde então, a idéia de centralidade do código civil pareceu estar fadada ao insucesso, pois já não 
mais atendia, ou melhor, acompanhava o avanço das relações modernas. Diante desta nova 
realidade, a doutrina intitulou o discurso do movimento de descodificação. 
Com o objetivo de integrar o sistema jurídico o legislador criou leis especiais com o escopo de 
disciplinar situação que, porventura, não estivesse prevista no Código Civil. O Código passou a 
empenhar papel ordenador das relações privadas sob o enfoque das novas ferramentas legislativas. 
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As legislações esparsas enfatizavam o caráter central assumido pelo Código Civil no ordenamento e, 
quando contrariavam suas diretrizes, faziam excepcionalmente, de modo que não abalavam sua 
completude e exclusividade. 
Como dito alhures, o conflito social decorrente do desenvolvimento tecnológico, experimentado pela 
fase da revolução industrial, se intensificou, principalmente depois do pós-guerra, fazendo com que o 
Estado legislador lançasse mão rotineiramente das leis especiais, que tinham cunho tão-somente 
emergencial e restrito. 
A atividade legislativa que dava origem aos microssistemas, assim chamados ante a sua 
especificidade, tornou-se prática disseminada, resultando na crise do Código Civil como “constituição 
do direito privado", uma vez que perdeu seu caráter de exclusividade. 
O eminente jurista baiano Orlando Gomes bem atentou para a importância que as leis 
esparsas passaram a assumir no ordenamento jurídico: 
A bem dizer, essas leis nada têm de especiais, eis que não são desdobramento de institutos 
codificados, não regulam matéria estranha ao conteúdo do direito privado, nem apanham menor 
número de destinatários ou de hipóteses, até porque, como observou alguém, o seu consumo é maior 
do que os artigos do código civil. Constituem distintos “universos legislativos”, de menor porte, 
denominados por um autor com muita propriedade, “micro-sistemas”, tal como sucede, por exemplo, 
com o regime das locações. Estes micro-sistemas são refratários à unanimidade sistemática dos 
códigos porque tem a sua própria filosofia e enraízam em solo irrigado com águas tratadas por outros 
critérios, influxos e métodos distintivos. 
Por conseqüência desta nova conjuntura, a importância dada ao Código Civil foi esvaziada, ao tempo 
que a crise normativa se instaurava. O referido diploma perdeu o valor de exclusividade e 
completude, dando brecha ao surgimento de uma nova etapa do direito, o surgimento das 
constituições com amplas perspectivas sociais, a exemplo da Constituição do México (1917) e da 
Constituição de Weimar, na Alemanha (1919). 
Alheio a esta nova perspectiva de publicização do direito privado, o legislador brasileiro elabora o 
projeto do Código Civil vigente que pareceu ter como pretensão a retomada da era da codificação. 
Constitucionalização do direito civil – abertura do sistema 
O direito civil demonstrou esgotamento das categorias do direito privado, máxime porque incorporou 
uma dogmática estática, atemporal e desideologizada, haja vista que já não mais era capaz de 
estabelecer a necessária interlocução entre os saberes jurídicos, na ótica da esfera privada e da 
pública. 
Gustavo Tepedino registrou o surgimento deste novo paradigma: 
O Código Civil perde, assim, definitivamente, o seu papel de Constituição do direito privado. Os textos 
constitucionais, paulatinamente, definem princípios relacionados a temas antes reservados 
exclusivamente ao Código Civil e ao império da vontade: a função social da propriedade, os limites da 
atividade econômica, a organização da família, matérias típicas do direito privado, passam a integrar 
uma nova ordem pública constitucional. Por outro lado, o próprio direito civil, através da legislação 
extracodificada, desloca sua preocupação central, que já não se volta tanto para o indivíduo, senão 
para as atividades por ele desenvolvidas e os riscos delas decorrentes. 
À Constituição é dado o papel de unificar o sistema jurídico, conformando a elaboração e aplicação 
da legislação civil, para que possa dirimir eventuais conflitos existentes nos diversos ramos da 
Ciência Jurídica. Trouxe a realidade mudança de atitude, pois deve o jurista interpretar o Código Civil 
segundo a Constituição e não a Constituição, segundo o Código, como aconteceria nos tempos 
passados. 
Luiz Edson Fachin conclui que “estudar o Direito Civil, significaestudar (seus) princípios a partir da 
Constituição. O Direito Constitucional penetra, hoje, em todas as disciplinas e, via de conseqüências, 
também no Direito Civil...”. 
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Com isso, o jurista passou a notar o ordenamento jurídico por uma visão sistemática, não mais sendo 
cogitada a interpretação do direito por tiras. Por esta ótica agrupadora, a Constituição teve inserido 
em seu contexto o valor das normas de estrutura, tais como os princípios e as normas de caráter 
programático, para garantir os direitos individuais e fundamentais, que tem como ideal a emancipação 
da sociedade pós-moderna. 
A Constituição reunificou o Direito Civil para relacionar os institutos do direito público e do direito 
privado, de modo a trazer a lume novo discurso jurídico que palpita a sociedade contemporânea, 
significando uma alteração profunda nas relações entre o cidadão e o Estado. O processo de 
constitucionalização elevou ao plano superior os princípios fundamentais do direito civil. 
Cláusulas gerais e o Código Civil 
Neste desiderato, a Constituição adota a natureza de tábua axiológica do sistema, sendo o vértice de 
interpretação das normas infraconstitucionais, assumindo de vez a natureza de paradigma 
epistemológico de interpretação. Para tanto, o legislador optou pela técnica legislativa farta em 
modelos jurídicos abertos, de modo a integrar o ordenamento, tendo em vista as necessárias inter-
relações entre a Constituição Federal, o Código Civil e os microssistemas. 
O sistema jurídico é idealizado, a partir de então, como um sistema aberto, contendo normas que 
visam captar a mudança da realidade e estarem abertas às concepções cambiantes da verdade e da 
justiça, porquanto o ordenamento jurídico pensado sob a dogmática exclusivamente positivista revela-
se inapto a reger os fatos da vida contextualizado aos interesses sociais. 
O legislador contemporâneo buscou nos enunciados genéricos prescrições de conteúdo 
completamente diverso em relação aos modelos concebidos nas normas jurídicas. Visualizou nas 
cláusulas gerais normas que não prescrevem uma certa conduta, mas, simplesmente, definem 
valores e parâmetros hermenêuticos. Assumem papel preponderante como ponto de referência 
interpretativo para o aplicador do direito, principalmente, ao juiz na elaboração das normas de 
decisão, oferecendo critérios axiológicos e limites para a aplicação das demais disposições 
normativas. 
Compartilhando este entendimento Judith Martins-Costa, doutrinadora de escol que dedicou 
bastante atenção ao tema, assevera: 
A razão de visualizar o novo texto legislativo à luz das cláusulas gerais responde à questão de saber 
se sistema de direito privado tem aptidão para recolher os casos que a experiência social contínua e 
inovadoramente propõe a uma adequada regulação, de modo a ensejar a formação de modelos 
jurídicos inovadores, abertos e flexíveis. Em outras palavras, é preciso saber se no campo da 
regulação jurídica privada é necessário, para ocorrer o progresso do Direito, recorrer sempre a 
punctual intervenção legislativa ou se o próprio sistema legislado poderia, por si, proporcionar os 
meios de se alcançar à inovação, conferindo aos novos problemas soluções a priori assistemáticas, 
mas promovendo, paulatinamente, a sua sistematização. 
Gustavo Tepedino não destoa do entendimento acima referido, e arremata a questão da 
inserção das cláusulas gerais no ordenamento jurídico nacional: 
O legislador vale-se de cláusulas gerais, abdicando da técnica regulamentar que, na égide da 
codificação, define os tipos jurídicos e os efeitos deles decorrentes. Cabe ao intérprete depreender 
das cláusulas gerais os comandos incidentes sobre inúmeras situações futuras, algumas delas 
sequer alvitradas pelo legislador, mas que se sujeitam ao tratamento legislativo pretendido por se 
inserirem em certas situações-padrões: a tipificação taxativa dá lugar a cláusulas gerais, abrangentes 
e abertas. 
Enfim, tem-se a sensação que o ordenamento jurídico está sendo observado sob uma ótica funcional, 
dotado de fins perseguidos pelo Estado em meio a uma sociedade em transformação. Não restam 
dúvidas que este ambiente é propício para a inserção de cláusulas gerais de modo a dotar o sistema 
jurídico da mobilidade necessária para enfrentar situações cambiantes. 
Partindo da premissa filosófica de conceber o Direito como uma ciência social, não há como descurar 
o entendimento de que tal ciência estará sempre em formação, pois nunca estará plenamente 
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satisfeita se levar em consideração apenas o leque de leis que desafiam a hipótese de preverem o 
casuísmo posto ao legislador. 
A sociedade pós-moderna vive num contexto de transformação, o uso da tecnologia dispôs às 
pessoas o livre acesso às informações, dando oportunidade do contexto social modificar de tal forma 
que põe em crise o positivismo jurídico. Entretanto, se o ordenamento comporta cláusulas gerais, é 
facultado ao juiz adaptar o direito às mudanças sociais, no momento de concretização destes textos 
legais. Tal conclusão só vem a confirmar a máxima de que o direito acompanha os fatos da vida. 
