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CIÊNCIA DO COMPORTAMENTO conhecer e avançar 4 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015 7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! INDEX BOOKS GROUPS Copyright © desta edição: ESETec Editores Associados, Santo .Andre, 2004. Todos os direitos reservados Dias, André Luiz Freitas et al. Ciência do Comportamento - Conhecer e Avançar. - Vol.4. Orgs. André Luiz Freitas Dias, Adriana Cunha Cruvinel, Eduardo Neves de Cillo. 19 ed. Santo André, SP: ESETec Editores Associados, 2004. 196p. 23cm 1. Psicologia do Comportamento e Cognição 2. Behaviorismo 3. Psicologia individual CDD 155.2 CDU 159.9.019.4 ESETec Editores Associados Direção Editorial: Teresa Cristina Cume Grassi Capa: Flávia Castanheira Agradecemos a todos que, direta ou indiretamente, colaboraram com a produção deste material. Cabe um crédito especial à designer Flávia Castanheira, que nos presenteou com um trabalho de especial beleza e sensibilidade. Solicitação dc exemplares: cset@uol.eom.br Rua Santo Hilário, 36 - Vila Bastos - Santo André - SP CEP 09040-400 Tel. 49905683/44386866 www.esetec.eom.br INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015 7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! INDEX BOOKS GROUPS CIÊNCIA DO COMPORTAMENTO conhecer e avançar A d r ia n a C u n h a C r u v in e l A n d r é L u iz F r e it a s D ia s E d u a r d o N e v e s d e C illo Organizadores A d é u a M aria d o s S a n to s T eik e ir a A na C ar m en O liveira D olabela A nna E dith B ellico da C osta A n d r éa R o d r ig u e s V iana E liane M ar y d e O live ir a F alc o n e É rik L uca de M ello E rn aní H e n r iq u e F azzi H en r iq u e C o ü t in h c C er q u e i ra Jo ã o C arlos M ljniz M a r t in e l u JUDSMAR B o \ENTE BARBOSA Ju n ea R ez e n d e A ra ujo M an uela G o m e s L o p es M a r c o A n to nio A maral C he q u e r M ar ia C r ís h a n a S e ixa s V illani M aria R eg ina B arbosa A ss u n ç ã o M a r t in a R íllo O t e r o R enata G u im a r ã e s H orta R o b e r to G o m e s M a r q u e s R o b so n N a s c im e n t o da C r u z R o n a ld o R g c r ig j e s T eix e ir a J u n io r S onia M ey er T atiana A r a ujo C arvalho ESETec Editores A ssociados 2004 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015 7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! INDEX BOOKS GROUPS T rib uto P ó stu m o à P r o fa . D ra . CAROLINA MARTUSCELLI BORI Nos dias 16 e 17 de agosto de 2003, realizamos a IV Jornada Mineira de Ciência do Comportamento em Belo Horizonte. Naquela ocasião, contamos com a presença da Professora Dra. CAROLINA MARTUSCELLI BORI e tivemos a sorte, a felicidade e o privilégio de homenageá-la por sua importante participação no surgimento e no avanço da Ciência do Comportamento em Minas Gerais. O Volume 4 do livro CIÊNCIA DO COMPORTAMENTO-CONHECER AVANÇAR, que edita os trabalhos daquele evento científico, não poderia deixar de registrar, mais uma vez, o apreço dos mineiros àquela brilhante e querida professora e o profundo pesar experimentado com o seu recente falecimento. A atuação da Professora Dra. CAROLINA MARTUSCELLI BORI, junto aos Cursos de Psicologia, nos níveis de graduação e pós-graduação, no Brasil é de conhecimento público. Desde a primeira formulação, na década de 60, do currículo mínimo para os Cursos de Psicologia, a grande mestra, juntamente com parceiros igualmente notáveis, procurou destacar a necessidade de uma formação científica para os profissionais da área correspondente. Esse instrumento legal vigorou cerca de quarenta anos. No final dos anos 60, já era reconhecida por seu investimento bem sucedido na divulgação e introdução da ANÁLISE EXPERIMENTAL DO COMPORTAMENTO e da TECNOLOGIA DE ENSINO dela derivada em diversos Cursos de Psicologia. V INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015 7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! INDEX BOOKS GROUPS Nos anos 70, promoveu a instalação de programas de pós-graduação em Psicologia em diversas instituições universitárias. Presidiu diversas sociedades científicas com destaques para a SOCIEDADE BRASILEIRA PARA O PROGRESSO DA CIÊNCIA (SBPC) e a SOCIEDADE BRASILEIRA DE PSICOLOGIA (SBP). Fundou, editou e promoveu diversas revistas com o objetivo de estimular a publicação científica no campo de estudos da Psicologia. Em 1999, presenteou nossa comunidade com um documento que apontava novas DIRETRIZES CURRICULARES PARA O CURSO DE GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA, ao participar da Comissão de Especialistas encarregada de formular tal proposta a pedido do Ministério de Educação e Cultura (MEC). Novamente, pudemos identificar seu compromisso com a melhoria da formação científica dos estudantes de Psicologia. Essa proposta, após vários ajustes, foi finalmente aprovada pela Câmara de Educação Superior do Conselho Nacional de Educação (CES/CNE/MEC) em 12/04/ 2004. Sem dúvida, os cursos de graduação em Psicologia obtiveram grandes ganhos com a nova legislação que embute uma visão prospectiva e mais rigorosa da formação cientifica e profissional correspondentes. As novas DIRETRIZES CURRICULARES corrigem a perda de identidade científica observada nos Cursos de Psicologia, a partir dos anos 70. Diante dessa sucinta amostra de contribuições da Professora Dra. CAROLINA MARTUSCELLI BORI para a formação em Psicologia no nosso País, é natural que nos sintamos consternados e que lamentemos profundamente a perda de sua presença física em nosso meio acadêmico. No entanto, reconhecemos que a importância de seus trabalhos extrapolou os limites contidos na dimensão física de nossas relações, tendo sido incorporada num nível muito mais abstrato e racional de nossas histórias, constituído pelo conjunto de idéias e valores que nos legou. Como herdeiros acadêmicos legítimos, estaremos apropriando-nos desse legado, dando continuidade aos sonhos, ideais e objetivos da grande mestra. A Professora Dra. CAROLINA MARTUSCELLI BORI está viva em cada um de nós que tivemos o privilégio de conviver com ela como alunos e amigos e, em conseqüência, na sucessão de gerações de nossos alunos e amigos. A continuidade de suas influências está assegurada e passará, sem dúvida, de geração a geração por um longo período de tempo. Levaremos adiante seus sonhos, ideais e objetivos, especialmente, o de tornar a Psicologia uma ciência forte e influente em todos os campos de estudo que incluam o comportamento humano entre suas variáveis relevantes. Convém registrar ainda, e em destaque, uma contribuição cientifica da Professora Dra. CAROLINA MARTUSCELLI BORi muito relevante mas INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015 7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! INDEX BOOKS GROUPS pouco conhecida em nosso próprio meio acadêmico. Em 1974, privilegiando trabalhos sobre ensino e educação, descreveu um procedimento muito eficaz para planejar o processo ensino/aprendizagem, agregando-lhe a propriedade de tornar-se efetivo para todos os alunos. Aqueles que tiveram a oportunidade de lidar com tal procedimento, além de confirmarem sua eficácia, puderam verificar a possibilidade de expandi-lo como instrumental metodológico para a pesquisa e especialmente para a aplicação da ANÁLISE DO COMPORTAMENTO em situações sociais de quaisquer naturezas. Talvez, esse instrumental, descrito e utilizado por ela, constitua a contribuição mais original e significativa da produção científica em Psicologia no Brasil. De uma maneira muito sucinta, propõe a identificação de contingências de interesse paraum trabalho, seja lá qual for, seguida de sua programação por novas contingências, conforme os princípios da ANÁLISE EXPERIMENTAL DO COMPORTAMENTO, em função de um objetivo visado. Com esse procedimento, pode-se intervir e planejar em qualquer nível e em qualquer ambiente psicossocial. O futuro poderá confirmar a propriedade desse instrumental metodológico. A produção acadêmica da Professora Dra. CAROLINA MARTUSCELLI BOR) é imensa e pode ser identificada nos trabalhos de seus inúmeros alunos e na sucessão de alunos de seus alunos. As suas concepções, o seu rigor metodológico, o seu grande conhecimento de Psicologia e a sua sabedoria como ser humano estão gravados nesses trabalhos. Finalmente, inspirados por ela e irmanados, reafirmamos nosso propósito de realizar o seu sonho e ideal de tornar a Psicologia uma ciência forte e influente nos demais campos de investigação científica. ADELIA MARIA SANTOS TEIXEIRA 25/10/2004 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015 7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015 7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! INDEX BOOKS GROUPS S um ário T r ib u t o P ó s t u m o à P r o f a . D r a . CAROLINA MARTUSCELLI BORI A délia M aría do s S an t o s T e ix e ir a ........................................................................................................................ C o n t r ib u iç õ e s d a A n á l is e d o C o m p o r t a m e n t o p a r a R e f l e x ã o s o b r e RESPONSABILIDADE SOCIAL M artina R i l lo O t e r c ....................................................................................................................................................... A n á l is e F u n c io n a l d o C o m p o r t a m e n t o V io l e n t o n o s g r a n d e s c e n t r o s u r b a n o s M aria C ristiana. S eixas V il l a n i............................................................................................................. C o m p o rta m e n to A n t i-s o c ia l: O q u e o s S e h a v io r is ta s r a d ic a is tê m a d iz e r R o b erto G o m es M a r q ues e M ar ia R eg ín a B a r bo s a A s s u n ç ã o ............................................................... Q u a l o p r o b l e m a d o C o n t r o l e C o m p o r t a m e n t a l ? R ob son N a s cim ento da C rijz. M aria C r ís iia n a S eixas V il l a n i................................................................... S o b r e C o m p o r t a m e n t o M o r a l e C u lt u r a R enata G uimarães H o r t a .............................................................................................................................................. O q u e é C o n t r o l e C o m p o r t a m e n t a l ? E rnaní H en riq ue F a z z í.................................................................................................................................................... A C o l o n iz a ç ã o S o c ia l d o Ín t im o J udsàiar B om en te B a r b o s a .......................................................................................................................................... A n á lis e do C o m p o rta m e n to , 'R e s p o n s a b ilid a d e ' S o c ia l e F o rm a ç ã o P ro f is s io n a l na UNIVALE J o ã o C a r l o s M u w M a r tin e lli e M a r c o A n to n io A m a r a l C h e q u e r ................................................ A t iv id a d e s d e e n s in o e m u m C u r s o d e P s ic o l o g ia : u m a A n á l is e C o m p o r t a m e n t a l R onaldo R o d r ig u e s T eixeira J ú n io r , H c ^ ío l “ C o u tin h o C e r c u eif .a e A délia M aría S antos T e ix e ir a .................................................................................................................................................................................. O C o n t e x t o d e P r e s t a r S e r v iç o s n a C l In ic a C o m p o r t a m e n t a l e R e s p o n s a b il id a d e S o c ia l M as c o A n to n io A m aral C h e q u e r e J oãc C arlos M un iz M artinelli V 1 13 19 23 29 35 45 57 73 89 ix INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015 7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! INDEX BOOKS GROUPS A n á l is e d a s C o n t in g ê n c ia s d e u m C a s o C l ín ic o d e T r a n s t o r n o O b s e s s iv o - CO M PU LSIVO É rik Luca de M e l l o .................................................................................................................... 9 7 A n á l is e d e C o n t in g ê n c ia s d o s C o m p o r t a m e n t o s d e N e t o n o F il m e “ B ic h o d e S e t e C a b e ç a s ": As im p l ic a ç õ e s da C l a s s if ic a ç ã o D ia g n ó s t ic a p a r a o T r a b a l h o d o A n a l is t a d o C o m p o r t a m e n t o J umea R eze n d e A raújo e M anuela G o m e s Lc p e s ............................................................................................. 117 A b a l o s n o P r o c e s s o T e r a p ê u t ic o : u m C o n v it e a T r o c a r a s L e n t e s . O P r o c e s s o T e r a p ê u t ic o d e M u d a n ç a d o P o n t o d e V is t a C o m p o r t a m e n t a l . A nd r éa R o d r ig u e s V ia n a ............................................................................................................................................... 127 P e s q u is a B á s ic a : u m E s t u d o s o b r e D e p r e s s ã o A na C armen O liveira Dolabela e T atiana A raújo C arvalho....................................... 137 U m m o d e l o C o g n it iv o d e R e s is t ê n c ia e m P s ic o t e r a p ia E liane M ary oe O liveira F alCo n e ............................................................................................................................. 141 P r o c e s s o s C o m p o r t a m e n t a is n a P s ic o t e r a p ia SoniaMeyer............................................................................................................................... 151 F o r m a ç ã o d o A n a l is t a d o C o m p o r t a m e n t o e R e s p o n s a b il id a d e S o c ia l Anna Edith Bellico da Costa..................................................................................................... \ 5 9 X INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015 7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! INDEX BOOKS GROUPS C o n t r ib u iç õ e s da A n á lis e d o C o m p o r t a m e n t o PARA REFLEXÃO SOBRE RESPONSABILIDADE SOCIAL Martina Rillo Otero1 As relações possíveis entre Responsabilidade Social e Análise do Com portamento podem ser exploradas a partir de diversos pontos de vista. Neste capítulo elas são tratadas a partir de dois pontos: um que pode ser chamado de "ético”, no qual levantam-se contribuições da Análise do Comportamento no delineamento do que seriam atuações mais éticas na nossa sociedade. O outro ponto é um esboço de análise com a identificação de possíveis contribui ções para a noção de “Responsabilidade Social”, a partir de conceitos da Análise do Comportamento. R esponsabilidade S ocial c o m o a ética na atuaçAo do a n a u s ta do com porta mento A Análise do Comportamento tem como objeto de sua investigação o comportamento. Dizer algo, aparentemente tão simples, tem duas implica ções: enquanto uma ciência, a Análise do Comportamento busca produzir um conhecimento que possa servir de instrumento para prever e controlar seu objeto - o comportamento. Além disso, comportamentoé entendido como a forma pela qual o organismo e o ambiente se relacionam. Se buscamos enten der o comportamento, temos que conhecer como se dá essa relação ~ não basta levarmos em consideração apenas aspectos do organismo, nem tampouco apenas dados do ambiente. Quando tratamos de comportamento humano estamos lidando, primor dialmente, com um ambiente social, ou seja, com um ambiente em que as 1 Pesquisadora òo Laboratório de Psicologia Experimental da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015 7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! INDEX BOOKS GROUPS outras pessoas, o que elas fazem, e os produtos do que fazem, são os princi pais aspectos que influenciam o comportamento (Skinner, 1953/1994). Se gundo Skinner (1953/1994) o comportamento social envolve a relação de pessoas entre si ou com um ambiente comum a elas. Ambiente social é a parte do ambiente que afeta o organismo e que é composto por outros organismos - direta ou indiretamente. Ao adotar a abordagem da Análise do Comportamento, entendemos, então: 1) o comportamento como a relação entre organismo e ambiente e 2) esse ambiente caracterizado primordialmente, no caso do comportamento humano, de um ambiente social. Dessa forma, assume-se que aquilo que fazemos - ou deixamos de fazer - altera, transforma ou configura, de maneira geral, o ambiente relevante no controle do comportamento de outros organis mos. Ao tratarmos da responsabilidade social como compromisso do analista do comportamento enquanto profissional e cidadão destaca-se portanto, o exercício de análise de seu próprio comportamento e da consequente refle xão acerca do ambiente que ele está contribuindo para configurar para o outro (vale a pena ver a análise feita por Holland, 1978 um tanto informal, não? Questão de estilo?). Nessa linha, destacam-se as contribuições da Análise do Comportamento acerca da algumas práticas sociais e suas conseqüências sobre os indivíduos que compõe a sociedade, (exemplos cairiam bem) O desenvolvimento da abordagem permitiu o acúmulo de conhecimen to sobre práticas sociais amplamente utilizadas para controlar o comporta mento de seus membros que têm efeitos indesejáveis sobre o indivíduo que poderiam e deveriam ser evitadas (Sidman, 1989/1995), assim como outras que poderiam ser estimuladas. Destacam-se aqui apenas alguns exemplos tanto das primeiras como da segunda: 1) evitar o uso de controle aversivo; 2) evitar o uso excessivo de reforçadores arbitrários e; 3) evidenciar o papel do ambiente na determinação do comportamento. E v it a r o u s o d e c o n t r o l e a v e r s iv o Do ponto de vista da Análise do Comportamento o comportamento se define como a interação entre organismo e ambiente e os componentes dessa relação são: uma situação antecedente, a resposta do organismo e a conse qüência dessa resposta. A ação do sujeito produz conseqüências no meio, que, por sua vez, controlarão a probabilidade de emissão de tal ação no futuro. O ambiente seleciona o comportamento, de modo que tanto a mudança como a manutenção do comportamento mantém relação com as condições ambientais. A relação entre esses três termos define uma unidade de análise comportamental chamada tríplice contingência. Utilizando uma classificação proposta por Sidman (1989/1995), "Gene ricamente falando, há três tipos de relações controladoras entre conduta e INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015 7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! INDEX BOOKS GROUPS conseqüências: reforçamento positivo, reforçamento negativo e punição” (p. 51). Resumidamente, o reforçamento positivo envolve a apresentação ou a produção de um estímulo reforçador que aumenta a probabilidade de emis são da resposta que o antecedeu ou da qual foi produto. O reforçamento negativo envolve a eliminação ou remoção de algum estímulo contingente à emissão da resposta, que também toma mais provável a emissáo dessa res posta no futuro. Nos dois casos de reforçamento a probabilidade de emissão da resposta é aumentada no futuro. Já a puniçào envolve uma resposta que “seja seguida ou pela perda de reforçadores positivos ou ganho dereforçadores negativos” (Sidman, 1989/1995, p. 59). Sidman (1989/1995) ressalta que “Esta definição nada diz sobre o efeito de um punidor sobre a ação que o produz. Ela não diz que punição é o oposto de reforçamento. Ela não diz que punição reduz a probabilidade futura de ações punidas” (p. 59). Apesar de comumente ser vista como uma estratégia de redução de determinados comportamentos, a punição não funciona dessa forma. A punição não garante a não emissão de uma resposta futura e, assim como outras estratégias coercitivas, causam extremo prejuízo para o organismo que é submetido a ela. Segundo Sidman (1989/ 1995): a “coerção entra em cena quando nos sas ações são controladas por reforçamento negativo ou punição” (p. 51). Há, ainda, outro tipo de controle que também pode ser caracterizado como coerci tivo, que submete o indivíduo à privação socialmente imposta: “Outro mau uso de reforçamento positivo é deliberadamente criar tipos de privações que tornamos reforçadores efetivos: prisioneiros primeiro são colocados em solitária e, então, se permite a eles ter contatos sociais como reforçamento por docilidade; primeiro submetidos a privação extrema de alimento, eles podem, então, obter alimento em retribuição por subserviência. Liberdade e alimento parecem reforçadores positivos, mas quando eles são contingentes a cessação de privações artificialmente impostas, sua efetividade é um produto de reforçamento negativo; eles se tornam instrumentos de coerção” (Sidman, 1989/1995, p. 61, grifos nossos). A utilização de punição, reforçamento negativo e privações socialmen te impostas no controle do comportamento definem o que Sidman (1989/1995) chamaria de controle coercitivo do comportamento. Já foram realizados estudos experimentais (Ver Sidman, 1989/1995 e Catania, 1998/1999 para alguns exemplos) e análises de práticas sociais (por ex. Sidman, 1989/1995) sobre os efeitos colaterais do uso de procedimentos aversivos para controlar o comportamento que evidenciam que: ... “mesmo quando a coerção atinge seu objetivo imediato ela está, a longo prazo, fadada ao fracasso. Sim, podemos levar pessoas a fazer o que queremos por meio da punição ou da ameaça de puni-las por fazer qualquer outra coisa, mas quando o fazemos, plantamos as sementes do desengajamento pessoal, do isola mento da sociedade, da neurose, da rigidez intelectual, da hostilidade e da rebelião" {Sidman, 1989/1995,p. 18). INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015 7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! INDEX BOOKS GROUPS Quando submetido a controle coercitivo, o organismo tem reações fisi ológicas que configuram respostas emocionais dolorosas, que identificamos como medo, dor, etc. Estímulos da situação antecedente à resposta que é punida adquirem propriedades aversivas, de forma que situações diversas que sinalizam esse tipo de conseqüência também tornam-se aversivas para o organismo. Poderíamos dizer que, numa sociedade em que a utilização de punição ou de controle coercitivo no geral é muito difundida, o mundo dos membros que a integram se torna extremamente aversivo. A Análise do Comportamento mostra que a utilização de controle coer citivo do comportamento, por punição, reforçamento negativo, ou privação socialmente imposta é extremamente questionável tanto do ponto de vista da eficiência do controle (já que a supressão da resposta indesejada é apenas temporária), como dos subprodutos que acarretam no indivíduo que é subme tido a ele. Segundo Sidman (1989/1995): “Os efeitos colateraisda punição, longe de serem secundários, freqüentemente têm significação comportamenta! consideravelmente maior que os esperados ‘efeitos principais”' (p.94). A iden tificação de tais subprodutos, a supressão temporária da resposta e o estabe lecimento de estímulos aversivos condicionados, faz com que a utilização de procedimentos coercitivos para controlar o comportamento deva ser evitada por analistas do comportamento. E vitar o uso excessivo de refo rçado r es a r b itr á r io s O uso de reforçadores arbitrários ou extrínsecos, apesar de necessária para estabelecer alguns repertórios (por exemplo o de ler) tem alguns desdo bramentos que tomam problemática a sua utilização excessiva. Reforçadores intrínsecos ou naturais são definidos como produtos naturais ou resultados “au tomáticos'' da resposta (Comunidad Los Horcones, 1992, Catania, 1998/1999). Já os reforçadores extrínsecos ou arbitrários são aqueles originados a partir de outras fontes que não a própria resposta (Comunidad Los Horcones, 1992, Catania, 1998/1999). No exemplo do repertório envolvido na leitura, reforçadores intrínsecos são aqueles associados à própria atividade ler e os reforçadores extrínsecos são aqueles como a aprovação da professora e a nota. A discussão existente é que, muitas vezes, o controle estabelecido por reforçadores arbitrários toma a ocorrência do comportamento dependente de agentes externos e, por isso, fica mais passível de manipulação deliberada por tais agentes. Respostas sob controle de reforçadores naturais são mode ladas mais rapidamente, já que a apresentação do reforço tende a ser imedi ata e ocorrendo saciação, apenas a resposta diretamente relacionada com aquele reforço é extinta. Comportamentos sob controle de reforçadores arbi trários podem ficar condicionados a situações muito restritas, nas quais o INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015 7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! INDEX BOOKS GROUPS agente responsável pela liberação do reforço está presente. Ainda no exem plo do repertório de ler, o aluno pode emitir as respostas apenas na presença do professor, de modo que o repertório de leitura fica sob controle dessa conseqüência e não de outras condições que seriam também desejáveis, como o prazer pela leitura. Finalmente, repertórios sob controle de reforçadores arbitrários tendem a envolver menos variabilidade ou menos criatividade (Comunidad Los Horcones, 1992). A utilização de reforçadores arbitrários é necessária em diversos casos de repertórios mais complexos em que é preciso planejar um processo em que o organismo passe a ser sensível às conseqüências naturais daquele comportamento. Porém, mesmo nesses casos, sua utilização deve estar inserida em um processo no qual haja perspectivas claras e planejamento da transferência do controle para os reforçadores naturais. E v id e n c ia r o papel do am b ien te na d eter m in aç ão do c o m po r tam en to . Da mesma forma como o analista do comportamento tem instrumentos para analisar seu próprio comportamento de modo a prever e refletir sobre as conseqüências de sua ação, ao evidenciar o papel do ambiente na determina ção do comportamento ele favorece que outras pessoas possam também en tender e manipular melhor seu próprio ambiente de modo a controlar melhor seu comportamento. Segundo Skinner (1971/1973): “Segundo o ponto de vista tradicional, o indivíduo é livre. É autônomo no sentido em que seu comportamento não tem causa. Pode-se, portanto, considerá- lo responsável por seus atos e puni-lo mereci da mente por seus erros. Esse ponto de vista, bem como as práticas dele decorrentes, deve ser reexaminado no momento em que a análise cientifica descobre relações insuspeitadas de controle entre o comportamento eo ambiente” (Skinner, 1971/1973, p. 19). Evidenciar o papel do ambiente na determinação do comportamento é uma questão especialmente difícil para o analista do comportamento, já que socialmente é rejeitada a idéia de que o comportamento é determinado e de que pode ser investigado e controlado. Porém, assumindo ou não tal determi nação, qualquer indivíduo tem seu comportamento sob controle de contingên cias. Negar o controle e rejeitar o fato de que o comportamento é determinado não muda em nada a realidade de que o comportamento é produto da relação do organismo com o ambiente. Ao negar o papel do ambiente, menos pessoas discutem e sugerem modificações para o ambiente no qual vivemos. Ao evi denciar o papel do ambiente na determinação do comportamento inaugura-se um espaço no qual as contingências que controlam o comportamento dos indivíduos da sociedade possam ser discutidas abertamente, de maneira que haja maior oportunidade de participação na definição de tais contingências. Podemos favorecer que as pessoas tenham instrumentos para elas mesmas INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015 7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! INDEX BOOKS GROUPS manipularem o seu ambiente de modo a direcionarem seu comportamento no sentido que elas e o conjunto considerarem adequado. C o n tr ibu iç õ es da A nálise do C om portam ento n a r eflexão so br e c o m po r tamentos socialm ente responsáveis Além da contribuição da Análise do Comportamento no sentido de indicar efeitos de algumas práticas sociais sob o comportamento, também é possível realizar uma análise da própria noção de responsabilidade social de modo a evidenciar aspectos relacionados com a evocação de tal conceito recentemente e, ainda, propor algumas contribuições na reflexão sobre a temática. Para proceder à análise da noção de “responsabilidade social” desta- ca-se, primeiro, a compreensão do termo "responsabilidade”. Segundo Skinner (1971/1973), quando dizemos, na nossa sociedade, que alguém é “responsá vel” por algo, estamos dizendo que ela é “merecedora", ou seja, estamos buscando identificar o ator que emitiu algum comportamento em questão. Skinner (1971/1973) evidencia que, na nossa sociedade, o ator considerado responsável pelo comportamento é o próprio indivíduo que se comporta, su postamente a partir de suas motivações internas. Se o comportamento é con siderado adequado dão-se créditos ao indivíduo “responsável”, e se o com portamento é considerado inadequado, ele é punido. A noção de que cada um é responsável por sua conduta é amplamente difundida e aceita na nossa sociedade e conflita com a visão de que o compor tamento é produto da relação entre o organismo e seu ambiente. Como já foi destacado, nessa visão socialmente aceita, o papel do ambiente na determi nação do comportamento é menosprezado em prol da supervalorização de motivações internas, vontades, propósitos e intenções do indivíduo. Dessa forma, quando são elaborados programas que visam mudar o comportamento dos indivíduos que integram a sociedade (e isso se faz a todo instante - na escola, no posto de saúde, pela televisão, nas prisões, pelo sistema de justi ça) busca-se fazê-lo especialmente por meio de ações que supostamente agirão sobre tais motivações internas. Numa visão comportamental são priorizadas estratégias de transformação das contingências ambientais rela cionadas a esse comportamento. Outra característica das estratégias de controle do comportamento da nossa sociedade, é que elas são baseadas prioritariamente em controle aversivo (Sidman, 1989/995). Quer dizer, nossa sociedade, usualmente, con trola o comportamento de seus membros pelo uso da punição, reforçamento negativo ou de privações socialmente impostas. Para evitar que o indivíduo roube, são criados prisões e outros tipos de castigo. Os alunos são motivados INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015 7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões!INDEX BOOKS GROUPS a estudar pela ameaça da nota baixa ou da reprovação e as crianças são castigadas pelos seus comportamentos considerados inadequados. Esse processo resulta numa prática social amplamente difundida: se o agente identificado como responsável pelo comportamento é o próprio indiví duo que se comporta, é também sobre ele que recaem as estratégias de controle prioritariamente coercitivas amplamente utilizadas. Responsabiliza- se o indivíduo pelo seu comportamento e é ele que será punido caso sua conduta não seja considerada adequada. Dessa lógica derivam explicações como “o indivíduo comete crimes porque é violento, preguiçoso ou mau-cará- ter e deve ser castigado". A soòedade como um todo, o Estado e as condições oferecidas a esse indivíduo para que ele desenvolva outros comportamentos são menosprezadas. Ou seja, as condições ambientais presentes na história do indivíduo que estiveram relacionadas ao fato dele emitir esses comporta mentos são legadas a segundo plano e não são realmente consideradas na relação causal, nem tampouco objeto prioritário de transformação. A noção de responsabilidade como é utilizada usualmente serve especialmente como forma de atribuir culpa ao próprio indivíduo pelo seu comportamento. Segundo Sidman (1989/1995), na nossa sociedade o fato de que as causas do comportamento são localizadas “dentro" do indivíduo, unido ao uso recorrente de controle aversivo e à conseqüente freqüência com que os indi víduos são submetidos a esse tipo de controle estiveram associados a um processo de distanciamento dos indivíduos de questões coletivas. Sidman (1989/1995) diz que “quando examinadas de perto, descobriremos que quase todas as formas de inação via desengajamento contém fortes componentes de esquiva" (p. 171). Quando o comportamento de um organismo é exposto à punição, qualquer resposta que interrompa a estimulação aversiva tende a ser reforçada - tende a ter sua freqüência aumentada no futuro. Esse processo é chamado fuga. A situação que precede a apresentação do estímulo aversivo ou a interrupção do estimulo reforçador passa a sinalizar a situação aversiva, passa a ser um estimulo pré-aversivo (Catania, 1998/1999). A apresentação do estímulo pré-aversivo pode já evocar respostas que evitam a situação aversiva. Chama-se esse processo de esquiva. Segundo Sidman (1989/1995), “esquiva é, então, outra forma de reforçamento negativo" (p. 136). Segundo Sidman (1989/1995) envolver-se com atividades relaciona das a interesses da coletividade tende a ter um alto custo de resposta. Quer dizer, para nos dedicarmos a atividades de interesse coletivo, temos que nos deslocar de outras atividades, e dedicar tempo a isso. Porém, mais importante do que o alto custo de resposta, Sidman (1989/1995) evidencia a aversividade que nossa sociedade estabeleceu em torno do envolvimento dos indivíduos em questões coletivas e que faz com que fujamos ou nos esquivemos delas. Ficamos suscetíveis a sanções quando nos envolvemos com questões de interesse da coletividade e também acompanhamos de perto alguns com INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015 7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! INDEX BOOKS GROUPS portamentos de indivíduos de modo a identificar falhas ou ações ilegais. Jus tamente pelo fato de que socialmente tais comportamentos foram tratados com punição, os indivíduos se protegem uns dos outros, evitando situações de monitoramento e avaliações de suas atividades. Dessa forma, “botar a boca no trombone”, como diria Sidman (1989/1995), e alertar sobre tais com portamentos e suas conseqüências, tende a nos colocar em situações aversivas. Assim, tendemos a não nos envolver com essas situações ou ain da, ser coniventes com tais comportamentos. Além disso, quando estamos tratando de questões que envolvem inte resses de outros corremos o risco de ferir tais interesses, ou de interferir de maneira a transformar as condições que normalmente são reforçadoras para alguns indivíduos, apesar de aversivas para outros. E ao lidar com possíveis perdas para alguns, novamente ficamos suscetíveis a sanções e punições por parte deles. Finalmente, o produto desse processo é uma sociedade marcada por indivíduos que se abstém de envolver-se nas questões de interesse coletivo, e na qual predomina a apatia e a insensibilidade a realidades desumanas e cruéis. Porém, Segundo Sidman (1989/ 1995): “Mais cedo ou mais tarde uma política naciona de evitar a responsabilida de social deve terminarem catástrofe nacional. A polarização econômica inevitavel mente leva á conclusão social violenta. Evitando problemas atuais, garantimos choques severos mais tarde; os gatos gordos de hoje estão criando seus filhos e netos para o desastre. Entretanto, conseqüências atrasadas controlam fracamente o comportamento:‘Deixe que se defendam sozinhos”’ (p. 170). “Recusar-se a tomar uma decisão é em si mesmo uma decisão; acreditar que realmente nos abstemos de envolvimento, que nos isentamos da responsabi lidade, é uma ilusão. Somos criaturas sociais e mesmc nos refreando de agir terá seus efeitos em outros" {p. 171). Segundo Sidman (1989/1995) esse processo de desengajamento está relacionado com a situação do mundo atual, o qual corre o risco de ser extinto, com os recursos ambientais sendo consumidos numa velocidade acelerada, a produção de poluição, a desigualdade social, a violência, o crescimento populacional... Um mundo no qual interesses econômicos e políticos de indi víduos e setores da sociedade se sobrepõem a interesses coletivos. E é nesse contexto, justamente, que vemos parcelas da sociedade evocarem a noção de “responsabilidade social"2. Numa perspectiva comportamental a responsa bilidade social não é uma “coisa" que alguém “possui", mas sim, comporta mento. A partir da análise realizada e do que afirma Sidman (1989/1995) acima, podemos chamar de comportamentos socialmente responsáveis aque : Algumas organizações sociais têm discutido esse conceito no âmbito do 3a Setor, como por exemplo: o Instituto Ethos (http://www.ethos.org.br/), o Red Puentes (http://www.redpuentes.org} e o IBASE (www.ibase.br). INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015 7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! INDEX BOOKS GROUPS les que têm como produto sua parcela de contribuição na construção de um mundo que garanta a sobrevivência das futuras gerações ou, como diria Skinner (1978) comportamentos que “levam o futuro em conta" - e isso implica em melhorar as condições em que vivemos. E que tipo de contribuição a Análise do Comportamento pode oferecer no sentido de planejar um ambiente que favoreça a emissão desses comportamentos? Diversas características relacionadas com o processo de instalação e manutenção de comportamentos mais adequados para a sobrevivência da espécie fazem com que mudar o rumo que vem sendo tomado não seja tarefa simples. Em primeiro lugar, como foi discutido, há “interesses* contrários en volvidos, condições reforçadoras para uns (pelo menos mais imediatamente), são condições aversivas para outros. Em segundo lugar, a produção de um ambiente melhor e o estímulo a comportamentos mais adequados para a sociedade não dependem do comportamento de um só indivíduo, mas de um conjunto muito grande deles. E, além disso, não há apenas uma resposta ou uma classe de respostas envolvidas com aquele produto, mas uma diversida de de cadeias comportamentais longas e complexas. Porém, mesmo com to das essas dificuldades e complexidades não temos como “cortar caminho” e o primeiro passo para alguma solução real deve ser assumir que mudanças na sociedade implicam em mudanças no comportamento dos indivíduos que fa zem parte dela. Com o foco da análise no comportamento decada indivíduo envolvido nesse processo (ou seja, todos nós), devemos perguntar como fazer para colocar o comportamento sob controle de uma conseqüência tão distante tem- poralmente, como essas que viemos tratando até agora. Diversas pessoas pensam: "Extinção dos recursos naturais? Poluição e camada de ozônio? Vio lência? Desigualdade Social? Isso não vai acontecer comigo!". Ou como diz Sidman: <;Deixe que [nossos filhos, as futuras gerações] se defendam sozi nhos”. Em primeiro lugar, os procedimentos para que as pessoas levem o futuro em conta" (Skinner, 1978) não deveriam mais depender apenas de justificativas “internas” ou do uso de controle aversivo. Como vimos anterior mente, foi desse jeito que chegamos até a situação em que estamos. É neces sário buscar soluções que estejam baseadas na mudança da relação entre os indivíduos e seu ambiente. A proposta de evidenciar o pape! do ambiente na determinação do comportamento, discutida na primeira parte deste texto, vai nesse sentido, assim como a promoção de estratégias de controle que não sejam aversivos ou que utilizem excessivamente reforçadores arbitrários. Em segundo lugar, a Análise do Comportamento pode sugerir algumas alternativas de procedimentos e mudanças no ambiente dos indivíduos de modo a fazê-los levarem "o futuro e conta” (Skinner, 1978). Já sabemos que o INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015 7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! INDEX BOOKS GROUPS comportamento é controlado pelas suas conseqüências. E, além disso, que quanto menor for o intervalo temporal entre a resposta e a conseqüência, mais poderoso será o controle (para ver algumas razões para que esse tipo de sensibilidade tenha sido estabelecida nos organismos ver Skinner, 1978). Respostas com conseqüências atrasadas são mais difíceis de serem instala das e mantidas. Mas se esse é justamente o caso, então o que podemos fazer? Skinner (1978) sugere alguns esquemas e estratégias em que a res posta pode ficar sob controle de uma conseqüência atrasada que não serão tratadas neste texto. Destacam-se aspectos relacionados com o papel da cul tura nessas estratégias. Segundo Skinner (1978): “O fato é que práticas cutturais estão envolvidas naquelas contingências de reforçamento imediato que geram comportamentos que têm conseqüências remotas, e isso provavelmente aconteceu em parte porque essas conseqüências têm fortaiecido a cultura, permitindo que ela possa resolver seus probiemaseaté sobreviver71 (p. 24). Skinner sugere, portanto, que há comportamentos que têm conseqü ências atrasadas, mas que também podem estar sob controle de conseqüên cias imediatas (aprovação social, por exemplo) e que a cultura cumpre um papel importante no estabelecimento e na liberação de reforçadores imedia tos para tais comportamentos. Nosso ambiente social pode prover conseqü ências imediatas para comportamentos que têm como conseqüências atrasa das que são prejudiciais para a própria cultura. Portanto, se busca-se (qual se?) ser mais eficiente no estabelecimento e manutenção de comportamentos que levam o futuro em conta”, devemos assumir que eles dependem de um controle ambiental e que uma parte extre mamente importante desse ambiente é o contexto social em todos os níveis: os amigos, a família, colegas de trabalho, as instituições governamentais. Nós somos parte desse ambiente do outro e aí a nossa pequena contribuição: na criação de situações antecedentes e conseqüentes do comportamento dos outros que favoreçam comportamentos que tenham produtos positivos para a sociedade e não nos abstendo desse papel, apesar das dificuldades discuti das nesse texto. A oportunidade criada pela Jornada Mineira de Ciência do Comporta mento, em 2003 e nessa publicação produto da jornada, se inserem nessa proposta e já são um passo na promoção de um espaço em que sejam discu tidos comportamentos que “levem o futuro em conta" e na criação situações em que comportamentos socialmente responsáveis sejam evocados e refor çados. 10 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015 7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! INDEX BOOKS GROUPS R eferências B ibliográficas: Catania, C .A .(^ % ) Aprendizagem.Poúo Alegre: Artes Médicas Sul. Comunidad los Horcones (1992). Natural Reinforcing: a way to improve Education. 