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interrogatorio no processo penal

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Revista de Direito 
Vol. 13, Nº. 17, Ano 2010 
Ronaldo Ferreira Marinho 
Subseção Judiciária de Altamira - PA 
ronaldo.marinho@trf1.jus.br 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
O INTERROGATÓRIO NO PROCESSO 
PENAL BRASILEIRO 
 
RESUMO 
Este trabalho funda-se na explanação da evolução histórica por que vem, 
notadamente nos últimos anos, passando o interrogatório no processo penal 
brasileiro, dando ênfase às modificações recentes ocorridas em diversos 
diplomas legais, evidenciando, também, as inovações mais salutares com 
vista a alcançar um Direito cada vez mais moderno. Ao analisar, em sua 
linha evolutiva, o processo penal, vê-se o interrogatório transformar-se de 
meio de prova, em meio de defesa. Mais do que instrumento de persecução 
penal, o processo é instrumento de proteção da liberdade jurídica do 
indivíduo. Neste prisma, o interrogatório converte-se de instituto dirigido 
em princípio à pesquisa das provas em instituto destinado à auto-defesa do 
acusado. No sistema inquisitório, assim como no acusatório, como não 
poderia deixar de ser, o interrogatório é unicamente meio de prova. O que 
distingue os dois processos é que, no inquisitório, as funções de acusar, 
defender e julgar estão reunidas em um único órgão, qual seja, o inquisitor. 
Palavras-Chave: interrogatório; processo penal; meio de prova; defesa; 
processo. 
ABSTRACT 
This project is based on the explanation of the historical evolution in which 
the interrogation, part of the Brazilian penal process, has gone through in 
recent years. It emphasizes not only the most recent changes which have 
happened in several processes, but also the most important innovations 
leading the Law to its highest and most modern level. By analyzing the 
penal process, it is noticeable that the interrogation has turned from a means 
of proof into a means of defensiveness. Besides being a tool for penal 
prosecution, the process is also a tool for the protection of the legal freedom 
of an individual. In this point of view, the interrogation converts itself from 
the coordinated means in search of proofs into the means designated to the 
self-defensiveness of the accused. In the inquisitorial system, as well as in the 
accusing one, the interrogation is only a means of proof. What makes the 
two processes distinct is the fact that in the inquisitorial one the functions of 
accusing, defending and judging are together in the inquisitor. 
Keywords: interrogation; criminal proceedings; evidence; defense; process. 
 Anhanguera Educacional S.A. 
Correspondência/Contato 
Alameda Maria Tereza, 2000 
Valinhos, São Paulo 
CEP 13.278-181 
rc.ipade@unianhanguera.edu.br 
Coordenação 
Instituto de Pesquisas Aplicadas e 
Desenvolvimento Educacional - IPADE 
Informe Técnico 
Recebido em: 15/5/2009 
Avaliado em: 29/7/2010 
Publicação: 11 de agosto de 2010 
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1. INTRODUÇÃO 
O processo, seja ele civil ou penal, é o instrumento pelo qual o Estado, por meio da 
jurisdição, imbuído de seu poder/dever de dizer o direito, tenta manter a paz social. 
Atualmente, a sociedade tem sido alvo de uma desenfreada criminalidade, 
principalmente nos grandes centros urbanos, onde a criminalidade vem grassando 
diariamente e, por isso, o Poder Judiciário tem sido bastante acionado, de forma que o 
processo tem servido como um meio de diminuir essa situação. 
Esse trabalho aborda um dos principais atos processuais, podendo ser 
considerado também como um dos mais importantes. 
O interrogatório é o ato processual pelo qual confere oportunidade ao acusado de 
se dirigir diretamente ao juiz, apresentando a sua versão defensiva aos fatos que lhe 
foram imputados por uma acusação – seja ela ministerial ou particular – podendo, 
inclusive, indicar meios e elementos probatórios, bem como confessar a prática do crime 
imputado-lhe, caso entenda cabível e oportuno, ou mesmo permanecer em silêncio, se 
limitando apenas a fornecer dados informativos de sua qualificação pessoal. 
Mister ponderar, que existem duas fases em que se procede ao interrogatório do 
acusado, quais sejam: a persecutória inicial, conhecida por fase policial, e a instrução 
contradita, também denominada fase judicial. O interrogatório policial se dá durante a 
instrução do Inquérito (CPP) ou do Termo Circunstanciado de Ocorrência – TCO (de 
acordo com as leis n.º 9.099/95 e 10.259/02), quando a Autoridade Policial ouve a versão 
do acusado sobre a imputação indiciária, de forma que o interrogatório judicial realiza-se 
diante do Juiz, representando o Estado, e versa sobre os fatos consignados na denúncia ou 
na queixa.O interrogatório, quer seja ele policial ou judicial, é meio de prova e de defesa 
do agente, mormente por estar disciplinado no Título VII (Da Prova) do Código de 
Processo Penal, e decorrer do direito ao silêncio assegurado constitucionalmente (art. 5º, 
LXIII, da CF), bem como da autodefesa exercitada pelo indiciado ou acusado, na vertente 
do direito de audiência. 
Mister ainda ponderar, que na ordem da tradição do silêncio, foi aprovada mais 
uma modificação em nosso ordenamento jurídico, qual seja, a criação da Lei 10.792/03 
que, acima de tudo, traz importantes e significativas alterações em alguns procedimentos 
processuais penais já consolidados. 