Cláusulas gerais no novo Código Civil 
À margem das críticas feitas ao Código Civil de 2002, sob o argumento de estar ultrapassado, a nova 
codificação trouxe significativas mudanças relativas ao quanto disposto no Código de Clovis 
Beviláqua. Unificou o direito das obrigações; incorporou ao seu texto o direito das empresas, 
enfatizando a figura do empresário; adotou a teoria do risco, no Titulo da Responsabilidade Civil; e 
distribuiu em alguns de seus dispositivos a técnica das cláusulas gerais. 
O Presidente da Comissão elaboradora do Projeto, Miguel Reale, ao comentar as características do 
Código Civil enfatizou o seguinte ponto: 
Não menos relevante é a resolução de lançar mão, sempre que necessário, de cláusulas gerais, 
como acontece nos casos em que se exige probidade, boa fé ou correção (corretezza) por parte do 
titular do direito, ou quando é impossível determinar com precisão o alcance da regra jurídica. É o que 
se dá, por exemplo, na hipótese de fixação de aluguel manifestamente excessivo, arbitrado pelo 
locador e a ser pago pelo locatário que, findo o prazo de locação, deixar de restituir a coisa, podendo 
o juiz, a seu critério, reduzi-lo. 
A codificação do direito privado não mais se apresentou dotada de modelo rígido; ao revés, 
incorporou nova proposta filosófica, revelando-se através de modelos abertos para alcançar seu 
desiderato de reger as relações surgidas no bojo da sociedade contemporânea e os problemas que 
hão de aparecer num futuro próximo. 
Clóvis do Couto e Silva verberou, em trabalho acerca da proposta da nova lei civil, o caráter 
estruturalmente inovador de certas normas: 
O pensamento que norteou a Comissão que elaborou o Projeto de Código Civil brasileiro foi o de 
realizar um Código central, no sentido que lhe deu Arthur Steinwenter, sem a pretensão de nele 
incluir a totalidade das leis em vigor no País (...). O Código Civil, como Código central, é mais amplo 
que os códigos civis tradicionais. É que a linguagem é outra, e nela se contém cláusulas gerais, um 
convite para uma atividade judicial mais criadora, destinada a complementar o corpus juris vigente 
com novos princípios e normas. 
O uso desta técnica legislativa deve ser considerado como grande avanço para o ordenamento 
jurídico nacional, contudo, o simples fato de existir dos standards, só por si, não significa 
transformação qualitativa do sistema. Caberá aos aplicadores do direito, principalmente, ao juiz e a 
doutrina, com freqüentes apelos a conceitos integradores, dar compreensão aos signos, para buscar 
a melhor solução que a situação fática procura na norma. 
Nesta conjuntura de idéias, é possível constatar, comorol exemplificativo, sem pretensão de esgotar 
as hipóteses das cláusulas gerais constantes no Código, a função social que devem ter em mente as 
partes contratantes (artigo 421), a boa fé com que os negócios jurídicos e os contratos deverão ser 
interpretados (artigos 113 e 422), o dever jurídico sucessivo de indenizar decorrente de prejuízo 
causado pela prática de atividade de risco (combinação dos artigos 186 e 927) e outras. 
Características das cláusulas gerais 
As cláusulas gerais tomaram notoriedade com a vigência do Código Civil de 2002, muito embora já 
estivessem presentes na Constituição Federal e em microssistemas, tais como o Estatuto da Criança 
e do Adolescente – ECA (Lei n. 8.069/1990) e o Código de Defesa do Consumidor – CDC (Lei n. 
8.078/1990). 
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Esses novos tipos de normas buscam a formulação da hipótese legal por meio do emprego de 
conceitos cujos termos têm significados vagos e abertos. A abertura semântica implica na vantagem 
de mobilidade, proporcionada pela intencional imprecisão conferida aos elementos integrantes da 
norma. 
A característica da generalidade do enunciado normativo resvala na conclusão indissociável de que 
os standards não pretendem dar resposta imediata a todos os problemas da realidade social, uma 
vez que essas respostas são construídas aos poucos num trabalho em conjunto da doutrina e, 
principalmente, da jurisprudência. 
A premissa lançada linhas acima remete à conclusão lógica. Incorporadas ao texto legal, as cláusulas 
gerais viabilizam atualização constante das normas que se pretende deduzir do sistema jurídico, pois 
através do diálogo travado entre os princípios, as regras jurídicas já existentes e a comunicação 
cultural emanada da sociedade contextualizada, torna a análise do fato da vida parte independente 
da norma. 
Em outras palavras, para melhor entender, tem-se, no centro, uma norma que, de um lado, leva em 
consideração o ordenamento jurídico composto de princípios, valores normativos de todo o sistema – 
constituição e leis – e, de outro, o caso concreto que acompanha o modo de vida da sociedade a que 
ela está inserida. Sendo certo que o avanço tecnológico, cultural e econômico transforma as relações 
entre os indivíduos, também é certo que o direito o acompanhará, então, havendo no ordenamento 
norma com conteúdo semântico vago, ela o manterá a cada nova fase atualizado. 
Feitas essas considerações, é de fácil percepção que esta técnica legislativa contrapõe o casuísmo 
tão propagado no ordenamento jurídico pátrio. Sempre esteve presente nas codificações a técnica 
casuística, de sorte a bem atender a tipicidade almejada para se alcançar segurança jurídica. 
O filósofo alemão Karl Engisch define casuística como “aquela configuração da hipótese legal 
(enquanto somatório dos pressupostos que condicionam a estatuição) que circunscreve particulares 
grupos de casos na sua especificidade própria”. 
Por negativa, afirma que “o verdadeiro significado das cláusulas gerais reside no domínio da técnica 
legislativa. Graças à sua generalidade, elas tornam possível sujeitar um mais vasto grupo de 
situações, do modo ilacunar e com a possibilidade de ajustamento, a uma conseqüência jurídica”. 
Baseado nos ensinamentos de Karl Engisch, Alberto Gosson Jorge Junior, dissertando acerca da 
identificação e definição das cláusulas gerais, asseverou: 
Transitando entre a generalidade, a vagueza e os valores, inseridas numa roupagem de proposição 
prescritiva escrita, as cláusulas gerais afirmam o objetivo de dotar o sistema de normas com 
característica de mobilidade, que propiciem abertura ao ordenamento jurídico, evitando-se a tensão 
entre preceitos normativos rígidos e valores em mutação a implicar um indesejável mal-estar 
decorrente de um embate sem solução sistêmica. 
Diante dessas considerações, tem-se que, por vezes, o aplicador do direito haverá de buscar os 
valores que a norma palpita fora do sistema, pois nem sempre estarão delineados na regra jurídica, 
daí a idéia de flexibilização do ordenamento jurídico. 
Estrutura 
Em virtude de sua peculiar estrutura normativa, cabem algumas ponderações acerca das cláusulas 
gerais sob este enfoque, conjugando a previsão ou hipótese normativa com as conseqüências 
jurídicas (efeitos) que lhe são correlatos. 
Judith Martins-Costa classifica as cláusulas gerais basicamente em três tipos: 
a) disposições do tipo restritivo, configurando cláusulas gerais que delimitam ou restringem, em certas 
situações, o âmbito de um conjunto de permissões singulares advindas de regra ou princípio jurídico. 
É o caso, paradigmático, da restrição operada pela cláusula geral da função social do contrato às 
regras, contratuais ou legais, que têm sua fonte no princípio da liberdade contratual; 
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b) de tipo regulativo, configurando cláusulas que servem para regular, com base em um princípio, 
hipóteses de fato não casuisticamente previstas na lei, como ocorre com a regulação da 
responsabilidade civil por culpa; 
c) e, por fim, de tipo extensivo, caso em que servem para ampliar uma determinada regulação jurídica 
mediante a expressa possibilidade de serem introduzidos, na regulação em causa, princípios e regras 
próprios de outros textos normativos. 
Nesse mesmo sentido, Claudio Luzzati afirma que as cláusulas gerais “constituem normas 
(parcialmente) em branco, as quais são completadas mediante a referência a regras extrajurídicas, de 
modo que a concretização exige que o juiz seja reenviado a modelos de comportamento e a pautas 
de valoração”. 
Isto ocorre em face da noção de vagueza inerente aos conceitos jurídicos indeterminados existentes 
na norma. Nesse sentido, a vagueza semântica será suprida com valorações baseadas em variáveis 
da moral e dos bons costumes encontrados no ambiente social, ou poderá o enunciado normativo ser 
alcançado por meio de máximas de experiência. 
A natureza complexa das cláusulas gerais implica em significação variável, muito por causa da 
incompletude das normas nela insertas, que serão completadas com elementos jurídicos originados 
da esfera social, econômica ou moral. Caberá ao juiz, antes de reduzir o texto legal ao caso concreto, 
avaliar o comportamento e a evolução da sociedade no momento de interpretação e aplicação da 
norma de decisão. 
Funções 
O sistema jurídico de determinada sociedade, dentro de uma divisão dicotômica, pode compreender 
duas formas. O primeiro chamado de tradicional comporta o regime fechado que tem como 
característica a segurança jurídica lastreada no positivismo contido nas fontes legislativas. No 
segundo, encontra-se idéia oposta. O sistema é aberto, tendo as normas nele contidas à estrutura 
marcada pela fluidez de seu texto, ensejando ao jurista a possibilidade de compor o repertório legal, 
por meio da interpretação que confere a norma, juntamente com o legislador e o juiz. 