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INDEX BOOKS GROUPS A n á lis e F u n c io n a l d o C o m p o r t a m e n t o V io l e n t o n o s G r a n d e s C e n t r o s U r b a n o s Maria Crisüana Seixas Villani' Temos visto constantemente à nossa volta e até mesmo no nosso pró prio comportamento um uso exacerbado de violência. O tempo todo somos invadidos por notícias de assassinatos, sequestros, roubos, depredações, espancamentos, estupros, acidentes de trânsito, entre outras formas de agressividade. Segundo Capelari & Fazzio (2001, p. 175), “agressão pode ser definida como um comportamento associado à apresentação de estimulação aversiva a outro organismo”. Consideremos, também, a possibilidade cada um de impor, a si próprio, estimulação aversiva. Muitas vezes agimos de ma neira a alterar nosso ambiente, produzindo conseqüências que irão submeter os outros e/ou a nós mesmos a situações de sofrimento e dor. Quando faze mos isso de forma deliberada e intensa, desconsiderando os direitos huma nos, estamos sendo violentos. A proposta deste trabalho é refletir sobre as contingências que produ zem e mantêm o comportamento violento das pessoas nos grandes centros urbanos. O que está colocado aqui não é algo novo ou estranho para nin guém; o que considero interessante e útil é poder abordar o fenômeno da violência com um olhar científico, o qual proporciona clareza e nitidez e, con seqüentemente, aponta alternativas para alteração do fenômeno, conside rando, é claro, as dificuldades implicadas nisto. Neste sentido, será necessá rio lançar mão da noção de contingência tríplice, já que nossa unidade de análise é uma classe operante e, como tal, ocorre em função de suas conse qüências e em função de determinadas condições antecedentes. O comporta mento violento então será analisado nesta perspectiva, ou seja, só poderá ser entendido ao se considerar suas relações com o ambiente em que ocorre. 1 Professora do Instituto de Psicologia da PUC Minas INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015 7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! INDEX BOOKS GROUPS As condições de controle aversivo — punição, reforçamento negativo e privação — são freqüentemente apontadas como sendo as principais res ponsáveis pela geração do comportamento agressivo (Sidman, 1995). Orga nismos submetidos à apresentação de estimulos aversivos ou à remoção de estímulos agradáveis quando se comportam estão sofrendo punição. Orga nismos que se comportam em função da retirada de alguma estimulação aversiva a qual estão submetidos estão sofrendo controle por reforçamentonegativo. Organismos que estão sofrendo restrições ou inacessibilidade à estímulos que lhe são necessários e aprazíveis estão em estado de privação. Estas írês condições são caracteristicamente aversivas, ou seja, implicam em algum tipo de sofrimento para quem as experimenta. A forma de nós humanos nos organizarmos em grupos nas cidades e nas instituições sociais de diversos tipos está basicamente configurada por interações coercitivas, aquelas que envolvem algum tipo de estimulação aversiva. Segundo Skinner,"estritamente definido, o governo ê o uso do poder para punir". (1994, p.319). Isto quer dizer que a forma de controle mais utiliza da em nossa sociedade é a coerção. Muito provavelmente porque este é um tipo de controle que produz resultados muito rapidamente. Afinal, é urgente nos livrarmos de algo que nos aflige; e, quando nos comportamos de maneira a conseguir isto, esses comportamentos ficam fortalecidos. A nossa vida como cidadãos é regulada por diversos deveres que somos coagidos a cumprir; desde, por exempto, pagar impostos até respeitar as leis de trânsito. Vamos respondendo de maneira adequada à essas normas em função de evitar desde multas até penas restritivas de direitos e de liberda de. Caso não respondamos de acordo com as regras sociais, somos então submetidos a estas e outras estimulações aversivas. Tais condições de con trole resultam não só nos comportamentos adequados ou na supressão dos inadequados, resultam também em comportamentos de contra-controle, den tre esses, o comportamento agressivo."... o uso de estimulação aversiva gera contra-controle, em geral também aversivo" (Andery & Sério, 1997). Podemos entender contra-controle como uma revolução na relação estabelecida, onde ocorre diminuição do desequilíbrio na distribuição do poder; desequilíbrio este, próprio das relações coercitivas. (Baum, 1999, cap. 11) Já foi amplamente demonstrado em laboratório (Sidman 1995) que sujeitos submetidos a estimulação aversiva exibem respostas agressivas, e, estas não só direcionadas à fonte do controle mas, direcionadas a qualquer outro organismo ou objeto que estejam ao alcance do sujeito. Um exemplo disto é o experimento onde um pombo tem sua oportunidade de comer inter rompida e sempre que isto acontece ele ataca seu companheiro. 14 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015 7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! INDEX BOOKS GROUPS ‘‘Mas a coerção induz mais do que o comportamento agressivo em si mesmo. Depois de ser punido um sujeito fará qualquer coisa que possa para ter acesso a outro sujeito que ele possa então atacar. (. ..) Para alguém que acabou de ser punido, a própria oportunidade para atacar prova ser um reforçador positivo." (Sidman, 1995, p. 221) Fácil concluir que as práticas coercitivas de nossa sociedade induzem comportamentos de contra-ataque, como por exemplo, manifestações públi cas que depreciam e agridem autoridades; depredações de escolas e de trans porte público; invasões e roubo de propriedades privadas; sequestros. Além disto, as práticas coercitivas funcionam como modelo de interação. Alguém que está submetido ao controle coercitivo pode imitar esse tipo de controle ao interagir com os outros, usando de agressividade e violência para obter deter minadas respostas de seus pares. Uma outra condição que foi investigada experimentalmente por Calhoun (1972) (citado em Namo & Banaco, 2001) e que mostrou-se propul sora de violência, foi a situação de superpopulação. Lugares pequenos com um grande número de indivíduos acarretaram o aparecimento do que os auto res chamaram de "patologias sociais”. Comportamentos como: canibalismo, maus tratos de mães para com seus filhotes chegando até ao abandono, lutas entre machos mais constantes e violentas, comportamentos de hiperatividade e depressão. Ainda que o estudo citado tenha sido realizado com não-huma- nos, não considero uma analogia forçada pensar em grandes centros urba nos como situações de superpopulação que probabilizam tais "patologias sociais”. Elas se apresentam em forma de violência no grupo. Basta pensar mos nos estádios de futebol em dias de jogos importantes, ou no trânsito engarrafado nas horas de pico, ou até mesmo no ônibus lotado a caminho da escola ou do trabalho. Estes são contextos nos quais, muito freqüentemente, vê-se assaltos a mão armada, seqüestras, brigas extremamente violentas que até resultam em mortes, tudo ocorrendo entre cidadãos comuns que suposta mente não agiriam dessa forma. Uma terceira condição que encontrei na literatura (Capelari e Fazzio, 2001) apontada como uma possível propulsora de comportamento violento é a condição de incontrolabilidade. Muitas vezes essas contingências envolvem exclusivamente reforçamento positivo e curiosamente podem gerar agressividade. Tal contexto de incontrolabilidade consiste numa contingência onde o indivíduo fica submetido a um esquema de reforço intermitente onde o reforço independe da resposta. Isto quer dizer que o aparecimento do estímulo reforçador é independente do comportamento do sujeito. As autoras deste estudo observaram o aparecimento de comportamento adjuntivo além do com portamento operante sob controle do reforço. Os comportamentos de agitação excessiva e agressividade seriam co-produtos da contingências de incontrolabilidade. Tal estudo me remete à uma situação largamente experi INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015 7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! INDEX BOOKS GROUPS mentada pelos jovens de nosso país: o fato de se prepararem durante cinco anos (em média) numa universidade, saírem para o mercado de trabalho a procura de um emprego, e, mesmo que empenhadíssimos nessa procura, ficam sem qualquer garantia ou previsão de arranjarem um trabalho através do qual possam se sustentar. Esta realidade configura uma situação de incontrolabilidade. Quem já viveu contingência análoga, experimentou senti mentos de revolta, injustiça, raiva e tornou-se potencialmente agressivo en quanto submetido às referidas condições. Tendo já explorado contextos que probabilizam a violência e também citado diversas formas do comportamento violento que estão constantemente presentes em nosso cotidiano, resta abordar as conseqüências desse operante, o que em última instância, é o que o mantém.. Quem agride e/ou impõe privações ao outro tem como conseqüência a submissão e a obediên cia imediata desse outro; ele estará também obrigando o outro a se comportar de maneira a fugir ou evitar tais imposições de estimulação aversiva. Agir violentamente implica em promover contingências aversivas para quem está em volta. Daí o caráter autoperpetuador da violência. Diz Sidman (1995): Coerção severa, então, gera uma contra-reação quase automática. Mas isso não termina aí. Retaliação bem sucedida provê reforçamento rápido e podero so. Aqueles que estavam por baixo tornam-se poderosos, aqueles que eram temi dos opressores agora buscam seu favor. É fácil ver como a agressão poderia se tomar um novo modo de vida para os inicialmente subservientes. O próprio sucesso da contra-agressão pode colocar em movimento uma estrutura autoperpetuadora de um modo de vida agressivo." (p.223) Vejo a atual situação das grandes cidades brasileiras como um ciclo vicioso de violência. As pessoas agredindo umas as outras de forma muito intensa e tendo esse comportamento reforçado pela obtenção de dinheiro, poder e: principalmente, reforçado pela destruição das fontes de estimulação aversiva e privação. Destruir e boicotar o sistema coercitivo, ao qual se está submetido, é contra-controle. Poder atacar e coagir quem nos coage é natural mente reforçador. Contudo, quem sofre a coerção irá provavelmente contra- atacar. Aí está uma bola de neve quecresce e cresce. E então? O que fazer para interromper esse ciclo vicioso de violência? Como acabar com uma contingência autoperpetuadora? Esta não é uma tare fa fácil nem tampouco rápida para se realizar; ao contrário, esta é uma jornada complexa, trabalhosa e infindável. Os analistas do comportamento e os cien tistas das áreas humanas em geral já investigam formas do comportamento e, principalmente, funções do comportamento. Ao conhecer como funcionam contingências comportamentais, sua dinâmica e seus co-produtos, os investi gadores esclarecem alternativas de comportamentos que resultam em ambi entes e indivíduos saudáveis. A Ciência do Comportamento vem descrevendo tipos de interação alegres, criativos, pacíficos e dinâmicos, que permanecem 1 6 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015 7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! INDEX BOOKS GROUPS em constante evolução. (Skinner, 1975; Skinner, 1978; Skinner, 1994; Brandão, Conte e Mezzaroba, orgs. 2002; Conte e Brandão, orgs., 2003; entre outros). Esse tipo de estudo pode e deve ser amplamente incrementado e mais, preci sa ser largamente divulgado. Não só no meio científico, mas em todos os âmbitos do comportamento humano. As relações comportamentais saudáveis devem ser de domínio público, devem ser acessíveis a todas as comunidades de todos os lugares do mundo. Obviamente, é preciso considerar que não há uma forma pré-determina- da de comportamento saudável, por isto, como já mencionei, esta é uma constru ção infindável e complexa. Diminuir sensivelmente o índice de violência nas grandes cidades não quer dizer que se deva acabar com o controle coercitivo, eliminar todas as formas de punição e estimulação aversiva. Até porque, isto nem é possível. O controle coercitivo faz parte da natureza e nunca deixará de existir posto que é intrínseco às relações entre os eventos do mundo. Assim sendo, são também genuínos os sentimentos de raiva, medo, agressividade e contra-ataque. O que podemos modificar, e então vivermos em ambientes mais confortáveis, seguros e divertidos, é o excesso de coerção, o uso indiscriminado e abusivo de punição e reforçamento negativo. Podemos também, planejando reforçadores condicionados eficientes, cuidar para que nossos comportamen tos fiquem sob controle de consequências de longo prazo, e não tão à mercê de fortes reforçadores imediatos que têm efeitos nocivos retardados. Além disto, podemos melhor dividir os espaços de nossa convivência social, assim como os bens de consumo evitando desta maneira, superpopulações e privações desne cessárias. Estas providências, ao serem tomadas, certamente irão acarretar numa grande diminuição do comportamento violento. A violência não tem uma única forma de ocorrência já que ocorre em função de múltiplas variáveis que atuam não só no momento presente. Por isto, a investigação das contingências de controle necessita considerar efeitos de curto, médio e longo prazo; necessitam considerar os produtos diretos e os co-produtos das interações; e ainda, considerar os efeitos dos relacionamen tos entre contingências. Isto implica em abordar metacontingências. Se traba lharmos neste sentido, teremos comportamentos eficientes tanto no que se refere à esfera pública quanto no que se refere à esfera privada, com efeitos colaterais, como violência, m inimizados. Teremos sociedades e indivíduos mais saudáveis. As alternativas para se viver em paz, com força, leveza e criatividade estão disponíveis para nós, porém, nem sempre se constituem no caminho mais fácil e ligeiro; elas exigem empenho e perseverança. A minha sugestão é que este jam os a tentos para essas a lternativas, procurando desenvolvê-las e possibilitar que nossos pares também o façam; que esteja mos empenhados em exercer interações respeitosas, que preservem o nosso bem estar e o bem estar dos outros. INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015 7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! INDEX BOOKS GROUPS R e f e r ê n c ia s B ib l io g r áfic as Capelari, A. & Fazzio, D. (2001) O Estudo da Violência no Laboratório. Em Kerbauy, R. & Wielenska, R. (org.) 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De acordo com Gomide (2001), a definição do termo comportamento anti-social é utilizado por Kasdin e Buela-Casal (1998) para se referir a todo comportamento que infringe regras sociais ou que seja uma ação contra os outros, tais como comportamento agressivo, comportamento infrator como furto, roubo, vandalismo, piromania, mentira, ausência ou fuga escolar, fuga de casa, entre outros. O DSM IV (APA, 1995) define o comportamento anti social como um padrão repetitivo e persistente de comportamento de violação aos direitos básicos dos outros e de normas ou regras sociais importantes apropriadas à idade. Já Patterson, Reid e Dishion (2002) definem comporta mento anti-social como eventos que são simultaneamente aversivos e contin gentes. Eles salientam que se deve descrever um evento anti-social e não uma pessoa anti-social. O termo contingente refere-se à conexão entre o comportamento do indivíduo e o de outra pessoa pertencente ao ambiente onde o evento ocorre. Esses autores preferemutilizar o termo anti-social ao agressivo, pois o primeiro descreve mais a natureza do comportamento do que o segundo. Esses comportamentos são respostas dadas pelo organismo dentro de determinadas contingências e se mantém em função de reforçadores. O behaviorismo radical fornece uma explicação desse comportamento anti-social sem recorrer a explicações mentalistas. Afirmar que o comporta mento agressivo ocorre em função de sentimentos, não ajuda muito. Segundo Skinner (2002, p. 184), 1 Aluno de Psicologia do Centro Universitário Newlon Paiva (B H } 2 Professora do Curso de Psicologia do Certro Universitário Newton Paiva (B.H.} INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015 7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! INDEX BOOKS GROUPS "não é de qualquer auxílio na solução de um problema prático, dizer-se que algum aspecto do comportamento do homem se deve à frustração, à ansiedade; precisamos também saber como a frustração ou a ansiedade foi induzida e como pode ser alterada.” Skinner traz, na sua teoria, uma ferramenta de fundamental importân cia para podermos entender e alterar o comportamento anti-social: a análise funcional. Essa análise implica a descrição de contingências e a relação de dependência dessas com o comportamento e, que nos possibilita descrever o valor funcional da agressão. Percebendo que emoções não são causas e sim respostas induzidas por uma classe de operações, podemos compreender o que mantém o comportamento anti-social. Para diagnosticar uma pessoa com comportamento anti-social, GOMIDE (2001), coloca que é necessário que este padrão de comportamento venha se mantendo já há algum tempo e com alta freqüência, por períodos duradouros. O que é diagnosticado é o padrão de comportamento e não o organismo. Este apenas responde a um conjunto de contingências e, se mudamos as contingên cias podemos mudar o padrão de respostas que são dadas pelo organismo. Sidman (1995), no livro Coerção e suas implicações, discute o modelo da nossa cultura que educa de forma coercitiva. Segunda ele, a punição e a privação levam o homem a apresentar comportamento agressivo. Observa-se que, somos punidos de várias formas possíveis por não nos comportarmos adequadamente e, quando apresentamos comportamentos desejados, não recebemos nenhuma gratificação ou algo que nos motive a manter esse pa drão de comportamento. A sociedade contemporânea convive com episódios que envolvem, em larga escala, comportamentos anti-sociais em crianças e adolescentes provavelmente em decorrência do contato com ambientes ameaçadores. O grande número de ocorrências que nos chegam através da mídia, focalizando o destino insólito de crianças que crescem nos ambientes da periferia da cidade, vivenciando privações materiais e a violência causada pelo tráfico de drogas demonstram a importância do entendimento dessa questão no Brasil. Apesar da intervenção de pessoas e organizações que se dedicam vo luntariamente, ao entendimento dessa situação e de algumas ações do poder público, constata-se que os resultados obtidos por esse trabalho não são efeti vos. Para que se processem intervenções mais eficazes, é necessário um co nhecimento mais aprofundado do assunto e de suas variáveis de controle. Torna-se importante assim, analisar funcionalmente o curso de desen volvimento do comportamento anti-social nas fases da infância e da adoles cência, mostrando que ele se inicia no ambiente familiar chegando até os grupos delinqüentes, nas ruas. Patterson, Reid e Dishion (2002), colocam que os atos aparentemente inofensivos observados no lar e na escola são os protótipos de comportamen INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015 7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! INDEX BOOKS GROUPS tos anti-sociais na adolescência. Eles afirmam também que a exposição muito longa à violência e à agressão, tanto na comunidade quanto na televisão, tem aumentado a extensão da aprendizagem de comportamentos agressivos nos tempos atuais. A exposição a episódios anti-sociais propicia a aprendizagem, onde a criança é inicialmente uma simples observadora e com experiência, passa a copiar os modelos daqueles personagens com que se identifica. Alem disso, através da aprendizagem por modelagem, a criança pode utilizar as birras, choros e outros comportamentos anti-sociais para obter controle sobre os pais. Esses comportamentos vão sendo instalados no repertório da criança na medida que os resultados são atingidos. Patterson e colegas (2002) descrevem quatro estágios de desenvolvi mento do comportamento anti-social. O primeiro estágio desenvolve-se na família onde os pais descrevem a criança como difícil e diferente dos outros, e proporcionam uma disciplina ineficiente com pouca monitoria das atividades da criança. O segundo estágio ocorre na escola, onde iniciam as reclamações sobre a criança nos aspectos da aprendizagem e inadequação em sala de aula, levando à rejeição das outras crianças e dos professores e aos déficits acadêmicos. O terceiro estágio descreve a reação do meio social e o fracasso neste ambiente impulsiona a criança a buscar apoio em ambientes alternati vos, isto é, rejeitada pelos colegas, ela procura grupos desviantes e aperfei çoa suas habilidades anti-sociais, buscando as drogas e cometendo peque nos delitos. O último e quarto estágio, via de regra, acaba levando o adoles cente para instituições correcionais. Segundo GOMIDE (2001), é basicamente uma seqüência de ação e reação. No primeiro estágio, as ações agressivas da criança se iniciam sem que os pais tenham habilidades de controle. No segundo estágio, o meio social reage e a rejeita. No terceiro estágio, ela busca apoio nos grupos desviantes. Este conjunto leva a casamentos prematuros e fracassados, em pregos caóticos e institucionalização, o quarto estágio. Skínner (2002) e Sidman (1995) questionam em seus livros o modelo coercitivo que predomina há tanto tempo nos sistemas familiares, educacio nais, legais e policiais onde a punição tem sido a única estratégia de controle de comportamento utilizada. O grande problema é que ela funciona de forma imediata e por isso parece mais eficaz. Entretanto, a punição produz efeitos colaterais tanto para quem pune quanto para quem é punido: os estímulos aversivos que são usados pelos adeptos da agressão no controle do compor tamento, eliciam sentimentos no agredido que dificultam a aprendizagem e a relação dele com outras pessoas; provocam o comportamento de fuga e es quiva que impedem o contato com situações de aprendizagem de repertórios comportamentais alternativos. 2 1 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015 7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! INDEX BOOKS GROUPS Para Sidman (1995), coerção é o uso da punição e da ameaça de punição para conseguir que os outros ajam como gostaríamos. Entretanto, embora ela possa produzir esse resultado - às custas dos inevitáveis efeitos colaterais - não oferece à criança ou ao adolescente qualquer caminho alter nativo para comportar-se construtivamente. Para Skinner (2002), a técnica de controle mais comum é a punição. Se o seu filho não se comporta de forma adequada, castigue-o, se um país não tem a mesma religião que a sua, bombardeio-o, sistemas legais e policiais funcionam com esquema punitivo e a sociedade ainda não abandonou a palmatória. O que aprendemos com os behavioristas radiciais é que devemos questionar que tipo de controle queremos: o controle coercitivo que sempre foi usado e que não tem trazido resultados satisfatórios, ou o controle por reforçadores positivos? Diante dos fatos, os cientistas buscam explicações que possam servir para identificar e modificar a situação, Os estudiosos daárea de comporta mento anti-social apresentam alternativas. Em particular os behavioristas ra dicais. A alternativa que temos para evitar a palmatória, a agressão, a violên cia, o vandalismo etc, é a de repensar a nossa cultura, como fez Skinner durante toda sua vida. Devemos abandonar a crença de que os controles coercitivos são absolutamente necessários para o bom funcionamento da sociedade. Segundo ele, as mudanças nas formas de controle interpessoais, de coercitivas para reforçadoras, poderiam resultar em uma qualidade de vida melhor, propiciando ambientes mais adequados para o desenvolvimento das crianças e adolescentes. R eferências Baun, W. (1999). Compreender o behaviorismo. Porto Alegre: Ed. Artmed. Gomide, P.l.C. (2001). Efeitos das práticas educativas no desenvolvimento do comporta mento anti-social. Em'Marinho, M.L, e Caballo, V. E. (org.): Psicologia Clinica e da Saúde, p.p. 33-53. Londrina: Ed. UEL. Patterson, G., Reid, J. e Dishion, T. (2002). Anti-social Boys: comportamento anti-socisl. Santo André: ESETEC Ed. Associados. Regra, J. (2002). A agressividade infantil. Em Silvares, E.F.M. (org): Estudos de caso em Psicologia clinica comportamentalinfantil. Vol 11.Campinas: Ed. Papirus. Sidman, M. (1995). Coerção e suas implicações. Campinas: Ed. Psy II. Skinner, B. F. (2002). Ciência e comportamento humano. São Paulo: Ed. Martins Fontes. INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015 7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! INDEX BOOKS GROUPS Q ual o p r o b le m a d o c o n t r o l e c o m p o r ta m e n t a l? Robson Nascimento da Cruz12 Maria Cristiana Seixas V illan i3 Q u a l o pro blem a do c o n tr o le com portam ental? Na realidade, podemos afirmar que o controle comportamental não é um problema. Para a Análise do Comportamento, ele é evidente, não há ne cessidade de discussão quanto a sua existência ou não. Porém, o uso da palavra controle exerce outra função para não-analistas do comportamento. Para a maioria das pessoas, é sinônimo de coerção, manipulação e controle aversivo. Aprendemos desde cedo que tal palavra é algo que exerce pressão ou força sob alguém ou alguma coisa. "Quem tem o controle da situação?” Essa pergunta caracteriza bem como esse conceito é entendido, algo unilate ral, que fica sempre do lado do mais forte e oprime o mais fraco. O ideal seria se questões sobre a existência do controle comportamental não existissem, já que uo controle da conduta peio ambiente físico e social é uma característica do mundo, exatamente como o controle de objetos físicos, reações químicas ou processos fisiológicos. Somos feitos assim’’. (Sidmam, 1989, p. 46). Mas sabemos que a aceitação de tal concepção não é um processo simples. Con trole como sinônimo de coerção é algo que vem sendo reforçado há séculos, e ramos da nossa sociedade tão importantes como a Ciência e a Filosofia ainda discutem, de maneira ineficaz, a existência ou não de uma lei do controle comportamental. Sidman diz que: “Controle comportamental não è uma questão de filosofia ou de sistemas pessoais de valor a serem aceitos ou rejeitados de acordo com nossa preferência. É ' Aluno do curso de graduação em Psicologia da Puc-Minas (São-Gabriel), End. Rua Agenor Alves n° 68. cep: 31990-040, Belo Horizonte. MG. E-mail: robsonncruz@ig.com.br 2 Bolsita dos programas de iniciação científica da Puc Minas (São-Gabriel) e Fapemig. 3 Mestre em Psicologia Experimentai, P ro f do departamento de Psicologia da PUC Minas. INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015 7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! INDEX BOOKS GROUPS "Controle comportamental não é uma questão de filosofia ou de sistemas pessoais de valor a serem aceitos ou rejeitados de acordo com nossa preferência. É uma questão de fato. Não faz sentido, portanto, rejeitar ou defender o controle comportamental. Peio contrário, as leis do controle exigem investigação. A noção pode nos desagradare mesmo amedrontar, mas as leis do comportamento são uma característica do mundo em que vivemos: não podemos repeli-las " (1989, pág, 46). Dessa maneira, são inúmeras as discussões que partem da seguinte questão: o comportamento é inerentemente controlado? Tal questão costuma ser transformada em outra: o comportamento deveria ser controlado? (Sidmam, 1989). Essa segunda pergunta, feita em geral por pessoas que discordam do controle comportamental, coloca o analista como um defensor do controle e, o que é ainda pior, faz surgir a idéia de ser o analista do comportamento o controlador, Ou seja, continuam a interpretar a situação como algo unilateral, como se o controle fosse defendido e inventado pela Análise do Comportamen to. Para tentar esclarecer esta questão, Skinner (1953/2000) e Sidmam (1989) utilizam a seguinte comparação: um físico não defende a lei da gravidade, e muito menos foi a Física que a inventou. Portanto, um analista do comportamen to não defende o controle comportamental, posto que não há motivos para defe sa. Ele é uma característica do nosso mundo assim como é a lei da gravidade, e a única coisa que podemos e devemos fazer é estudar e saber utilizar os bene fícios que possam ser adquiridos dessa investigação. Sidman diz que: “Controle existiria mesmo que não houvesse analistas do comportamento para nos contar a seu respeito. Faz sentido descobrir tanto quanto possamos, em vez de ignorá-lo. Justificadamente tememos o controle comportamental. A validade da questão Quem exerce ou deve exercer o controle?’ é independente de nossa orientação filosófica ou cientifica. Devemos respondê-la de novo e de novo. A única certeza èque a resposta não pode ser'Ninguém1.0 controle está sempre ai, não reconhecê-lo é esconder-se da realidade* {1989, pág, 47). É importante destacar que conflitos assim não são desconhecidos na História da Ciência. Skinner (1953/2000), em seu livro Ciência e Comporta mento Humano, nos alerta para a dificuldade de se aceitar novos paradigmas, principalmente quando esses nos dizem algo a respeito do comportamento humano. Skinner diz que: “A teoria copemicana do sistema soiar afastou o homem de sua proeminente posição de centro das coisas. Hoje aceitamos esta teoria sem emoção, mas inicialmente encontrou enorme resistência.''{)%2>l 2000, pág ,8). Sabemos que aceitar o controle do comportamento como uma lei uni versal é algo que a afasta o homem de sua concepção de agente livre, e, a princípio, isso pode ser um choque na visão tradicional de homem. Mas, a partir dos benefícios adquiridos através do estudo dessa lei, essa resistência será extinta, assim como a concepção de homem como centro do universo. Ao não aceitar a existência de uma lei universal do controle comportamental, estaremos ignorando a realidade e continuaremos, mesmo INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015 7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! INDEX BOOKS GROUPS assim, sendo controlados e controlando, mas não saberemos como isso ocor re. É também para esse ponto que gostaria de chamar atenção, porque, a partir do momento em que não a aceitamos, deixamos um enorme campo para pessoas, governos e instituições que a saibam utilizar para o próprio benefi cio. Dessa forma, podem influenciar o comportamento das pessoas, de acordo com seus interesses particulares. Uma vez que controle não é sinônimo de coerção, não significa necessariamente que estarão usando controle coerciti vo. Pode ser que usem o reforçamento positivo, porque assim acharemos que nos comportamos de maneira espontânea e não tenderemos a fugir ou esqui var de determinada situação. Muito pelo contrário, tenderemos a aumentar a probabilidade de emissão do comportamento. Como exemplos desse tipo de controle, podemos pensarem um governo que usa reforços positivos, como festas e comemorações, para que a população não perceba a verdadeira situação econômica e política em que se encontra o seu país, e uma empresa que oferece um prêmio em dinheiro para o funcionário que conseguir a maior produção do mês, sem que esse perceba que, para atingir essa meta, traba lhará duas vezes mais que o aceitável Esse tipo de controle não é raro e esconde, em geral, uma conseqüência punitiva atrasada. No segundo caso citado acima, poderíamos dizer que há o uso de um reforço positivo condicio nado (dinheiro) e que, a longo prazo, esse funcionário será punido através de doenças e outros inúmeros problemas originados desse trabalho em excesso. É interessante observar que, em nosso país, mesmo que tal funcionário seja um recordista em atingir os objetivos da empresa, dificilmente ele terá as mínimas condições de tratar de uma doença no futuro. Um dos principais obstáculos para se perceber esse tipo de controle é que os reforços positivos são em geral imediatos. Dessa forma, as conseqüên cias em longo prazo raramente são percebidas, Um outro exemplo que deixa essa situação bem evidente seria o uso de drogas, como o cigarro. O reforço positivo (sensação de prazer liberada pelo uso da nicotina) é imediato, e toma-se assim difícil a extinção de um comportamento que terá conseqüênci as somente depois de muitos anos. No caso do cigarro, a maioria das pessoas sabe dos possíveis malefícios que o seu uso acarreta, mas mesmo assim é tarefa árdua e muitas vezes sem sucesso a extinção do comportamento de fumar. A partir desses exemplos, podemos afirmar que agências governantes também podem usar reforços positivos e fazer com que nos comportemos da maneira mais favorável a eles, sem que questionemos o controle e, conseqüen temente, o seu modo de governar. Podemos usar aqui o conhecido exemplo da loteria citado por Skinner (1969/1984). Nessa situação, o governo, em vez de lançar um novo imposto, que traria a insatisfação geral da população e talvez até um ataque contra suas medidas, simplesmente cria um novo jogo da loteria, que INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015 7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! INDEX BOOKS GROUPS arrecadará a mesma ou maior renda. Desse modo, não há reações contrárias ao governo, e muito menos se pode alegar que alguém tenha sido obrigado a jogar. Nesse caso, poderíamos inocentemente achar que o governo não precisou exercer nenhum controle para que as pessoas jogassem, mas exerceu! isso nos faz questionar inevitavelmente o sentimento de liberdade tão defendido por nossa sociedade, considerado inquestionável e usado muitas vezes como um guia de conduta confiável. Skinner (1971/1984), ao discutir a questão da liberda de e formas de controle não-aversivas, afirma que: "O sentimento de liberdade converte-se num guia de conduta pouco digno de confiança logo que os supostos agentes de controle recorrem a medidas não- aversivas, como é provável que ofaçam para evitar os problemas suscitados pela fuga ou ataque dos elementos controlados. Tais medidas não são tão perceptíveis quanto as aversivas e atuam provavelmente de um modo mais ento, mas não deixam de revestir-se de vantagens óbvias que fomentam a sua aplicação”. (1971, 1984, pág. 32) O controle comportamental como lei científica é algo muito novo, e a explicação do comportamento através do homem como agente livre vem sen do reforçada há séculos. Entretanto, isso não quer dizer que esse tipo de explicação está correto. A situação atual nos mostra que conceitos como liber dade. justiça, dignidade e vários outros podem ser usados por países totalitá rios a fim de provocar guerras, que matam milhares de pessoas, com interesse único em manter a hegemonia econômica desses países. A mídia pode usar a liberdade de expressão para manipular comportamentos de consumo e defi nir padrões de comportamento muitas vezes incompatíveis com a realidade da maioria das pessoas, principalmente em países como o nosso. Poderíamos citar inúmeros exemplos concretos e bem explícitos em nossa sociedade, com o intuito de demonstrar como o controle é usado de forma “implícita”. Porém, esses poucos já mencionados nos mostram que não aceitar o controle é sim plesmente deixá-lo em outras mãos, que podem usá-lo de maneira inadequa da, uma vez que não percebemos a sua utilização. Sem a pretensão de concluir essa discussão e/ou responder a pergun tar que dá título a este trabalho, podemos afirmar que um dos problemas do controle comportamental é justamente não o aceitar ou aceitá-lo somente como controle coercitivo. É importante, também, ressaltar que uma lei do con trole comportamental pode parecer, a princípio, a retirada de um enorme refor ço positivo (o homem como agente livre), mas isso não quer dizer de maneira alguma que não temos escolha em relação à conduta de nosso comporta mento. Muito pelo contrário, só através da identificação das formas de contro le vigentes é que poderemos mudar o presente e planejar um futuro melhor tanto para o indivíduo quanto para a sociedade no qual ele está inserido. INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015 7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! INDEX BOOKS GROUPS R eferências Sidman, M. (2001). Coerção e suas implicações. (M AMatos, Trad.). Campinas, SP: Livro pleno (Trabalho original publicado em 1989). Skinner, B.F. (2000) Ciência e comportamento humano. (R. Azzi. J. C. Todorovjrad.). São Paulo, SP: Martins Fontes (Trabalho original publicado em 1953). Skinner, B.F. (1984) Contingências do Reforço: uma análise teónca. In Os Pensadores, vo!, II. São Paulo: Abril Cultural (Trabalhooriginal publicado em 1969). Skinner, B.F. (1972) O mito da liberdade (L.Goulart/M.L.Ferreira, Trad.). Rio de Janeiro: Bloch. Skinner, B.F. (2002) Sobre o behavtorismo (M. P. Villalobos, Trad.). São Paulo, SP: Cultrix (Trabalho original publicado em 1974). INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015 7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015 7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! INDEX BOOKS GROUPS S o b r e C o m p o r t a m e n t o M o r a l e C u ltu r a Renata Guimarães Horta As outras pessoas são importantes para nós como parte do nosso ambiente (Skinner, 1953/2000). Elas são mediadoras de reforçadores impor tantes para nossas vidas. Ao comportamento de duas ou mais pessoas em relação à outra, ou em conjunto em relação ao ambiente físico, chamamos comportamento social. A evolução do comportamento social pode ser exemplificada através de três tipos de comportamento tipicamente sociais (Skinner, 1989/2002): a imitação, que ajuda a superar as limitações do comportamento operante (ele prepara o organismo apenas para contingências semelhantes àquelas que selecionaram o comportamento); a modelação, onde um organismo conse gue evocar o comportamento de outro; e o comportamento vocal, que é uma maneira mais fácil de evocar o comportamento, além de, no humano, apre sentar outras vantagens, como a de explicitar contingências. O ambiente so cial funciona ao preparar o organismo para contingências que provavelmente ele viverá no seu futuro, mesmo que elas sejam extremamente diferentes daquelas vividas pelo organismo até então. O comportamento social se distingue em diversos aspectos do com portamento do indivíduo com relação ao ambiente físico.Ele é mais extenso, no sentido de que um mesmo comportamento pode ter diferentes conseqüên cias dependendo da ocasião em que é emitido, assim como diferentes com portamentos podem ter uma mesma conseqüência dependendo do organis mo eminteração. Ele também é mais flexível, já que se pode mudar o compor tamento em ocasiões onde a primeira resposta não foi reforçada (Skinner 1953/2000). As pessoas compartilham de um ambiente físico e social semelhante, isso faz com que se comportem de forma semelhante, assim como diferenças nesses ambientes podem gerar formas de agir diferentes. Por exemplo: as pessoas que moram em Belo horizonte possuem uma série de contingências semelhantes, e que diferem daquelas vividas pelas pessoas de Fortaleza ou INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015 7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! INDEX BOOKS GROUPS de Brasília. Pessoas que moram no mesmo bairro possuem, ainda, mais se melhanças em suas formas de agir, o que pode ser explicado por compartilha rem o mesmo ambiente social, a mesma situação financeira, por terem recebi do uma educação semelhante etc. Esses grupos que apresentam comportamentos semelhantes entre seus indivíduos, assumem práticas comportamentais que aumentam a probabilida de de solução dos seus problemas, logo, de sobrevivência do grupo. A inclu são dessas práticas no repertório o grupo segue o modelo de seleção por conseqüências, ou seja, o comportamento surge aleatoriamente e torna-se uma prática à medida que auxilia o grupo na solução de seus problemas. Essas práticas são chamadas culturais à medida que delimitam um meio social específico. O meio social em questão é a cultura, formada por regras (entre elas os valores) e leis que determinam o comportamento de seus indivíduos e, por sua vez, descrevem as práticas anteriormente citadas. A Cultura representa um ambiente poderoso e muito diferente do ambi ente que encontramos na natureza. Ela nos propiciou dominar parte conside rável do ambiente natural, superar problemas causados por práticas inade quadas e adotar outras que em nada guardam semelhanças com os compor tamentos encontrados no ambiente físico. "É por isso que strictu sensu o con ceito de prática cultural, isto é, o conjunto de práticas culturais que definem uma cultura, é, de um lado, controle da natureza e, de outro, invenção de práticas jamais vistas na natureza”.