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SAÚDE COLETIVA

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SAÚDE COLETIVA
PROF.A MA. MARIA CECILIA MEREGE
Reitor: 
Prof. Me. Ricardo Benedito de 
Oliveira
Pró-Reitoria Acadêmica
Maria Albertina Ferreira do 
Nascimento
Diretoria EAD:
Prof.a Dra. Gisele Caroline
Novakowski
PRODUÇÃO DE MATERIAIS
Diagramação:
Alan Michel Bariani
Thiago Bruno Peraro
Revisão Textual:
Fernando Sachetti Bomfim
Marta Yumi Ando
Produção Audiovisual:
Adriano Vieira Marques
Márcio Alexandre Júnior Lara
Osmar da Conceição Calisto
Gestão de Produção: 
Aliana de Araújo Camolez
© Direitos reservados à UNINGÁ - Reprodução Proibida. - Rodovia PR 317 (Av. Morangueira), n° 6114
 Prezado (a) Acadêmico (a), bem-vindo 
(a) à UNINGÁ – Centro Universitário Ingá.
 Primeiramente, deixo uma frase de 
Sócrates para reflexão: “a vida sem desafios 
não vale a pena ser vivida.”
 Cada um de nós tem uma grande 
responsabilidade sobre as escolhas que 
fazemos, e essas nos guiarão por toda a vida 
acadêmica e profissional, refletindo diretamente 
em nossa vida pessoal e em nossas relações 
com a sociedade. Hoje em dia, essa sociedade 
é exigente e busca por tecnologia, informação 
e conhecimento advindos de profissionais que 
possuam novas habilidades para liderança e 
sobrevivência no mercado de trabalho.
 De fato, a tecnologia e a comunicação 
têm nos aproximado cada vez mais de pessoas, 
diminuindo distâncias, rompendo fronteiras e 
nos proporcionando momentos inesquecíveis. 
Assim, a UNINGÁ se dispõe, através do Ensino a 
Distância, a proporcionar um ensino de qualidade, 
capaz de formar cidadãos integrantes de uma 
sociedade justa, preparados para o mercado de 
trabalho, como planejadores e líderes atuantes.
 Que esta nova caminhada lhes traga 
muita experiência, conhecimento e sucesso. 
Prof. Me. Ricardo Benedito de Oliveira
REITOR
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SUMÁRIO DA UNIDADE
INTRODUÇÃO ................................................................................................................................................................5
1. O QUE É SAÚDE COLETIVA E CONCEITOS INICIAIS .............................................................................................6
1.1. SAÚDE E SUAS INTERFACES .................................................................................................................................6
1.1.1. SAÚDE COLETIVA .................................................................................................................................................6
1.2. EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO PROCESSO SAÚDE–DOENÇA ................................................................................9
1.2.1. A DETERMINAÇÃO SOCIAL DO PROCESSO SAÚDE-DOENÇA ....................................................................... 14
1.3 HISTÓRIA DAS POLÍTICAS PÚBLICAS DE SAÚDE: QUADRO SANITÁRIO E TRANSIÇÕES EPIDEMIOLÓGICAS 
NO BRASIL ................................................................................................................................................................... 16
1.3.1 DO DESCOBRIMENTO DO BRASIL ATÉ À CHEGADA DA FAMÍLIA REAL (1500 A 1889) .....................................17
1.3.2. DA PROCLAMAÇÃO DA REPÚBLICA ATÉ 1930 ...............................................................................................20
1.3.3. A ERA VARGAS OU PERÍODO DA SEGUNDA REPÚBLICA (1930 – 1945) .....................................................24
SAÚDE COLETIVA: CONCEITOS E HISTÓRIA
PROF.A MA. MARIA CECILIA MEREGE
ENSINO A DISTÂNCIA
DISCIPLINA:
SAÚDE COLETIVA
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1.3.4. PERÍODO DA REDEMOCRATIZAÇÃO OU DESENVOLVIMENTISTA (1945 – 1963) .......................................26
1.3.5. PERÍODO DO REGIME MILITAR (1964 – 1984) ..............................................................................................28
1.3.5.1. REFORMA SANITÁRIA ....................................................................................................................................33
1.3.6. PERÍODO DA NOVA REPÚBLICA (1985 – 1988) ..............................................................................................33
CONSIDERAÇÕES FINAIS ...........................................................................................................................................36
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INTRODUÇÃO
Bem-vindo(a), caro(a) aluno(a).
A saúde coletiva é um campo de conhecimentos e práticas que tem estado presente em 
muitos trabalhos, seja ao longo dos anos que medeiam a sua institucionalização no final dos anos 
1970 seja ainda nos dias atuais. Em seu trabalho, Foucault (1979) registra as origens da medicina 
social, vinculada à polícia médica na Alemanha, à medicina urbana na França e à medicina da 
força do trabalho na Inglaterra. Essas três formas defendem a tese de que, com o capitalismo, 
ocorreu a passagem da medicina privada à medicina coletiva, desenvolvendo-se em fins do século 
XVIII e início do XIX e socializando o primeiro objeto, que foi o corpo como força de produção 
e força de trabalho. Isso só foi levado a sério na segunda metade do século XIX, quando se criam 
condições para a emergência da medicina social, devendo a medicina intervir na vida política e 
social, apontando os obstáculos que impedem o funcionamento normal do processo vital com 
vistas a afastá-los.
Logo, a saúde coletiva assume um papel político e técnico, visando à reformulação do 
setor saúde e à concepção da saúde como um direito do cidadão e dever do Estado, devendo a 
participação ser efetivada na busca pela implementação de uma política de recursos humanos em 
saúde coletiva, associada às condições de saúde da população e de incentivo à pesquisa.
A Organização Mundial de Saúde (OMS), ao definir saúde como o completo bem-estar 
físico, mental e social, e não apenas como a ausência de doenças, resvalou para uma concepção 
de saúde como um estado absoluto, cujo objetivo é a qualidade de vida. Sendo assim, trata-se de 
uma questão que ocupa a atenção de muitas pessoas, governos, empresas e comunidades, visto 
que, além de corresponder ao estado de vida, também é o modo como a pessoa leva a vida. 
Vale ressaltar que a saúde contempla três dimensões: o estado vital, o setor produtivo e a 
área do saber, as quais são extremamente essenciais na identificação dos problemas e necessidades 
de saúde, bem como na explicação e modo de organização para enfrentamento dos problemas 
relacionados à saúde.
É um componente da economia, já que produz bens e serviços e hospitais, laboratórios, 
clínicas, centros e unidades básicas de saúde são estabelecimentos que ofertam serviço de saúde. 
Ao mesmo tempo, existem indústrias farmacêuticas, de equipamentos, vacinas, materiais médico-
cirúrgicos, assim como empresas que comercializam planos de saúde e instituições responsáveis 
pela gestão, como o Ministério da Saúde e as Secretarias municipais e estaduais. Uma parte dessas 
organizações presta serviços de saúde; a outra parte produz bens, como medicamentos, vacinas 
e equipamentos. 
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1. O QUE É SAÚDE COLETIVA E CONCEITOS INICIAIS
1.1. Saúde e suas Interfaces
Antes de ser trabalhada a expressão “Saúde Coletiva”, vale ressaltar que o termo saúde 
designa um conceito rico e complexo, de grande interesse filosófico, científico e prático. 
Sendo assim, vale relembrar a definição mencionada na Introdução, segundo a qual 
a Organização Mundial da Saúde (OMS), em 1949, logo após a Segunda Guerra Mundial, 
conceituou saúde como o completo bem-estar físico, mental e social e não apenas a ausência de 
doenças.
Essa definição é utópica, já que o homem nunca será completo: ele está sempre em busca 
de sua felicidade e aperfeiçoamento. No entanto, a definição acerta ao dizer que saúde não é a 
simples ausência de enfermidades. 
Pelo que já se percebe, são várias as dimensões ou facetas do conceito de saúde, 
reconhecidas por diversos autores. Veja algumas:
I. Aquestão conceitual da saúde como problemática filosófica (ou, mais precisamente, 
epistemológica), crucial para o reconhecimento dos saberes sistemáticos referidos a 
questões de vida, funcionalidade, competência, sofrimento, dor, aflição, incapacidades, 
restrições vitais e morte.
II. A saúde como fato, atributo, função orgânica, estado vital individual ou fenômeno 
natural, definido, negativamente, como a ausência de doenças e incapacidade ou, 
positivamente, como funcionalidades, capacidade, necessidades e demandas. 
III. A medida da saúde no sentido de avaliação do estado de saúde da população, 
indicadores demográficos e epidemiológicos, análogos de risco, competindo com 
estimadores econométricos de salubridade ou carga de doença.
IV. O valor da saúde e, nesse caso, tanto sob a forma de procedimentos, serviços e atos 
regulados e indevidamente legitimados como mercadoria, quanto sob a forma de direito 
social, serviço público ou bem comum, por parte da cidadania global contemporânea. 
V. A práxis da saúde, como conjunto de atos sociais de cuidado e atenção a necessidades 
e carências de saúde e qualidade de vida, conformados em campos e subcampos de 
saberes e práticas institucionalmente regulados, operados em setores de governo e de 
mercados, em rede sociais e institucionais. 
1.1.1. Saúde coletiva
 
A saúde coletiva pode ser definida como um campo de produção de conhecimentos 
voltados à compreensão da saúde e à explicação de seus determinantes sociais, bem como ao 
âmbito de práticas direcionadas, prioritariamente, à sua promoção, prevenção de riscos e ao 
cuidado com agravos e doenças. Volta-se, ainda, à reorientação da assistência e à melhoria da 
qualidade de vida, privilegiando mudanças nos modos de vida e nas relações entre pessoas e 
instituições envolvidas no cuidado à saúde da coletividade, gerida pelo Estado. 
