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Ayslan Barra
Políticas Públicas 
de Saúde
Ayslan Barra
Políticas Públicas de saúde
Belo Horizonte
Janeiro de 2016
COPYRIGHT © 2016
GRUPO ĂNIMA EDUCAÇÃO
Todos os direitos reservados ao:
Grupo Ănima Educação
Todos os direitos reservados e protegidos pela Lei 9.610/98. Nenhuma parte deste livro, sem prévia autorização 
por escrito da detentora dos direitos, poderá ser reproduzida ou transmitida, sejam quais forem os meios 
empregados: eletrônicos, mecânicos, fotográficos, gravações ou quaisquer outros.
Edição
Grupo Ănima Educação
Vice Presidência
Arthur Sperandeo de Macedo
Coordenação de Produção
Gislene Garcia Nora de Oliveira
Ilustração e Capa
Alexandre de Souza Paz Monsserrate
Leonardo Antonio Aguiar
Equipe EaD
Conheça 
o Autor
Ayslan Barra é Farmacêutico generalista 
graduado pela Faculdade de Farmácia da 
Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). 
É mestre em Farmacologia pelo programa 
de Pós-graduação em Ciências Biológicas: 
Fisiologia e Farmacologia da Universidade 
Federal de Minas Gerais (UFMG). Atualmente 
é doutorando do mesmo programa, onde 
atua como pesquisador na investigação do 
papel dos receptores ativados por protease 
em macrófagos e o seu envolvimento com a 
inflamação e resposta imune inata. Possui 
também experiência prática em Controle de 
Qualidade de Medicamentos e Correlatos e 
prestação de Assistência Farmacêutica no 
âmbito Hospitalar e Comercial.
Caros alunos sejam bem-vindos à disciplina!
Nesta caminhada, abordaremos momentos históricos, políticos, sociais, 
econômicos e culturais da sociedade ao longo dos anos e o impacto 
desses fatores sobre a forma de pensar e lidar com a saúde.
A saúde, vista como elemento primordial em uma sociedade, é discutida 
aqui não apenas no seu aspecto biológico ou caracterizada como 
ausência de doença, mas também na sua compreensão como uma 
resultante do contexto social vigente.
O Estado, como detentor do poder e responsável por manter a ordem 
pública, cabe formular políticas sociais de proteção aos cidadãos, dentre 
elas, as políticas de saúde. Nesse sentido, a saúde é parte de uma 
política social, em que todas as suas etapas de elaboração, execução e 
regulação são alcançadas através do equilíbrio entre as necessidades da 
população e os interesses do Estado.
Aqui, nós buscaremos mostrar como a saúde foi abordada 
historicamente e como políticas públicas e modelos assistenciais foram 
elaborados para o controle de fatores determinantes na relação saúde-
doença.
Além disso, a disciplina pretende mostrar como os modelos assistenciais 
tornaram-se limitados e insuficientes na percepção e cuidado da saúde, 
favorecendo a emergência por uma reforma sanitária que se concretizou 
em 1988, com a criação do Sistema Único de Saúde (SUS). 
 O SUS é considerado uma conquista social da população brasileira, pelo 
direito ao acesso aos serviços de atenção à saúde, especialmente aos 
grupos excluídos, como desempregados, trabalhadores do mercado 
informal, entre outros. Seus princípios e diretrizes fundamentam-se 
Apresentação 
da disciplina
no conceito da integralidade, ou seja, contempla uma forma de cuidar 
da saúde na sua dinâmica mais ampla, abordando também aspectos 
biopsicossociais, a promoção da saúde, a igualdade, a equidade, entre 
outros. 
Apesar das conquistas alcançadas nos últimos anos, o funcionamento 
do SUS na prática não cumpre de forma eficiente os princípios e 
diretrizes descritas na Lei orgânica da saúde. Há ainda muitos desafios 
e melhorias a serem realizadas, configurando um interessante campo de 
atuação para os profissionais da saúde.
Bons estudos!
UNIDADE 1 001
Políticas Públicas e Modelos Assistenciais em Saúde 002
Conceito de Políticas Públicas 004
As Políticas de Saúde e o Contexto Social 004
Modelos Assistenciais em Saúde 007 
Revisão 018
UNIDADE 2 020
Políticas de Saúde Pública no Brasil: Aspectos Históricos, 
Políticos e Sociais 021
Introdução 022
Brasil Colônia (1530-1822) 024
Império (1822 - 1889) 025
República Velha (1889 - 1930) 027
Era Vargas (1930-1945) 033
Instabilidade Política e Ditadura Militar (1945 - 1985) 037
Período de Transição e a Era Democrática (a Partir de 1985) 046
Revisão 048
UNIDADE 3 051 
Reforma Sanitária e a Criação do Sistema Único de Saúde (SUS) 052 
Introdução 054 
8ª Conferência Nacional da Saúde 
e o Início da Reforma Sanitária Brasileira 059 
Lei Orgânica da Saúde 063 
Lei 8.142 de 1990 067 
Revisão 069
UNIDADE 4 071 
Princípios e Organização do SUS 072 
Princípios e Diretrizes Estruturais do SUS 074 
Universalidade e Igualdade 077 
Integralidade 079 
Participação Social 082 
Descentralização e Hierarquização 084 
Revisão 088
UNIDADE 5 090 
Gestão e Financiamento do SUS 091 
Introdução 093 
Planejamento e Formulação de Políticas Públicas no SUS 097 
Orçamento 103 
Despesas com os serviços de saúde 107 
Regulação e Controle dos Gastos 108 
Revisão 111
UNIDADE 6 113
Níveis de Atenção e Ofertas dos Serviços de Saúde do SUS 114
Atenção Primária 116 
Atenção Ambulatorial 121 
Atenção Hospitalar 125 
Programas de Assistência à Saúde Bucal e Mental 127 
Assistência Farmacêutica 131 
Vigilância à Saúde 134 
Revisão 136
REFERÊNCIAS 178
Unidade 7 138
O SUS Hoje: Avanços e Desafios na Assistência Integral à Saúde 139 
Principais Avanços, Dilemas e Impasses do SUS 141 
Pacto pela Saúde 146 
Tendências e Modelos Atuais de Reforma Sanitária 158 
Revisão 161
UNIDADE 8 163 
Profissionais de Saúde e o Cenário Social: Desafios e Perspectivas 164
A Formação dos Profissionais da Saúde 166 
Os Dilemas e Desafios 169 
Possibilidades 172 
Revisão 176
Políticas Públicas 
e Modelos 
Assistenciais em 
Saúde
Introdução
Você sabia que o bem-estar da população influencia o 
desenvolvimento de uma sociedade?
A saúde, como bem-estar e um direito do cidadão, pode ser 
considerada como um elemento chave na construção de uma 
sociedade equilibrada. 
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), a saúde não é 
definida apenas como um estado completo de bem-estar físico, 
mental, social ou ausência de doença, ela engloba uma dimensão 
plena, por meio no qual se alcança o bem-estar social. 
No sentido amplo, a saúde é resultante das condições 
socioeconômicas do indivíduo e do grau de acesso aos serviços 
essenciais como a saúde, moradia, alimentação, trabalho, entre 
outras, que permitem ao indivíduo uma vida mais produtiva e digna.
Sendo assim, a saúde não deve ser abordada meramente do ponto 
de vista biológico. Ela envolve também a percepção do indivíduo 
com o próprio corpo e com o meio no qual ele está inserido,estabelecendo os laços sociais entre ele, a comunidade e os 
sistemas de saúde (MACHADO, 2007). 
• Conceito de 
Políticas Públicas
• As Políticas 
de Saúde e o 
Contexto Social
• Modelos 
Assistenciais em 
Saúde 
• Revisão
O indivíduo como membro de uma sociedade plural, detentor de 
direitos e deveres é assistido pelo Estado através de políticas 
públicas. O Estado elabora e coloca em prática normas a serem 
seguidas e incorporadas pelos cidadãos. Em muitos casos, o 
caráter monopolista e centralizador do Estado contrastam com a 
ideia de cidadania, que é pautada nos ideais de liberdade, igualdade 
e solidariedade. De modo que, repercute na formulação de políticas 
públicas em saúde. Estas, em um primeiro momento visam à 
proteção social e é amparada por questões políticas e sociais. 
Porém, muitas vezes, a saúde deixa de ser considerada como uma 
prioridade e um direito ao cidadão, e passa a ser vista como um 
jogo de interesses econômicos e de articulação política. 
Na prática, as ações e serviços das políticas de saúde seguiam 
modelos assistenciais definidos, que foram desenvolvidos, 
baseando-se em estratégias de combate a uma doença específica 
ou em demandas pelos serviços de saúde. Porém, com incremento 
da industrialização, houve um aumento significativo da massa 
de trabalhadores urbanos, a partir da década de 20 que refletiu 
diretamente na demanda por serviços de saúde. 
Os modelos assistenciais hegemônicos - que prevaleciam na 
maioria dos países – tornaram-se ineficientes na medida em que 
a assistência prestada não contemplava o aspecto individual do 
doente, suas emoções, angústias, dilemas, mas focava no uso 
de práticas tecnológicas e mecanísticas. Outro fator marcante 
na adoção desses modelos foi o aumento crescente nos custos 
assistenciais em saúde. O que inviabilizou a continuidade desses 
modelos e levaram a sociedade a repensar por formas mais 
eficientes, em todos os seus segmentos, de abordar a saúde.
POLÍTICAS PÚBLICAS DE SAÚDE
unidade 1
4
Conceito de Políticas 
Públicas 
Políticas configuram-se como um segmento de alta complexidade 
formado por três dimensões: institucional (normas e deveres), 
material (políticas públicas) e processual (organização e dinâmica da 
política) (AZAMBUJA, 2008). No nível operacional, as políticas públicas 
englobam todas as decisões tomadas na dimensão processual 
e compreendem as mais variadas áreas do conhecimento, como 
saúde, assistência social e economia (SOUZA, 2003).