(Abib, 2001). Podemos definir a cultura, então, como conjunto de práticas comportamentais semelhantes aos indivíduos de um grupo, e que caracteri zam esse grupo, que vive em contingências de reforçamento sociais e natu rais semelhantes - contingências semelhantes levam a comportamentos se melhantes (Skinner, 1953/2000). Segundo Skinner a cultura: "... é um conjunío de contingências de reforço mantidas por um grupo possivelmente formuladas pormeb de regras e leis, a cultura tem uma condição física bem definida; uma existência continua para além das vidas dos membros do grupo; um padrão que se altera à medida que certas práticas lhe são acrescentadas, descar tadas ou modificadas; e, sobretudo, poder; uma cultura, assim definida, controla o comportamento do grupo que as pratica( Skinner 1974/2000, págs 173-174). Uma das características da cultura mais importantes para o presente artigo, é que a cultura serve ao grupo, não aos indivíduos desse grupo que a mantém, mas aos indivíduos do futuro desse grupo. Por isso Skinner afirma da ”... existência contígua para além da das vidas dos membros do grupo..." (Skinner, 1974/2000). No entanto, como foi dito, a cultura é mantida pelo grupo em seu pre sente. E esse grupo é formado por indivíduos que são susceptíveis a reforçadores imediatos, sejam eles naturais ou condicionados. Essa suscepti- INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015 7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! INDEX BOOKS GROUPS bilidade é importante, na natureza, para a sobrevivência da espécie. Por outro lado, quando no meio cultural, não é nada funcional uma vez que a principal contribuição da cultura é servir como mediadora do futuro. O que acontece é que a susceptibilidade a reforçadores imediatos pode selecionar práticas que não trazem vantagens para a cultura, no sentido que não beneficiam, ou, não implicam em contingências de reforçamento, para esse futuro, e, ao contrário, representam contingências de reforço apenas para o indivíduo. São as práticas as quais chamamos individualistas, como o consumismo, o egoísmo, a corrupção, a drogadicçâo etc. “Portanto, pode-se dizer que algumas práticas culturais têm um valor de sobrevivência enquanto outras são letais no sentido genético" (Skinner, 1953/ 2000). As práticas que são "letais no sentido genético” colocam em risco a sobrevivência da espécie. É o caso do consumismo que negligencia a capacidade de nossas reservas em prol do reforçamento individual. Seja através do consumo de combustíveis (que também causam poluição), do consumo exagerado da água e da madeira etc. Sabemos que em longo prazo essas práticas colocam em risco a sobrevivência da nossa cultura, ou seja, das gerações que ainda estão por vir. No entanto, vislumbrar esse futuro distante não nos faz abandonar tais práticas, simplesmente por que as conseqüências estão distante demais no tempo para exercer efeito sobre o nosso comportamento. O imediatismo da natureza na cultura, então, vai contra seu valor de sobrevivência, sendo o valor de sobrevivência da cultura, o valor de sobrevi vência dos membros do futuro de uma cultura. Ou seja, esse valor implica em contingências de reforçamento para os membros do futuro, um futuro do qual nenhum de nós fará parte, e que não nos serve como reforçador primário ou condicionado, e por isso é chamado intangível (Abib, 2001). O que poderia, então, contribuir para o valor de sobrevivência da cultu ra? O que viabiliza o controle do imediatismo é a prioridade pelo bem do outro, o altruísmo onde não existe interesse pessoal, a moralidade que transcende o bem prudência! (Abib, 2001). Sendo o bem prudencial aquele que fazemos ao outro apenas ao relacionar com nosso próprio bem. “O desafio pode ser respondido através da intensificação das contingêna- as que geram o comportamento em direção ao bem alheio, ou salientando os benefícios individuais negligenciados anteriormente; tais como os conhecidos por segurança, ordem, saúde, riqueza e sabedoria. Possivelmente de forma indireta, outras pessoas trarão o indivíduo sobre o controle de algumas conseqüências remotas de seu comportamento, e o bem do outro; então, resultará no bem do próprio indivíduo’’(Skinner, 1971/1983, pág. 96). O Valor, em uma cultura, são os reforços que a permeiam (Skinner, 1971/1983), como fazer com que a sobrevivência de uma cultura possua valor INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015 7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! INDEX BOOKS GROUPS reforçador? Criando um ambiente que reforce o comportamento altruísta, ou associando o bem do outro com bens pessoais, ou ainda aumentando o grau de sensibilidade dos indivíduos às conseqüências de seu comportamento. O valor moral é, em última análise a forma ideal de zelar pelo valor de sobrevivência da cultura. É ele o responsável por transcender as práticas imediatistas da natureza na cultura. O comportamento moral como prática cultural fortalece a função da cultura de servir ao grupo, e não aos seus indiví duos aumentando a probabilidade de sobrevivência dessa cultura. Seus re forços serão usufruídos pelas gerações futuras. Abib (2001) sugere algumas formas do comportamento moral, que de vem orientar práticas de sobrevivência da cultura, tais como: conhecimento, habilidades, tolerância, cooperação, apoio, compaixão, justiça, paz, ordem, preservação do meio ambiente. Superar o imediatismo da natureza na cultura Agências controladoras que geram desequilíbrio entre bens pes soais e bens dos outros (públicos), fazendo isso a seu favor e em níveisalém do suportado geram comportamento amoral, ou imediatistas (ex: consumismo que negligencia a capacidade de nossas reservas). i “Nenhum equilíbrio razoável poderá ser alcançado enquan to os benefícios mais remotos forem neaiiaenciados oor um individu alismo ou liberalismo extremos, ou enauanto o equilíbrio for arre messado tão violentamente em outra direção por um sistema de çxploraçâo. Presume-se que haja uma condição ótima de equilíbrio onde todos seiam reforçados ao máximo. Mas. afirmar isso implica em introduzir um outro tipo de valor. Por que deveria alouêm se interessar oela iustiça ou merecimento, mesmo se estes oudessem ser reduzidos à manÍDUÍação adeauada de reforços T (Skinner, 1971). j -------------------------------------------------------------------- 1------------------------------- ---------------------------------- i------------------------------------- t Como estabelecer, manter e reforçar o valor de sobrevivência da cultura? - ► A disponibilidade de reforçadores faz com aue o indivíduo não preci se recorrer ao imediatismo. Valor moral 4 - Figura 1: Condições para superar o imediatismo da natureza na cultura. INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015 7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! INDEX BOOKS GROUPS Dizer que a prática de comportamento moral aumenta a probabilidade de sobrevivência da cultura, está inserido num ponto de vista mais abrangente que se relaciona com a aplicação do modelo de seleção natural à seleção das culturas. Uma vez que já vimos que esse modelo se aplica as práticas cultu rais, podemos observar que, supondo que a prática de comportamento moral é responsável por aumentar essa probabilidade, não estamos falando em competição de culturas (Abib, 2001). E isso de fato não é necessário, e de certa forma parece entrar em conflito com a prática do comportamento moral uma vez que pode justificar práticas imediatistas. Também não é necessário imaginar um ápice evolutivo, ou uma cultura ideal, o que também não fazemos ao considerar a evolução das espécies. Mas, podemos dizer que a evolução de uma cultura parece estar claramente ligada a progressiva sensibilidade de seus membros às consequências de suas ações, ou seja, a cultura evoíui no sentido de aumentar, em seus mem bros, a sensibilidade desses às conseqüências de seus comportamentos (Abib,2001). Estabelecer essa direção pode nos ajudar em diversos aspectos. Sa bemos que essa evolução acontece ocasionalmente, mas a direção pode nos dar um instrumento importante para a possibilidade do planejamento de mu danças e adoção de novas práticas. A importância da moralidade no que se refere á sobrevivência da cultu ra, nos leva a repensar as contingências que controlam esse aumento de sensibilidade ás conseqüências. Elas têm ocorrido ao acaso ao passo que o planejamento cultural poderia acelerar a possibilidade de uma vida melhor para as próximas gerações. Nesse sentido o papel do analista do comporta mento é fundamental. Quais caminhos vislumbramos para o planejamento de contingências que estabeleçam e mantenham comportamentos morais? A princípio pode mos concluir que garantir os bens pessoais, ou identificar os bens pessoais com os bens dos outros ou da própria cultura, poderiam ajudar. Mas esse é um tema que deve envolver muita pesquisa e tecnologia. Além disso, considero de extrema importância que o analista do com portamento, seja qual for sua área de atuação, contribua para o estabeleci mento da prática do comportamento morai, ajudando a aumentar a sensibili dade daqueles com quem convive e trabalha, às conseqüências de seu com portamento. Afinal, a Sobrevivência das culturas está no âmago da questão da Responsabilidade Social, tema da IV Jornada Mineira de Ciência do Compor tamento. INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015 7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! INDEX BOOKS GROUPS R eferências Abib, J.A.D. (2001). Teoria Moral de Skinner e Desenvolvimento Humano. Psicologia: Reflexão e Crítica, 11(1)107-117. Skinner, B.F (1983). O Mito da Liberdade. (L. Goulart e M. L F. Goulart, Trad). Rio de Janeiro: Bloch Editores. (Trabalho originai publicado em 1971), Skinner, B.F. (2000). Ciência e Comportamento Humano. (J. C. Todorov e R, Azzi, Trad.). São Paulo: Martins Fontes. (Trabalho original publicado em 1953). Skinner, B.F (2000| Sobre o Behaviorismo.{M. P. Villalobos, Trad). São Paulo: Editara Cultrix. (Trabalho original publicado em 1974). Skinner, B. F. (2002). Questões Recentes na Análise do Comportamento. (A. L Néri, Trad). Campinas: Papinjs. (Trabalho original publicado em 1989). 34 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015 7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! INDEX BOOKS GROUPS 0 q u e é C o n t r o l e C o m p o r t a m e n t a l? 1 Ernani Henrique Fazzi2 Se pedirmos a uma pessoa, ainda pouco familiarizada com o vocabu lário técnico da Análise do Comportamento, para nos dizer o que ela imagina ser “controle comportamental”, é bem provável que ela o relacione com algu ma forma de dominação onde alguém dispõe de seu poder para subjugar os mais fracos, retirando deles a liberdade e a felicidade. “A noçâo de controle comportamental faz com que muitos tremam e, para alguns, é impensável." (Sidman, 2001, p. 44). Apesar de todo este temor, a Análise do Comportamen to muito tem pesquisado sobre o assunto, e não podemos negar o fato de que tal empreitada tem gerado violentas objeções. A afirmação de que “O compor tamento é controlado o tempo inteiro” (Skinner, 1995a, p. 152) gera repulsa, medo, insegurança; dá a sensação de que somos prisioneiros do destino. Pode até parecer engraçado, mas grande parte destas objeções acon tece em função de simples equívocos de linguagem, de pequenas falhas na comunicação. Na Análise do Comportamento, a palavra "controle’1 é definida de modo diferente daquele empregado em nosso dia-a-dia. Assim, é natural que o desconhecimento de tal definição técnica leve muitas pessoas a reagi rem negativamente aos estudos sobre o controle comportamental, visto que elas aprenderam ao longo de suas vidas que controle é algo maléfico, perigo so, que precisa ser evitado a todo custo. "Os termos controlador e controlado têm conotações históricas pejorativas, uma vez que o controle sempre foi usado em benefício do controlador. As prescrições de Maquiavel geralmente enfatizavam os procedimentos destinados a beneficiar o soberano e não o vassalo.” (Ferster, Culbertson e Boren, 1982, p. 284). Em função destes mal-entendidos, é preciso tentar esclarecer o que de fato é controle comportamental. Aqui, esclarecer, implica em separar o joio do trigo, ou seja, separar o sentido técnico do sentido popular. Uma melhor com preensão sobre o vocabulário da Análise do Comportamento, tanto ajuda a diminuir o preconceito existente, quanto abre as portas para o acesso a outros temas que fazem parte do corpo teórico-metodológico desta disciplina, pois, ' Uma versão preliminar do presente trabalho foi apresentada na IV Jornada Mineira de Ciência do Comportamento, realizada em Belo Horizonte nos dias 16 e 17 de agosto de 2003. 5UFMG e UNIPAC/Barbacena INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015 7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! INDEX BOOKS GROUPS como disse o já referido Maquiavel, “uma mudança sempre cria a base para uma mudança sucessiva.” (Maquiavel, 2000, p. 16). 1. C omo a A nálise d o C omportam ento D efine a Pala v r a C ontro le Para a Análise do Comportamento, controle é uma “modificação siste mática ou manutenção do comportamento por mudanças nas condições rele vantes.” (Catania, 1999, p. 394). Emoutras palavras, controle é a influência que o ambiente exerce sobre o nosso comportamento. É bom lembrarmos que o ambiente envolve tudo aquilo que pode nos influenciar: as coisas, as pesso as, as plantas, os bichos, e também o nosso corpo e a nossa história de vida. Ser controlado pelo ambiente é ser influenciado pelo mundo onde vivemos. E isto não causa estranheza a ninguém! Todos sabemos que agimos e reagi mos ao mundo, que influenciamos e somos influenciados por ele. Enquanto o sentido popular da palavra controle está ligado àquilo que é indesejável, seu sentido técnico é bem mais abrangente: engloba qualquer influência, seja ela desejável ou indesejável. Nas palavras de Matos (1999): "(...) o comportamento é dito controlado quando ele está (isto è, quando nós assim somos capazes de descrevê-lo) funcionalmente relacionado a variáveis ambientais (isto é, a eventos físicos e sociais, dentre os quais estão eventos encobertos e outros comportamentos do próprio organismo). Causa é sinônimo de função, que é sinônimo de controle, que é sinônimo de descrição de relações funcionais.” (Matos, 1999p. 10) Neste sentido, identificar o controle comportamental é o mesmo que identificar as causas do comportamento. É isto que a Análise do Comporta mento quer conhecer: por que as pessoas se comportam de uma determinada maneira? Ou seja, o que leva alguém a se comportar de forma alegre ou triste, amorosa ou agressiva, corajosa ou medrosa. É uma pena que a palavra “con trole” possa gerar tamanha confusão! Com o auxílio de uma metáfora, podemos dizer que o controle é uma moeda na qual um de seus lados, a “coroa", simboliza as influências do rei tirano, aquilo que é indesejável, O outro (ado representa as influências amis tosas, saudáveis, edificantes. É hora de começarmos a dar maior atenção a esta outra “cara” do controle comportamental. Definido o termo técnico controle, é chegada a hora de visualizá-lo, em nossas relações sociais. 2 . A P resen ç a d o C o ntrole C om po rtam ental nos F enôm enos S o ciais Assim como separamos o sentido técnico do popular, na definição da palavra “controle”, é bom começarmos este item fazendo o mesmo com “soci al”. Em seu sentido popular, o social é identificado com o relacionamento humano. Para a Análise do Comportamento, o social não se limita a uma INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015 7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! INDEX BOOKS GROUPS interação entre humanos: engloba os seres vivos em geral. Para Keller e Schoenfeld (1968): "(...} os estímulos sociais não diferem nas suas dimensões dos outros estímulos. Ao contrário, a diferença é só de origem, provêm de outro organismo, do seu comportamento, ou de produtos de seu comportamento. £ ainda mais; os estímulos sociais não diferem quanto à função daqueles de origem inanimada (...).’ (Keller e Schoenfeld, 1968, p. 369. Itálicos no ongtnal.). E quando um fenômeno social exibe controle comportamental? A res posta é: sempre! Nas mais diversas interações sociais, é óbvio o fato de que um ser vivo influencia o outro e, para a Análise do Comportamento, isto equi vale a dizer que um ser vivo controla o comportamento do outro. Quando, por exemplo, alguém sorri ao ouvir uma piada, é correto dizer que a piada contro lou o riso. Antes de passarmos para o próximo item, seria bom se você tentasse brincar com a seguinte frase: todo fenômeno social exibe alguma forma de controle comportamental, mas nem toda forma de controle comportamental pode ser considerada um fenômeno social. Captou a mensagem? Se não, basta pensar no fato de que o controle é a influência que o ambiente exerce sobre o nosso comportamento, e que este ambi ente não é apenas social (seres vivos). É também físico (coisas inanimadas), bioló gico (nosso corpo) e histórico (tudo que aprendemos ao longo da vida)3. 3 . A lgum as Info rm açõ es A d ic io n ais so br e o C o n tr o le C omportam ental Para que esta caminhada possa nos conduzir a uma maior compreen são sobre o controle comportamental, é importante darmos mais seis passos. Em cada um dos seis sub-itens seguintes (3.1 a 3.6), será apresentada uma informação adicional sobre o controle comportamental. Cada informação será ilustrada com um exemplo, que foi retirado das mais variadas tendências lite rárias: psicanálise, filosofia, educação familiar, poesia, religião, e de um relato pessoal. Mas por que diversificar os exemplos? Por que não buscar todos em textos de Análise do Comportamento? A idéia de trabalhar a diversidade con siste em demonstrar, mesmo a partir de uma pequena quantidade de exem plos, que o controle pode ser verificado em qualquer manifestação comportamental humana, independentemente da linguagem usada para descrevê-la. 3 .1 . A QUESTÃO DO CONTROLE Ê ANALISADA PELAS MAIS DIVERSAS DISCIPLINAS. Como foi dito anteriormente, a Análise do Comportamento não é a única disciplina a falar sobre o controle. Muita gente tem falado sobre o assun 3 0 texto de Todorov (1989) é uma boa sugestão para o leitor interessado em conhecer estes vários níveis de ambientes. INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015 7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! INDEX BOOKS GROUPS to de forma mais ou menos explícita. Vejamos um exemplo nas palavras de Sigmund Freud (1996): "(...) a análise, ao reivindicara cura das neuroses assegurando o controle sobre o instinto, está sempre correta na teoria, mas nem sempre na prática, e isso porque ela nem sempre obtém êxito em garantir, em grau suficiente, as fundações sobre as quais um controle do instinto se baseia."(Freud, 1996, p. 245) Alguém pode imediatamente pontuar que a palavra “controle” pode ter aparecido neste texto de Freud apenas por coincidência. Que pode ter sido uma escolha do tradutor, visto que o original não foi escrito em Português. Se Freud não utilizou o vocabulário técnico da Análise do Comportamen to, por que podemos dizer que ele analisou o controle comportamental? Pode mos dizer isto porque Freud analisou as influências que o ambiente exerce sobre o comportamento dos indivíduos. Relendo o exemplo, podemos perceber que ele está falando tanto das influências que o psicanalista é capaz de exercer sobre o comportamento do paciente durante o tratamento, quanto daquelas influências que a vida tem exercido sobre o comportamento deste paciente. As palavras podem ser mais ou menos parecidas, mas Freud está falando sobre aquilo que a Análise do Comportamento chama de “controle". Talvez esta seja uma boa lição para que fiquemos mais atentos às relações analisadas do que às palavras utilizadas para descrevê-las, isto é, devemos valorizar a essência e não a aparência. 3 . 2 . É POSSlVEL FALAR SOBRE 0 CONTROLE COMPORTAMENTAL SEM UTILIZAR A PALAVRA “c o n t r o l e ” . A lição retirada do item anterior, que consiste em valorizar a essência e não a aparência, faz-se necessária também em função desta segunda infor mação adicional: é possível falar sobre o controle comportamental sem utilizar a palavra “controle”. Vejamos um exemplo retirado de um livro do filósofo francês Michel Foucault: “Todo sistema de educação é uma maneira política de manter ou de modificar a apropriação dos discursos, com os saberes e os poderes que eles trazem consigo." (Foucault, 1996, p. 44). Mediante esta citação, surge a seguinte pergunta: onde está o controle comportamental? Mesmo relendo-a várias vezes, não podemos identificar a palavra “controle”. E então? Devemos recapitular que a palavra “controle” é somente o nome de uma relação na qual o ambiente influencia o comporta mento. Não importa se esta relação é chamada de controle, de causa, de função, de influência etc. O Foucault está falando é de como o sistema educa cionalnos afeta, ou seja, nos controla. Está mostrando como o sistema educa cional molda a nossa aprendizagem, definindo aquilo que sabemos e aquilo que deixamos de saber. Para Foucault, a educação está entre os “procedi mentos de controle e de delimitação do discurso", (p. 21). INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015 7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! INDEX BOOKS GROUPS Estudar o controle comportamental não é o mesmo que fazer um levanta mento estatístico de quantas vezes a palavra “controle" está sendo utilizada. Estudar o controle comportamental consiste em identificar as causas do compor tamento, quer chamemos estas causas de "controle” ou de qualquer outro nome. 3 . 3 . O CONTROLE É SEMPRE BIDIRECIONAL. Por que o controle é sempre bidirecional? A idéia de duas direções é a seguinte: controlamos e somos controlados, ou seja, influenciamos o ambien te e somos por ele influenciados. “Os homens agem sobre o mundo, modifi cam-no e, por sua vez sâo modificados pelas conseqüências de sua ação* (Skinner, 1978, p. 15), Para ilustrar este controle bidirecional, vejamos um exemplo retirado de um tivro que versa sobre educação familiar: “Quando o filho não respeita os pais e estes nada fazem, ele se sente autorizado a desrespeitá-los. Isso dá poder ao filho, desencadeando a inversão de valores." (Tiba, 2002, p.274). Veja que curioso: ao “fazerem nada”, os pais estão fazendo alguma coisa. Estão autorizando seus filhos a serem desrespeitosos. Como diz o ditado: “Quem cala, consente". E mais ainda: neste exemplo, o controle é bidirecional tanto para os pais quanto para os filhos. Os filhos estão desrespeitando (con trolando) e sendo incentivados a desrespeitar (controlados). Os pais estão sendo desrespeitados (controlados) e estão incentivando seus filhos a serem desrespeitosos (controlando). E veja que tudo isso foi retirado de um pequeno exemplo! Já imaginou quanto controle acontece ao iongo de um dia inteiro? Ou ao longo de uma vida? O controle é como um bumerangue: vai e volta. Mas até onde ele vai e até quando ele pode voltar? Em outras palavras: o controle só acontece no presente? Será que o controle passado está morto e enterrado? 3 . 4 , O PASSADO PODE CONTINUAR A EXERCER CONTROLE SOBRE 0 NOSSO COMPORTA MENTO. O passado exerce grande controle sobre o nosso comportamento. Basta um pouco de auto-observação para que possamos perceber no presente, algu mas influências da nossa mais remota infância. Se aos cinco anos nos afogamos na pequena piscina do clube, podemos ainda hoje ficar precavidos vigiando as crianças que brincam na beira do mar. Se nos divertimos muito num determinado parque, ainda podemos sentir um grande bem estar ao vermos uma roda-gigan- te, um carrossel, os carrinhos de bate-bate e o trem-fantasma. Nas psicoterapias, as pessoas enfrentam o passado com a ajuda dos terapeutas. A psicoterapia só faz sentido porque o passado exerce controle sobre o nosso comportamento, porque o que passou ainda nos faz sofrer. INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015 7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! INDEX BOOKS GROUPS Como exemplo dos efeitos do controle passado sobre o comportamen to atual, vejamos uma poesia de Adélia Prado intitulada "Poema esquisito” (ver Prado, 1991, p. 21): "Dói-me a cabeça aos trinta e nove anos. Não é hábito. É rarissimamente que ela dói. Ninguém tem culpa. Meu pai, minha mãe descansaram seus fardos, não existe ma/s o modo de eles terem seus olhos sobre mim. Mãe, ô mãe, ô pai, meu pai. Onde estão escondidos? É dentro de mim que eles estão. Não fiz mausoléu pra eles, pus os dois no chão. Nasceu lá, porque quis, um pé de saudade roxa, que abunda nos cemitérios Quem plantou foi o vento, a água da chuva. Quem vai matar é o sol. Passou finados não fui lá, aniversário também não. Pra que, se pra chorar quaiquer lugar me cabe? É de tanto lembrá-los que eu não vou. Ôôôô pai Ôôôô mãe Dentro de mim eles respondem tenazes e duros, porque o zelo do espirito é sem meiguices: Ôôôô f ia ” Mesmo estando estes pais mortos e enterrados, ainda continua vivo o controle por eles exercido sobre o comportamento da filha. Ela ainda sofre com a austeridade e a vigilância deles. Também se lembra dos momentos bons e sente saudades. A ficção desta poesia ilustra o que acontece na nossa realidade: o controle não desaparece com o tempo, não envelhece, não sofre amnésia. O controle passado não se perde, apenas se transforma. Numa psicoterapia, por exemplo, o passado que causa sofrimento não pode ser apagado. É somente transformado, ressignificado, visto a partir de um novo ângulo. E para ajudar o paciente, o terapeuta precisa fazer algo, precisa exer cer algum outro tipo de controle. Não há alternativa sem controle. INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015 7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! INDEX BOOKS GROUPS Se não podemos nos livrar do controle, podemos pelo menos ser livres com ele? 3 . 5 . C o n t r o l e e l ib e r d a d e s ã o c o m p a t ív e is . A idéia que será trabalhada neste sub-item é a seguinte: a liberdade é possível, mesmo com a existência do controle. O único problema para enten der esta idéia é que em geral as pessoas não tentam esclarecer como os termos liberdade e controle estão sendo definidos.Tratam estas palavras como se elas tivessem um único significado. E aí, o desentendimento é total. A esta altura, você já deve ter percebido quantos preconceitos o desconhecimento de uma única palavra pode produzir. Agora, temos uma nova palavra: liberda de. E por que ela é nova? Não estamos cansados de ouvi-la? Terá a palavra liberdade um sentido próprio, dado pela Análise do Comportamento? Vamos começar a responder a essas perguntas com um exemplo retirado de um texto religioso: a Bíblia Sagrada. Você já ouviu falar da Epístola a Filêmon? A Epístola a Filêmon (ver Bíblia Sagrada, 2002, pp. 1526-1527) é o décimo oitavo livro do Novo Testamento. Recebeu este nome porque é uma carta que o apóstolo Paulo escreveu a um cristão chamado Filêmon. Nela, Paulo pede a Filêmon que perdoe um escravo fugitivo chamado Onésimo. Quando Onésimo fugiu de Filêmon, ele se tornou cristão e posteriormente quis voltar. Mas qual é a relação desta carta com as noções de controle e liberdade? Vejamos: a carta de Paulo deve ter exercido forte influência (contro le) sobre o comportamento de Filêmon. Paulo insistiu em demonstrar por que Filêmon deveria perdoar Onésimo. Até mesmo se propôs a pagar qualquer prejuízo que Onésimo tivesse causado. O importante é que apesar de toda esta persuasão, Paulo deu a Filêmon a liberdade para decidir se ele perdoa ria ou não Onésimo. Paulo disse: “Mas, sem o teu consentimento, nada quis resolver, para que tenhas ocasião de praticar o bem (em meu favor), não por imposição, mas sim de livre vontade." (p. 1526)4. E olha que Paulo tinha auto ridade suficiente para impor a Filêmon o que ele deveria fazer! Entretanto, ao invés de ter exercido um controle autoritário sobre o comportamento de Filêmon, Paulo optou por uma forma de controle mais saudável, mais edificante: aquela que apela para a caridade. Certamente, se apesar de toda insistência de Paulo, Filêmon tivesse recusado a perdoar Onésimo, sua decisão teria sido respeitada. Ele foi livre para escolher. Livre porque não sofreu nenhum tipo de coerção. Livre porque foi somente incentivado, e não forçado. “Liberdade soci al, política e religiosa consiste em liberdade de coerção, que definimos aqui como liberdade da ameaça de punição. Quando algumas de nossas escolhas comportamentais são punidas, não podemos nos sentir livres." (Baum, 1999, 4 A Epistola a Filêmon não possuicapítulos. Está entre os menores nvros de toda a Bíblia. Aqui foi citado o versículo 14. 41 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015 7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! INDEX BOOKS GROUPS p. 190). Nos sentimos livres somente quando podemos escolher em função daquilo que ao longo de nossas vidas percebemos ser o melhor para nós, e fazemos isto sem a presença de alguém que nos ameace, nos castigue, nos ridicularize. A liberdade não é uma questão de presença ou ausência de controle, mas sim do tipo de controle envolvido. Nossa liberdade é roubada apenas pelo controle coercitivo. Com outras formas de controle, aquelas que respei tam a nossa escolha, nós nos sentimos livres. O controle também possui um lado bom! E é este lado bom que precisa ser trabalhado. 3 , 6 . S o m e n t e c o m u m a d e q u a d o c o n t r o l e é q u e p o d e r e m o s m e l h o r a r a s c o n d i ç õ e s DO MUNDO EM QUE VIVEMOS. É possivel fazermos o bem sem alguma forma de controle? A resposta é um sonoro "não*! O bem depende de um controle ético. Vejamos um exemplo, o último desta seqüência de informações adicionais: certa vez, o famoso físico Aibert Einstein nos ensinou que “{...) o destino da humanidade repousa essenci almente e mais do que nunca sobre as forças morais do homem. Se quisermos uma vida livre e feliz, será absolutamente necessário haver renúncia e restri ção” (Einstein, 1981, pp. 63-64), Para que os homens aprendam a pensar nos outros, a serem menos egoístas, é preciso que sejam educados (controlados) por alguém. Alguém que os ajude a perceber os benefícios acarretados por tais comportamentos morais, como fez Paulo quando enviou a carta a Filêmon. Toda boa ação depende de controle. Para ajudar, é preciso controlar, Qualquer gesto de amor carrega consigo alguma forma de controle. Quando dizemos a alguém “Eu te amo", é certo que nossas palavras exercerão algum efeito. Não podemos garantir se a pessoa gostará ou não de saber que é amada, mas que ela reagirá de alguma maneira, isto nós podemos assegurar. A ética do controle comportamental é um assunto muito importante. Tão importante que, para ser trabalhado com o devido cuidado que merece, de mandaria um esforço à parte. Por hora, podemos concluir o que conversamos até aqui. 4 . C o n c lu s A o Para a Análise do comportamento, basta identificarmos uma relação de influência do ambiente sobre o comportamento do indivíduo para que pos samos chamá-la de controle. O foco está na relação de influência. Se a influ ência será boa ou ruim, isto é somente um elemento opcional. Não há como fugir do controle. “Não podemos escolher um gênero de vida no qual não haja INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015 7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! INDEX BOOKS GROUPS controle. Podemos tão só mudar as condições controladoras.” (Skinner, 1995b, p. 163). Daremos preferência àquelas condições controladoras que não são autoritárias e que influenciam bons comportamentos. Em última instância, este texto procurou esclarecer equívocos de linguagem. É bom ficarmos atentos para sempre separarmos o joio do trigo, o técnico do popular. Este cuidado deve ser generalizado para todo o vocabulário técnico da Análise do Compor tamento, ou de qualquer disciplina ainda pouco conhecida. Foi o que fizemos, ainda que de forma breve, com os termos “soriaT e liberdade". Tivemos moti vos de sobra para perceber quanta confusão um único nome pode causar! "Ah, se fosses algum outro nome! O que significa um nome? Aquilo a que chamamos rosa, com qualquer outro nome teria o mesmo e doce perfume." (Shakespeare, 1998, p, 50). R eferências Baum. W. M. (1999). Compreender o behaviorismo: ciência, comportamento e cultura (M. T.A. Silva, M. A. Matos, G.Y.Tomanari, e E. Z.Tourinho, Trads.). Porto Alegre: Artes Médicas (Trabalho original publicado em 1994). Bíblia Saorada. (2002). São Paulo: Ave-Maria. Catania, A. C. (1999). Aprendizagem: comportamento, linouaoem e coanicão (A. Schmidt, D. G. Souza, F. C. Capovilla, J. C. C. de Rose, M. J. D, Reis, A. A. Costa, L. M. C. M. Machado, e A. Gadotti, Triads.) Porto Alegre: Artes Médicas (Trabalho original publica do em 1998). Einstein. A. (1981). Como vejo o mundo (H. P de Andrade, Trad.). Rio de Janeiro: Nova Fronteira (Trabalho original publicado em 1953). Ferster, C. B., Culbertson, S. e Boren, M.C, P. (1982). Princípios do comportamento ÍM. L Rocha e Silva, M. A. C. Rodrigues, e M. B. L. Pardo, Trads). 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INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015 7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! INDEX BOOKS GROUPS A C o lo n iz a ç ã o S o c ia l do Ín tim o 1 Judsmar Bonente Barbosa2 A O r ig em H is tó r ic a d a N oçAo de S ubjetiv id ad e Sabemos que foi a partir do século XVII que se deu o desenvolvimento das ciências da natureza (física, química, biologia) com a aplicação do méto do experimental, ou seja, critérios como a experimentação e a matematização tomam-se indispensáveis para definir-mos ciência. A influência empirista ser viu de fundamento à tendência naturalista, que teve como objetivo adequar o método das ciências da natureza à ciências humanas; ou seja os critérios de experimentação e quantificação tornaram-se indispensáveis para que as “ci ências humanas" fossem realmente consideradas ciências. Como incluir então neste contexto, ou critério a Psicologia? A psicolo gia poderia ser uma ciência? Qual seria então seu objeto de estudo? Poderia a subjetividade humana adequar-se a estes critérios? As ciências humanas começaram a surgir no final do século XIX, e até hoje enfrentam problemas na tentativa de esclarecer o método adequado à compreensão do comportamento humano. S u b je tiv id ad e , e is a q u e s Ao !Foi a partir do interesse em conhecer cientificamente o “psicológico” que se dá a origem do conceito de subjetividade, segundo Figueiredo (1994) foram necessárias duas condições: uma experiência muito clara da subjetivi dade privatizada e uma crise desta experiência. A experiência da subjetivida de privatizada, em que nós nos reconhecemos como livres, diferentes, capa zes de experimentar sentimentos, ter desejos e pensar independente dos 1 Este texto é uma adaptação da Monografia de conclusão do curso de Psicologia/ Newton Paiva, orientado pelo professor Eduardo Cillo. 2 Psicóloga. CRP: 04/20168. e-mail: judsmar@hotmail.com Contato 33227651/ 96889307 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015 7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! INDEX BOOKS GROUPS demais membros da sociedade seria uma pré-condição para se formular pro jetos de uma psicologia científica. Ainda segundo Figueiredo (1994), embora para nós estas experiênci as sejam óbvias, os estudos históricos e antropológicos revelam que nem sempre é assim em outras culturas e sociedades; e uma outra pré-condição para a formulação de projetos de psicologia cientifica é a experiência de que não somos tão livres assim e tão diferentes quanto imaginávamos. Figueiredo3, citado por Tourinho (1995), argumenta que as contradições presentes neste momento inicial nos projetos de ciência psicológica levaram a duas condições, de um lado, uma concepção de indivíduo ('único, independente”) que seria tomado como objeto de uma psicologia que não é ciência, e do outro lado, uma concepção de indivíduo ("suporte de papéis sociais pré-definidos”) que seria tomado como objeto de uma ciência que não chegaria a ser psicológica. E que por traz disso estaria exatamente a questão da subjetividade, “da impossibili dade de um tratamento científico para a vida interior dos indivíduos”. E é a suspeita de que, a liberdade e a singularidade, dos indivíduos são ilusórias, que emerge com o declínio das crenças liberais e românticas, abrindo espaço, para os projetos de previsão e controle científicos do compor tamento. Em Wundt, Titchener e nos psicólogos funcionalistas observa-se tenta tivas a partir da experiência imediata rumo a explicações fisiológicas, biológi cas ou socioculturais. O objetivo destes psicólogos é a compreensão dos seres humanos mediante a captação de suas ‘'vivências", de suas experiênci as imediatas, subjetivas e individualizadas. Seria ou não possível, estudar ou ainda, tornar a subjetividade humana objeto de estudo de uma Psicologia que pretende ser científica? Daria conta uma psicologia aos moldes do positivismo, baseada nos métodos experimen tais (observação e experimentação), fazer da subjetividade humana um de seus objetos de estudo? Sabemos que ao longo da história, a teoria comportamental veio so frendo transformações, no que concerne a seu objeto de estudo e interesse. No século XIX, Watson, um dos primeiros behavioristas, propôs uma Psicolo gia objetiva, baseada na observação e experimentação (acreditava que o homem, assim como os animais, respondia a estímulos), “Porque não fazemos daquilo que podemos observar, o corpo de estu do da Psicologia?”. Com o comportamentalismo de Watson, a subjetividade é totalmente desprezada; a finalidade da psicologia seria o estudo do comporta mento independente do que pensa, sente ou crê, o sujeito; ou seja, a ciência 3 Figueiredo, L.C.M. Matrizes do pensamento psicológico. São Paulo: Mimeo, 1982. INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015 7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! INDEX BOOKS GROUPS do comportamento só lidaria com observação dos fenômenos que pudessem ser descritos e explicados em termos de estímulo (S) - resposta (R) ou de causa-efeito (Assunção, 1996). De acordo com Watson a Psicologia foi definida como ciência da cons ciência, por isso os métodos eram pouco confiáveis e as especulações infun dadas, sendo necessário, portanto redefinida como dênda do comportamen to. Pela influência positivista, desconsiderou eventos internos tais como emo ções, pensamentos e sentimentos, pois não eram passíveis de observação e não apresentavam um critério de verdade por consenso público; revelando assim uma visão dualista do homem, mente e corpo; fenômenos anímicos ou espirituais e fenômenos materiais, em que a consciência era concebida como um conteúdo espiritual. (Baum, 1999). Watson não propõe um projeto de psicologia científica, mas, uma nova ciência natural, um ramo da biologia como nos dizem Figueiredo e Santi (2000), e é ao propor que a psicologia deveria estudar apenas o observável, que Watson nega metodologicamente o estudo da consciência, da mente, da subjetividade, da interioridade humana. Pensamentos, sentimentos e sonhos não poderiam ser objetos de uma ciência, porque não seriam acessíveis aos métodos científi cos que insistem no critério de verificação pública, como nos diz Baum (1999). Tudo aquilo que faz parte da experiência subjetiva individualizada deixa de ter lugar na ciência, seja porque não tem importância, seja porque não é acessível aos métodos objetivos da dênda. (Figueiredo, 1996, p.42) O ‘sujeito’ do comportamento é visto como organismo, não importa se ele pensa, sente ou deseja. E é essa visão organicista do homem que o asse melha a qualquer outro animal (ratos, pombos etc.). Somos todos no comportamentalismo de Watson apenas organismos respondentes assujeitados aos estímulos do ambiente, podendo assim nesta perspectiva, sermos condicionados como qualquer outro animal; o homem como nos diz Rangé (1988) seria apenas movido por recompensas e puni ções e que, por exemplo, o terapeuta comportamental teria o papel de seleci onar comportamentos para punir e premiar. Dêem-me doze crianças sadias, de constituição, e a liberdade de po der cria-las à minha maneira. Tenho a certeza de que, se escolher uma delas ao acaso, e puder educá-la, convenientemente, poderei transformá-la em qual quer tipo de especialista que eu queira, médico, advogado, artista, grande comerciante, e até mesmo em mendigo e ladrão, independente de seus talen tos, propensões, tendências, aptidões, vocações e da raça de seus ascenden tes. (Watson, 1913) 4. 4 Watson, apud E. Heidbreder, Psicologias do século XX, p. 218. INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015 7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! INDEX BOOKS GROUPS Watson segundo Skinner (1969)5, sustentava que animais e homens adquiriam através do condicionamento e continuavam a se comportar en quanto os estímulos apropriados estivessem agindo. O Behaviorismo até hoje '‘sofre" com esta proposta de Watson, de estudar apenas o observável; ele não ignorava a subjetividade, apenas a excluía e/ou rejeitava enquanto objeto de estudo cientifico, e que ao assim fazer pela a visão dos psicólogos “humanistas’’, segundo Figueiredo e Santi (2000) “em vez de fundar uma psicologia científica, tenta matá-la e enterrá-la*. Segundo Micheletto E Sério (1993) uma antiga e bastante difundida crítica ao Behaviorismo é a afirmação de que ele deixa de lado a subjetividade humana e que considera o homem não como agente, o homem seria objeto do controle do ambiente; e ainda que a organização da vida social seria “re solvida" através de punições e recompensas. Esta crítica é feita em relação ao Behaviorismo Radical, porém como nossa proposta é apresentar não só a evolução teórica, mas principalmente mostrar que este tipo de crítica é infundada, por que diz respeito à visão organicista que o Behaviorismo Metodológico apresenta em relação ao ho mem e/ou até ao primeiro momento da obra de Skinner. A R evolução S kinneriana Um outro projete de psicologia científica foi desenvolvido por Skinner,e que embora se trate de um comportamentalismo, ilo projeto de Skinner afasta- se imensamente do de Watson, sendo um erro absurdo reuni-los numa m es ma análise.”, como nos dizem Figueiredo e Santi (2000). O Behaviorismo Radical é uma abordagem em Psicologia estreita mente identificada com as proposições de Skinner para uma ciência do com portamento, como nos diz Tourinho (1987), e que falar de seu surgimento implica em considerarmos a própria “evolução” teórica de Skinner, que em seus primeiros textos, 1931, por exemplo, encontramos relatos de pesquisas empíricas e ensaios teóricos; e a ocasião em que Skinner distingue sua abor dagem das demais. É em 1945 com a publicação do artigo The Operational Analysis o f P sycho log ica l Terms, que Skinner caracteriza pela primeira vez sua epistemologia como Behaviorismo Radical e a distingue das outras versões comportamentais em Psicologia, como nos explica Tourinho (1987). 5 Skinner. Contingencies of reinforcement: A theoretical Analysis. New Jersey: Prentice-Half, Inc. 1969. In.: Pavlov e Skinner. I Os Pensadores. Textos escolhidos I Skinner. Contingências do reforço,.São Paulo: Abril Cultural, 1980, p. 177. INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015 7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! INDEX BOOKS GROUPS Terms trata basicamente de três questões: a natureza dos eventos priva dos, o problema do critério de verdade por concordância publica e os processos através dos quais um indivíduo passa a relatar eventos que lhe ocorrem de forma privada. Tourmho (1987, p. 3). E essa distinção ocorre exatamente quando Skinner se põem a falar da subjetividade, do “mundo dentro da pele"; pois em sua visão "(...) a ciência do comportamento poderia dar conta da chamada subjetividade ou interioridade humana “ (Skinner, 1945). O behavionsmo não é a dênda do comportamento humano, mas, sim, a filosofia dessa dência. (...) O Behaviorismo que apresento (...)