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Pró-reitoria de EaD e CCDD 1 Gestão da Sustentabilidade Aula 2 Professor Dr. Rodrigo Silva Pró-reitoria de EaD e CCDD 2 Conversa inicial No mundo atual, sabemos que as questões ambientais têm grande influência nas tomadas de decisão, no que se refere às estratégias competitivas das organizações, o que, por sua vez, influencia diretamente nas novas formas de comércio mundial. No entanto, tais estratégias devem obedecer às normativas locais para se enquadrar no modelo que vigora naquela localidade. O Brasil possui um arcabouço legal extremamente forte no que se refere à proteção ambiental, sendo um vanguardista nesse aspecto. É nesse sentido que se destaca o Direito ambiental. O Direito ambiental internacional é um campo do Direito internacional que regula o comportamento dos Estados e das organizações internacionais, no que diz respeito ao meio ambiente. Assim, esse material tem o específico objetivo de abordar as principais normativas e legislações relacionadas à temática ambiental, sem comprometer o foco da disciplina, a gestão da sustentabilidade. Optamos por abordar esse tema, pois acreditamos que é de fundamental importância o conhecimento dessas diretrizes legais que norteiam as práticas organizacionais, segundo as leis brasileiras e mundiais. Contextualizando A maneira como os diferentes países encontraram para “se entender” em relação às questões ambientais se deu através dos acordos de cooperação internacional (na forma de tratados, acordos e resoluções) criados por organizações intergovernamentais (como a Organização das Nações Unidas, ONU, por exemplo), bem como as leis nacionais e os regulamentos, que são usados para proteger o meio ambiente. Pró-reitoria de EaD e CCDD 3 Toda essa história começou basicamente durante a Conferência de Estocolmo sobre o Meio Ambiente, em 1972, assunto que já estudamos em outra ocasião. Existem diferentes questões relacionadas ao Direito ambiental, e este, por sua vez, tem como grande preocupação a preservação do meio ambiente. Dentro dessa gama de problemas ambientais tratados no Direito, podemos citar: A destruição da camada de ozônio e o aquecimento global; O processo de desertificação e destruição das floretas tropicais; A poluição dos oceanos; O comércio internacional (tráfico) de espécies ameaçadas; Transferência de resíduos perigosos para países do Terceiro Mundo; Os derramamentos de petróleo e outros combustíveis; A poluição atmosférica e nuclear; O despejo de resíduos perigosos; O esgotamento das águas subterrâneas; O comércio internacional de pesticidas. Ainda, podemos dizer que a legislação ambiental é dividida em duas categorias básicas: a) controle da poluição e remediação; b) conservação dos recursos naturais. Portanto, a legislação ambiental é fundamental para a proteção ambiental e também para a regulação das atividades relacionadas ao uso dos recursos naturais disponíveis. Problematizando Organismos geneticamente modificados (OGMs) e o princípio da precaução Figura: Alimentos que contêm organismos transgênicos. Fonte: Google imagens. Pró-reitoria de EaD e CCDD 4 Popularmente conhecidos como transgênicos, os OGMs são organismos vivos que sofreram alguma modificação em seu material genético (genoma). Muitos alimentos, como o milho, o algodão e a soja, são OGMs. Tais organismos são alvo de inúmeras discussões de especialistas (cientistas, ambientalistas, entre outros) acerca da sua comercialização e seu consumo, devido aos possíveis males que podem causar à saúde humana e ambiental, já que não há certeza desses efeitos, principalmente a longo prazo. Muito embora os riscos e perigos que estes podem oferecer, observa-se ampla comercialização de produtos que contêm organismos transgênicos. Nesse sentido, essas incertezas trazem à tona o princípio da precaução como ferramenta protetiva do meio ambiente e da saúde humana. De acordo com a Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa), o Brasil é um dos maiores produtores de algodão do mundo, sendo o terceiro maior exportador mundial e o quinto em consumo. Dentre as espécies de algodão