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MECANISMOS DE FOMENTO E INVESTIMENTOS NO CAMPO DA FORMAÇÃO EM DANÇA NA BAHIA – FAZCULTURA/FUNDO DE CULTURA -2014/2016 Fernanda Andrade 1 Resumo: Este estudo, em andamento, é desdobramento de um artigo publicado no I Enicecult/UFRB, onde somente os investimentos via Fazcultura foram analisados. O objetivo deste artigo é analisar os investimentos destinados à área da formação em Dança tendo como objeto dois editais geridos através da Secretaria de Cultura do Estado da Bahia - Secult/BA. Pretende fomentar debates sobre essas demandas do campo da formação em artes/dança. Repensar nossa responsabilidade política como agentes culturais. Examinar, em uma perspectiva comparada, os relatórios anuais das edições dos Editais Setoriais da Dança fomentados via Fundo de Cultura do Estado da Bahia - FCBA (2014/2016) e os da Lei de Incentivo Fiscal do Estado da Bahia, o Programa Fazcultura, (2015/2016) propondo ainda pautas de pesquisas para futuras investigações. Insere-se no âmbito de discussões que reflete sobre a área da Dança e(m) Políticas Culturais e propõe refletirmos sobre políticas culturais para as artes no estado da Bahia evidenciando esses investimentos. Para a organização desta análise fez-se levantamento, tratamento e cruzamento de alguns dados levantados do Sistema de Informações e Indicadores em Cultura - SIIC, de responsabilidade da Secult/BA. Após um breve delineamento das principais componentes deste quadro são apresentados elementos para o desenvolvimento do financiamento na área da formação. Palavras-chave: financiamento da cultura, formação, dança. Na área da cultura, o fomento dirigido exclusivamente à formação é escasso em várias dimensões, correndo o risco de serem inexistentes em vários segmentos artísticos/culturais. Trata-se de um fenômeno que pode ser justificado pela nossa inexperiência, desejos contrários, desconhecimento ou falta de conscientização da necessidade de promover a formação/educação estética artístico/cultural dos sujeitos de forma nuclear e eficiente. Como a formação é a principal polarizadora de várias dimensões do sujeito, a falta de oportunidade de formação artístico/cultural para aprendizagens pode ter consequências tanto para a educação estética quanto para a sustentabilidade econômica da Dança. E como consta na Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948) - DUDH, no Artigo 27, parágrafo 1 "toda a pessoa tem o direito de tomar parte livremente na vida cultural da comunidade, de fruir as artes e de participar no progresso científico e nos benefícios que deste resultam”. Já o ‘como’ esse direito se concretiza está diretamente 1 Mestranda PPGDança (FAPESB)/UFBA. E-mail: fernanda.andrade.cultura@gmail.com ligado às políticas públicas direcionadas aos sujeitos pelos vários níveis federativos, pela participação da sociedade civil nos processos de construção dessas políticas e também pela classe artística. Entendendo então, que usufruir de culturas é um direito básico dos cidadãos, como artistas da dança precisamos (re)pensar nossas próprias responsabilidades no âmbito das políticas públicas lidando com verba pública. Pois, refletir sobre financiamentos culturais advindos de investimento público implica considerar que todos os sujeitos da sociedade têm direito a usufruir os mesmos. E nessa sequência é necessário considerar a democratização dos bens artísticos culturais ampliando o acesso e a oportunidade da formação junto a esses bens “permitindo que as pessoas construam o seu modo próprio de ser e de participar na comunidade e na sociedade como um todo. ” (MARTINS, 2007). No Brasil a Constituição Federal (1988) no artigo 215 consta que “O Estado garantirá a todos o pleno exercício dos direitos culturais e acesso às fontes da cultura nacional, e apoiará e incentivará a valorização e a difusão das manifestações culturais”. Visando modos de atingir essa meta, a Emenda Constitucional nº 48/2005 estabeleceu a criação do Plano Nacional de Cultura e, em 2012, com a Emenda Constitucional nº 71, conforme consta no artigo 216-A, almeja-se que “o Sistema Nacional de Cultura, seja organizado em regime de colaboração, de forma descentralizada e participativa”. Na Bahia os