Como dito anteriormente, as cláusulas gerais permitem que o aplicador do direito crie normas 
jurídicas, buscando conformação com os valores contidos no sistema frente à realidade fática. Esta 
função afigura-se grande ferramenta para conceber a ciência do direito como elemento de mudança 
social. 
Outra função relevante conferida às cláusulas gerais é a de mecanismo de fundamentação jurídica da 
aplicação da lei ao caso concreto, compreendido no estudo de precedentes jurisprudenciais. Esta 
técnica permite operar a integração entre as normas presentes no Código Civil e entre estas e as dos 
demais diplomas legais. 
Esta função viabiliza a mobilidade interna do sistema. As cláusulas gerais atuarão como verdadeiros 
veículos condutores de interpretação/aplicação sistemática e teleológica do direito, percorrendo os 
valores contidos na constituição e leis esparsas para conferir o suporte jurídicoque a solução do caso 
exige. 
Judith Martins-Costa, dissertando acerca do tema, emite opinião própria: 
Tenho ser esta, hoje, a mais relevante função das cláusulas gerais, pois viabilizará a compreensão do 
conceito contemporâneo de sistema, o que se apresenta relativamente aberto (viabilizando a 
introdução de novas hipóteses, sem contudo dispersar-se na cacofonia assistemática), móvel 
(marcado pelo dinamismo entre as hipóteses que contempla nas suas várias partes) e estruturado em 
graus escalonados de privatismo e publicismo. 
Para melhor demonstrar as funções das cláusulas gerais, faz-se útil trazer à colação alguns julgados, 
de sorte a enriquecer didaticamente as argumentações trazidas a lume: 
No julgamento do Habeas Corpus n. 12.547 impetrado contra decisão do Desembargador do Tribunal 
de Justiça do Distrito Federal e Territórios – TJ/DF, que manteve o decreto de prisão por quatro 
meses, por ser a paciente considerada depositária infiel, pela recusa de entregar o veículo objeto do 
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contrato de alienação fiduciária, o Superior Tribunal de Justiça – STJ, em acórdão relatado pelo 
Ministro Ruy Rosado, concedeu a ordem para impedir o cumprimento da ordem de prisão. 
Para a fundamentação do presente caso, o Ministro Ruy Rosado de Aguiar colheu lições sorvidas na 
doutrina para reforçar o discurso da função das cláusulas gerais no sistema jurídico e assim o fez da 
seguinte forma. 
Ao confrontar o pressuposto da dignidade da pessoa humana com o poder econômico das 
organizações financeiras, socorreu-se nas lições de Gustavo Tepedino e transcreveu: 
A tutela da personalidade não pode se conter em setores estanques, de um lado os direitos humanos 
e de outro as chamadas situações jurídicas de direito privado. A pessoa, à luz do sistema 
constitucional, requer proteção integrada, que supere a dicotomia público e privado e atenda a 
cláusula geral fixada pelo texto maior, de promoção a dignidade humana (Gustavo Tepedino, Temas 
de Direito Civil, p. 50). 
Prossegue argumentando: 
Os tribunais cíveis estão obrigados, em virtude da constituição, a considerar, na interpretação e 
emprego das cláusulas gerais, os direitos fundamentais como linhas diretivas. Se eles desconhecem 
isso e decidem, por conseguinte em prejuízo de uma parte processual, então eles violam em seus 
direitos fundamentais (Luis Afonso Heck, Direitos Fundamentais e sua Influência no Direito Civil, 
Revista da Faculdade de Direito da UFRGS, 1999, n. 16, p. 111). 
Outro caso recente que compartilha a utilização das cláusulas gerais e princípios constitucionais para 
fundamentação do julgado foi a decisão monocrática proferida pelo Ministro Marco Aurélio do 
Supremo Tribunal Federal – STF, na Argüição de Descumprimento de Preceito Fundamental, n. 54-
8/DF, proferida em 01 de julho de 2004, em que acolheu o pleito de reconhecer o direito 
constitucional da gestante submeter-se a operação terapêutica de partos de fetos anencefálicos, 
inobstante não esteja esta hipótese permitida pelo Código Penal. 
O teor da decisão do Ministro Marco Aurélio enveredou pela seguinte linha: 
Em questão está a dimensão humana que obstaculiza a possibilidade de se coisificar uma pessoa, 
usando-a como objeto. Conforme ressaltado na inicial, os valores em discussão revestem-se de 
importância única. A um só tempo, cuida-se do direito à saúde, do direito à liberdade em seu sentido 
maior, do direito à preservação da autonomia da vontade, da legalidade e, acima de tudo, da 
dignidade da pessoa humana. O determinismo biológico faz com que a mulher seja a portadora de 
uma nova vida, sobressaindo o sentimento maternal. São nove meses de acompanhamento, minuto a 
minuto, de avanços, predominando o amor. A alteração física, estética, é suplantada pela alegria de 
ter em seu interior a sublime gestação. 
As percepções se aguçam, elevando a sensibilidade. Este o quadro de uma gestação normal, que 
direciona a desfecho feliz, ao nascimento da criança. Pois bem, a natureza, entrementes, reserva 
surpresas, às vezes desagradáveis. Diante de uma deformação irreversível do feto, há de se lançar 
mão dos avanços médicos tecnológicos, postos à disposição da humanidade não para simples 
inserção, no dia-a-dia, de sentimentos mórbidos, mas, justamente, para fazê-los cessar. No caso da 
anencefalia, a ciência médica atua com margem de certeza igual a 100%. Dados merecedores da 
maior confiança evidenciam que fetos anencefálicos morrem no período intra-uterino em mais de 50% 
dos casos. Quando se chega ao final da gestação, a sobrevida é diminuta, não ultrapassando período 
que possa ser tido como razoáveis em foco. 
Cumpre informar que, em 20 de outubro de 2004, o Plenário do Supremo Tribunal Federal – 
STF – revogou a liminar acima reportada. 
Por fim, faz-se alusão a um terceiro julgado que decerto deve ter sido um dos pioneiros no uso das 
cláusulas gerais para fundamentação jurídica, amparando o instituto da responsabilidade civil na boa-
fé das partes contratantes. O acórdão da 5ª Câmara do Tribunal de Justiça do Rio Grande Do Sul, 
relatado pelo Ministro Ruy Rosado de Aguiar Júnior, na Ap. Cív. 591028295, 06 de junho de 1991. 
Aduziu a responsabilidade da empresa alimentícia, industrializadora de tomates, que distribui 
sementes, no tempo de plantio, e então manifesta a intenção de adquirir o produto, mas depois 
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resolve, por sua conveniência, não mais industrializá-lo, naquele ano, assim causando prejuízo ao 
agricultor, que sofre a frustração de venda da safra, uma que o produto ficou sem possibilidade de 
colocação. 
Resta claro que a atitude da empresa alimentícia contrariou os princípios da boa-fé objetiva e a 
função social que devem as partes atender, pois todo o seu comportamento (nas tratativas e 
incentivos) perante aos agricultores – homens do campo, simples e rudes – levaram a concluir pelo 
plantio e cultivo de tomates e que, por isso, os prejuízos pela não consumação do contrato de compra 
e venda devem ser suportados por ela. 
É possível observar que em todos os julgados apresentados acima, o juiz preocupou-se em decidir 
sob o enfoque de normas e princípios ético-jurídicos que são verdadeiras diretivas para o sistema. 
Neste plano, subjaz a idéia de que isto é viabilizado em virtude da mobilidade que estes institutos e 
as cláusulas gerais conferem ao sistema como um todo. 
Cláusulas gerais e os princípios 
Após a assembléia constituinte de 1986, o sistema jurídico brasileiro tomou cunho principiológico, 
pois os aplicadores do direito constataram nos princípios a função de prescreverem fins a serem 
atingidos, servindo de fundamento para a aplicação do ordenamento constitucional. 
Humberto Ávila, divagando sobre tese acerca da distinção/comparação entre regras e 
princípios, em obra bastante aclamada, conceituou princípios, de maneira estruturada e 
demonstrada, nos seguintes termos: 
Os princípios são normas imediatamente finalísticas, primariamente prospectivas e com pretensão de 
complementaridade e de parcialidade, para cuja aplicação se demanda uma avaliação da correlação 
entre o estado de coisas a ser promovido e os efeitos decorrentes da conduta havida como 
necessária à sua promoção. 
Como visto, os princípios são normas que estabelecem um fim a ser atingido. Por este aspecto 
teleológico, Ota Weinberger discorreu de forma singular: 
um fim é idéia que exprime uma orientação prática. Elemento constitutivo do fim é a fixação de 
um conteúdo como pretendido. Essa explicação só consegue ser compreendida com referência à 
função pragmática dos fins: eles representam uma função diretiva (richtungsgebende Fiunktion) para 
a determinação da conduta. Objeto do fim são conteúdos desejados. Esses, por sua vez, podem ser 
o alcance de uma situaçãotbberminal (viajar até algum lugar), a realização de uma situação ou 
estado (garantir previsibilidade), a perseguição de uma situação contínua (preservar o bem-estar das 
pessoas) ou a persecução de um processo demorado (...). Daí se dizer que o fim estabelece um 
estado ideal de coisas a ser atingido, como forma geral para enquadrar os vários conteúdos de um 
fim. A instituição do fim é ponto de partida para a procura por meios. Os meios podem ser definidos 
como condições (objetos, situações) que causam a promoção gradual do conteúdo do fim. Por isso a 
idéia de que os meios e os fins são conceitos correlatos. 
