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Filiação
1. Introdução
Os arts. 226, §5º. e 227, §6º., CF, provocaram profundas mudanças no Direito de Família brasileiro porque acabaram com a assimetria típica de um sistema estruturado na família patriarcal, hierarquizada e com base em papéis bem definidos, bem como, extinguiram a categorização dos filhos sobre todos os aspectos, desatrelando a filiação da forma de constituição de família.
Então, a nova tábua axiológica da filiação passa a ser fundamentada na igualdade (formal e substancial entre os filhos e entre os genitores) e na solidariedade, ambas de eficácia imediata, garantindo-se o desenvolvimento da personalidade humana no seio familiar e o acesso à verdadeira parentalidade e a dignidade da pessoa humana. 
 É nesse sentido que o art. 1.596, CC, estabelece: ?os filhos, havidos ou não da relação de casamento, terão os mesmos direitos e qualificações, proibidas quaisquer designações discriminatórias relativas à filiação?.
 No entanto, embora reconhecidas formas diversas de constituição de família e vedadas todas as qualificações pejorativas e limitadoras do direito à filiação, inexplicavelmente, o legislador manteve o sistema de presunções de paternidade atrelado ao casamento (art. 1.597, CC), incompatível, inclusive, com os avanços biotecnológicos na área da reprodução humana assistida.
Afirmam Cristiano Chaves de Farias e Nelson Rosenvald (2009, p. 474) que ?há de se ter na tela da imaginação, nesse panorama, que o problema a se descortinar em nossos olhos não é mais o de fundamentar as novas relações jurídicas de família, mas sim, protegê-las. Não se trata mais de reconhecer o direito à filiação. Negá-lo, seria fechar os olhos a uma realidade concreta e presente e, assim, por via oblíqua, negar a própria inteligência e capacidade humanas. A grande questão que toca ao jurista do novo tempo é a proteção a ser conferida ao direito à filiação. É de se buscar a maneira mais eficaz de assegurar o exercício da filiação nesse novo quadro de relações sociais, econômicas e jurídicas, impedindo sua violação. Todo e qualquer tipo de filiação paterno-filial merece proteção especial no cenário descortinado pela Constituição da República, o que, em última análise, corresponde à tutela avançada da pessoa humana e de seu [sic] intangível dignidade?.
Por isso, deve-se reconhecer na filiação uma relação multifacetária que engloba a filiação propriamente dita (parentesco em primeiro grau em linha reta); a maternidade e a paternidade, todas voltadas a um único fim: proteção integral da criança ou adolescente e consequente desenvolvimento de suas personalidades. Afirmando-se, desta forma, valores existenciais para além dos direitos patrimoniais decorrentes da própria filiação.
2. CRITÉRIOS DETERMINANTES DA FILIAÇÃO
Determinado o novo alcance da filiação após a CF/88, diferentes (e não hierarquizados) critérios podem ser utilizados para sua determinação, o primeiro deles é o critério jurídico ou legal.
O art. 1.597, CC, fixa as presunções de paternidade decorrentes do casamento (?pater is est?), presumindo-se pai aquele que é casado com a mãe, presunções que acabam por sobrepor a verdade biológica à verdade sócio-afetiva e que não se coadunam com os avanços biotecnológicos capazes de esclarecer ?qualquer? dúvida sobre filiação:
1. Nascidos cento e oitenta dias, pelo menos, depois de estabelecida a convivência conjugal.
o É paternidade determinada pelo critério biológico, que retoma a defasada regra já expressa no CC/16.
o 180 dias é o período mínimo de gestação.
o A contagem do prazo se inicia com o estabelecimento da sociedade conjugal.
2. Nascidos nos trezentos dias subsequentes à dissolução da sociedade conjugal por morte, separação judicial, nulidade e anulação do casamento.
o É paternidade determinada pelo critério biológico, que retoma a defasada regra já expressa no CC/16.
o 300 dias é o período máximo de gestação.
o A contagem de prazo inicia a partir da separação de fato, independente de decisão judicial ou dissolução extrajudicial.
3. Havidos por fecundação artificial homóloga, mesmo que falecido o marido.