comercializado, uma das mais consumidas provém de um algodão transgênico resistentes a insetos e herbicidas. Frente à essas informações, imaginemos que você é Secretário do Meio Ambiente de uma determinada localidade no Brasil que produz esse tipo de algodão. Uma grande empresa decide plantar uma espécie de algodão transgênico em uma grande área bem próxima a uma área de proteção ambiental com espécies da fauna e flora nativas da região. Ademais, os estudos de impactos na saúde humana e ambiental ainda são incipientes e, em princípio, não são conclusivos quanto aos riscos em médio e longo prazo. Como contrapartida, 15% dos royalties serão destinados à construção de creches populares e uma grande Unidade de Saúde, que irá atender boa parte da população local, que está carente desse serviço. Mas, para que isso aconteça, é necessário o aval do Prefeito juntamente com o Secretário do Meio Ambiente, no caso, você. Assim, qual é a melhor decisão a ser tomada? I. Liberar as licenças ambientais tão logo possível para realizar o plantio do algodão e angariar fundos para investimento na saúde e na educação local. II. Exigir estudos mais aprofundados acerca dos efeitos a longo prazo dos OGMs na população e nas espécies locais. III. Baseado nos estudos prévios emitidos pela empresa, pode haver liberação para o plantio, condicionando a mesma a apresentar relatórios periódicos sobre os efeitos nas diferentes espécies locais. Obs.: o princípio da precaução, nesse caso, deve estabelecer que o OGM não oferece risco ou perigo à saúde humana e ambiental (demonstrado através de provas científicas), os quais podem ser mitigados, controlados e evitados. Pró-reitoria de EaD e CCDD 5 Tema 01: Os principais tratados internacionais de proteção ao meio ambiente Os países desenvolvidos agora enfrentam os seguintes paradigmas: como conciliar o crescimento econômico à preservação ambiental? Como produzir de maneira eficiente e sustentável a fim de que a própria natureza seja capaz de se regenerar em um tempo suficiente para a reutilização desses recursos e, também atender às demandas comerciais mundiais? É a partir desses questionamentos que iniciaremos nossa conversa sobre os principais tratados internacionais atrelados à proteção ambiental. Para isso, é necessário entendermos o que é a Política de Comércio Externo e qual é a sua relação com a Política Ambiental. Para Baptista (2010), “A Política de Comércio Externo procura a liberalização do comércio internacional, por meio de um conjunto de instrumentos de intervenção pública sobre o comércio exterior, enquanto que a Política de Meio Ambiente defende a preservação e/ou conservação ambiental, a saúde e segurança humana, a proteção do consumidor e o tratamento dado aos animais”. A partir dessa leitura, observamos um conflito de interesses entre ambas as partes. Um defende a comercialização de produtos e serviços, ao passo que o outro defende a preservação dos recursos. E porque isso é tão conflitante? Basta pensarmos que a produção de bens de consumo necessita do uso de recursos naturais. Assim, o aumento dessa produção leva ao aumento do uso de recursos e, consequentemente, a sua escassez em logo, médio ou curto prazo, dependendo da velocidade de uso. Nesse sentido, afirmamos que um meio termo deve ser encontrado para que ambos sigam de maneira harmônica. É nesse contexto que surgem os tratados ambientais, que têm como principal função a conciliação entre a preservação dos recursos e a economia de uma nação (ou de várias)de forma sustentável. A imagem a seguir revela os principais tratados ambientais do mundo moderno. Pró-reitoria de EaD e CCDD 6 Pró-reitoria de EaD e CCDD 7 Dentre os tratados relatados, podemos destacar: A Convenção sobre o Comércio Internacional das Espécies da Fauna e da Flora Silvestres Ameaçadas de Extinção (Cites); O Protocolo de Montreal (1989); A Convenção de Basileia (1993); Protocolo de Kioto (1997). Vamos nos aprofundar apenas no último, o Protocolo de Kioto, pois se trata do mais conhecido entre os mencionados e é ferramenta fundamental nos processos relacionados ao Comércio Internacional. O que é o Protocolo