Assim, segundo Souza (2007), “política pública” pode ser definida 
como: um campo do conhecimento que busca colocar o “governo 
em ação”, analisando ações, propondo mudanças, reformulações 
e continuidade, com intenção de influenciar o comportamento 
individual e coletivo (SOUZA, 2007).
No setor de saúde, a formulação de políticas públicas constitui-se a 
fase na qual os propósitos do governo se traduzem em programas, 
ações e oferta dos serviços de saúde que produziriam mudanças e 
resultados na realidade social da população (SOUZA, 2007).
 
As Políticas de Saúde e o 
Contexto Social
Cada país possui estrutura funcional e de organização institucional 
própria que definirá as políticas de proteção social e de saúde 
adotadas. As ações e serviços formulados pelo Estado que têm 
como objetivo fornecer bem-estar e proteção social são chamados 
de “política social”. Esse ramo da política, tradicionalmente, abrange 
as áreas de saúde, previdência, assistência social, educação 
e habitação. Cabe ao Estado, a responsabilidade por planejar, 
 No nível operacional, 
as políticas públicas 
englobam todas as 
decisões tomadas na 
dimensão processual
POLÍTICAS PÚBLICAS DE SAÚDE
unidade 1
5
organizar e formular políticas públicas de saúde de maneira racional, 
priorizando as necessidades dos cidadãos. 
A elaboração das ações e procedimentos deve ocorrer levando-se 
em consideração todos os atores sociais. Nesse grupo, incluem-
se políticos, gestores, profissionais da saúde, usuários, famílias e 
membros da comunidade. Dessa forma, os programas e serviços 
aprovados devem incorporar interesses e necessidades de todos 
esses setores da sociedade para alcançar a qualidade e satisfação 
na assistência prestada.
Apesar das propostas implantadas em políticas públicas em 
saúde serem voltadas para a assistência da população, as 
decisões políticas, muitas vezes, podem ser influenciadas por 
outras entidades. Empresas privadas, seguros de saúde, indústria 
farmacêutica, usuários, entre outros setores da sociedade possuem 
interesses próprios que vão além dos interesses sociais. Podendo, 
de alguma forma, impor modificações ou distorções nos sistemas 
de saúde previamente pensados.
Após a industrialização e expansão do capitalismo, houve uma 
crescente necessidade de melhoria das condições de trabalho 
em fábricas e de redução dos problemas decorrentes da pobreza. 
Em decorrência disso, em vários países, aumentaram também 
as reivindicações por movimentos sociais em busca de melhores 
condições de trabalho, direitos, deveres e acesso à saúde. 
O Estado, como forma de assegurar a ordem social, deveria fornecer 
algum tipo de proteção ou assistência aos operários, para regular suas 
condições de trabalho e amenizar o sofrimento. A solução encontrada 
foi criar políticas de integração social em troca de aumento da eficácia 
de trabalho e da produtividade, elementos essências na manutenção 
do crescimento e desenvolvimento da nação.
 No nível operacional, 
as políticas públicas 
englobam todas as 
decisões tomadas 
na dimensão 
processual.
POLÍTICAS PÚBLICAS DE SAÚDE
unidade 1
6
Nesse sentido, foram criadas algumas modalidades de proteção 
social, que especificamente na saúde, foram classificadas em 
assistência social, seguro social e seguridade social (FLEURY; 
OUVERNEY, 2008).
A assistência social é regida por fundos e doações organizadas 
por entidades voluntárias e filantrópicas, que buscam através 
da caridade, prestar assistência aos pobres, excluídos e aos 
trabalhadores do mercado informal. Essa medida, apesar de seus 
valores solidários, tem caráter emergencial, pontual, não garante 
nenhum direito e gera ações e serviços temporários e fragmentados. 
O seguro social é uma modalidade de proteção voltada para os 
trabalhadores do mercado formal. A relação é firmada por contrato, no 
qual os trabalhadores recebem compensações proporcionais as suas 
contribuições ao seguro. Os beneficiários recebem em troca o pagamento 
em caso de perda da capacidade de trabalho por idade, acidente e 
enfermidade (FLEURY; OUVERNEY, 2008).
A seguridade social é fornecida pelo Estado e tem como pilar a 
garantia a todos os cidadãos o direito de usufruir bens e serviços 
de forma universal e igualitária, independente de contribuição e 
condição social. O Estado é o principal provedor dos recursos e 
financia as políticas sociais com vistas a garantir os serviços de 
saúde aos indivíduos.
Essas formas de proteção social serviram de modelo para a 
construção de políticas assistenciais e modelos de atenção na 
saúde. As ações buscavam atender e satisfazer as necessidades 
de saúde da população, porém as discrepâncias e peculiaridades 
operacionais de cada modelo não garantiram, de fato, o direito e 
igualdade no acesso aos serviços de saúde.
 O Estado é o 
principal provedor 
dos recursos e 
nancia as políticas 
sociais com vistas a 
garantir os serviços 
de saúde aos 
indivíduos.
POLÍTICAS PÚBLICAS DE SAÚDE
unidade 1
7
Modelos Assistenciais 
em Saúde
 
O termo “modelo assistencial” refere-se à forma de organização 
dos serviços prestados à saúde que envolve os diferentesníveis 
de assistência que visa à resolução dos problemas e necessidades 
de saúde individuais e coletivas. Essa forma de prestação dos 
serviços é feita em diferentes modalidades e utiliza recursos físicos, 
tecnológicos e humanos de acordo com os objetivos e estratégias 
anteriormente definidos. 
Os modelos assistenciais devem ser entendidos como forma de 
gestão da organização das políticas de saúde, comprometido 
com o cuidado individual e coletivo. Deve possuir caráter de ação 
racional, utilizando ferramentas técnico-científicas para a solução 
de problemas em saúde.
Do ponto de vista operacional, os modelos assistenciais em 
saúde são articulados em três dimensões: gerencial, relativa aos 
mecanismos de condução e reorganização das ações e serviços; 
organizativa, em termos de relação entre os estabelecimentos 
e unidades de prestação dos serviços, levando-se em conta a 
hierarquia e os níveis de complexidade tecnológica para intervir no 
cuidado à saúde; tecno-assistencial: relação entre os sujeitos da 
prática e seus objetos de trabalho no plano da promoção da saúde, 
prevenção de riscos, recuperação e reabilitação (TEIXEIRA, 2003).
Movimentos Ideológicos e a Criação de 
Modelos Assistenciais
Na segunda metade século XIX, a noção da importância da higiene 
na sociedade já era considerada como uma prioridade política. 
Nessa época, alguns estudiosos já relacionavam a saúde com a 
economia, de modo a justificar os investimentos nesse setor. Com 
Os modelos 
assistenciais devem 
ser entendidos como 
forma de gestão da 
organização das 
políticas de saúde.
POLÍTICAS PÚBLICAS DE SAÚDE
unidade 1
8
a expansão do capitalismo, houve transformações marcantes 
em todos os setores sociais, com acentuada deterioração das 
condições de vida dos trabalhadores. A miséria era uma realidade 
para grande parcela dos países industrializados e uma ameaça à 
ordem pública, o que pressionou o Estado a reorientar as políticas 
sociais, sobretudo na área da saúde e previdência.
Na metade do século XIX na França, as descobertas de Pasteur 
e Koch sobre o isolamento de germes gerou uma revolução na 
ciência, atribuindo-se a cada doença um agente causador que seria 
um germe. Outro achado nesse mesmo período correlacionou a 
transmissão desses germes por vetores como insetos. Essa ideia 
fundamentada na relação entre agente, hospedeiro e ambiente 
difundiu o modelo de história natural da doença.
Modelo de História Natural da Doença
Modelo construído através do processo saúde-doença amparado 
pela relação entre o indivíduo, o agente causador da doença e 
o ambiente. Esse modelo é amparado na medicina preventiva e 
tem como base os princípios da epidemiologia e clínica como 
ferramentas de intervenção na saúde. Assim, na prática, as ações 
orientam através de programas verticais de proteção coletiva.
Modelo da Pirâmide
Outras ideologias emergentes foram crescendo, como o da medicina 
comunitária, que propunham uma regionalização e integração 
na prestação dos serviços de saúde considerando os níveis de 
hierarquia da atenção. Essa organização dos serviços de saúde 
foi definida como “modelo de pirâmide”. Uma das prerrogativas 
eram a maior integração das ações, acompanhamento da atenção 
prestada e participação social. Porém, a concentração dos recursos 
nos níveis secundários e terciários elevou os custos da assistência 
prestada à saúde e rotulou esse modelo de “hospitalocêntrico”. 
A miséria era 
uma realidade 
para grande 
parcela dos países 
industrializados 
e uma ameaça à 
ordem pública.
POLÍTICAS PÚBLICAS DE SAÚDE
unidade 1
9
Modelo de Atenção Primária
Após a Declaração de Alma-Ata, foram difundidas concepções 
fundamentadas na atenção primária como forma de organização 
das políticas e procedimentos em saúde pela adoção de práticas de 
saúde essenciais, não-especializadas e custo-efetivas, pautadas na 
igualdade de acesso e direito à saúde.
Modelo do Campo da Saúde
Desenvolvido no Canadá, esse modelo frisou a importância dos 
determinantes ambientais no controle de epidemias, reforçando 
a ideia de promoção da saúde, que estabelecia como requisitos 
para alcançar a “boa” saúde, outros elementos como o acesso à 
educação, habitação, alimentação, renda, ambiente favorável à 
saúde, justiça social e equidade.