o Vale frisar que o Código Civil ao se referir nos incisos III, IV e V à fecundação artificial e inseminação artificial, está na verdade se referindo a qualquer das técnicas de reprodução humana medicamente assistida (RMHA ou RHA) que é termo mais abrangente que se refere a qualquer prática médica que interfira no processo natural de reprodução.
o Jornada III STJ 257 ? As expressões ?fecundação artificial?, ?concepção artificial? e ?inseminação artificial?, constantes, respectivamente, do CC 1597 III, IV e V, devem ser interpretadas restritivamente, não abrangendo a utilização de óvulos doados e a gestação de substituição.
o Na RHA as técnicas mais utilizadas são:
 A inseminação artificial (I.A.): expressão proposta pelos franceses Donay, Devraigne e Seguy que designa a técnica que consiste em ser inseminada a mulher com esperma previamente colhido do marido por onamismo e injetado pelo médico, na cavidade uterina ou no canal cevical, no período em que óvulo se encontra suficientemente maduro para ser fecundado (Jussara Meirelles, 2004).
 Fertilização ?in vitro?- F.I.V.: desenvolvida para contornar a esterilidade conjugal por fator tubário irreversível, a FIV consiste na obtenção de óvulos que são fertilizados em laboratório, sendo os embriões posteriormente transferidos diretamente para a cavidade uterina (FIVET) (Jussara Meirelles, 2004).
- Ambas as técnicas podem ser:
 Heteróloga (hétero-inseminação ou hétero-fecundação): utiliza-se o esperma de um doador fértil (geralmente bancos de sêmen). É indicada para os casos de oligospermia grave; azoospermia (ausência de espermatozóides); doenças hereditárias graves do marido; incompatibilidade sangüínea do casal que leve a interrupção da gravidez.
 Homóloga (ou auto-fecundação ou auto-inseminação): é a realizada com sêmen do marido ou companheiro. Indicada para os casos de incompatibilidade ou hostilidade do muco cevical; de oligospermia (reduzidos o número ou mobilidade dos espermatozóides) e retroejaculação (taxa normal de espermatozóides que, no entanto, ficam retidos na bexiga).
o Jornada I STJ 106 ? Para que seja presumida a paternidade do marido falecido, será obrigatório que a mulher, ao se submeter a uma das técnicas de reprodução assistida com material genético do falecido, esteja na condição de viúva, sendo obrigatório, ainda que haja autorização escrita do marido para que se utilize seu material genético após sua morte. 
o A possibilidade de reprodução ?post mortem? aberta por este inciso tem gerado grandes debates na doutrina sobre problemas que surgirão quanto ao direito à filiação e os direitos sucessórios do embrião gerado após a morte do marido e que ainda não possuem regulamentação adequada no CC/02.
4. Havidos, a qualquer tempo, quando se tratar de embriões excedentários (ou pré-implantatórios) decorrentes de concepção artificial homóloga.
o Embriões excedentários são aqueles resultantes de fecundação ?in vitro? que não foram implantados na mulher e que se encontram congelados até que os pais resolvam sobre seu destino. Sobre a destinação e conservação dos embriões excedentários vide art. 5º. da Lei n. 11.105/05 (Lei de Biossegurança).
o Jornada I STJ 107 ? Finda a sociedade conjugal, na forma do CC 1571, a regra do inc. IV somente poderá ser aplicada se houver autorização prévia, por escrito, dos ex-cônjuges, para a utilização dos embriões excedentários, só podendo ser revogada até o início do procedimento de implantação desses embriões.
o Jornada I STJ 128 ? proposta de revogação do art. 1597, IV, CC.
5. Havidos por inseminação artificial heteróloga, desde que tenha prévia autorização do marido. 
o Entende-se que havendo prévia autorização do marido não haverá possibilidade de impugnar a paternidade ou retratar a autorização.
o Trata-se de filiação baseada em laços jurídicos que nascem da afetividade.Deve-se, destacar, que nenhuma destas presunções pode ser tida por absoluta, admitindo-se, portanto, prova em contrário conforme as hipóteses expressamente previstas em lei (o que contraria a determinação constitucional de não discriminação dos filhos). 
 