de Kioto? Assinado em 1997 e iniciado em 2005, o Protocolo de Kioto foi o primeiro acordo internacional (assinado por 189 países) vinculado ao Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas da ONU, que estabeleceu entre seus membros metas de redução de emissões coletivas de gases de efeito estufa em 5,2%, entre os anos de 2008 e 2012, baseando-se no ano de 1990. Reconhecendo que os países desenvolvidos são os principais responsáveis pelos altos níveis atuais de emissões de gases de efeito estufa na atmosfera, como resultado de mais de 150 anos de atividade industrial, o Protocolo coloca uma carga mais pesada em nações desenvolvidas sob o princípio de "responsabilidades comuns, porém diferenciadas". Os países que se comprometeram em diminuir suas emissões tiveram sucesso, pois a redução foi de aproximadamente 22,6%. No entanto, a taxa de emissão global aumentou. O último relatório do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC, em inglês) sobre a avaliação do clima mostrou que, em vez de diminuírem (como era esperado), as emissões de gases aumentaram cerca de 16,5% entre os anos de 2005 e 2012, e um dos fatores para que esse fato tenha ocorrido é que os maiores poluidores, China e EUA, não participaram do processo. Ao final do período, houve a 18ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança Climática (COP-18), em Doha (Catar), que estabeleceu uma nova meta (o segundo termo do referido Protocolo): até 2020, a redução de 18% das emissões. É importante mencionar que não mais participam Nova Zelândia, Canadá, Rússia e os EUA. Pró-reitoria de EaD e CCDD 8 Desde a Revolução INDUSTRIAL, a temperatura da Terra subiu cerca de 0,74 ºC e se as emissões de GEE não diminuírem, espera-se que, em 2100, elas possam aumentar de 1,8 ºC a 4 ºC (Figura 1). Para se ter uma ideia da gravidade deste problema, é só pensar em nosso estado físico quando a nossa temperatura sai de 36,5 ºC (temperatura normal) para 37,5 ºC (estado febril): a variação de apenas um grau é suficiente para nos causar grande mal-estar! Figura 1: Evolução da temperatura da Terra desde a Revolução Industrial até os dias atuais. Nota: após a Revolução Industrial (período após 1860), o aumento da temperatura global tornou-se acentuado. Pró-reitoria de EaD e CCDD 9 Tema 02: Os impactos ambientais do comércio exterior Em outra ocasião do nosso estudo, vimos que a maioria dos países desenvolvidos utilizam em demasia seus recursos naturais visando ao aumento da produção e do lucro. No entanto, os efeitos disso são nefastos ao meio ambiente. Por isso, segundo o estudioso Alemão Urlich Beck, vivemos em uma sociedade de risco (GUIVANT, 2001). Em seu trabalho, Beck considera que vivemos em um "mundo fora de controle", caracterizado por "incertezas fabricadas", ou seja, um mundo onde a crescente desconfiança na ciência e nos órgãos responsáveis pela gestão dos riscos e das catástrofes revelou a necessidade de novos rumos para a tecnologia. Para se ter uma ideia, utilizamos cerca de 80% a mais de recursos naturais do que a Terra é capaz de nos oferecer (Figura 2). Cabe, aqui, fazer uma observação: estamos falando de recursos naturais não renováveis, que são os recursos quem não podem ser renovados pelo próprio meio ambiente. Como exemplo desses recursos, podemos citar o petróleo, a madeira, o carvão, os metais, entre outras matérias-primas. Figura 2. Relação consumo-recursos naturais. Fonte: Organização Internacional Global Footprint Network (GFN) – Dia da sobrecarga da Terra. Pró-reitoria de EaD e CCDD 10 A representação gráfica mostra quantos países seriam necessários para sustentar o estilo de vida de cada país. Podemos observar que os países representados utilizam de muito mais recursos do que o planeta é capaz de oferecer. A expansão do comércio mundial tem levantado a questão da relação entre comércio e meio ambiente. Já vimos que a produção de bens importados e exportados, muitas vezes, têm efeitos ambientais negativos. Mas, esses efeitos irão diminuir ou aumentar com a expansão do comércio? Quem serão os mais afetados: os importadores, os exportadores ou o mundo como um