Porém, na década de 80, a limitação dos programas à concepção 
saúde-doença trouxe a tona a necessidade de reforma dos 
serviços de saúde, incorporando os princípios da integralidade e da 
promoção da saúde.
No Brasil, os modelos de atenção foram historicamente atribuídos 
à importância de atender às demandas e necessidades. Sendo 
identificados como modelos de atenção hegemônicos e alternativos.
Modelos Assistenciais no Brasil
Os modelos assistenciais seguem a ótica da demanda por serviços 
ou das necessidades da população e são classificados em “modelos 
hegemônicos” e “propostas alternativas”.
No Brasil, os 
modelos de 
atenção foram 
historicamente 
atribuídos à 
importância 
de atender às 
demandas e 
necessidades.
POLÍTICAS PÚBLICAS DE SAÚDE
unidade 1
10
Modelos Hegemônicos
Esses modelos exercem grande influência política e cultural aos 
profissionais de saúde, usuários, estudiosos, entre outros. No Brasil, 
o “modelo médico” e o “modelo sanitarista” são considerados os 
predominantes no sistema de saúde brasileiro.
Modelo Sanitarista
O modelo sanitarista incorpora os ideais do século XX baseados 
nas medidas de intervenção sanitária no âmbito coletivo. Essas 
medidas funcionam através de campanhas de cunho esporádico 
ou periódico, definidas por estudos epidemiológicos de doenças 
e agravos e visam controlar ou erradicar essas “ameaças 
microbiológicas”. Como exemplo, podemos citar as campanhas 
de vacinação, controle de epidemias, erradicação de endemias. 
Outras formas de intervenção vertical são promovidas pelos 
programas especiais de atenção a certas doenças e agravos, como 
a tuberculose, hanseníase, AIDS, etc., como também pela vigilância 
sanitária e epidemiológica. 
Modelo Médico Assistencial Privatista
Modalidade assistencial mais comum, fundamentada pelos ideais 
da medicina Flexneriana, na qual a atenção à saúde é centrada 
no hospital e voltada para o atendimento da demanda. Nessa 
abordagem, utiliza-se recursos e procedimentos especializados, 
em detrimento da promoção da saúde. Porém, apesar de não 
contemplar os conjuntos dos problemas de saúde, essa modalidade 
configura-se como política assistencial preferida pela categoria 
médica, políticos e população medicalizada. O objetivo é identificar 
e tratar a doença de um indivíduo, por um profissional especialista, 
utilizando como meio de trabalho as tecnologias médicas. 
POLÍTICAS PÚBLICAS DE SAÚDE
unidade 1
11
Modelo da atenção gerenciada
Esse modelo surgiu como substituto ao modelo médico 
assistencial-privatista em decorrência do aumento das cooperativas 
médicas, planos de saúde, medicina de grupos, entre outros. Do 
ponto de vista operacional, esse modelo funciona preconizando as 
variáveis econômicas como custo-benefício e custo-efetividade 
dos tratamentos oferecidos. Fundamenta-se na medicina 
baseada em evidências e na análise sistemática de informações 
e conhecimentos biomédicos para orientar as condutas médicas. 
Essa forma de lidar com a saúde visa à redução de custos, 
aumento dos lucros, contenção da demanda e à restrição ao uso de 
procedimentos e serviços de alto custo. 
Vigilância Sanitária
A vigilância sanitária caracteriza por um conjunto de intervenções 
dirigidas pelo Estado que tem como alvo a avaliação de riscos em 
saúde. Essa modalidade se confunde com a própriahistória da 
saúde pública, concentrando nos problemas sanitários oriundos do 
meio ambiente. As ações da vigilância englobam o controle de bens 
de consumo ou prestação de serviços que de modo direto ou indireto 
se relacionam com a saúde. Em suas práticas incluem a fiscalização 
de medicamentos, equipamentos, alimentos, tecnologias, como 
também da avaliação de riscos sociais, ocupacionais, ambientais, 
entre outros com vista à proteção da coletividade.
Vigilância Epidemiológica
Conjunto de atividades que reúne informações importantes sobre 
uma doença, sua história natural, determinantes ambientais, 
formas de contágio, sinais clínicos, entre outros achados. Após o 
levantamento, ações decisórias são tomadas, visando à prevenção 
e controle da doença ou de seus fatores condicionantes.
POLÍTICAS PÚBLICAS DE SAÚDE
unidade 1
12
Propostas Alternativas de Atenção à 
Saúde 
Os modelos hegemônicos incorporados durante décadas ao 
sistema de saúde brasileiro não conseguiram conciliar algumas 
características essenciais no cuidado à saúde como a qualidade, 
integralidade, efetividade e humanização dos serviços. Esses 
fatores eram os mais questionados nos movimentos ideológicos 
por reforma na saúde e contribuíram para a crise que se formou na 
década de 70.
Os modelos hegemônicos baseados em suas bases estruturais 
e operacionais foram perdendo “espaço” como sistema de 
saúde predominante na medida em que não atendia mais as 
necessidades da população. Uma avaliação desses modelos 
apontou uma elevação cada vez mais crescente dos custos dos 
serviços, redução da efetividade em decorrência das mudanças nos 
perfis demográficos da população, aumento da insatisfação dos 
profissionais da saúde, perda de confiança pela população usuária 
que inviabilizou a continuidade desses sistemas. 
Ao mesmo tempo em que o modelo hegemônico declinava, 
propostas alternativas foram cada vez mais valorizadas. Os 
modelos alternativos revisavam conceitos e estratégias acerca da 
forma de organização das ações e serviços da saúde, encontrando 
um campo fértil de atuação no Brasil, marcado pela baixa cobertura 
assistencial, ineficiência administrativa e técnica, e ausência de 
articulação entre as instituições na área da saúde.
A seguir, veremos algumas modalidades alternativas que foram 
incorporadas ao sistema de saúde brasileiro.
POLÍTICAS PÚBLICAS DE SAÚDE
unidade 1
13
Oferta Organizada
Proposta voltada para análise da lógica do atendimento, 
promovendo uma eficiência da relação entre a oferta dos serviços e 
a demanda espontânea. 
As ações são organizadas em uma unidade de saúde pública, 
ofertadas ao nível indivíduo ou a grupos especiais, pautada 
nos princípios da integralidade. Essa proposta segue uma linha 
programática, definida a partir de informações epidemiológicas 
previamente identificadas. De modo a orientar as práticas locais, 
buscando satisfazer necessidades e problemas específicos de 
saúde da comunidade.
Distritos Sanitários
Proposta de organização da saúde em uma rede estruturada e 
integrativa definida a partir de critérios geográficos, populacionais, 
epidemiológicos e políticos. Essa forma de organização inspirada 
nos preceitos dos Sistemas Locais de Saúde (SILOS) e nas 
Unidades Sanitárias Locais (USL) do sistema de saúde italiano 
destacava a delimitação territorial como forma de definir a 
cobertura populacional. O enfoque situacional fornecia evidências 
sobre o perfil da demanda populacional, permitindo um melhor 
planejamento e articulação entre os níveis de complexidades da 
assistência prestada, o que possibilitou identificar com maior 
clareza as necessidades em saúde com base nos princípios da 
integralidade.
Vigilância da Saúde
Modelo proposto com vistas à intervenção na situação de saúde 
pautada na integralidade e efetividade.
Observando a figura a seguir da direita para esquerda e iniciando pela 
parte superior, é possível observar que a maioria das intervenções 
POLÍTICAS PÚBLICAS DE SAÚDE
unidade 1
14
em saúde está voltada para o controle de danos, destacando a 
assistência médica hospitalar e a vigilância epidemiológica. Porém, 
antes da ocorrência de danos, há riscos, que podem ser definidos 
em termos de probabilidade de um grupo desenvolver uma doença. 
Nessa fase, as ações são organizadas para o controle dos riscos, 
objetivos da vigilância sanitária e epidemiológica. Indo em diante, 
mais à esquerda do diagrama, e antecedendo aos riscos, nós 
alcançamos as necessidades sociais de saúde. Nesse momento, a 
intervenção configura-se como estratégia para controle de causas, 
condicionadas ao estilo de vida dos indivíduos e da estrutura 
social na qual ele esteja inserido. Esse aspecto foge da cobertura 
assistencial, definindo os limites de abrangência das políticas 
sociais. Porém, conforme o relatório da 8ª Conferência Nacional em 
Saúde, foram lançadas ideias sobre a expansão das ações em torno 
dos determinantes socioambientais, fundamentada na concepção 
de promoção da saúde (PAIM, 2003).
FIGURA 1- Vigilância da Saúde
POLÍTICAS PÚBLICAS DE SAÚDE
unidade 1
15
Fonte: PAIM, 2002, p. 380.
A articulação entre as variáveis, danos, riscos e causas, promove 
a integração organizada dos serviços na esfera local, baseada em 
ações programadas e com participação social consciente.
Ações Programáticas em Saúde (APS)
Configura-se como uma prática de saúde em unidade de atenção 
básica, voltada para a identificação e resolução de problemas 
em saúde ao nível local. Utiliza-se ações programáticas como 
ferramenta de intervenção, beneficiando grupos de diversos perfis 
como a saúde da mulher, saúde mental, do idoso, entre outras. A 
APS busca reformular a forma de atenção a grupos específicos 
vistos nos “programas especiais”, de maneira organizada e 
articulada com as necessidades populacionais, buscando maior 
efetividade, qualidade e integralidade nas ações de saúde.