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 Essa área busca entender a saúde/doença como um processo que se relaciona com a 
estrutura da sociedade, o homem como ser social e histórico, e o exercício das ações de saúde 
como uma prática social permeada por prática técnica que é, simultaneamente, social, sofrendo 
influências econômicas, políticas e ideológicas.
O objeto não é apenas o indivíduo, mas, sobretudo, os grupos sociais; portanto, a 
coletividade. 
Embora a saúde coletiva, historicamente, tenha sido constituída, principalmente, por 
médicos, outros profissionais, como cientistas sociais, enfermeiros, odontólogos, farmacêuticos 
e também agentes oriundos de outras áreas do conhecimento (como engenheiros, físicos e 
arquitetos), contribuíram para sua construção. Trata-se, portanto, de uma área multiprofissional 
e interdisciplinar. 
A Saúde Pública está ligada ao setor governamental e é voltada para os problemas de saúde que 
atingem a coletividade.
 
a) A saúde, enquanto estado vital, setor de produção e campo de saber, está articulada à 
estrutura da sociedade através das suas instâncias econômicas e político-ideológicas, 
apresentando, portanto, uma historicidade. 
b) As ações de saúde (promoção, proteção, recuperação, reabilitação) constituem uma prática 
social e trazem consigo as influências do relacionamento dos grupos sociais. 
c) O objeto da Saúde Coletiva é construído nos limites do biológico e do social e compreende 
a investigação dos determinantes da produção social das doenças e da organização dos 
serviços de saúde e o estudo da historicidade do saber e serviços de saúde e o estudo 
da historicidade do saber e das práticas sobre os determinantes. Nesse sentido o caráter 
interdisciplinar desse objeto sugere uma integração no plano do conhecimento, e não no 
plano da estratégia, de reunir profissionais com múltiplas formações. 
d) O ensino da Saúde Coletiva envolve a crítica permanente dos sucessivos projetos de 
redefinição das práticas de saúde surgidos nos países capitalistas, que têm influenciado 
a reorganização do conhecimento médico e a reformulação de modelos de prestação 
de serviços de saúde: Reforma Sanitária, Medicina Social, Medicina Integral, Medicina 
Preventiva e Medicina comunitária. 
• Na medicina social o foco era a arte de conservar a saúde do homem, intervindo 
diretamente na sociedade e sofrendo influencias desta, tendo como finalidade o 
estudo e a cura das doenças, estando envolvido também na elaboração de leis.
• A reforma sanitária envolve ações de saúde e saneamento voltadas para o espaço 
urbano e o controle de epidemias seguidas do desenvolvimento do Estado Nacional
• O modelo de medicina preventiva divide-se em medicina integral e medicina comunitária, 
as quais propuseram uma rearticulação dos conhecimentos biomédicos na dimensão 
social e populacional do adoecimento, ampliando a concepção do processo saúde-
doença e seus determinantes que a medicina clinica vinha construindo quando 
enfatizava uma abordagem individual e biomédica. 
e) O processo ensino-aprendizagem não é neutro. Representa um momento de apropriação 
do saber pelo educando e pode ser acionado como prática de mudança ou de manutenção. 
f) O conhecimento não se dá pelo contato com a realidade, mas pela compreensão de suas 
leis e pelo comprometimento com as forças capazes de transformá-la
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g) A participação ativa e criativa do educando e do educador no processo ensino-aprendizagem 
pressupõe o privilegiamento de uma prática pedagógica fundamentalmente dialógica e 
antiautoritária, na qual o aluno não se limita a receber conteúdos emitidos pelo professor. 
Ou seja, tanto o aluno como o professor aproveitam-se do momento para problematizar a 
realidade, o modo de pensa-la e o próprio processo de produção-transmissão-apropriação 
do conhecimento. 
h) Ensino da Saúde Coletiva remete a uma concepção ampla de prática. Nela se incluem a 
prática técnica, a prática teórica e a prática política, entendidas como dimensões da prática 
social. Nessa perspectiva, as práticas exercidas pelos alunos e professores tendem a se 
articular com os movimentos mais amplos das forças sociais. 
i) O conceito de inserção no complexo de saúde admite a participação de docentes e 
discentes em distintos níveis políticos -administrativos, técnico-administrativos e técnico-
operacionais. A análise das práticas de saúde desenvolvidas pode delinear como prática 
pedagógica a prática das mudanças no complexo de saúde.
j) O conceito de participação em saúde transcende o envolvimento dos grupos interessados 
no âmbito do planejamento, gestão e avaliação das ações de saúde. Esse conceito passa 
pela democratização da vida social, o que implica a ação organizada sobre o processo 
político.
Quadro 1 – Saúde Coletiva: quadro técnico de referência. Fonte: Paim (1982).
 
Por conseguinte, convém conhecer o significado de “políticas públicas”, “níveis de atenção 
à saúde”, “cuidados primários em saúde”, “atenção primária em saúde” e “atenção básica”, todos 
termos que nos acompanharão até o final deste material.
• Políticas públicas: são diretrizes que visam a nortear gestores e profissionais quanto às 
ações em determinada área da vida social, na busca de resultados de saúde voltados a 
determinadas situações de saúde ou a populações específicas. Sua formulação envolve 
a discussão entre vários atores da sociedade: governo, legisladores, representantes de 
associações civis e setores produtivos (comércio, indústria, transporte, entre outros), a 
fim de se obter um consenso, com várias proposições legisladas, isto é, transformadas em 
leis. Um bom exemplo é a Política Nacional do Idoso, a qual prevê ações que vão desde 
a assistência à saúde dessa população até à gratuidade no transporte público. Além dela, 
tem-se a Política Nacional da Atenção Básica, a Política Nacional de Promoção da Saúde, 
a Política Nacional de Humanização, entre outras a serem mencionadas no decorrer da 
apostila.
• Nível de atenção à saúde: trata-se da divisão dosserviços de saúde com base em suas 
características e complexidade tecnológica. Essas tecnologias podem ser divididas em: 
leve (calcada nas relações interpessoais, como técnicas de entrevistas), leve - dura (saberes 
estruturados, como a administração e a epidemiologia) e dura (uso de equipamento 
e normas institucionais). Todos os serviços de saúde utilizam três tipos de tecnologia, 
mas, em muitos deles, um ou dois tipos é/são mais relevante(s). No Brasil, temos três 
níveis de atenção: a atenção básica, com os serviços de vigilância em saúde e as Unidades 
Básicas de Saúde (UBS); a atenção secundária ou média complexidade, com os hospitais 
gerais e os ambulatórios; e a atenção terciária ou alta complexidade, com os hospitais e os 
serviços especializados (caso daqueles voltados para o tratamento de doenças específicas, 
como o câncer). Há descrito por alguns autores, ainda, a atenção quaternária, que seria a 
especialização da especialização, como a medicina nuclear. 
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• Cuidados primários em saúde: são definidos como cuidados de elevada complexidade 
tecnológica, alta penetração na comunidade, alta resolutividade dos problemas das 
populações, sendo socialmente aceitáveis. Os cuidados primários também se devem 
configurar como principal e primeiro contato do usuário com o sistema de saúde, além 
de proporcionarem serviços de proteção da saúde, cura e reabilitação. Esse termo foi 
cunhado na Conferência Internacional sobre Cuidados de Saúde Primários de Alma-Ata, 
em 1978.
• Atenção primária em saúde: forma de se reorganizarem os serviços de saúde, tendo os 
cuidados primários como estruturadores do sistema de saúde. Prevê a participação ativa 
da comunidade e de profissionais em sua organização e gestão e tem foco em um sistema 
de saúde (como no caso do Sistema Único de Saúde (SUS)).
• Atenção básica: denominação usada no Brasil, é equivalente à Atenção Primária em 
Saúde. 
1.2. Evolução Histórica do Processo Saúde–Doença
A saúde e a doença sempre estiveram presentes na vida dos seres vivos e, desde 
os primórdios, buscaram-se explicações para se compreender tais eventos, com base nos 
conhecimentos daquele determinado momento histórico. 
Sendo assim, nos primórdios da civilização, a saúde apresentava uma “visão mágica”, 
sendo vista como algo natural. Portanto, não havia necessidade de se explicá-la; ela simplesmente 
acontecia. Já a doença, ou outros agravos de saúde, podia ser compreendida de duas formas: ou ela 
era provocada por situações nas quais se podiam claramente identificar a causa e o efeito (como 
em quedas ou ataques de animais) ou a doença possuía uma causa “misteriosa”, sobrenatural, 
não identificável (como as doenças transmissíveis e outras disfunções orgânicas, como doenças 
provocadas por deficiências nutricionais). Nesse caso, o sobrenatural explicava tudo o que os 
humanos não podiam compreender, em razão das limitações tecnológicas. 
As doenças eram vistas como castigo dos deuses sobre as pessoas e sobre as populações 
que haviam falhado em cumprir suas obrigações morais e religiosas perante sua comunidade. 
Como estavam ligadas aos deuses, era papel dos sacerdotes ajudar os doentes e guiá-los na 
procura pela cura. 
Nessa época, a sociedade já tinha hábitos que a protegiam contra o adoecimento, tais 
como: enterrar os dejetos, beber água limpa e se abrigar do frio e do calor intensos. Esses hábitos 
eram resultado da observação da natureza e da influência dela sobre as pessoas. 
Já na civilização grega do século V a.C., a saúde e a doença foram explicadas a partir de 
conclusões advindas da observação atenta do homem, de seus costumes e suas relações com a 
natureza. Nesse período, Hipócrates, médico considerado o pai da medicina, descreveu como o 
modo de vida dos homens e sua relação com a natureza podiam resultar em uma vida saudável 
ou em adoecimento, além de orientar, de modo prático, como os homens deveriam viver se 
quisessem evitar o adoecimento: com moderação. Hipócrates defendia que a saúde era resultado 
do equilíbrio entre o homem e seu meio. Suas observações, a respeito do papel da natureza no 
desenvolvimento das doenças, influenciaram a organização dos espaços nas comunidades gregas 
em relação ao descarte de dejetos, ao acesso à água limpa, à higiene pessoal e à moradia. 