è a filosofia dessa versão especial de uma dência do comportamento. (Skinner, 1974, p.7e 11). E o “primeiro” passo percorrido foi apresentar uma visão monista sobre o homem, já que desde de Descartes, o homem é divido em mente e corpo (visão dualista), sendo o corpo controlado pela mente. O que Skinner propõe é a materialização do ser. Argumentando contra a necessidade de duas realidades, uma material e outra imaterial, ou seja, Skinner não separa o mundo externo do mundo interno. De acordo com Chiesa (1994/19976) Skinner rejeita a visão dualista da pessoa, que a dividiria em comportamento e algo a mais, e que o comporta mento seja considerado uma manifestação superficial de processos que ocor rem em algum outro nível inacessível, inobservável e hipotético. Diante disto o comportamento humano deixa de ser explicado pela exis tência de uma mente ou de algo a mais. Skinner vai além do mentalismo que atribuía a explicação dos comportamentos à existência da mente. Mente e corpo, são agora um só; e a subjetividade ou eventos internos são considerados, por Skinner, comportamentos aprendidos socialmente, o que ocorre no “mundo den tro da pelé' é tão físico quanto qualquer outro comportamento público; e é assim que Skinner torna possível o estudo da subjetividade humana. Mesmo enquanto bebavionsta, sua posição é mal compreendida. É um behaviorista na medida em que propõe que o objeto de estudo da psicologia deva ser o comportamento; eéum radical na medida em que nega ao psiquismo a função de causa do comportamento., embora não negue a possibilidade, de, através de um estudo da linguagem do sujeito, estudar seus estados internos; como seu pensa mento e sentimentos. (Matos, 1990,p. 7) Skinner (1974) nega que exista algo que escape ao mundo físico, e afirma que a subjetividade é um comportamento que se diferencia apenas por ocorrer no “mundo dentro da pelé’. c Chiesa, M. Radical Behaviorism: the Philosophy and the Science. Boston: Authors Cooperative, Inc., Publishers. Tradução de Hélio Gu'lhardi e Patrícia Piason Queiroz. Texto original no Boletim Informativo ABPMC - n. 11, ja n / 1997. Disponibilidade e acesso (www.cemp.conn.br/fundamentos_teoricos.htm) (11/04/02). INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015 7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! INDEX BOOKS GROUPS De acordo com Tourinho (1993), para o Behaviorismo Radical de Skinner, eventos privados são fenômenos físicos embora inacessíveis à observação pública, e é tarefa da psicologia tratar destes eventos, “desde de que entendi dos enquanto interioridade humana e a significação que essa interioridade assumirá para os indivíduos". Logo, tanto o comportamento público (passível de observação) quanto o comportamento privado (acessível apenas no interior de quem ocorre) são socialmente aprendidos. O Behaviorismo Radical nega a existência da mente, mas aceita estu dar a subjetividade, ou os eventos privados como fenômenos físicos; não separa o mundo interno do mundo externo, o que ocorre no “mundo dentro da pele” é tão físico quanto qualquer outro comportamento público. Observar eventos internos não é observar minha consciência, mas observar o próprio corpo e seu funcionamento. Skinner nega radicalmente que exista algo que fuja ao mundo físico e aceita radicalmente todos os fenômenos comportamentais. É em sociedade que aprendemos a falar, seja do próprio corpo, seja do comportamento, logo falar sobre eventos privados remete-nos ao campo social. Significa dizer que, tanto o comportamento público (passível de obser vação) quanto o comportamento privado (acessível apenas no interior de quem ocorre) são socialmente aprendidos, a linguagem é uma construção social, a maneira como falamos de nosso corpo e de nossos comportamentos, sempre depende da maneira como a sociedade ensinou-nos a falar. Ao reconhecer a subjetividade, ou como Skinner preferia dizer, os even tos privados ou internos, enquanto comportamentos, ele propõe uma pers pectiva científica para tratá-los, investigando em que condições a vida subje tiva ou interior se desenvolve; quebrando assim com o critério de verificação pública. Para que estes eventos possam ser descritos e considerados em uma ciência do comportamento, Skinner admite a validade da introspecção, adver tindo, porém o que ê observado introspectiva mente é uma parte do universo contida no próprio corpo do indivíduo (ROSE, 1982)7: A posiçào pode ser estabelecida do seguinte modo: o que é sentido ou observado introspectivamente não é um mundo nâo-físico da consciência, mente ou vida mentai, mas sim o próprio corpo do observador. Isto implica... que a introspecção è uma forma de pesquisa fisiológica, nem significa (e este é o centro do arg umento) que o que é sentido ou obsen/ado introspectivamente são as causas do comportamento... (Skinner.; 1974, p. 17) '' Fonte original: Prado Júnior, Bento (org.) Filosofia e Comportamento INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015 7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! INDEX BOOKS GROUPS A NATUREZA DOS EVENTOS PRIVADOS Skinner, segundo Tourinho (1993), deixa bem claro que estados ou condições internas devem ser tomadas como estímulos internos; o que ocorre sob a pele do indivíduo pode ser interpretado em termos de estímulos e com portamentos, “os exatos eventos de que se ocuparia a psicologia operante". E que para Skinner, interno remeteria a acontecimentos e não a conteúdos ou processos (mentais, por exemplo). E é ao considerar os eventos privados como estímulos e comportamen tos, que eles podem ser abordados no contexto de uma ciência do comporta mento; e o que caracteriza estes eventos privados é o fato de constituírem uma parte do universo de cada indivíduo à qual só ele próprio tem acesso, comonos explica Tourinho (1993), e que esta situação é problemática devido às dificuldades de descrição daqueles eventos. A maneira como falamos sobre nossos corpos e nossos comportamen tos (pensamentos, sentimentos e até sonhos) sempre dependerá de como a sociedade ensinou-nos a falar, já que a linguagem é uma construção social. Segundo Skinner (1991) só quando o mundo privado de uma pessoa torna-se importante para as outras é que se tornará importante para ela; a comunidade chama-nos a descrever nossos comportamentos, sentimentos e emoções. E é assim que aprendemos a descrevê-los. Quer dizer, todas as falas humanas são falas aprendidas a partir de condições partilhadas pelos indivíduos de uma mesma comunidade lingüísti ca e são estas condições que lhes conferem significação. (Tourinho, 1993). Ao perguntarmos a uma pessoa que chora: "o que você está sentindo?” estamos ensinando-a a discriminar comportamentos encobertos, como nos diz Delitti (s/d), e criando assim condições para que ela “(.•■) >n^ e um tipo de controle do comportamento chamado conhecimento’1. E é esse conhecimento de si que irá importar. Uma pessoa terá acesso a seus comportamentos enco bertos ou a seu mundo privado através da auto-observação, mas as outras pessoas só terão acesso a este mundo, através de seu relato. Para o Behaviorismo Radical de Skinner o autoconhecimento é o co nhecimento que alguém tem de seus próprios sentimentos, motivos e inten ções, e ele(o autoconhecimento) é o resultado de uma longa história de treino discriminativo construída pela comunidade verbal. É através do autoconhecimento, de acordo com Delitti (s/d) que os indivíduos estarão mais aptos para prever e controlar seus comportamentos; estarão mais conscientes, o que significa que terão adquirido um maior autoconhecimento. Estar consciente aqui deve ser entendido como descrever seu próprio comportamento. INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015 7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! INDEX BOOKS GROUPS "Como então poderia um indivíduo aprender a relatar aqueles eventos aos quais só ele próprio tem acesso?', nos pergunta Tourinho (1987), e Skinner (1974) nos responderá: “Só quando o mundo privado de uma pessoa se torna importante para as demais é que ele se torna importante para ela própria", ou seja, é somente quando a comunidade verbal nos chama a responder que aprendemos a relatar nossos eventos privados. A consciência, ou os estados internos deverá ser abordado enquanto uma questão de descrição do próprio comportamento. Se estamos inseridos num ambiente, e este por sua vez, é o conjunto de condições ou circunstâncias que afetam o comportar-se - não importando se estas condições estão dentro ou fora da pele (Banaco, 1997); isso indica que o comportamento é envolvido por variáveis contingenciais, dentre as quais o reforço e a punição exercem importante função, pois são capazes de mode lar o comportamento à medida que ele evolui durante a vida do indivíduo. Logo, a história pessoal de reforço e punição e/ou estímulos inclui todas as vezes que um comportamento produziu aprovação ou desaprovação - todas essas conseqüências que modelaram o comportamento, o trans formaram no que é hoje. (Baum,1999). Resumindo, uma resposta desejada quando é associada a um reforço, levará o indivíduo a repetir a mesma resposta em situações futuras. Isso quer dizer que quem explora mais o ambiente, tem mais possibilidade de reforçamento e conseqüentemente cria novos repertórios de comportamento. De acordo com Figueiredo e Santi (2000), o projeto de psicologia skinneriano justifica-se porque, para Skinner, l'as experiências subjetivas não tem nada de imediato; são sempre construídas pela sociedade.” E ainda caracterizado como o do reconhecimento e crítica à experiên cia imediata. A crítica de Skinner à experiência imediata, subjetiva e individu alizada conclui-se pela 'colonização social do íntimd', como afirma Figueiredo (1995) “a vida privada continua existindo, só que ela só é privada na aparên cia", Skinner não rejeita a experiência imediata, mas trata de entender sua gênese e sua natureza. £ clara aí a intenção de desiludir: aquilo que mais nos pertence não é nosso, mas é apenas um produto social {...)a noção moderna de sujeito, (...) como tudo aquilo que ‘subjaz’a tudo e é livre para determinar seu destino cai totalmente por terra com Skinner. (Figueiredo e Santi2000, p. 76-77). O H om em na c iên c ia d o com portam ento O homem, como o conhecemos, melhor ou pior, é o que o homem fez do homem. (Skinner). INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015 7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! INDEX BOOKS GROUPS É importante enfatizar que o Behaviorismo Radical de Skinner ocasio nou, ou melhor, proporcionou uma nova maneira de explicarmos o homem. Torós (1996) afirma que vários fatores demonstram que tanto os com portamentos humanos como o próprio tomar-se homem, são aprendidos, e para tal ela cita, um fato ocorrido na França, na virada deste século: Uma criança havia sido abandonada á própria sorte, toencontrada wva, em uma floresta próxima a um pequeno viareja Esta chança, por algum m iagre' sobreviveu, porém rào como um homem, apesar de ser Ssicam enleim ser huma- no, mas como um animal. Não tinha nenhuma foguagem. não oonteca nenhum relacionamento, não se preocupava com ninguém, nem oom nada, a não sarcoma própria sobrevivência. (Torós, 1996, p. 1). E conclui que, este fato demonstra que o homem “aprende" a ser huma no, e que isto significa que ele aprende a sentir, amar, pensar e raciocinar como ser humano, e que seu meio ambiente é fundamenta! para isto. O behaviorismo nos diz que o homem só se toma humano na relação com outros seres humanos e na interação com a natureza, transformando-o e sendo trans formado por ela. O homem skinneriano é o fruto da história de sua espécie, de sua herança genética e das contingências ambientais às quais ele é exposto; para Skinner (1978) o homem age sobre o mundo, e pode modificá-lo e ao mesmo tempo o mundo age sobre ele podendo modificá-lo. Se os homens agem sobre o mundo, como nos diz Skinner (1978), e este mundo se modifica, e os homens também são modificados pelas conse qüências de sua ação; estamos então, diante de um homem que constrói e é construído a cada interação com o ambiente. Cada ser humano agirá sobre o mundo e por ele será “afetado” de determinada maneira; para o Behaviorismo Radical o homem é único porque ele é fruto da história de sua espécie e das contingências ambientais às quais ele é exposto. Portanto, o homem passa a ser aquilo que ele faz de si mesmo; ao contrário do que se poderia pensar o Behaviorismo Radical enquanto ciência do comportamento propõe o homem não como um ser passivo, e sim como produtor e agente de sua própria história. C onclusão Skinner, torna-se importante quando se põe a falar do mundo interno, pois até então como mostramos os projetos de psicologia científicos partiam das experiências imediatas baseadas em explicações biológicas, fisiológicas ou socioculturais. Watson e seu metodologismo excluíram a subjetividade de sua ciência que teria como objeto o comportamento tal como pôde ser obser vado, descrito e explicado em termos de estímulo (S) e resposta (R) (Assun INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015 7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! INDEX BOOKS GROUPS ção, 1996). A experiência individualizada deixou de ter lugar na ciência por não ser acessível a seus métodos objetivos. Vimos também que o Behaviorismo é criticado por deixar de lado a subjetividade e por considerar o homem como um objeto de controle do ambi ente, como nos afirmam Micheletto e Sério(1993), mas vimos também que esta critica é feita ao Behaviorismo Radical e, portanto, é infundada, porque diz respeito à visão organicista do Behaviorismo Metodológico em relação ao homem e até em relação a Skinner em um primeiro momento de sua obra. Skinner já dizia em 1974, que o behaviorismo enquanto filosofia de uma ciência do comportamento exige uma mudança jamais proposta na for ma de pensar o acerca do homem; o homem skinneriano é agente e produtor de sua própria história. “ Revelar alguma coisa que jâ estava /á”8, é o que o Behaviorismo Radical propõe, talvez por isso seja polêmico. Ao tratar a subje tividade humana não como fruto da alma, mas como comportamento(s) social mente aprendido tira as explicações mentalistas acerca do comportar-se hu mano; a explicação do comportar-se não é mais atribuída à existência de uma mente, ou de algo superior ao homem. Este, o homem, e só ele pode como nos diz Skinner (1974),\ . . controlar seu próprio destino porque sabe como deve ser feito e como fazê-lo. ’’ Se o caminho que apontei parece muito árduo, ele pode, não obstante ser encontrado. E certamente deve ser árduo aquilo que se encontra tão rara mente. Pois como seria possível, se a salvação estivesse ao alcance da mão, que quase todos a negligenciassem? Mas tudo que é precioso, é tão difícil quanto raro. (Spinoza, Ética V). R eferências Assunção, M. R. B. (1996) Algumas considerações sobre o ensino do behaviorismo e da terapia comporiamentalna PUC MG e na UFMG. Belo Horizonte: Faculdades Inte gradas Newton Paiva. Banaco, R. A. 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INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015 7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! INDEX BOOKS GROUPS A n á lis e do C o m p o rta m e n to , ‘R esp o n sa b ilid a d e ’ S o c ia l e F o rm a ç ã o P r o f is s io n a l na UNIVALE1 João Carlos Muniz Martinelli2 Marco Antonio Amaral Chequer3 Gostaria de iniciar este debate descrevendo aspectos que considero relevantes para discutirmos ‘responsabilidade’ social e formação profissional. Apresento duas premissas que utilizarei para a análise do tema, que serão seguidas de uma discussão. Em primeiro lugar, a afirmativa de que a produção de uma ciência do comportamento, tal como prevista no behaviorismo skinneriano, tem como pressuposto uma ciência para a sociedade, uma ciência comprometida com o sucesso do homem na criação de relações sociais e com o meio ambiente físico e biológico, respaldada na seleção de práticas individuais (evolução biológica e operante) e culturais (evolução cultural), e porque não dizer cien tíficas, sendo central a interação homem-ambiente e os efeitos gerados sobre ambos, tendo em vista a coexistência pacífica e necessária entre as partes. Qualquer uso do termo ‘responsabilidade’ social pelo analista de comporta mento será mais bem empregado quando consideramos sua funcionalidade, sua relação com princípios com porta mentais e humanitários, de forma a pro duzir compatibilidade entre princípios e resultados. Em segundo lugar, os desafios em gerar práticas de formação profissi onal que estejam em sintonia com os pressupostos behavioristas e humanitá rios, e com as práticas culturais atualmente observadas, e que poderiam ser identificadas com o nome de ‘responsabilidade1 social. 'Palestra apresentada na Mesa Redonda “Formação do Analista do Comportamento e Responsabili dade Social”, durante a IV Jornada Mineira de Ciência do Comportamento, 16 e 17 de Agosto de 2003. Professor Adjunto da' Universidade Vale do Rio Doce, Governador Valadares - MG. Pesquisador do Núcleo de Estudos em Análise do Comportamento e Prática Cultural. Mestre em Psicoiogia Clínica pela PUC-Campinas. 3Professor Adjunto da Universidade Vale do Rio Doce, Governador Valadares - MG. Pesquisador do Núcleo de Estudos em Análise do Comportamento e Prática Cultural. Mestre em Psicologia Experi mental: Análise de Comportamento pela PUC-SP. INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015 7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! INDEX BOOKS GROUPS U m a ciência para a sociedade : análise do comportamento e ‘ responsabilidade ’ SOCIAL É importante entender que o analista de comportamento apoiaria qual quer ação social que tenha como probabilidade imediata e futura a manuten ção da vida com igualitário bem-estar para todos, estando os comportamentos relacionados sendo mantidos por reforçadores positivos e não coercitivos, dispostos, de tal forma, que permitam a variabilidade com seleção para a sobrevivência biológica e de práticas culturais, estas assegurando a manu tenção dos aspectos relevantes para os ambientes e organismos. Mas é importante para este grupo profissional entender os processos que dão origem e sustentação aos procedimentos amplamente ou restrita mente empregados no controle social. Quer saber dos efeitos das práticas culturais4 a partir das conseqüênciaspara os comportamentos emitidos, efeito este relacionado à função do controle verbal ou de outras variáveis do ambi ente. O aspecto funcional da análise é característica predominante, tanto quanto a epistemologia na discussão das medidas para a participação na construção da sociedade, Sua concepção de homem e de mundo difere de formas de compreender os fenômenos comporta mentais, inclusive em relação à psico logia (Skinner, 1994; 1991). A análise do comportamento tem participado definitivamente no de senvolvimento de projetos e programas voltados para a pesquisa e interven ção no campo das práticas culturais (Biglan, 1995; Mattaini & Thyer, 1996; Guerin, 1994; Lamal, 1991; 1997). O behaviorista está preocupado com os tipos de controle empregados e seus efeitos em curto, médio e longo prazo, daí o investimento da ciência do comportamento na compreensão de proces sos básicos relacionados ao comportamento social5 Analisar e refletir práticas comportamentais individuais e coletivas pelo “olhar” da ciência e da filosofia comportamentalfaz parte da obra de B.F.Skinner, como nos atesta Andery (1990). A autora chama atenção para dois aspectos importantes ressaltados por Skinner quanto a sua concepção de homem e de mundo. São eles, “...a crença na necessidade de transformar o mundo, e na ' Prática cultural já foi definida como "... um conjunto de contingências entrelaçadas de reforçamento, no qual o comportamento e os produtos comportamentais de cada participante funcionam como eventos ambientais com os quais o comportamento e outros indivíduos interagem" (Glenn. 1988:167}. e uma cultura é feita de muitos subconjuntos deste tipo. à Guerin (1994). defende postura semelhante quando aponta o valor das pesquisas sobre comporta mento social e o valor epistemológico da análise behaviorista na contribuição e compreensão dos conceitos utilizados por outras ciências sociais. Este autor ainda demonstra o caráter experimental e empírico dos conceitos e princípios a eles associados, indagando-se as unidades de análise mais atuais em análise do comportamento e sua contribuição para o estudo do comportamento social e práticas culturais. Outras análises ricas neste sentido podem ser encontradas nos demais autores citados. INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015 7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! INDEX BOOKS GROUPS ciência, mais especificamente a ciência do comportamento, como meio para esta transformação..."(p.1). O papel da ciência como transformadora envolve, entre outras coisas, transformações nas práticas individuais e culturais. Para alcançar este objetivo, é expressiva a construção de conhecimentos na ciência comportamental para este fim, como a produção de pressupostos para a análise dos fenômenos estu dados, uso da validação dos procedimentos aplicados e análise dos resultados alcançados com o emprego da tecnologia comportamental, tomando-se regras que poderiam ser seguidas por qualquer analista do comportamento. Estes co nhecimentos denotam em sua essência o perfil tático-metodológico (Sidman, 1976; Johnston & Pennypacker, 1980; Barlow & Hersen, 1984; Bailey & Burch, 2002; Pierce, 1991; Biglan, 1995) e teórico/filosófico da área (Skinner, 1987; 1999; 1995; 1980; 1991; Chiesa, 1994).Três regras principais, a saber, são deri vadas destes perfis na condução da análise comportamental: a crença no com portamento do cientista como parte do ambiente (Skinner, 1994; 1987); crença na experimentação como contexto de verificação de relações entre variáveis dependentes e independentes, produção de leis e princípios (Keller & Schoenfeld, 1950; Sidman, 1976; Skinner6, 1994; 1980; 1987; 1999) e, a crença de que o resultados das práticas científicas devem estar relacionados aos benefícios so ciais alcançados com o produto desta atividade (Baer, Wolf & Hisley; 1968; Andery, 1990; Skinner,1980; 1987; 1999). Então este compromisso que hoje defendemos aqui, sob o rótulo de 'responsabilidade’ social não é uma novidade no campo da análise do com portamento, se incluir que o termo ‘responsabilidade’ esteja associado a cer tos tipos de interação, em particular aquelas relacionadas às interações para o bem-estar de todos e seu desenvolvimento igualitário e sustentável. Talvez devesse ser mais bem entendido como uma parcela que nos cabe, no exercí cio do que convencionamos chamar de cidadania7, mas que não necessaria mente aí se esgota. Nossas ações no mundo, para o analista de comportamento, são discri minadas como parte do ambiente. São ações que modificam as ações profis sionais e sociais de maneira específica, modificam o ambiente e a nós mes mos, nosso organismo, as contingências de reforçamento, individuais e cultu rais. É premissa para este profissional emitir comportamentos e produzir con- 6 Entretanto. Skinner (1994} aponta que o material a ser analisado por uma ciência do comportamento pode ter origem em muitas fontes: o que não deve ser desprezado, podendo apontar diferentes estágio na evolução dos métodos ou da investigação. 7 Lamal (1996), aponta que a ‘Association for Behavior Analysis' designou na década òe 80 uma força tarefa com o objetivo de conhecer formas em que os analistas de comportamento poderiam agir como cientistas-cidadãos (citizen-scientists). Neste artigo o autor apresenta algumas questões relativas ao termo 'cidadão'. 59 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015 7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! INDEX BOOKS GROUPS seqüências de manutenção e generalização daquelas práticas que são funci onalmente relacionadas a sua visão de homem e de mundo8. Parte de nossas atividades podem consistir na produção de 'responsa bilidade’ social, mas devemos, entretanto, lembrar de analisar, como já obser vado acima, como entendemos as operações relacionadas a tal termo, por que a proposta skinneríana será integrada àquelas regras e contingências onde sejam previstos os meios de sua produção e análise do alcance dos resultados pretendidos. É preciso que tal prática (ou práticas9), deva(m) estar levando em conta a abrangência das transformações, quem controla e como, e porquê e o que de fato é controlado, e a ciência comportamental pode ser um conhecimento útil neste sentido. Acreditar sermos responsáveis pela sociedade e seus rumos tem rela ção direta com nossa forma de agir, em como nossos repertórios comportamentais são produzidos e se o são por reforçadores naturais ou arbitrários, e como nos sentimos e em que direção está caminhando nossa atuação profissional. Aqui a questão da formação profissional ganha especial destaque, por exatamente corresponder a arranjos de contingências destina dos à variação e seleção de comportamentos para uso adequado dos recur sos humanos e ambientais, com a aplicação da ciência para sua própria ma nutenção enquanto prática cultural de interesse público. O primeiro efeito a produzir deve ser sobre aqueles que buscam a transformação, para que se impliquem com ela e tenham nela um valor a seguir, e, em função disto, tal prática depende de arranjos de contingências que promovam a geração de repertórios de controle e autocontrole que se mantenham e se modifiquem em direções pretendidas. Agir com ‘responsabilidade’ implicaria em agir sob controle de determi nadas contingências, e conhecê-las é o objeto de estudo de uma análise comportamental. Para Skinner (1994), “...Os problemas levantados pelo con trole do comportamento humano obviamente já não podem ser evitados pela recusa em conhecer as possibilidades de controle...", E segue afirmando que, \...o resu liado é particularmente impressionante quando o indivíduo está sob o controle narmomoso de um grupo. Nossos processos básicos são responsá veis pelos procedimentos através dos quais o grupoético controla o comportamen to de cada um de seus membros. Um controle ainda mais eficiente é exercido por agências bem definidas ramo o governo, a religião, a psicoterapia, a economia e a educação.. .’(p.221). s É importante aqui o conhecimento do profissional acerca de sua atuação, que pode ser originado e mantido em ambientes 'sociais' e ‘científicos', mas também a partir da análise dos resultados de sua atividade profissional. 9 Dependendo do contexto e abrangência das relações comportamentais investigadas. 60 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015 7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! INDEX BOOKS GROUPS "Uma análise alternativa do comportamentow de controle tornaria possível ensinartécnicas relevantes tão facilmente quanto qualqueroutro repertório técnico. Também aperfeiçoaria os processos através dos quais a sociedade mantém o comportamento de autocontrole com probabilidade de emissão. Como a ciência do comportamento revela mais daramente as variáveis das quais o comportamento é função, essas possibilidadessenam grandemente aumentadas' (p.234). A emissão de comportamentos relacionados à 'responsabilidade' soci al possui relação direta com a produção de comportamentos que venham a ser reforçados pela comunidade, implicando, sobretudo na emissão de com portamentos relacionados ao conceito de autocontrole, na medida em que as ações de cada membro do grupo possuem relação com o efeito sobre o emis sor e sobre o outro, e, portanto sujeita a discriminação da própria ação e/ou de seu efeito previsto ou alcançado, a partir da participação da comunidade ver bal neste processo (Skinner, 1995), o que pode ser considerado uma vanta gem para o controle de ações pessoais em prol do bem-estar pessoal e geral. Se, como diz Skinner (1994:222), "...devemos considerar a possibilida de de que o indivíduo possa controlar seu próprio comportamento...”, é preciso conhecer os processos comportamentais que lhe dão origem e o mantém, e que explicam as diferentes formas de comportamento de autocontrole expon do diferentes técnicas utilizadas para sua obtenção. “...Quando o homem se controla, escolhe um curso de ação, pensa na solução de um problema, ou se esforça em aumentar o autoconhecimento, está se comportando. Controla-se precisamente como controlaria o comportamento de qualqueroutro através da manipulação de variáveis das quais o comportamento é função. Ao fazer isso, seu comportamento é um objeto próprio de análise, e final mente deve ser explicado por variáveis que se situam fora do indívíduo.’’{p.222). Em seguida escreve que, “Deve-se lembrar que as fórmulas expressas em termos deYesponsabili- dade’ pessoal subjazem a muitas de nossas técnicas atuais de controle e não podem ser abruptamente abandonadas. Dispor de uma transição suave já é em si um problema primordial. Mas se chegou a um ponto em que se requer uma revisão compreensiva do conceito de responsabilidade’ social, não apenas em uma análise teórica do comportamento, mas também por suas conseqüências práticas..."(p.234). Ser responsável é emitir comportamentos sob controle de regras e con seqüências sociais. Emitir comportamentos sob controle de regras de ‘respon sabilidade’ social abre caminhos para que a ação individual seja reforçada, e esta possa variar em direção da sua manutenção por reforçadores positivos condicionados ou naturais, fazendo parte do controle exercido pelos indivídu- 1(1 Grifo do autor. INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015 7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! INDEX BOOKS GROUPS os que são dirigidos a si mesmo, mas também em relação aos outros. Se associado a reforçadores negativos indefinidamente, as regras relacionadas à 'responsabilidade' social dependeriam sempre de outros controles aversivos para sua manutenção e generalização, o que não é um objetivo desejado. O sentimento de 'responsabilidade' social é uma outra face da análise que merece uma discussão. O uso intercambiável do termo 'responsabilidade’ social com práticas reforçadas positivamente é um evento que une as deci sões pessoais e coletivas a partir dos benefícios que os conhecimentos cien tíficos trariam para quem o aplica no planejamento cultural e para aqueles que se beneficiam com os procedimentos utilizados, sendo um papel da análise do comportamento atuar para este fim. Como diz Skinner (1991), quando analisa a construção do eu social: “O eu de que uma pessoa gosta parece ser produto das práticas positiva mente reforçadorasdo ambiente social, mas as culturas em gerai controlam seus membros através de estímulos aversivos quer como reforçadores negativos que fortalecem o comportamento desejado, quer como punições que suprimem o com portamento indesejado. Assim as culturas asseguram que seus membros sejam responsáveis peio que fazem, e os membros'se sentem responsáveis'" (p.48), Se o “eu responsável” estiver relacionado a comportamentos reforça dos negativamente, e não necessariamente pela emissão de comportamen tos sociais cooperativos mantidos por reforçadores positivos, isto levará ao surgimento de práticas que alertariam sobre comportamentos que poderiam ser punidos (muitas Leis ainda são regras que partem deste princípio) ou de procedimentos de punição pela emissão de comportamentos que fujam às normas. Comportamentos controlados com o uso da punição e mantidos por reforçamento negativo são relacionados às práticas de contra-controle, ao seguimento principalmente sob ameaça da punição, uma medida de resulta do observada pelo efeito do uso de conseqüências coercitivas (Sidman, 1995). A ciência tem um papel importante neste sentido, ao ser ambiente para a produção dos meios que possam garantir o sucesso de todos os empreendi mentos que levam a evolução humana e de seu ambiente, em direção ao bem estar do homem e o uso adequado dos recursos de que dispõe, sem recorrer para isto de efeitos aversivos no controle do comportamento. Ser behaviorista implica, então, em produzir uma ciência, mas não qualquer ciência, e sim, como afirma Andery (1990:24), a "...ciência da cultura, a ciência que se aplica à solução dos problemas humanos, em todos os níveis...essa concepção de ciência não excluiria, mas pelo contrário, enfatizaria, as possibilidades de intervenção no mundo a partir do conheci mento científico". Ao propormos, então, o conceito de ‘responsabilidade’ social no con trole de nossas ações profissionais e de formação profissional, devemos aten INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015 7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! INDEX BOOKS GROUPS tar para aos caminhos já percorridos pela ciência do comportamento, e como ela sugere a análise do termo e das práticas a ele funcionalmente relaciona das em seus efeitos sobre a sociedade e em prol de mudanças efetivas. O mundo precisa de soluções quase sempre urgentes que impliquem na erradicação de comportamentos que lhe são nocivos, e não de pessoas, e o behaviorista já alerta para isto há muito tempo (Skinner, 1999; 1994; 1987). Precisa de soluções que alterem o emprego daqueles efeitos coercitivos so bre a vida humana e sobre o meio que lhe permite sua condição de existência. Precisamos por isto identificar elementos chaves que possam ser transforma dos em prol da sustentabilidade do planeta. E a ciência comportamental é pensada com este propósito. Dessa forma, o modelo de ciência no behaviorismo skinneriano é um modelo para o homem e para a sociedade, esta entendida desde sua configu ração enquanto espaço verbal e de relações interpessoais, quanto de utiliza ção do ambiente físico em toda sua extensão, sendo o homem que nela se comporta produto da variação e seleção ocorrida em sua totalidade (Mícheletto& Sério, 1993), que identificamos como produzidas no nível biológico, operante e cultural. Implicam-se aí, tanto as condições que antecedem a emissão do comportamento, a topografia da resposta e funcionalidade das conseqüênci as que modelam comportamentos, sua variação e seleção. Portanto, o termo ‘responsabilidade’ social definido como comporta mentos de cooperação social, cujas conseqüências alteram as práticas huma nas em direção à qualidade de vida para todos e manutenção das condições ambientais adequadas à sobrevivência, estará em maior sintonia com premis sas comportamentais. quando não envolver conseqüências aversivas para sua ocorrência e manutenção. G erar aç õ es de fo r m açAo p r o fissio n al e r espo n sabilid ad e s o c ia l : o que TEMOS FEITO NA ÜNiVALE PARA ALCANÇAR NOSSOS OBJETIVOS A formação behaviorista é uma tarefa árdua e revolucionária em todos os sentidos, nem sempre reforçadora, mas devendo ser para quem fazemos algo a respeito, E a idéia aqui não é de contraposição ao mundo, mas de transformação. Devemos aprender a agir sobre o mundo de forma não coerci tiva e, ainda assim, transformá-lo! O desafio é pessoal: nossos problemas são nossos desafios! As mudanças devem ser iniciadas em nós mesmos, uma superação da forma como aprendemos a agir no mundo, onde quase sempre nossa evolução comportamental é mediada por controles aversivos e não é o que desejamos reproduzir. É isso que poderíamos ensinar Entendemos, assim, que as primeiras transformações talvez devessem ser iniciadas em nós mesmos, em nossas práticas de produzir conhecimentos, INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015 7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! INDEX BOOKS GROUPS como formamos nossas relações profissionais e com qual propósito. É preciso cuidar do que nos produz como sujeitos sociais e do impacto que pretende mos ter sobre o mundo, analisar nossas próprias contingências de formação e de aplicação de nosso trabalho. Partindo das premissas skinnerianas, o comportamento de cada um tem relação direta com a coletividade, porque é a partir dela que ele é produ zido, se mantém e se transforma. Se queremos mudar algo podemos começar com aquilo que vivemos e identificamos como desafios a superar. A noção de “conhecer” apontada nesta direção, implica em conhecimento produzido na relação com o outro (Skinner, 1995:120). “Nós não agimos colocando em uso o conhecimento: nosso conhecimento é ação, ou pelo menos regras para ação. Enquanto tal é poder... O comportamento operante é essencialmente o exercício do poder: tem um efeito sobre o meio...’’(Skinner, 1995:121). As contingências de formação, como aponta Guilhardi (1988), são va riadas e não exclusivas, e podem em parte ser planejadas, e nos informa que o contato com contingências diversas é tão importante na modelagem de comportamentos profissionais e científicos. O autor classifica ‘grupos' de con tingências aos quais o terapeuta deve responder, mas que se aplicaria a outros tipos de atividades do analista de comportamento. São eles: contingên cias geradas pela comunidade do cliente (do aluno)11; contingências geradas peia comunidade universitária; contingências geradas pela comunidade cien tífica; contingências geradas peta interação com uma equipe; e contingências geradas pela relação terapêutica (professor-aluno). Formar pessoas comprometidas com uma ciência do comportamento como descrita acima é de fato ainda bastante exaustivo nas condições atuais em que ocorrem o ensino e o aprendizado. Estes são os desafios para os professores nas instituições e demais ambientes de formação em que atuam, como parte do ambiente em que interagem e que modelam seus comporta mentos profissionais, Eles têm que produzir um ambiente para sua formação, que leve a um ambiente que produza sua satisfação profissional. No contexto acadêmico, o professor possui funções muito variadas. Ao responder ao mundo dentro de uma perspectiva behaviorista, poderia o pro fessor ser capaz de lidar com comportamentos mantidos por conseqüências diversas, e a sala de aula e demais ambientes acadêmicos são muito úteis para ensinarmos aos alunos o que entendemos por ciência do comportamen to na prática e o professor é modelo para o aluno no ensino de comportamen tos profissionais. 11 A inclusão dos parênteses se refere à adaptação das contingências citadas pelo autor às relacio nadas às interações entre professor e aluno na formação profissional, que não se dão associadas exclusivamente ao ambiente clínico. 64 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015 7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! INDEX BOOKS GROUPS Na Univale temos tido grandes mudanças geradas pela tentativa diária de colocarmos em prática o que sabemos, não apenas em sala de aula, mas também nos vários ambientes dos quais fazemos parte, e tem sido um grande desafio avaliar nossos comportamentos dentro de interações comportamentais. Ser behaviorista virou estilo de vida, e temos trabalhado entusiasmados para isto, mas não sem dificuldades. “Se uma andorinha só não faz verão", como descreve o provérbio popular, nossa ação em grupo tem tido um valor especi al. Foi preciso analisar as contingências em que interagimos, aquelas respon sáveis pela nossa formação, produção e aplicação dos conhecimentos dispo* níveis. Uma análise das contingências, das práticas individuais e culturais tem sido útil a nos orientar para mudanças, quando necessárias e relacionadas à emissão de nossos comportamentos nas trocas sociais diárias nos ambientes de formação. Ao todo, somos hoje cinco professores que atuam na área comportamental - um grande avanço para nossa realidade. Podemos atual mente contar com nossos pares na troca de informações e idéias, constituindo assim um ambiente reforçador para nossos comportamentos emitidos, um ambiente no qual o reforça mento diferencial de respostas está em parte a cargo do contato com profissionais que defendem premissas semelhantes, de "pontos de vista" diferentes. Lutamos para a constituição deste espaço acadê mico em função de nosso isolamento geográfico e da falta de acesso às pro duções na área, nem sempre acessíveis no tempo esperado, quando possível. Nossos professores têm cuidado de suas atividades de tal forma que se sujei tam às contingências que modelam e mantém seu próprio desempenho. Oferecemos algumas disciplinas básicas e profissionalizantes ao lon go do curso. Ocupamos a área de estágio em triagem e psicodiagnóstico, com professores de outras abordagens, e estágio básico I, criado para a formação prática em método científico. Há três supervisores de estágio em psicoterapia comportamental, sendo um em terapia comportamental infantil, para o qual criamos um projeto auxiliar denominado POF - Programa de Orientação Fa miliar. A identificação das dificuldades do cliente a partir da análise das diver sas variáveis que afetam seu comportamento, decorrentes dos efeitos de suas ações individuais ou produto das práticas culturais e recursos disponíveis, tem sido a condição necessária para ensinar os alunos o valor de sua prática e o que de fato transforma quando atende um cliente. Temos atuado na orientação de TOC’s, desde o ano de 2000, e neste ano estamos orientando 18 monografias. Orientamos trabalhos de conclusão de curso em diversos temas, e temos melhorado ano a ano os nossos desem penhos no atendimento ao aluno e nos resultados em benefício da cidade: o exercício do compromisso social começa por aquilo que nos afeta como sujei tos sociais e pelo olhar científico (discriminação das unidades de análise e INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015 7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! INDEX BOOKS GROUPSmetodologias de estudo dos fenômenos de interesse), e os alunos dividem as interlocuções neste sentido, identificando áreas de intervenção e pesquisa no seu próprio ambiente de convivência diária e se interessam por este perfil de pesquisa e de pesquisador, emitindo comportamentos nesta direção, nos re forçando e sendo reforçados. Temos atuado em projetos de extensão envolvendo o Conselho Tute lar e em outros referentes ao manejo de situações de risco para crianças e adoíescentes da cidade, como nos casos de violência doméstica. Este, um trabalho conjunto com o Programa Sentinela/GV, onde damos apoio científico na área de psicologia e atendemos adolescentes com história de “abuso se xual”, em outro projeto realizado no Serviço de Psicologia Aplicada que prevê intervenções no ambiente familiar, na própria comunidade dos clientes. Outro projeto de extensão é a continuidade do estágio em terapia comportamental. Denominado “Aprimoramento em Psicoterapia Comportamental e Análise do Comportamento Aplicada à Clínica” vem sendo oferecido desde o ano 2000 para os alunos do 5o ano, como uma tentativa de qualificar melhor os alunos, que têm a oportunidade de continuar a atender seus clientes conduzindo-os à alta, quando não produzida no período regular de estágio. Estamos atualmente envolvidos na orientação de três projetos de inici ação científica, dois envolvendo bolsistas do programa BIC12 e um com bolsa da FAPEMIG - Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais. Além destas atividades, desenvolvemos iniciação científica e pesqui sas com a colaboração de alunos do curso, que são convidados a partilhar nossas práticas profissionais, e que tem sido muito reforçador para nós, mes mo não havendo recursos ou bolsas disponíveis. Temos feito pesquisas clínicas; pesquisas sobre qualidade de serviços prestados pelo poder público; pesquisas sobre adesão ao tratamento; pesqui sas sobre variáveis sociais que reconhecemos como importantes para a cida de; já fizemos pesquisa em ambiente rural auxiliando um programa de gera ção de renda, em convênio com a EMATER-MG e o Governo Alemão. Já atuamos em uma instituição escolar, em um projeto conjunto com o Rotary Club/GV, assessorando o trabalho da psicologia neste ambiente, em um bairro bastante comprometido quanto às condições em que vivem seus moradores. Participamos de um programa de educação de jovens e adultos, programa este oferecido pelo curso de pedagogia da Univale. Temos atual mente convite para auxiliar a rede municipal de ensino na avaliação e propo sição de modelos de intervenção em conjunto com equipe formada por profis sionais de várias áreas do conhecimento (psicólogos, assistentes sociais, 12 BIC - UNIVALE - Bolsa de Iniciação Cientifica oferecida pela universidade. 66 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015 7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! INDEX BOOKS GROUPS pedagogos e sociólogos). Estamos sendo convidados a colaborar com um grupo preocupado com o desenvolvimento do trânsito na cidade. Todas estas atividades só acontecem pela colaboração entre alunos e professores que partilham de nossos ideais e compromissos com a sociedade. Em 2000, fundamos o Núcleo de Estudos em Análise do Comporta mento e Prática Cultural - AC PC, inscrito no Diretório Lattes, do CNPq, e certi ficado pela instituição como um grupo de pesquisa oficial. Todos os professo res que nele trabalham são cadastrados e os alunos são incentivados a intro duzir seus currículos na plataforma Lattes. O Núcleo tem sido um ambiente bastante reforçador para os que nele atuam, onde todos partilham seus avan ços, curiosidades e dificuldades. Temos procurado superar nossos desafios13 profissionais e pessoais em conjunto, buscando sempre avaliar o que vem ocorrendo e discutindo soluções em grupo, o que tem sido o exercício do que acreditamos ser um grande valor para aqueles que se denominam analistas do comportamento. Contamos com quatro monitores no Núcleo e dois no laboratório de psicologia experimental, o LAPEX, além de um aluno que foi contratado pela universidade como laboratorista. Os monitores do Núcleo possuem várias tarefas: auxiliam professores de outros cursos ou da psicologia nos assuntos administrativos e acadêmicos, como também na realização de pesquisas; cui dam do acervo bibliográfico, auxiliam na tomada de decisões; orientam os alunos na realização de suas pesquisas e na busca de informações; cuidam da agenda semanal do Núcleo. Os monitores também são convidados a de senvolver algum projeto de pesquisa. Estes são extremamente zelosos com os colegas e professores que buscam informações. Ajudam também na produ ção de material didático, auxiliam nos cursos de extensão, quando não são responsáveis por eles, e produzem o projeto “Café com Ciência”, onde discu tem sua formação profissional e questões em análise do comportamento. To dos são incentivados a estudar outra língua, em especial o inglês, devido ao seu uso internacional. Os teores das pesquisas realizadas no Núcleo aprofundam os temas das atividades desenvolvidas nos espaços urbanos, dando-nos condições para conhecer meihor a cidade e propor formas de intervenção a partir de avaliações bem formuladas, que servem de base para tomada de decisões sociais e profissionais. Recentemente avaliamos a emissão de comportamen tos por ciclistas no centro da cidade, em um estudo observacional naturalístico sob a coordenação de uma aluna bolsista de iniciação cientifica. O interesse pela área de epidemiologia e comportamento é outro exem plo que tem gerado pesquisas com o intuito de aprimorar nossos conhecimen ’3 Nome introduzido em substituição ao termo 'problemas'. 