Programas de Agentes Comunitários (Pacs) e Saúde 
da Família (PSF)
Dois modelos ganharam visibilidade na década de 90 no Brasil, com 
uma proposta de atenção voltada para os pobres e excluídos, cujos 
serviços prestados contemplam ações e atividades educativas de 
prevenção de riscos e agravos. Anos mais tarde, o PSF foi integrado 
ao Pacs e a responsabilidade da atenção foi atribuída a uma equipe 
multiprofissional formada por médicos, enfermeiros, agentes 
comunitários, odontólogos. O PSF reorganiza no Brasil a visão sobre 
a atenção básica, na medida em que transfere para os municípios a 
responsabilidade das ações e serviços em saúde. Esse programa ao 
longo dos anos deixou de ser visto como uma política operacional 
de cuidados na atenção básica e passou a ser considerado como 
uma estratégia de saúde no âmbito nacional. A articulação entre 
os níveis de atenção entre a média e alta complexidade somada 
POLÍTICAS PÚBLICAS DE SAÚDE
unidade 1
16
às ações de vigilância epidemiológica e sanitária tem permitido 
alcançar melhorias na promoção da saúde e na qualidade de vida 
da população.
Acolhimento
A partir de estudos em unidade de saúde da atenção básica, foram 
formuladas propostas visando uma aproximação e vínculo entre 
os profissionais da saúde e a população. Um dos pilares dessa 
abordagem concentrava-se na reorientação da atenção à demanda 
de serviços, de modo a incluir atividades sociais como forma de 
humanização da assistência. Nesse sentido, foram alcançados uma 
maior racionalização dos recursos e melhores índices de satisfação 
dos usuários, uma vez que os cuidados em saúde consideravam as 
múltiplas complexidades dos sujeitos na esfera psicológica, e não 
só na clínica. 
Linhasde Cuidado
São denominadas como um conjunto de informações, tecnologias 
e recursos para enfrentar os problemas de saúde. Após a 
divulgação do Pacto da saúde em 2006, foram disseminadas 
as formas de organização do cuidado em linhas de produção, 
emolduradas em redes de atenção regionalizadas. Permitindo 
a articulação dos serviços de apoio diagnóstico e terapêutico, 
oferta de medicamentos, serviços de especialidade, entre outros. 
No nível operacional, essa linha fornece uma estruturação do 
cuidado com projetos terapêuticos, em especial para as doenças 
crônicas como, por exemplo, diabetes, AIDS, asma, depressão, 
etc. A conduta voltada para a orientação do usuário e também no 
monitoramento de doenças ou agravos, contribuindo para um 
melhor acompanhamento dos serviços prestados, reforçando o 
vínculo com o usuário através de ações integrativas.
POLÍTICAS PÚBLICAS DE SAÚDE
unidade 1
17
Promoção da Saúde
Composto por medidas que objetivam a melhoria do estilo e 
qualidade de vida de uma população. Incentivada por atividades 
de educação e comunicação em saúde, integração de ações 
intersetoriais e de formulação de políticas públicas saudáveis. Essa 
modalidade apoia-se no conceito de “cidades saudáveis’’ que busca 
uma gestão governamental ampliada, incluindo medidas sociais e 
de cidadania pautadas na participação comunitária para se alcançar 
melhores condições de vida e saúde.
Considerações finais
Os modelos assistenciais historicamente não foram capazes de 
contemplar todos os níveis de atenção em saúde. O planejamento, 
formulação e execução desses serviços e ações no cuidado à 
saúde sempre foram marcados por desafios administrativos, 
gerenciais, burocráticos, técnico-assistenciais que, de alguma 
maneira, repercutiram na eficiência, qualidade e resultados 
alcançados. Em muitos casos, esses modelos não conseguiram 
identificar as verdadeiras necessidades em saúde da população, 
sendo reproduzidos seguindo diretrizes e abordagens mecanísticas e 
com pouca ou nenhuma preocupação com relação à humanização e 
integralidade no atendimento. Dessa forma, destaca-se a necessidade 
da atualização constante nessa área, baseando-se em estudos 
estatísticos, dos perfis epidemiológicos e de pesquisas sociais que 
pudessem investigar qual a melhor combinação de procedimentos 
e tecnologias para a solução de problemas enfrentados em saúde. 
Incluindo nessa análise as diferentes realidades individuais e coletivas 
em saúde que se observam em nosso país e que influenciam 
diretamente na criação de políticas públicas.
POLÍTICAS PÚBLICAS DE SAÚDE
unidade 1
18
A partir da análise histórica e conceitual acerca dos modelos assistenciais 
em saúde, é possível afirmar que esses, de fato, influenciaram na maneira 
em que se pensa e é conduzido o cuidado da saúde hoje em dia. Os 
modelos assistenciais são utilizados como parâmetro no planejamento 
estratégico em políticas em saúde.
Como exemplo, podemos citar as ações atuais promovidas pelo governo 
federal no combate à dengue, transmitida através do vetor natural, o 
mosquito Aedes aegypti. Nessas ações, incluem-se medidas de vigilância 
epidemiológica sobre o foco do mosquito, informações sobre a história 
natural da doença, os determinantes socioambientais da doença, 
sintomatologia clínica e educação sanitária. Utiliza-se como ferramenta 
preventiva o levantamento e análise sistemática de dados, visando o 
controle da doença e de seus agravos sobre a saúde coletiva.
Revisão
Nesta unidade, vimos a importância da saúde e bem-estar coletivo 
como reflexo de uma sociedade justa, na qual a saúde é tratada 
como um direito do cidadão e dever do Estado. Porém, em muitos 
momentos históricos, como observado no início do século XX com 
a expansão capitalista, a saúde foi menosprezada pelo Estado. O 
que levou ao crescimento de movimentos sociais pelo direito de 
acesso ao sistema de saúde. Como consequência, em troca da 
ordem pública e de continuidade na produção industrial, o Estado 
assegurou a criação de políticas públicas de proteção social, 
contemplando medidas em benefício da saúde individual e coletiva. 
A busca por formas organizadas de prestação da assistência à 
saúde fez com que modelos ou padrões de tratamento fossem 
criados, sempre influenciados por ideologias emergentes. Esses 
POLÍTICAS PÚBLICAS DE SAÚDE
unidade 1
19
modelos buscavam identificar as necessidades de saúde de uma 
determinada população, traçando estratégias operacionais no 
atendimento à demanda por serviços ou controlando fatores 
ambientais relevantes na transmissão de doenças.
No Brasil, dois modelos hegemônicos predominaram: “modelo 
sanitarista” e o “modelo médico assistencial privatista”. O modelo 
sanitarista era considerado um programa vertical, de caráter 
temporário e voltado para a proteção coletiva. Já o modelo médico 
assistencial privatista era centrado no atendimento hospitalar 
da demanda, feito por um especialista e utilizando recursos 
tecnológicos no diagnóstico e na terapêutica. Porém, com o passar 
dos anos, esses modelos se tornaram insuficientes por vários 
fatores como alto custo na prestação do cuidado, afastamento 
do vínculo com o paciente e desconsideração de seus aspectos 
biopsicossociais. Isso fez com que propostas alternativas de 
cuidado à saúde fossem cada vez mais difundidas. O principal 
enfoque de atenção nessas novas modalidades contemplava 
os princípios da integralidade, equidade e promoção da saúde. 
Sendo esses conceitos essenciais na prestação de serviços de 
saúde eficazes e de qualidade, eles foram incorporados por vários 
sistemas de saúde no mundo.
Livros
COTTA, Rosângela Minardi Mitre et al. Políticas de Saúde: Desenhos, 
modelos e paradigmas. Viçosa: UFV, 2013.
GIOVANELLA, Lígia et al. Políticas e Sistemas de saúde no Brasil. 2. ed. Rio 
de Janeiro: Fiocruz, 2012.
Sites
BRASIL. Portal da Saúde. Disponível em: <http://portalsaude.saude.gov.
br/>. Acesso em: 19 jul. 2016.
POLÍTICAS PÚBLICAS DE SAÚDE
unidade 1
20
CENTRO BRASILEIRO DE ESTUDOS DE SAÚDE. Institucional. Disponível 
em: <www.cebes.org.br>. Acesso em: 19 jul. 2016.
Filme
HISTÓRIA da saúde pública no Brasil - Um século de luta pelo direito a 
saúde. Filme. Direção: Renato Tapajós. Produção: André Alvarez. Brasil. 
2006. DVD (60 min.).
POLÍTICAS PÚBLICAS DE SAÚDE
unidade 2
21
Políticas de 
Saúde Pública no 
Brasil: Aspectos 
Históricos, 
Políticos e Sociais
Introdução
As condições atuais de saúde no Brasil são reflexos das decisões 
políticas tomadas em nosso país nos últimos séculos. A evolução 
dos sistemas de saúde adotados durante cada época acompanhou 
as profundas mudanças políticas, sociais culturais e econômicas da 
sociedade. Sendo assim, nesta unidade, vamos abordar as principais 
políticas públicas desde a época da colonização, marcada pelas 
políticas voltadas para o espaço urbano e controle de epidemias 
que prejudicasse a economia; passando pela Era Vargas, em que 
a assistência médica aos trabalhadores passou a ser vinculada à 
previdência; até a criação do SUS em 1988, definindo a saúde como 
direito de todos e dever do Estado. 
Nosso objetivo aqui não se restringe à simples descrição histórica 
dos sistemas de saúde implantados em cada período, mas propõe 
despertar no aluno o senso crítico em relação à maneira como as 
políticas em saúde foram desenhadas e suas consequências para 
a sociedade.