É consabido que os princípios são normas caracterizadas pela alta carga de abstração. No intuito de 
concretizar essa carga de valor, o aplicador do direito haverá de utilizar as cláusulas gerais, uma vez 
que são estas elaboradas através da formulação de hipótese legal que, à vista de seu grau de 
generalidade, abarca a disciplina jurídica de um grande número casos. Dessa sorte, os princípios, 
sejam eles positivados ou não, irão surtir seus efeitos jurídicos quando reduzidos ao caso concreto, o 
que ocorrerá pela instrumentalidade conferida às cláusulas gerais. 
Para arrematar o raciocínio desenvolvido acima, precisa é a lição de Judith Martins-Costa, 
fazendo-se necessário transcrevê-la mais uma vez: 
Tais cláusulas, pelas peculiaridades de sua formulação legislativa, não apenas consubstanciam 
princípios, antes permitindo a sua efetiva inserção nos casos concretos. Cláusula geral, portanto, não 
é princípio – é norma. Mas é norma especial a medida em que, por seu intermédio, um sistema 
jurídico fundado na tripartição dos poderes do Estado e no direito escrito permite ao juiz a 
conformação à norma, à luz de princípios de valor não codificados, e com vinculação, controladas 
apenas pelos próprios tribunais, a critérios extralegais de base e de densidade empírica variável. Não 
 NORMAS GERAIS 
 
 
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são direito material posto pelo legislador, mas, simplesmente, starding points ou pontos de apoio para 
a formação judicial da norma no caso concreto. 
Diante dessa inter-relação que existe entre os princípios e cláusulas gerais, por ora, constata-se que 
alguns juristas utilizam o termo relativo a um quando em verdade está a se referir a outro. Assim o fez 
Gustavo Tepedino ao denominar o princípio fundamental da dignidade da pessoa humana, presente 
no inciso III do artigo 1º da CF de 1988, de cláusula geral. 
Muito embora não haja comprometimento prático na confusão que pode decorrer na utilização 
equivocada (troca) dos termos, por atenção à precisão lógico-analítica que os trabalhos acadêmicos 
devem guardar, deve-se apontar que há diferença entre princípios e as cláusulas gerais, uma vez que 
estas permitem a formação da norma não através da interpretação do princípio, mas através de 
síntese judicial consubstanciada naquele valioso instrumento, que são verdadeiras janelas, para, 
assim, alcançar os valores contidos nos princípios, resultando na criação da norma. 
Interpretação das cláusulas gerais 
Com o advento da Constituição Federal de 1988 e, atualmente, com o Novo Código Civil, tornou-se 
comum na doutrina o discurso de atualização do direito. Tal movimento assume importante papel na 
busca de construir um ordenamento jurídico estruturado e eficaz para o contexto histórico que está 
inserido. 
Não sem propósito, Eros Roberto Grau ensina que “a interpretação do direito caminha a atualização 
do direito”. Desta maneira, “todo texto pretende ser compreendido em cada momento e em cada 
situação concreta de uma maneira nova e distinta”. 
As conclusões do Ministro do Supremo Tribunal Federal foram orientadas pelas lições de 
Hans-Georg Gadamer ao transcrevê-las: 
As leis não pretendem ser interpretadas historicamente, cabendo à interpretação torná-las concretas 
em sua validade jurídica. O texto deve ser compreendido em cada momento e em cada situação 
concreta de maneira nova e distinta. A mobilidade histórica da compreensão, relegada a segundo 
plano pela hermenêutica romântica, representa o verdadeiro centro de uma hermenêutica adequada 
à consciência histórica (o intérprete tem de apreender a tensão natural entre o momento da 
construção do texto – o passado – e o momento da construção da norma – o presente – e, assim, 
enfrentar a mobilidade da situação concreta à qual se há de aplicar essa norma). 
Verifica-se, sem reservas, a presença de uma outra ideologia de interpretação jurídica que, ao revés 
da tradicional, prescinde de normas jurídicas estabelecidas por valores estáticos, com significado 
imutável, para atingir os valores básicos da certeza e estabilidade, tendo como finalidade atividade 
que conforma o direito às exigências presentes e futuras da vida social. 
A ideologia dinâmica de interpretação jurídica guarda paradigma que “o direito existe em função da 
sociedade, e não a sociedade em função dele”. O direito acompanha o presente que vive em 
constante mudança, devido à forma de vida da sociedade moderna e suas perspectivas de 
expansão. 
Alinhada a esta ideologia de interpretação do direito, figura a corrente de pensamento de Miguel 
Reale expressada pelo culturalismo (experiência, cultura e história) que influenciou a construção da 
nova codificação, pautada em diretrizes como: a aderência aos problemas concretos da sociedade 
brasileira, unidade sistemática determinada pela parte geral, unificação lingüística, unidade valorativa 
e sentido de concreção de que as normas se revestem, atendendo ou buscando aliar os 
ensinamentos da doutrina e da jurisprudência ao direito vivido pelas categorias profissionais. 
Sem dúvidas que uma das características marcantes do Código Civil, que se afeiçoam valiosas 
ferramentas para viabilizar a interpretação dinâmica, são as cláusulas gerais. Como visto no 
ponto 4.1.3 do presente trabalho, estes instrumentos permitem que o aplicador do direito crie normas 
jurídicas, buscando conformação com os valores contidos no sistema frente à realidade fática. 
De outra parte, após uma visão crítica acerca da proposta (no sentido dogmático) até aqui 
apresentada poderia o crítico apontar para aleatoriedade de seus argumentos e questionar o 
 NORMAS GERAIS 
 
 
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mecanismo eficaz de orientação na interpretação/atualização da norma, sob pena de não se tornar 
um discurso falacioso. 
Com efeito, após a constituinte de 1986, a sociedade brasileira passou da qualidade de exclusiva 
para inclusiva e vem paulatinamente propiciando (ou ao menos tentando) emancipar o cidadão, 
sendo estes paradigmas do Estado Democrático de Direito que encontram arcabouço jurídico nos 
princípios e normas de valores programáticos insertos na Constituição Federal. 
O legislador originário consagrou no artigo 1º da CF cinco princípios, de prática obrigatória em todos 
os processos de escolha e tomada de decisões que lhes são concernentes, qualquer que seja a ação 
política, econômica ou social a ser empreendida, são eles: soberania, cidadania, dignidade da pessoa 
humana, os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa e o pluralismo político. 
As posições conceituais que espelham os princípios ali constantes devem integrar-se, visando 
coexistirem, a fim de conferir legitimidade à República Federativa do Brasil, uma vez que 
transcendem a concepção de Estado instituído, atingindo os valores preambularmente expostos no 
mesmo diploma constitucional que motivaram seu reconhecimento como “Constituição Cidadã”. 
E se, por um lado, tais princípios representam os fundamentos do Estado brasileiro, por outro 
igualmente o serão junto às demais normas diretivas de todo o ordenamento jurídico pátrio, sejam 
elas constitucionais ou infraconstitucionais, superando o princípio da legalidade na qualidade de regra 
primeira da interpretaçãodo arcabouço legislativo em vigor, atuando como fatores primordiais de 
validade das normas no sistema jurídico brasileiro. 
Dentro desta perspectiva de constitucionalização do direito, conforme visto com mais vagar no item 2, 
deverão as normas contidas no Código Civil vigente serem aplicadas em conformidade com os 
valores postos na Constituição Federal, de sorte a não ferir o sistema jurídico em sua base de 
sustentação. 
Nota-se, então, que deverão as cláusulas gerais ser interpretadas na forma acima adunada, ou seja, 
“constitucionalmente”, bem como atender as premissas específicas da própria codificação 
infraconstitucional. Vale dizer, o Código Civil está pensado e estruturado sob o fundamento filosófico 
de Miguel Reale que remete aos princípios orientadores de interpretação/aplicação das normas 
civilistas. 
No momento de criação da norma, principalmente, quando se almeja agregar valores às cláusulas 
gerais, o aplicador do direito deve ter em mente a socialidade como característica do Direito Civil 
contemporâneo e a eticidade como fundamento das normas civis, de sorte a conferir concretude – 
prestabilidade – a norma jurídica. 
Socialidade 
O Código Civil anterior foi pensado sob o modo de produção capitalista do Estado liberal, quando o 
direito estava a mando dos interesses da classe dominante, a burguesia. Imperava o individualismo, 
os valores da pessoa individual eram superestimados, em detrimento dos interesses gerais da 
coletividade. O homem oprimido pelos valores egoístas da religião e da monarquia libertou-se e 
passou a venerar a propriedade (o direito de possuir – acumular riquezas), elegendo-a como 
fundamental para a realização humana. Diante de tal premissa, o sentimento de fraternidade foi 
relegado a segundo plano. 
Não tardou e a experiência prática evidenciou a humanidade que o individualismo era insuficiente, 
restando evidente a incapacidade do modo de produção capitalista de cumprir com todas as 
promessas idealizadas pela sociedade moderna. Esta nova conjuntura trouxe à realidade a escassez 
do projeto de modernidade. Houve a necessidade, então, de assumir a condição de membro da 
comunidade, de firmar compromisso com os interesses da coletividade, pois ao propiciar o bem-estar 
geral alcança-se a satisfação individual. 