67 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015 7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! INDEX BOOKS GROUPS tos sobre a região e as condições em que vive a população, sua participação em programas e serviços sociais, bem como sua adesão. Quatro TCC's estão sendo feitos em confluência com a área de epidemiologia. Também desenvolvemos pesquisas na área do esporte e sobre forma ção profissional. Pesquisas e discussões em interface com profissionais de outras áreas são feitas, entre estes estão professores do curso de farmácia, comunicação social, sociologia, odontologia, educação física e uma pesquisa sobre SARS, denominada ‘SARS: Comunicação e Comportamento”, com a participação de um jornalista científico italiano, Yuri Castelfaldi, e dois alunos do 6o período. Em 2001, fizemos uma avaliação a respeito dos sites com temas relaci onados a análise do comportamento, que se tornou um projeto de TCC, que serviria de base para a produção de um site do Núcleo, que brevemente estará disponível. Estamos atualmente desenvolvendo estudos bibliográficos sistemáti cos, um sobre a aplicação do modelo de desamparo aprendido na área de farmacologia e, outro sobre estudos que utilizaram álcool e cocaína como variáveis independentes apresentados no JEAB (Journal of the Experimental Analysis ofBehavior), e publicados nos últimos 13 anos. Tudo que temos feito deve-se ao companheirismo entre professores e alunos, diariamente, e às vezes, de segunda em segunda. A formação dos alunos de forma diferenciada foi para nós muito importante, e tem levado "naturalmente” a esses resultados, consistindo assim no exercício do behaviorismo na prática, com 'responsabilidade' social. Temos que lidar com muitos desafios e impedimentos. Um primeiro deles é que todas as produções na área parecem nos interessar. Aprendemos e ensinamos como Sidman (1976) já descreveu, o valor da curiosidade, e partilhamos isto com os alunos. Ser analista de comportamento às vezes parece uma tarefa hercúlea, pois temos que estar atentos às publicações que envolvemdiscussões epistemológicas, teóricas, metodológicas, produções em pesquisa básica e aplicada, e às investigações das unidades de análise investigadas pela abordagem comportamental como comportamento verbal, equivalência, metacontingência e prática cutturaí. Somado a isto, temos se guido recomendações apresentadas por autores como Biglan (1995), Mattaini e Thyer (1996), Glenn (1988, 1991), Lamal (1991; 1997) e outros analistas de comportamento que vêm sugerindo a união entre ciências e tecnologias, para o trabalho com práticas culturais. Nossos impedimentos também ocorrem pelo tempo em que solicita ções são resolvidas em algumas circunstâncias, falta de verbas e de equipa mentos (computadores, p.e.). Há deficiência também na aquisição de livros e 6 8 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015 7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! INDEX BOOKS GROUPS periódicos, e a manutenção de sua aquisição. Temos solicitado a produção de um Software para cadastrar o material da biblioteca do Núcleo porque o material que temos disponível não pode ser acessado devidamente porque não possuímos um sistema de busca eficiente. A inserção no mundo acadêmico-administrativo ocorreu primeiro com o período em que assumimos a coordenação do curso (1999-2001), depois por todas as inserções que fazemos no espaço da vida administrativa da universidade, desde o ano de 2000. Temos feiío parte da Câmara de Pesquisa da Faculdade da qual fazemos parte, do Comitê de Ética em Pesquisa (CEP- UNIVALE), do Comitê Científico Tecnológico da APPG - Assessoria de Pes quisa e Pós-Graduação, criando assim oportunidades de pensar as contin gências relacionadas à prática cientifica auxiliando a universidade a conside rar aspectos comportamentais na análise e definição dos parâmetros acadê micos científicos. Por fim, a divulgação de nossos trabalhos é muito tímida. Temos partici pado de eventos apresentando nossos projetos e resultados, como os Encon tros da ABPMC. Para nós professores e para os alunos têm sido situações totalmente inusitadas, com certa ansiedade envolvida, e muitas vezes como produto de muita ousadia. Os alunos têm se orgulhado de seus trabalhos e vencido os medos surgidos na divulgação pública de seus achados. Para finalizar, gostaria de apresentar uma descrição da perspectiva de Skinner sobre sua ciência, segundo Andery (1990), "As próprias influências mais propriamente de Skinner, entretanto, tam bém apontam para a interpretação, de um lado, de que não se trataria de uma tipica posição de “ciência em dois passos" e, de outro lado, do importante papel que deveria desempenharem sua formulação da ciência, não apenas a preocupação com o homem, mas também com a sociedade, e mais, com a ciência aplicada como parte integrante da ciência básica... "(Andery, 1990:24). Em nossa prática temos procurado não perder de vista nosso bem maior: a evotução sustentável da sociedade e nossa própria evolução como grupo profissional. Temos ensinado aos alunos e às pessoas com quem con vivemos a nos verem como colaboradores e que nossa ciência não é uma ameaça ao mundo, mas pelo contrário, é expressa em nossas atitudes compromissadas com sua produção e do ambiente em que vivemos. R eferências Andery, M .A.P.A. (1990) Uma tentativa de (re)construção do mundo. aoênda do compor tamento como ferramenta de intervenção. Tese de Doutorado. Pontifícia Universida de Católica de São Paulo. 491 p. INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015 7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! INDEX BOOKS GROUPS Baer, M. D., Wolf, M.M. & Risley,T. R. (1968). Some current dimensions of applied behavior analysis. Journal o f Applied Behavior Analysis. 1, pp. 91-97. Bartow, D.H. & Hersen, M. 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INDEX BOOKS GROUPS A t iv id a d e s d e E n s in o e m u m C u r s o d e P s ic o l o g ia : u m a A n á l is e C o m p o r t a m e n t a l * Ronaldo Rodrigues Teixeira Júnior** Henrique Coutinho Cerqueira** Adélia Maria Santos Teixeira (orientadora)” IntroduçAo O verdadeiro fracasso nos resultados que facilmente encontramos em nossas instituições de ensino não é uma característicaapenas de nossa atu alidade. Os déficits na aprendizagem, a aversão às mais diversas formas de ensino e a baixa efetividade na aprovação de alunos dentro das escolas, são questões que remontam a quase todo o histórico da educação em todo o mundo. Começando com um tipo de educação extremamente repressiva, passando por um tipo antagonicamente permissiva, até caminhar aos moldes atuais não muito bem definidos, a educação formal ainda não encontrou seu paradigma de maior qualidade e eficiência. Desde seus primórdios, as histórias de violência e punição no contex to da educação são variadas e bem conhecidas. O uso da palmatória, varas de marmelo e até mesmo chicotes e surras, não era pequeno, e assustavam - e assustam até hoje - a muitos que assim o ouvem dizer. A educação possui uma longa história de controle aversivo dos alunos e ainda se mantêm nes ses moldes até hoje. As punições que então eram corporais foram substituí dos por formas mais "sutis" de castigo. Talvez mais sutis por não deixarem rastros físicos de sua aplicação, mas igualmente prejudiciais quando nos referimos à aspectos do comportamento e danos psicológicos nos alunos em geral. Retirada de atenção pelo professor, notas baixas (“vermelhas”), sus pensões e exposições ao ridículo são apenas alguns exemplos de atitudes ‘ Trabalho selecionado como um dos melhores, na área de Ciências Humanas, na XII Semana de Iniciação Científica da Universidade Federal de Minas Gerais (Pró-Reitoria de Pesquisa I dezembro de 2003). ‘ ‘ Universidade Federal de Minas Gerais INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015 7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! INDEX BOOKS GROUPS ainda constantemente aplicadas e que demonstram claramente o caráter aversivo do ensino. Uma explicação para o uso tão comum destas estratégias aversivas de controle na educação é seu efeito imediato sobre o comportamento do alunos (que é modificado rapidamente sob sua aplicação), e o desconhecimento pelos professores de métodos alternativos para obter os resultados seme lhantes. Sobre as consequências da aplicação de práticas aversivas de qual quer espécie, Skinner (1974) escreve: “Os que são assim controlados passam a agir. Escapam do controlador (...) ou então atacam afim de enfraquecer ou destruir o poder controlador..." (p. 164). E ainda (1953) “Qualquer comporta mento que reduza essa estimulação aversiva será reforçado." (p.206). Esse mecanismo então chamado de contracontrole pela Análise Experimental do Comportamento, pode ser observado nas escolas pelas fugas de sala, desatenção, algazarras, vandalismos etc. Estes atos são o maior reflexo dos prejuízos que um tipo de controle aversivo pode gerar no processo de aprendizagem formal, além de trazer uma série de subprodutos indesejáveis como algumas respostas emocionais (ansie dade, medo, ira etc). Devido a isso muitos alunos, além de não desenvolverem um bom repertório de aprendizagem das aulas, podem vir a desenvolver alguns sérios transtornos psicológicos (fobias sociais, timidez etc). Com estes lamentá veis resultados, novas formas de se pensar educação foram propostas. Skinner mesmo em 1968, em seu célebre livro “Tecnologia do ensino” trouxe uma alternativa para este fracassado sistema. Contando com um tipo de instrução programada e com suas máquinas de ensinar (que então ocupariam as principais funções dos professores), Skinner deu uma grandiosa ênfase ao estudo científico dos métodos de ensino, priorizando um tipo de aprendizagem individualizada e controlada por reforços positivos. Sidman (1989, p. 118), outro importante autor da Análise Experimental do Comportamento, afirma: “Supõe- se que a aprendizagem provê suas próprias recompensas, mas ninguém confia no fracasso como provedor de suas próprias punições.”. Ambos os autores acei tam assim a possibilidade de se manter comportamentos básicos de aprendiza gem, dispensando-se completamente os métodos aversivos de controle. Skinner (1968) diz que ensinar i!é simplesmente arranjar contingências de reforço." (p.4) Desta forma, com uma forma de ensino planejado (com base análise do comportamento), contando com um minucioso trabalho de cons trução de programas e bons mecanismos de aplicação dos mesmos, o pro cesso de aprendizagem poderia se dar na metade do tempo, com um grau de excelência de aprovação, sem rejeições pelos alunos e com uma sobra de tempo substancial para os professores se dedicarem a outras atividades. 74 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015 7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! INDEX BOOKS GROUPS Quase simultaneamente ao lançamento desta importante obra de Skinner um outro autor publicou um livro também como resposta a esta então grave situação do ensino. Cari Rogers (1969) em sua obra intitulada “Liberdade para aprender" parte de uma visão fenomenologica/humanista (que contrapõe dire tamente à proposta da análise do comportamento), onde defende justamente a liberdade que o aluno deve ter no seu processo de aprendizagem. Se considerássemos esta liberdade somente a eliminação dos agentes controladores aversivos. estaríamos de acordo com a proposta de Skinner, o problema é quando verificamos que o significado da palavra liberdade para Rogers, implica também em um abandono de qualquer tipo de planejamento ou programação de atividades. Isto bate de frente com as idéias de Skinner, fato que foi responsável por uma certa repercussão desta discussão tão polêmica frente ao assunto. Tais claras e duras divergências entre estes renomados autores da época até renderam a publicação de um outro livro especifico ao tema - Skinner X Rogers: maneiras contrastantes de encarar a educação - (Milhollan, 1972), e muitos questionaram qual destes modelos seria mais adequado para resolver mais eficientemente o problema atual enfrentado pela educação. Justamente para tentar responder esta, e também algumas outras ques tões, este trabalho foi pensado. Aproveitando-se do referencial teórico da aná lise do comportamento decidiu-se avaliar algumas das principais atividades de ensino utilizadas no atual contexto educacional, sob uma perspectiva da queles que são os maiores interessados: os próprios alunos. Que fique claro que quando falamos ‘'principais atividades de ensino”, estamos tomando como referencial aquelas atividades que são frequentemente utilizadas no curso de Psicologia da UFMG (local de realização da pesquisa), mas que, de certa forma, cremos que representam algumas das mais comuns atividades de ensino empregadas no contexto educacional. Para tal avaliação os alunos fizeram uso da principal ferramenta existente dentro da abordagem comportamental, que é a análise de contingências, ou a então chamada contin gência de três termos (antecedentes, comportamento e consequências). Vale a pena salientar que justamente por se tratar de uma análise feita pelos próprios alunos, e não havendo assim nenhuma garantia destas análi ses estarem certas ou não, o fator correção ou não das mesmas não obstruiu o objetivo desta pesquisa. Foi dado um valor maior à história ambiental de cada sujeito para enriquecimento qualitativo do trabalho. E devido ao então grande número de variáveis envolvidas (ou em qualquer outra análise de atividades do ensino de forma gerai) e a grande dificuldade metodológica em isolar estas variáveis, optou-se fazer deste trabalho apenas um recorte de uma situação em uma instituição de ensino, sendo que seus resultados de vem ser analisados com cautela, afim de se evitar imprudentes generaliza ções para outros contextos. INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015 7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! INDEX BOOKS GROUPS Feitas essas pontuações, este trabalho visou,mais especificamente, responder as seguintes perguntas: como os alunos do curso de Psicologia da UFMG avaliariam, de uma forma geral, as atividades de ensino?; quais seriam as principais falhas encontradas?; o que estaria mantendo a persistência nestas falhas? haveria alguma relação entre o maior e o menor planejamento das atividades e sua eficácia? As nossas hipóteses eram que os alunos, atra vés das análises de contingências, reconheceriam a ineficiência das ativida des de ensino; eles conseguiriam apontar suas principais falhas; eles tentari am achar as possíveis causas da continuidade do seu emprego; e eles encon trariam alguma relação entre o maior planejamento da atividade e a maior eficiência do aprendizado. M etodologia ■ C o n t e x t o Foi utilizado o contexto das aulas da disciplina “Análise Comportamental do Ensino”, matéria optativa do curso de Psicologia da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), ministrada pela Professora/Doutora Adélia Maria Santos Teixeira, durante todo o período do 2o semestre letivo de 2002. ■ S u j e it o s Participaram deste trabalho 44 estudantes do curso, todos eles devida mente matriculados na disciplina. Não houve qualquer tipo de seleção prévia destes alunos ou mesmo fornecimento de informações sobre a realização da pesquisa anteriormente à matrícula (surgimento e comunicação posterior da idéia de realização da mesma, com aprovação dos mesmos). Por se tratar de uma disciplina optativa haviam alunos de diferentes turnos do curso e de diferentes períodos (a partir do 6o , até o 10°). Mesmo se tratando de uma disciplina da área comportamental e não obrigatória, vale ressaltar que a preferência por abordagem teórica entre os alunos matriculados era bem di versa, uma vez que a grade de opções de disciplinas optativas ofertadas pelo curso encontrava-se reduzida e muitos deles a escolheram por outros motivos que não só interesse. ■ P r o c e d im e n t o Foi solicitado aos alunos para se organizarem em grupos de 3 à 6 alunos, e que fosse escolhido entre eles, uma entre as mais variadas atividades de ensino conhecidas. O grupo teria então, como atividade principal, fazer análises funcionais destas atividades, apontando então as 76 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015 7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! INDEX BOOKS GROUPS prováveis qualidades e deficiências de seu emprego. Deixou-se razoavel mente livre a apresentação e construção do trabalho, mas salientou-se a gran de importância das análises de contingências (antecedentes, respostas e consequências) para a realização do mesmo. Foram escolhidas as datas mais convenientes para os grupos e deu-se início às apresentações, mais ou me nos semanais. • I nstrumento Foi utilizado o conteúdo escrito dos trabalhos, bem como eventuais trechos orais das apresentações em sala de aula, e discussões entre os alu nos e entre alunos e professora dentro da sala. Ressalta-se que as análises de contingências das atividades de ensino foram feitas a partir de observações não sistemáticas baseadas na própria experiência dos alunos com as ativida des analisadas. R esultados Ao fim do curso, haviam se formado um total de 10 grupos, cada um tendo escolhido uma atividade de ensino. Foram elas: apresentação de semi nário, debate intra-classe, fichamento de texto, aplicação de prova, aula expositiva, observação de entrevista, utilização de recursos audiovisuais, exi bição de filmes, construção de projeto de pesquisa e atividades no laboratório. Conforme esperado, a liberdade dada para entregar os trabalhos fez com que cada grupo os apresentasse com um conteúdo e formato diferentes. Isso causou uma previsível maior dificuldade em organizar os dados, mas aumentou a riqueza dos mesmos. Convém notar também um número razoável de erros nas análises de contingências, os quais serão discutidos posterior mente. ' Análise de contingências: Apresentação de Seminário Antecedentes Respostas Conseqüências - Número excessivo de alunos; querer menos trabalho. - Professor propõe seminário. -Alunos aceitam sugestão. -Afinidade entre alunos; aproximação da data. -Alunos formamos grupos. -Grupo formado. INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015 7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! INDEX BOOKS GROUPS - Grande n° de páginas; tempo curto. -Divisão do texto em partes. -Omissão de algum conteúdo. -Planejamento da apresentação. - Estudo de sua parte apenas. - Esforço menor. -Desconhecimento de partes do texto. - Apresentação “filtrada". - Fragmentação do conhecimento. -Achar queocolega não vai saber que terminou - Sinalização para colega começar trabalho. - Percepção de todos que o trabalho não foi feito em grupo. -Término da apresentação. - Teedback’“ do professor. - Avaliação positiva ou negativa. Debate Intra-classe Antecedentes Respostas Conseqüências - Não ter lido o texto; não se interessar pelo assunto; não saber expor e sustentar idéias; história ave rs iva (críticas). -Sair de sala; chegar atrasado; dormir; ficar calado; conversar paralelamente sobre outros assuntos. - Evitar tema desinteressante; descansar; fazer algo mais reforçador. - Estar com dúvidas; querer fazer um comentário; ser tímido; fatta de oportunidade para perguntar. - Conversar paralelamente sobre o tema do debaíe. -Troca produtiva de idéias. -Ter lido o texto;ter interesse peto assunto; querer confirmação de um raciocínio; querer aprovação dos outros. - Fazer perguntas, comentários; apresentar respostas. - Aprovação do professor e colegas; obter respostas das questões, gerar outras perguntas, argumentos ou idéias. -Ter sido criticado ou ironizado anteriormente; levar a discussão para o lado pessoal; não aceitar outros pontos de vista. - Exaltação. - Esquivar-se de situação aversiva; tumultuar debate. 78 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015 7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! INDEX BOOKS GROUPS Fichamento de Texto Antecedentes Respostas Conseqüências - Fichamento não valer nota ou valer pontos insignificantes; informação de que o professor não os corrige. - Não fazer o fichamento. - Economia de tempo. -Todosterem recebido a mesma nota no fichamento anterior; não saber fazê-los corretamente. -Fazer fichamento incompleto, mal feito ou copiar do colega. - Economia de esforço. - Informação de que o professor recolhe e corrigefichamentos; pontuação significativa para atividade; história do aluno em estudar pelo fichamento. -Fazer ficha mento bem feito. -Aluno aprende ou fixa a matéria; boa nota e reconhecimento do professor. Aplicação de Prova Antecedentes Respostas Conseqüências - Prova marcada. -Alunoestudabastante. - Boa aprendizagem e boa nota na prova. -Prova marcada. -Aluno estuda de forma generalizada e sem profundidade. - Nota razoável em provas fáceis. -Falta às aulas, desmotivação e obrigatoriedade da atividade. - Aluno estuda na véspera. - Aprendizagem e nota mediana. -Aluno assiste todas as aulas e estuda com antecedência. -A lunofazaprova. - Boa nota e boa aprendizagem. - Mal preparo do aluno. -Aluno “cola'’. - Boa nota sem necessidade de aprendizagem. INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015 7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! INDEX BOOKS GROUPS Aula expositiva Antecedentes Respostas Conseqüências -Considerar alunos enquanto audiência. -Tatoseintraverbais. - Atenção e concordância dos alunos. -Apresentaçãodo conteúdo por fala do professor. - Atenção e questionamentos. -Aprender conteúdo ou chamar a atenção do professor. -Apresentação do conteúdo por falado professor. -Sono. -Descansarou provocar o professor. Observação de Entrevista Antecedentes Respostas Conseqüências -Interesse nas informações do modelo; identificação como modelo; reforça mento passado em imitar modeios. - Prestar atenção no entrevistador. - Facilitação da aprendizagem do comportamento; participação na discussão; aprovação do professor. - Falta de interesse nas informações do modelo; não identificação com o modelo; punição passada em imitar modelos. - Não prestar atenção no entrevistador. -Aprovação na disciplina. 80 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015 7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! INDEX BOOKS GROUPS Utilização de Recursos Audiovisuais Antecedentes Respostas Conseqüências -Apresentação visual de estímulos verbais. Comportamento - de atenção ou de cópia. -Aprovação do professor e colegas: aprendizagem do conteúdo; evitar situação aversíva. -Apresentação visual de estímulos verbais. - Conversar, estudar outra matéria, sair de sala, etc. - Evitar assunto chato, repetido, superficial ou complexo demais. - Escrever, desenhar ou apagar o quadro negro. - Comportamento de distração. -Evitar estimulação aversiva; aliviartensão. -Tampar parte da lâmina do retroprojetor comumafoiha. - Comportamento de observação de menos estímulos visuais. -Maiorfocalizaçãodo estímulo e menor distração. - Exibição no DataShow de esquemas móveis, animações, sons, etc. - Acompanhar alterações de estímulos visuais e auditivos. - Fortalecimento do comportamento de atenção. Exibição de Filme Antecedentes Respostas Conseqüências -Afinidade com o tipo de filme; relaxamento; sinalização de atividade diferente. -Atenção; silêncio; emocionar-se. -Entendimento da matéria; ampliação do repertório; reflexão. - Cansaço ou sono; filme já visto; possibilidade de alugar o filme depois. - Dormir; conversar; fazer outras atividade; ir embora; criticar. -Esquiva do assunto e do professor. 81 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015 7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! INDEX BOOKS GROUPS Construção de Projeto de Pesquisa Antecedentes Respostas Conseqüências -A escolha do tema é feita pelo professor. -Aluno estuda o tema. - Nenhum esforço em pensar um tema. -A escolha do lema é feita pelo aluno. -Aluno estuda o tema. - Maior interesse em estudar. -Alunos interessados. - Maior orientação do professor. -Aperfeiçoamento profissional. -Aiunos desinteressados. -Menor orientação do professor -Maiortempo livre. Atividades no Laboratório Antecedentes Respostas Conseqüências - Instruções sobre a aula prática. -Anotar, ouvir, tirar dúvidas. - Ficar preparado para o exercício. - Sinalização para começarem. - Pegar ratos no biotério. - Rato recolhido. -Alunos na cabine experimental. - Preparar caixa de Skinner. - Rato dentro da caixa. -Início da atividade. - Observar, cronometrar e registrar dados. -Possuirdados para relatório. -Fim da atividade; término do tempo. - Retirar rato da caixa de Skinner. - Esquiva; rato retirado. -Rato na gaiola. - Levar rato para biotério. - Rato devolvido. -Professor relaciona dados com teoria. -Alunos mostrando registros. - Interesse dos alunos. INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015 7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! INDEX BOOKS GROUPS Principais falhas apontadas pelos alunos: Apresentação de Seminário: limitação de conhecimento dos apresentadores; pouca didática. Debate intra-classe: dificuldade de condução; inibição de pessoas mais tímidas. Fichamento de Texto, atividade cansativa e monótona; improvável correção do professor. Aplicação de Provar, diferença de critérios avaliativos por professor; espaço longo entre o aprendizado e sua verificação; validade questionável. Aula expositiva: desrespeito de ritmos individuais de aprendizagem; pouca participação dos alunos. Observação de Entrevista: não identificação com o modelo; passividade dos alunos. Utilização de Recursos Audiovisuais: necessidade de estrutura material e técnica para uso; custo mais elevado. Exibição de Filme: não clareza do conteúdo a ser aprendido; filme ruim ou já visto. Construção de Proieto de Pesquisa: restrição da escolha do tema; obrigatoriedade da atividade. Atividades no Laboratório: exioência de bom espaço e aparelhagem; maior demanda por monitores. DiscussAo Mesmo se tratando de uma pesquisa descritiva, esta quantidade de dados nos permite fazer algumas ponderações sobre o trabalho. Seguindo pela ordem das principais perguntas que motivaram esta pesquisa, pôde-se notar claramente uma autocrítica geral dos alunos em ques tão frente à eficiência das atividades de ensino. Em todos os trabalhos ficou evidenciado o alto número de comportamentos que são indesejáveis ao pro cesso de aprendizagem, principalmente quando comparados com o número daqueles que seriam de interesse para o ensino. As principais falhas apontadas pelos alunos, que estão presentes em quase todos os trabalhos foram: o desinteresse e a baixa motivação frente aos conteúdos presentes na aplicação das atividades que, inevitavelmente, não agradam a todos da classe; a padronização de datas e horários que não INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015 7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! INDEX BOOKS GROUPS respeitam estados de humor individuais e que disputam claramente com vári os estímulos concorrentes; a falta de um maior planejamento das atividades que não garantem o aprendizado (alunos muito passivos). As tentativas de identificar o que manteria estas falhas nâo obtiveram grande êxito, uma vez que muitas das análises também não foram tão refina das. Além da limitação de algumas análises, foi comum, a muitos alunos, confundir consequências gerais de uma ação, com aquelas que teriam algu ma relação de controle com o comportamento. Mas, basicamente, as razões apontadas que justificariam a manutenção destas falhas foram: economia de tempo, trabalho e recursos para o professor e para a instituição de ensino (o que acaba se refletindo também para o aluno). O dado talvez mais importante é que apenas as atividades em labora tório apresentaram uma direção inversa das evidências gerais deste estudo. Os comportamentos desejáveis ao ensino eram a grande maioria, os alunos gostavam mais das atividades e as falhas apontadas referiam-se, quase to das, à uma precariedade dos materiais utilizados (fator específico ao local em questão). Talvez por possuir uma tradição científica, o laboratório consiga manter uma boa ordenação das atividades com um espaço menor para inter ferência de outras variáveis. Aíém disso essa é uma atividade diferente, que mantém o aluno se comportando a maior parte do tempo na direção visada. Apesar da simplicidade dos dados e da presença de um número razo ável de erros nas análises, estas considerações mostram-se ainda válidas uma vez que nos permitiram ter um acesso satisfatório à algumas das condi ções ambientais que os alunos estão expostos, além de nos fornecerem mar gem para a realização de novas pesquisas mais elaboradas no futuro. C onclusões Podemos concluir que este trabalho encontra-se de acordo com as propostas da análise do comportamento sobre educação. O distanciamento de um tipo de ensino planejado e de modelos deatividades programadas (ou contingenciadas) conforme propostas por Skinner (1968), acabam por resul tar no que já vimos e continuamos vendo dentro das instituições de ensino: desperdício de tempo e recursos em atividades que promovem baixíssima efetividade na aprendizagem dos alunos. Algumas publicações tais como: o livro de Holland e Skinner (1961), a experiência relatada por Keller (1968) ao implantar este molde de ensino no departamento de Psicologia da Universidade de Brasília, o trabalho de Teixeira (1983, 2002) em uma pré-escola, apontam para o grande sucesso que o domínio desta tecnologia comportamental pode proporcionar também na área educacional. 84 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015 7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! INDEX BOOKS GROUPS A qualidade do ensino programado é inquestionável "os críticos da instrução programada nunca argumentam que ela não ensine.” (Teixeira, 2001). O desconhecimento desta tecnologia de ensino pelas instituições, faz com que a educação deixe muito à desejar e consolida concepções ultrapassadas da aprendizagem em sua longa história cultural. Uma atividade programada permite a maior individualização da ensi no, respeitando assim, um pouco mais, os limites dos interesses e velocidade em aprender de cada aluno. Segundo Teixeira (2000) ‘As disposições genéti cas e a degeneração ou deterioração orgânicas constituem os únicos limites impostos à programação de contingências de reforçamento orientadas para o ensino”, (p.86). Retirados estes limites, a programação do ensino poderá su perar os mais duros desafios ambientais, promovendo uma concordância bem mais próxima entre os interesses das agencias educacionais e dos alunos. Não há como esperar bons resultados de modelos que pretendem pa dronizar a aprendizagem de uma turma com 30 ou 40 alunos em um tempo também inflexível. O máximo que se consegue com esse sistema é um grande número de resultados medianos dentro da classe e pequenos grupos de alu nos em grande descompasso com a maioria. Os bons resultados muitas ve zes independem de um verdadeiro mérito da técnica utilizada. Isso nos leva a questionar o verdadeiro valor do atual método de ensino, sendo que nos é apresentado um outro que sugere obter um resultado de 100% na aprendiza gem geral de cada aluno e em um tempo significativamente menor. Para tal, é claro que são necessários esforços que permitam sua concretização e que, de certo, não são tarefas fáceis. O ensino programado, no mínimo, demandaria uma quantidade maior de recursos para sua implan tação e talvez posterior manutenção, além de modificar radicalmente a função do professor, que passaria de simples “transmissor" para “construtor” , “revi sor" e debatedor do conhecimento (Skinner, 1989). A questão da liberdade é outro ponto que toca esta discussão e que aflige muitos críticos à teoria comportamental,. Segundo eles, este sistema de ensino restringe o direito dos alunos de “pensar livremente ou criativamente". Discutindo as controvérsias sobre controle e liberdade Skinner (1971} diz: “(...) embora o comportamento seja inteiramente determinado, é melhor que o ho mem “se sinta livre” ou que “acredite ser livre.” (p.35) “O controle seria nitida mente o antônimo de liberdade, e se a liberdade é boa, o controle deverá ser ruim" (p. 36). Erroneamente os críticos do ensino planejado, generalizam a proposta da análise do comportamento com práticas de controle aversivas comuns na história de nossa sociedade. Quando o controle se dá em outras áreas (como na medicina, engenharia ou outras ciências) ele obtêm reconhecimento e 85 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015 7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! INDEX BOOKS GROUPS sucesso, mas quando passamos à áreas sociais ou “humanas” este mesmo controle é visto com maus olhos, Tudo isso fruto de uma herança cultural de grande diferenciação e mistificação do homem. De acordo com a presente abordagem, o comportamento humano é regido por leis como os demais even tos da natureza, e assim como eles, podem e devem ser estudados e contro lados visando sempre o maior domínio ambiental e a maior efetividade. As atividades de ensino não fogem à esta regra e, inevitavelmente, estão associadas à algum tipo de direcionamento ou controle cultural (o que de certa forma já é responsável por uma certa restrição daquilo que então chamam de '‘liberdade”). Fato este que não implica este controle ser ruim ou obstruir ocorrências de reflexão ou criatividade. Este controle é escolhido como o mais benéfico à nossa cultura, e, igualmente a qualquer outro comporta mento, aqueles então chamados de ‘reflexivos" ou criativos” podem também ser melhor pesquisados e treinados para sua melhor utilização. Um posicionamento oposto e inconsequente de radicalismo de movi mento de liberdade e quebra de quaisquer planejamentos ou direções pode conduzir à condutas graves anti-sociais e grandes confusões, demora ou ine ficiência na aquisição de conhecimento. Uma alternativa plausível é fazer do ensino uma tecnologia eficaz e controlada, que realmente ensine, e que per mita aos alunos escolherem aquilo que querem aprender: este seria o verda deiro movimento em prol da liberdade. Skinner (1971) escreve “(...) para tornar o ambiente social tão livre quanto possível dos estímulos adversos, não preci samos destruir este ambiente, nem fugir dele; precisamos replanejá-lo” (p.37). Esta é uma posição da análise do comportamento e que, de longe, sai dos extremismos de posturas que pregam liberdade excessiva (sem nenhum planejamento) ou de posturas alienantes (com planejamentos coercitivos). Além disso, com certeza, esta apresenta-se como uma alternativa muito mais próxima deste ponto de equilíbrio do que nosso atual sistema (ainda altamen te punitivo e autoritário). Não se pode simplesmente querer abandonar ou restringir o domínio da tecnologia da pedagogia e aprendizagem em função de um mau uso do conceito de liberdade. Isto acaba retirando o homem de sua história de reforçamento e contato com as contingências ambientais para recolocá-lo novamente ao lado de um poder criador, fato este que nos faz regredir aos molde mais antigos de produção de conhecimento. Este estudo se propôs exatamente à mostrar algumas das conseqüên cias indesejáveis do uso de atividades mal planejadas e o maior sucesso e motivação dos alunos frente ao êxito em atividades de maior planejamento. Sua extensão à situação geral do ensino deve ser precavida mas, como vi mos, outros estudos já apontam para esta mesma direção e outros provavel mente também o mostrarão no futuro. 8 6 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015 7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! INDEX BOOKS GROUPS Esperamos que nossa cultura possa dar um bom salto na educação assim como todas as demais ciências o fizeram ao longo de suas histórias. A proposta de uma ciência não é, de certo, a única alternativa para o desenvol vimento de diferentes formas de conhecimento, mas talvez seja a proposta mais próxima daquilo que a educação pretende nos fornecer: um grau de excelência na aprendizagem. R eferências B ibliográficas Holland, J.G. & Skinner, B.F. (1961}. A análise do comportamento. São Paulo: Herder Keller, F.S. (1968). Adeus mestre! Revista brasileira de terapia comportamentalecognitiva, L 1:9-21. Milhollan, F. & Forisha, B.E. (1972). Skinner X Rogers - Maneiras contrastantes de encarar a educação. São Paulo: Summus Editorial. Rogers, C.R. (1969). Uberdade para aprender. Belo Horizonte: Interlivros Sidman, M. (1989). Coerção e suas implicações. São Paulo: Livro Pleno. Skinner, B.F. (1953). Ciência e comportamento humano. São Paulo: Martins Fontes.Skinner. B.F. (1968). Tecnologia do ensino. São Paulo: Herder. Skinner, B.F. (1971). Omito da liberdade. Rio de Janeiro: Bloch. Skinner, B.F. (1974). Sobre o Behamrismo. São Paulo: Cultrix. Skinner, B.F. (1989). Questões recentes na análise comportamental Campinas: Papirus. Teixeira, A.M.S.(1983). A individualização do ensino em uma pré-escola. Psicologia, 9 (3), 53-75. Teixeira, A.M.S. (2000). Ensinar e aprender: Quando? Como? E onde? In R.R. Kerbauy (org.), Sobre comportamento e cognição - Conceitos, pesquisa e aplicação; a ênfase no ensinar, na emoção e no questionamento clínico - voi 5. Santo André: ESETec Editores Associados. Teixeira, A.M.S. (2001). Ensino programado: requisito para educação de qualidade. In H. J. Guilhardi et al. (org.), Sobre comportamento e cognição - Expondo a variabilidade - vol. 7. Santo André; ESETec Editores Associados. Teixeira, A.M.S. (2002). A individualização do ensino em uma pré-escola: uma intervenção comportamental na educação infantil. In A.M.S.Teixeira et al. (org,), Ciência do com portamento-Conhecer e avançar- vol. I. Santo André: ESETec Editores Associados. 87 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015 7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015 7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! INDEX BOOKS GROUPS 10 O C o n t e x t o d o P r e s ta r S e r v iç o s n a C l ín ic a COMPORTAMENTAL E RESPONSABILIDADE SOCIAL1 Marco Antonio Amarai Chequer1 João Carlos Muniz Martinelli5 Antes de iniciar a discussão sobre a relação entre a prestação de ser viço clínico e responsabilidade social é importante alguns prévios esclareci mentos acerca do tema proposto. Em primeiro lugar, a prática clinica comportamental discutida no presente texto é baseada nos pressupostos da filosofia behaviorista radical. Em segundo, não foi possível acesso, na literatu ra em análise de comportamento, de um conceito de responsabilidade social, o que levou ao autor uma certa liberdade na formulação e emprego do termo. Estabelecer uma relação entre comportamentos emitidos num contex to de atuação profissional e seus efeitos no ambiente social sob o rótulo de “responsabilidade social” não é uma tarefa fácil. Primeiro, porque os critérios que cada um de nós temos para categorizar uma prática como “responsável" não são consensuais e implicam, em parte, num julgamento pessoal. Segun do, ao unirmos a prática responsável com o advérbio ‘'social'’ estamos qualifi cando e nomeando que os efeitos “responsáveis” ocorreram num ambiente coletivo, já pressupõe a presença de múltiplas variáveis. Mas como podemos estender os efeitos de uma prática clinica que ocorre, predominantemente, em consultório e de forma individualizada ao contexto social ? Palestra apresentada na Mesa Redonda “A prática do Analista do Comportamenio em Diferentes Conlextos e Responsabilidade Social”, durante a IV Jornada Mineira de Ciência do Comoortamenlo, 16 e 17 de Agosto de 2003. 2 Professor Adjunto da Universidade Vale do Rio Doce. Governador Valadares - MG. Pesquisador do Núcleo de Estudos em Análise do Comportamento e Prática Cultural. Mestre em Psicologia Experi mental: Análise de Comportamento pela PUC-SP. 2 Professor Adjunto da Universidade Vale do Rio Doce. Governador Valadares - MG. Pesquisador do Núcleo de Estudos em Análise do Comportamento e Prática Cultural. Mestre em Psicologia Clinica pela PUC-Campinas. 