todo? Além disso: de quem é a responsabilidade acerca dos problemas ambientais associados com o comércio? Tais indagações têm recebido atenção crescente nos últimos anos. É importante destacar que, de acordo com a organização Mundial do Comércio, a proibição das importações e exportações somente podem ser restringidas em casos muito limitados, como, por exemplo, a proteção da saúde e segurança dos seus próprios cidadãos. Há inúmeros casos em que países tentam restringir a importação de produtos que afetem diretamente o meio ambiente, podemos citar, como exemplo, a comercialização de recursos florestais e pesqueiros que são extraídos de forma não idônea (desmatamento e pesca predatória, respectivamente). No comercio interno (nacional) há uma expressão muito utilizado nesse sentido: “internalizar as externalidades negativas”. Mas, o que isso significa? Essa é uma expressão advinda do Princípio do Poluidor-pagador, isso quer dizer que: “o poluidor é obrigado a internalizar os custos sociais externos (externalidades negativas) que acompanham o processo de produção, a fim de que o custo resultante da poluição seja por ele assumido no custo da produção, devendo agir para diminuir, eliminar ou neutralizar o dano ambiental”1. Para o comércio internacional, isso se torna mais difícil, pois a autoridade para formular e aplicar políticas ambientais geralmente só existe a nível nacional. Podemos dizer que é possível exportar poluição através da importação de bens cuja produção envolve altos impactos ambientais. O comércio também envolve, necessariamente, o uso de energia para o transporte, a poluição do ar e outros impactos ambientais. Também pode haver efeitos ambientais indiretos do comércio, por exemplo, quando os trabalhadores do campo são deslocados das suas terras devido à mecanização da agricultura. Tipos específicos de comércio, tais como o comércio de resíduos tóxicos ou espécies ameaçadas de extinção, têm impactos ambientais óbvios. 1 Trecho retirado de <http://oprocesso.com/2012/06/08/em-que-consiste-a-expressao- internalizacao-das-externalidades-negativas/>. Acesso em: 01 dez. 2015. Pró-reitoria de EaD e CCDD 11 Entretanto, o comércio também pode ter efeitos benéficos para o ambiente. Um comércio mais livre pode facilitar a disseminação de tecnologias benéficas ao meio ambiente. Também há a tendência de o comércio promover uma produção mais eficiente e limpa. Além disso, as pressões legais são alavancas para melhorar as normas ambientais locais, visando à preservação ambiental. Tema 03: A Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA) A ideia de colônia de exploração foi, por muito tempo, o principal motivo que levou à degradação ambiental dos biomas brasileiros. Por isso, a mudança desse paradigma era necessária. O Brasil é um dos pioneiros em relação a políticas e legislaçõesrelativas à proteção ambiental. O arcabouço legal brasileiro é um dos mais completos do mundo e recebe elogios de diversos países. Isso tanto é verdade que a nossa Constituição Federal dedica um capítulo exclusivo ao quesito proteção ao meio ambiente: o artigo 225. O país, por se tratar de um dos maiores hotspots2 de biodiversidade do planeta, necessitava que houvesse legislações de proteção e gestão são extremamente eficientes e efetivas. É importante destacar que a gestão e proteção jurídica sobre o meio ambiente deu-se primariamente através da promulgação da Lei n. 6.938, de 31 de agosto de 1981, um marco histórico no ambientalismo brasileiro, que ansiava por uma gestão participativa e protetiva desse patrimônio. O objetivo primário dessa política era aliar o desenvolvimento socioeconômico à preservação dos recursos naturais e ao equilíbrio ambiental, assim, qualquer atividade, seja ela pública ou privada, deve estar em concordância com essa política. À época, o Brasil, então governado pelo General João Figueiredo, teve a lei aprovada quase por unanimidade (fato raríssimo), o que configurava um anseio tanto do governo quanto da oposição no que se refere à proteção ambiental. Ainda, uma das principais contribuições da referida lei foi a criação do Sistema Nacional do Meio