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2. AS REFORMAS DO PROCESSO PENAL E O INTERROGATÓRIO 
As reações sociais aos excessos medievais não demoraram. Ainda no século XIV reformas 
em Portugal foram feitas por Dom Pedro I e Dom João I; Na França, em 1359 e, na 
Alemanha, em 1532 retornavam ao sistema acusatório. No século XVIII, com o advento do 
princípio liberal, determinou-se profundas modificações no processo penal. 
Com a prevalência da ideia liberal e individualista, nesse retorno ao sistema 
acusatório, o interrogatório muda de aspecto. 
Assegura-se ao acusado a possibilidade de, conscientemente, tornar-se o árbitro 
exclusivo sobre o “se” e o “como” de suas respostas. O privilege against self-incrimination da 
V Emenda à Constituição dos Estados Unidos da América representa a garantia da 
liberdade de consciência do réu submetido a interrogatório. E no momento em que o 
acusado pode opor-se ao acertamento da verdade, mediante sua recusa em responder, 
surge para ele um direito que visa substancialmente colocar um limite à busca da 
verdade. Passa-se da tortura ao privilege against self-incrimination. 
2.1. O Processo Penal no quadro das liberdades públicas: o Interrogatório como 
meio de defesa 
O direito público desenvolveu-se de forma autoritária e teve profunda influência no 
processo penal europeu a partir da década de 30, por meio da escola positiva, onde 
modificou esses conceitos novamente. 
O contraste Estado/indivíduo é resolvido em prejuízo deste até cessar as 
mudanças arbitrárias que a escola positiva impôs, assim, até mesmo no campo científico, o 
interrogatório voltou a ser classificado como meio de prova. 
Mas esse abandono do liberalismo não significa, nem deve significar, o desprezo 
do valor liberdade. 
Sobre o valor liberdade, pode-se suscitar o magistério de Ada Pellegrini Grinover, ao 
dispor que: “É a liberdade um direito fundamental, como tal se entendendo o direito 
inerente à personalidade humana, a ausência de constrangimento para toda a atividade 
sem a qual não se conserve, nem se aperfeiçoe o homem”. (GRINOVER, 1976. p. 30). 
2.2. O nemo tenetur no ordenamento jurídico Brasileiro 
Na história do processo penal brasileiro, o interrogatório dos antigos códigos e das leis 
das unidades federadas era meio de defesa. Neste sentido, por sinal, o código
de processo 
do Distrito Federal, em seu artigo 296, determinava que o juiz só perguntaria ao réu se 
queria prestar alguma declaração. 
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O Código de Processo Penal de 1941 absorveu tendências autoritárias da ciência 
penal européia da época, entre elas a configuração dada ao interrogatório do réu e ao 
princípio do nemo tenetur se detegere. 
Assim é que hoje o interrogatório é classificado no código pátrio como meio de 
prova. Disposto neste na parte subseqüente, de sorte que considerando os hodiernos 
entendimentos da doutrina e jurisprudência, a classificação começa a mudar dando lugar 
à discussão sobre sua natureza jurídica. 
2.3. Do interrogatório na fase persecutória inicial 
O interrogatório criminal ocorre em ambas fases da persecução penal (inquisitiva e 
processual), motivo pelo qual se faz necessário tecer breves considerações preliminares 
acerca da sua realização na fase policial, para logo após adentrar a fase judicial em virtude 
da influência que alguns dos princípios/garantias constantes da Carta Magna de 1988 
passaram a exercer sob as autoridades sentenciantes e, ainda, com as principais mudanças 
projetadas pela Lei n.º 10.792/03. 
O Código de Ritos ao tratar do inquérito policial (art. 4º e seguintes), preceitua 
que a autoridade policial logo que tiver conhecimento da prática da infração penal (art. 6º, 
V), deverá ouvir o indiciado, com observância, no que for aplicável, do disposto sobre o 
interrogatório do acusado (art. 185 e seguintes), razão pela qual se afasta de plano a tese de 
que o Delegado de Polícia não interroga, apenas realiza a oitiva do indiciado, ainda mais 
quando se verifica que o artigo 304 do CPP – Da Prisão em Flagrante – expressamente 
dispõe que a autoridade competente interrogará o acusado sobre a imputação que lhe é feita. 
Logo, superado está aquele raciocínio. 
Assim, embora o termo acusado equivocadamente seja utilizado para o agente 
submetido a procedimento administrativo (Inquérito Policial) que, no caso, se inicia 
mediante auto de prisão em flagrante ou portaria, o mesmo não se pode dizer do comando 
legal acerca do interrogatório, pois ao Delegado de Polícia compete aplicar, no que for 
cabível, o disciplinado sobre o interrogatório judicial (art. 6º, V, c/c art. 185 e ss do CPP). 
Deve, inclusive, sob pena de futura declaração de nulidade de todo o procedimento de 
ouvida do investigado, informá-lo do direito de permanecer calado. 