entendimentos sobre o conceito e medidas de democratização da cultura estão representados de forma ampla nas leis nº 12.365/2011, a Lei Orgânica da Cultura da Bahia e a lei nº 13.193/2014 que dispõe sobre o Plano Estadual de Cultura estruturado em sete diretrizes, vinte estratégias e sessenta e duas ações. Interessa-nos destacar o que diz respeito as estratégias 8, 9 e 10, presentes no parágrafo 2º da Diretriz II que trata do fomento e da ampliação do investimento em cultura e visa aperfeiçoar os mecanismos de financiamento. E a estratégia 18 do parágrafo 6º da Diretriz VI que cuida da formação visando ampliar e qualificar a formação em cultura, da disseminação do conhecimento e da ampliação da apropriação social do patrimônio cultural . Tendo em vista a importância da formação cultural, conduzimos este estudo com o objetivo de alargar o debate sobre as políticas culturais, financiamento e/ou fomento e questões que envolvem a formação nos vários âmbitos do campo cultural. Os atos convocatórios do Fazcultura têm como Unidade Executora a Secretaria de Cultura – Superintendência de Promoção Cultural. A Lei nº 7.014 que institui o Fazcultura foi publicada no Diário Oficial do Estado em 5 de dezembro de 1996 e regula sobre a promoção de ações de patrocínio que tem como base a renúncia de recebimento do “Imposto de Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços – ICMS pelo Estado em favor da aplicação direta em projetos e atividades culturais”. (Secult-BA, 2016). Nesta fica acordado que a empresa patrocinadora deve investir um percentual de, no mínimo 20%, com recursos próprios para a efetivação do projeto. Fazcultura é um mecanismo de fomento que tem bases de programa e “contribui para estimular o desenvolvimento cultural da Bahia, ao tempo em que possibilita às empresas patrocinadoras associar sua imagem diretamente às ações culturais que considerem mais adequadas” (Secult-BA, 2016). É um mecanismo de fomento não reembolsável concedido sempre sob forma de recurso financeiro. No biênio 2014/2015 o montante total anual destinado ao programa pelo estado foi de R$15.000.000,00 (quinze milhões). Assim, pretendemos investigar futuramente uma dessas possíveis explicações usando como base diagnóstica o resultado desta pesquisa sobre estes editais distintos e importantes para a Bahia entre outros documentos. A nossa pesquisa criará bases para, por exemplo, determinar a extensão que os projetos executados trazem para o segmento Dança e planejar ações estratégicas de fomento para ‘formação’. Com relação aos procedimentos metodológicos; recolhemos, tratamos e cruzamos alguns dados levantados do Sistema de Informações e Indicadores em Cultura-SIIC. Em sequência comparamos os dados a partir de variáveis de observação como ‘município’ e ‘território do proponente’, ‘valor apresentado’ e ‘situação da proposta’. Enfim, destacamos as características estruturantes de cada edital, além de ressaltarmos a emergência de aprofundamento nos estudos sobre a gestão da dimensão econômica na área da Dança. Nesta pesquisa foi adotada a nomenclatura das categorias utilizadas pela Secretaria de Cultura nos relatórios gerados pelo SIIC. Estabelecemos que não entrariam nesta análise preliminar o nome das propostas, dos proponentes, ou beneficiados. Mesmo por que esses dados são de domínio público. Em seguida inserimos nos relatórios as colunas intituladas ‘principalnatureza’ e/ou ‘principal segmento’ dos projetos culturais alimentadas com informações disponíveis no SIIC. Os resultados parciais da pesquisa apontam que no biênio 2014/2015 o SIIC registrou o envio de (705) propostas pelo Fazcultura. Dentre estas, cento de dezessete (117) propostas constam em situação de ‘publicada' nos relatórios com o total de R$45.140.517,35. Isto é, passaram por etapas de avaliação documental feita por analistas, por pareceristas técnicos que avaliaram a executabilidade da mesma e pela comissão de mérito que avaliou a proposta com toda a complexidade e de forma conjunta emitiu o parecer favorável ou não a aprovação. Sendo assim, nesta penúltima etapa do fluxograma, em que as propostas estão em 'situação de aprovadas', que elas têm maiores chances de serem realizadas. Considerando a distribuição territorial de