• Introdução 
• Brasil Colônia 
(1530-1822) 
• Império 
(1822 - 1889) 
• República 
Velha 
(1889 - 1930) 
• Era Vargas 
(1930-1945) 
• Instabilidade 
Política e 
Ditadura Militar 
(1945 - 1985) 
• Período de 
Transiçãoe a Era 
Democrática (a 
Partir de 1985) 
• Revisão 
POLÍTICAS PÚBLICAS DE SAÚDE
unidade 2
23
Introdução 
Diariamente nos deparáramos com notícias veiculadas por jornais, 
TV e revistas sobre as condições de saúde no Brasil. Isso causa um 
mal-estar entre a população e desperta um sentimento de revolta e 
injustiça com o descaso da saúde pública. 
Na prática, a alta carga tributária arrecada pelo governo, nas esferas 
municipais, estaduais e federais, geraria recursos suficientes para 
garantir serviços em saúde de qualidade para a população. Porém, 
o que se vê são enormes filas no atendimento à demanda, falta de 
leitos em hospitais, escassez de recursos financeiros, aumento da 
incidência de doenças transmissíveis, denúncias de abusos pelos 
planos privados e seguros de saúde, entre outros.
Para compreender a situação atual do sistema de saúde, faz-se 
necessário definir algumas premissas importantes, brilhantemente 
descritas por Polignano (2001):
• a evolução histórica das políticas de saúde está relacionada 
diretamente à evolução político-social e econômica da 
sociedade brasileira, não sendo possível dissociá-las;
• a lógica do processo evolutivo sempre obedeceu à ótica do 
avanço do capitalismo na sociedade brasileira, sofrendo a 
forte determinação do capitalismo no nível internacional;
• a saúde nunca ocupou lugar central dentro da política do 
Estado brasileiro, sendo sempre deixada na periferia do 
sistema, como uma moldura de um quadro, tanto no que 
diz respeito à solução dos grandes problemas de saúde 
que afligem à população, quanto na destinação de recursos 
direcionados ao setor saúde;
• somente nos momentos em que determinadas endemias 
ou epidemias se apresentam como importantes em termos 
de repercussão econômica ou social dentro do modelo 
A evolução 
histórica das 
políticas de saúde 
está relacionada 
diretamente à 
evolução político-
social e econômica 
da sociedade 
brasileira.
POLÍTICAS PÚBLICAS DE SAÚDE
unidade 2
24
capitalista proposto é que passam a ser alvo de uma maior 
atenção por parte do governo, transformando-se pelo 
menos em discurso institucional, até serem novamente 
destinadas a um plano secundário, quando deixam de ter 
importância;
• podemos afirmar que de um modo geral os problemas de 
saúde tornam-se foco de atenção quando se apresentam 
como epidemias e deixam de ter importância quando os 
mesmos se transformam em endemias;
• as ações de saúde propostas pelo governo sempre 
procuram incorporar os problemas de saúde que atingem 
grupos sociais importantes de regiões socioeconômicas 
igualmente importantes dentro da estrutura social vigente 
e, preferencialmente, têm sido direcionadas para os grupos 
organizados e aglomerados urbanos em detrimento de 
grupos sociais dispersos e sem uma efetiva organização;
• a conquista dos direitos sociais (saúde e previdência) tem 
sido sempre uma resultante do poder de luta, de organização 
e de reivindicação dos trabalhadores brasileiros e, nunca 
uma dádiva do estado, como alguns governos querem fazer 
parecer;
• devido a uma falta de clareza e de uma definição em 
relação à política de saúde, a história da saúde permeia e se 
confunde com a história da previdência social no Brasil em 
determinados períodos;
• a dualidade entre medicina preventiva e curativa sempre 
foi uma constante nas diversas políticas de saúde 
implementadas pelos vários governos.
Dada à importância do contexto histórico de cada época 
na construção e consolidação de sistemas de saúde, serão 
apresentados os principais acontecimentos envolvendo a saúde 
pública do Brasil ao longo dos últimos séculos. 
A história da 
saúde permeia 
e se confunde 
com a história 
da previdência 
social no Brasil 
em determinados 
períodos.
POLÍTICAS PÚBLICAS DE SAÚDE
unidade 2
25
Brasil Colônia 
(1530-1822)
 
Durante a colônia, no início do império, o Brasil era habitado por 
imigrantes europeus, portugueses e, principalmente, por índios 
e negros escravizados. Essa diversidade racial refletia também 
em diferentes costumes, tradições e conhecimento acerca das 
doenças existentes e das formas de tratamentos. A assistência 
médica nessa época era escassa, prestada por pequeno número 
de médicos de formação europeia e restrita às elites da sociedade. 
Além disso, a prática médica só era ofertada nos grandes centros 
populacionais como Rio de Janeiro e Bahia, o que contribuiu para a 
exclusão das camadas mais pobres aos serviços de saúde. Nesse 
sentido, escravos e índios recorriam a cuidados oferecidos por 
pajés, curandeiros ou entidades religiosas, realizados em hospitais 
da Santa Casa de Misericórdia. Outro fator relevante associava-
se ao excesso de trabalho e de péssimas condições de higiene 
aos quais os negros escravos eram submetidos, favorecendo ao 
crescimento de doenças parasitárias ou infecciosas como a varíola, 
febre amarela, tuberculose, sífilis e a malária.
As ações governamentais nessa época restringiam à legalização 
da prática curativa, em que o poder público era responsável por 
regulamentar e autorizar o exercício aos agentes de cura que 
comprovassem experiência. Nesse grupo, eram incluídos os 
médicos cirurgiões, boticários (farmacêuticos), como também 
agentes sem formação (parteiras, sangradores, curandeiros, 
barbeiros, entre outros). 
Somente com a vinda da Família Real em 1808, foram criadas as 
primeiras entidades de saúde pública no Brasil, a Fisicatura-mor e 
a Provedoria-mor de Saúde. A função da primeira era fiscalizar o 
exercício da prática médica através da concessão de licença aos 
 
O poder público 
era responsável 
por regulamentar e 
autorizar o exercício 
aos agentes de cura 
que comprovassem 
experiência.
POLÍTICAS PÚBLICAS DE SAÚDE
unidade 2
26
interessados ou aplicação de multas para os que exerciam de forma 
irregular. A segunda se restringia aos locais de movimentação de 
embarcações ou portos em cidades costeiras, de modo a evitar a 
entrada de doenças. 
Dessa forma, as ações de controle sanitário eram direcionadas para 
as regiões urbanas e os locais de comercialização de mercadorias, 
em detrimentos das necessidades em saúde de grande parcela 
da população. Essa situação contribuiu para a disseminação 
de estabelecimentos comerciais de plantas e ervas medicinais 
nos grandes centros urbanos e sob a supervisão dos boticários, 
conforme ilustrado na figura a seguir.
FIGURA 2 - Botica no Brasil colônia
Fonte: DEBRET, Jean Baptiste. Botica. 1823. Aquarela, 15cm x 21 cm. Rio de 
Janeiro, Museu do Açude. 
 
 
 
 
Império 
(1822 - 1889)
Após a independência em 1822, surgiram no Brasil as primeiras 
escolas médicas no Rio de Janeiro e Bahia com a proposta de 
regular ações de saúde prestadas através da emissão de diplomas 
POLÍTICAS PÚBLICAS DE SAÚDE
unidade 2
27
de médicos, farmacêuticos e parteiras. Porém, o aumento da 
formação de profissionais de saúde aos moldes europeus e com 
base na medicina oficial não foi colocado a serviço dos problemas de 
saúde coletiva. Somente uma minoria da população tinha acesso a 
esses profissionais, em detrimento dos pobres, que permaneceram 
recorrendo aos agentes de cura para amenizar a dor ou sofrimento.
Em meados do século XIX, o poder centralizador de D. Pedro 
II reduziu a autonomia das juntas municipais em relação às 
ações em saúde e colocou em prática inúmeras medidas sociais 
e econômicas. Nessa época, houve um aumento populacional 
seguido da urbanização dos grandes centros, porém esse fato 
não foi acompanhado por medidas governamentais de controle 
sanitário. Como resultado, o número de surtos de febreamarela, 
varíola e cólera dispararam, resultando em grande número de 
mortes. Nesse sentido, visando solucionar os problemas de saúde 
enfrentados pela população foram criadas as Juntas de Higiene 
Pública. Essa instituição tinha como foco o controle sanitário dos 
grandes centros através de condutas de saneamento dos espaços 
públicos e locais de circulação de mercadorias, como por exemplo, 
nos portos. As ações de saneamento eram comandadas pela 
polícia sanitária que visava o controle de doenças com potencial 
para causar prejuízos à qualidade dos produtos exportados. Outra 
medida adotada nesse período foi à distribuição de uma vacina 
antivaríola para a população, como uma forma mais eficaz de inibir 
os grandes surtos dessa doença.
Na última década do império, poucas modificações nas condições 
de saúde da população haviam sido realizadas. A centralização do 
poder conservou as estruturas de saúde sob a égide dos grandes 
centros, como a capital do império, em detrimento das demais 
regiões do país. A população em geral permaneceu excluída de 
qualquer serviço público efetivo de prevenção de riscos à saúde.
Visando solucionar 
os problemas de 
saúde enfrentados 
pela população 
foram criadas as 
Juntas de Higiene 
Pública.
POLÍTICAS PÚBLICAS DE SAÚDE
unidade 2
28
República Velha 
(1889 - 1930)
 
Com a proclamação da República do Brasil em 1889, grandes 
transformações ocorrem no cenário político e social do país. 
O Brasil inserido em um contexto internacional marcado por 
profundas transformações que foram denominadas de “Segunda 
Revolução Industrial”. Essa época foi caracterizada por intensa 
modernização tecnológica e de significativos avanços científicos 
na área microbiológica que revolucionou o campo da saúde pública 
(GIOVANELLA et al., 2012).