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2.4. Repercussão das alterações do interrogatório judicial na esfera policial de 
acordo com o advento da lei nº. 10.792/2003 
Em que pese a Lei 10.792/2003 não trazer qualquer alteração do Capítulo do Código de 
Processo Penal referente à investigação policial, o artigo 6º, inciso V, da norma adjetiva, 
prevê que a autoridade policial deverá “ouvir o indiciado, com observância, no que for 
aplicável, do disposto no Capítulo III do Título VII, deste Livro”, que é justamente o 
capítulo modificado pela norma reformista. 
Das alterações realizadas (ver capítulo III) quase todas terão plena aplicação no 
interrogatório policial: 
a) o direito ao silêncio não se restringe à fase processual; 
b) o direito de assistência do advogado é garantido constitucionalmente e a 
possibilidade de entrevista prévia e reservada é inerente à assistência 
técnica prestada; 
c) o local de realização do interrogatório tanto pode ser o presídio como a 
sede da delegacia de polícia, a depender da segurança do local; 
d) as perguntas devem versar, nos termos do artigo 187, sobre a pessoa do 
investigado e sobre os fatos; 
e) devem ser observadas as regras específicas sobre surdos, mudos e 
estrangeiros e a separação dos interrogatórios no caso de co-autoria; 
f) e, por fim, é cabível a indicação por parte do advogado e do Promotor (se 
estiver presente) de outros fatos que devem ser indagados. 
A única distinção diz respeito à obrigatoriedade da presença do defensor e do 
membro do Ministério Público, que, evidentemente, não se aplica durante o inquérito. Se 
é verdade que é constitucional o direito de assistência de advogado, não é correto afirmar 
que se trata de obrigação, ou seja, durante o inquérito não é indispensável que se faça 
presente o advogado. Se o investigado não quiser ou não puder contratar advogado para 
acompanhar a fase pré-processual da persecução penal, não existirá qualquer mácula no 
procedimento, por se tratar de momento exclusivamente inquisitivo, onde não existe 
contraditório e ampla defesa. 
 Note-se, contudo, que a lei n. 11.447/07 tornou obrigatória a comunicação à 
Defensoria Pública, da prisão em flagrante de indivíduo que não tenha advogado ou não 
possua condições de constituí-lo. 
2.5. Do interrogatório na fase judicial 
No Direito Processual Penal, sem sombra de faltar com a verdade, um dos atos 
processuais mais importantes é o interrogatório, por meio do qual o Juiz ouve do pretenso 
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culpado esclarecendo sobre a imputação que lhe é feita e, ao mesmo tempo, colhe dados 
importantes para o seu convencimento. 
A necessidade de ser ouvida, no Processo Penal, a pessoa contra quem se pede a 
atuação da pretensão punitiva, contra quem se pede a aplicação da sanctio juris, infere-se 
da própria redação do art. 185 do CPP (ver item 3.3): 
Art. 185. O acusado, que for preso, ou comparecer, espontaneamente ou em virtude 
intimação, perante a autoridade judiciária, no curso do processo penal, será qualificado e 
interrogado. 
É por meio do ato solene do interrogatório que o magistrado mantém contato 
com a pessoa contra quem se pede aplicação da norma sancionadora. E tal contato é 
necessário porque propicia ao julgador o conhecimento da personalidade do acusado e 
lhe permite, além de outras, ouvindo-o, cientificar-se dos reais motivos e circunstâncias 
do crime, elementos estes valiosos para a dosagem e aplicação da pena. Em fim, visa 
extrair um retrato psíquico do acusado. 
Tourinho Filho já dizia, que “o legislador quer que o julgador ouça o acusado não só 
para que se tenha certeza de que ele é, realmente, a pessoa contra quem se propôs a ação 
penal, como também para que o Juiz conheça sua personalidade, saiba em que 
circunstâncias ocorreu a infração – porque ninguém melhor que o acusado para sabê-lo – 
e quais os seus motivos determinantes.” (TOURINHO FILHO, 1997). 
E tão necessário é o interrogatório, atentando para a norma imperativa do art. 
185, que uma das primeiras providências a serem tomadas pelo Juiz, ao receber a peça 
inicial da ação penal, consiste, pois, conforme vaticina o art. 394 do CPP, em determinar a 
citação do acusado para proceder tal peculiaridade. 
3. NATUREZA JURÍDICA DO INTERROGATÓRIO 
Questão bastante controvertida e discutida na doutrina brasileira diz respeito à natureza 
jurídica do interrogatório. Discute-se se esse ato processual é um meio de prova, meio de 
defesa ou concomitantemente meio de prova e de defesa. 
Necessário apresentar considerações acerca do que vem a ser meio de prova e 
meio de defesa, a fim de discorrer sobre os diversos entendimentos suscitados a respeito 
da controvérsia. 
3.1. Meio de Prova 
Prova é toda atividade praticada pelas partes, terceiros e até pelo magistrado, com a 
finalidade de comprovar a veracidade de uma afirmação. 
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O objeto da prova será sempre aquilo que será demonstrado como verdade, ou 
seja, todo fato, alegação,
circunstância, causa, que, por serem incertos, precisam ser 
evidenciados para solucionar a lide. 
Tal demonstração deverá ser feita através dos meios de prova. Meio deve ser 
entendido como o caminho percorrido para atingir o fim desejado, que são os elementos 
probatórios. 