propostas com indicativo de patrocínio, ou seja, aquelas que apresentaram carta de intenção de patrocínio, constatou-se que das (117) propostas 'publicadas', (101) foram apresentadas por proponentes da capital (Salvador). Juntas estas somaram um total de R$39.116,194,24. Dezesseis (16) foram de outras cidades do estado que somaram R$6.294.323.,11. Dos vinte e sete territórios de identidade distribuídos por regiões estaduais, somente seis (6) conseguiram que suas propostas tramitassem até a etapa final 'situação publicada', no Fazcultura. Estar em situação publicada significa que a proposta foi publicada o Diário Oficial do Estado da Bahia e pode ser executada. Tabela - 1 Distribuição territorial das propostas publicadas (Fazcultura-2014/2015) Municípios Nº propostas Soma de Valor Apresentado Cachoeira 1 R$ 1.000.000,00 Camaçari 2 R$ 889.842,00 Feira de Santana 7 R$ 1.477.151,11 Lauro de Freitas 1 R$ 944.840,00 Luís Eduardo Magalhães 1 R$ 202.070,00 Mata de São João 1 R$ 1.000.000,00 Salvador 101 R$ 39.116.194,24 Vera Cruz 1 R$ 249.630,00 Vitória da Conquista 2 R$ 530.790,00 Total Geral 117 R$ 45.410.517,35 Fonte: Dados trabalhados pela autora. Quando uma proposta é apresentada ao sistema SIIC o proponente é obrigado a identificar a principal natureza do seu projeto. Ele opta entre as seguintes opções disponíveis; Criação, Difusão ou Distribuição, Fomento, Formação, Fruição e Consumo, Memória e Preservação ou Produção. Com relação a esses dados disponíveis nos relatórios, das (117) propostas em situação ‘publicada’, (49) foram identificadas como de “Produção”, totalizando R$ 20.155.265,99. Vinte (20) foram identificadas como “Difusão ou Distribuição” somando R$ 9.615.803,89. Quatorze (14) como “Formação” com o montante de R$ 4.540.215,26. Dez (10) como “Criação” no valor total de R$ 2.886.353,99. Oito (8) propostas estão identificadas como "Fomento" somaram R$ 3.485.841,01. Oito (8) propostas identificadas como "Fruição e Consumo” totalizaram R$ 2.555.325,39 e oito (8) propostas identificadas como “Memória e Preservação” somaram R$ 2.171.711,82. Tabela - 2 Principal natureza de projetos publicados (Fazcultura-2014/2015) Principal Natureza do Projeto Dados Total Criação Propostas 10 Soma de Valor Apresentado R$ 2.886.353,99 Difusão ou Distribuição Propostas 20 Soma de Valor Apresentado R$ 9.615.803,89 Fomento Propostas 8 Soma de Valor Apresentado R$ 3.485.841,01 FORMAÇÃO Propostas 14 Soma de Valor Apresentado R$ 4.540.215,26 Fruição e Consumo Propostas 8 Soma de Valor Apresentado R$ 2.555.325,39 Memória e Preservação Propostas 8 Soma de Valor Apresentado R$ 2.171.711,82 Produção Propostas 49 Soma de Valor Apresentado R$ 20.155.265,99 Total de propostas 117 Total Valor Apresentado R$ 45.410.517,35 Fonte: Dados trabalhados pela autora Das (117) propostas em situação ‘publicada’, quatorze (14) foram identificadas como “Formação” pelo proponente somando o montante de R$ 4.540.215,26 em investimentos neste campo no âmbito da cultura na Bahia. Isto equivale afirmar que em média 10% do investimento total de financiamento via incentivo fiscal, através do programa Fazcultura, foi identificado como direcionado à promoção de algum tipo de ação ou projeto de formação na área cultural. A média anual, com intenção de financiamento, foi de sete propostas para cada ano, somando em 2014 o total de R$2.394,918,11 e em 2015 o montante de R$2.145.297,15. Dos quinze (15) projetos de formação, constata-se que 85% podem ter ficado concentradas na região Metropolitana de Salvador, visto que, treze (13) propostas são de proponentes que se identificam como sendo de Salvador e somente dois de Feira de Santana, território Portal do Sertão. Quando cruzamos os dados das 117 propostas 'publicadas' que tem como 'principal natureza' “Formação” com os dados dos 'principais segmentos' constata-se que seis (6) propostas são da área de Música e que, somadas, resultaram em R$ 2.339.557,47 de investimentos neste segmento artístico. Quatro (4) propostas identificadas tendo como principal segmento ‘Áreas transversais: cultura associada a outras áreas’ somaram R$ 1.350.000. Uma (1) proposta de formação identificada como principal segmento ‘Moda’ no valor de R$ 376.294,79. Uma (1) proposta de formação