O art. 1.598, CC, refere-se à presunção de paternidade de filho da mulher, cujo marido foi substituído por outro durante o período de concepção. Nestes casos, presume-se que pai é o primeiro marido, se o filho for nascido nos trezentos dias contados da dissolução do casamento (art. 1.523, CC); será considerado do segundo marido se nascido após este período e se já houver decorrido o prazo do art. 1.597, I, CC. Note-se que, mais uma vez, em face do desenvolvimento e barateamento dos exames de DNA, este artigo é uma velharia mantida pelo CC/02 que visa sobrepor a verdade biológica sobre a afetiva.
 
O art. 1.599, CC, determina que a ?prova da impotência do cônjuge para gerar, à época da concepção, ilide a presunção da paternidade?. Trata o artigo da ?impotentia generandi?, bastando provar sua existência no momento da concepção, independente de ter sido ela superada depois ou não.
Diante do sistema de presunção de paternidade adotado pelo Código Civil, a confissão da mulher sobre a origem biológica do filho (art. 1.602, CC) ou o adultério demonstrado não são por si só suficientes para afastá-la (art. 1600, CC), uma vez que não tem ela legitimidade para negar a paternidade. Trata-se também de dispositivo que restou esvaziado em face dos exames de DNA, mas que, no entanto, visa resguardar a verdade sócio-afetiva sobre a verdade biológica.
Então, cabe ao marido contestar a paternidade dos filhos nascidos da esposa, sendo esta ação imprescritível (art. 1.601, CC e art. 27, ECA). Mas uma vez, parece o legislador determinar a sobreposição da paternidade biológica sobre a afetiva o que pode gerar situações injustas como a do filho que vê a paternidade impugnada após 30, 40 anos.
Concluem Cristiano Chaves de Farias e Nelson Rosenvald (2009, p. 511) que ?a contestação da filiação, através da negatória promovida pelo pai ou pela mãe, deve ser fundada em motivo alheio à sua vontade, tais como os vícios de vontade (erro, dolo, coação), dentre outras possibilidades. É preciso, aqui, não confundir a possibilidade de ser promovida a ação negatória a qualquer tempo com a procedência do pedido formulado. O fato de ser possível, a qualquer momento, aforar a demanda não significa que o pedido será acolhido em juízo. É que, repita-se à exaustão, mesmo diante da prova de inexistência de vínculo genético, poderá restar evidenciada a existência de uma relação sócio-afetiva, o que conduzirá à impocedência do pedido negatório?.
 
3. MATERNIDADE DE SUBSTITUIÇÃO
A mesma riqueza técnica que fez surgir o exame de DNA e a verdade biológica, marcou também o advento da Reprodução Humana Assistida (RHA), impondo outros critérios para determinar a parentalidade.
Dentro dos questionamentos sobre a filiação decorrente das técnicas de RHA pode-se destacar a maternidade de substituição (mais conhecida como Barriga de Aluguel[6] ) que é técnica em que uma mulher utiliza (gratuita ou onerosamente) útero alheio para gerar seus filhos e que contrapõe a verdade biológica e a verdade socioafetiva.
Antes dessas técnicas a mãe jurídica era a mãe genética (titular do óvulo fornecido); mãe nutriz (ou mãe de gestação, ou mãe portadora) e mãe social (a que deu início ao projeto parental). A maternidade juridicamente reconhecida se caracterizava por reunir em uma pessoa, todos esses aspectos. À medida que se separam esses aspectos, surgem problemas para se estabelecer quem é verdadeira a mãe e, como o Brasil possui apenas regulamentação ética sobre o tema (Resolução 1.957/10, CFM) o problema se agrava, uma vez que a participação de mais de uma mulher no processo gestacional prejudica a presunção (absoluta) de maternidade secularmente estabelecida.
 