Esses conhecimentos foram praticados no Império Romano a fim de se garantir a 
salubridade, com construções que perduram até hoje. 
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Na Pérsia, atual Irã, existiam hospitais onde as doenças eram separadas em virtude 
dos sintomas apresentados. A higiene e a alimentação eram fatores importantes no tratamento 
dos doentes, e as pessoas que lá trabalhavam eram treinadas para as suas funções. Medidas de 
proteção coletiva, escoamento de esgoto e separação da água potável também eram comuns nas 
grandes cidades. 
Na Idade Média, conhecida como Idade das Trevas (séculos V a XV), marcada pela 
presença onipotente da Igreja, a qual dominou e enclausurou o conhecimento científico até então, 
toda e qualquer teoria que explicasse a vida sem se referir a Deus era considerada blasfêmia. 
Nesse período, a organização das populações em feudos-comunidade girava em torno do 
senhor feudal, dono das terras e da população que nela habitava – fato que levou ao crescimento 
desordenado das cidades, gerando elevado aglomerado populacional. As cidades já não possuíam 
mecanismos para garantir o mínimo de higiene, o que gerava um ambiente ideal à proliferação 
de doenças transmissíveis e desembocava na expansão de doenças epidêmicas de grandes 
proporções, como a peste bubônica, o tifo e a varíola. 
Devido à forte influência da Igreja na vida social, a doença passou a ser o foco das atenções, 
sendo considerada castigo divino, resultado da desobediência às normas da Igreja ou da impureza 
da alma, podendo ser curada somente se houvesse vontade divina para tal. Como exemplo 
disso, cite-se o tratamento conferido aos doentes mentais, os quais, considerados possuídos pelo 
demônio, eram queimados em praça pública, como parte do processo de “purificação” de suas 
almas. 
Por cerca de dez séculos, as cidades ficaram à deriva no que diz respeito às regras sanitárias. 
Somente próximo ao fim da Idade Média, algumas medidas sanitárias foram tomadas a fim de 
melhorar a saúde da população, como a proibição de jogar animais mortos e restos de alimentos 
nas vias públicas. Nesse momento, também começou a tomar forma a Teoria dos Miasmas, que 
relacionava transmissão de doenças aos “maus ares” ou ares pútridos. Acreditava-se que o ar das 
casas e cidades era infectado e capaz de transmitir doenças. Com base nisso, a medicina utilizava 
os recursos que considerava corretos. Um exemplo: a peste bubônica, doença transmitida pela 
pulga do rato, foi causa de epidemias que dizimaram milhares de pessoas. Como os médicos 
acreditavam que a transmissão se dava pelo ar, esses mesmos médicos, ao visitarem os doentes, 
usavam vestimentas especiais que cobriam todo o corpo, além de uma máscara com um longo 
“bico”, que possuía ervas aromáticas em sua ponta e visava a “purificar” o ar contaminado. 
Atualmente, ainda é possível identificar populações que explicam o adoecimento 
como sendo evento ligado ao poder divino e que desenvolveram rituais de cura 
a partir dessa concepção. Pense no Brasil, que é um País onde a religiosidade 
é muito presente no cotidiano das pessoas e onde se recorre a vários rituais na 
busca pela cura de doenças, rituais que podem ser utilizados paralelamente aos 
tratamentos tradicionais. Medicina moderna? Quantas vezes não se fazem cultos, 
novenas e outros rituais pela recuperação de um membro da família?
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No Renascimento (a partir do século XV), houve uma ruptura entre a Igreja e o poder 
político, gerando mudanças importantesà sociedade ocidental. Com as Grandes Navegações, os 
europeus chegaram ao continente americano, onde encontraram novas civilizações (maia e asteca) 
e diversas populações indígenas. Nesse encontro, foram trocadas diversas doenças originárias das 
Américas e outras tantas originárias da Europa.
Reiniciaram-se as pesquisas na área da ciência no intuito de se compreender o 
funcionamento do mundo e do homem. Os estudos biológicos cresceram rapidamente, desde o 
desenvolvimento de teorias e equipamentos que auxiliassem na pesquisa de fenômenos naturais, 
como o funcionamento do corpo humano. 
Pela primeira vez, a dissecação do corpo humano não foi considerada pecado, e vários 
estudos gregos e islâmicos foram resgatados, o que possibilitou aos cientistas europeus o 
conhecimento do interior do homem e a compreensão das relações entre os órgãos, ainda que de 
forma incipiente. A analogia entre o funcionamento do corpo humano e algumas máquinas era 
prática frequente entre os pesquisadores; daí a gênese da ideia de que a doença é um “defeito” da 
máquina humana, sem relação com o meio externo. 
A teoria dos Miasmas ainda era forte à época, inclusive, os códigos sanitários foram 
estabelecidos visando a sanear as cidades. Porém, controvérsias em relação à origem das doenças 
começaram a surgir, tendo-se, de um lado, os cientistas que acreditavam que as doenças resultavam 
do contato exclusivo entre as pessoas, e, do outro, os cientistas que acreditavam ser o ambiente 
social um de seus principais causadores. 
No Iluminismo, com a Revolução Industrial da segunda metade do século XVIII na 
Inglaterra, nasce uma nova forma de produção de bens de consumo, baseada na produção em 
larga escala, no uso de tecnologia e no emprego de grande quantidade de trabalhadores. Assim, 
desloca-se a força de trabalho das zonas rurais para as cidades, alterando-se a relação entre 
empregados e empregadores: aos empregadores, coube a riqueza, e, aos empregados, couberam 
péssimas condições de vida. 
Nesse período, surge a Medicina Social, responsável por discutir o processo de adoecimento 
a partir das condições de vida das pessoas e propor formas de atuação para o controle das 
doenças e mortalidade. Tais formas extrapolavam a prática médica, compreendendo, inclusive, 
intervenções sobre a moradia dos trabalhadores e garantia de melhor alimentação a eles. Porém, 
não houve grande impacto à saúde da população, em sua maioria, empobrecida e analfabeta que 
era. Os proprietários dos meios de produção e os políticos tinham seus interesses financeiros a 
defender. Não lhes importava apoiar uma visão questionadora do processo saúde-doença que 
impactasse de forma negativa as questões econômicas. 
O Renascimento foi uma revolução da cultura, das artes e da ciência na Europa, 
que influenciou todo o Ocidente, além ter sido um contraponto ao obscurantismo 
da Idade Média. Vários nomes ilustres da época são conhecidos até hoje, como 
Leonardo da Vinci, homem de múltiplos talentos: pintor, cientista e inventor. Com 
sua visão grandiosa sobre o futuro do homem, influencia diversos cientistas e 
artistas até hoje.
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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
Na era bacteriológica, os germes já eram conhecidos antes do século XIX. Porém, somente 
nessa época é que foram apresentadas as primeiras provas de que eles estavam relacionados a 
algumas doenças. Entre as ações mais significativas, citam-se:
• O médico alemão Robert Koch comprovou a transmissão do antraz;
• O químico francês Louis Pasteur e sua equipe centraram esforços na descoberta de 
mecanismos de infecção e formas de prevenção; 
• O médico inglês Edward Jenner desenvolveu a vacina contra a varíola; 
• O cirurgião inglês Joseph Lister propôs o uso de fenol como antisséptico antes das 
cirurgias;
• O médico húngaro Ignaz Semmelweis associou o fato de estudantes de Medicina saírem 
das salas de anatomia diretamente para as de parto, sem lavarem as mãos ou trocarem de 
roupa, a casos de febre puerperal, recomendando a lavagem de mãos como estratégia para 
se evitar infecção; 
• A enfermeira inglesa Florence Nightingale recomendou, com base nas descobertas 
cientificas da época, que o ambiente hospitalar fosse limpo, ventilado e salubre, de modo 
a propiciar o tratamento e a recuperação dos doentes. 
Com isso, uma nova teoria sobre o processo saúde-doença nasceu: a teoria bacteriológica, 
segundo a qual a doença tem uma causa única: a infecção. Essa visão foi importante para a 
identificação de vários agentes patogênicos e seu controle; no entanto, reduziu o olhar sobre o 
processo de adoecimento ao desconsiderar a influência dos fatores psicossociais (aqueles ligados 
ao funcionamento social e mental das pessoas), com inegável forte influência no processo saúde-
doença. 
No entanto, em meados do século XX, outras teorias surgiram devido à incapacidade de 
a teoria bacteriológica explicar a complexidade do adoecimento. Dentre elas, surgiu o Modelo 
Multicausal, o qual considerava a Multicausalidade do processo de adoecimento, sendo que a 
mais conhecida e utilizada até a atualidade é a História Natural da Doença (HND), proposta 
pelos pesquisadores americanos Leavell e Clark, em 1965. 
Para esses pesquisadores, denomina-se história natural da doença o conjunto de 
processos interativos que criam o estímulo patológico no meio ambiente ou em qualquer outro 
lugar, passando pela resposta do homem ao estímulo até às alterações que levam a um defeito, 
invalidez, recuperação ou morte.
Esse modelo explicativo do processo saúde-doença divide o adoecimento em duas fases: 
a pré-patogênese, período anterior ao adoecimento, em que as manifestações patológicas ainda 
não se manifestaram; e a patogênese, que é o momento a partir do qual a doença já está instalada 
no ser vivo, já se encontrando ativas as manifestações patológicas. Ao mesmo tempo, a História 
Natural considera a interação entre agentes e fatores do ambiente do indivíduo como partes 
integrantes do processo de adoecimento. O modelo também prevê diferentes estratégias para a 
prevenção das doenças. 