89 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015 7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! INDEX BOOKS GROUPS A resposta a tal pergunta implica em analisar que processos ocorrem na relação terapeuta-cliente e como esta relação pode gerar compromisso social no cliente. • No contexto clinico, o profissional está a serviço de um interlocutor que lhe apresenta uma classe de relatos que se caracteriza como um proble ma a ser analisado. Cabe ao profissional identificar ou levar seu interlocutor a identificar e colocar sua habilitação a serviço do encaminhamento de soluções. Pensando desta forma, a avaliação e intervenção partem do problema colocado pelo interlocutor, tem como meio a produção de alter nativas de solução e, como fim, sua eficácia em gerar contingências não coercitivas nas interações sociais do cliente. Se isto ocorrer, ter-se-á ca racterizado como uma adequada prestação de serviços “responsável” pelos efeitos produzidos no ambiente externo à terapia. O terapeuta, no exercício de sua função, estabelece contingências verbais, principalmente, aquelas relacionadas à evocação de eventos priva dos da vida pessoal do cliente e interage, a partir daí, como uma comunidade verbal qualificada, consequenciando de forma diferencial determinadas clas ses de respostas do cliente ocorridas na relação terapêutica. Do ponto de vista metodológico, na terapia, dois parâmetros são analisados, por um lado, a relação terapeuta-cliente e suas conseqüências imediatas, a médio e longo prazo no repertório social do cliente, e por outro, as relações cliente-ambien- te social e seus ganhos psicológicos no contexto da vida cotidiana. A relação terapeuta-cliente é considerada em análise do comporta mento, um dos meios para avaliação e intervenção na terapia. Os comportamentos dinicos do terapeuta são as ferramentas que possibilitam a ocorrência; manuten ção e modificação de classes de comportamentos do cliente clinicamente relevan tes (CRB’s) ocorridos no contexto terapêutico (Kolenberg & Tsai, 1991), Como estratégia para possibilitar a ocorrência de CRB’s, e consequentemente ter acesso aos “comportamentos-problema" do cliente, o terapeuta procura atuar sobre informações verbais, buscando evitar ou eliminar contingências coercitivas, e a partir daí formular suas hipóteses clínicas que ao longo do tempo deverão ser testadas e verificadas nos seus efeitos, estabele cendo um contínuo entre processo de avaliação e intervenção. Martinelli e Chequer (2004), apontam que seria mais adequado des crever a ocorrência de relações terapêuticas, uma vez que as modificações de comportamento só são possíveis na medida em que as pessoas do ambi ente social do cliente e com quem este estabelece relações sociais, modifi quem seus repertórios ao lidar com o cliente, em função das alterações comportamentais iniciadas no contato do cliente com o terapeuta. Por sua vez, modifica-se o comportamento do cliente e daqueles com quem este se relaci ona, portanto, a responsabilidade do terapeuta se estende às interações soei- 90 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015 7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! INDEX BOOKS GROUPS ais do cliente. Como não é apenas o cliente que modifica seu comportamento, é preciso que o terapeuta inclua na avaliação comportamental três níveis de análise: A relação terapeuta-cliente; a relação terapeuta-cliente-comunidade e relação terapeuta-cliente-práticas culturais, esta última se referindo às mu danças das práticas comportamentais individuais e coletivas decorrentes da intervenção terapêutica direta ou indiretamente no ambiente do cliente, em função de seus comportamentos emitidos. A questão da ética profissional se estende além dos comportamentos do clínico dirigidos ao cliente para o seu grupo de referência. A consideração da situação de trabalho de um terapeuta em relação ao seu cliente é baseada na utilização de seu conhecimento teórico, sua história de prática clínica e um quadro metodológico que possibilita discriminar pa drões e estabelecer estratégias terapêuticas e com isto, intervir funcionalmen te nas variáveis que julga necessário. Ele tem, nesse processo de formulação, pelo menos três elementosimportantes: 1 - hipóteses formuladas sobre variáveis que mantêm ou impedem a emis são de determinados comportamentos identificados como ausentes ou presentes no repertório do cliente (déficits, excessos e acertos comportamentais); 2- o estabelecimento de estratégias sobre quais procedimentos terapêuticos serão mais eficazes; seus efeitos nas interações estabelecidas com o repertório do cliente, e existência de seguimento de ações adequadas para lidar com a diversidade de situações origi nadas na interação com um ou vários clientes; 3- e um referencial teórico-conceitual que lhe oferece regras e instrumen tos para a análise e intervenção nas contingências da qual faz parte na vida pessoal e sobre as quais a sua formação clínica comportamental o expõe, na forma de modelos de análise, de investigação e de aplica ção, como o uso de interpretações e de sistemas de medida (categorias de registro e de análise). O terapeuta, tendo em mãos pelo menos esses três requisitos, formula suas estratégias de atuação, suas análises, intervenções e efetua a testagem de suas hipóteses. Nesse sentido, um bom analista do comportamento estará base ado não em critérios lógicos de verdade ou falsidade, mas em funcionalidade. Por outro lado, as relações cliente-ambiente social são o locus das variáveis ambientais responsáveis pelo repertório do cliente e que interessam à formulação de hipóteses e análise clinica comportamental. A história de interação do cliente com as pessoas significativas, com aspectos do ambiente físico, social e biológico são de interesse primário para a formulação do caso clínico em análise. Considerar as relações com os antecedentes e conseqü 91 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015 7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! INDEX BOOKS GROUPS ências sociais, estabelecidas ao longo da história pessoal, como ponto cen tral da análise é uma especificidade da análise de comportamento. Uma prestação de serviços clínico “responsável", como dito anterior mente, extrapola a queixa apresentada inicialmente pelo cliente, geralmente respaldada no seu desconforto individual, a uma dimensão social e tem como foco a busca de generalização dos resultados agora dirigidos às relações cliente-ambiente social. Entretanto, como as intervenções ou encaminhamentos ocorrem, ge ralmente, num contexto de interlocução privado entre terapeuta-cliente, como poderíamos praticar “responsabilidade social" e terapeutizar o mundo público do cliente? A estratégia de não restringir os efeitos da terapia, necessariamente, ao ambiente clínico nos remete a pensar que as dificuldades do cliente inclu em, na grande maioria das vezes, aspectos da vida de muitas pessoas e seus comportamentos e o manejo de situações sociais em relação à modificação ou seguimento de regras mais amplas e/ou específicas às relações de con vivência. Nesse sentido, os sucessos das avaliações e intervenções do terapeuta devem estar condicionados à crença de que o efeito da prática terapêutica deve estar estritamente relacionado aos benefícios sociais alcan çados com o produto desta atividade (Baer, Wolf & Hisley; 1968). Os procedi mentos terapêuticos devem contemplar os efeitos resultantes do comporta mento do cliente nas pessoas que vivem no sei ambiente social. Este critério de “benefício social” pode ser alcançado por meios diretos e indiretos. O meio direto refere-se à eficácia da terapia, quando os benefícios são primeiramente alcançados na relação terapeuta-cliente numa direção pretendi da, e indireto, quando relatos de mudanças nos sentimentos e nos comporta mentos sociais emitidos, sua consistência no tempo (manutenção), extensão nos ambientes (generalização) e variação comportamental observada (variabi lidade comportamental) forem freqüentes na vida cotidiana do cliente e com relação às pessoas com as quais se relaciona no seu ambiente social. Mas um cuidado deve ser tomado, pois a satisfação do cliente pode ser, exclusivamente pelo bem estar pessoal, não incluindo o critério de “benefício social" Pensar a extensão dos efeitos da terapia na sociedade implica na compreensão de que ao prestar serviço clinico individualizado o terapeuta está diante de parte do contexto social do cliente que, por sua vez, age direta mente, sem mediações, na construção do mundo em que vive. Essa perspec tiva nos leva a entender que, na verdade, ao atender o cliente, o terapeuta está de fato produzindo contingências que serão partilhadas por todo o uni verso de relações estabelecidas por ele, alterando contingências que devem, na medida do possível, estar sob seu conhecimento, tornando-se mediador INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015 7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! INDEX BOOKS GROUPS das contingências de todo o contexto. Além de participar como uma nova contingência, muitas vezes o terapeuta concorre com as já existentes, no am biente social do cliente. Essa visão molecular da aplicação da análise de contingências no contexto clínico está presente nos textos de princípios básicos de análise do comportamento, como no livro de Keller e Schoenfeld (1950/19664), em que o objeto da Psicologia é abordado a partir do conceito de relação com o ambien te. Em suas palavras, “os psicólogos estudam o comportamento em suas relações com o ambiente”, e complementam dizendo que: “...0 comportamento isolado do meio em que ocorre, dificilmente poderia ser objeto de uma ciência. Imagine-se, por um momento, o absurdo que seria uma fita que registrasse todo comportamento de um organismo, do nascimento até a morte, e em que todas as indicações do mundo em que ele vive estivessem cuidadosamente apagadas!... (p. 16-17) Observem que é dada ênfase à expressão “relações com” como o foco do interesse da psicologia no que diz respeito ao que deve ser analisado. Estas perspectivas relacionais, estendidas ao contexto terapêutico, reafirmam a análi se aqui proposta de que o terapeuta se torna uma nova contingência social na vida do cliente, sendo legitimamente uma importante variável a ser investigada. No que tange à prática, Matos (1995) ao concluir o texto “Com o quê o behaviorista radica! trabalha” afirma que “a prática do analista de comporta mento é estudar contingências em seu efeito cumulativo sobre o desempenho dos organismos” (p.52). Esta afirmação, contextualizada na prestação de ser viço clínico, em análise de comportamento, nos faz pensar sobre a atuação dos terapeutas em garantir uma análise de contingências que além de eficaz para modificar alguns aspectos do comportamento do cliente, seja cuidadosa em selecionar no ambiente social comportamentos voltados para a sobrevi vência da cultura. É nesse sentido que a expressão “responsabilidade social" aparece como uma classe de comportamentos capaz de promover um movi mento pessoal que ultrapasse os limites do bem estar individualizado, é como se estivesse dizendo que a partir da análise de contingências e não de com portamentos o cuidado com a construção das relações no ambiente vem em primeiro lugar, uma terapia "social". Discutir "responsabilidade social” e análise de contingências do ambien te social do cliente remetem a uma questão de valor para a cultura, no sentido proposto por Glenn (1988), no qual o repertório individual responde a "contin gências comportamentais entrelaçadas" num contexto social da vida cotidiana. Andery e Sério (1997) ao analisarem a noção de contingências comportamentais entrelaçadas (metacontingências) proposto por Glenn (1988), 4 Toda vez que aparecerem duas datas, a primeira refere-se à data originai da obra e a segunda à obra consultada. INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015 7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões!INDEX BOOKS GROUPS apontam que o comportamento ao responder a contingências entrelaçadas desempenha um duplo papel: o papel de ação e o papel de ambiente comportamental para a ação de outros. Esta dupla funcionalidade adquirida pelo comportamento contribui para a geração de compromissos mais estreitos com o contexto social e cultural. Se por um íado, produzir consequências e ser modificado por elas é um dos pilares da construção de um homem ao estilo "análise do comportamento”, por outro, exercer o papel de ambiente para as outras pessoas nos leva a considerar o comportamento humano como uma das variáveis ambientais mais significati vas. Assim, ser responsável socialmente tem relação com o cuidar do ambiente do outro, cuidando do ambiente em que me produzo como ser social. O cuidar no sentido aqui apresentado, tem relação com a perspectiva de que o cliente "aprende” que seus comportamentos afetam direta ou indire tamente o mundo em que vive e que em contrapartida ele é o ponto de conflu ência das contingências; exercer “responsabilidade social” torna-se uma ques tão de ganho pessoal de reforçadores. E comportamentos antes pouco rele vantes, como jogar papel em ambiente público, por exemplo, que soluciona uma situação imediata e ali se encerra, passa a ser visto como uma contingên cia para quem vai coletar, consistem em uma alteração no ambiente a ser partilhado por outras pessoas, além de afetar o ambiente enquanto fator de preocupação, já observado nos modelos atuais para o desenvolvimento sus tentável. Ao agir assim, aprendemos a ser mais cuidadoso que “reativos”, mais preventivos que “remediantes" e passamos a olhar para o mundo como um produto da ação do homem, nos sentimos indissociáveis a ele e destituímos a divisão arbitrária entre comportamento e ambiente. Outro aspecto importante a ser considerado refere-se à discriminação de que a aquisição de habilidades de análise de comportamento leva terapeuta e cliente a exercerem papéis semelhantes no contexto social em que vivem, uma vez que cabe a ambos agir em sociedade, em seus espaços comportamentais, considerando como regra que a convivência cooperativa possui efeitos de valor para seu próprio bem-estar, sendo o que lhe dá sustentabilidade e possibilida des em continuar agindo em prol do bem estar coletivo. Do ponto de referência da pessoa do terapeuta, estimular a prática do exercício da cidadania, do cuidado psicológico às pessoas significativas e da conquista de direitos sociais está intimamente ligado ao exercício clínico com “responsabilidade social”. Um último aspecto a ser considerado se refere à crença de que um dos objetivos da terapia é “ensinar" o cliente a discriminar funcionalmente os con textos sociais como espaços produzidos também a partir de suas interações, sendo por isto necessário atuar sobre o mundo de forma socialmente respon- 94 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015 7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! INDEX BOOKS GROUPS sável. E somar a esta crença a idéia de que não basta saber discriminar e a fazer algo, é preciso saber ensinar os outros como se faz. Esta concepção quer dizer que, numa terapia voltada para o ambiente externo ao consultório, não é suficiente tornar o cliente hábil para resolver problemas pessoais, mas habilitá-lo a utilizar os métodos eficazes no enfrentamento de problemas partilhando a busca de soluções com o seu grupo social, desta forma integran do à terapia os meios adequados para generalização e manutenção das mu danças pretendidas. O cliente se toma com isto um agente social na medida em que modifica não só seus comportamentos como os das pessoas que fazem parte de seu ambiente social.6 E para finalizar, aproveitando o atual momento político-social em que estamos vivendo, é como se estivesse dizendo 'Quem não multiplica o pão, não sacia a fome.” R eferências Andery, MA.P.A. & Sério, T.M.P (1997) O conceito de metacontingências: Afinal, a velha contingência de reforçamento é suficiente? Em Banaco, R. A.(org.). Sobre comporta mento e cognição: Aspectos Teóricos, metodológicos e de formação em Análise do Comportamento e Terapia Cognitivista. Santo André, SP: ESETec Edit. Assoe., 106-116. Baer, M. D., Wolf, M. M. & Risley, T. R. (1968). Some current dimensions of applied behavior analysis. In: Journal ofapplied behavior analysis. 1, pp. 91-97. Keller, F.S. & Schoenfeld, W.N. (1966) Princípios de Psicologia. Editora EPU, São Paulo, 451p. Kohlemberg. R.J.&Tsai, M. (1991) Functional Analytic Psvchotherapy: Creating Intense and Curative Therapeutic Relationshipl New York: Plenum Press. Gienn, S. (1988) Contingencies and Metacontingencies: Toward a Synthesis of Behavior Analysis and Cultural Materialism. The Behavior Analysí 11,161-179. Martinelli, J.C.M. & Chequer, M.A.A. (2004) Ampliando o conceito de relação terapêutica sob a ótica das práticas culturais. (Texto em produção) Matos, M, A. (1997) Com o que o behaviorista radical trabalha. Em Banaco, R. A.(org). Sobre comportamento e cognição: Aspectos Teóricos, metodológicos e de formação em Análise do Comportamento e Terapia Cognitivista. Santo André, SP: ESETec Ed. Assoe. 45-53. 5 0 efeito extensivo das mudanças comportamentais do cliente no ambiente físico e social além da díade terapeuta-cliente por si só constitui-se em objeto òe estudo para analistas de comportamento, entretanto, ainda é um objeto pouco explorado por estes profissionais. 0 que e quem é de fato modificado a partir do processo terapêutico é o que deve ser respondido (Martinelli & Chequer, 2004 - Ampliando o conceito de relação terapêutica sob a ótica das práticas culturais). INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015 7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015 7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! INDEX BOOKS GROUPS 11 A n á lis e das c o n t in g ê n c ia s d e u m c a s o c l In ic o d e T r a n s t o r n o O b s e s s iv o - C o m p u l s iv o 1 É rikLucadeM ello23 Contingência é entendida segundo autores da análise do comporta mento como: “qualquer relação de dependência entre eventos ambientais ou entre eventos ambientais e comportamentais” (de Souza, 2000 e 2001/1997; Catania, 1999; Skinner, 1980/1969}4. Na tentativa de explicar ou descrever um fenômeno comportamental, muitas vezes, contingência é apresentada em lugar de relação funcional. Andery, Micheleto e Sério (2002 b) em análise de obras de Skinner de 1931 e 1947 afirmam: a expressão relação funcional parece se referir à atividade de descre ver o fenômeno em estudo e descrever envolve o estabelecimento, a descoberta de relações, não importando como estas relações foram identificadas ” (p. 153) A definição acima parece se encaixar no uso que se fará do conceito de contingência no presente texto. As mesmas autoras em outro artigo esclarecem que para a descrição de um evento comportamental, é preciso descrever um conjunto de, pelo menos, quatro relações (conforme Moore,1990): 1 O presente texto é uma versão escrita da fala intitulada "Do diagnóstico à análise de contingências: Reflexões sobre responsabilidade social a partir de um caso clínico’ apresentada na IV Jornada Mineira de Ciência do Comportamento: Análise do comportamento e Responsabilidade social. Belo Horizonte, 17 de agosto de 2003. 2 Consultório particuiar. Professor da Faculdade de Psicologia da Universidade de Rio Verde, Goiás. Para correspondência R: 131 # 54, Qd.40, Lt.36 - Jardim Presidente - Rio Verde - GO. Cep.: 75908- 600. Endereço eletrônico: kirecalu@hotmail.com 3 O autor agradece aos comentários do professor Roberto Alves Banaco e à professoraAline Roberta Aceituno da Costa pela leitura, audição e sugestões para versões anteriores deste texto. Não obstante, assume total responsabilidade pelo conteúdo. 4 A primeira data refere-se à edição consultada, a segunda data, à edição da primeira publicação. 97 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015 7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! INDEX BOOKS GROUPS a. as relações estímulo-resposta, características de reflexos básicos incondicionados; b. as relações estímulo-estímulo, características de condicionamento respondente ou pavloviano respondente e que podem gerar novas rela ções estímulo-resposta, características, agora, de reflexos condicionados; c. as relações resposta-estímulo, características do comportamento operante, e d. as relações estímulo-resposta-estímulo, características da tríplice con- tingência."(2002 a, p. 153) As quatro relações são entendidas na Análise do Comportamento como tipos de contingências as quais os organismos estão submetidos em situa ções experimentais ou na vida diária (de Souza, 2000). Como visto, analisar e descrever, segundo a literatura, são classes de respostas, muitas vezes, com funções semelhantes, uma vez que ambas dizem respeito ao fato de identifi car (separar) classes de eventos (classe de estímulos / respostas, por exem plo) que produzem outros eventos (classe de respostas / conseqüências, por exemplo). Este exercícío caracteriza o que a literatura chama de Análise Fun cional. Resumindo conforme Matos (1999): “uma análise funcional nada mais é do que uma análise das contingências responsáveis por um comportamento ou por mudanças nesse comportamento”(p.14). O exercício pretendido com este texto é uma descrição de eventos ambientais e comportamentais que constituíram (configuram) um caso, enten dido pela área clínica como Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC). O cui dado em usar a expressão “entendido pela área clínica” tem como base a discussão que aparece na literatura dos tipos distintos de análise, segundo os modelos médico, quase médico e da análise do comportamento (Banaco, 2001) e também da análise dos manuais de diagnóstico (como DSM e CID). Apesar da literatura classificatória e organizadora das doenças não ser adota da segundo a análise do comportamento (Cavalcante e Tourinho, 1998), o nome Transtorno Obsessivo-Compulsivo é utilizado para facilitar diálogos entre profissionais da área clínica ou, supõe-se, estar falando de comportamentos nomeados por TOC segundo alguns profissionais da saúde (neurologistas, psiquiatras e psicólogos). É importante esclarecer que por TOC entende-se um conjunto de ações realizadas por uma pessoa o que, segundo os terapeutas comportamentais, leva o nome de repertório comportamental. Tanto repertório quanto TOC no sentido de entes com vida própria, algum agente interno inici ador do comportamento que a pessoa tem ou comporta são rejeitados aqui. Como demais relações que os organismos aprendem ou são selecionadas pelo ambiente, repertório ou transtorno são relações entre eventos ambientais e comportamentais selecionadas na vida de cada organismo. É nesse sentido 98 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015 7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! INDEX BOOKS GROUPS que repertório e transtorno são entendidos aqui. Quando não o forem assim entendidos é devido à busca de informações características da literatura mé dica ou cognitiva. Um resgate na literatura apresenta parte da história do que hoje é chamado de TOC como síndrome obsessiva-compulsiva, estudada primeira mente por Esquirol, em 1838, e foi, por muitos anos, considerada uma das doenças mentais mais intratáveis (Barlow, 1999). Pessotti (2001/1999) em seu livro l,Os nomes da loucura" ao apresentar o trabalho de Ritti (1883) sobre a história da classificação da “loucura de dupla forma” que mais tarde veio a ser conhecida como psicose maniaco-depressiva destaca uma característica im portante na história da ciência: os nomes de um fenômeno que mudam de tempos em tempos...: Segundo Ritti: y .Jcs clínicos eminentes, que desde a mais alta antiguidade anotaram em seus escritos os resultados de suas sagazes observações, deixaram à poste ridade uma grande massa de fatos, freqüentemente mal ligados, pouco coordena dos, mas cuja exatidão em nada foi a iterada pelos progressos da ciência; o que muda, de fato, não são os fenómenos, mas a maneira de interpretá-los. (dtado por Pessotti. 2001, p. 193) Dados epidemiológicos, segundo Cordioli (2004), apresentam que o TOC: 'está entre as dez maiores causas de incapacitação, de acordo com a Organização Mundial da Saúde; acomete preferentemente indivíduos jovens ao final da adolescência - e muitas vezes começa ainda na infância sendo raro seu início depois dos 40 anos; geraimente é crônica e, se não tratada, na maioria das vezes seus sintomas se mantêm por toda a vida. Os sintomas raramente desapa recem por completo: o mais comum è que apresentem flutuações ao longo da vida, aumentando e diminuindo de intensidade, mas estando sempre presentes "(p. IX) TOC é interpretado, segundo a literatura cognitivo-comportamental como um desarranjo comportamental composto por obsessões e compulsões. Segundo Wielenska (2003) “é um dos quadros clínicos com predomínio de ansiedade e prejuízo da qualidade de vida de seu portador”(p.111) A respeito das Obsessões, segundo Torres (2002) são pensamentos, imagens ou impulsos repetitivos intrusivos e desagradáveis que invadem a consciência do indivíduo contra sua vontade, causando muito maí-estar: ansi edade, desconforto, medo, dúvida e preocupação. A pessoa reconhece tais pensamentos como seus, mas não consegue controlar sua ocorrência, ao contrário, quanto mais tenta não pensar naquilo, mais a idéia de modo insis tente tende a voltar à sua mente. Compulsões, segundo a mesma autora são estratégias5 para neutrali zar ou pelo menos minimizar temporariamente o mal-estar que a pessoa sente * No presente texto essas estratégias estão sendo entendidas como comportamentos abertos, e em alguns casos encobertos. Uma irterpretação assumida pelo autor, apesar de não ficar claro no texto de Torres (2002). 99 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015 7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! INDEX BOOKS GROUPS (com as obsessões). Os tipos de TOC sâo vários. 1. Rituais de limpeza / lava gem - lavar repetidamente as mãos, roupas, objetos pessoais, etc; 2. Verifica ção - voltar inúmeras vezes para verificar se uma porta está fechada, se desligou o gás, se uma conta está correta; 3. Repetir ou tocar - acender a luz e apagar diversas vezes ou pisar em determinada linha antes de entrar no elevador: 4. Colecionismo - juntar objetos, não jogar nada fora; 5. Lentidão - as ações são realizadas muito devagar, levando horas para um banho, por exemplo (Torres; Smaira, 2001). Semelhante a outros quadros clínicos de dificuldade comportamental, apresentar respostas caracterizadas como TOC em parte está relacionado a eventos ambientais aversivos. Reagir a eventos aversivos é natural das espé cies, contudo quando a reação à determinada estimulação aversiva aumenta de freqüência produzindo desconforto ao indivíduo e/ou às pessoas com quem ele vive, estamos diante de um caso que necessita de reorientação comportamental. A exemplo das obsessões no caso do TOC, caracterizam-se por uma reação desproporcional entre o estímulo aversivo, os riscos reais de contágio (de doenças muito disseminadas, como o HIV, na atualidade, por exemplo) e o ritual de neutralização ou prevenção (Wielenska, 2003). Outra interpretação da natureza das respostas caracterizadas como TOC podem estar envolvidas com comportamentos de seguir regrase/ou auto-regras sele cionados por uma comunidade social a ponto de produzir insensibilidade às contingências, como parece ser o caso de comportamentos controlados por regras instruídas, segundo Matos (2001) e Meyer (2005). E regras sinalizam não só conseqüências aversivas como também reforçadoras. Em acordo com Ritti (1883) a proposta aqui de caracterização do TOC como parte do repertório comportamental de uma pessoa não é de dar um outro nome, mas feita com base em outra interpretação: com a ferramenta da Análise do Comportamento. C omportam ento m o delado po r co ntin gênc ias e G o ver n ad o por reg r as . Segundo a literatura nacional mais recente (Meyer, 2005; Andery, 2003; Castanheira, 2001) com base nos trabalhos de Skinner (1980/1966), há duas maneiras básicas dos organismos apresentarem e manterem seus comporta mentos: 1. por contato direto com uma situação ou evento ambiental, a depen der das conseqüências, como sugere Skinner (1980/1966): ‘:Referimos-nos ao comportamento modelado pelas contingências (...) quando um organismo se comporta de uma determinada forma com uma dada probabilidade porque o comportamento foi seguido por um determinado tipo de conseqüência no passado"(p. 281) e, 2. por relato de outras fontes de informação a respeito de 100 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015 7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! INDEX BOOKS GROUPS um evento que pode ser apresentado além da forma oral: com registro, através de palavras ou outros estímulos aos quais os comportamentos são função desde que intermediados por alguém (o ouvinte). Novamente, nas palavras de Skinner: ‘;Referimos-nos ao comportamento sob controle de estímulos especificadores de contingências anteriores quando dizemos que um orga nismo se comporta de uma forma determinada porque espera que uma conse qüência similar se siga no futuro."(p. 281). Nas relações entre organismo e o ambiente, seja a partir dos compor tamentos contidos em 1. ou 2. pode-se dizer que há um comportamento sendo instalado, mantido ou com diminuição de freqüência, desde que esteja clara uma contingência de dois termos (S-R; R-Sr; R-SR) ou de três termos (Sd-R-Sr). Apesar da literatura que discute os tipos de comportamentos modelados por contingências e controlados por regras fazer menção quase exclusiva aos operantes, cabe lembrar que os comportamentos reflexos são parte do reper tório comportamental do organismo mantidos, às vezes, pelas mesmas contin gências que mantêm os operantes. O que justifica considerá-los importantes. Segundo Skinner (2003/1953): 'O ambiente afeta o organismo de várias maneiras que não podem ser convenientemente classificadas como estímulos' e, mesmo no campo da estimulação, apenas uma parte das forças que agem sobre o organismo eliciam respostas no modo invariável da ação reflexa. Ignorar inteiramente o principio do reflexo, entretanto, seria igualmente desarrazoado ’ (...} 'O reflexo tornou-se um instrumento mais importante para a análise quando se demonstrou que novas relações eníre estímulos e respostas podem ser estabelecidas durante a vida do indivíduo (...)"(p.54). Na análise do comportamento operante, segundo Castanheira (2001), “parte do nosso repertório comportamental não é adquirido através de uma longa exposição às contingências de reforço e punição, mas sim, através de descrições verbais, apresentadas como regras, que especificam essas contin gências” (p.37). Os comportamentos controlados por regras podem ser abertos ou encobertos. Quando encobertos, apesar de constituírem um universo de aces so somente à pessoa que pensa, tais comportamentos são passíveis de análise como demais comportamentos abertos. Na clínica, os comportamentos caracte rísticos do TOC como comportamentos encobertos são passíveis de análise a partir das regras contidas no relato verbal do cliente. Dito de outra maneira, é via relato verbal que temos acesso ao ambiente do cliente. Conforme Skinner (1980/ 1969): “O ambiente é aquilo a respeito de que as sentenças falam,,..'' (p. 182). As regras têm a características de economizar contingências quando a partir das regras se emitem comportamentos selecionados, modelados e manti dos em determinada comunidade social (a economia está no fato de ninguém precisar “redescobrir a roda”, por exemplo). Desta maneira, parte do comporta mento que um cliente apresenta foi selecionado por contingências nas quais o 101 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015 7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! INDEX BOOKS GROUPS seguir regras foi fundamental. Em situações nas quais o comportamento seleci onado é complexo demais, o papel das regras é de grande importância, pois providencia em curto prazo o que via experiências diretas às contingências levaria um tempo maior6. Eventualmente, o seguir regras é mantido por compor tamentos encobertos - quando ouvinte e falante são a mesma pessoa que descreve contingências que controlam o próprio comportamento. Neste caso estamos diante das auto-regras. Os comportamentos característicos no repertó rio transtornado de maneira obsessivo-compulsivo talvez estejam nesta seara. A literatura aponta que entender do papel das regras, como também das experiências vividas pelo cliente é uma ferramenta de trabalho indispen sável no atendimento clinico7. A análise proposta no presente texto concorda com a posição de Zamignani (2001) a respeito da atuação do psicólogo clínico com enfoque behaviorista radical. Segundo o autor, esse profissional deve buscar a expli cação do comportamento não dentro do organismo, “mas identificar as rela ções indivíduo-ambiente responsáveis pela origem e manutenção do proble- ma-queixa e agir no sentido de promover novas relações" (p.248). Deve pre valecer a análise das relações funcionais em lugar da forma com a qual uma determinada resposta se apresenta. Uma breve análise apresentada por Zamignani (2001) a respeito das contingências e respostas características do TOC ilustra a prevalência de se destacar o organismo na relação com o ambiente: %..) uma resposta privada (obsessão) pode ser desencadeada por um estímulo público (estímulo aversivo ou pré-aversivo). Essa mesma resposta priva da pode ser estímulo eliciador de respostas autonômicas (ansiedade) ou estimulo discriminativo para respostas abertas ou encobertas (compulsões) (Moore, 1984) da estimulação aversiva. Da mesma forma, se a resposta compulsiva levar á eiiminação da estimulação aversiva, essa mesma resposta tendena a aumentar de freqüência, configurando uma contingência de reforça mento negativo "{p.250) Como ilustração de alguns conceitos e análises apresentados até o mo mento no texto, seguem contingências selecionadas pelo terapeuta presentes no universo do cliente e, em seguida, a análise parcial dessas contingências. B r e v e h is tó r ic o da v id a do c lien te e alg u m a s c o n tin g ên c ias em v ig o r A apresentação respeitará parcialmente o formato de relato do proces so terapêutico comportamental segundo o que a literatura apresenta (Costa, 6 Diferenças entre o comportamento governado por regras e o modelado por contingências são descritas nos trabalhos de Skinner (1980/1966 e 1982/1974). Na literatura nacional mais recente Castanheira (2001) apresenta um quadro comparativo bem ilustrativo e Meyer (2005) lista resumida mente a comparação entre os dois tipos de comportamento. 7 Para uma melhor análise, ver Matos (2001} e Meyer (2005). 102 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015 7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! INDEX BOOKS GROUPS 2002)8. Algumas etapas são descritas como Avaliação inicial: descrição obje tiva da História de vida do clientecom ênfase nos determinantes atuais do comportamento; Intervenção com promoção dos comportamentos adequados e tentativa de extinção dos inadequados. Esta última etapa será apresentada na seção Análise de contingências do caso. Robson5, um garoto, 16 anos, bonito, é estudante em colégio particular (2o ano do ensino médio). A família nuclear de Robson é constituída do pai, 38 anos, profissional liberal. A mãe, 39 anos, trabalha com o marido em escritório particular. É uni versitária, cursando 4o período de direito em faculdade particular da cidade onde residem. Robson tem uma irmã de 11 anos, estudante do T ano do ensino fundamental. Com a família também mora a avó materna, 69 anos, dona de casa. Robson era atendido semanalmente, como também eram as sessões de atendimento aos pais. No início os pais vinham juntos na sessão reservada a eles, depois de um mês a freqüência do pai foi intermitente, caindo bastante e ficando bem irregular ao final dos seis meses de atendimento. A sessão de atendimento à mãe ocorria nas manhãs, enquanto Robson era atendido à tarde. O atendimento de Robson foi orientação de uma médica psiquiátrica, o que parece ser um percurso comum nos casos de TOC, segundo Guimarães (2002) e Wielenska (2003). Sob orientação, era administrado medicamento (Fluoxetina, um antidepressivo). A administração de um medicamento deve servir de estímulo discriminativo para a análise do terapeuta, uma vez que o efeito da droga tem função controladora de alguns comportamentos. Dito de outra maneira, por ser a administração de droga em clientes com TOC um evento comum, um cuidado que se deve ter no atendimento é não achar que os efeitos de melhora são devido somente ao atendimento clínico comportamental. As falas apresentadas a seguir ilustram dados da história de vida dos pais e de Robson, como também algumas contingências. O que será impor tante para a seção Análise de contingências do caso. 8 A etapa Inicial compreende: Avaliação do caso; Coleta de informações da história de vida do cliente,formulação de hipóteses diagnosticas para os comportamentos do cliente a partir de análises funcionais; a etapa Intermediária compreende: Intervenção sobre os comportamentos problema (públicos e privados), muitas vezes com base em técnicas comportamentais; Etapa Terminal: com os objetivos alcançados, sugere-se a alta ao cliente. Entra em vigor um processo de acompanhamento com menor freqüência do cliente com sessões espaçadas. Após um intervalo de tempo (meses} o folow-up. consiste de uma sessão, telefonema, observação direta em situação planejada dos compor tamentos do cliente a serem comparados com os das sessões iniciais de atendimento, momento no qual é medido ou inferido o sucesso do atendimento. E Nome fictício para preservar a identidade do cliente. 103 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015 7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! INDEX BOOKS GROUPS • Pai-profissão: “de cinco irmãos, fui o único que prosperei. Quando menino ganhava chuchu e vendia... fui guarda-mirim, auxiliar de escritório em banco; cresci na carreira do banco. O banco fechou, abri meu próprio escritório • Mãe-profissão\ trabalhou em banco por 5 anos e hoje ajuda o marido no escritório. • Robson-estudos: estudou até a 4a série em colégio particular; fez a 5a e 6a em colégio público; da 7a até hoje, colégio particular; O período de estudos na escola pública não foi bom para Robson segundo seus pais. “Ele era o primei ro da sala e não tinha amigos a altura". Os pais foram casados por 10 anos, separados por 2 e há 3 anos reataram o relacionamento. Freqüentam encontros da igreja católica assidua mente. Durante as sessões a mãe descrevia contingências nas quais Robson e ou a família estavam inseridos, como também a vida conjugal. D e - monstrava-se muito estar sob controle do comportamento verbal do terapeuta, da neurologista e professores da escola. O pai comportava-se de maneira bem diferente. Descrevia os comportamentos de rotina do filho com fala pau sada evidenciando comportamentos reforçadores emitidos pelo filho e de mais comportamentos relevantes segundo critérios do casal, como: “o filho era estudante dedicado; nunca havia se envolvido com drogas; freqüentava a missa e demais compromissos da comunidade católica. Robson é um rapaz respeitador, educado, você vai ver". Amostra de alguns comportamentos de Robson • No período de atendimento, a exemplo de relato na primeira sessão, Robson dizia: “sou muito preguiçoso". Que não estudava o suficiente e que tinha sem pre muito mais o que estudar para acompanhar as tarefas no colégio e nas tarefas para casa. • la ao clube, jogava bola somente quando o chamavam para participar; recu sava a maioria dos convites dos amigos para sair; gostava muito de tocar guitarra (aprendeu com o pai “de ouvido1’); • Em véspera de provas estudava até 10 horas; Se acompanhado de amigo, estudava em 2 ou 3 horas; • Nas provas era sempre o último a entregar a sua; • Ao fazer exercícios - em especial de física e matemática: repetia para si várias vezes a pergunta e os resultados (ritual de repetição); • Ao sair de casa ou da sala de aula conferia se havia pegado o material várias vezes, retomava na sala ou quarto, perguntava e conferia itens de maneira encoberta e aberta (ritual de verificação). 104 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015 7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! INDEX BOOKS GROUPS Relacionamento pais e filhos / Regras e contingências em família: • Pai:"... Se um dia meu filho se envolver com drogas, está fora de casa... Isso se eu não der umas na cara dele antes!” • Mãe:... “Eu já não penso assim. Acho que aí que nós temos que ajudar o filho". • Pai: “Meu filho é um amor: educado, estudioso (até demais) não tem notas abaixo de 8 ; freqüenta a igreja com a gente todo os domingos; participa da banda. A gente toca junto.” • Mãe: “Muitas vezes Robson deixa os estudos e fica comigo assistindo tv no quarto, ou com a avó dele. Ele é muito carinhoso”. • Pai: “Ele sabe quando eu não gostei de algo... Como meu pai fazia, basta olhar...’ Relatou uma situação na qual Robson improvisou um solo de guitarra em uma música na apresentação de domingo na missa que o pai não espera va (não haviam ensaiado). Ao finai da música, durante a missa, o pai comen tou baixo com Robson “nunca mais me invente uma dessa”... Regras e contingências no coiégio ou envolvidas no comportamento de estudar: • São realizadas tarefas diárias, cobradas semanalmente; • Provas freqüentes e provão - com sorteio de sala para evitar que os mesmos colegas façam a prova na mesma sala. • “Sempre que faço a prova, ao sinal dos últimos minutos não estou nem na metade. Aí bate um desespero, dá um trem no peito (sic.) e eu acabo fazendo a prova correndo". • "Eu estudo, mas me acho muito preguiçoso”. • “Na prova ou em casa eu fico ‘2 é 2 mesmo?' ou 4 X 4 é = 16 7 (Refaz contas simples várias vezes) • "Prefiro estudar sozinho; Meus colegas não estudam muito”. (...) “Quando estudei com T. ficamos só 3 horas”. • “Meu pai disse que para eu ser alguém na vida devo ser médico, engenheiro ou advogado. Do contrário vou ser que nem meus tios, tudo humildizinho (sic.), simples.” A nálise de contingências do caso Em seu livro Comportamento Verbal, Skinner (1978 / 1957) esclareoe no capítulo “O comportamento verbal sob o controle de estímulos verbais": ‘Um reforço condicionado generalizado comum é ‘a aprovação’. Muitas vezes é difícil especificar-lhe as dimensões físicas. Pode tratar-se de pouco mas do que uma inclinação de cabeça ou de um sorriso por parte de alguém que caracteristicamente proporciona uma variedade de reforços. Às vezes, Certo! ou Bonrf. (...) Pelo fato de estes sinais de aprovação’amiude precederemreforços 105 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015 7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! INDEX BOOKS GROUPS específicos apropriados a muitos estados de privação, o comportamento que eles reforçam provavelmente será forte, durante parte do iempo.”(pJ6) Parte dos comportamentos de Robson é fruto de contingências de apro vação social generalizada, a exemplo dos elogios que recebe dos professo res e dos pais devido sua beleza física, como também de comportamentos socialmente reforçados, conforme ilustram os adjetivos "educado", “estudio so”, “respeitador”. Os comportamentos reforçados positivamente, apesar de fazerem par te da classe "estudar”, provavelmente não foram contingentes a estímulos discriminativos aos quais se responde no momento de estudo. Infere-se aqui que Robson foi reforçado na sua história de estudar por outros comportamen tos envolvidos na classe “estudar”, porém, para os comportamentos funcio nais da classe houve pouco reforçamento contingente. Segundo Skinner (2003/ 1953, p.443), “Quando os reforços educacionais tornam-se contingentes às propriedades topográficas ou intensivas do comportamento, chama-se o re sultado de habilidade.". Robson emitia respostas envolvidas na classe de respostas do estudar, mas não “sabia” estudar. Retomando Skinner (2003/ 1953), “(...) o saber se refere a uma relação controladora entre comportamento e estímulos discriminativos. A resposta pode ser hábil, mas preocupamo-nos primariamente com o fato de ser ou não ser emitida na ocasião apropriada” (p.444). Desta maneira, Robson sentava todos os dias, em especial em véspe ras de provas, contudo não respondia eficientemente a estímulos discriminativos na ação de estudar. Parte dos comportamentos de Robson é fruto de contingências aversivas. As relações escolares e familiares, em especial as regras estabelecidas pela comunidade verbal (pai, mãe e escola), parecem sinalizar a curto e longo prazo punições para os pais (pai: filho não ser tão educado I tomar-se usuário de droga; mãe: filho não ser bom aluno I atormentado pelo TOC / tímido e não ter amigos). Uma contingência aversiva para Robson parece estar contida na regra: “estudar-e-conquistar-uma-boa-profissão-para- não-ser-um-humildizinho’:. Uma vez que ser “humildizinho" sinaliza restrição de reforçadores positivos, considera-se tal condição aversiva, conforme Sidman (1995/1989). Talvez caiba analogia com o estudo do comportamento animal na aná lise da rotina de Robson ora se esquivando das notas baixas (para manter as altas), ora emitindo respostas para um desempenho escolar que garanta uma vaga em uma universidade. Segundo Sidman (1995/1989): “Aprender a manter afastados choques breves usualmente demora mais do que aprender a desligar choques (...) Um sujeito experiente responderá ao sinal quase todas às vezes, conseguindo impedir quase todos os choques ameaçadores “ (p.137). 