Embora haja controvérsia doutrinária sobre a (in)validade de negócios jurídicos sobre maternidade de substituição a tendência que aponta na doutrina e na jurisprudência é: aceitar a cessão apenas gratuita do útero acolhendo-se, até que lei especial entre em vigor, as diretrizes do Conselho Federal de Medicina; uma vez aceita a maternidade de substituição tende-se a deferir à mãe biológica ou socioafetiva a filiação.
Destaca Jussara Maria Leal de Meirelles (2004) que ainda que gratuito o ajuste, deve-se observar que o homem vivo não é objeto de direito, e sim, as partes corporais que, uma vez separadas pertencem como coisas, àquele de quem foram retiradas. Logo, nas hipóteses em que há utilização de óvulo da gestante, inadmissível a negociação, dado que não é aquele substância separada do corpo. Se somente o útero é utilizado, sendo o óvulo extraído daquela que tem interesse na criança, as razões são as mesmas para também não ser admitida. E o embrião obtido in vitro não é parte de qualquer corpo, é o próprio corpo de pessoa humana em formação. 
Quanto a questão do registro da criança nascida por essa técnica de RHA, afirmam Cristiano Chaves de Farias e Nelson Rosenvald (2009, p. 484-485) que ?não haverá dificuldade quando o parto for realizado pelo mesmo médico que cuidou do procedimento de fertilização. Neste caso, deverá ser procedido regularmente o registro de nascimento com base na declaração fornecida pelo médico, que inscreverá na declaração de nascido vivo (exigida pelo art. 46, Lei n. 6.015/73) o nome da mãe biológica.? Parece não ser a solução mais adequada uma vez que o médico estaria dando falsa declaração e a mãe biológica dando parto alheio como próprio o que contraria o ordenamento jurídico.
Continuam os autores: ?todavia, se o médico que realizar o parto não for o mesmo que promoveu a fertilização em útero alheio, somente poderá ele registrar na declaração de nascido vivo o nome da parturiente (mãe hospedeira). Neste caso, o interessado (a mãe biológica, o pai, o Ministério Público...), ou o próprio Oficial do Registro Civil de ofício, suscitará o procedimento de dúvida (art. 296 c/c os arts. 198 a 204 da Lei n. 6.015/73) ao juiz da Vara de Registros Públicos, que, com o auxílio da prova pericial (DNA) e ouvido o Parquet, determinará a inscrição do nome da mãe biológica no registro de nascimento?. Ocorre que não necessariamente a mãe socioafetiva coincidirá com a mãe genética (o material pode ter vindo de uma terceira doadora), razão pela qual a confirmação da maternidade pelo DNA também não pode ser considerada absoluta.
Atendendo aos novos preceitos constitucionais quanto à filiação e compreendendo-se que a presunção de maternidade hoje está relativizada, entende-se que o melhor critério a ser adotado nestes casos é a determinação da maternidade socioafetiva, garantindo-se, assim, à mulher que necessitou se socorrer desta técnica a almejada realização do projeto parental.
O assunto é extenso para ser esgotado nestas poucas linhas, por isso, indica-se como leitura complementar o livro: MEIRELLES, Jussara Maria Leal. Reprodução assistida e exame de DNA: implicações jurídicas. Curitiba: Gênesis, 2004.
5. PARTO ANÔNIMO
O parto anônimo é a denominação politicamente correta para o que a partir da Idade Média se conhecia por roda os expostos ou roda dos enjeitados (utilizada no Brasil até a década de 50), primeira iniciativa para atender crianças abandonadas cujas mães não queriam ser identificadas.
 