Tendo o café como o grande produto de exportação, as políticas do 
Estado eram voltadas para a ampliação das lavouras e captação 
cada vez maior de mão de obra assalariada para manutenção da 
economia agroexportadora cafeeira. A expansão das oligarquias 
de café e o poder dos grandes latifundiários consolidaram uma 
nova modalidade de poder baseada na rotatividade entre os 
representantes das grandes oligarquias agrárias paulistas e 
mineiras do país. Essa forma de poder ficou conhecida como 
política do “café com leite” e ditou o caminho da política econômica 
brasileira nos anos seguintes.
Com a ampliação da produção de café, houve também um 
crescimento nos setores da economia direta ou indiretamente 
envolvidos como investimento na infraestrutura de transportes 
(malha, ferroviária, portos), indústrias e credores na produção 
cafeeira. Em torno desse contexto de expansão econômica, 
na esfera social, houve um crescimento da urbanização das 
cidades, aumento de trabalhadores oriundos do interior do país e 
de imigrantes europeus impulsionados pelas oportunidades de 
trabalho nas lavouras de café.
A expansão das 
oligarquias de café e 
o poder dos grandes 
latifundiários 
consolidaram uma 
nova modalidade de 
poder
POLÍTICAS PÚBLICAS DE SAÚDE
unidade 2
29
Apesar do avanço econômico e crescimento das cidades, os serviços 
de saúde à população permaneceram praticamente inalterados. O 
aumento cada vez maior da massa de trabalhadores nas lavouras 
de café, muitas vezes trabalhando sob péssimas condições de 
saneamento, favoreceu o reaparecimento de várias epidemias. 
Algumas doenças como a varíola se alastravam nas cidades, 
enfraquecendo a mão de obra trabalhadora e acarretando prejuízos 
à economia. Buscando reverter esse quadro, o governo utilizou-se 
inicialmente de métodos pouco eficazes como o isolamento do 
doente do ambiente em que trabalhava e habitava por quarenta 
dias. Porém, ações mais concretas só seriam implementadas em 
1897 com a criação da Diretoria Geral de Saúde Pública (DGSP), 
visando aplicar conhecimentos científicos adquiridos nos últimos 
anos à resolução dos problemas de saúde, tendo com o objetivo 
principal retomar o crescimento da economia agroexportadora. As 
principais atribuições da DGSP eram:
• controle de serviços sanitários marítimos e fluviais;
• fiscalização do exercício da medicina e farmácia;
• estudos sobre doenças infecciosas;
• levantamento de dados demográficos e sanitários;
• auxílio local em períodos de epidemia.
Durante a República, a autonomia dos serviços públicos de saúde 
estava sob a responsabilidade das juntas municipais que uniam 
forças para combater as epidemias que foram surgindo na época. 
No sentido de ampliar a proteção contra as inúmeras moléstias, 
o governo criou em 1900 o Instituto Soroterápico Federal, cujo 
objetivo era produzir vacinas e soros contra as doenças epidêmicas. 
Esse instituto posteriormente foi denominado de “Instituto Oswaldo 
Cruz” e tinha como medidas complementares a fiscalização de 
habitações populares, comércio de alimentos e bebidas alcoólicas 
(GIOVANELLA et al., 2012). 
POLÍTICAS PÚBLICAS DE SAÚDE
unidade 2
30
Em 1903, sob o comando da presidência da república, Rodrigues 
Alves nomeou o jovem médico Oswaldo Cruz ao cargo de Diretor 
geral da Saúde Pública, tendo como objetivo propor ações de 
saneamento e urbanização que visavam o combate das principais 
epidemias que acometiam a população no Rio de Janeiro. 
Embora as ações de saúde pública comandadas por Oswaldo 
Cruz alcançassem bons resultados em relação às epidemias de 
febra amarela, varíola e peste bubônica, o governo se mostrava 
desinteressado em manter as ações permanentes de combate. As 
doenças anualmente prejudicavam a saúde da população, porém a 
decisão do governo foi conduzir as campanhas sanitárias de forma 
esporádica ou em caráter emergencial. 
Um novo surto de varíola atingiu o Rio de Janeiro e uma das 
medidas tomadas por Oswaldo Cruz foi decretar a vacinação 
obrigatória. Inúmeras medidas foram tomadas sem nenhuma 
preocupação em esclarecer a população sobre a necessidade 
da vacinação. A abordagem autoritária por parte da polícia 
sanitária incluía a invasão de casas para o combate aos focos de 
mosquitos vetores, eliminação de criadouros de ratos e vacinação 
forçada causou indignação da população. Além disso, algumas 
providências foram aprovadas como multas aos rebeldes, exigência 
de atestado de vacinação aos candidatos a matrículas em escolas, 
concursos públicos, casamentos, viagens (COTTA et al., 2013). As 
ações eram arbitrárias, utilizava-se da violência e da autoridade 
como instrumento para atingir as metas. A população sem qualquer 
tipo de esclarecimento reagiu de maneira contrária a essas ações, 
alegando que tais medidas eram imorais e não respeitavam as 
liberdades individuais (COTTA et al., 2013). O aumento da resistência 
da opinião pública serviu de estopim para uma grande revolta 
ocorrida no Rio de Janeiro em 1904, conhecida como “Revolta da 
Vacina”, conforme ilustra na figura 3 a seguir.
Uma das medidas 
tomadas por 
Oswaldo Cruz foi 
decretar a vacinação 
obrigatória.
POLÍTICAS PÚBLICAS DE SAÚDE
unidade 2
31
FIGURA 3 - Revolta da Vacina 
Fonte: Arquivo Institucional. 
A população saiu às ruas destruindo postes de iluminação, bondes e 
aparatos públicos, saqueando lojas, entre outras atrocidades, como 
forma de contestação das medidas impositivas aprovadas pela 
Diretoria Geral de Saúde Pública. O governo em meio à repercussão 
social acabou acatando as reivindicações da população e 
suspendeu a vacinação em caráter obrigatório. 
Apesar dos conflitos, o governo alcançou importantes vitórias 
sobre o controle de doenças como a varíola, febre amarela e peste 
bubônica. Anos mais tarde, algumas doenças que não haviam sido 
alvodas campanhas anteriores promovidas por Oswaldo Cruz 
continuaram a fazer vítimas na cidade, como a tuberculose. 
A preocupação com a erradicação das principais epidemias e o 
crescimento da urbanização das cidades tinha como objetivo dar 
continuidade ao crescimento econômico nos grandes centros. 
Porém, as medidas de saneamento ficavam bastante restritas 
aos locais de produção e comércio de mercadorias nos grandes 
 O governo em meio 
à repercussão social 
acabou acatando 
as reivindicações 
da população 
e suspendeu a 
vacinação em 
caráter obrigatório.
POLÍTICAS PÚBLICAS DE SAÚDE
unidade 2
32
centros, deixando à margem todo o interior do país. As condições de 
saúde nas províncias eram muito precárias, favorecendo ao quadro 
de desnutrição da população, tendo como fator determinante a 
prevalência de verminoses e a malária. 
Nesse contexto, as expedições pelos sertões do Brasil alimentaram 
ideias em prol de uma reforma dos serviços de saúde apoiadas em 
movimentos sindicais que reivindicavam melhorias nas condições 
de higiene no ambiente de trabalho emergiram no país. A aprovação 
de medidas mais abrangentes e centralizadas na saúde avaliadas 
pelo governo foram vistas como uma forma de ameaça ao poder 
local pelas oligarquias estatais. Porém, no fim da década de 1910, 
a antiga DGSP foi substituída pela Diretoria Nacional de Saúde 
Pública (DNSP), sob o comando do médico Carlos Chagas. O novo 
órgão incorporou iniciativas sobre saneamento rural e atribuiu 
maiores responsabilidades aos Estados pela gestão local da saúde 
(GIOVANELLA et al., 2012). 
A responsabilidade do governo central em promover melhores 
condições de saúde a todo país foram ampliadas. O serviço de 
profilaxia rural fornecia informações importantes da situação de 
saúde e foi incorporado ao DNSP. Além disso, na década de 1920, 
foram criadas a Inspetoria de Higiene Industrial e Alimentar que 
ampliava as atribuições da DNSP como: 
• regulação da venda de produtos alimentícios;
• normatização de construções rurais com vistas a reduzir a 
proliferação da doença de chagas;
• regulação das condições de trabalho de mulheres e 
crianças;
• fiscalização de produtos farmacêuticos;
• inspeção de saúde dos imigrantes que chegavam pelos portos; 
• produção de soros, vacinas e medicamentos para combate 
das grandes epidemias.
As expedições pelos 
sertões do Brasil 
alimentaram ideias 
em prol de uma 
reforma dos serviços 
de saúde.
POLÍTICAS PÚBLICAS DE SAÚDE
unidade 2
33
A DNSP significou um grande avanço na extensão e na maneira 
com que a sociedade, principalmente as elites enxergavam a saúde 
pública. O aumento do nível de abrangência das ações colocou 
em pauta a interdependência entre as regiões do país com vista 
ao controle sanitário. Outra questão importante nessa época foi 
à ampliação da responsabilidade estatal frente aos problemas de 
saúde que contribuíram para o crescimento das atividades de saúde 
pública do país (GIOVANELLA et al., 2012).