3.2. Meio de defesa 
O direito de defesa é um direito fundamental de todo cidadão brasileiro e está previsto na 
Constituição Federal em seu artigo 5º, inciso LV, que prescreve: 
Art. 5º. Omissis 
LV – aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral, são 
assegurados o contraditório e a ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes. 
Pode-se entender ampla defesa como a faculdade que tem o réu de trazer para o 
processo todos os elementos que possam esclarecer a verdade. 
O direito de defesa tem como finalidade afastar a desigualdade processual, dá ao 
réu a oportunidade de se igualar ao autor. 
Dentro do direito de defesa temos a autodefesa e a defesa técnica. 
A autodefesa consiste na possibilidade do réu ser interrogado e de tomar ciência 
de todos os atos instrutórios do processo. Já a defesa técnica consiste no direito de ser 
defendido por um profissional habilitado que produzirá provas que influenciem no 
convencimento do juiz. 
3.3. O Interrogatório como meio de prova 
Para a doutrina tradicional, o interrogatório constitui o início da fase probatória e, ao 
mesmo tempo, um dos atos finais da fase postulatória. Geralmente, na fase postulatória 
destacam-se o instante da formulação do pedido, do juízo de admissibilidade da demanda 
e da defesa preliminar. 
O acusado, durante o interrogatório, não se limita a responder, como acontecia 
na legislação anterior, a uma série de perguntas predeterminadas, sacramentais, às quais 
dava suas respostas bem pensadas, porque poderiam ser estudadas com anterioridade, e 
assim, não se comprometer, fraudando, desta forma, a busca da verdade real. 
Como bem preceitua Fernando Tourinho Filho, “o interrogatório pode constituir fonte 
de prova, mas não meio de prova: não está ordenado ad veritatem quaerendam”. 
(TOURINHO FILHO, 1997, p. 264). 
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É evidente que o juiz ao ouvir o acusado, pode formular perguntas oportunas e 
úteis, tendo, assim, oportunidade de tomar conhecimento a respeito de dados para a 
descoberta da verdade real. 
Frise-se que o interrogatório sempre foi considerado um meio de prova, face sua 
posição topográfica, Título VII, Capítulo III, do Código de Processo Penal. 
Hélio Tornaghi discorre sobre o tema desta maneira: 
[...] o interrogatório, pois, na lei em vigor, é meio de prova. Fato de ser assim não 
significa que o réu não possa valer-se dele para se defender. Pode, ele é excelente 
oportunidade para fazer alegações defensivas... o objetivo do interrogatório é provar, a 
favor ou contra, embora dele possa aproveitar-se o acusado para defender-se. 
(TORNAGHI, 1997, p. 363-4). 
Ao culpado a situação se apresentará mais difícil, porque a sua negativa 
mentirosa o obriga a rodeios e ginásticas de dialética que acabarão por deixar vestígios e 
contradições que se constituirão em indícios e provas circunstanciais de real valor para o 
veredicto final dos órgãos jurisdicionais. 
3.4. O Interrogatório como meio de defesa 
Em contraste com o entendimento transcorrido anteriormente, boa parte da doutrina 
considera o interrogatório como meio de defesa. 
Os que têm reconhecido o interrogatório como meio de defesa, o faz por 
considerar esse ato a concretização de um dos momentos do direito da ampla defesa, 
constitucionalmente assegurado, qual seja, o direito de autodefesa, na forma de direito de 
audiência. 
No interrogatório, o réu tem a oportunidade de fazer alegações e citar fatos que 
possam exculpá-lo. 
Sobre essa característica, Borges da Rosa assevera que: 
 [...] o interrogatório tem, pois, o caráter de meio de defesa; mediante ele pode o acusado 
expor antecedentes que justifiquem ou atenuem o crime, opor exceções contra as 
testemunhas e indicar fatos ou provas que estabeleçam sua inocência. Então ele é o 
próprio advogado de si mesmo, é a natureza que pugna pela conservação de sua 
liberdade e vida, que fala perante juízes que observam seus gestos e emoções (BORGES 
DA ROSA, 1982, p. 296). 
A ideia de interrogatório como meio de defesa foi reforçada quando a Carta 
Magna de 1988 tutelou o direito ao silêncio na categoria dos direitos e garantias 
fundamentais. 
Desta forma, o réu pode calar-se sem que isso o prejudique, ou seja, motivo de 
sanção. 
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Sobre isso, os tribunais têm o seguinte entendimento: 
EMENTA - PROVA - SILÊNCIO - garantia de liberdade e de justiça ao indivíduo 
hipótese em que o réu, sujeito da defesa, não tem a obrigação nem dever de fornecer 
elementos de prova que o prejudiquem - ainda que se quisesse ver no interrogatório um 
meio de prova, só o seria em sentido meramente eventual, em face da faculdade dada ao 
acusado de não responder, conforme o art. 5º, inciso LXIII da CF. (Tribunal de Justiça de 
São Paulo -Matéria: Prova -Recurso: Ac 136167 1 -Origem: M Guaçu Órgão: Cciv 2 - 
Relator: Euclides de Oliveira – d. 31/01/91). 
Fernando Capez, outro defensor da tese de ser o interrogatório meio de defesa, 
discorre sobre o assunto da seguinte maneira: 
[...] ao contar a sua versão do ocorrido, o réu poderá fornecer no juízo elementos de 
instrução probatória, funcionando o ato, assim, como meio de instrução da causa. 