Para os seus defensores o parto anônimo, então, é uma garantia que assegura a vida, a saúde e a dignidade de crianças rejeitadas por suas mães por questões diversas, coadunando-se, inclusive com a proteção prevista no art. 7º., ECA. Para os que se opõem à sua chancela jurídica o parto anônimo quebra o princípio da paternidade responsável, incentivando o abandono.
Concluem Cristiano Chaves de Farias e Nelson Rosenvald (2009, p. 490) que ?não nos parece objetável a alegação da criança tem direito a uma genitora. Com efeito, já se apresentou exaustivamente, a tese de que a filiação, na perspectiva pluralista das relaçõesde família contemporâneas, é calcada no afeto e na solidariedade, perpassando o alcance, tão-só, biológico. Assim, o direito ao estado filiatório, garantido constitucionalmente, pode ser resolvido pela utilização do critério da afetividade, não sendo obstada pelo uso do parto anônimo?.
É nesse sentido que dispõe o art. 8º., §5º., ECA, que ?a assistência referida no §4º. Deste artigo deverá ser também prestada a gestantes ou mães que manifestem interesse em entregar seus filhos para adoção?.
Há no Congresso Nacional o Projeto de Lei 2747 do Deputado Federal Eduardo Valverde que visa instituir o parto anônimo para coibir e prevenir o abandono de crianças recém-nascidas, mas devido à ampla repercussão social gerada, encontra-se parado.
6. PROVA DA FILIAÇÃO 
O sistema de prova da filiação adotado pelo Código Civil é o da prova pré-constituída, ou seja, a filiação se prova pela certidão do termo de nascimento registrada no Registro Civil (art. 1.603, CC), que tem efeito declaratório. No entanto, assim como ocorre no casamento, esta prova é ?quase? absoluta, podendo o registro ser invalidado por erro ou falsidade ou a filiação ser provada por outros meios (art. 1.605, CC ? rol exemplificativo).
Dentre os meios de prova admitidos confere-se a posse do estado de filho (projeção da teoria da aparência) que na definição de Orlando Gomes (2009, p. 324) ?constitui-se por um conjunto de circunstâncias capazes de exteriorizar a condição de filho do casal que o cria e educa? e que exige: ?tractatus? (a criança é tratada como filho); ?nomem? (a criança utiliza o sobrenome de família dos pais); ?fama? (a criança é reconhecida no meio social como filha). Havendo dúvida sobre a filiação ou não, deve-se declarar sua existência. 
Lembre-se, também, que a comprovação de origem genética com o exame de DNA, por si só, não é suficiente para demonstrar a existência de relação de parentesco (dessacralização do DNA), uma vez que a paternidade pode ser determinada pela afetividade.
A ação de prova de filiação compete ao filho enquanto viver, passando aos seus herdeiros se morrer menor ou incapaz (art. 1.606, CC). Iniciada a ação pelo filho, os herdeiros poderão dar continuidade, salvo se julgado extinto o processo.
7. RECONHECIMENTO DE FILHOS
Viu-se na aula anterior que os filhos de pais casados não precisam ser reconhecidos, pois a parentalidade decorre do próprio casamento. Então, o reconhecimento de filhos destina-se a determinar a filiação de pessoas nascidas fora de relacionamentos matrimoniais (como por ex., da união estável), inexistindo, para tanto, qualquer limitação legal.
 
O reconhecimento de filhos estabelece o parentesco em linha reta de primeiro grau e pode ser: a) voluntário (ou perfilhação); b) judicial (coativo ou forçado). Independente da forma utilizada, o ato de reconhecimento é declaratório, sendo seus efeitos imediatos e ?ex tunc?.
 
RECONHECIMENTO VOLUNTÁRIO DOS FILHOS
 
O reconhecimento voluntário dos filhos decorre da própria vontade do(s) genitor(es) (ato personalíssimo), podendo ocorrer em conjunto ou sucessivamente (art. 1607, CC e art. 26, ECA).
 
O art. 1.609, CC, estabelece quatro formas de reconhecimento voluntário[1] dos filhos, todas irrevogáveis e irretratáveis[2] (não podendo estar submetidas a termo ou encargo ? art. 1.613, CC) e de eficácia declaratória e ?erga omnes? (confissão do vínculo):
 i. No registro do nascimento por declaração pessoal do genitor. 
 Ressalte-se que o relativamente incapaz pode declarar a paternidade perante o Oficial, independente de assistência; no entanto, necessitará de assistência para a lavratura de escritura pública.
 Apenas em caso de dúvida sobre a seriedade da declaração se ouvirá o genitor cujo nome já consta no registro.
 ii. Por escritura pública ou escrito particular a ser averbado em cartório. Trata-se de meio indireto de reconhecimento[3] .
 A escritura pode ser feita exclusivamente para este fim ou pode ser o reconhecimento incidentalmente feito em escritura que tenha outros objetos (desde que a declaração seja inequívoca).
 Como o escrito particular vale por si só, o reconhecimento pode ser feito também em codicilo (art. 1.881, CC).
 iii. Por testamento, ainda que incidentalmente manifestado. Neste caso, o reconhecimento é irrevogável (ainda que se revogue o testamento, art. 1.610, CC) e o filho reconhecido assume a posição de herdeiro necessário. 
 O reconhecimento feito por relativamente incapaz em testamento não exige assistência (art. 1.860, parágrafo único, CC), mas só produzirá efeitos após a sua morte.
 iv. Por manifestação direta e expressa perante o juiz, ainda que o reconhecimento não haja sido o único objeto do ato que o contém. O juiz deve reduzir a declaração a termo e encaminhar ao juiz de Registros Públicos para as providências necessárias.
 