Dotado deste sentimento, influenciado pela concepção do Estado social, sobreveio o Projeto do 
Código Civil vigente, rompendo com o liberalismo. Bem observou Miguel Reale ao afirmar que “se 
não houve a vitória do socialismo, houve o triunfo da socialidade, fazendo prevalecer os valores 
coletivos sobre os individuais, sem perda, porém, do valor fundante da pessoa humana”. 
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Calcada nesta premissa, a socialidade como valor foi dispersada no código por diversos dispositivos, 
limitando a individualidade em detrimento do social, ao propagar a função social na disciplina do 
contrato em si, mas também na liberdade de contratar; relativizou expressamente o direito de 
propriedade ao prever no artigo 1.228 do CC hipótese de desapropriação; sem dúvida que o princípio 
da socialidade será de grande valia na interpretação do artigo 927 e seu parágrafo único, uma vez 
que o conteúdo da norma aponta para a socialização do risco (da atividade). 
Optou o legislador brasileiro por seguir a tendência jurídica mundial de valorizar o social, dando 
ênfase à justiça social, distributiva, de sorte que o ordenamento jurídico contemple o bem-estar 
comum, em especial para garantir o mínimo existencial aos sujeitos de direito, conforme preconizado 
pela Constituição Federal. 
Eticidade no Código Civil 
A valorização da norma encontrou seu momento de plenitude na escola Positivista que fomentou o 
movimento da Exegese, dispondo à atividade do juiz o mecanismo do silogismo para a solução de 
casos. Este movimento mostrou-se apto para solução de situações sem nenhuma complexidade, 
entretanto com o incremento das relações comerciais e o avanço tecnológico o uso de esquemas 
lógico-dedutivos encontrou limite no plano pragmático, revelando a deficiência do legislador em poder 
prever na norma toda gama de fatos ocorridos no bojo da sociedade. 
No decorrer da atividade interpretativa do direito, o operador percebeu a necessidade de se agregar 
valores éticos à norma para que a solução surgisse aproximada ao padrão moral da coletividade, 
preconizando as noções de moral, ética, boa-fé, honestidade, lealdade e confiança. 
Trabalhar com o sistema aberto dotado de conceitos propositadamente vagos é permitir ao intérprete, 
respeitando os vetores ratificados pela Constituição Federal, constante atualização da ordem positiva, 
de modo a mantê-la congruente com a realidade histórica da sociedade, sendo certo que os valores 
postos no parágrafo anterior se perfazem de acordo com experiência da sociedade contextualizada. 
Com este princípio, Miguel Reale enfatizou a função das cláusulas gerais no ordenamento 
jurídico ao afirmar: 
Não acreditamos na geral plenitude da norma jurídica positiva, sendo preferível em certos casos, 
prever o recurso a critérios ético-jurídicos que permita-se a chegar-se à concreção jurídica, 
conferindo-se maior poder ao juiz para encontrar-se a solução mais justa e eqüitativa. (...) por mais 
que o legislador seja sábio e tecnicamente bem informado, jamais lhe será dado prever todas as 
ocorrências, insurgências e recorrências da vida jurídica, tornando-se necessária a salvaguarda da 
equidade, na dupla acepção dada por Aristóteles a esse termo, ou seja, como instrumento de 
interpretação das normas jurídicas segundo sua adequada e prudente medida, e também para suprir 
lacunas inevitáveis no corpo da legislação. 
Diante desta perspectiva, o Código Civil veio para exigir dos sujeitos de direito comportamento 
correto, probo e leal nas relações sociais, esquivando a conveniência de lesar direito alheio em 
benefício próprio. Assim, o legislador previu que haverá de predominar a boa-fé objetiva na prática 
dos negócios jurídicos, nos termos do artigo 113; além de no artigo 187 atribuir ilicitude ao ato 
exercitado em conformidade com o direito que esteja incompatível com o fim econômico e social, a 
boa-fé e os bons costumes. 
Cabe informar que a codificação contemplou o princípio da eticidade em diversos outros dispositivos, 
devendo ser compreendido como uma diretiva de conduta. É de fácil percepção que este pensamento 
subjaz o valor que o ordenamento jurídico vem delegando à dignidade da pessoa humana. 
A concretização do direito 
Essa idéia de certo modo se imbrica com as anteriores. Ambas objetivam a efetiva prestabilidade da 
regra jurídica, sua aptidão concreta à regulação dos casos que decorrem do cotidiano. 
Certo é que o legislador, diferentemente do julgador, cria a regra para os casos em geral, segundo a 
característica da generalidade. Sem embargo disso, deve – tanto quanto possível – legislar com 
vistas a alcançar as pessoas, concretamente. A abstratividade da lei, pois, deve ser entendida não 
 NORMAS GERAIS 
 
 
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como um culto às abstrações, uma falta de compromisso com a realidade, mas apenas como uma 
função da norma, que nasce para atingir fatos futuros, ou seja, que irão ou não acontecer. 
Por essa razão é que se afirma não fazer sentido algum legislar tendo em mente situações ideais. Por 
mais bela e bem elaborada que seja, a legislação valerá unicamente pela sua funcionalidade, aptidão 
e prestabilidade para enfrentar e resolver, com justeza e pertinência, os problemas do mundo dos 
fatos. 
A bem da verdade, o princípio da concretude adotado pelo Código Civil representa mudança do 
paradigma da interpretação do direito. Não existe um terreno composto de elementos normativos 
(direito), de um lado, e de elementos reais ou empíricos (realidade), de outro.É vedado ao intérprete 
considerar, independentemente, o “dever-ser”, mas compartilhá-lo com os elementos do “ser”. 
Nesse passo, a norma é construída, pelo aplicador do direito, no decorrer do processo de 
concretização, ou seja, reduzindo o texto legal de acordo com a realidade fática de um caso 
determinado. 
A eficácia da norma está vinculada, então, a aproximação dos valores da sociedade, tendo como 
fundamentos à história, cultura e experiência, sendo estes conceitos filosóficos centrais da teoria de 
Miguel Reale. 
Para Friedrich Müller, o texto normativo “é uma fração da norma, aquela parte absorvida pela 
linguagem jurídica, porém não é a norma. Pois a norma jurídica não se reduz a linguagem jurídica. A 
norma congrega todos os elementos que compõem o âmbito normativo (= elementos e situações do 
mundo da vida sobre os quais recai determinada norma)”. 
Desta forma, o legislador deve proceder à atualização da linguagem jurídica contida no texto 
normativo, compatibilizando-a ao contexto da sociedade que estiver inserido, de modo a possibilitar a 
concretização do direito. Tal desiderato foi preconizado pelo Código Civil ao lançar mão, sempre que 
possível, das cláusulas gerais, uma vez que os arquétipos jurídicos permitem que os valores 
presentes na sociedade tenham como serem contemplados pelos operadores do direito, 
especialmente, pelo juiz no momento de criação da norma de decisão. 
As modalidades de obrigações no direito civil brasileiro: comentários acerca das normas 
previstas no Código Civil acerca das obrigações 
O Direito das Obrigações no Código Civil 
O Direito das Obrigações trata de direitos de índole patrimonial e constitui a matéria do Livro I da 
Parte Especial, a partir do Art. 233, do Código Civil. Há uma tendência atual de uniformização e de 
internacionalização do direito obrigacional. 
Conceito de obrigação 
O Código Civil brasileiro não apresenta uma definição de obrigação. São características da 
obrigação: 
(a) patrimonialidade: sempre envolve a patrimônio, seja em forma de bens, seja em espécie 
(dinheiro); 
(b) transitoriedade: a obrigação nasce com a finalidade de extinguir-se, sempre, em algum momento 
toda a obrigação se extinguirá; 
(c) pessoalidade: trata-se de uma relação jurídica, um vínculo que se estabelece sempre entre duas 
ou mais pessoas: credor e devedor; e 
(d) prestacionalidade: o objeto é sempre uma atividade, uma prestação que pode ser de dar, fazer ou 
não fazer alguma coisa certa ou incerta. 
Elementos constitutivos da obrigação 
São dois: as partes e o objeto. 
 NORMAS GERAIS 
 
 
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Partes 
Sujeito ativo (credor): titular do direito de receber o objeto obrigacional. 
Sujeito passivo (devedor): titular da obrigação de entrega do objeto obrigacional, ficando com o 
dever de cumprir a obrigação, entregando para o credor aquilo a que se comprometeu. 
Objeto 
Pode constituir-se em obrigação de dar (coisa certa ou incerta), de fazer ou de não fazer; 
Fontes das obrigações 
O direito civil brasileiro acolhe três tipos de fontes geradoras de obrigações (deveres) jurídicas: 
(a) Obrigações derivadas de vontade humana: oriundas de um ato jurídico lato sensu(negócio 
jurídico, ato jurídico stricto sensu); 
(b) Obrigações derivadas de ato ilícito: seja pelo inadimplemento (total ou parcial), seja pelo 
cometimento de um delito; e 
(c) Obrigações derivadas direta ou imediatamente da lei: obrigações tributárias, administrativas, 
oriundas do poder familiar ou mesmo de um fato jurídico stricto sensu, como também os casos de 
enriquecimento sem causa, que implicam em um pagamento injusto e, em consequência, na 
obrigação de restituir, assim como nos casos de abuso de direito. 
Obrigações contratuais e extracontratuais 
As obrigações contratuais são aquelas que se originam das cláusulas contratuais. Já as obrigações 
extracontratuais, por exclusão, são aquelas que não se originam dos contratos, embora devam ser 
respeitados na formulação e no adimplemento das obrigações, como as obrigações decorrentes do 
direito positivo em geral (lei, constituição, etc.), da moral, dos bons costumes, da justiça e da 
equidade. 