Todavia, essa não é a finalidade a qual se predispõe, constitucionalmente, o 
interrogatório, sendo a sua qualificação como meio de prova meramente eventual, 
insuficiente, portanto, para conferir-lhe a natureza vislumbrada pelo Código Processual 
Penal. (CAPEZ, 2002, p. 281). 
3.5. O Interrogatório como meio de prova e de defesa 
Para alguns doutrinadores, a maioria atualmente, o interrogatório tem natureza mista, ou 
seja, além de ser um meio de prova é um meio de defesa. 
Os que entendem mista a natureza jurídica afirmam que no momento em que o 
acusado oferece sua versão dos fatos, exercendo seu direito de defesa, ele é observado 
pelo juiz que pode colher outros elementos necessários para julgar sua responsabilidade e 
dosar a pena eventualmente aplicada por ocasião de uma sentença. Colhe-se, sobre o 
assunto, interessante lição do Promotor paulista Rogério Sanches Cunha. 
Sem embargo de tais posicionamentos, parece ganhar força, segundo a doutrina mais 
moderna, uma posição intermediária, que confere um caráter misto à natureza jurídica 
do interrogatório. Ele é meio de defesa e fonte de prova, visto que o acusado tem a 
oportunidade de oferecer sua versão para os fatos, ao tempo em que o juiz pode colher, 
do interrogatório, valiosos dados que serão utilizados no momento de proferir a 
sentença, como ocorre, por exemplo, se o réu confessa a prática do crime (CUNHA; 
LORENZATO; FERRAZ; PINTO, 2008, p. 79). 
O interrogatório, partindo desta premissa, pode ser considerado como um 
instrumento de prova quando considerado pela lei fato probante, porém, será 
considerado de defesa quando entende-se que ele por si só nada evidencia, apenas faz 
referência ao tema probando. 
Vicente Grecco Filho explana sobre o assunto: 
[...] o entendimento mais aceito sobre a natureza do interrogatório é o de que é ele ato de 
defesa, porque pode nele esboçar-se a tese de defesa e é a também, ato de instrução, 
porque pode servir como prova. (GRECCO FILHO, 1998, p. 226). 
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4. O PRINCÍPIO NEMO TENETUR SE DETEGERE
NO INTERROGATÓRIO DO 
ACUSADO 
Verifica-se, a partir do estudo mais amplo sobre o interrogatório do acusado, que o 
princípio nemo tenetur se detegere apresenta-se em diferentes dimensões nos vários 
ordenamentos jurídicos. Em alguns, o princípio tem uma feição mais ampla, de forma que 
em outros, praticamente inexiste. 
De modo geral, o princípio nemo tenetur se detegere assegura, no interrogatório, a 
liberdade moral do acusado, consistente em liberdade de querer e poder determinar o 
próprio comportamento, sem imposições externas. Ou seja, além de exercer tutela sobre o 
risco de auto-incriminação, o nemo tenetur se detegere resguarda também a liberdade de 
autodeterminação que integra a liberdade moral assegurando ao acusado a livre escolha 
do comportamento processual. 
4.1. Direito ao Silêncio 
Há uma significativa tendência à equiparação do princípio nemo tenetur se detegere ao 
direito ao silêncio, especialmente considerando-se a máxima de que ninguém é obrigado a 
declarar contra si mesmo. 
De um lado, o nemo tenetur se detegere e o direito ao silêncio são indissociáveis, 
visto que o direito de calar é uma significativa decorrência de que “ninguém é obrigado a 
se auto-incriminar”. De outro, não se pode negar que a equiparação do nemo tenetur se 
detegere ao direito ao silêncio é bastante restritiva. 
Na realidade, o direito ao silêncio é a mais tradicional manifestação do nemo 
tenetur se detegere, mas o citado princípio não se restringe a ele. O direito ao silêncio 
apresenta-se como uma das decorrências do nemo tenetur se detegere, pois o referido 
princípio, como direito fundamental e garantia do cidadão no processo penal, como limite 
do arbítrio do Estado, é bem mais amplo e há diversas outras decorrências igualmente 
importantes que dele se extraem. 
Na doutrina, freqüentemente, associa-se o direito ao silêncio ao direito de mentir, 
por parte do acusado. Entretanto, a mentira proferida pelo acusado está inserida na 
inexistência do dever de dizer a verdade, que é outra decorrência do nemo tenetur se 
detegere. 
Nesse mesmo diapasão, entende Fernando Capez: [...] O réu pode calar-se, sem que isso 
importe confissão tácita (CPP, art. 198), e pode mentir, uma vez que não presta 
compromisso, logo, não há sanção prevista para sua mentira. [...] Assim, se o silêncio é 
direito do acusado e forma de realização de sua defesa, não se pode conceber que o 
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exercício desta, através do silêncio, possa ser interpretado em prejuízo do réu. (CAPEZ, 
2002, p. 284). 
Em que pese a difusão do direito ao silêncio, com maior ou menor extensão nas 
diversas legislações, registra-se uma forte tendência à associação do referido direito à 
culpabilidade do acusado, que vem de longa data, mas que persiste no dia-a-dia dos 
Tribunais, nos julgados de primeiro grau, e em alguns escritos doutrinários. Aliás, o receio 
de que o silêncio seja interpretado como manifestação de culpabilidade é determinante 
para que o acusado não exerça o direito ao silêncio. 