O ato de reconhecimento voluntário de filhos pode preceder[4] o nascimento (art. 26, parágrafo único, ECA; art. 1.609, parágrafo único, CC) e, em qualquer hipótese, deve ser considerado ato jurídico (stricto sensu, art. 185, CC) unilateral e personalíssimo[5] uma vez que seus efeitos não decorrem da vontade das partes, mas sim, da lei.
 
Debate-se, no entanto, se o ato de reconhecimento de filhos maiores é ato jurídico ou negócio jurídico. Boa parte da doutrina afirma que ainda que seja bilateral, não perde a característica de ato jurídico em sentido estrito. O reconhecimento de filhos maiores, embora decorra de necessário acordo de vontades (art. 4º., Lei n. 8.560/92; art. 1.614, CC) tem seus efeitos determinados também pela lei. 
 
RECONHECIMENTO INVOLUNTÁRIO OU FORÇADO
 
Antes de falar propriamente das formas de reconhecimento involuntário de filhos é preciso tecer algumas considerações sobre o exame de DNA e a importância da filiação sócio-afetiva.
 
A importância do exame de DNA[6] nas questões referentes à filiação é inquestionável. Tal é seu papel que a Súmula 301, STJ, determina que ?em ação investigatória, a recusa do suposto pai a submeter-se ao exame de DNA induz presunção ?juris tantum? de paternidade?, o que não implica afirmar que em todo e qualquer caso a recusa implicará a determinação da filiação (tudo dependerá do caso concreto).
 
No entanto, o exame de DNA não deve ser considerado prova absoluta sobreponde-se em todos os casos à verdade sócio-afetiva, lastreada por princípios éticos que têm por fundamento o respeito e afeição mútuos (este movimento denomina-se desbiologização da filiação). O critério científico é frio e, por isso, por si só, não pode afastar outras análises que se fizerem necessárias no caso concreto[7] . Nesse sentido, afirmam Cristiano Chaves de Farias e Nelson Rosenvald (2009, p. 514) que ?isto não implica, sublinhe-se, a imprestabilidade do método biológico de determinação da filiação. Definitivamente, não! Apenas é preciso chamar a atenção para a insuficiência do acolhimento do critério biológico, sem promover a perquirição de outros fatores, identicamente relevantes, na determinação da paternidade e da maternidade?. Os autores apontam como exemplos (2009, p. 519) da necessária prevalência do critério sócio-afetivo: ?i) na adoção obtida judicialmente; ii) no fenômeno de acolhimento de um ?filho de criação?, quando demonstrada a presença da posse do estado de filho; iii) na chamada ?adoção à brasileira? (reconhecer voluntariamente como seu um filho que sabe não ser); iv) no reconhecimento voluntário ou judicial da filiação de um filho de outra pessoa (quando um homem, enganado pela mãe ou por ter sido vencido em processo judicial, é reconhecido como pai e, a partir daí, cuida deste filho, dedicando amor e atenção); [... v) a hipótese prevista no art. 1.597, V, CC]?. 
 
Feitas estas considerações, o professor deve lembrar que os critérios estudados na aula 11 estabelecem tão-somente as presunções de filiação decorrentesdo casamento, sendo para os demais casos atos voluntários ou forçados de reconhecimento.
 
AVERIGUAÇÃO OFICIOSA DA PATERNIDADE
A averiguação oficiosa da paternidade foi estabelecida pelo art. 2º., da Lei n. 8.560/92. Trata-se de procedimento administrativo que tem início com a remessa (obrigatoriamente[8] ) feita pelo oficial do Registro ao juiz da Vara de Registros, de certidão integral do registro de nascimento feito apenas em nome da mãe, mas com dados de identificação do suposto pai. 
 
Após a ouvida da mãe, o juiz deve determinar a notificação (em regra por via postal) do suposto pai para que se manifeste (pode ser determinado o segredo de justiça para preservar a privacidade do investigado). 
 
Uma vez notificado, o suposto pai em trinta dias (contados da juntada do comprovante de notificação) poderá: a) confirmar a paternidade, da qual, então, será lavrado termo, remetendo-se a certidão ao oficial do Registro para a respectiva averbação; b) não atender à notificação e não se manifestar; c) negar a paternidade. Nas últimas duas hipóteses os autos devem ser remetidos ao Ministério Público (ou outra pessoa com legítimo interesse) para promoção da respectiva ação de investigação, quando presentes elementos de convencimento suficientes sobre a paternidade. Procedente a ação, far-se-á o registro.
 