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Figura 1 - Diagrama da história natural da doença. Fonte: Leavell e Clark (1976).
A pré-patogênese compreende interação entre os agentes patogênicos, o ambiente e o 
suscetível; no nosso caso, o “ser humano”, o hospedeiro que gera o estímulo para o aparecimento 
da doença.
Os agentes patogênicos podem ser: físicos (calor, radiação, frio etc.); químicos (substâncias 
psicoativas, substâncias tóxicas); biopatógenos (vírus, fungos, bactérias, príons etc.); nutricionais 
(tipo de alimentação); ou genéticos (alterações de genes). No entanto, lembre-se de que nenhum 
agente sozinho é capaz de desencadear doença. 
O ambiente contribui de formas variadas e é considerado de modo amplo, desde o meio 
natural até o meio cultural. Por exemplo: morar em um local sem saneamento básico e sem 
educação sobre higiene torna as pessoas mais propensas às doenças diarreicas. 
• Patogênese: período no qual a doença já está instalada, e as alterações no organismo 
são iniciadas, podendo o processo patológico resultar em cura, cronificação da doença, 
sequelas/invalidez ou até morte. Esse período é dividido em:
• Interação: momento no qual o estímulo entra em contato com o hospedeiro e começa a 
gerar doença. Por exemplo: uma pessoa contamina-se com o vírus HIV em uma relação 
sexual.
• Alteração dos tecidos: nessa fase, a doença provoca alterações nos tecidos do corpo 
humano. Seguindo-se com o exemplo anterior: o vírus HIV invade as células do indivíduo, 
multiplica-se e, depois, as destrói. 
• Sinais e sintomas: em virtude das alterações dos tecidos, os sinais e os sintomas da 
doença começam a aparecer. No caso da infecção por HIV, com a destruição das células 
imunológicas, o indivíduo passa a ter infecções frequentes. 
• Desfecho: a doença pode terminar de várias formas, com a cura total, acura com 
sequelas, a cronificação ou a morte. A infecção por HIV, atualmente, possui um desfecho 
controverso, vez que alguns pesquisadores defendem que ela se tornou uma doença 
crônica; outros, que ela sempre levará à morte.
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1.2.1. A determinação social do processo saúde-doença
No intuito de entender essa teoria, convém conhecer duas expressões essenciais à 
compreensão dos assuntos tratados. 
A primeira expressão é Determinantes Sociais de Saúde, a qual é definida como fatores 
sociais, econômicos, culturais, étnicos/raciais, psicológicos e comportamentais, que influenciam 
a saúde positiva ou negativamente e que podem ser influenciados por decisões políticas ou 
individuais (ao contrário da idade, sexo e fatores genéticos, os quais também influenciam a 
saúde, mas não são modificáveis por aquelas decisões). Mais resumidamente, a expressão pode 
ser entendida como as condições sociais em que as pessoas vivem e trabalham.
Baseado nessa lógica de desenvolvimento da doença, Leavell e Clark propuseram 
a classificação das ações preventivas, que devem ser voltadas para cada uma 
das fases descritas anteriormente. Tal classificação perdura até hoje nos guias de 
planejamento das ações preventivas. São três os níveis de prevenção:
• Primária: ações voltadas para atuar no controle dos fatores pré-patogênicos, 
evitando-se o aparecimento do estímulo e, consequentemente, da doença. Ou 
seja, prevê ações de proteção específica, como imunização, educação para a 
saúde, controle de vetores etc.
• Secundária: o foco é o indivíduo que já adquiriu a doença e que precisa de ações 
que evitem agravo ou a morte. Trata-se do diagnóstico, tratamento precoce e 
limitação da invalidez.
• Terciária: nesse caso, a invalidez ou o defeito crônico provocado pela doença 
já estão instalados, sendo necessário foco na prevenção ou melhora da 
incapacidade. A atividade de reabilitação é seu principal trabalho, no intuito de 
reinserir socialmente o indivíduo para que ele tenha uma vida normal, mesmo 
com restrições. 
Figura 2 - Níveis de Prevenção. Fonte: A autora.
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A segunda expressão é Condicionantes de Saúde, as quais estabelecem limites a uma 
dada situação, isto é, condicionam uma situação a determinados fatores. Por exemplo: apenas 
mulheres podem engravidar; portanto, o sexo é fator condicionante para a gestação entre os 
humanos. 
Sendo assim, observe a diferença entre as expressões. A primeira abrange os fatores que 
influenciam a saúde e que podem ser alterados por meio de decisões dos envolvidos ou externas 
a eles. Na segunda expressão, tem-se uma condição que não pode ser alterada já que é inerente à 
pessoa: idade, sexo, fatores genéticos, entre outras características. 
O debate sobre Determinantes Sociais da Saúde (DSS) se dá desde 1960. Dentre os vários 
modelos que procuram representar graficamente os DSS, o adotado é o Modelo de Dahlgren e 
Whitehead (1991), o qual dispõe os DSS em camadas hierárquicas.
Figura 3 - Determinação Social do Processo Saúde-Doença. Fonte: Dahlgren e Whitehead (1991).
O vídeo, disponível em: 
https://www.youtube.com/watch?v=ii-fbpUy4iE , permite entender 
quais são os determinantes sociais e como eles influenciam na 
saúde.
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No centro da figura, aparece um grupo de indivíduos com suas características de idade, 
sexo e fatores hereditários. Esses são determinantes biológicos que não podem ser modificados 
por meio de políticas públicas. Os DSS, que podem e devem ser modificados pela ação humana, 
uma vez que são produtos da ação humana, são representados, em uma primeira camada, pelo 
estilo de vida dos indivíduos. Apesar de resultarem de escolhas pessoais, essas escolhas sofrem 
forte influência de determinantes culturais, econômicos, acesso a informações etc. A camada 
seguinte é representada pelas redes sociais e comunitárias, que expressam o nível de interações e 
de coesão entre indivíduos e grupos. O apoio social derivado dessas interações se revela, cada vez 
mais, um importante elemento para a promoção, proteção e recuperação da saúde. 
A camada seguinte se refere às condições de vida e trabalho, que incluem o acesso aos 
serviços de saúde e educação. Finalmente, a camada mais externa se refere aos macrodeterminantes, 
relacionados a estruturas socioeconômicas, culturais e ambientais de uma dada sociedade.
 Sendo assim, esse modelo integra vários componentes que interferem de forma negativa 
ou positiva sobre o processo saúde-doença e propõe a modificação das estruturas sociais, 
econômicas e políticas como parte fundamental para se alcançar a saúde plena (por exemplo: 
melhores salário e transporte, acesso igualitário aos serviços de saúde e cidades pensadas para 
pessoas, e não para carros).
1.3 História das Políticas Públicas de Saúde: Quadro San-
itário e Transições Epidemiológicas no Brasil
Ao longo da evolução, o sistema de saúde do Brasil adquiriu características importantes 
que acompanharam as tendências políticas e econômicas de cada momento histórico. Citem-se 
certos aspectos que marcaram a história da organização desse sistema: a evolução da política 
de saúde se deu em estreita relação com a evolução política e social da sociedade brasileira, 
seguindo a ótica do capitalismo nacional, o qual, por sua vez, foi influenciado pelo capitalismo 
internacional. 
A entrevista, disponível em 
https://www.youtube.com/watch?v=ZPo0vKZL0IM , 
permite entender os fatores que podem influenciar a saúde dos 
brasileiros.
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1.3.1 Do descobrimento do Brasil até à chegada da Família Real (1500 
a 1889)
Após a descoberta do Brasil, no período de 1500 a 1822, o Brasil foi colônia de Portugal. 
Tinha sua produção econômica realizada por meio dos ciclos do açúcar e da mineração, à base 
do trabalho escravo, com vistas ao comércio internacional, de acordo com os interesses da Coroa 
Portuguesa. Logo, não havia interesse de Portugal em investir em infraestrutura para a melhoria 
das condições de quem vivia no Brasil. 
A população era composta, majoritariamente, por indígenas, escravos, senhores (muitas 
vezes, nobres e aventureiros portugueses) e poucos colonos degredados ou fugidos de Portugal e 
do restante da Europa. Como a economia estava pautada no extrativismo, bastava haver portos 
com estrutura mínima para o escoamento da matéria-prima explorada.
O perfil de adoecimento era marcado pela presença de doenças transmissíveis (DT), 
tanto as originais do país quanto as importadas (doenças que dizimaram milhares de indígenas 
em várias regiões e que ainda permanecem como um mal entre diversas tribos). São exemplos: 
a malária, introduzida em 1549; a varíola, em 1561; a febre amarela e a hanseníase, por volta de 
1680. Essas doenças foram trazidas pelos colonizadores, pelos aventureiros e pelo comércio de 
negros africanos envoltos no trabalho escravo.
Não se pode falar da existência de uma política de saúde nos períodos colonial e 
imperial. No entanto, tomavam-se medidas que visavam a minimizar os problemas de saúde 
pública que afetavam a produção econômica e prejudicavam o comércio internacional. Essas 
medidas incluíam: o saneamento dos portos por onde escoavam as mercadorias; a urbanização e 
a infraestrutura nos centros urbanos, de maior interesse econômico e muito insalubres (Salvador, 
Recife, Ouro Preto, Rio de Janeiro, Cuiabá e São Paulo); e campanhas para debelar as epidemias 
frequentes e prejudiciais à produção, além de afetarem a imagem brasileira perante os países com 
os quais o Brasil mantinha comércio internacional. Essas intervenções eram pontuais e, tão logo 
conseguiam controlar os surtos da época, eram prontamente abandonadas. A primeira campanha 
foi realizada em Recife e Olinda, entre 1685e 1694, para debelar uma epidemia de febre amarela 
que afetava a produção e exportação da cana-de-açúcar. 