no segmento do ‘Patrimônio Imaterial – Saberes: conhecimentos, técnicas, modos de fazer, ofício, culinária’ no valor de R$ 305.100,00. Uma (1) proposta publicada na área da formação identificada como principal segmento ‘Audiovisual’ no total de R$ 120.000,00 e uma (1) proposta de formação identificada como principal segmento ‘Dança’ no valor de R$ 49.263,00 com o menor valor aprovado para financiamento em formação, via Fazcultura, no biênio 2014/2015. Tabela - 3 Principais segmentos de propostas de formação (Fazcultura-2014/2015) Principais segmentos Propostas Valor apresentado Áreas transversais: cultura associada a outras áreas 4 R$ 1.350.000,00 Audiovisual 1 R$ 120.000,00 Dança 1 R$ 49.263,00 Moda 1 R$ 376.294,79 Música 6 R$ 2.339.557,47 Patrimônio Imaterial – Saberes: conhecimentos, técnicas, modos de fazer, ofício, culinária 1 R$ 305.100,00 Total 14 R$ 4.540.215,26 Fonte: Dados trabalhados pela autora Estes números apontam a disparidade que há entre as linguagens e projetos culturais que atuam com formação fomentados via Fazcultura. Isto quer dizer que não podemos abandonar nosso papel de fiscalizador como sociedade civil ou como artistas. É preciso observar para nos mobilizarmos. O Fundo de Cultura da Bahia - FCBA, “instituído pela Lei 9.431/2005, é o instrumento legal que garante que uma parcela da arrecadação do ICMS do Estado deve ser investida na área cultural.” (Secult/BA, 2017). Também é gerido pela Secult/BA e tem o objetivo de “incentivar e estimular as produções artístico-culturais baianas”. Como é de conhecimento da maioria, o fundo de cultura custeia “sem reembolso, total ou parcialmente, projetos e atividades estritamente culturais de iniciativa de pessoas físicas ou jurídicas de direito público ou privado.” Ao contrário do Fazcultura, as propostas culturais apoiadas pelo FCBA são propostas sem apelo mercadológico que coincidentemente não atendem as demandas da iniciativa privada. Uma das linhas de apoio do FCBA é chamada de Editais Setoriais. E como o próprio nome já indica, os editais setoriais são organizados por setores como Dança, Teatro, Música dentre outros. Neste artigo tratamos dos Editais Setoriaisda Dança de 2014 e 2016. Ou seja, onde propostas relativas à circulação, produção, formação, pesquisa entre outros disputam o mesmo edital. No Edital Setorial de Dança de 2014 foram conveniadas 15 (quinze) propostas. Ou seja, os quinze responsáveis pelos projetos assinaram o Termo de Acordo e Compromisso – TAC, somando o total de R$1.363.880,90. O Edital Setorial de Dança de 2016 teve investimento total de R$ 1.500.000,00 (um milhão e quinhentos mil reais) com 116 (cento e dezesseis) propostas recebidas e 16 (dezesseis) selecionadas e 15 (quinze) conveniadas somando o total dos TACs em R$1.459.904,00. Então, nos relatórios Setoriais de Dança do FCBA de 2014 e 2016, pois, 2015 não houve chamada via edital, verificamos que trinta (30) propostas constam em situação de ‘conveniadas’ totalizando R$ 2.823.784,90 em investimentos na área da Dança. No que diz respeito à divisão territorial das propostas, o levantamento demonstra que destas trinta propostas conveniadas, somente sete (7) territórios foram contemplados. Vinte e uma (21) propostas são de proponentes do município de Salvador e da região Metropolitana. Considerando que um (1) proponente é da cidade de Camaçari, um (1) de Candeias, um (1) de Lauro de Freitas, um (1) de Simões Filho e 17 (dezessete) da capital soteropolitana. Duas (2) propostas de Juazeiro, território do Sertão do São Francisco; duas (2) de São Félix no Recôncavo; uma (1) de Itacaré no Litoral Sul; uma (1) de Lençóis na Chapada Diamantina; uma (1) de Valença no Baixo Sul, uma (1) de Ribeira do Pombal no Semiárido Nordeste II e uma (1) de Palmeiras na Chapada Diamantina. Como o objeto de cada proposta dentro do mesmo edital é diverso, foi necessário categorizar cada uma das propostas com base na descrição dos objetivos preenchidos pelos proponentes. Nós consideramos como ‘formação’ ações que envolveram oficinas, formação de plateia, worshops, formação continuada, e qualificação. Não que as outras ações presentes como criação de espetáculo ou circulação não possa ser considerada um tipo de formação. Mas, o que ocorre é