Obrigações civis e naturais 
Obrigações civis 
As obrigações, em geral, caracterizam-se pela presença do débito e da responsabilidade, cuja 
consequência do inadimplemento é a possibilidade de sua execução forçada via ação judicial; por 
isto são ditas obrigações perfeitas ou civis. 
Obrigações naturais 
Trata-se de obrigações incompletas, na medida em que apresentam como características essenciais 
as particularidades de não serem judicialmente exigíveis, porém, se forem adimplidas 
espontaneamente, será sempre tido por válido o pagamento, que não poderá ser repetido, uma vez 
que há a retenção do pagamento, soluti retentio, não importando se a prestação era lícita ou ilícita 
(Exemplos: a prestação de alimentos provisionais [Arts. 1706 a 1710, do Código Civil], o pagamento 
de dívidas de jogo [Arts. 814 a 817, do Código Civil], o adimplemento de dívidas prescritas [Art. 882, 
do Código Civil], o pagamento de juros indevidos [Art. 591, do Código Civil] e a vedação ao benefício 
da própria torpeza [Art. 883 e parágrafo único, do Código Civil]). 
Obrigações reais (Propter rem) 
São as obrigações devidas que são originadas da mera titularidade de um direito real. Extinguindo o 
direito real, extingue-se a obrigação. Transmitindo-se a titularidade do direito real, transmite-se a 
titularidade da obrigação. Exemplos: a obrigação do condômino em concorrer, na proporção da sua 
parte, para as despesas de conservação ou divisão da coisa (Art. 1315, Código Civil); a obrigação de 
o proprietário confinante proceder, com o proprietário limítrofe, à demarcação entre os dois prédios, 
aviventar rumos apagados e renovar marcos destruídos ou arruinados, repartindo-se 
proporcionalmente entre os interessados as respectivas despesas (Art. 1297, caput, do Código Civil); 
 NORMAS GERAIS 
 
 
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a obrigação de cunho negativo de proibição, na servidão, do dono do prédio serviente em embaraçar 
o uso legítimo da servidão (Art. 1383, do Código Civil) 
Obrigações de dar (Arts. 233 a 246, do Código Civil) 
Ocorre quando o sujeito passivo compromete-se a entregar ao sujeito ativo uma coisa que pode ser 
certa ou incerta. 
Obrigação de dar coisa certa (Arts. 233 a 242, do Código Civil) 
Coisa certa é tudo que pode ser individualizada, identificado quanto a número, modelo, marca, etc. O 
credor de coisa certa não está obrigado a receber outra coisa no lugar, ainda que seja mais valiosa, 
tendo em vista que a vontade das partes voltam-se para um determinado objeto. A obrigação de dar 
coisa certa abrange também os acessórios da coisa, exceto se não houver possibilidade, ou o 
contrário tiverem ajustado as partes. 
Perda da coisa certa 
Caso ocorra a perda da coisa certa e ainda esteja pendente condição suspensiva, ou ocorre antes 
da tradição, sem que haja culpa do devedor, a obrigação fica resolvida para ambas as partes, sendo 
a perda considerada a causa de extinção da obrigação sem o correspondente pagamento. Ao revés, 
se o devedor concorreu com a culpa para a perda da coisa certa, este responderá pelo equivalente, 
acrescido de perdas e danos. 
Deterioração da coisa certa 
Caso ocorra a deterioração da coisa certa, ou seja, a coisa certa continua a existir, porém danificada, 
depreciada. Neste caso, a lei de igual forma, irá analisar a culpa do devedor pela deterioração da 
coisa. Se o sujeito passivo não concorreu com culpa no fato, o credor ficará com a faculdade de 
resolver a obrigação ou aceitar a coisa no estado em que se encontrar, desde que abatido o preço 
equivalente à deterioração. Se, contudo, a coisa certa se deteriorou por culpa do devedor, o credor 
poderá, de forma facultativa,exigir o equivalente à coisa ou aceitá-la no estado em que se encontra, 
podendo reclamar em ambos os casos indenização por perdas e danos. 
Melhorias 
Os melhoramentos que se acrescentem à coisa certa antes da tradição pertencem ao sujeito passivo 
que, ao entregar a coisa para o sujeito ativo, poderá exigir aumento do preço em decorrência destes 
melhoramentos, podendo resolver-se a obrigação se o credor não anuir com o acréscimo do preço. 
Da mesma forma, os frutos percebidos pertencerão ao devedor, enquanto aos pendentes terá direito 
o credor. 
Obrigação de dar coisa incerta (Arts. 243 a 246, do Código Civil) 
Coisa incerta é tudo aquilo que não pode ser individualizado, mas que deve ser ao menos indicado 
quanto a seu gênero e quantidade. Na obrigação de dar coisa incerta, como regra, o devedor é quem 
deve fazer a escolha da coisa que será entregue ao credor e, neste caso, aplica-se o princípio da 
equivalência, segundo o qual não se pode entregar a pior coisa quando se está obrigado a entregar 
melhor. No entanto, as partes podem ajustar que a escolha seja efetuada pelo credor e estabelecer 
esta deliberação no título. Quando a escolha couber ao devedor, enquanto este não designar qual 
coisa entregará, não poderá ser alegada a perda ou a deterioração da coisa, ainda que decorrentes 
de força maior ou caso fortuito. 
Obrigações de fazer (Arts. 247 a 249, do Código Civil) 
Ocorre quando o devedor compromete-se para com o credor a fazer determinada coisa ou a praticar 
determinado ato. A obrigação de fazer poder ser personalíssima e não personalíssima. 
Obrigação de fazer personalíssima 
A obrigação de fazer personalíssima não admite que terceiro a cumpra no lugar do devedor, 
porquanto é ele, o devedor, quem deverá cumpri-la pessoalmente. Caso cumpri-la torne-se 
 NORMAS GERAIS 
 
 
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impossível, sem que o devedor tenha concorrido com culpa, estará ela resolvida, extinguindo-se a 
obrigação sem o pagamento. Todavia, caso o devedor tenha concorrido com culpa para 
impossibilidade da prestação, este deverá arcar com as perdas e danos. 
Obrigação de fazer não personalíssima 
A obrigação de fazer não personalíssima permite que o terceiro cumpra a obrigação no lugar do 
devedor. Neste caso, podendo a obrigação ser executada por terceiro, o credor estará livre para 
mandar executar a obrigação à custa do devedor e, caso este se recuse ou se constitua em mora, de 
ainda pleitear perdas e danos. Em caso de urgência no cumprimento da obrigação de fazer não 
personalíssima, o credor, independentemente de autorização judicial, poderá executá-la ou mandar 
um terceiro fazê-lo, sendo ressarcido posteriormente. 
Obrigações de não fazer (Arts. 250 a 251, do Código Civil) 
Ocorre quando o devedor compromete-se perante o credor a não fazer determinada coisa ou a não 
praticar determinando ato. Assim, se o devedor descumprir a obrigação, praticando o ato que se 
comprometeu a não praticar, o credor poderá exigir que o devedor desfaça-o, sob pena de mandar o 
credor desfazê-lo à custa do devedor, sem prejuízo das perdas e danos. 
Entretanto, em caso de comprovada urgência, o credor poderá desfazer ou mandar que terceiro 
desfaça o ato independentemente de autorização judicial, sendo ressarcido do devido. Mas a 
obrigação de não fazer ficará resolvida para ambas as partes se tornar-se impossível, para o 
devedor, abster-se do ato. Isto, da mesma forma, consistirá em causa de extinção da obrigação sem 
o pagamento. 
Tutela específica da obrigação de fazer, não fazer e dar (Arts. 461 e 461-A, do Código de 
Processo Civil) 
A tutela específica da obrigação de fazer, não fazer ou de dar é regra de Direito Processual Civil, 
vindo disposta tanto no processo de conhecimento, como nas relações de consumo. Porém, a tutela 
específica destas obrigações tem cabimento ainda por ocasião da execução delas; portanto, cabe 
também no processo de execução. 
Astreintes (Art. 461, do Código de Processo Civil, e Art. 84, do Código de Defesa do 
Consumidor) 
O juiz, ao conceder a tutela específica da obrigação, poderá, de ofício ou a requerimento da parte 
interessada, determinar uma multa para cada dia em que o devedor deixar de cumprir a obrigação 
determinada em juízo. Tais multas são denominadas astreintes e, assim, enquanto perdurar o 
descumprimento da determinação judicial, incidirá multa diária. 
É importante ressaltar que, até 7 de agosto de 2002, as astreintes somente poderiam ser 
determinadas em processos de conhecimento ou de execução das obrigações de fazer ou não fazer. 
Porém, em 7 de agosto de 2002, com a entrada em vigor da Lei nº. 10.444/02, publicada em 8 de 
maio do mesmo ano, o Art. 461 do Código de Processo Civil foi alterado, acrescentando-se, 
inclusive, o Art. 461-A, que passou a admitir a incidência de multa diária também na obrigação de 
dar. 
Obrigações alternativas (Arts. 252 a 256, do Código Civil) 
São aquelas nas quais existe mais de um modo pelo qual a prestação pode ser cumprida pelo 
devedor (Art. 252). Este se exonera ao prestar qualquer delas. Exemplo da barraca de beijos: se 
paga por um beijo, neste caso a obrigação resolve-se tanto se a garota der um selinho como se der 
um beijo de língua. 