Ambiente (Sisnama), uma estrutura político-administrativa que tem por função a proteção e melhoria da qualidade ambiental. O Sisnama é formado pelos órgãos e pelas entidades da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Municípios e pelas fundações instituídas pelo poder público. A estrutura do Sisnama, de acordo com o Ministério do Meio Ambiente (MMA), é a seguinte: 2 “Hotspot é toda área prioritária para conservação, isto é, de alta biodiversidade e ameaçada no mais alto grau. É considerada Hotspot uma área com pelo menos 1.500 espécies endêmicas (não são encontradas em nenhum outro local) de plantas e que tenha perdido mais de 3/4 de sua vegetação original”. Retirado de: <http://www.cenedcursos.com.br/hotspots- conservacao-biodiversidade.html>. Acesso em: 10 dez. 2015. Pró-reitoria de EaD e CCDD 12 Órgão Superior: Conselho de Governo; Órgão Consultivo e Deliberativo: Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama); Órgão Central: Ministério do Meio Ambiente; Órgão Executor: Ibama e ICMBio; Órgãos Seccionais: os dos estados responsáveis pela execução de programas, projetos e controle/fiscalização de atividades degradadoras do meio ambiente; Órgãos Locais: órgãos ou entidades municipais responsáveis pelo controle e pela fiscalização destas atividades, nas suas respectivas jurisdições. Ainda, seguem outros instrumentos importantes da PNMA: O estabelecimento dos padrões de qualidade ambiental; O zoneamento ambiental; A avaliação de impacto ambiental; O licenciamento ambiental; O estabelecimento e uso de tecnologias visando à melhoria da qualidade ambiental; A criação dos espaços territoriais protegidos (Unidades de Conservação - UCs3): o Áreas de Proteção Ambiental (APAs) – área, em geral, extensa, com certo grau de ocupação humana, com atributos bióticos, abióticos,4 estéticos ou culturais importantes para a qualidade de vida e o bem-estar das populações humanas. As APAs têm como objetivo proteger a diversidade biológica, disciplinar o processo de ocupação e assegurar a sustentabilidade do uso dos recursos naturais. Cabe ao Instituto Chico Mendes (ICMBio) estabelecer as condições para pesquisa e visitação pelo público. 3 Texto retirado na íntegra de: <http://www.icmbio.gov.br/portal/biodiversidade/unidades-de- conservacao/categorias>. Acesso em: 10 dez. 2015. 4 De maneira simples, fatores bióticos são todos os elementos vivos de um ecossistema (animais, plantas, microrganismos, etc.) e fatores abióticos são os elementos não vivos desse ecossistema (vento, Sol, ar, solo, etc.) Pró-reitoria de EaD e CCDD 13 o Área de Relevante Interesse Ecológico (Arie) – área, em geral, de pequena extensão, com pouca ou nenhuma ocupação humana, com características naturais singulares ou mesmo que abrigam exemplares raros da biota regional. Sua criação visa a manter esses ecossistemas naturais de importância regional ou local, bem como regular o uso admissível destas áreas, compatibilizando-o com os objetivos da conservação da natureza. o Reservas Extrativistas (Resex) – área utilizada por populações extrativistas tradicionais, cuja subsistência baseia-se no extrativismo e, complementarmente, na agricultura de subsistência e na criação de animais de pequeno porte. Sua criação visa proteger os meios de vida e a cultura dessas populações, assegurando o uso sustentável dos recursos naturais da unidade. As populações que vivem nessas unidades possuem contrato de concessão de direito real de uso, tendo em vista que a área é de domínio público. A visitação pública é permitida, desde que compatível com os interesses locais e com o disposto no plano de manejo da unidade. A pesquisa é permitida e incentivada, desde que haja prévia autorização do Instituto Chico Mendes. Criação do Sistema nacional de informação sobre meio ambiente (CNIA) Criação das Penalidades Disciplinares e Compensatórias para ações de degradação ambiental; Entre outros. Nesse sentido, estendemos o PNMA como um instrumento protetivo do meio ambiente e sua grande importância na gestão ambiental e da sustentabilidade deste. Outro aspecto importante de se destacar dessa política, se refere ao fato