INVESTIGAÇÃO DE PARENTALIDADE 
A investigação de parentalidade será necessária quando: impossível utilizar as presunções ?pater is est? e ?mater semper certa es?; infrutífero o reconhecimento voluntário ou a averiguação oficiosa. Nestes casos, então, a filiação será determinada por sentença.
 
O reconhecimento do estado de filiação é direito fundamental, personalíssimo e imprescritível (art. 27, ECA e art. 1.606, CC).
 
São ações de investigação de parentalidade: ação de investigação de paternidade e ação de investigação de maternidade, sobre as quais não mais prevalecem limitações das hipóteses de cabimento (como existiam no malfadado art. 363, CC/16), tendo, portanto, por fundamento geral a determinação do estado de filiação, independente das razões ou fundamentos.
 
São características das ações de investigação da parentalidade:
 
1) Legitimidade:
o	Ativa: o filho (quando menor representado ou assistido, em regra, por sua genitora ou tutor conforme art. 8º., CPC. Pode ser nomeado curador especial quando os interesses entre o filho e seu representante legal forem conflitantes ou se inexistir representante legal ? art. 9º., CPC); herdeiros do filho poderão dar continuidade a ação já iniciada por seu pai quando sobrevier seu óbito ou incapacidade (art. 1.606, parágrafo único, CC).
o	O nascituro também pode propor ação investigatória de parentalidade (art. 26, ECA e art. 2º, CC).
o	Entende-se ser possível a investigação avoenga que é aquela iniciada pelos netos em face de seu suposto avô, independente de ter o investigante falecido no gozo de sua capacidade (art. 1.606, CC).
o	As ações investigatórias de parentalidade em regra são manejadas pelos filhos, mas não há proibição de sua utilização por parte dos pais que pretendem discutir a existência (ou não) do estado de filiação.
o	Passiva: recai sobre o suposto pai/mãe ou seus herdeiros (legítimos ou testamentários). Note-se que o espólio é parte ilegítima para figurar no polo passivo uma vez que se trata de mera universalidade de direito.
o	Os herdeiros, embora tenham legitimidade passiva, não podem realizar o reconhecimento voluntário, porque este ato é personalíssimo.
o	Ministério Público: tem legitimidade (art.2º., §§ 4º. e 5º., LIP) para propor ação de investigação (trata-se de legitimidade concorrente), bem como, atuará em todas as causas como ?custos legis?.
o	A contestação pode ser oferecida por qualquer pessoa que tenha justo interesse (art. 1.615, CC), como por exemplo, o pai registral, os herdeiros...
 2) Litisconsórcio: 
o	Pode ocorrer quando o filho não tem certeza de quem é o pai, podendo propor a ação de investigação em face de várias pessoas. Trata-se de litisconsórcio passivo alternativo eventual.
o	Havendo registro, aquele que consta no assento deve ser citado para integrar a demanda. Neste caso, o litisconsórcio é unitário necessário.
o	Não há necessidade de citação da genitora do investigante e sequer deve ser admitida sua participação voluntária (como assistente), pois não possui interesse jurídico na demanda.
3) Competência: Varas de Família, ainda que a investigação seja ?post mortem?.
o	foro do domicílio do réu.
o	Quando for cumulada com pedido de alimentos, foro do domicílio do alimentando.
o	Parte da doutrina entende que o pedido de alimentos é implícito (cumulação implícita sucessiva) à investigação por interpretação do art. 7º., da Lei n. 8.560/92. Então, ainda que não houvesse pedido de cumulação expressa, a competência seria do foro do alimentando.
o	Súmula 1, STJ ? O foro do domicílio ou da residência do alimentando é o competente para a ação de investigação de paternidade, quando cumulada com a de alimentos.
o	Lembre-se que se trata de caso de competência relativa e que, portanto, pode ser afastada pela vontade das partes.
 4) Prazos:
o	Tratando-se de ações que versam sobre o estado de pessoa, devem ser consideradas imprescritíveis. Por isso, deve-se entender que a existência de registro não impede a pessoa, a qualquer tempo, de buscar sua identidade genética.
o	Art. 1.601, CC ? é imprescritível a ação do marido para contestar a paternidade dos filhos nascidos de sua mulher.
o	Súmula 149, STF ? É imprescritível a ação de investigação de paternidade, mas não o é a de petição de herança.
o	Súmula 301, STJ ? Em ação investigatória de paternidade, a recusa do suposto pai a submeter-se ao exame de DNA induz presunção ?juris tantum? de paternidade.
o	A ?exceptio plurium concubentium? (exceção de múltiplos relacionamentos) é meio de defesa de mérito indireto comumente utilizado para negar a paternidade, mas que não goza de nenhum respaldo legal e que não é suficiente para afastar de plano a parentalidade.
5) Desistência da ação: sendo o autor maior de idade, poderá desistir da ação, ensejando a extinção do processo sem julgamento do mérito (art. 267, VIII, CPC). Frise-se que a desistência da ação não implica a renúncia ao direito.
o	Tendo sido a ação proposta por menor de idade assistido ou representado, inexiste possibilidade de desistência, podendo dar seguimento à ação o próprio Ministério Público.
6) Ônus da prova: não se aplicam as regras probatórias do art. 333, CPC, uma vez que difícil ao investigante demonstrar a existência de relacionamento sexual entre o genitor e o investigado. O exame de DNA facilitou a produção de prova, embora sua utilização não seja compulsória. Então, inverte-se o ônus, cabendo ao suposto pai/mãe provar a sua não parentalidade.
o	As ações investigatórias de parentalidade admitem todo meio de prova (art. 332, CPC), devendo o juiz, inclusive, determiná-las de ofício quando necessário.
o	Assim, são meios de prova: o exame de DNA (a principal das provas, mas não a única); o exame prosopográfico; o exame comparativo de papilas digitais; o exame sanguíneo; exame comparativo do pavilhão auricular; provas documentais (certidão de batismo, troca de mensagens,...); prova testemunhal (de especial importância quando se pretende o reconhecimento de paternidade sócio-afetiva); etc.
7) Revelia: como se trata de ação de estado não se operam os efeitos da revelia, sendo necessária a produção de provas. Conforme a Súmula 301, STJ, apenas a negativa do suposto pai em se submeter ao exame de DNA produzirá os efeitos da revelia.
 