Nessa modalidade, a escolha caberá ao devedor se não se estipulou outra forma, não podendo este, 
contudo, cumprir parcialmente uma ou outra. Se uma das duas prestações não puder ser objeto de 
obrigação, ou se tornar inexequível, subsistirá o débito em relação à outra (Art. 253). 
 NORMAS GERAIS 
 
 
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Caso não seja possível cumprir uma ou outra das obrigações, e o fato se der por culpa do devedor 
em que caiba escolha ao credor, ficará o devedor obrigado a pagar ao credor o valor da última 
prestação mais perdas e danos (Art. 254). 
 Se, por outro lado, couber escolha ao credor e uma das prestações não puder ser cumprida por 
culpa do devedor, o credor terá o direito de exigir a prestação subsistente ou o valor da outra, mais 
perdas e danos (Art. 255). Todavia, se nenhuma das prestações puder ser cumprida, sem que haja 
culpa do devedor, obrigação restará resolvida para as partes (Art. 256). 
Obrigações divisíveis e indivisíveis (Arts. 257 a 263, do Código Civil) 
Obrigações divisíveis 
São aquelas que podem ser executadas parceladamente, ou seja, em prestações (Art. 257). 
Exemplo: dívida de R$ 10.000,00, paga em cinco parcelas iguais. 
Obrigações indivisíveis 
São aquelas que não admitem tal parcelamento por sua natureza, por motivos de ordem econômica, 
ou dada a razão determinante do negócio jurídico (Art. 258). Exemplo: dívida de R$ 10.000,00, que 
deve ser paga no prazo de seis meses. A obrigação indivisível perde tal característica se for 
resolvida em perdas e danos. 
* Mesmo que uma obrigação tenha por objeto uma prestação divisível, o credor não está obrigado a 
receber de forma parcelada nem o devedor a dessa forma pagá-la, se assim não tiver sido ajustado 
entre as partes. 
** Sendo divisível a obrigação e existindo mais de um credor ou mais de um devedor, a obrigação 
presume-se dividida em tantas obrigações, iguais e distintas, quantos forem os credores ou os 
devedores (Art. 257). Exemplo: se A deve 15 aos credores conjuntos B, C e D, e sendo divisível a 
obrigação, isto pressupõe que B, C e D têm direito a receber de A 5 cada um. 
*** Ao contrário, e forem vários devedores e a prestação for indivisível, cada qual será obrigado pela 
dívida toda (Art. 259). Aquele que pagar, todavia, sub-rogar-se-á do direito do credor (Art. 259, 
parágrafo único). 
**** Havendo pluralidade de credores, poderá cada um deles exigir a dívida toda. Aos demais 
credores assistirá o direito de exigir. Do credor que receber a prestação por inteiro, a parte que lhes 
cabia no total em dinheiro (Art. 260). 
Obrigações solidárias (Arts. 264 a 285, do Código Civil)A solidariedade no direito das obrigações ocorre quando, em decorrência da mesma relação jurídica, 
a obrigação estabelece-se entre dois ou mais credores (solidariedade ativa) ou dois ou mais 
devedores (solidariedade passiva), tendo cada um deles direito a exigir a dívida toda ou a ela ficando 
obrigado, respectivamente (Art. 264). O instituto das obrigações in solidum admite também a 
modalidade mista, situação em que existirão vários credores e vários devedores na mesma 
obrigação. Todavia, a solidariedade não é instituto que se presuma, isto é, deve ser resultante de lei 
ou da vontade das partes (Art. 265). Ressalta-se também que a solidariedade pode ser pura e 
simples ou estar sujeita à condição, ao prazo ou ao encargo (Art. 266). 
Solidariedade ativa (Art. 267 a 274) 
Ocorre quando cada um dos credores tem o direito de exigir do devedor o cumprimento da obrigação 
por inteiro, denominado de direito individual de persecução (Art. 267). O devedor de obrigação 
solidária, enquanto não for demandado, poderá pagar a qualquer dos credores (Art. 268). Neste 
caso, o pagamento efetuado pelo devedor a qualquer dos credores solidários extinguirá a obrigação 
(Art. 269), o mesmo ocorrendo em caso de novação, de compensação ou de remissão (Art. 272). 
Caso a prestação converta-se em perdas e danos, subsistirá a solidariedade e em favor de todos os 
credores, correndo, inclusive, juros de mora (Art. 271). 
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Entretanto, se um dos credores solidários falecer deixando herdeiros, cada um destes só terá direito 
a exigir a receber a quota do crédito que corresponder ao seu quinhão hereditário, salvo se a 
obrigação for indivisível (Art. 270). Por outro lado, há que se ressaltar que a um dos credores 
solidários não pode o devedor opor as exceções pessoais oponíveis aos outros (Art. 273). O 
julgamento contrário a um dos credores solidários não atinge os demais; o julgamento favorável 
aproveita-lhes, a menos que se funde exceção pessoal ao credor que o obteve (Art. 274). 
Solidariedade passiva (Art. 275 a 285) 
Ocorre quando cada um dos devedores solidários poderá ser demandado para cumprir a 
integralidade da obrigação assumida por todos. O credor tem direito a exigir e receber de um ou de 
alguns dos devedores, parcial ou totalmente, a dívida comum; se o pagamento tiver sido parcial, 
todos os demais devedores continuam obrigados solidariamente pelo resto (Art. 275). Não importará 
renúncia da solidariedade à propositura de ação pelo credor contra um ou alguns dos devedores 
(Art. 275, parágrafo único). 
Se um dos devedores solidários falecer deixando herdeiros, nenhum destes será obrigado a pagar 
senão a quota que corresponder ao seu quinhão hereditário, salvo se a obrigação for indivisível, mas 
todos reunidos serão considerados como um devedor solidário em relação aos demais devedores 
(Art. 276). O pagamento parcial feito por um dos devedores e a remissão por ele obtida não 
aproveitam aos outros devedores, senão até à concorrência da quantia paga ou relevada (Art. 277). 
Qualquer cláusula, condição ou obrigação adicional, estipulada entre um dos devedores solidários o 
credor, não poderá agravar a posição dos outros sem consentimento destes (Art. 278). 
Assim, o credor tem o direito de exigir e receber de um ou alguns dos devedores a dívida comum, e, 
ocorrendo impossibilidade do cumprimento da prestação por culpa de um dos devedores, subsistirá 
aos demais o encargo de pagar o equivalente, porém, por perdas e danos só responderá o culpado 
(Art. 279). Caso seja proposta uma ação contra um dos obrigados, todos responderão pelos juros de 
mora, mas aquele que der causa à situação responderá aos demais pela obrigação acrescida (Art. 
280). O devedor demandado pode opor ao credor as exceções que lhe forem pessoais e as comuns 
a todos; não lhe aproveitando às exceções pessoais a outro co-devedor (Art. 281). Por outro lado, o 
credor pode renunciar à solidariedade em favor de um, de alguns ou de todos os devedores (Art. 
282); todavia, se o credor renunciar da solidariedade em favor de um ou de alguns, subsistirá a dos 
demais (Art. 282, parágrafo único). 
O devedor que satisfez a dívida por inteiro tem o direito a exigir de cada um dos co-devedores a sua 
quota, dividindo-se igualmente por todos a do insolvente, se o houver, presumindo-se iguais, no 
débito, as parte de todos os co-devedores (Art. 283). No caso de rateio entre os co-devedores, 
contribuirão também os exonerados da solidariedade pelo credor, pela parte que na obrigação 
incumbia ao insolvente (Art. 284). Se a dívida solidaria interessar exclusivamente a um dos 
devedores, responderá este por toda ela para com aquele que pagar (Art. 285). 
Ademais, há que se atentar para os seguintes dispositivos legais: 
Art. 127, caput, da Lei 11.101/05: “O credor de coobrigados solidários cujas falências sejam 
decretadas tem o direito de concorrer, em cada uma delas, pela totalidade do seu crédito, até 
recebê-la por inteiro quando então comunicará ao juízo”. 
Art. 54, do Código de Processo Civil: “Quando um devedor solidário é acionado, os demais podem 
intervir no processo como assistentes, na figura de assistente qualificado”. 
Outras modalidades de obrigações 
Obrigações de meio, de resultado e de garantia 
Tal distinção refere-se ao descumprimento das respectivas obrigações, onde a idéia fundamental 
reside na noção de saber e de examinar o que o devedor prometeu e o que o credor pode 
razoavelmente esperar. 
Obrigações de meio 
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Nas obrigações de meio deve ser aferido se o devedor empregou boa diligência no cumprimento da 
obrigação. Seu descumprimento deve ser examinado na conduta do devedor, de modo que a culpa 
não pode ser presumida, incumbindo ao credor prová-la cabalmente. Exemplos: contrato de 
prestação de serviços advocatícios, contrato de prestação de serviços médicos. 
Obrigações de resultado 
Nas obrigações de resultado o que importa é a aferição se o resultado colimado foi alcançado. Só 
assim a obrigação será tida como cumprida. Sua inexecução implica falta contratual, dizendo-se que 
existe, em linhas gerais, presunção de culpa, ou melhor, a culpa é irrelevante na presença do 
descumprimento contratual. Exemplos: contrato de transporte, contrato de reparação de um bem. 