de que ela apresenta diversos princípios do Direito ambiental internacional no corpo do seu texto. Além disso, alguns outros princípios, já discutidos em outra ocasião, já figuravam entre as linhas da política, como é o caso dos princípios da precaução e do poluidor-pagador (FONTENELLE, 2004). Nesse sentido, a referida legislação é norteadora quando se trata da implantação de alguma atividade que, de alguma forma, interaja com o meio ambiente. Pró-reitoria de EaD e CCDD 14 Tema 04: A Lei de Crimes Ambientais e sua relação com o comércio exterior Ao longo da nossa aula, verificamos que o meio ambiente em sua plenitude é essencial para a sadia qualidade de vida da população. Tal princípio fora explicitado no artigo 225 da Constituição Federal. Ainda, neste mesmo artigo, menciona-se que é de direito de todos um ambiente ecologicamente equilibrado. O crime pode ser conceituado de diferentes maneiras – de acordo com a escola penal. Aqui, iremos abordar o crime como qualquer conduta danosa, que contrasta com a finalidade do Estado, que contradiga a legislação vigente (que é proibida pela lei penal) e que deve ser penalizado. No caso específico de crimes relacionados ao meio ambiente, este assim será enquadrado quando houver qualquer tipo de conduta e/ou atividade lesiva ao meio ambiente (fauna, flora, recursos naturais e até o patrimônio cultural) de acordo com a Lei n. 9.605/1998 (O ECO, 2015). A partir do surgimento da lei de Crime Ambientais, a legislação protetiva ao meio ambiente avançou consideravelmente. Para se ter uma ideia, somente após a criação da Lei uma determinada empresa (pessoa jurídica) que atentou contra o meio ambiente pode ser punida administrativa, civil e penalmente, de acordo com a magnitude do crime. Abaixo, alguns exemplos de crime ambiental (CAMPOS FILHO, 2004): Provocar incêndio em mata ou floresta; Cortar árvore em floresta de preservação permanente; Transformar madeira de lei em carvão; Receber ou comercializar produtos de origem vegetal sem exibir licença de vendedor expedida pela autoridade competente. Agressões à faunaaquática – No caso da pesca, a legislação é ainda mais rigorosa; Venda, exposição à venda, exportação ou aquisição, guarda, tem em cativeiro ou depósito, utiliza ou transporta ovos, larvas ou espécimes da fauna silvestre, nativa ou em rota migratória, bem como produtos e objetos dela oriundos, provenientes de criadouros não autorizados ou sem a devida permissão ou licença da autoridade competente (Figura 1); Fabricação, venda, transporte ou soltura de balões; Destruir ou danificar bem protegido por lei, tais como arquivos, registros, museus, bibliotecas, pinacotecas, instalações científicas ou similares. Pró-reitoria de EaD e CCDD 15 Figura 01 – Comércio de animais. Fonte: (ONU, 2015). O tráfico de animais silvestres é um dos maiores problemas ambientais da atualidade. De acordo com a Organização da Nações Unidas (ONU, 2015), essa prática está entre as três mais rentáveis do mundo. É importante destacar que algumas exigências dos órgãos ambientais quando não são cumpridas, as empresas são enquadradas nesta lei, esse é o caso da não apresentação da licença ambiental. As penalidades variam de acordo com o tipo de crime, a magnitude, a reincidência, os antecedentes entre outros. Nesse caso, o juiz de direito irá determinar qual é a punição que melhor se enquadra, e é por isso que a determinação das quantias monetárias são difíceis de serem determinadas, pois deverão ser avaliadas todos os possíveis efeitos daquele crime. Destaca- se que a população em geral, como bem mencionado no artigo 225 da Carta Magna, tem o dever de preservação do meio ambiente e, se esta souber de algum tipo de crime ambiental, deve se dirigir ao órgão ambiental competente da sua região (órgão representante do Sisnama) para realizar a denúncia. Uma vez ciente do crime, este órgão deverá apurar imediatamente o fato, tomando as providências cabíveis, sob pena de corresponsabilidade. Pró-reitoria de EaD e CCDD 16 Tema 05: A Política Ambiental Internacional O crescimento do Direito ambiental internacional como uma área separada do Direito