No campo de trabalho, uma das conquistas dos movimentos 
sindicais foram à criação da Lei Eloy Chaves, em 1923, que 
regulamentava as Caixas de Aposentadorias e Pensões (CAPs) para 
a classe trabalhadora. Ela representou o início da previdência social 
no Brasil, na qual funcionários de empresas obtinham benefícios 
através de contribuições anteriores, seguindo os princípios de 
seguro social (COTTA et al., 2013). Os segurados que tinham direito 
ao benefício se restringiam ao operariado urbano. As CAPs eram 
organizadas e financiadas por empresas e o fundo era composto por 
contribuição de trabalhadores, empregadores e consumidores dos 
serviços da empresa. A cobertura dos serviços oferecidos incluía 
socorros médicos do segurado ou membro familiar; medicamentos 
por preço especial; aposentadoria e pensão para seus herdeiros 
em caso de morte (COTTA et al., 2013). Dessa maneira, apenas 
uma parte da população teria acesso aos benefícios do seguro que 
inicialmente contemplavam apenas algumas categorias como os 
ferroviários, os portuários e os marítimos. Ao Estado, cabia apenas 
a função de controle externo dos seguros privados através da 
fiscalização da organização e funcionamento das Caixas, que nos 
anos seguintes teria sua cobertura ampliada, englobando outros 
setores da economia. 
• Os benefícios concedidos pela CAPs, segundo Cotta (2013), 
são:
• Socorros médicos para o segurado ou familiar direto.
• Medicamentos por preço especial.
As CAPs eram 
organizadas e 
nanciadas por 
empresas e o fundo 
era composto 
por contribuição 
de trabalhadores, 
empregadores e 
consumidores.
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• Aposentadoria.
• Pensão para os herdeiros em caso de morte.
• Assistência em caso de acidente de trabalho. Fonte: 
Elaborada pelo autor.
 
Era Vargas 
(1930-1945)
 
No final da década de 1920, o Brasil passou por profundas 
transformações que afetaram todos os segmentos da sociedade. 
Os lucros obtidos na comercialização do café, baseada na economia 
agroexportadora tornou possível o início da industrialização do país. 
Tal fato gerou um crescente processo de migração para os grandes 
centros, onde trabalhadores, em busca de melhores condições, se 
estabeleciam. Como resultado, a densidade populacional contribuiu 
para um aumento da urbanização das cidades. No cenário político, 
o controle do poder articulado entre as oligarquias rurais e baseado 
no coronelismo enfrentou grande resistência de diversas camadas 
sociais. A centralização do poder pautada na política do “café com 
leite’’ não agradava mais a sociedade brasileira, que buscava maior 
representatividade e reivindicava mudanças nessa estrutura. 
No campo econômico, as repetidas crises envolvendo a 
superprodução do café no cenário internacional tornaram-no 
insustentável com a quebra da bolsa de valores de Nova York em 
1929. Esse fato contribuiu para uma forte desvalorização do principal 
produto agroexportador do Brasil e desencadeou uma grande crise 
econômica. A oposição ao governo, formada pelo operariado e por 
representantes das camadas médias da população, encontrou um 
ambiente favorável a uma reforma política. Diversos movimentos 
de cunho liberal foram organizados, contrapondo-se ao sistema 
do coronelismo. Nesse contexto, nasce o fenômeno do tenentismo, 
organização política de base militar que visava propor mudanças na 
Densidade 
populacional 
contribuiu para 
um aumento da 
urbanização das 
cidades.
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condução do poder no país, considerando os diversos interesses da 
população e não apenas de uma minoria.
Em 1930, após um golpe de estado, Getúlio Vargas assume a 
presidência da República. A sua maneira de governar abriu espaço 
para as demandas nacionais, incorporando para a agenda política 
os interesses de inúmeros grupos nem prejudicar a liderança da elite 
cafeeira. Nesse segmento, Vargas mediou os conflitos de interesses 
entre as oligarquias rurais e setor industrial em desenvolvimento.
No campo da saúde, Vargas ampliou os benefícios inicialmente 
concedidos ao operariado urbano em detrimento da população em 
geral, formada por pobres, desempregados, ou trabalhadores do 
mercado informal. Em 1933, Vargas ampliou a participação estatal 
no controle da previdência, criando os Institutos de Aposentadoria 
e Pensões (IAPs). Dessa forma, as CAPs foram transformadas em 
IAPs, sendo essa nova modalidade dividida por categoria profissional 
e gerida pelo estado, se transformando aos poucos em um sistema 
de previdência social (GIOVANELLA et al., 2012). Porém, as novas 
diretrizes estipulavam a participaçãode empresas, empregadores 
e a União na função de contribuinte do fundo previdenciário. Na 
prática, a parcela relativa ao governo nunca foi depositada, além 
do poder central impor maior participação e controle sobre as 
instituições previdenciárias. 
Com o tempo, o governo atribuiu ao fundo previdenciário a 
prioridade em custear a previdência e as pensões aos contribuintes, 
dissociando gradualmente os serviços médicos como forma 
de contenção dos gastos. Além disso, os recursos obtidos da 
previdência foram sendo aplicados no setor industrial e viabilizou a 
construção de projetos do governo como a criação da Companhia 
Siderúrgica Nacional, entre outras.
Na primeira década de 1930, a política de contenção de gastos 
objetivava a recuperação econômica em meio à crise financeira de 
1929, porém o governo também utilizou desse artifício, sobretudo 
Com o tempo, o 
governo atribuiu ao 
fundo previdenciário 
a prioridade em 
custear a previdência 
e as pensões aos 
contribuintes.
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os recursos oriundos da previdência, para acumular capital e ganhar 
espaço ao incluir representantes do Estado aos cargos de chefia 
nas IAPs.
O maior controle estatal sobre as IAPs estabeleceu a concepção 
de cidadania regulada, na qual somente os trabalhadores formais 
vinculados a um cargo formal teriam acesso aos alguns direitos 
e benefícios como a assistência à saúde (SANTOS, 1987). Essa 
modalidade de proteção não era baseada em uma política de 
inclusão e igualdade, sendo os direitos dos trabalhadores atrelados 
ao lugar que ocupam na cadeia produtiva, considerando fora desse 
escopo os trabalhadores rurais, pobres, trabalhadores informais, 
entre outros. 
Outros fatores relevantes no campo do trabalho foram alcançados 
nesse período como a regulamentação da carteira profissional, 
jornada de trabalho, férias, o trabalho feminino e de menores e o 
salário mínimo. Essas conquistas foram aprovadas e incluídas na 
Consolidação das Leis de trabalho em 1940.
A definição das políticas no campo do trabalho e da previdência 
acarretou a reorganização das ações de saúde em duas grandes 
vertentes. Inicialmente com a criação do Ministério do trabalho, 
Indústria e Comércio, as ações de proteção ao trabalhador, como 
assistência médica individualizada foram concretizadas. Do 
outro lado, o Departamento Nacional de Saúde foi absorvido pelo 
novo Ministério da educação e Saúde Pública (MESP) ao qual 
cabia a função de dar continuidade aos programas e políticas de 
saúde no âmbito preventivo, pautadas no modelo do sanitarismo 
campanhista (BAPTISTA, 2007). Nos primeiros anos, o MESP 
apenas deu continuidade aos programas de prevenção de doenças 
transmissíveis e aos programas especiais de combate à tuberculose, 
hanseníase, etc., criados durante a República. 
Alguns meses antes de Getúlio Vargas instaurar o Regime Ditatorial, 
conhecido como “Estado Novo” e marcado pela centralização do 
O maior controle 
estatal sobre as 
IAPs estabeleceu 
a concepção de 
cidadania regulada.
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poder, o MESP foi reformulado pela Gestão de Gustavo Capanema. 
Com as mudanças, o MESP foi transformado em Ministério da 
Educação e Saúde, ampliando as ações do Departamento Nacional 
de Saúde, que passou a se chamar “Departamento Nacional de 
Saúde e Assistência Médico Social”. Na prática, as ações foram 
atribuídas às delegacias de saúde com o objetivo de garantir a 
execução dos serviços locais de saúde em colaboração com 
os serviços federais que incluía a normatização de diretrizes e 
fiscalização dessas ações.
Seguindo a lógica de desenvolvimento econômico, em 1942 foi 
criado o Serviço Especial de Saúde Pública (SESP) baseado em um 
acordo entre o governo brasileiro e o norte-americano. Esse acordo 
concebia ao SESP a atuação no combate à febre amarela e à malária 
na região da Amazônia e no Vale do Rio Doce, regiões importantes 
economicamente por possuir fontes de borracha e minérios que 
interessavam os norte-americanos. Assim, a SESP expandiu suas 
ações por toda a região Norte e Nordeste, com verba estrangeira e 
pautada na medicina preventiva e curativa (GIOVANELLA et al., 2012). 
A SESP foi importante na reestruturação da saúde pública no interior 
do país, porém sempre foi considerada uma ação marcada pelos 
interesses do Estado em promover o desenvolvimento econômico e 
centralização do poder no regime Vargas.
Por fim, vale ressaltar que a saúde pública no período getulista 
foi marcada pelo distanciamento das ações de saúde. Por um 
lado, a saúde pública baseada em ações coletivas no controle e 
erradicação de doenças infectocontagiosas. Por outro, a assistência 
médica previdenciária, de cunho individual, porém voltada apenas 
aos trabalhadores vinculados ao Ministério do Trabalho, Comércio 
e Indústria. Dessa forma, a lógica das ações caracterizadas como 
medidas centralizadas e emergenciais influenciou por muitos anos 
a formulação das políticas de saúde no Brasil (COTTA et al., 2013).
Em 1942 foi criado 
o Serviço Especial 
de Saúde Pública 
(SESP) baseado em 
um acordo entre o 
governo brasileiro e 
o norte-americano.