Tal vinculação decorre de enraizada ideia preconcebida, que remonta ao modelo 
de processo inglês denominado accused speaks, de que quem é inocente responde às 
indagações formuladas, porque nada tem a ocultar. Mais do que isso: o inocente brada, 
grita, manifesta-se, proclamando a sua condição. Ilustrativo, a respeito, o dito popular, 
por vezes recordado em julgados, de que “quem cala, consente”. 
Neste quadro, o silêncio parece antinatural, especialmente para o inocente. Mas 
também antinatural para o culpado, porque, para este, a confissão seria um meio de 
expiação, alívio ao espírito. 
Não se considera, nesta ótica, que possam existir outras razões para o silêncio do 
acusado que não correspondam à culpabilidade e à ausência de qualquer defesa. Trata-se 
de uma visão preconceituosa do silêncio deste e distante da perspectiva dos direitos e 
garantias fundamentais. 
Mais recentemente, tem-se considerado que o direito ao silêncio é obstáculo para 
apuração dos fatos. 
O entendimento da jurisprudência pátria, mesmo antes da edição da nova lei 
10.792/03, assim remontava: 
ADVERTÊNCIA QUANTO AO DIREITO AO SILÊNCIO: A parte final do art. 186 do 
CPP, no sentido de o silêncio do acusado poder se mostrar contrário aos respectivos 
interesses, não foi recepcionada pela Carta de 1988, que mediante o preceito do inciso 
LVIII do art. 5º, dispões sobre o direito de os acusados, em geral, permanecerem calados. 
(2ª T., RE 199.570-0/MT. Rel. Min. Marco Aurélio, DJU, 20/03/1998, p. 17). 
Entretanto, tal silêncio, como decorrência do nemo tenetur se detegere, não é 
antinatural, positivo ou negativo. Não tem conotações valorativas. Não é sinônimo de 
confissão ficta ou de falta de defesa. É, acima de tudo, direito do acusado, no exercício da 
autodefesa. Pode apresentar-se também como estratégia defensiva, adotada segundo a 
orientação da defesa técnica. Como opção do acusado ou estratégia de defesa, 
deliberadamente escolhida, não comporta valorações. Insere-se na construção de um 
processo ético, de respeito à liberdade e dignidade do ser humano. 
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De forma expressa ou não, mantém-se ainda muito enraizada a interpretação do 
silêncio em desfavor do acusado. O fenômeno mostra-se mais preocupante ainda nas 
decisões proferidas pelo Conselho de Sentença, no Tribunal do Júri, que são imotivadas. 
Tais decisões não se submetem a um controle adequado, ao menos nesse aspecto, que 
poderá contribuir para o convencimento dos jurados, mas não será externado em 
fundamentação de sentença. 
4.2. Reconhecimento do direito ao silêncio em todos os interrogatórios 
realizados 
Para que o princípio nemo tenetur se detegere seja efetivamente tutelado no interrogatório, 
em dado ordenamento jurídico, mister que se conheça o direito ao silêncio em todas as 
fases procedimentais, nas quais o acusado for interrogado. 
Em todos os interrogatórios deverá ser observado o direito ao silêncio, mesmo 
que, em alguns deles, o acusado tenha respondido às indagações. 
Em suma, nos interrogatórios a cargo da polícia ou do Judiciário, deverá ser 
observado o direito ao silêncio. Tal observância impõe com maior rigor ainda nos 
interrogatórios realizados pelas autoridades policiais. É que, nas dependências policiais, o 
indivíduo fica mais vulnerável, quer pelo ambiente, quer pela proximidade temporal em 
relação ao fato (no caso de prisão em flagrante), quer pela ausência de defensor. 
Não raro é na fase de investigações preliminares que ocorrem abusos, físicos e 
morais, contra o suspeito ou indiciado. 
Deve-se considerar também, que não observado o direito ao silêncio do acusado 
no inquérito policial, vindo este a responder ao interrogatório e depois, ciente do referido 
direito, silenciar em juízo, as declarações anteriormente prestadas poderão repercutir 
sobre o convencimento do julgador. Ou seja, a não observância do direito ao silêncio na 
fase do inquérito policial poderá trazer prejuízos à defesa do causado, esvaziando-se a 
garantia do nemo tenetur se detegere. 
Objeta-se, porém, contra a tutela do direito ao silêncio nos interrogatórios 
policiais que, com ele, perde-se importante oportunidade para a colheita de elementos 
relacionados à infração penal, prejudicando a apuração da verdade e as investigações 
subseqüentes. 
Referida objeção traz à tona a questão atinente à opção do processo penal entre a 
prevalência do interesse social na eficiência da persecução penal e do mito da verdade 
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material sobre a tutela da dignidade e liberdade do indivíduo, que não deixa de ser 
também de interesse público. 
Trata-se, em resumo, da escolha do legislador entre um processo ético, ditado por 
regras de respeito à pessoa e repulsa às arbitrariedades estatais, e um processo que busca 
a verdade a qualquer custo, inserido no modelo inquisitorial. 