Política de Saúde é definida como a ação ou omissão do Estado, como resposta 
social diante dos problemas de saúde e seus determinantes, assim como da 
produção, distribuição e regulação de bens, serviços e ambientes que afetam a 
saúde dos indivíduos e da coletividade.
Sendo assim, torna-se necessário um breve resgate da história da política de 
saúde no Brasil, abordando-a por períodos históricos e relacionando-a ao contexto 
econômico e político de cada momento, desvelando-se com certas dificuldades e 
entraves estruturais que persistem até hoje. 
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Figura 4 - Brasil Colônia: Fonte: Ferreira (2017).
A assistência médica à saúde não existia. Quem tinha dinheiro (como os coronéis do 
café) ia à Europa ou era atendido pelos raros médicos que vinham da Europa para tratá-los. Quem 
não tinha dinheiro procurava a medicina popular, a fim de cuidar do espírito, fazer sangrias e fazer 
uso de ervas, como no caso dos índios, negros e brancos pobres. As Santas Casas de Misericórdia 
ainda não possuíam caráter de hospital propriamente dito. Eram voltadas a abrigar indigentes, 
pobres, viajantes e doentes mentais, sem cuidados apropriados. A primeira Santa Casa do Brasil 
foi inaugurada em 1543, em Santos (SP). As Santas Casas eram administradas pela Irmandade de 
Misericórdia, fundada em Lisboa por Dona Leonor de Lancastre, em 1498, enquanto ela regia o 
trono de seu irmão, Dom Manuel, em Portugal. 
A situação da saúde no País passou a mudar por volta do século XVIII, quando houve um 
maior afluxo de médicos e nobres portugueses para o Brasil. As cidades começaram a aumentar. 
A grande preocupação nas cidades era com o lixo, que se acumulava nas vias públicas. Por isso, 
criaram-se órgãos que cuidavam da limpeza e da higiene das cidades, mas nada era feito em 
relação à saúde das pessoas. 
Apenas com a vinda da família real portuguesa ao Brasil (a qual fugia de Napoleão 
Bonaparte, imperador francês) em 1808, começou-se a ter alguma preocupação com a saúde das 
pessoas nas cidades, o que se deve ao fato de toda a nobreza ter vindo junto, totalizando cerca de 
15 mil pessoas.
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Figura 5 - Santa Casa da Misericórdia. Fonte: Novo Milênio (2010).
Com isso, várias melhorias ocorreram no País. Coisas até então proibidas por Portugal, 
como indústrias (que eram poucas), passaram a ser permitidas, e diversos órgãos públicos foram 
criados, dentre eles: a fundação das Escolas de Medicina do Rio de Janeiro (1813) e da Bahia 
(1815); a criação da Imperial Academia de Medicina (1829 – órgão consultivo do Imperador para 
as questões de saúde pública); e a organização da Inspetoria de Saúde dos Portos (1828).
A cidade do Rio de Janeiro foi escolhida como cidade moradia da família real. Entretanto, 
problemas ocorriam, pois a corte esbanjava dinheiro, e quem arcava era o povo, que tinha de 
ceder suas casas para os membros da corte morarem.
 
O desconforto político com a monarquia culminou na Proclamação da República, que 
tornou o Brasil uma República Federativa, derrubando a monarquia e aclamando como presidente 
do Brasil o Marechal Deodoro da Fonseca (1889), um dos líderes do Movimento Republicano.
Carlota Joaquina, Princesa do Brasil: o filme ilustra, de forma 
divertida, a chegada da corte ao País. O link pode ser acessado em 
https://ok.ru/video/941498894967.
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1.3.2. Da Proclamação da República até 1930
A Proclamação da República, em 1889, determinou uma nova configuração da política 
brasileira e, consequentemente, das formas de se viver no País. Com a abolição da escravidão, 
em 1888, veio a necessidade de mais mão-de-obra para as fazendas – estimulando a imigração, 
principalmente, de europeus. A cafeicultura, como principal produção econômica (resultando, 
posteriormente, na República denominada Café com Leite, em que políticos apoiados por 
fazendeiros de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro se alternavam no poder), gerou lucros 
que eram investidos nas cidades e que mudaram a face do País, mais precisamente das grandes 
cidades litorâneas (como Rio de Janeiro, Santos e Salvador) e das cidades produtoras de café. 
A situação de saúde da população apresentava-se sob o mesmo panorama do período 
anterior, com predomínio das doenças pestilenciais como cólera, febre amarela, malária, 
tuberculose, tifo, peste, varíola e gripe espanhola. As condições de saneamento básico eram 
bastante precárias, e várias epidemias matavam a população e dificultavam o recrutamento 
de trabalhadores da Europa, assim como o escoamento da produção local, já que os navios 
estrangeiros se negavam a parar em nossos portos, com medo das doenças epidêmicas. 
Resgatando-se a teoria bacteriológica e seus avanços científicos, o governo brasileiro, 
então, encontrou a solução para resolver o problema das epidemias em nossas cidades litorâneas 
e nos principais portos do País. Destacaram-se dois médicos formados a partir dessa teoria: 
Oswaldo Cruz, no Rio de Janeiro, e Emílio Ribas, em Santos. Ambos atuaram no intuito de 
sanear as cidades que possuíam os maiores e mais importantes portos, estimulando, assim, o 
comércio internacional e fomentando a política de imigração, trazendo para as lavouras cafeeiras 
a mão de obra necessária à produção de café.
Oswaldo Cruz, médico e pesquisador, estudou no Instituto Pasteur, em Paris, e foi 
nomeado diretor-geral da Saúde Pública. Elegeu as Campanhas Sanitárias como modelo de 
intervenção de combate às epidemias rurais e urbanas, de conotação militar. Era um modelo 
de inspiração americana trazido de Cuba e se caracterizava pela centralização das estruturas 
administrativas, pela concentração de poder e por um estilo repressivo de intervenção médica 
nos corpos individual e social. 
Entre as medidas tomadas, estavam o controle dos ratos e dos locais de procriação de 
mosquitos, assim como o estabelecimento da polícia sanitária, composta por agentes de polícia 
que acompanhavam os agentes de saúde na aplicação de medidas saneadoras a fim de controlar 
as doenças no Rio de Janeiro e em São Paulo e evitar manifestações e reações contrárias da 
população, tudo com vistas a garantir o cumprimento das ações. 
No Rio de Janeiro, os cortiços e as casas do centro da cidade foram derrubados de forma 
violenta, deixando a população desabrigada (muitas pessoas foram para os morros, dando início 
ao cimento das favelas cariocas). Doentes de hanseníase eram levados aos sanatórios e proibidos 
de conviver com seus familiares.
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Figura 6 - Movimento Sanitário. Fonte: D’ávila (2018).
Nessa época, foi criado o Instituto de Manguinhos, no Rio de Janeiro, depois denominado 
Instituto Oswaldo Cruz, com a finalidade de pesquisa e desenvolvimento de vacinas. 
Em 1904, houve imposição legal da vacinação contra a varíola, o que desencadeou uma 
revolta popular (Revolta da Vacina) liderada por opositores políticos do governo e médicos 
contrários à vacinação. A Revolta foi reprimida após poucos dias, depois da morte de alguns 
líderes populares.
 
Rattus Rattus, Anima Saúde: o vídeo permite entender, de forma 
animada, os problemas enfrentados pelo Brasil no início do século 
XX. O link está disponível em 
https://www.youtube.com/watch?v=y3Vay6xPwKY.
A Revolta da Vacina: causas, revolta e consequências: com o vídeo, 
fica mais fácil entender o motivo da Revolta e suas consequências. 
O link está disponível em 
https://www.youtube.com/watch?v=mwacFba08m4 .
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Com todo o ocorrido, pode-se dizer que Oswaldo Cruz alcançou seu objetivo no Rio de 
Janeiro, que era saneara cidade e controlar as epidemias. Foi reconhecido, em poucos anos, como 
uma figura importante para o Brasil, responsável pela criação do Departamento Nacional de Saúde, 
embrião do Ministério da Saúde, além do Instituto de Manguinhos, como dito anteriormente. 
Até a década de 1930, a saúde pública funcionou, principalmente, na forma de campanhas 
e com o apoio da polícia sanitária. Por isso, ficou conhecida como campanhista, sempre 
voltada para problemas de saúde que afetavam a população, mas, principalmente, motivada por 
interesses econômicos. Apesar disso, tal modelo trouxe avanços: além do controle das doenças 
transmissíveis, fundou-se, em 1923, a Escola Anna Nery, de enfermagem, com base no modelo 
norte-americano de formação, voltada à saúde pública. Além disso, diversos centros de saúde e 
uma rede de laboratórios públicos destinados à pesquisa foram criados.
 
Figura 7 - Revolta da Vacina. Fonte: René Jr. (2013).
Revolta da Vacina: reação popular ocorrida no período de 10 a 16 de novembro de 
1904, contra a Lei da Vacinação obrigatória de combate à varíola, aprovada em 31 
de outubro de 1904. A população estava insatisfeita com as medidas autoritárias 
e policialescas das campanhas sanitárias comandadas por Oswaldo Cruz para 
combate de várias epidemias. Com a aprovação da Lei, permitiu-se a entrada 
nas residências de brigadas sanitárias acompanhadas por policiais para que se 
desse a vacinação à força. Então, movimentos estudantis e populares iniciaram 
manifestações, sob a liderança de políticos opositores do governo e de médicos 
contrários à vacinação. O centro da cidade do Rio de Janeiro se transformou em 
campo de guerra, e sua contenção se deu após forte repressão policial, da qual 
resultaram muitas prisões, feridos e mortes. Após o episódio, a vacinação se 
tornou opcional e, passado algum tempo, com a aceitação da medida, a epidemia 
de varíola foi controlada.