106 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015 7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! INDEX BOOKS GROUPS Outra possibilidade de análise é a seleção de alguns comportamentos de Robson com reforço positivo para parte da classe de respostas de estudar e do produto que tais respostas produzem, como notas altas que são sinôni mas de “bom aluno" e filho "exemplar", porém a análise agora diz respeito às respostas colaterais, como alguns sentimentos. A hipótese levantada aqui se caracteriza como: Robson identificava sentimentos de auto-estima que são fruto de contingências socialmente reforçadoras: os elogios pelo excelente desempenho escolar (com base somente em notas...); mas não os de autoconfiança10, que são fruto de contingências reforçadoras não socialmen te: a modelagem de comportamentos de Robson como estudar, organizar-se ou estabelecer prioridades, parecem não ter ocorrido de maneira suficiente a atender às contingências vividas por ele em situação pré-vestibular a que se encontrava. Os comportamentos pareciam estar sendo selecionados pelas contingências presentes, aprendidas por modelagem sendo o produto deste processo adquirido lentamente. Como o repertório de estudante era fraco (mal instalado) perante a contingência de cobrança das tarefas diárias (regras rígi das), esses eventos (aprender a estudar e estudar para as tarefas diárias) se caracterizavam como concorrentes, o que também selecionava comportamen tos de Robson de esquiva-esquiva11 ("conflito"). Para parte dessa última aná lise o terapeuta estava sob controle de fala de Robson que se intitulava pre guiçoso e não muito estudioso. O comportamento preguiçoso estava sendo analisado como fuga-esquiva da situação aversiva de estudar. Como estudar em acordo com as novas regras parecia ser pouco reforçado positivamente, era uma ação realizada com alto custo das respostas. O que justifica, parcial mente, o grande intervalo de tempo para a realização das tarefas diárias. O fato de Robson receber elogios por produtos comportamentais e não por processos era evidente diante dos elogios feitos pelos pais (“ser educado" ou produzir notas altas), colegas e professoras (por “ser estudioso"), o que dá força à hipótese de que Robson aprendeu o sentimento de auto-estima, mas não o de autoconfiança. Para o segundo tipo de sentimento seria necessária uma modelagem resposta-a-resposta envolvida no comportamento de estudar, como sugerido anteriormente. Desta maneira, parece plausível pensar que, apesar de Robson estar diante de livros e cadernos, as respostas das tarefas não ti nham conseqüências sociais específicas, o que fazia com que Robson não produzisse conseqüências verbais no nível do estudo que se encontrava, e acabava por emitir respostas encobertas repetitivas (obsessões): ora repetições Os dois sentimentos, auto-estima e autoconfiança, conforme Guilhardi (2002). r Tomando-se por conflito tipo esquiva-esquiva a definição de Lundin (1977, p.368): Dois estímulos, dos quais o organismo se afasta! são apresentados simultaneamente; assim, a fuga de um coloca-o em presença de outro. (...) Os dois estimulos são reforçadores negativos ou aversivos. No caso, esquiva da cobrança das tarefas diárias e seleção do comportamento de estudar por reforçamento negativo. 107 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015 7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! INDEX BOOKS GROUPS como “tenho que estudar, devo estudar", mas não estudava; ora repetições como “raiz quadrada de 81 é 9?, certo. Raiz quadrada de 81 é 9”. E ainda dúvidas de repetição como “9 é 9 mesmo?”... A hipótese defendida aqui é a de que as emissões de tais respostas (de auto-regras, conforme Jonas, 1997/2001) foram selecionadas em um ambiente no qual Robson era ouvinte e falante, com pou cos ouvintes da comunidade escolar para os comportamentos de estudar. Reto mando a análise proposta por Zamignani (2001) no início do presente texto: é possível que as respostas privadas como as de obsessões conforme os dois exemplos anteriores do comportamento de estudar tenham sido selecionadas diante de classe de estímulos privados aversivos. Essa análise pode ser ilustra da, por exemplo, como quando Robson emite os comportamentos encobertos “a possibilidade de não tirar notas altas" - contingência sinalizadora de conseqü ências de curto prazo ou, “não passar no vestibular e não ser alguém na vida...”, contingência de longo prazo. Sua mãe em muitos momentos no horário de estudo era chamada para cobrar-lhe questões, contudo, segundo Robson em sessão, ela “não está estudando o que estudo. Ela não sabe a matéria"; o que sugere que era reforçador na manutenção dos comportamentos abertos ou encobertos de Robson as auto-regras, uma vez que a mãe não emitia classes de respostas semelhante àsselecionadas nos comportamentos de Robson e de alguns colegas de sala de aula. Controle de algumas variáveis no comportamento de estudar Uma vez identificados possíveis eventos aversivos que podiam estar desencadeando e mantendo os comportamentos característicos de TOC na vida de Robson, a tarefa foi identificar contingências aversivas amenas e outras reforçadoras perante o comportamento de estudar. Levantou-se a hipó tese de que, uma vez aprendidas respostas em outras contingências em vigor, os comportamentos encobertos poderiam minimizar e até não ocorrerem com tanta freqüência. A orientação do terapeuta foi a de que Robson levasse um amigo com quem ele se sentisse melhor para estudar em casa. Esse amigo foi convidado e, durante as sessões de atendimento após a orientação, participou de três momen tos, dois em véspera de provas quinzenais e uma vez em véspera de i:provão”. A orientação do terapeuta para o momento de estudo foi a de que quando Robson identificasse comportamentos de repetição durante o momento de estudo os mes mos deveriam ser expostos ao amigo para esclarecimento ou mesmo confronto de resultados após cada um da díade realizar novo cálculo, nova leitura de texto ou outra tarefa em exercício. A hipótese em questão era a de que o colega que estudava na mesma sala do colégio, por viver contingências de estudante seme- 108 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015 7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! INDEX BOOKS GROUPS Ihantes às de Robson promoveria um evento reforçador de cinco maneiras: 1. Robson não emitiria pensamentos de depreciação como ocorriam em relação a mãe dele (reforço negativo), 2. o amigo seria um parâmetro (modelo - reforçador positivo) a altura de Robson para com as tarefas, o que poderia eliciar sentimentos agradáveis durante e após as tarefas, 3. com a presença do amigo, Robson seria reforçado questão-a-questão, dúvida-a-dúvida (reforço positivo ou negativo); com o item 3 derivaria um 4°.: as classes de respostas envolvidas no momento de estudo para tarefas difíceis seriam reforçadas negativamente pois o tempo de estudo iria reduzir dado e, 5. o comportamento do amigo de esclarecer ou confir mar dúvidas de Robson teria função sinalizadora de reforço positivo para cada questão. O que seria um procedimento para Robson “enxergar melhor*, “ver o que não estava vendo antes quando estudava sozinho”, como também, emitindo com portamentos encobertos e encobertos concorrentes aos de repetição. Algumas palavras de Skinner (1980/1969) a respeito do comportamento soludonador de problemas talvez ilustre as contingências acima descritas: 'Podemos também gerar estímu los auxiliares ao olhar mais acuradamente para um estímulo que não esteja ainda efetivamente evocando uma resposta, mesmo que já esteja no campo visual (...) A reação dos outros que estão reforçando [amigo de Robson]1; para os que descrevem situações vagas [Robson], pode modelar as descições destes, exercendo freqüentemente um controle não menos poderoso do que a própria situação *(p.277) Após três meses de atendimento a dosagem do medicamento que Robson tomava foi amenizada. Segundo a médica, a decisão de diminuir a dosagem foi tomada a partir da melhora de Robson o que sugere ser uma contribuição da terapia comportamental administrada. Na ocasião, a mãe de Robson comunicou o terapeuta em nome da médica que após três meses de atendimento algumas melhoras podiam ser verificadas nos comportamentos de Robson... É importante destacar que a decisão de diminuir a dosagem ocorreu quinze dias antes de uma semana de “provão". Esse evento era, na análise do terapeuta, um momento de teste de contingências programadas, pois o preparo para as provas (horas de estudo) e o momento das mesmas eram os eventos ambientais desencadeantes dos estímulos aversivos dos comportamentos da classe do tipo repetição. Dito de outra maneira, seria o momento de testar a generalização do espaço de estudo em casa com o amigo para o espaço de realização de tarefa em momento de prova. Ou ainda, conforme sugere a literatura: ‘Ao analisar as contingências de reforçamento existentes r>o cotidiano de um cliente, é possível considerara existência de esquemas similares aos esque mas múltiplos de reforçamento, os quais podem contribuir para a compreensão da generalização dos resultados clínicos "(Gadelha e Vasconcelos. 2005, p151) 2 Destaque meu. 109 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015 7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! INDEX BOOKS GROUPS Na sessão terapêutica da semana do “provão", Robson descreveu estar estudando com o amigo e que os pensamentos repetitivos não ocorreram tanto como em outros momentos de estudo no qual ele esteve sozinho ou em compa nhia da mãe,o que pareceu indicar que Robson estava sob controle das regras orientadas em terapia, em companhia do colega de sala. Contudo, durante as provas ocorreram alguns comportamentos encobertos de repetição. Outra ori entação planejada pelo terapeuta era a de que Robson tivesse um colega - o qual Robson soubesse ter bons desempenhos nas provas - para servir como reterência durante o momento da prova. As ações sugeridas eram a de que Robson olhasse brevemente para um colega para verificarem que questão este estaria. Robson realizou tais comportamentos poucas vezes, pois não coincidiu de um colega sentar próximo dele, dado o esquema randômico de qual sala e qual carteira o aluno deve sentar promovido pelo colégio. Nas vezes que esprei tou, comunicou (como combinado em sessão terapêutica) o professor que o motivo da espreita tinha função de acompanhar o rendimento do colega como parâmetro para atender as questões dentro do intervalo do horário da prova. A hipótese que estava por detrás da orientação terapêutica era a de aumentar o controle de estímulos no momento da prova, porque Robson não ficava muito sob controle do horário e sim de intraverbais13 a partir de questões das provas (estímulos verbais) que evocavam respostas encobertas as quais encadeavam repetição. De maneira mais ampla, porém sem a sistematização necessária, o procedimento geral seguiu a racional da técnica de Exposição e Prevenção de Respostas (ERP) apresentada por Guimarães (2002). A seme lhança foi o uso de um planejamento e orientação da exposição de Robson a estímulos supostamente desencadeadores do TOC, sem as sessões de relaxa mento, como também do protocolo para registro sistemático. A terapia de Robson encerrou-se após seis meses de atendimento. Este fato coincidiu com a terceira vez que ele foi submetido à semana do provão do colégio, sendo a segunda avaliação com a presença do amigo nos estudos pré-avaliação. Até então ainda era administrado medicamento. Tanto Robson como seus pais questionaram a parada do atendimento com base na observação de diminuição dos comportamentos ritualísticos. Apesar de ser uma medida frouxa de comportamento, o terapeuta acatou o pedido, uma vez que seu controle nessa situação era mínimo. Não foi exposto anteriormente, mas aqui cabe um esclarecimento. Par te da decisão dos pais de encerrar a terapia pode ter sido em função da '3 Conforme Ribeiro (2004,p.72 e 76) e Glossário em Catania (1999, p.408}. Intraverbal: Resposta verbal ocasionada por um estimulo verbal, em que a relação entre estímulo e a resposta é arbitrária, estabelecida pela comunidade verbal. O comportamento verbal é encadeado à medida que ocorre no comportamento verbal: (...) Tanto o falante como alguma outra pessoa pode fornecer o estimulo verbal (os intraverbais não são autocliticos. porque não requerem a discriminação do próprio compor tamento do falante). 110 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015 7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões!INDEX BOOKS GROUPS qualidade do atendimento, pois durante as sessões, com a mãe e ou o casal eram comuns relatos de situações aversivas vividas pelo casal com base em regras impostas pelo pai, o que muitas vezes foi analisado com uma proposta de atendimento ao casal para enfocar dificuldades outras diferentes das de relato dos comportamentos de Robson, porém que poderiam estar diretamen te relacionados com os comportamentos dele no TOC. A relação de Robson com contingências aversivas de regras impostas pelo pai (e outras contingências} será analisada no tópico a seguir. Passados 10 meses de encerramento do atendimento terapêutico, foi feito contato com os pais de Robson e solicitado que os mesmos e Robson comparecessem no consultório para levantamento de possíveis medidas de folow-up. Mãe e filho compareceram juntos para uma sessão. Algumas falas dos dois ilustram possíveis efeitos da terapia para a dificuldade de Robson: ■ Mãe. Estou para falar com o senhor há dois meses, quando a médica (psiqui atra) suspendeu de vez o medicamento. Desde que paramos a terapia de Robson as dosagens do remédio foram diminuindo mês a mês até cessar de vez14.. Ela, (a psiquiatra) pediu para avisar o senhor. ■ T. para Robson: E você, como está se sentindo? Como foram esses meses no colégio, com os estudos? • Robson: Eu não estudo mais tanto como naquela época (de terapia). Estudo ainda hoje com meu amigo. Mas nem sempre com o mesmo. É muito melhor estudar junto, quando um não sabe o outro ajuda. (...) Eu não preciso ficar tanto tempo com aquelas dúvidas como eu ficava (risos). • Mãe. mas na hora da prova... ■ Robson: ...é, na hora de prova ainda eu fico muito tempo. Sou o último a entregar. Pra não dizer que estou bem, bem mesmo, só na hora da prova que eu ainda fico um tempo lendo e relendo as questões. • T.\ Robson, no momento de prova, e agora que você se prepara para o vestibular é importante ler devagar cada questão e aproveitar o tempo todo que te derem. ... E na hora de sair de casa ou colégio, você verifica se trouxe todo o material da maneira como fazia? • Mãe: não... • Robson: Não me lembro. Mas daquele jeito, que parecia alguém falando na minha cabeça não, daquele jeito não... R esponsabilidade Guilhardi (2002), ao discutir sentimentos que a comunidade nomeia como de responsabilidade, diz: 4 O que ocorreu seis meses após o encerramento com o psicólogo. 111 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015 7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! INDEX BOOKS GROUPS 'A criança sendo exposta a uma ampla variedade de contingências coer citivas acaba adquirindo um repertório de comportamentos adequados do ponto de vista da comunidade verbal que utiliza tais práticas coercitivas(...)' (p.88) Parece que na história de reforçamento de Robson contingências co ercitivas selecionaram um repertório comportamental característico da classe de respostas típicas do TOC, a exemplo do alto custo de resposta nas tarefas de estudar (repetir para si para não errar), uma vez que as mesmas tinham como conseqüência, aprovação dos pais, da escola, o que possivelmente estava mantendo o ritual por reforçamento negativo. No mesmo texto de Guilhardi, a análise acima permite dar, segundo a cultura na qual Robson estava inserido, o nome de ‘responsabilidade": JHá pessoas que são extremamente responsáveis: são incapazes de curtiro lazer, estão sempre preocupadas, detestam férias, etc. Por quê? O que se chama de'extremamente responsável’é aquela pessoa que vive quase que exclu sivamente sob controle de contingências coercitivas. (...) o que é preocupante nestes casos é que a pessoa deixou de responder, estritamente, às contingências coercitivas reais, pois neste caso seus comportamentos seriam adequados às contingências (ave rs ivas) em operação” (p. 89) Os rituais de verificação, o fato de Robson sair pouco para momentos de lazer e o grande tempo dedicado às horas de tarefa escolar antes da intervenção terapêutica ilustram a passagem de Guilhardi. As regras impostas pelo pai de Robson, a quantidade de matérias de estudo, horas de dedicação às mesmas, grau de disciplina ao fazer as tarefas e qualidade da história de reforçamento dos comportamentos envolvidos no estudar de um pré-vestibulando compõem uma contingência complexa que exige muito treino sob orientação de regras que especifiquem quais operantes são (serão) selecionados nos “provões” e no vestibular A quantidade de re gras e a complexidade da contingência pode ter influenciado na modelagem de respostas abertas e encobertas de Robson. O que caracteriza o TOC neste caso como um produto da insensibilidade às contingências. Segundo Meyer (2005): ‘Pesquisas básicas têm confirmado que regras facilitam a aquisição de novos comportamentos, principalmente quando as contingências são complexas, imprecisas ou aversivas. Entretanto um dos resultados mais salientes dessas pesquisas tem sido a constatação de que as regras podem produzir uma redução na sensibilidade comportamental às contingências "(p.213) R esponsabilidade S ocial Antes de concluir o presente texto cabe resgatar o nome da Jornada Mineira que promoveu discussões a respeito do tema “Ciência do Comporta mento: Análise do comportamento e Responsabilidade social”. Como indica 112 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015 7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! INDEX BOOKS GROUPS do em nota de rodapé no início deste texto, o título da apresentação que serviu de base do caso exposto foi: "Do diagnóstico à análise de contingências: Re flexões sobre responsabilidade social a partir de um caso clínico”. O exercício pode, a partir do caso de Robson como modelo, estender a análise das contin gências que produzem classes de comportamentos envolvidos na prática da queles profissionais que promovem mudanças sociais com responsabilidade. Semelhante ao preparo para o vestibular, a formação de um analista do comportamento é um processo que demanda tempo e comportamentos criteriosamente selecionados por uma cultura restrita no Brasil e no mundo, afinal de contas somos “cem contra mils”'5. Parece que estar sensível às contingências para promover mudanças ambientais inicia-se desde cedo, com o preparo para ingressar em um curso superior. Mais tarde, a seleção de comportamentos profissionalmente aceitos ocorre durante a formação em um curso superior e, especificamente no "novo vestibular" que é o momento de estar empregado com um diploma do ensino superior... A partir desta análise, supõe-se que para Robson as contingências que envolvem comportamento de um profissional estavam presentes no con texto de se preparar para um curso superior e também como um intraverbal: as conseqüências que o pai sinalizava para ele caso não estudasse, ilustrado no exemplo “eu não quero ser um humildizinho". Como estas conseqüências seriam atrasadas, o que segundo a literatura pode controlar menos o compor tamento (Todorov; Coelho; Hanna, 2003; Catania, 1999), os mesmos intraverbais ocorriam sob controle das falas do pai e eram mantidas por conseqüências a curto prazo a partir das realizações das tarefas diárias do colégio: “preciso estudar pra não ser um humildizinho". Comportamentos envolvidos em ações de Responsabilidade Social parecem ser fruto de um ambiente aversivo, como quando uma pessoa se depara com: condições miseráveis de vida - sem saneamento básico e infra- estrutura mínima; exclusão social ou reabilitação de excluídos socialmente15, sem formação programada para obtenção de profissões que pagam melhores salários; descontrole de natalidade; sistema legislativo, executivo e judiciário deficitário; metacontingências aversivas como produção descontrolada de lixo ou trânsitos não solucionáveiscaracterísticos das grandes cidades, etc. A idéia aqui é mostrar que os comportamentos envolvidos em ações de Respon sabilidade Social podem ser aprendidos como demais comportamentos res ponsáveis. Eles parecem ter em comum: Frase da professara Carolina M. Bori dita em discussão na qual debatiam-se as dificuldades de se promover a Análise do Comportamento nas faculdades no Brasil, uma vez que a quantidade de profissionais em psicologia que estudam outras linhas teóricas é muifo maior que a comunidade que promove a Análise do Comportamento. (Em Sessão Coordenada n°. 02, 23 de outubro, 2003, na Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Psicologia, Belo Horizonte, MG). 1S Com base em dados parciais do estudo de Otero (2002). 113 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015 7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! INDEX BOOKS GROUPS • Serem produto de um ambiente selecionador de comportamentos específicos; • Um ambiente aversivo; • Um ambiente no qual as respostas produzem conseqüências reforçadoras positivas muito atrasadas. Assim, respostas a curto prazo estariam sendo mantidas por reforçamento negativo. C o nsideraçõ es finais Para finalizar, cabe destacar que na análise aqui apresentada o terapeuta esteve sob controle do universo do cliente limitado às sessões de atendimento; o relato do jovem a respeito do seu universo17; confronto de alguns dados dos relatos dos pais sobre comportamentos de Robson: com portamentos dos pais {em especial os da mãe) nas sessões e. de parte da literatura aqui apresentada. Apesar de tamanha quantidade de fontes de da dos, devido à natureza do trabalho em clínica, o mesmo é passível de falhas. Contudo, seja na apresentação na IV Jornada Mineira na qual outra versão do caso foi exposta, seja diante da contingência de escrever este texto, tais con tingências promovem uma variabilidade de comportamentos do profissional a serem selecionados e modelados, como o foram, guardadas as proporções, os comportamentos de Robson, antes e após a intervenção aqui apresentada. R eferências Andery, M. A. P. (2003). 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De acordo com estes sistemas de classificação e diagnóstico, transtornos mentais e de comportamento são causados por es truturas psíquicas subjacentes, como pensamentos e sentimentos '‘patológi cos" (Moore citado por Scoz, 2001), Os comportamentos “bizarros” e “pertur bados”, neste modelo, seriam os sintomas da doença mental. Esta forma de classificação diagnostica apresenta limitações para aque les profissionais que se utilizam da Análise do Comportamento na abordagem dos problemas trazidos por seus clientes (Araújo, 2003). Enquanto a Análise do Comportamento apresenta a funcionalidade, a análise idiográfica e a ex plicação externalista do comportamento, o modelo médico enfatiza posições opostas na compreensão dos problemas humanos: a análise da topografia, a análise nomotética e a explicação internalista do comportamento. 1 Agradecimento: as autoras agradecem à Luciana Vemeque (mestranda da UMB) pela colaboração na elaboração deste trabalho. 2 Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais. 3 Classificação de Transtornos Mentais e de Comportamentos da CID-10 117 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015 7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! INDEX BOOKS GROUPS Topografia versus Função: Os sistemas de classificação e diagnóstico, a partir da observação de alguns comportamentos de um indivíduo, apontam para uma classificação, ou seja, fecham um determinado diagnóstico (i.e. Transtorno de Personalidade, Transtorno Bipolar). No entanto, descrever um comportamento considerando apenas a sua topografia pode ser uma prática duvidosa para o analista do comportamento, pois uma mesma topografia pode ocorrer em várias situa ções antecedentes e conseqüentes, isto é, pode ter várias funções. Além dis so, comportamentos com topografias diferentes podem ter uma mesma fun ção, podem produzir uma mesma conseqüência (Skinner, 1953/2000). A Análise do Comportamento enfatiza a funcionalidade na compreen são do comportamento, ou seja, em qual situação o comportamento ocorre e qual a conseqüência produzida por ele (qual o mantenedor). Conhecendo as variáveis responsáveis pelos comportamentos de um cliente, o analista do comportamento pode prever e controlar alguns comportamentos deste orga nismo individual. Fica, então, possibilitada a intervenção clínica (Skinner 1959). Análise Nomotética versus Análise Idiográfica: Os sistemas de classificação e diagnóstico realizam análises nomotéticas na explicação dos transtornos, ou seja, buscam traços no com portamento comuns a todos os indivíduos possuidores de um determinado transtorno (Cavalcante, 1999). Assim, não levam em consideração a constru ção particular do repertório comportamental, tratando todos os psicóticos como uma só pessoa, todos dependentes químicos como uma só pessoa, todos aqueles com Transtorno de Personalidade como um só e assim por diante. A Análise do Comportamento, por sua vez, descreve o comportamento a partir da análise idiográfica; propõe o estudo de caso único. De acordo com esta abordagem, a construção do repertório comportamental se dá de forma única em cada indivíduo, ou seja, as contingências ambientais agem sobre o indivíduo e conjugam determinações de modos únicos (Cavalcante, 1999).Considerando esta proposta, a intervenção também será individualiza da. Uma outra oposição que se estabelece entre a descrição nomotética e a Análise do Comportamento se refere ao real conhecimento dos comporta mentos do indivíduo: classificar um indivíduo como "possuindo” um transtorno não diz nada sobre o indivíduo, mas de seu desempenho em relação ao grupo com o qual foi construído o manual de classificação e diagnóstico (Skinner, 1953/2000). Internalismo versus Extemalismo: Os manuais de classificação e diagnóstico atribuem a causa dos com portamentos a agentes internos ao organismo. No entanto, estas variáveis 118 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015 7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! INDEX BOOKS GROUPS internas tendem a ser difíceis de observar, tornando-se fácil atribuir-lhes pro priedades (Skinner, 1953/2000). Mais ainda, a explicação internalista acaba por apresentar uma circularidade (i.e. a pessoa chora porque está triste e está triste porque chora) que não responde à demanda de intervenção (como mo dificar uma variável interna ao organismo?). A Análise do Comportamento segue uma perspectiva externalista na explicação do comportamento, considerando este como a relação ou interação do indivíduo como um todo com eventos que lhes são externos (Skinner, 1974/ 1985), Esta perspectiva apresenta um diferencial em relação ao intemalismo por permitir o controle do comportamento através da manipulação direta das variáveis ambientais. Esta seria a forma de intervenção, Seguindo a perspectiva apresentada pela Análise do Comportamento, Banaco (1997) afirma que se todo comportamento é selecionado por contin gências filogenéticas ou ontogenéticas, não cabe classificá-los como patoló gicos já que são adaptativos dentro das contingências que os mantêm. O comportamento dito “patológico" é aprendido e mantido de acordo com as mesmas regras de qualquer outro comportamento. O que poderia diferenciar tais comportamentos seria o fato de ser controlado por contingências ou go vernado por regras não compartilhadas por outros indivíduos, além de causar sofrimento (Banaco, 1997) ou apresentar perigo (Skinner, 1953/2000) para o indivíduo que emite este comportamento ou a quem o cerca. R esumo da história contada no filme O filme “Bicho de Sete Cabeças” retrata a história vivida pelo autor do livro “Canto dos Malditos”, AustregésiloCarrano Bueno. Neto é um adolescen te que vive problemas de relacionamento com a família, principalmente com o pai. Tem um grupo de amigos com quem mantém encontros freqüentes. Com estes amigos, Neto costumava fumar maconha. Um certo dia, o pai de Neto encontra maconha na mochila do filho. Sente-se desesperado e pede orientação à irmã mais velha de Neto (de acor do com o livro, pede orientação a um amigo policial). A família de Neto conse gue uma internação em um hospital psiquiátrico para o tratamento de sua “dependência química". Esta decisão tomada pela família ocorreu sem que houvesse qualquer diálogo com Neto. No hospital psiquiátrico, o enfermeiro avisa a Neto o porquê de sua internação (“Seu pai acha que você é viciado"). Ao longo de sua internação, Neto não é examinado pelo psiquiatra, mas mesmo assim este profissional classifica-o como possuindo Distúrbio de Personalidade (“Estamos aqui para tratar de um distúrbio de personalidade, não apenas de uma dependência"). 119 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015 7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! INDEX BOOKS GROUPS De acordo com a CID-10, o Transtorno de Personalidade é definido por: a) “Atitudes e condutas desarmônicas, envolvendo várias áreas de funciona mento (i.e. afetividade, excitabilidade e controle de impulsos, modos de per cepção e de pensamento e estilo de relacionamento com os outros); b) O padrão anormal de comportamento é permanente, de longa duração e não limitado a episódios de doença mental; c) O padrão anormal de comportamento é invasivo e claramente mal adaptativo para uma ampla série de situações pessoais e sociais; d) As manifestações acima sempre aparecem durante a infância ou adoles cência e continuam pela idade adulta; e) O transtorno leva à angústia pessoal considerável, mas isso pode se tornar aparente apenas tardiamente em seu curso; f) O transtorno é usual, mas não invariavelmente associado a problemas significativos no desempenho ocupacional e social." A classificação apresentada pelo psiquiatra, segundo uma perspectiva análitico-comportamental, seria de pouca utilidade para uma intervenção clí nica pelas razões anteriormente apresentadas. Neste capítulo, pretendemos apresentar algumas sugestões de como o caso de Neto poderia ser estudado de acordo com a Análise do Comportamento. Descrição das contingências atuantes nas situações retratadas no filme: • Contingências presentes no ambiente familiar de Neto: - Relação de Neto com o pai: Percebe-se a existência de contingências aversivas no ambiente fami liar de Neto. A cobrança do pai em relação ao filho era forte. Constata-se uma ampla falta de diálogo e um ideal estabelecido pelo pai. Exemplos de falas: "Eu cheguei aonde cheguei, quero ver onde você vai chegar”. “Isso é coisa de veado” (referindo-se ao brinco de Neto). “Você merece uma namorada melhor” (Pai de Neto). - Relação de Neto com a mãe: Durante o filme, a mãe de Neto mostra-se uma pessoa mais distante, submissa ao marido e manipulativa. Exemplos de falas do pai em relação ao papel da mãe na família: “Não faz isso com sua mãe, ela está com pressão alta, tomando remédio. Eu nunca vi sua mãe tão triste" (Pai de Neto). • Contingências presentes no grupo de amigos de Neto: 120 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015 7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! INDEX BOOKS GROUPS A companhia do grupo de amigos representava para Neto uma forma de esquiva de seu ambiente familiar aversivo. Por outro lado, o comportamen to de “sair com o pai", por exemplo, era punido pelo grupo. Tudo isso estabele cia e contribuía para a manutenção do comportamento "arredio” de Neto. Exemplo de fala: “P5, vai sair com o papai de novo?’ (amigo de Neto) • Prováveis variáveis que controlaram o comportamento da família de internar Neto: Fica nítido, no filme, que, quando o pai de Neto encontra a maconha na mochila do filho, não há qualquer tentativa de diálogo, de um esclarecimento sobre o que levou o filho a usar maconha, com que freqüência o fazia, se era apenas esta substância, etc. Pode-se questionar se o fato de o pai não buscar um diálogo poderia ser uma esquiva tanto da relação aversiva com o filho (nunca havia se estabelecido uma relação positiva entre os dois), como da estigmatização de ter um filho usuário de drogas (seria vergonhoso ter um filho usuário de drogas, exigindo assim, uma solução rápida). Um outro fator que contribuiu foi a falta de repertório da família, em outras palavras, a falta de informação de como lidar com a situação. • Contingências presentes na Instituição Psiquiátrica: O filme não fornece indícios se tratava de uma dependência química ou não. De qualquer forma, nenhum tipo de avaliação psiquiátrica foi realizado. Exemplos de falas: “Seu pai acha que você é viciado” (enfermeiro). “Eu não sou viciado, você não me examinou” (Neto). “Se você não tomar o remé dio, isso só vai confirmar que você é rebelde e agressivo" (enfermeiro). O filme mostra uma questão da instituição psiquiátrica que tem implica ções sociais importantes. A instituição recebia repasses de dinheiro de acordo com o número de internos que mantinha. Diante desta questão pode-se ques tionar se esta instituição se destinava ao tratamento de pessoas ou à corrupção. Qual seria o lugar do sujeito com seu repertório comportamentaí individual em meio aos objetivos desta instituição? Parece que o benefício ou o bem-estar do interno não era prioridade neste local. O diagnóstico de Neto foi transmitido aos seus pais pelo psiquiatra da seguinte maneira: “Estamos aqui para tratar de um Distúrbio de Personalida de, não apenas de uma dependência. Estamos falando de meses. Na visía ele vai apresentar certos comportamentos, mas: se vocês pretendem ajudá-Jo, não entrem no jogo dele”. Esta apresentação do diagnóstico feita pelo psiqui atra, evoca algumas implicações: a) Distúrbio de Personalidade: o psiquiatra compila os comportamentos òe Neto em uma classificação. Como exposto anteriormente, esta dassificação 121 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015 7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! INDEX BOOKS GROUPS não diria nada sobre Neto e sim de seu desempenho em relação ao grupo com o qual foi construído o manual de classificação e diagnóstico utilizado pelo psiquiatra. Além disso, esta classificação é considerada de causação interna e é feita a partir de uma análise nomotética. b) Tempo de internação: ao falar de um tempo indeterminado e, provavelmen te, longo de internação, o psiquiatra responde a uma questão da instituição, conforme exposto acima, já que não examinou Neto em momento algum. c) “Se vocês pretendem ajudá-lo, não entrem no jogo dele": o psiquiatra deter mina o tipo de interação entre pais e filho. Os pais, por sua vez, sem maiores informações sobre possibilidades de tratamentos e suas implicações, agem conforme as determinações do médico. Por outro lado, com essa especificação, o psiquiatra embasa suas “intervenções" e justifica a conduta que seria a mais provável de ocorrer por parte de Neto, na visita. Exemplo de fala: “Eu não sou viciado. Eles estão me chapando de droga. Eles não me examinaram. Isso aqui é uma enganação” (Neto, tentando contar aos pais o que ocorria dentro da instituição). Durante a convivência com outros internos na instituição, Neto conhe ce Rogério que já havia sido internado diversas vezes. Com essa experiência, Rogério reiata a Neto fatos que fazem com que Neto reflita sobre seu próprio comportamento: Exemplo de fala-. “Se você brigar com o médico, você leva uma injeção de Haloperidol” (Rogério). Com isso, Rogério especifica uma contingência: exerça um contra- controle, varie seu comportamentopara se esquivar de uma condição aversiva. • Contingências presentes no ambiente familiar após a saída de Neto do hospital: Assustados com o estado do filho, os pais de Neto retiram-no do hospi tal psiquiátrico. No entanto, as contingências no ambiente familiar permane ceram as mesmas. Nada modificou na relação pais e filho. Com isso. os com portamentos como permanecer arredio, calado e quieto continuaram a ocor rer, uma vez que os comportamentos são determinados por suas contingênci as (Skinner. 1953/2000). • Contingências presentes na segunda internação de Neto: Em uma festa, Neto se envolve em uma briga após beber e ter dificulda de de ereção ao se relacionar com uma garota. Ele é levado por policiais para uma outra instituição psiquiátrica. É interessante ressaltar o estigma presente no encaminhamento feito pela polícia: “Ele é meio loucão, agressivo, a gente ficou sabendo que ele é meio retardado, já encaminhamos para uma institui ção psiquiátrica” (policial avisando os pais sobre a internação de Neto). 122 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015 7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! INDEX BOOKS GROUPS Neste novo hospital, percebe-se uma mudança no comportamento de Neto: ele começa a seguir as regras sugeridas por Rogério. Apresenta com portamento de liderar o grupo, não toma a medicação, ou seja, tenta entrar em contato com determinados reforços e evitar estimulação aversiva (contra-con- trole). (Lé Sénéchal-Machado, 2002) Finalmente, o pai de Neto o retira desta instituição, após uma tentativa de suicídio do filho. Neto, ao final do filme, mostrou-se bastante triste e marca do por uma história de injustiças, Escreve em uma carta ao pai as seguintes palavras: “Eu não esqueci o que você fez comigo. Você sempre me disse: ’Eu cheguei aonde cheguei, quero ver onde você vai chegar’. Eu cheguei aqui, Você me fez menor do que você". AS IMPLICAÇÕES DA CLASSIFICAÇÃO DIAGNÓSTICA! É importante pensar que esse desleixo demonstrado no filme não é geral, ou seja, nem todos os tratamentos são conduzidos da forma inadequada como o foi no caso de Neto. Provavelmente, um médico sério examinaria o paciente para “classificá-lo”. Mas a história contada no filme caracteriza bem uma prática médica, que ao contrário de uma proposta de tratamento, trouxe mais e mais problemas para a vida não só de Neto, mas de toda a sua família. Isto é, mesmo que o diagnóstico tivesse sido realizado de uma maneira séria, este traria pou cas contribuições para o tratamento de Neto, em uma perspectiva analítico- comportamental. Esta prática médica parece ter sido fundamentada por manu ais de classificação e diagnóstico, trazendo o perigo de sua utilização sem a consideração de particularidades entre os indivíduos; sem considerar a constru ção individualizada de repertórios comportamentais. Desta forma, o “tratamento” recebido por Neto foi aquele que todos os dependentes e portadores de Distúr bio de Personalidade receberam, mas os problemas de Neto em si não foram resolvidos. A proposta da Análise do comportamento, como exposto na introdu ção do presente capítulo, se contrapõe a esta conduta. As experiências vivenciadas por Neto lhe trouxeram várias dificuldades ao longo de sua vida. No filme, há uma cena em que Neto está no ponto de ônibus e, ao ouvir um forte barulho, começa a vomitar. Neto, também, passa a ser discriminado por amigos e pela sociedade em geral. Há um momento em que a mãe de um amigo pede para que o filho não traga mais Neto à sua casa. Enfim, estes são alguns exemplos além dos já expostos adma como: dificuldade de ereção e estigmatização feita pela polícia. A estigmatização trazida por um rótulo como “viciado’' ou “Transtorno de Personalidade” acaba dificultando a interação do indivíduo com o meio, sem que seja útil para a condução de um tratamento. A proposta do Movimento da Luta Antimanicomial pode ser considerada compatível com as proposta da Análise do Comportamento. O tratamento, de acordo com este movimento, visa a integração do indivíduo com a sociedade, e 123 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015 7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! INDEX BOOKS GROUPS não o seu confinamento em hospitais psiquiátricos (Bueno, 2001). Os indivíduos confinados nestes locais não recebem uma intervenção que beneficia suas vidas após a alta, pois as contingências que controlam seus comportamentos em casa, no trabalho, ou em qualquer outro ambiente continuam atuando da mesma forma. O Movimento da Luta Antimanicomial propõe que (Bueno, 2001): • os atendimentos sejam feitos por uma equipe multidisciplinar; • as internações sejam feitas apenas em casos de crises do paciente e em hospitais gerais ou hospitais Dia e Noite (Centros e Núcleos de Atendimento Psicossocial); • atendimentos em Centros de convivência e cooperativas, visando o resgate do convívio social do indivíduo: • atendimento preventivo em postos de saúde (tanto psiquiátrico como psico lógico), e; • lares abrigados e casas terapêuticas para pacientes abandonados nos hos pícios, com o atendimento da equipe multidisciplinar. A idéia deste Movimento, assim como a proposta da Análise do Com portamento, permite a integração do indivíduo com a sociedade. Possibilita a aprendizagem de comportamentos necessários na execução de diversas ta refas (trabalho, convivência familiar harmoniosa), além da modificação de contingências responsáveis por comportamentos ditos “patológicos” por fami liares e pelos próprios indivíduos que emitem tais comportamentos (Banaco, 1997; Skinner,1959). Com a modificação das contingências no ambiente do indivíduo, pode-se chegar a uma intervenção bem sucedida, diferente daque la recebida por Neto. R eferências Araújo, J. R. (2003). Classificação Diagnostica: o que a Análise do Comportamento tem a dizer? Em H. Sadi e N. de Castro (Orgs). Ciência do Comportamento: Conhecer e Avançar, vol.3. Santo André: ESETec Editores Associados. Associação Psiquiátrica Americana (1995). Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtor nos Mentais - DSM-/l/(Dayse Batista, Trad.). Porto Alegre: Artes Médicas. Banaco, R. A. (1997). Auto-regras e patologia comportamental. Em D. R.Zamignani (org). Sobre Comportamento e Cognição (pp. 80-88), São Paulo: ESEtec Ed. Assoe. Bueno, A.C. (2001). Canto dos Malditos. Rio de Janeiro: Ed. Rocco. Cavalcante, S. N. (1999). Análise Funcional na terapia comportamental: uma discussão das recomendações do behavíorismocontextualista. Dissertação de Mestrado. Uni versidade Federal do Pará. 124 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015 7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! INDEX BOOKS GROUPS Lé Sénéchal-Machado, A.M.(2002). A manipulação no contexto clínico. Em Ghilhardi. H.J.; Madi, M.B.B.P.; Queiroz, P.P.e Scoz, M.C.(Orgs). Sobre Comportamento e Cognição. vol. 10. Santo André: ESETec Editores Associados. Organização Mundial de Saúde (1992/1993). Classificação de Transtornos Mentais e de Comportamento da CID-10. Porto Alegre: Artes Médicas. Scoz, M. C. R (2001). Conhecer o outro: uma análise critica do conceito de diagnóstico psicológico a partir do behaviorismo radical de B. F. Skinner. Dissertação de Mestrado. Programa de Estudos Pós-Graduados em Psicologia Experimental: Análise do Com portamento. PUC-SP. Skinner, B. F. (1953/2000). Ciência e Comportamento Humano. São Paulo: Editora Martins Fontes. Skinner, B. F. (1959). What is a psychotic behavior. Em: Skinner, B. F. Cumulative Records (pp. 257-275). New York, Appleton-Century-Crofis. Skinner, B. F. (1974/1985). Sobre o Behaviorismo. São Paulo: Editora Cultrix. 