Por fim, deve-se observar que incide o direito ao silêncio também nas declarações 
tomadas de suspeitos, indiciados e testemunhas, perante as Comissões Parlamentares de 
Inquérito (CPI). Assim como em declarações e depoimentos prestados em sindicâncias e 
processos legislativos, sejam eles realizados por autoridades do Poder Executivo, 
Legislativo ou Judiciário. Com relação à testemunha que deva prestar depoimento, Pedro 
Lenza faz interessante observação “As testemunhas prestarão compromisso de dizer a 
verdade, sob pena de falso testemunho. A elas é também assegurada a prerrogativa contra 
a auto-incriminação, garantindo-se o direito ao silêncio (...)”. 
 Nesse sentido, peço vênia para transcrever o seguinte julgado do STF: 
A condição de testemunha não afasta a garantia constitucional do direito ao silêncio 
(CF, art. 5º, LXIII: ‘o preso será informado de seus direitos, entre os quais o de 
permanecer calado, sendo-lhe assegurada a assistência da família e de advogado’);. Com 
esse entendimento, o Tribunal, confirmando a liminar concedida, deferiu hábeas corpus 
para assegurar ao paciente – inicialmente convocado à CPI do Narcotráfico como 
indiciado -, na eventualidade de retornar à CPI para prestar depoimento, ainda que na 
condição de testemunha, o direito de recusar-se a responder perguntas quando 
impliquem a possibilidade de auto-incriminação. HC 79.589-DF, rel. Min. Octavio 
Gallotti, 05-04-2000 (grifo meu). 
É que a auto-incriminação do indivíduo poderá ocorrer em qualquer declaração 
ou depoimento, prestado em sede administrativa, legislativa ou judicial, penal ou 
extrapenal. 
5. OUTRAS ESPECIES DE INTERROGATÓRIOS: INTERROGATÓRIO VIRTUAL, À 
DISTÂNCIA OU ONLINE 
O mundo vive a era da informação. A revolução tecnológica no campo das comunicações 
afeta a todos os setores da sociedade. O Direito, como ciência social, também é 
influenciado pelos avanços científicos, e estes avanços são sempre bem recebidos, 
principalmente quando se tem em mente a celeridade da prestação jurisdicional, muitas 
das vezes, morosa, por força ainda, de falta de aplicação de tecnologias à justiça em todo o 
Brasil. 
Debate bastante atual versa sobre a utilização de meios tecnológicos para agilizar 
a realização de interrogatórios no processo penal, em um procedimento definido como 
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interrogatório virtual, teleaudiência, teleconferência, interrogatório à distancia ou “on-
line”. 
Segundo a Grande Enciclopédia Larousse Cultural (1999, p.5940), 
videoconferência é definida como “teleconferência que permite, além da transmissão da 
palavra falada e de documentos gráficos, a transmissão das imagens animadas dos 
participantes”. 
A Jurisprudência pátria também já decidiu lides a esse respeito, vejamos: 
INTERROGATÓRIO ON LINE. NULIDADE SOMENTE SE HOUVER PREJUÍZO: “Sem 
a devida demonstração do prejuízo, não pode ser anulado ex vi do art. 563 do CPP”. 
(STJ, 5ª T., RHC 6.272-SP, rel. Min. Félix Fischer, DJU, 05/05/1997, p. 17067). 
Atualmente, o interrogatório à distância tem sido realizado regularmente nos 
Estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Paraíba e no Rio Grande do Sul e na 2ª Vara 
Criminal de Porto Alegre. 
Apesar de estar sendo procedido rotineiramente nos Estados supracitados, o 
interrogatório à distância não está previsto de forma expressa no ordenamento jurídico 
pátrio. Face à ausência de previsão normativa e considerando-se os direitos e garantias 
individuais da pessoa humana, cabe-se questionar a validade e a eficácia do interrogatório 
virtual. 
Face ao caráter de que o interrogatório é um meio de defesa, tem sido argüido 
que o interrogatório virtual contraria a Convenção Americana de Direitos Humanos 
(Pacto de São José da Costa Rica), no sentido de ser direito do réu preso se entrevistar na 
presença de um juiz. E, além disso, há quem aluda a inconstitucionalidade da medida, 
por afronta ao princípio constitucional da publicidade (artigo 5º, LX, CF e artigo 792, 
CPP). Nessa linha, sustenta-se que uma tela ou aparelho de TV não podem simplesmente 
substituir o imprescindível contato físico entre o réu e o juiz. 
Há, igualmente, entendimento de que o interrogatório “on-line” contraria o Pacto 
Internacional sobre Direitos Civis e Políticos (Pacto de Nova Iorque) que, em seu Art. 9º, 
inciso 3º, garante a toda pessoa presa ou detida sob acusação de infração penal o direito 
de ser prontamente conduzida à presença de um juiz. 
No plano constitucional, é argüido que o interrogatório à distância fere os 
princípios do devido processo legal, do contraditório e da ampla defesa, da legalidade e 
da proporcionalidade. 