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Enquanto isso, a saúde individual permanecia parecida com a do Brasil colônia: médico 
para quem podia pagar, e curandeiros e Santas Casas para os pobres. Com a chegada dos 
imigrantes, houve discreta mudança. Muitos eram trabalhadores que atuavam politicamente em 
seus países, com ideias sobre a importância de sua união para garantir direitos básicos, como o 
direito de acesso à moradia e à saúde. 
A organização dos trabalhadores resultou em diversas greves, que eclodiram no País 
entre os anos 1915 e 1920. Entre as reivindicações, estavam o trabalho com carga horária pré-
determinada, salário justo, assistência à saúde e condições mais saudáveis de trabalho.
Em 1920, Carlos Chagas assumiu o Comando do Departamento Nacional de Saúde, 
inovando o modelo campanhista de Oswaldo Cruz, criando alguns programas que introduziram 
a propaganda e a educação sanitária da população como forma de prevenção contra as doenças. 
Nessa ocasião, criaram-se alguns órgãos para o controle da tuberculose, da lepra e das doenças 
sexualmente transmissíveis. 
Muitas categorias se juntaram e formaram fundos financeiros mútuos, financiados pela 
contribuição de uma porcentagem sobre o salário de cada um e que atendiam a todos os que 
contribuíam. Esses fundos garantiam assistência médica individual ao trabalhador e a suas 
famílias, bem como pensões em caso de morte e invalidez. Ademais, funcionavam com regras 
determinadas pelos próprios trabalhadores em assembleias. 
Com isso, em 1923, foi promulgada a Lei Elói Chaves, que determinava a criação das 
Caixas de Aposentadoria e Pensão (CAP), uma derivação dos fundos mútuos. A lei inovou ao 
determinar que o empregador também contribuísse com uma porcentagem para a formação do 
fundo comum. Essa é considerada o embrião da Previdência Social no País. 
As primeiras CAPs foram instituídas nas empresas ferroviárias e, mais tarde, estendidas 
aos portuários, marítimos e outras áreas, dando início ao sistema previdenciário no Brasil, como 
resposta das empresas e do governo às reivindicações operárias. 
Observa-se, ainda, o crescimento da medicina liberal, que era utilizada pela classe 
dominante e com poder aquisitivo, restando à maioria da população brasileira que não tinha 
direito às CAPs apenas os serviços oferecidos pelos escassos hospitais filantrópicos mantidos pela 
Igreja ou, é claro, a prática popular da medicina.
Figura 8 - Mapa Mental de Direito Previdenciário: Lei Eloy Chaves. Fonte: Mapas & Questões (2010).
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Na área da saúde, o estado brasileiro caracterizou-se, ao longo desse período, por dois 
aspectos básicos: o primeiro se refere à estreita relação entre a política de saúde estabelecida e o 
modelo econômico vigente; o segundo se refere à clara dicotomia entre as ações de saúde pública 
e as ações de assistência médica. 
Emergem, nessa conjuntura, dois modelos de intervenção nas questões de saúde: o 
sanitarismo campanhista e o curativo-privatista.
No decorrer dos anos 1920, o controle do governo federal passa a ser disputado por 
outros grupos sociais que se fortalecem econômica e politicamente no processo de urbanização e 
industrialização crescentes, surgindo rupturas no cenário político. Por sua vez, a crise econômica 
aprofunda-se no Brasil a partir da crise mundial de 1922 a 1929, o que trouxe impactos negativos 
à exportação do café. 
Diante desse panorama, as oligarquias agrárias perdem força política, favorecendo a 
Revolução de 1930, comandada por Getúlio Vargas e por representantes da classe dominante, a 
qual também contou com o apoio da classe média urbana (representada por profissionais liberais, 
intelectuais, militares e tenentes) e das classes populares insatisfeitas com as condições de vida e 
trabalho. Assim, a Revolução de 1930 marcou o fim da hegemonia política dos grupos ligados ao 
café e à pecuária, insuflando a influência das indústrias mais voltadas para o mercado interno e 
o aumento do capital. Inicia-se uma nova fase política sob o comando de Getúlio Vargas, que se 
mantém no poder por 15 anos. 
1.3.3. A Era Vargas ou Período da Segunda República (1930 – 1945)
A partir de 1930, o Brasil esteve sob o comando político do Presidente Getúlio Vargas, 
quando, então, foi promovida uma ampla reforma administrativa e política que culminou com 
a Constituição de 1934, iniciando-se o governo constitucional até 1937, e a ditadura do Estado 
Novo de 1937 a 1945. Trata-se de uma fase de forte centralização política e participação estatal 
nas políticas públicas, o que, aliado às políticas populistas, atribuiu ao presidente a alcunha de “o 
pai dos pobres”.
No período em questão, ocorre um deslocamento do polo dinâmico da economia para os 
centros urbanos, com grande investimento no setor industrial na região centro-sul, especialmente 
nas cidades de São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte. Esse encaminhamento reforça, ainda 
mais, a importância econômica e financeira dessa região, agravando os desequilíbrios regionais 
ainda vigentes nos dias atuais. Essa política promove o êxodo rural, especialmente da região 
Nordeste para os centros econômicos do País, contribuindo para o processo de urbanização 
precária e desordenada e proliferação de favelas nas grandes cidades.
O modelo sanitarismo campanhista envolve uma abordagem coletiva e ambiental 
da doença e se caracteriza pela prática autoritária. O modelo clínico curativo-
privatista, realizado por meio das CAPS e da medicina Iliberal, privilegia a 
abordagem individual e medicalizante dos problemas de saúde e nega a relação 
da doença com as condições de vida dos indivíduos e coletividades. 
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A crescente massa urbana constitui a mão-de-obra para o setor industrial crescente. Esse, 
por sua vez, passa a exigir cada vez mais investimentos de grande porte em infraestrutura. O Estado, 
como regulador das relações entre capital e trabalho,estabelece o salário mínimo, o que, junto 
a outras medidas, possibilita o acúmulo de capital necessário ao investimento na infraestrutura 
demandada pela industrialização, a exemplo da construção da Companhia Hidrelétrica do Vale 
de São Francisco e da Siderúrgica de Volta Redonda.
Mudanças na estrutura do Estado e uma legislação paralela foram criadas para a promoção 
da expansão do sistema econômico em projeto, colimando na criação do Ministério do Trabalho, 
da Indústria e Comércio e do Ministério da Educação em Saúde. 
Foram promulgadas as leis trabalhistas nesse governo, as quais estabelecem uma relação 
contratual entre capital e trabalho e, ao mesmo tempo, garantem certos direitos sociais aos 
trabalhadores. Ao mesmo tempo, promoveu-se a vinculação dos sindicatos à estrutura do Estado, 
com exigência de pagamento de contribuição sindical por parte dos empregados sindicalizados.
O crescimento acelerado da indústria se dá à custa das condições precárias de trabalho, 
aumentando os riscos e problemas de saúde aos trabalhadores urbanos, piorando as condições 
de vida e saúde dessa população, que não contava com moradia e saneamento adequados. 
Dessa forma, aos problemas antigos de saúde da população (doenças crônicas e epidêmicas), 
acrescentaram-se outros decorrentes da inserção no processo produtivo industrial e das condições 
precárias no modo de viver, tais como: acidentes de trabalho, doenças profissionais, estresse, 
desnutrição e verminose. 
Porém, as medidas adotadas iam em direção a manter a força de trabalho com condições 
de produção, valendo-se da assistência médica vinculada à Previdência Social, que, a partir de 
1933, transformou o CAPS em Instituto de Aposentadoria e Pensões (IAPs). Passou-se a gestão 
ao Estado, sendo o seu presidente nomeado pelo Presidente da República e os representantes 
dos trabalhadores e patrões indicados pelos sindicatos atrelados ao poder executivo, mudando a 
prática da escolha por eleição direta.
O financiamento era de forma Tripartite, com participação dos empregados, empregadores 
e Estado, sendo este último o centralizador dos recursos financeiros. 
A criação do Ministério da Educação e Saúde ocorreu em 1930, com a função de 
coordenar as ações de saúde pública no mesmo modelo do sanitarismo campanhista do período 
anterior. Essa fase correspondeu ao auge do sanitarismo campanhista na área de saúde pública, 
com a criação do Serviço Nacional de Febre Amarela, do Serviço de MaIária no Nordeste e da 
Fundação Serviço Especial de Saúde Pública (SESP).
A assistência médica, que era prerrogativa fundamental da CAPS (por meio de uma 
rede própria desenvolvida para esse fim), passou a ser secundária no período dos 
IAPs, instituto que priorizava a contenção de gastos, tendo em vista a política de 
acumulação do capital necessário ao investimento em outras áreas de interesse 
do governo. 
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A política de saúde adotada reforça a antiga dicotomia: as ações de caráter coletivo sob 
a gestão do Ministério da Educação e Saúde (modelo sanitarismo campanhista), separadas das 
ações curativas e individuais, vinculadas aos IAPS, reforçando a dualidade do modelo assistencial. 
Destaque-se que a população de maior poder aquisitivo utilizava os serviços privados de saúde 
integrantes da medicina liberal crescente, enquanto a maioria da população não vinculada à 
previdência contava apenas com os escassos serviços públicos e com as instituições de caridade, 
além das práticas populares de tratamento.
1.3.4. Período da redemocratização ou desenvolvimentista (1945 – 
1963)
O ano de 1945 foi marcado pelo fim da Segunda Guerra Mundial, com os EUA e as forças 
aliadas tendo saído vitoriosos sobre o fascismo e nazismo, com a derrota de Hitler. Ao mesmo 
tempo, os regimes ditatoriais se enfraquecem, e um clima de democratização surge no cenário 
mundial. Motivadas por esse clima e pela crise econômica brasileira, forças sociais, lideradas por 
opositores do regime, impõem a deposição do presidente Getúlio Vargas, em 29 de outubro de 
1945.