internacional público começou na década de 1970 com a Conferência de Estocolmo sobre o Meio Ambiente em 1972, no entanto, destacamos também a Rio 92 ou ECO 92, que teve grande repercussão nesse aspecto. Assim, a visão antropocêntrica passa a dar lugar para a visão biocêntrica, ou seja, o meio ambiente passa a exercer o papel principal neste cenário. Em muitos de seus princípios, a Declaração do Rio sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento5 (documento elaborado durante a Rio 92), que reafirma a Declaração da Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano (Conferência de Estocolmo), estabelece a necessidade imperativa da cooperação entre os Estados visando à preservação ambiental, à equidade social e ao crescimento econômico das diferentes nações. Especificamente no Princípio 12, a Declaração aborda a questão do comércio internacional, como segue: “Os Estados devem cooperar na promoção de um sistema econômico internacional aberto e favorável, propício ao crescimento econômico e ao desenvolvimento sustentável em todos os países, de forma a possibilitar o tratamento mais adequado dos problemas da degradação ambiental. As medidas de política comercial para fins ambientais não devem constituir um meio de discriminação arbitrária ou injustificável, ou uma restrição disfarçada ao comércio internacional. Devem ser evitadas ações unilaterais para o tratamento dos desafios internacionais fora da jurisdição do país importador. As medidas internacionais relativas a problemas ambientais transfronteiriços ou globais deve, na medida do possível, basear-se no consenso internacional” (ONU 1992). Assim como o Direito internacional, o Direito ambiental internacional é multidisciplinar, ou seja, envolve múltiplas áreas do conhecimento como, por exemplo, economia, ciência política, ecologia, direitos humanos, entre outras. Um dos principais desafios relacionados às questões ambientais é a necessidade de desenvolver (ou mesmo aprimorar) as leis nacionais e internacionais de forma eficaz e equitativa, a fim de proteger, gerir e conservar os recursos naturais e as espécies vivas para as gerações atuais e futuras. Nesse contexto, as leis ambientais fornecem a base legal a qual as instituições e os governos utilizarão para construir uma sociedade capaz de utilizar e respeitar os recursos ambientais. 5 O documento na íntegra está disponível em: <http://www.onu.org.br/rio20/img/2012/01/rio92.pdf>. Pró-reitoria de EaD e CCDD 17 No entanto, de acordo com a Unep, que é o programa da ONU para o Meio Ambiente e Desenvolvimento, o Direito ambiental tem desafios para enfrentar. Podemos citar como exemplo (UNEP, 2016): A defasagem de tempo entre o entendimento das problemáticas ambientais e a criação de legislações de proteção; Legislações ambientais desatualizadas e defasadas; Falta de legislação ambiental adequada, sobretudo em países em desenvolvimento; Capacidade insuficiente na aplicabilidade da legislação existente, principalmente nos países em desenvolvimento, como é o caso do Brasil. A legislação transfronteiriça é importante, pois o comércio internacional pode afetar o desenvolvimento e o meio ambiente em uma série de maneiras. Primeiro, o comércio pode mudar as atividades de produção de uma determinada localidade, tornando-o mais ou menos sustentável. Em segundo lugar, o aumento da liberalização do comércio muda o padrão e o nível de consumo mundial, tais mudanças podem afetar significativamente o ambiente de diferentes formas, como, por exemplo, o aumento da produção de resíduos ou mesmo o aumento do consumo de matéria-prima para manter a produção. Em terceiro lugar, o comércio influencia o processo de desenvolvimento económico, a criação de novas oportunidades para a utilização rentável dos recursos produtivos. Por exemplo, o comércio internacional de produtos agrícolas é grande e uma importante fonte de divisas para muitos países, principalmente para o Brasil. Os tratados e acordos internacionais são as ferramentas utilizadas pelos países para legitimar o que fora acordado nas reuniões internacionais. Conceitualmente, os autores Schimidt e Freitas (2009, p. 