que, estes outros projetos considerados da nossa perspectiva como ‘formação’ deixaram explícitos em seus objetivos determinadas nomenclaturas que (re)afirmam a intenção de ter a formação como ação nuclear na proposta cultural. Sendo assim, constatamos sete (7) propostas tendo como ‘principal natureza’ dos projetos a ‘formação’, totalizando R$ 685.409,90. Esses dados equivalem a quase 30% de investimentos na área da formação em Dança no estado da Bahia. Somados os investimentos na área de formação em Dança no Estado da Bahia via editais Fazcultura e FCBA temos o resultado de R$734.672,90 dissolvidos em dois ou três anos. Esse número é aproximado quando consideramos, por exemplo, que vários projetos executam ações periféricas de formação como oficinas, ações de formação de público, palestras, bate-papos, ensaios abertos e outras, mas, não definem a formação como ação nuclear dos projetos culturais. Depois de clarificarmos alguns dados sobre investimentos em formação e formação em dança na Bahia, podemos esclarecer alguns pontos desta reflexão. O principal motivo de pensarmos a formação foi por conta da interrogação que paira sobre nossas cabeças quando se pensa sobre “estudos de público” das artes do espetáculo em geral, mas, particularmente da dança. E concomitantemente articulado com outras dimensões da reflexão inicial chega-se a hipótese de que é necessário haver formação em geral, mas também formação de públicos. Por que quando se tem público, e não queremos dizer que devemos nos sujeitar aos desejos de um público, existem condições para a sustentabilidade das manifestações artísticos/culturais acontecerem sem o subsídio exclusivo do financiamento público. Mas, para isso realmente e efetivamente acontecer é necessário o fomento inicial através do apoio dos mecanismos de financiamento públicos da cultura. No entanto, refletindo sobre a questão da sustentabilidade, do mercado cultural e da importância do financiamento na área da formação, percebe-se que, longe de resolver demandas do campo, entendemos que é muito importante começarmos juntos a debater sobre o assunto. Sabe-se que uma parte significativa de atividades culturais é financiada através da atuação no mercado (SARAVIA, 1999). E segundo Silva (2015, p. 11) “este financiamento acontece na medida em que o resultado da atividade cultural é uma mercadoria que é colocada no mercado para venda e aferição de lucro, tanto pelos artistas que a realizaram, quanto pelos grupos envolvidos na produção da mercadoria, ou as empresas.” Mas, também existem grupos que se autofinanciam, ou seja, bancam seus custos de produção quando colocam suas “produções à venda e, assim, as financiando com os recursos que seu público lhes dedica para ter direito de usufruir de suas criações.” (SILVA, 2015, p. 11). E muitos outros grupos, coletivos e companhias se mantêm assim conjuntamente com seus outros empregos que muitas vezes não têm nada a ver com a área artístico/cultural. No entanto, sabemos que hoje no Brasil a isenção fiscal é o principal mecanismo de financiamento a cultura. E quais as implicações dessa predominância? Sabemos que a principal implicação se atém ao fato dos recursos públicos estarem submetidos às regras dos departamentos de marketing das empresas privadas. Sabemos também que propostas culturais que não tem apelo mercadológico não ‘lhes’ interessa por conta de não atrair muitos públicos/consumidores, ou seja, “retornos”. As novas linguagens, a dança dita ‘contemporânea’ ou a performance art são ótimos exemplos de atividades que não tem uma boa aceitação do grande público e do mercado. Então são expressões que ficam quase que totalmente sob a tutela do FCBA. E como alinhar a isenção fiscal com as políticas públicas da cultura existentes no estado da Bahia, por exemplo? Será que, da forma que funciona, o Programa Fazcultura contribui mesmo para estimular o desenvolvimento cultural da Bahia? Sabemos que a isenção fiscal, no caso do Fazcultura, é baseado em aspectos administrativos, mas, precisamos discutir mais sobre o Programa e lutar para o estabelecimento de critérios importantes também para a comunidade artístico/cultural. Colocar em pauta discussões em torno do volume de recursos destinado a cada área, a