Analisando-se as hipóteses supracitadas, verifica-se que, em relação aos tratados 
internacionais não assiste razão àqueles que os vêem como um óbice ao interrogatório 
virtual. Explica-se: na década de 1960, em que os tratados foram aprovados, não havia 
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tecnologia disponível para a realização de tal procedimento, portanto, não poderiam 
aqueles tratados se manifestar acerca dele. Dessa forma, não é razoável adotar-se 
entendimento restritivo a fim de vedar a utilização do procedimento à distância, 
empregando-se meramente uma interpretação gramatical dos tratados internacionais, e 
desconsiderando-se o momento histórico em que foram aprovados. Dessa forma, conclui-
se que os referidos textos legais não constituem, ‘aprioristicamente’, óbice ao 
interrogatório à distância. 
No entanto, e a fim de por um ponto final às discussões acerca da 
constitucionalidade ou não da videoconferência, o STF, em agosto de 2007, ao julgar o 
HC-88914, declarou a inconstitucionalidade do interrogatório online, o qual peço vênia 
para transcrevê-lo, dada a sua importância. 
Inicialmente, aduziu-se que a defesa pode ser exercitada na conjugação da defesa técnica 
e da autodefesa, esta, consubstanciada nos direitos de audiência e de 
presença/participação, sobretudo no ato do interrogatório, o qual deve ser tratado como 
meio de defesa. Nesse sentido, asseverou-se que o princípio do devido processo legal 
(CF, art. 5º, LV) pressupõe a regularidade do procedimento, a qual nasce da observância 
das leis processuais penais. Assim, nos termos do Código de Processo Penal, a regra é a 
realização de audiências, sessões e atos processuais na sede do juízo ou no tribunal onde 
atua o órgão jurisdicional (CPP, art. 792), não estando a videoconferência prevista no 
ordenamento. E, suposto a houvesse, a decisão de fazê-la deveria ser motivada, com 
demonstração de sua excepcional necessidade no caso concreto, o que não ocorrera na 
espécie. Ressaltou-se, ademais, que o projeto de lei que possibilitava o interrogatório por 
meio de tal sistema (PL 5.073/2001) fora rejeitado e que, de acordo com a lei vigente 
(CPP, art. 185), o acusado, ainda que preso, deve comparecer perante a autoridade 
judiciária para ser interrogado. Entendeu-se, no ponto, que em termos de garantia 
individual, o virtual não valeria como se real ou atual fosse, haja vista que a expressão 
“perante” não contemplaria a possibilidade de que esse ato seja realizado on-line. 
Afastaram-se, ademais, as invocações de celeridade, redução dos custos e segurança 
referidas pelos favoráveis à adoção desse sistema. Considerou-se, pois, que o
interrogatório por meio de teleconferência viola a publicidade dos atos processuais e que 
o prejuízo advindo de sua ocorrência seria intuitivo, embora de demonstração 
impossível. Concluiu-se que a inteireza do processo penal exige defesa efetiva, por força 
da Constituição que a garante em plenitude, e que, quando impedido o regular exercício 
da autodefesa, em virtude da adoção de procedimento sequer previsto em lei, restringir-
se-ia a defesa penal. HC 88914/SP, rel. Min. Cezar Peluso, 14.8.2007. (HC-88914)”. 
(original sem grifos). 
 
A Turma deferiu habeas corpus impetrado em favor de paciente cujo interrogatório fora 
realizado por videoconferência, no estabelecimento prisional em que recolhido, sem que 
o magistrado declinasse as razões para a escolha desse sistema. Na espécie, o paciente 
não fora citado ou requisitado para se defender, mas apenas instado a comparecer à sala 
da cadeia pública, no mesmo dia em que o interrogatório acontecera. Por ocasião da 
defesa prévia, pleiteara-se a nulidade do interrogatório e, em conseqüência, a realização 
de outro, na presença do juiz. O pedido restara indeferido e o paciente, condenado, 
apelara da sentença e, em preliminar, reiterara a nulidade do feito. Sem sucesso, a defesa 
impetrara idêntica medida no STJ, denegada, ao fundamento de que o interrogatório 
mediante teleconferência, em tempo real, não ofenderia o princípio do devido processo 
legal e seus consectários, bem como de que não demonstrado o prejuízo. Entendeu-se 
que o interrogatório do paciente, realizado — ainda na vigência da redação original do 
art. 185 do CPP — por teleaudiência, estaria eivado de nulidade, porque violado o seu 
direito de estar, no ato, perante o juiz. HC 88914/SP, rel. Min. Cezar Peluso, 14.8.2007. 
(HC-88914)”. (grifo meu). 
 A par de toda a polêmica em torno do assunto, o plenário do Senado Federal 
aprovou, no dia 24 de outubro de 2007, um projeto de lei que estabelece como norma a 
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videoconferência para interrogatórios de detentos. Segundo o relator da matéria na 
Comissão de Constituição de Justiça, Senador Romeu Tuma, “O objetivo principal é a 
rapidez e a agilidade para o juiz. Também é positivo para a segurança dos presos, sem 
contar a economia. Tudo isso representa enorme economia e segurança para o Estado” 
(MALTCHIK, 2007). 
 O presidente Luiz Inácio Lula da Silva sancionou no dia 9 de janeiro de 2009, a 
Lei nº 11.900, que permite a realização de interrogatórios de presos por videoconferência. 
De acordo com o projeto aprovado pelo Congresso Nacional, cabe ao juiz avaliar o uso da 
videoconferência, como em casos de risco de segurança ou quando o réu estiver doente. 
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Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituiçao.htm>. 
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