Com isso, reinicia-se um período de redemocratização do País, com eleições para 
presidente e para a Assembleia Constituinte, seguindo-se a consolidação do populismo 
nacionalista, o pluripartidarismo de caráter nacional e maior efervescência nacional. 
Após a eleição, inicia-se o governo de Eurico Gaspar Dutra (1946 – 1951), durante o qual 
é aprovada a quarta constituição, mantendo-se o regime presidencialista e os direitos trabalhistas 
do governo de Vargas. Ao mesmo tempo, declara-se ilegal o Partido Comunista Brasileiro, 
adotando-se medidas anti-inflacionárias e congelando-se o salário dos trabalhadores. 
Eurico Gaspar Dutra lança o Plano Salte (Saúde, Alimentação, Transporte e Energia), 
elaborado em 1948 e aprovado em 1950, destacando a saúde como uma das suas prioridades; 
porém, o plano não se consolidou na prática, já que a maior parte dos recursos foi destinada à 
área do transporte. 
Durante a Segunda Guerra Mundial, um convênio com os EUA foi feito, levando 
ao surgimento do SESP (Serviço Especial de Saúde Pública), o qual foi moldado 
tendo como base o modelo norte-americano, com foco em prevenção e atuando 
nas áreas em que não havia cobertura dos serviços tradicionais, como a 
Amazônia. A atuação nessa região era estratégica para os EUA, já que a Amazônia 
era a segunda maior produtora de látex do mundo, material importante para a 
guerra. E a Indonésia, fornecedora principal dos EUA, encontrava-se em região 
constantemente atacada pelos países que formavam o Eixo, os quais lutavam 
contra os EUA na Segunda Guerra. 
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Pode-se dizer que o sanitarismo campanhista no governo de Dutra teve um caráter 
centralizador e autoritário. Críticas dirigidas à atuação da Fundação SESP surgem e há a proposta 
para a criação do Ministério da Saúde independente. Os casos de tuberculose, malária e outras 
doenças transmitidas por insetos reduzem devido às campanhas sanitárias. 
No período de 1951 – 1954, ocorre o retorno de Getúlio Vargas por eleições diretas. 
Os projetos econômicos são retomados, expandindo-se a Companhia Siderúrgica Nacional, 
ampliando-se rodovias, criando-se usinas hidrelétricas e a Petrobrás, dentre outras medidas 
para garantir a infraestrutura necessária ao processo de industrialização que Getúlio desejava 
implementar, em uma política de caráter nacionalista. 
Ao mesmo tempo, sedimenta-se o populismo como modalidade de relação entre 
governante e governados e que se caracteriza pela prática de contato direto com as massas 
populares, sem a intermediação do partido ao qual era filiado (o PTB), desqualificando a ideia 
de democracia representativa, em uma perspectiva de vínculo emocional com o povo para poder 
ser eleito e governar. Com isso, certas concessões sociais são feitas no intuito de adquirir o apoio 
popular para as medidas econômicas e políticas adotadas. 
O Ministério da Saúde foi criado em 1953 independente à área da Educação, tendo sido 
destinado àquele cerca de um terço dos recursos do antigo Ministério da Educação e Saúde. 
Nesse período, havia dois tipos de sanitaristas com propostas distintas:
• Os que defendiam a manutenção do tradicional modelo do sanitarismo campanhista e a 
prática higienista da Fundação SESP.
• Os que desenvolviam a corrente de opinião do sanitarismo desenvolvimentista, sob o 
argumento da relação entre o nível de saúde da população e o grau de desenvolvimento 
econômico do País. Defendiam uma proposta de articulação das campanhas sanitárias à 
promoção de assistência e articulação de ações preventivas e curativas de acordo com as 
necessidades da população, a serem executadas em nível municipal. Porém, a atuação era 
limitada devido aos poucos recursos destinados à pasta, havendo, assim, pouca efetividade 
nas questões relativas à saúde pública brasileira.
Em 1954, Getúlio Vargas sesuicida, passando a ser conhecido como o mártir do 
nacionalismo, herói popular e pai dos pobres.
Juscelino Kubitschek governa o País de 1956 a 1960, promovendo grandes transformações 
econômicas com o apoio do capital estrangeiro. Põe em ação o Plano de Metas, cujo objetivo é a 
construção de Brasília.
Seu governo se caracteriza pela ênfase no desenvolvimento, tendo as políticas sociais 
como paliativas. Nesse contexto, a saúde pública obtém modestas conquistas, enquanto os 
IAPS fortalecem o modelo de assistência médica curativa aos seus segurados na perspectiva de 
manutenção do trabalhador saudável para a produção. Aqueles que possuíam mais recursos e 
cuja categoria profissional exercia maior poder de pressão construíam hospitais próprios para 
o atendimento de seus segurados. Algumas empresas insatisfeitas com a atuação dos Institutos 
começaram a contratação de serviço médicos particulares, o que, mais tarde, viria a se constituir 
nas empresas médicas ou medicina de grupo, que terão espaço garantido na assistência 
previdenciária em anos seguintes. Amplia-se, assim, o modelo médico-assistencial privatista, que 
se tornou hegemônico dos anos 1960 aos 1980. 
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Segue-se um período tumultuado na política do País, com a vitória de Jânio Quadros, 
em 1961, e, em virtude de sua renúncia já no mesmo ano, a condução da política pelo seu vice, 
João Goulart, sofrendo forte oposição política da elite nacional, pelo fato de defender reformas 
de base e políticas sociais. A partir de uma articulação dos militares, da burguesia industrial e da 
elite nacional, foi planejado um golpe das forças armadas, que se concretizou no dia 31 de março 
de 1964, instaurando-se a ditadura militar, a qual perdurou até sua lenta, gradual e pactuada 
transição para o regime democrático, em 1985.
1.3.5. Período do regime militar (1964 – 1984)
Esse período perdurou por 20 anos, podendo ser dividido em três fases.
Na primeira fase (1964 – 1968), estabelecem-se eleições indiretas para presidente. Vários 
mandatos de parlamentares federais e estaduais são cassados. Há intervenção nos sindicatos, 
dentre outras medidas autoritárias e antidemocráticas.
Promoveu-se, nesse período, o processo de restauração da ordem na sociedade, entendido 
como repressão a qualquer discordância, modernização da estrutura econômica subordinada 
ao interesse do grande capital nacional e internacional, reestruturação do aparelho estatal, com 
a expansão de sua tecnoburocracia, levando, assim, ao desenvolvimento da industrialização, 
modernização e diminuição dos gastos sociais, favorecendo a acumulação capitalista. 
Em 1974 a 1984, há abalo na política econômica, devido à crise do petróleo, recessão 
mundial e à redução dos empréstimos internacionais. Frente a isso, ocorre a concentração de 
renda nas mãos da minoria e o empobrecimento de grande parcela da população. 
No campo da saúde, implantou-se, de modo gradual e intenso, um sistema de saúde 
caracterizado pelo predomínio financeiro das instituições previdenciárias e por uma burocracia 
técnica a priorizar a mercantilização da saúde. Nessa perspectiva, em 1966, promoveu-se 
a unificação dos Institutos de Aposentadorias e Pensões (IAPs), com a criação do Instituto 
Nacional de Previdência e Assistência Social (INPS), subordinado ao Ministério do Trabalho e 
Previdência Social, de responsabilidade pelos benefícios previdenciários e pela assistência médica 
aos segurados e seus familiares. A medida uniformiza os benefícios para todas as categorias, mas 
acaba com a gestão tripartite (trabalhadores, empregadores e União) que existia até então nos 
IAPs, passando o INPS a uma gestão centralizada do ponto de vista administrativo e financeiro, 
com fins de capitalização. 
Destaque-se que, até 1964, a assistência médica previdenciária era prestada, principalmente, 
pelos hospitais, ambulatórios e consultórios médicos da rede de serviços próprios dos Institutos, 
passando-se, a partir de então, à contratação prioritária dos serviços privados de saúde. 
O INPS passa a ser o grande comprador dos serviços privados de saúde, o que estimula o 
fortalecimento do setor privado e a prática médica baseada no “lucro”.
Ao mesmo tempo, mantém-se a expansão da medicina de grupo, caracterizada pela 
contratação de uma empresa médica para a assistência dos empregados, os quais deixam de 
contribuir para o INPS.
Nesse período, a medicina em grupo era orientada pela comercialização da saúde 
e pelo lucro, destinando-se a trabalhadores com maior poder aquisitivo.
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Ocorreu, no período, uma expansão da assistência médica da previdência a partir da 
inclusão dos trabalhadores rurais (1971), das empregadas domésticas (1972) e dos trabalhadores 
autônomos (1973). A ampliação da seguridade e da assistência médica a outras categorias traz um 
grande impacto aos gastos da previdência, já elevados, em decorrência do modelo assistencial, da 
forma de contrato com as empresas privadas que favoreciam a lucratividade, além de fraudes e 
corrupção frequentes, com grande ônus aos cofres previdenciários. 
O Ministério da Saúde, com a missão de atuação em âmbito coletivo, é deixado em segundo 
plano, perdendo poder e privilégios políticos. Com recursos limitados, torna-se ineficiente para 
enfrentar os problemas de saúde pública que se agravavam no País em decorrência das condições 
precárias de vida impostas à maioria da população. Os sanitaristas perdem espaço político, com 
consequente desvalorização do modelo sanitarista campanhista de anos anteriores. As ações de 
saúde pública reduzem-se ao controle e à erradicação de algumas endemias, comandadas agora 
pela Superintendência de Campanhas de Saúde Pública (SUCAM). 