17) definem tratado como “(...) um termo genérico, que inclui as convenções, os pactos, os acordos, os protocolos, a troca de instrumentos”. Destacamos ainda que os tratados internacionais são de fundamental importância também para que a sociedade civil organizada em suas ações através de ONGs como, por exemplo, a WWF (World Wide Fund for Nature) e o Greenpeace, pressionem os governos através de ações legítimas, visando à conscientização e à sensibilização de seus integrantes. De conhecimento mundial, a biodiversidade tem sido alvo das inúmeras discussões de envolvem o comércio transfronteiriço, pois se trata de uma enorme riqueza e seu valor estratégico (principalmente para a indústria farmacêutica e de cosméticos) e que, segundo a Comegna (2009) “é matéria- Pró-reitoria de EaD e CCDD 18 -prima potencial para o desenvolvimento de biotecnologias avançadas que manipulam a vida ao nível genético”. Por esse fato, destacamos, aqui, a Convenção da Biodiversidade Biológica (CDB), instaurada durante a Rio 92, como um dos mais importantes códigos de conduta internacional. Na Prática Como as legislações ambientais podem auxiliar na preservação do meio ambiente? As legislações ambientais são ferramentas protetivas para a preservação ambiental e sua sustentabilidade. Nesse sentido, devem ser aplicadas visando à antecipação ao gravame, e não a posteriore, como ocorrem em sua grande maioria. Nas figuras a seguir estãotrês dos principais acidentes ambientais ocorridos no Brasil: a) o rompimento das barragens de Mineração, em Bento Rodrigues (Mariana/MG); Pró-reitoria de EaD e CCDD 19 b) o acidente na Ultracargo, em Santos/SP; c) o vazamento de rejeitos da produção de papel, em Cataguases/MG. Assim, a proposta dessa atividade é realizar um levantamento dos impactos ambientais relacionados aos três acidentes ambientais arrolados. Para isso, as regras são bem simples: a) Você deverá escolher apenas um dos três acidentes. b) Ainda, o acidente deve ser explicado brevemente: local, componente químico (se for o caso), óbitos (se houver) e os desdobramentos. c) Quais são os principais impactos ambientais levantados após o acidente? d) Quais são as multas aplicadas (se possível, os valores) e se já foram cumpridas ou não? Mãos à obra! Pró-reitoria de EaD e CCDD 20 Protocolo de Resolução da situação proposta 1. Primeiramente, você deve fazer uma leitura de cada um dos acidentes para se familiarizar com o assunto. Para isso, pesquise na internet. 2. Após a coleta das informações, você deve escolher um dos acidentes para trabalhar. 3. Faça o levantamento dos principais impactos ambientais listados. Lembre-se de citar os impactos sociais, econômicos e ambientais (os pilares da sustentabilidade) 4. Faça um levantamento das multas aplicadas e tente descobrir o porquê de cada valor. Após, verifique se tais multas e decisões já foram cumpridas. Síntese Ao longo da nossa aula, estudamos alguns dos principais tratados internacionais de proteção ao meio ambiente e como estes podem ser consideradas ferramentas fundamentais para o alcance da sustentabilidade. Adicionalmente, estudamos como o comércio internacional afeta profundamente os recursos naturais, e, ainda, verificamos algumas legislações nacionais específicas como a Política Nacional do Meio Ambiente e a Lei de Crimes Ambientais; e internacionais, que fornecem subsídios para auxiliar na preservação ambiental. Até a próxima aula. Pró-reitoria de EaD e CCDD 21 Referências BAPTISTA, V. F. Comércio internacional e meio ambiente. Planeta Amazônia: Revista Internacional de Direito Ambiental e Políticas Públicas, Macapá, n. 2, p. 105-116, 2010. BARBIERI, José C. Gestão Ambiental Empresarial. São Paulo: Saraiva, 2007. BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil (1988). Brasília, DF: Senado Federal: Centro Gráfico, 1988. 292 p. BRASIL. Lei n. 6.938, de 31 de agosto de 1981. Institui a Política Nacional do Meio Ambiente. Diário Oficial da República Federativa do Brasil. Brasília, 1981. CAMPOS FILHO, Gilberto de Jesus. Cartilha a lei da vida. Ilustração de: Rodrigo So. 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