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Instabilidade Política e 
Ditadura Militar (1945 - 
1985) 
Com o fim da Segunda Guerra Mundial, a crescente insatisfação 
da oposição e o crescimento de manifestações a favor da 
redemocratização entraram em conflito com o autoritarismo do 
regime Vargas. Assim, em 1945, Getúlio Vargas foi deposto pelo 
comando do exército, dando fim ao período do Estado Novo. O novo 
governo foi assumido por Eurico Gaspar Dutra que manteve o regime 
do presidencialismo. No cenário político, a liberalização política 
com o término do autoritarismo de Vargas reacendeu as disputas 
por interesses. Inúmeros partidos políticos foram criados como a 
União Democrática Nacional (UDN), o Partido Social Democrático 
(PSD), o Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) e, anos mais tarde, o 
Partido Socialista Brasileiro (PSB). Os primeiros meses do mandato 
de Dutra foram marcados por dezenas de greves realizadas pelos 
trabalhadores urbanos que reivindicavam melhores salários, como 
também exigiam o cumprimento da legislação trabalhista. 
No campo da saúde pública, o combate as grandes epidemias, 
seguiu o modelo de sanitarismo campanhista, alcançando seu auge 
pela forma de condução autoritária e centralizadora (GIOVANELLA 
et al., 2012). Na gestão de Dutra, algumas doenças como a malária 
e a tuberculose obtiveram uma redução drástica na incidência de 
novos casos. Porém, a explicação para essa redução é atribuída à 
utilização de antibióticos, como a penicilina e ao uso do inseticida 
DDT, fruto do conhecimento científico adquirido durante a Segunda 
Guerra Mundial (1939-1945), do que propriamente uma melhora na 
eficiência das campanhas estatais de saúde.
Com o aumento da industrialização, a economia agroexportadora 
deixou de ser o termômetro do crescimento do país. Grande 
contingente de trabalhadores foi gradativamente sendo absorvido 
Na gestão de Dutra, 
algumas doenças 
como a malária 
e a tuberculose 
obtiveram uma 
redução drástica 
na incidênciade 
novos casos.
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nos centros urbanos e com isso aumentou a necessidade de 
assistência médica. Juntamente com o aumento da demanda 
dos serviços, elevaram-se também o gasto e as despesas com 
os serviços de saúde, o que acarretou em algumas mudanças em 
relação à crescente demanda. 
O sistema previdenciário voltado aos trabalhadores urbanos, 
influenciado pelo crescimento das liberdades individuais edos partidos políticos, instaura no país um cenário de ampla 
movimentação social de cunho democrático. Nesse sentido, o 
sistema de capitalização da previdência, pautado na modalidade de 
seguro social, foi gradativamente sendo substituído pela seguridade 
social, no qual cabe ao Estado às obrigações de amparar qualquer 
cidadão, independente da condição social. Assim, como resultado 
da demanda pelos serviços, a previdência incluiu no grupo de 
beneficiários os pensionistas, as gestantes, entre outros.
Em 1949, foi criado o Serviço de Assistência Médica Domiciliar 
e de Urgência da Previdência Social (Samdu) que regularizou 
o funcionamento da assistência médico-hospitalar, unificando 
as CAPs e as IAPs. Entre os benefícios desse serviço, podemos 
destacar o atendimento domiciliar e o atendimento universal. O 
Estado destinou nessa época grande volume de recursos para 
a compra de equipamentos médicos, construção de hospitais, 
ambulatórios, etc. Com uma política desenvolvimentista, o Governo 
investiu em tecnologias do pós-guerra e instaurou um sistema de 
saúde hospitalocêntrico, com ênfase no tratamento individualizado, 
medicamentoso e por especialidade seguindo a tendência mundial de 
estados de bem-estar social ou welfare states (COTTA et al., 2013).
O resultado dessa intervenção na saúde tendo como referência 
o tratamento em hospitais resultou em grande aumento das 
despesas do governo com os serviços de saúde. Instaura-se no país 
um cenário de “crise da previdência”, marcada pela elevação dos 
gastos sem uma real solução para os problemas de saúde. Nesse 
sentido, o governo ensaia uma tentativa de abolir a sua parcela de 
contribuição junto à previdência.
O sistema de 
capitalização da 
previdência, pautado 
na modalidade de 
seguro social, foi 
gradativamente 
sendo substituído.
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Pela sucessão de Dutra foi eleito Getúlio Vargas que em seu 
segundo mandato (1951-1954) sob a ótica nacionalista buscou 
dar continuidade às reformas estruturais iniciadas em seu primeiro 
mandato. Assim, inúmeras obras de expansão da infraestrutura foram 
realizadas como a construção de rodovias, usinas hidrelétricas, entre 
outras. No setor econômico, Vargas priorizou os recursos financeiros 
para setores estratégicos da economia como a exploração mineral e 
as indústrias de base (GIOVANELLA et al., 2012).
Governando com base na modalidade do populismo, Getúlio 
procurou através da política de massas, implementar medidas que 
levassem ao desenvolvimento econômico do país, tendo como 
centro de toda ação, o povo. Assim, nessa época, importantes 
conquistas no campo trabalhista e de direitos sociais foram 
alcançadas, sobretudo, como forma de controle da autonomia e 
liberdade da classe trabalhadora.
Na saúde pública, era marcante a divisão entre as políticas e práticas 
de saúde em duas vertentes: a medicina preventiva e a medicina 
curativa. A saúde pública, de cunho preventivista, concentrou-se em 
campanhas de vacinação e erradicação de vetores de determinada 
doença sob uma conduta centralizadora por parte do governo. Já 
a assistência médica era voltada para a ótica hospitalocêntrica, 
especializada, com utilização de amplos recursos tecnológicos. 
Do ponto de vista de resultados, a centralização das políticas 
sanitárias não conseguiu lidar com o combate as principais 
epidemias, favorecendo o ressurgimento de várias doenças. A 
assistência médica hospitalar fez com que se elevasse o custo 
com a saúde, e com isso boa parcela dos recursos da previdência 
acabou sendo destinada ao custeio dos tratamentos, pondo fim ao 
período de contenção de gastos.
Em 1953, foi criado o Ministério da Saúde, um marco histórico 
que conferiu a saúde, um papel exclusivo na conduta das políticas 
de saúde do Brasil (COTTA et al., 2013). Instaura após esse 
Na saúde pública, era 
marcante a divisão 
entre as políticas e 
práticas de saúde 
em duas vertentes: a 
medicina preventiva 
e a medicina 
curativa.
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período uma corrente de opinião denominada de “sanitarismo 
desenvolvimentista”, na qual o nível de saúde de uma população 
depende, primordialmente, do grau de desenvolvimento econômico 
do país. Vargas deixou claro que os objetivos das políticas sociais, 
entre elas, as políticas de saúde estariam subordinadas ao 
progresso e ao enriquecimento da nação (GIOVANELLA et al., 2012).
A imagem de líder populista de Getúlio e as atribuições e medidas 
tomadas por ele, muitas vezes, não colocavam em pauta os 
interesses de empresários. Associados a isso, o forte aumento 
das despesas públicas, colocando em risco os investimentos 
necessários ao crescimento do país, culminou com uma forte 
oposição ao governo nacionalista. Com os desdobramentos 
políticos e diante das pressões, Vargas não viu outra maneira de 
sair com honra do governo, e se suicidou em 1954.
O governo seguinte foi assumido por Juscelino Kubitschek (1956-
1960), eleito com o apoio das forças getulistas. O governo JK foi 
marcado pela incorporação do capital estrangeiro na economia e pela 
era do desenvolvimentismo, evidenciado pela aprovação do Plano de 
Metas e construção da nova capital sede do governo, Brasília. 
No campo da saúde pública, a visão desenvolvimentista do novo 
governo não prestou a assistência necessária à população. As 
medidas de assistência à saúde restringiam-se às condutas 
essencialmente paliativas e emergenciais, sem nenhuma 
preocupação com a prevenção e promoção da saúde. Dessa forma, 
inúmeras doenças controladas, voltavam a acometer a população. 
Como tentativa de controlar e erradicar algumas doenças específicas, 
JK criou o Departamento Nacional de Endemias Rurais (DNERu). O 
novo órgão atuou no combate a transmissão da febre amarela e na 
erradicação da varíola, porém as tentativas de controle da lepra e da 
malária não foram bem-sucedidas (GIOVANELLA et al., 2012).
A prioridade de desenvolver o país, fez com que JK deslocasse 
os investimentos para setores estratégicos da economia, em 
O governo JK foi 
marcado pela 
incorporação do 
capital estrangeiro 
na economia 
e pela era do 
desenvolvimentismo.
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detrimento das políticas de saúde e previdência. Nesta última, foi 
eliminada a contribuição por parte da união. Em contrapartida, no 
ano de 1960 foi aprovada a Lei Orgânica da Previdência Social que 
uniformizou o direito dos segurados ao padrão dos melhores IAPs, 
sem, no entanto, incluir os trabalhadores rurais. Essa lei, apesar de 
representar uma conquista de direito dos trabalhadores, nunca foi 
colocada em prática (GIOVANELLA et al., 2012). 
Apesar do Governo JK permitir uma melhora na vida dos brasileiros 
em decorrência da urbanização e desenvolvimento industrial, uma 
crise econômica iminente acompanharia a sucessão do novo 
governo eleito, comandado por Jânio Quadros em 1960.
As medidas impopulares implementadas por Jânio nos primeiros 
meses do mandato repercutiram em forte pressão da oposição. A 
divergência entre os interesses de grandes empresários e as ações 
de Jânio desgastou a sua imagem e o levaram a renunciar por 
pressão de “forças ocultas terríveis”. João Goulart, simpatizante do 
populismo, assumiu a presidência.
Nessa época, ocorreu a Terceira Conferência Nacional em Saúde 
(CNS), encontro cuja proposta era reunir representantes e líderes 
de diversos estados para debater sobre os principais problemas 
de saúde da população brasileira. O tema dessa edição era a 
descentralização da área da saúde, na qual se buscava, através 
de estratégias de municipalização da saúde, alcançar

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