O sistema previdenciário foi desvinculado do Ministério do Trabalho, passando-se à 
subordinação do Ministério da Previdência e Assistência Social (MPAS), criado em 1974, o que 
não traz mudanças nas características dos serviços de saúde: o favorecimento do modelo clínico 
de caráter individual, curativo e especializado, em detrimento das ações coletivas e saúde pública; 
a expansão do complexo médico-assistencial privado, composto pelo hospital, pela indústria 
farmacêutica, por equipamentos médico-hospitalares e pela medicina de grupo; a lógica lucrativa 
do setor saúde; a desigualdade de acesso e diferenciação no atendimento de acordo com a clientela; 
além da exclusão de parcela importante da população do atendimento à saúde.
Com a criação do MPAS, também foi criado o Fundo de Apoio e Desenvolvimento 
Social (FAS), cujos recursos eram destinados ao financiamento da construção de hospitais. Esse 
Ministério elaborou o Plano Pronta Ação (PPA), que ampliava a contratação de hospitais e clínicas 
particulares para atendimentos de urgência a qualquer indivíduo, segurado ou não. Elevaram-se, 
assim, os gastos previdenciários e fortaleceu-se a dicotomia entre atenção preventiva e atenção 
curativa. 
Com o alto custo da assistência (que é complexa, pouco resolutiva e insuficiente para a 
demanda), com a menor arrecadação financeira em tempos de crise econômica e com os desvios 
dos recursos (alimentados pela ânsia de lucro do setor privado), viveu-se um caos nos serviços 
públicos de saúde.
A insatisfação da sociedade aumenta, tendo em vista que a resolução dos problemas 
sociais por parte do Ministério da Saúde era lenta e insignificante. Com isso, movimentos sociais 
crescem e denunciam a ineficiência das estruturas de saúde pública previdenciária, reivindicando 
serviços de saúde e lutando por melhores condições de vida à população menos favorecida.
Em 1975, na V Conferência Nacional de Saúde, foi discutida a crise no setor saúde, sendo 
levantados os problemas da insuficiência, má distribuição e falta de coordenação dos serviços de 
saúde, além da inadequação e ineficácia. 
Apresentou-se a proposta para a criação de um SistemaNacional de Saúde, pela Lei 6.229, 
a qual definia as atribuições dos diversos Ministérios envolvidos com a questão da saúde, além das 
atribuições das instâncias federal, estadual e municipal. No entanto, a oposição dos empresários 
da saúde dificultou a regulamentação da lei, e o governo manteve sua intervenção política em 
alguns programas verticais, tais como: Programa Materno-infantil, Programa Nacional de 
Imunização, Programa Nacional de Alimentação e Nutrição (PRONAN), Sistema Nacional de 
Vigilância Epidemiológica etc.
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Em 1977, efetivou-se uma nova reordenação burocrático-administrativa do sistema de 
saúde com a criação do Sistema Nacional de Previdência e Assistência Social (SINPAS). Tal sistema 
era composto pelos seguintes órgãos: Instituto Nacional de Previdência Social (INPS) – direcionado 
para o pagamento de benefícios aos segurados; Instituto Nacional de Assistência Médica da 
Previdência Social (INAMPS) – encarregado da prestação de assistência médica individual e 
curativa por meio dos serviços privados contratados e conveniados aos trabalhadores urbanos e 
rurais; Fundação Legião Brasileira de Assistência (LBA) – com a finalidade de prestar assistência 
à população carente; Instituto de Administração Financeira da Previdência e Assistência Social 
(IAPAS); Empresa de Processamento de Dados da Previdência Social (DATAPREV); Fundação 
Nacional de Bem-Estar do Menor (FUNABEM); e Central de Medicamentos (CEME).
Ao mesmo tempo, a política econômica no regime militar trouxe, como consequência, a 
concentração de renda, arrocho salarial, redução do poder de compra do salário mínimo, aumento 
de preços, colapso dos serviços públicos de saúde e transporte, além de precárias condições 
de vida à população brasileira, o que levou ao aumento da mortalidade e de morbidade por 
doenças endêmicas e algumas epidemias ainda persistentes (como exemplo, cite-se o aumento da 
mortalidade materna, mortes por doenças cardiovasculares e neoplasias). 
A partir da Conferencia de Alma Ata, ocorrida em 1978, começa a ser difundido na América 
Latina e no Brasil, com apoio da Organização Mundial de Saúde (OMS) e da Organização Pan-
Americana de Saúde (OPAS), o conceito de Atenção Primária à Saúde e os princípios da medicina 
comunitária, que preconizava: a desmedicalização, o autocuidado de saúde, a atenção primária 
realizada por não profissionais de saúde e a participação da comunidade. Há a implantação 
de alguns programas vinculados aos departamentos de medicina preventiva na perspectiva de 
formação de estudantes da área de medicina, por meio de novas práticas e novas concepções para 
a organização dos serviços de saúde. 
O Departamento de Medicina Preventiva da Faculdade de Medicina levanta críticas dos 
problemas sanitários do País, e uma abundante produção acadêmica apresenta severas críticas 
ao modelo assistencial e fundamentação teórica quanto à determinação social da saúde-doença, 
além de alternativas para a reestruturação do sistema de saúde, partindo da concepção de saúde 
como direito de cidadania. 
 Em 1976, iniciou-se o Programa de Interiorização das Ações de Saúde e Saneamento 
(PIASS) no Nordeste, até que, em 1979, teve abrangência nacional, promovendo uma grande 
expansão da rede ambulatorial pública, favorecendo a entrada de técnicos provenientes do 
movimento sanitário nos órgãos de Saúde do Estado e fazendo surgir novas experiências no 
campo da saúde pública.
Com a crise do regime militar, manifestações no processo eleitoral ocorrem e, em 1974, 
o partido MDB sai vitorioso. Cresce a redemocratização do País com a Lei da Anistia em 1977, 
a qual concede direito de retorno dos exilados e condenados por crimes políticos. Isso traz o 
fortalecimento do campo da saúde e a proposta de reformulação do setor. Gera-se o projeto 
denominado PREV-SAÚDE, discutido na VII Conferência Nacional de Saúde, no governo de 
João Figueiredo, projeto que não foi implementado devido a objeções dos dirigentes do INAMPS 
e à pressão dos empresários da saúde.
 
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O movimento social mantém-se articulado e pressiona o governo por mudanças no 
modelo de assistência previdenciária em crise crescente. Assim, em 1981, cria-se o Conselho 
Consultivo de Administração da Saúde Previdenciária (CONASP), ligado ao INAMPS, o qual 
propõe mudanças do modelo assistencial, tendo em vista a melhoria da qualidade da atenção, a 
ampliação de serviços para a população urbana e rural, a descentralização e a hierarquização dos 
serviços de saúde por nível de complexidade. Houve a entrada de vários sanitaristas nas áreas 
estratégicas do INAMPS e a fiscalização das prestações de contas dos prestadores de serviços 
credenciados. Para combater a fraude, passaram a exercer maior influência no processo de 
reforma do setor da saúde, mesmo mediante a disputa com o setor privado. 
A partir do CONASP, foi possível a criação, em 1983, do Programa de Ações Integradas 
de Saúde (AIS). Os governos estaduais, por meio de convênios com o Ministério da Saúde e 
da Previdência Social, recebiam recursos que eram repassados aos municípios, possibilitando a 
expansão da cobertura por meio da construção de Unidades Básicas de Saúde e a contratação e 
capacitação de recursos humanos para os serviços de atenção básica. 
Pode-se dizer que essa ampliação ocorre como resposta das autoridades às reivindicações 
dos movimentos sociais e de saúde, que foram se fortalecendo por via da organização nos diversos 
espaços (da Academia, do sindicalismo, das comunidades e de várias associações). Na cidade de 
São Paulo, a participação do movimento de saúde foi decisiva para as conquistas que sucederam 
na história da saúde pública brasileira nos anos 1970 e 1980. Nos últimos anos do regime militar, 
o Brasil estava envolto em uma grande crise econômica, caracterizada por alta inflação e forte 
recessão econômica. Ao mesmo tempo, a participação social aumentava, fortaleciam-se os 
sindicatos e a oposição política, o que culminou no Movimento das Diretas Já, resultando na 
Emenda Dante de Oliveira, com garantia de eleições diretas para presidente naquele ano. No 
entanto, não foi aprovada e, em 1985, o Colégio Eleitoral escolheu Tancredo Neves, que concorreu 
com Paulo Maluf para a Presidência da República. 
PREV-SAÚDE: Programa de Serviços Básicos de Saúde, que visava a uma 
reorientação do sistema vigente, por meio de uma integração entre dois Ministérios 
(da Saúde e da Previdência Social) e as Secretarias estaduais e municipais de 
saúde. Propunha-se à extensão da cobertura do serviço a toda a população, com 
ênfase na atenção primária à saúde e na participação comunitária. 
As Ações Integradas de Saúde (AIS) tinham como objetivo articular todos os 
serviços que prestavam assistência à saúde da população de uma região e 
integrar as ações preventivas e curativas com vistas à integralidade de atenção. 
Por meio dessa AIS, o INAMPS repassava 10% de sua arrecadação para as 
Secretarias Estaduais de Saúde, propiciando a expansão dos serviços de saúde 
de atenção básica. 
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Com a morte de Tancredo Neves, Sarney assume o poder, iniciando-se o Período da Nova 
República, em que novas conquistas foram obtidas pelo movimento da Reforma Sanitária e com 
o apoio de parlamentares, movimentos de saúde, trabalhadores da saúde, acadêmicos e entidades 
como CEBES e ABRASCO. Essas entidades foram fundamentais na politização, divulgação de 
conhecimentos, críticas e experiências inovadoras na área da saúde, propostas pela articulação 
da sociedade com vistas a mudanças na esfera sanitária, fortalecendo a proposta da Reforma 
Sanitária em construção ao longo dos anos 1970 e 1980.
 
O movimento de Saúde na cidade de São Paulo nasceu na região leste no final dos 
anos 1970 e se espalhou para outras regiões

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