quantidade de projetos apoiados em cada linguagem ou expressão artística e levar em consideração a demanda da comunidade artística em cada segmento. Pois bem, um dos objetivos da ‘formação’, em geral é também formar apreciadores. Logo formar um determinado tipo de público, emancipado esteticamente, é pensar que eles não se atêm ao simplório discurso do gosto. Ao contrário entre estes existe maior flexibilidade em aceitar a diversidade de manifestações e por isso é interessante que se patrocine propostas com objetivos de formação. Estimular a fruição através da visitação a equipamentos e espaços culturais e artísticos, ou melhor, incentivar o acesso a eventos artísticos/culturais implica planejamento de ações de formação ou mediação cultural. É preciso então ter metas e objetivos claros que proporcionem acesso a atividades, através da formação, para pensarmos em ampliação de público e também de mercado. É necessário também que mais recursos orçamentários alimentem o fundo de cultura para que isso ocorra e é preciso que a distribuição territorial seja correspondente às demandas locais. Podem não ser semelhantes, mas podem estar em concordância. É necessário descentralizar e capilarizar os recursos, ou seja, fazer com que sejam melhores distribuídos tanto no Fazcultura quanto no FCBA em várias dimensões.É preciso retirar da dependência o acento do “apelo mercadológico” das propostas do Fazcultura e retirar da dependência o acento na “insuficiência do apelo mercadológico” do FCBA. Nada do que foi argumentado até o momento é novidade já que “todas as propostas têm importância e significado”. E é por isso que os Planos de Cultura tem previsto e/ou discutido ou deveriam discutir sobre a destinação dos recursos através de estratégias e ações. Para equalizarmos os discursos, para agirmos com mais responsabilidade e equidade compartilhando as decisões. Será que a sociedade baiana está de acordo com a alocação destes recursos apontados neste artigo? Será que estas informações ficam claras para a maioria dos cidadãos para que possam refletir ou ficam a mercê de um grupo seleto? De acordo com esse breve levantamento de dados e essa humilde reflexão que compartilhamos, concluímos que precisamos de novas diretrizes para os investimentos na cultura no estado da Bahia, que inclua a ‘formação’, é claro. É preciso sair da centralidade e partirmos para distribuição equitativa tanto dos investimentos, quanto no que diz respeito à regionalidade. Enfim, diante destes primeiros apontamentos percebe-se que talvez ainda seja necessário amplo debate e deliberação sobre o significado e atuação dos mecanismos que ainda restam no panorama de financiamento e fomento à cultura no cenário baiano. E se é que é possível chegarmos a números que satisfaçam o fomento/financiamento à formação na área da dança. Sabemos que transformações e mudanças demandam tempo e não esquecendo e muito menos desconsiderando o atual governo deste nosso país, agora que é urgente mesmo pensarmos em resoluções ou nos prepararmos como der para o futuro ainda incerto. Não trago soluções nesta conclusão somente a certeza da necessidade de continuarmos debatendo e acreditando. Referências Bibliográficas BAHIA. (Estado) Secretaria de Cultura do Estado da Bahia. Programa Fazcultura. Salvador: Secult/BA, 2017. Disponível em: http://www.cultura.ba.gov.br/. Acesso em: 20 dez. de 2017. ______. Secretaria de Cultura do Estado da Bahia. Fundo de Cultura. Salvador: Secult/BA, 2017. Disponível em: http://www.cultura.ba.gov.br/. Acesso em: 20 dez. de 2017. MARTINS, M. H. Democratização Cultural: Um desafio a ser enfrentado. 2007. Disponível em: <http://www.blogacesso.com.br/?p=63>. Acesso em 20 dez. de 2017 SILVA, R. Financiamento da Cultura. Porto Alegre: Ministério da Cultura/UFRGS/EA, 2015. 47p. - (Módulo 8. Apostila do Curso de Extensão em Administração Pública da Cultura) ONU. Assembleia Geral das Nações Unidas. Declaração Universal dos Direitos Humanos. 1948. Disponível em:< http://www.onu.org.br/img/2014/09/DUDH.pdf>. Acesso em 19 dez. de 2017. SARAVIA, E. Que financiamento para que cultura? O apoio do setor público à atividade cultural. Revista de Administração Pública (Impresso), Rio de Janeiro, v. 33, n.1, p. 89- 119, 1999.