8) Sentença: trata-se de sentença declaratória com efeitos ?ex tunc? (até o nascimento).
o	Art. 1.616, CC ? ?a sentença que julgar procedente a ação de investigação produzirá os mesmos efeitos do reconhecimento; mas poderá ordenar que o filho se crie e eduque fora da companhia dos pais ou daquele que contestou essa qualidade?.
o	Determina o art. 7º., LIP, que na sentença devem ser fixados, quando necessários, alimentos provisionais oudefinitivos, independente de pedido expresso na exordial. Conforme entendimento fixado pelo STJ os alimentos serão devidos desde a citação.
o	A sentença procedente deve determinar a averbação no registro de nascimento do nome do demandado, bem como, pode autorizar o demandante (se assim quiser) a acrescentar o patronímico do genitor.
o	Da sentença cabe apelação que será recebida em seu duplo efeito quando não fixar alimentos; quando além de determinar a paternidade a sentença fixar os alimentos, com relação àquela será a apelação recebida em seu duplo efeito, mas com relação a estes só poderá ser recebida com efeito devolutivo.
o	Quando a improcedência da ação de investigação da parentalidade decorre de falta ou insuficiência de provas tem-se entendido que há certa relativização da coisa julgada uma vez que a sentença não nega a filiação, mas reconhece tão-somente que não se logrou êxito em produzir provas que demonstrariam este estado. Assim, poderá o filho intentar nova ação quando na posse de novos elementos probatórios.
o	Com relação à coisa julgada nas ações de filiação, afirmam Cristiano Chaves de Farias e Nelson Rosenvald (2009, p. 575-576) que ?se dará sob a técnica secundum eventum probationes. Ou seja, a coisa julgada se forma a depender do resultado da produção probatória, identicamente ao que se tem nas ações coletivas. [...]. Pensar diferente é voltar no tempo, para entender que o processo deveria prevalecer sobre o próprio direito material. Assim, avulta afirmar a necessária relativização da coisa julgada pela jurisprudência, evitando tormentos e indevidas negações do direito à filiação

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