Obrigações de garantia 
As obrigações de garantia viam a eliminar um risco que pesa sobre o credor. A simples assunção do 
risco pelo devedor da garantia representa, por si só, o adimplemento da prestação. A compreensão 
da obrigação de garantia deve partir da noção de obrigação de meio, podendo ser considerada 
subespécie desta, em muitas ocasiões. O inadimplemento deve ser verificado, quero efeito 
indesejado tenha ocorrido, quer não, tomando-se por base um “padrão” de serviços para a espécie. 
Exemplo: contrato de segurança. 
Levando-se em conta tais situações, pode-se afirmar que há obrigações tipicamente de garantia, 
como a dos contratos de seguro e de fiança, e outras obrigações de garantia, como a situação 
enfocada, em que ela surge combinada com uma obrigação de meio. 
Obrigações de execução instantânea, diferida e continuada 
Obrigação de execução instantânea 
É o tipo de obrigação cuja contraprestação a ser feita pelo devedor é simultânea à prestação 
efetuada pelo credor. Exemplo: contrato de compra e venda, contrato de permuta. 
Obrigação de execução diferida 
É o tipo de obrigação cuja contraprestação a adimplida pelo devedor é diferida no tempo (pro futuro) 
em relação à prestação efetuada pelo credor. Exemplo: contrato de seguro, contrato de depósito. 
Obrigação de execução continuada 
É o tipo de obrigação cuja contraprestação a ser adimplida pelo devedor é continuada no tempo em 
relação à prestação efetuada pelo credor. Exemplo: contrato de segurança, contrato de prestaçãode 
serviços educacionais, contrato de locação. 
Obrigações puras, condicionais e a termo 
Obrigação pura 
Trata-se das obrigações que não estão sujeitas à condição, à termo ou à encargo, na medida em 
que o credor possui o direito de exigibilidade prontamente, com o vencimento da obrigação pelo 
devedor. 
Obrigação condicional 
A condição subordina a obrigação a evento futuro e incerto. Não havendo futuridade, tendo já 
ocorrido o evento, não há condição e a obrigação é exequível desde logo. Exemplo: se 
subordinamos um pagamento a um resultado de uma competição esportiva que ocorreu ontem, da 
qual apenas não abemos o resultado, não há futuridade, não há condição, não se trata de obrigação 
condicional, embora sua aparência o seja. Há dois tipos de condições: condições suspensivas e 
condições resolutivas. 
Condições suspensivas 
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Não existe a obrigação, não podendo assim o credor exigir seu cumprimento, enquanto não ocorrer 
o implemento da respectiva condição. Portanto, o credor detém, neste caso, um direito eventual, que 
implica no fato de seu titular poder exercer os meios asseguratórios para conservá-lo (Art. 130, do 
Código Civil). 
Vale dizer que sempre que o devedor impeça que a condição suspensiva se realize, a condição tem-
se por cumprida e torna-se exigível a obrigação (Art. 129, do Código Civil). Ocorrendo o implemento 
da condição, imediatamente é exigível a obrigação (Art. 332, do Código Civil), cabendo ao credor 
provar que o devedor teve ciência do evento. 
Assim, em não ocorrendo a condição suspensiva, a obrigação, assim, deixa de existir. Destarte, não 
tendo ocorrido o evento e tendo o devedor cumprido a obrigação, assiste-lhe o direito de repetição, 
porque se trata de pagamento indevido (Art. 876, do Código Civil). Além disso, é proibida a 
disposição posterior ao estabelecimento da condição suspensiva, se esta disposição é incompatível 
com a condição suspensiva previamente estabelecida (Art. 126, do Código Civil). 
Condições resolutivas 
Ocorre a aquisição do direito por parte do credor de plano, não se diferenciando assim das 
obrigações puras e simples. A condição resolutória não proíbe a disposição da coisa para terceiro e, 
tendo isto ocorrido, e não sendo possível ir buscar a coisa com quem se encontre, só resta a 
resolução em perdas e danos. Em realidade, na condição resolutiva, o vínculo alcança terceiros, que 
adquirem uma propriedade resolúvel. O implemento da condição resolutiva, na realidade, invalida o 
vínculo. Se se tratar de imóveis, deve a resolução constar de registro, para que os terceiros não 
possam alegar ignorância. Com o implemento da condição resolutiva, deve o possuidor entregar a 
coisa com seus acréscimos naturais. Por outro lado, quando se frustra o implemento da condição 
resolutiva, a condição que já era tratada como pura e simples assim permanecerá. 
Obrigação a termo 
O termo, que sempre depende do tempo, é inexorável, razão pela qual o direito do credor é futuro, 
mas deferido, já que não impede a aquisição do direito, cuja eficácia fica apenas suspendida. As 
obrigações podem ser fruto de termo convencional (obrigações negociais), de termo legal 
(obrigações legais, como o pagamento de um tributo) e de termo judicial (obrigações oriundas de 
processo judicial). O termo inicial indica o momento do início, e o termo final indica o momento em 
que deve cessar o exercício do direito. Pelo termo, diferem-se direitos (termo suspensivo) ou se 
limitam em um prazo (termo resolutivo). 
O termo certo (ou determinado) constitui o devedor, de pleno direito, em mora, enquanto no termo 
incerto (ou indeterminado) é necessária a interpelação do devedor (Art. 397, do Código Civil). Depois 
do vencimento, a obrigação sujeita a termo converte-se em pura e simples, tornando-se exigível 
judicialmente. Ademais, convém ressaltar que a regra geral é a de que, antes da superveniência do 
termo, uma obrigação não pode ser exigida. Entretanto, há algumas exceções previstas no Art. 333, 
do Código Civil. 
Obrigações líquidas e ilíquidas 
A obrigação é líquida quando é certa, quanto à sua existência, e determina, quanto ao seu objeto, ou 
seja, encontram-se presentes os requisitos que permitem a imediata identificação do objeto da 
obrigação, sua qualidade, sua quantidade e sua natureza. 
Obrigações ilíquidas 
A obrigação é ilícita quando depende de prévia apuração para a verificação de seu exato objeto. Se 
se trata de apuração em dinheiro, é seu exato montante que deve ser apurado. Todavia, a apuração 
poderá ser de outro objeto que não dinheiro. A obrigação ilíquida tenderá sempre a se tornar líquida, 
para possibilitar, se for o cão, a execução forçada. A conversão ocorrerá em juízo por meio das 
regras do processo de liquidação (Arts. 586 e §§ 603 a 611, do Código de Processo Civil). 
Modalidades de liquidação judicial 
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A sentença judicial sempre trará uma condenação líquida. A fase de liquidação de sentença poderá 
procrastinar desnecessariamente o deslinde da causa. Somente quando o juiz não tiver efetivamente 
elementos para proferir uma sentença líquida é que deverá deixar a apuração para a fase de 
liquidação, a qual, na verdade, se embute no processo de execução. O direito processual civil 
estatuiu tradicionalmente três formas de liquidação de sentença: por cálculo do contador, por 
arbitramento e por artigos. 
Liquidação por cálculo do contador 
É aquela realizada por simples cálculo aritmético, ocasião em que o próprio credor cuidará de fazer a 
memória discriminada dos valores atualizados. Dada a simplicidade dos cálculos, não há a 
necessidade de contador (Art. 604, do Código de Processo Civil). 
Liquidação por arbitramento 
É aquela que depende de conhecimento técnico para sua apuração, referindo o Art. 604, do Código 
de Processo Civil, a este aspecto, quando então se nomeará perito. A sentença que condena o réu a 
Agar o valor de uma máquina que se perdeu, por exemplo, requer arbitramento. O Art. 606, do 
Código de Processo Civil, especifica que se fará a liquidação por arbitramento quando determinado 
na sentença ou assim convencionado pelas partes e quando a natureza do objeto exigir essa 
modalidade. 
Liquidação por artigos 
É aquela que ocorre quando para determinar o valor de condenação, houver necessidade de alegar 
e provar fato novo, conforme disciplina o Art. 608, do Código de Processo Civil. Não é possível fugir 
ao pedido da petição inicial na liquidação da sentença. Entretanto, eventualmente, não poderá o 
autor estipular na petição inicial um pedido líquido (Exemplo: fixação do prejuízo pela produção de 
um produto falsificado pelo réu, onde a apuração do prejuízo dependerá de novos fatos a serem 
provados, uma vez que o montante do prejuízo não foi fixado na sentença). Pode ocorrer também a 
necessidade de perícia na liquidação por artigos. Não se pode, todavia, na liquidação por artigos, 
discutir-se novamente a lide ou se modificar a sentença que a julgou (Art. 610, do Código de 
Processo Civil). 
Obrigação ilíquida e obrigação de dar coisa incerta 
Na obrigação ilíquida, o objeto da prestação é desconhecido. Sempre é permitida a transação ou o 
simples acordo entre as partes para se atingir a liquidação. Porém, nas obrigações de dar coisa 
incerta, a incerteza da obrigação surge com a própria obrigação, enquanto nas obrigações ilíquidas a 
imprecisão não é originária, decorrendo, ao contrário, da natureza da relação obrigacional. O grande 
efeito da distinção é que o adimplemento de obrigação positiva e líquida, em seu termo, constitui de 
pleno direito o devedor em mora. É a mora da própria coisa, do próprio objeto (ex re). Na obrigação 
ilíquida, há necessidade da prévia liquidação para a constituição em mora (em relação aos juros, 
vide Art. 407,

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