125 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015 7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuandoimpressões! INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015 7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! INDEX BOOKS GROUPS 13 ABALOS NO PROCESSO TERAPÊUTICO: Um c o n v it e a t r o c a r a s l e n t e s . O p r o c e s s o TERAPÊUTICO DE MUDANÇA DO PONTO DE VISTA COMPORTAMENTAÜ Andréa Rodrigues Viana Por mais difícil que seja perceber e assumir, a mudança se faz presente e constante na vida das pessoas. Às vezes de forma sutil, quase imperceptível aos olhos. Outras vezes se impondo, causando medo e dor, sendo associada à perda. Mudança pode ser entendida como, segundo Larousse (1995) sendo 0 ato ou efeito de mudar-se. Alteração, modificação, transição. Visto por um ponto de vista mais específico, a mudança poderia ser interpretada como sendo um risco, uma aposta, uma fase de transformações, instabilidades e alternâncias, onde um comportamento não satisfatório convida à alteração, à transformação colocando em jogo antigas formas de comportar-se e se abrin do para novas formas. Isso pode ser visto como se a pessoa usasse determinadas lentes para enxergar determinadas situações. Se essas lentes forem funcionais, perma necem, acostuma-se facilmente a usa-las e a enxergar o mundo com elas. De tão utilizadas, se colocam aos olhos quase que de uma forma automática, impedindo-os de ver utilizando outros recursos. Quando esse difícil processo é vivenciado na terapia, tanto o paciente quanto o terapeuta e até mesmo o processo psicoterápico sofrem abalos, pois, de acordo com Shinorara (2000) o processo psicoterápico é complexo e acontece dentro de um contexto interpessoal, onde o terapeuta e o cliente integram-se num trabalho que visa aquisição de autoconhecimento e mudan ças. Tal processo é então, também perpassado pelas fases de transforma ções, instabilidades e alternâncias. 1 Adaptado da monografia de conclusão de curso de psicologia do Centro Universitário Newton Paiva, da mesma autora, elaborada em 2002. 127 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015 7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! INDEX BOOKS GROUPS Seja em linha reta, em círculos, por vias diversas, em meio a oscilações de desenvolvimento ou estagnação, o certo é que a terapia consiste num processo de impermanência. E a simples sinalização de mudar pode alterar e dificultar o processo terapêutico modificando seu caráter, antes favorável, para aversivo e desviando seu curso, pois trata-se de um duro convite a arriscar-se, um convite a tirar as antigas lentes, a utilizar novas lentes, a experimentar novos repertórios de comportamento. "Receber um paciente é estar disposto a ajudá-lo a trocar as lentes. Ou viver sem elas”.(Stoeber e Felice, 2000. p. 11). Em outras palavras, baseando-se na Teoria Comportamental de Orienta ção Behaviorista Radical, o indivíduo já possui em sua história de vida passada, um repertório de comportamento aprendido, produzido e construído pela ação do comportamento sobre o ambiente e da forma pela qual o ambiente responde. Tal repertório é mantido de forma que o indivíduo resista ao máximo às modifica ções, ainda que esteja passando por períodos pouco agradáveis. A resistência assume assim, uma função aparente de auto proteção, saudável, mas que pode levar o paciente a esquivar-se de mudanças. Deve-se ter claramente a idéia de que este indivíduo que pode esquivar-se de mudar, funciona, segundo Aratangy (2001), a maior parte do tempo, sob o comando de um piloto automático, que o empurra para o caminho mais fácil, mais conhecido. O abalo no processo terapêutico irá atingir o terapeuta e este deve estar atento à dificuldade vivida pelo paciente de passar por esse período de resistên cia à mudança. O manejo deve ser diretivo, mas ao mesmo tempo, cuidadoso, pois, diante da situação que elicia medo e ansiedade, o paciente pode ter um comportamento de fuga ou esquiva da terapia. Isso pode afetar a terapia, que antes, apresentava-se como um estímulo com características positivas que con vidavam o paciente a falar de si, sobre si, sem que isso o conduzisse à mudança. O P rocesso T erapêutico: A psicoterapia pode ser entendida, conforme Machado (2000), como um processo de autoconhecimento que visa a promoção de um maior desen volvimento da percepção que a pessoa tem de si, de suas atitudes, pensa mentos e sentimentos. Com isso, ao fazer sua auto-observação, a pessoa pode identificar o que causa sofrimento, conhecendo suas razões de pensar, agir e sentir. Esse autoconhecimento, ainda parafraseando a autora, proporci onará o desenvolvimento de habilidades em relação ao autocontrole de sen sações como raiva, ansiedade, medo, etc. A psicoterapia busca, portanto for necer meios para que a própria pessoa conheça meihor seus limites, potenci ais e possa antecipar a realização de comportamentos mais funcionais em situações problemáticas do dia a dia. A Terapia Comportamental pode ser definida pela referida autora como sendo uma forma de buscar a eliminação do comportamento desajustado, 128 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015 7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! INDEX BOOKS GROUPS tendo como objetivo o de criar novas condições de aprendizagem de estraté gias funcionais de ação e, conseqüentemente, de avaliação e correção. Em outras palavras a análise funcional do comportamento permite ao terapeuta estabelecer relações do comportamento com o contexto, verificando o que proporcionou determinada forma de comportar-se. Centraliza ainda seus es forços da identificação dos fatores atuais que mantêm tal comportamento fun cional ou disfuncional no repertório da pessoa. (Lòbr e Ingherman). 'A Terapia Comportamentai enfim, e o modo psicoterápico que visa a aprendizagem de novas formas de fortalecimento e manutenção dos comportamen tos que funcionam bem, e dedesaprendizagem e enfraquecimento dos comporta mentos que não funcionam ou funcionam mal.”(MACHADO, 2000, p. 01). A Terapia Comportamentai foi durante muito tempo encarada como a aplicação sistemática de técnicas de modificação e controle de comportamentos problemáticos, com os quais, conforme Machado (1997), outras abordagens não tinham como ou, até mesmo não pretendiam trabalhar. Procedimentos para a modificação de comportamento são utilizados sim, mas somente quando im* plicam a elaboração de uma estratégia de ação para enfrentar um déficit espe cifico de um determinado repertório comportamentai de uma pessoa. A Terapia Comportamentai, de acordo com Rangé (1995), baseia-se em princípios, técnicas e procedimentos sobre como produzir mudanças, mas não estipula a priorí “quem" deve mudar “qual" comportamento, “porque” e ''quando” Tais decisões cabem ao paciente. Todo objetivo terapêutico é discu tido com o paciente e é ele quem determina em que direção, quanto, quando deseja mudar. Ao terapeuta cabe o papel de identificar pessoas e estímulos ambientais que estejam mantendo o problema e ser um faciütador para dar meios, sugerir técnicas e procedimentos a serem utilizados para que os obje tivos do paciente sejam alcançados. A incessante busca pelo prazer, conforto e bem estar fez com que haja uma tendência a evitar, ao máximo, qualquer forma de desconforto, que pode ser refle xo de uma fase crucial no processo terapêutico onde se deve encarar a importân cia e até mesmo a necessidade de superar o medo e a resistência. Mudar implica em passar por um período de turbulência com a possibilidade de ter como ganho o amadurecimento e a aprendizagem, segundo Stoeber e Felice (2000). A modificação de comportamentos e até mesmo de repertório de com portamentos é um processo terapêutico complexo e ao mesmo tempo marcante tanto parao paciente quanto para o terapeuta. A balo P a r a O P ac ien te De acordo com Delitti (2000) o cliente é considerado como alguém que se encontra numa situação aversiva, e procura um terapeuta para mudar o que de alguma forma o incomodou. Porém, o analista do comportamento sabe 129 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015 7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! INDEX BOOKS GROUPS que o indivíduo se comporta em resposta aos processos de uma seleção comportamental e possui um repertório, ainda que inadequado. Tal seleção comportamental baseia-se na explicação ontogenética, filogenética e cultural e foi apresentada por Meyer (2001), baseada no con ceito original de Skinner (1953), onde ela afirma que, no nível filogenético, o ambiente determina o comportamento através de sua ação seletiva durante a evolução da espécie. No nível ontogenético, o comportamento é determinado pelo ambiente através do seu efeito na modelagem e manutenção do repertó rio comportamental que converte cada membro da espécie em uma pessoa. E, por último, no nível cultural, o comportamento é determinado de acordo com seu papel de estabelecer a ocasião na qual o comportamento ocorre. O comportamento atual do paciente torna-se acessível pelo seu relato verbal, pelo registro do comportamento e pela forma com a qual o paciente se comporta na sessão terapêutica que é o foco da análise funcional. De acordo com Kohlenberg (1987), tudo o que um terapeuta deve fazer para auxiliar seus pacientes ocorre durante a sessão. Para o Behaviorismo Radical, as ações do terapeuta afetam o cliente através de três funções de estímulo: discriminativa, eliciadora e reforçadora. Somente durante a sessão é possível fazer a análise funcional do com portamento, pois é quando o comportamento ocorre e pode ser observado em toda sua topografia, intensidade e freqüência. Assim, o alvo seria observar quando e de que modo os comportamentos ocorrem durante a sessão. Tal procedimento é de particular relevância, tratado por Kohlenberg (2001) como sendo Comportamentos Clinicamente Relevantes (CRB). Os pro blemas do cliente que ocorrem na sessão são denominados pelo autor por CRB1 e referem-se aos problemas vigentes do cliente e cuja freqüência deve ria ser reduzida ao longo da terapia. Pode-se dizer que os CRB1s são formas de esquivar-se de estímulos aversivos. Os progressos do cliente que ocorrem durante a sessão são os CRB2 e são comportamentos que não são observa dos durante os estágios iniciais do tratamento ou possuem uma baixa proba bilidade de ocorrência. Os CRB3 seriam interpretações do comportamento segundo o cliente. Referem-se à fala, observação e interpretação do próprio comportamento e dos estímulos reforçadores, discriminativos e eliciadores associados a ele. Dado isso, pode-se observar como o paciente esquiva de estímulos aversivos, seus progressos e suas próprias interpretações acerca de seus com portamentos, durante a sessão terapêutica ou trazidos na sessão. Pode-se ob servar as dificuldades vividas pelo paciente, seus conflitos e seus medos. A mudança, o medo e a resistência referentes a ela, são comportamen tos também observáveis no interior e no desenrolar das sessões terapêuticas. 130 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015 7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! INDEX BOOKS GROUPS No intuito de ilustrar ao que se refere este capitulo, citarei fragmentos de atendimentos feitos por mim. Sílvia2, uma paciente de 64 anos, atendida desde agosto de 2000, na CESPA, é mãe de dois filhos com idades entre 25 e 30 anos, viúva e que traz sua história de vida passada marcada por aconteci mentos que ela mesma os intitula "trágicos", como presenciar o assassinato da mãe, o suicídio do noivo, a morte do marido vítima de câncer, dentre outros. Sílvia chega ao consultório queixando-se de uma depressão que esta va fazendo com que ela se sentisse morta, paralisada, o que sinalizava um CRB3. A sensação descrita por ela foi de:"... como se eu tivesse morrido junto com meu marido, mas não fui enterrada". Sua melhora em relação à queixa inicial foi notada de uma forma gradual e marcante. Atualmente Sílvia que apresentava como um primeiro CRB1 o comportamento de não sair de casa a não ser para fazer “mercadinho*, faz atividades como aulas de pintura, nata ção, hidroginástica, informática,, português e espanhol, que podem ser consi deradas como um exemplo de CRB2. Sua queixa, como mais uma ilustração de CRB1, atualmente gira em torno de uma "couraça” que, segundo ela, usou durante muito tempo, com várias características, tais como vaidade, fortaleza, honestidade, humildade, bondade, mais sempre com muita rigidez e inflexibilidade. Sílvia sente que essa couraça nada mais significou do que máscaras que esconderam sua verdadeira identidade e que ela sente agora estarem trincando. Tal observa ção e interpretação do seu próprio comportamento exemplificam um CRB3. Com isso ela apresenta um medo frente a esta fresta que se abre com a possibilidade de estar se abrindo para um novo. Ela relata um medo frente à possibilidade de sua rigidez cair. Percebe-se aí um CRB3 na sua fala em relação à possibilidade de suas máscaras caírem, e ainda um CRB1 em rela ção ao medo frente ao novo. Uma carta escrita numa viagem e trazida por ela à sessão traz relatos de Sílvia onde ela se compara a um jequitibá que possui as características de ser frondoso, dar sombra e abrigo aos familiares e aos que necessitam. Dar proteção. É alto, forte, sábio, generoso, altruísta, dócil, obediente e humilde. Sílvia deixa claro na carta, sua luta por tornar-se tal árvore, pois aprendeu com as pessoas que esse seria o comportamento modelo a ser seguido. Ela via a diferença entre comportar-se assim - como um jequitibá - e não como uma graminha que poderia viver sob a sombra de jequitibás, e que se deitaria junto ao chão para se proteger de tempestades, voltando a se levantar quando estas passassem. Ela estabelece assim diferenças entre comportar-se como jequitibá - forte e rígido - e como grama - frágil e flexível, e o medo de mudar seu 2 Nome fictício usado para que a identidade do paciente seja mantida em sigilo. 131 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015 7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! INDEX BOOKS GROUPS repertório de comportamento condizente ao jequitibá. Deixa sua fase de insta bilidade, medo e alternância no seguinte trecho da carta: “Só que, agora, com 64 anos estou ficando cansada de ser'Jequitibá porque alguns que se abrigam, sinto que. exploram da sombra o abrigo. Tomei-me Jequitibá 'e estou desejando ser somente grama, mas não encontro nenhum ’Jequitibá ’ onde eu possa ficar sob ele. Por outro lado a personalidade de ‘Jequitibá’não me abandona. Gosto de ajudar, ser útil. Não sei negar sombra e abrigo, porém estou muito cansada e às vezes decepcionada. De vez em quando balaço meus galhos, como se pedindo socorro. Desejo até tombar-me, porém minhas raizes estão muito profundas e tenho medo da mudança. Tenho medo também do futuro, quando nào tiver mais folhagem, minha seiva for secando, meus galhos morrendo. Vejo-me um ‘Jequitibá ’abandonado, sem forças, e muito saudoso daqueles que passaram por mim. Também como grama sena difícil viver acho que poderia ser pisoteada. Preciso então buscar uma oondiçào nova de vida. Estou tentando preparar-me para isto. mas vejo os caminhos estreitos e não consigo vislumbrar o final”. (Sílvia, 13.05.2002). Com isso, pode-se dizer que o processo terapêutico de mudança é vivi ficado pelo paciente também de uma forma complexa, com atravessamentos e fases de oscilação entre desenvolvimentos e estagnação, isto é, de uma forma aversiva ouno mínimo delicada. Há a ocorrência de novos problemas, até mes mo durante a sessão, assim como progressos, observações e interpretações. Tais fatores que perpassam a clínica, sinalizam para o paciente uma possibilidade de mudança e fazem com que este se observe mais e tenha mais percepção de que formas antigas de comportar-se já não emitem respostas satisfatórias, possivelmente tendendo a desaparecerem, e, por outro lado, no vas formas de comportar-se produzirão novas conseqüências, que tenderão a selecionar comportamentos que continuarão existindo ou que serão extintos. O paciente defronta-se então com um impasse, com uma situação nova, e exatamente por desconhecer este estranho, esse momento singular e deli cado, o paciente ensaia novos comportamentos, tais como o medo, a ansieda de, a fuga, esquiva dentre outros. Esses impasses e momentos devem ser acompanhados de forma cautelosa e cuidadosa pelo terapeuta. A balo Para O T erapeuta ‘Quando penso naqueles pacientes que eu vi experimentarem uma grande mudança, eu sei que o fogo estava na relação terapêutica... Havia luta e medo, proxímidade: amore terror. Havia intimidade e afronta, apreensão e vergonha... era uma jornada significativa, mais para o paciente que vinha buscar ajuda, mas, de feto, para ambos os participantes. Era um processo que percoma todo o desenrolar da terapia e deixava a ambos, paciente e terapeuta, alterados pela experiência... A relação terapêutica está no própno centro da psicoterapia eéo veículo através do qual a mudança terapêutica acontece." (GREBEN, 1981*). 2 Greben citado por Kohlenberg em FAP - Psicoterapia Analítica Funcional (2001). 132 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015 7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! INDEX BOOKS GROUPS A grande preocupação de um terapeuta clínico, segundo Delitti (2000), é a de fazer a análise funcional do comportamento da forma mais correta possível, fazer com que a relação terapêutica seja bastante propícia ao cami nhar da terapia. No trabalho psicoterápico, observa-se uma ênfase no desenvolvimen to de estratégias de solução de problemas, dificuldades e alívio de sintomas. Mudanças. Segundo Shinohara (2000), terapeutas e clientes trabalham em conjunto no intuito de apreender com maior segurança e pertinência, alterna tivas de manejo das situações problemáticas do cliente. Isto é, se o cliente atravessa um período delicado, o processo terapêutico sofre abalos e o terapeuta deve se adaptar a isso. Pode-se fozer aqui uma relação aos Com portamentos Clinicamente Relevantes, vistos no capítulo anterior, onde o tra balho da terapia poderia ser dito a partir do ajustamento dos CRBs com o propósito de extinguir os CRBs do tipo 1 e fortalecer os CRBs dos tipos 2 e 3. O conhecimento teórico não garante que a prática seja compatível à necessidade. Torna-se necessário também, de uma forma dinâmica, que o terapeuta constantemente avalie sua atuação principalmente nos períodos mais difíceis e delicados. (Rangé, 1995), adaptando-se a esses momentos e adequando-os aos comportamentos do paciente. Deve-se identificar as variáveis que controlam o comportamento do paciente, ou seja, das quais ele é função nas contingências em que ocorrem. Para que, com isso, possam ser levantadas hipóteses sobre a aquisição e manutenção de repertórios de comportamentos, possibilitando o planejamen to do desenvolvimento do processo, de forma flexível, pelo terapeuta. Neste sentido, o comportamento do paciente tem uma função. É papel do terapeuta entender porque, em que contingências o comportamento se instalou e como ele se mantém. E esse entendimento é possível através da análise funcional que envolve, na clinica, três momentos da vida do sujeito que, de acordo com Delitti (2000) são: história passada, comportamento atual e relação com o terapeuta. De uma forma geral, tem-se acesso à história de vida do paciente através do seu relato verbal. Como se deu sua aprendiza gem, seu processo de modelação, esquemas de reforçamento, dentre outros processos. Assim torna-se possível avaliar como o paciente se comportou no pas sado, sua capacidade de discriminação e as contingências relativas aos seus comportamentos. De posse disso, pode-se levantar hipóteses acerca de de terminados comportamentos que permanecem, mesmo quando as contingên cias são outras. Para se ter acesso ao comportamento atual, o terapeuta pode contar também com o relato verbal e, referindo-se à relação com o terapeuta, este 133 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015 7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! INDEX BOOKS GROUPS deve aliar tal relato aos Comportamentos Clinicamente Relevantes, explicitados no tópico anterior. Com os dados dos três momentos da vida do paciente é possível fazer uma avaliação de como era o seu repertório, como se desenvolveu e se man teve. Assim é possível conjecturar a respeito do comportamento do indivíduo frente às situações de medo, ansiedade e resistência ao se deparar com o novo ou com a possibilidade de mudar, a respeito de seu caminhar ou não, à fuga e/ou esquiva, enfim às suas dificuldades a cerca da terapia. Enfim, deve-se ressaltar que o processo terapêutico de mudança é uma etapa igualmente delicada e complexa para o terapeuta, pois é onde seu manejo será de extrema importância para as mudanças que o paciente deve rá enfrentar. E a extrema importância relacionada ao manejo do terapeuta se deve ao fato de que, tanto o processo terapêutico quanto o próprio terapeuta podem tornar-se estímulos aversivos, uma vez que já foram para o paciente, respectivamente, um ambiente favorável e uma pessoa que eliciava estímulos com características positivas. Assim, a terapia que antes convidava o paciente a falar, pode afetar o processo. E se o terapeuta não estiver atento, não for sensível aos repertórios do cliente, ou for muito diretivo sem respeitar os limi tes e o tempo do cliente, pode tornar-se fonte de coerção, provocando ele mesmo, comportamentos de fuga ou esquiva da sessão. Segundo Rangé, (1995), o terapeuta deve procurar identificar e tratar as resistências do paciente antes de produzir mudanças. E é desse manejo que dependerá todo o processo terapêutico daí em diante. C onclusões ‘Os homens agem sobre o mundo, modificam-no e, por sua vez são modificados pelas conseqüências de sua ação. Alguns processos que o organismo humano compartilha com outras espécies alteram o comportamento para que ele obtenha um intercâmbio mais útil e mais seguro em determinado meio ambiente. Uma vez estabelecido um comportamento apropriado, suas conseqüências agem através de processos semelhantes para permanecerem ativas. Se, por acaso, o meio se modifica, formas antigas de comportamento desaparecem, enquanto no vas conseqüências produzem novas formas." (SKINNER, citado por MACHADO, 1997*). Assim como o processo psicoterápico de mudança e resistência é de suma importância, o estudo de sua prática também o é para que se tenha um instrumento a mais na tentativa de garantir a qualidade na relação terapêutica. Se, como enfatiza Shinohara (2000) a qualidade da relação terapêuti ca interfere de forma significativa nos resultados da terapia, se o terapeuta tem 4 Skirmer, 1978, p. 15, citado por MACHADO, Ana Maria Le Sénéchal (1997). 134 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015 7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! INDEX BOOKS GROUPS como desafio desempenhar um papel mais interativo do que técnico em rela ção ao seu paciente, se o objetivo é que ocorram mudanças mais significati vas e duradouras, estudos criteriosos a esse respeito devem ser, imprescindivelmente, produzidos, desenvolvidos e aperfeiçoados. Não se sabe exatamentecomo terapeutas e pacientes trabalharão con juntamente. Não se sabe com precisão como ambos enfrentarão o caminho das pedras. Mas mesmo não sabendo o caminho das pedras parece que vale a pena investir no desenvolvimento de repertórios por parte dos terapeutas que sejam sensíveis aos repertórios dos clientes. Deste modo pode-se pensar sobre e produzir um planejamento de intervenção que seja realmente eficaz na transformação e melhoria de qualidade de vida. "Transforme as pedras que você tropeça nas pedras de sua escada." SÓCRATES. R eferências Aratangy, L. R. (2002) Por Uma Ética no Cotidiano. Revista Viver. São Paulo: Editora Segmento, n. 98, p. 23. Delitto, M. (2001). Análise Funcional: O Comportamento do Cliente Como Foco da Análise Funcional. Sobre Comportamento e Cognição. Edição Revisada. Vol. 2. Cap. 06. Ed. ESETec:São Paulo. Kohlenberg, R. J. e Tsai, M. (2001) FAP - Psicoterapia Analítica Funcional;criando rela ções terapêuticas intensas e curativas. Santo André: ESETec. Letther, H e Rangé, B.(1988) Algumas Notas Sobre Ética e Psicoterapia Comportamental. Manual de Psicoterapia Comportamental. São Paulo: Ed Manole LTDA. Lòbr, S. e lngherman,Y.Terapia Comportamental. Revista Contato, Edição Bimestral do CRP-83 Região. Lé Sénéchal Machado, A.M. (1997) Uma Visão Panorâmica da Terapia Comportamental de Orientação Behaviorista Radical, [on-line]. Revista Desafio. St. 1997. Rio de Janeiro, Brasil. Acesso por: http://vww.ibase.0r9.br/--desafiQ. ISBN. _________________________ ____. Respondendo Sobre Terapia Comportamental. 1a Jornada do Comportamento. FAFICH/UFMG - Minas Gerais - MG. 10/06/2000. Meyer, S. B. Quais os Requisitos Para Que Uma Terapia Seja Considerada Comportamental? ENCONTRO PARANAENSE DE PSICOLOGIA, 4,1990. Revisão realizada em 1995. Universidade São Judas Tadeu. Rangé, B. (1995) Ética e psicologia comportamental. Psicoterapia Comportamental e Cognitiva. (Pesquisa, Prática, Aplicações e Problemas). Cap. 9. Campinas: Ed. Psy. 135 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015 7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! INDEX BOOKS GROUPS _________ . (1995) Psicoterapia Cognitiva,.Psicoterapia Comportamental e Cognitiva. (Pesquisa, Prática, Aplicações e Problemas).Cap. 9. Campinas: Ed.Psy. Shinohara, H. (2000) Relação Terapêutica: O que Sabemos Sobre Ela? Sobre Compor tamento e Cognição. Vol5. Cap. 27. São Paulo: ESETec. 136 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015 7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! INDEX BOOKS GROUPS 14 P e s q u is a Bá s ic a : um e s t u d o s o b r e d e p r e s s ã o 1 Ana Carmen Oliveira Dolabela2' Tatiana Araujo Carvalho' O presente trabalho é uma tentativa de mostrar como a pesquisa bási ca3 pode contribuir para o estudo da depressão. De acordo com dados da Organização Mundial de Saúde (Calil, n.d.), a incidência da depressão atinge, hoje, cerca de 6 % da população mundial e aproximadamente 20 % das pes soas irão apresentar ao menos um episódio depressivo ao longo da vida. Uma maneira de se estudar a depressão é através de modelos animais. Dentre os diversos modelos de depressão possíveis, discutiremos neste traba lho o Chrortic Mild Stress (Estresse crônico moderado) que foi apresentado pelos pesquisadores Willner, Towell, Sampson, Sophokleous e Muscat, em 1987, na revista Psychopharmacoiogy, Este modelo investiga efeitos de uma longa exposição a eventos estressores moderadamente aversivos, utilizando-se ratos como sujeitos. Os pesquisadores desenvolveram um método para provocar a anedonia, termo usado por Willner e cols. (1987) para caracterizar uma diminui ção na capacidade de sentir prazer, uma insensibilidade à recompensa. A anedonia é considerada pelo DSM-IV um dos principais sintomas da depressão. A depressão tem sido investigada em pesquisas realizadas no programa de Pós-Graduação em Psicologia Experimental: Análise do Comportamento na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Cássia Roberta da Cunha Thomaz, em 2001, realizou, no laboratório de Psicologia Experimental da PUC/SP, uma replicação deste estudo de Willner e cols. (1987). O objetivo principal de Thomaz (2001) era descobrir se a exposição ao regime de estressores seria capaz de afetar o valor reforçador dos estímulos. Para tanto ratos foram repetidamente ’ PUCSP ' Agradecemos a colaboração e o incentivo de Adriana Cruvinel por nos convidar a fazer parle deste trabalho e das professoras Tereza Maria Sério e Maria Amália Andery pela atenção e sugestões. 2 Bolsista Capes 2002-2004 * O pesquisador básico tem como objetivo o preenchimento de uma lacuna na teoria. A pesquisa básica, independentemente de ser realizada dentro ou fora do laboratório, permite manipulação, previsão e controle das variáveis. O que a diferencia da pesquisa aplicada não é seu objeto de estudo nem os procedimentos de pesquisa usados. A diferença é que pesquisa aplicada é determinada peio interesse da sociedade que aponta seus problemas. INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015 7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! INDEX BOOKS GROUPS expostos a estressores moderados quase ininterruptamente durante seis sema nas. Os estressores utilizados foram inclinação da gaiola, luz estroboscópica, barulho intermitente, privação de comida, gaiola suja, luz acessa durante a noite, objeto estranho na gaiola, acesso restrito à comida, cheiro forte e agrupa mento com outro rato na mesma gaiola. Foram realizados testes de consumo e de preferência de líquidos uma vez por semana. Os testes aconteceram durante todo o regime de estressores e ainda houve três testes antes e três depois do regime de estressores. Estes eram realizados após 23 horas de privação de água e comida e tinham a duração de uma hora. Eram utilizadas duas garrafas do tipo mamadeira com capacidade de 250 ml. Uma continha água filtrada e a outra continha uma solução de sacarose a 8%. As garrafas eram dispostas nos lados direito e esquerdo na parede frontal da gaiola viveiro, equidistante das paredes late rais. O lado de apresentação das garrafas era alternado a cada teste. Ao final de uma hora de exposição a quantidade de líquidos ingeridos era encontrada a partir da diferença entre o volume, em mililitros, do líquido disponibilizado e o volume final restante na mamadeira. Além disto, foi criada uma situação em caixa operante em esquema concorrente de razão fixa4 FR 15 água - FR155 sacarose na qual, diariamente, durante três semanas antes e três semanas depois do regime de estressores era verificada a freqüência de respostas do rato em cada uma das barras. Os resultados encontrados foram: Ratos Condição j A m es do regime ' D urante o regime A pós o regime A e B Ics tc de consum o l; preferência de líquidos ! Diminuição do Alto consum o to tal de : consum o total de líquidos e m aior líquidos e do consum o de sacarose consum o diferenciado de sacarose M anteve baixo o consum o total de líquidos e o consum o diferenciado dc sacarose C e D Teste de consum o e preferência de líquidos + Esquem a concorrente F R 15 água 1-R1S sacarose. Alto consum o to tal de líquidos e m aior consum o de sacarose Alta freqüência de respostas de pressão à barra correspondente a liberação da sacarose D im inuição do consum o total de líquidos e do consum o diferenciado de sacarose + N ão teve esquem a concorren te durante o regime de estressores A lto consum o to tal de líquidos e m aior consum o de sacarose Alta freqüência de respostas de pressão á barra correspondente a liberação da sacarose 4 Razão Fixa:Esquema em que a última de um número especificado de respostas de uma classe selecionada é seguida por uma conseqüência. (Catania, 1999} 5 FR15 água - FR15 sacarose: Esquema no qual há duas barras disponíveis e cada uma delas libera uma gota de água ou de sacarose cada vez que se completa 15 pressões a barra. 138 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015 7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! INDEX BOOKS GROUPS Pode-se concluir com este primeiro estudo que a diminuição do consu mo total de líquidos e do consumo diferenciado de sacarose nos ratos A e B evidencia uma redução no valor reforçador da sacarose devido à exposição ao regime de estressores. Já para os ratos C e D a exposição a uma condição operante de esquema concorrente antes e depois de encerrado o regime de estressores, parece ter alterado o efeito comumente produzido pelo regime, restabelecendo o consumo de líquidos e a preferência pela solução de sacarose como era antes da exposição aos estressores. Willner e cols. (1992) produziram este restabelecimento de ingestão de solução de sacarose após duas a cinco semanas de tratamento de drogas antidepressivas. Thomaz (2001) conclui que a exposição ao esquema concor rente FR água - FR solução de sacarose também foi capaz de interferir nos testes de consumo de líquidos restabelecendo a preferência pela solução de sacarose com apenas algumas exposições a situação concorrente, sem o uso de drogas.. Pode-se entender os resultados da seguinte forma: o fato de um sujeito ter, na sua história, situações nas quais ele pode exercer controle sobre uma parte do ambiente, nas quais suas respostas sejam conseqüenciadas, ou seja, sua ação produza modificações, pode auxiliar para que este sujeito se recupere mais rapidamente dos efeitos de uma situação aversiva e incontrolável. No início de 2003, como parte integrante dos estudos de Pós-Gradua ção da PUC/SP, um segundo estudo, ainda em andamento, foi proposto por Ana Carmen Dolabela (2003), sobre as possíveis interações entre o Chronic Mild Stress e o desempenho operante. Tal estudo tem como objetivo verificar se a exposição dos ratos a uma situação de esquema concorrente durante o regime de estressores irá produzir alterações: a) no desempenho de pressão à barra (medido na caixa operante) comparando-se à linha de base anterior ao regime de estressores e; b) no consumo de água e de sacarose (medido no teste de consumo e preferência de líquidos) comparando-se às medidas ante riores ao regime de estressores. Para isto, optou-se por um estudo com o seguinte delineamento expe rimentai: Em uma condição os sujeitos são expostos a seis semanas de regi me de estressores Na segunda condição os sujeitos são, primeiramente, ex postos a sessões operantes de esquema concorrente FR água - FR solução de sacarose, logo em seguida passam pelo regime de estressores e depois, novamente, pelas sessões de esquema concorrente. Na terceira condição, a situação de esquema concorrente FR água - FR solução de sacarose conti nua a acontecer uma vez por semana durante o regime de estressores, permi tindo observar as possíveis interações entre o Chronic Mild Stress e o desem penho operante de pressão à barra. Nas três condições experimentais são realizados testes semanais de consumo e de preferência de líquidos antes, durante e depois do regime de estressores. INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015 7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! INDEX BOOKS GROUPS Estes estudos nos alertam para o seguinte fato: a depressão não é sem pre causada por um único evento aversivo e marcante, mas pode ser provocada também por uma longa exposição a eventos estressores moderados. O que pretende-se neste texto é mostrar que a pesquisa básica pode contribuir de forma decisiva no estudo da depressão. Um modelo animal da depressão tem como proposta fazer simulações com as quais se analisam aspectos da depressão, permitindo a investigação de características comportamentais, reproduzindo aspectos da situação clínica. (Willner, Muscat e Papp, 1992). É a partir da pesquisa básica que o analista do comportamento conhe ce os processos básicos e pode preencher lacunas teóricas dando a susten tação necessária para pensar na solução de problemas comportamentais. Segundo Eifert Forsyth, Zvolensky e Lejuez (1999) a pesquisa básica de laboratório nos leva a importantes descobertas para a compreensão e trata mento de diversas questões comportamentais. O refinamento dos processos experimentais e uma boa interpretação desses estudos permitem a amplia ção da compreensão e atuação no comportamento humano. R eferências Calil, L.C. (n.d.). Depressão: Amante causadora de muitas separações. Internet: http:// www.eDDb.ora.br/svol/artiQo11.htm. Data de acesso: 09/08/2003. Catania, A.C. (1999). Aprendizagem: comportamento, linguagem e cognição.(D. G. Souza [Et al]. Trad.). Porto Alegre: Artes Médicas Sul. (Trabalho originai publicado em 1998). Doiabela, A.C.F.O. (2003). Um estudo sobre as possíveis interações entre o chronic mild stress e o desempenho operante. Exame de qualificação. Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo. Eifert, G. H., Forsyth, J. P., Zvolensky. M. J. e Lejuez, C. W. (1999). Moving from the laboratory to the real world and back again: increasing the relevance of laboratory examinations of anxiety sensivity. Behavior Therapy. 30,273-283. Thomaz, C.R.C. (2001). O efeito da submissãoao chronic mild stress ÍCMSl sobre o valor reforçadordo estímulo. Dissertação de mestrado. Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo. Willner, P.; Muscat, R. e Papp, M. (1992). Chronic mild stress-induced anhedonia: a realistic model of depression. Neuroscience and Biobehavioral Reviews. 16,525-534. Willner, P.; Towell, D.; Sampson, S.; Sophokleous, S. e Muscat, R. (1987). Reduction of sucrose preference by chronic unpredictable mild stress, and its restoration by a tricyclic antideoressant. Psvchopharmacologv. 93,358-364. 140 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015 7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! INDEX BOOKS GROUPS 15 Um m o d e l o c o g n it iv o d e r e s is t ê n c ia e m p s ic o t e r a p ia Eiiane Mary de Oliveira Falcone* Existe uma variedade de provas sustentando a eficácia da terapia cognitivo-comportamentai no tratamento de diversos transtornos psicológi cos, tais como os transtornos de ansiedade; depressão maior; transtornos sexuais e conflitos conjugais (J. Beck, 1997). Por outro lado, uma quantidade considerável de pacientes com transtornos crônicos e de personalidade não responde favoravelmente às técnicas cognitivo-comportamentais tradicionais (Young, Klosko & Weishaar, 2003). Tais pacientes são mais resistentes à mudança e constituem um desafio para o trabalho dos terapeutas. A resistência à terapia constitui um fenômeno comum no processo terapêutico. Segundo Newman (2002), embora os clientes desejem obter alí vio de sua ansiedade aguda ou de seus sintomas depressivos, eles estão incertos com relação a desistir de padrões duradouros de funcionamento. Além disso, eles possuem dúvidas, medos, hesitações e outros obstáculos internos para crescer e mudar. Newman propõe que a resistência “vincula aqueles aspectos do funcionamento do cliente que procuram manter o 'satus quo’ em suas vidas psicológicas. A resistência trabalha contra a mudança construtiva, mas também nos provê de informações valiosas sobre os clientes e seus conflitos" (Newman, 2002, p. 166). Se o terapeuta não for capaz de identificar os motivos da resistência de seu paciente, ele poderá experimentar emoções negativas e tornar-se defensivo, adotando comportamentos hostis, que serãoprejudiciais ao paciente e ao tratamento (Leahy, 2001). Alguns dos comportamentos de pacientes considerados como resistên cia incluem (Leahy, 2001; Newman, 2002; Safran, 2002): chegar atrasado siste maticamente às sessões; criar problemas com o pagamento das sessões; ex pressão excessiva de sentimentos negativos dirigidos ao terapeuta, onde a Instituto de Psicologia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, RJ. 141 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015 7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! INDEX BOOKS GROUPS competência deste é atacada ou onde este é acusado de ser frio e insensível; comunicação indireta de sentimentos negativos ou hostilidade expressa atra vés de sarcasmo; desacordos a respeito de objetivos e tarefas da terapia; obedi ência pelo temor de ameaça seguida de ressentimento; justificativas ou autode fesas para manter a auto-estima; galanteios excessivos dirigidos ao terapeuta; debates gratuitos com o terapeuta (ex., encarar as palavras encorajadoras do terapeuta como respostas cínicas; desaprovar as reflexões acuradas do terapeuta); torcer os comentários do terapeuta para o lado negativo; comparecer às sessões apenas em resposta a crises; tentativas de prolongar o tempo da sessão; exigências não razoáveis de cura rápida e sem esforço. Após uma breve revisão de estudos que buscam explicar os motivos da resistência ao tratamento (por ex., Leahy, 2001; Newman, 2002; Safran, 2002; Young, Klosko & Weishaar, 2003), verifica-se que a resistência do paciente é influenciada por três fatores descritos a seguir: 1) as demandas da terapia e a introdução das técnicas; 2) os esquemas de resistência pessoal do paciente; 3) os esquemas de resistência pessoal do terapeuta. 1) AS DEMANDAS DA TERAPIA E A INTRODUÇÃO DAS TÉCNICAS! A terapia cognitivo- comportamental possui algumas demandas que po dem contribuir para a resistência ao tratamento. Tais demandas incluem: ênfase no aqui-e-agora; sessões estruturadas e contínuas; solução de problemas; reestruturação de pensamentos disfuncionais; papel ativo por parte do terapeuta e do paciente; definição de metas; adesão às tarefas de auto-ajuda (ver J.Beck, 1997; Leahy, 2001; Wells, 1997). Entretanto, muitos pacientes não estão dispos tos a aderir a essas diretrizes processuais. Em vez de buscar a solução de problemas, por exemplo, eles preferem usar as sessões terapêuticas para "ven tilar”, lamentando-se com freqüência, tentando convencer o terapeuta de que a vida é difícil e buscando neste um reconhecimento dessas dificuldades, em vez de soluções. Outros preferem explorar os motivos de seus problemas em seus traumas do passado e ainda outros esperam conselhos do terapeuta. Para facilitar a adesão do paciente às demandas da terapia, alguns auto res (por ex., Golden, 1989; Leahy, 2001; Newman, 2002) sugerem procedimen tos tais como: socialização da terapia; usar o método socrático; prover os clientes de escolha e fala ativa; rever com o cliente os prós e os contras da mudança e do status quo^er simpático com a resistência do cliente; discutir a conceituação de caso com o cliente; falar a linguagem do cliente; maximizar o uso de auto-direção do cliente; solicitar feedback freqüente; propor mudanças pequenas quando o cliente apresenta ansiedade extrema; identificar ganhos secundários que inter ferem com a mudança; prestar atenção às rupturas de aliança; reconhecer o próprio papel na relação como parte da transferência do cliente. 142 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015 7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! INDEX BOOKS GROUPS Embora os procedimentos acima possam ser eficazes para um grande número de pacientes - geralmente aqueles que apresentam transtornos do Eixo I apontados no DSM-IV (APA, 1994) - estes costumam ser insuficientes na interação com aqueles pacientes que manifestam transtornos crônicos ou trans tornos de personalidade. 2 ) OS ESQUEMAS PESSOAIS DE RESISTÊNCIA DO PACIENTE Um esquema é definido por Young (2003, p. 6) como “uma representa ção abstrata das características distintivas de um evento, um tipo de fotocópia azul de seus elementos mais salientes". Os esquemas são formados no inicio da vida, continuam a ser elaborados e depois, superímpostos nas experiências posteriores, mesmo quando eiesjá não são mais aplicáveis. Isso se deve a uma necessidade para a consistência cognitiva, para manter uma visão estável de si e do mundo, mesmo quando essa visão é não acurada e distorcida. Assim, um esquema pode serposidvo ou negativo, adaptativo ou desadaptativo (Beck, 1967, in Young, 2003). Pacientes difíceis ou com transtorno de personalidade possuem esque mas desadaptativos, que se caracterizam por: a) interpretações tendenciosas, que confirmam o esquema (concepções errôneas, atitudes distorcidas, premis sas inválidas e metas e expectativas pouco realistas): b) dificuldades na interação com os outros aliadas a não percepção da própria participação nessas dificulda des, gerando reações negativas e rejeição por parte dos outros. Desse modo, a terapia é vista por esses indivíduos como ameaçadora para os seus esquemas e eles irão resistir fortemente às demandas da terapia (Beck & Freeman, 1993). A resistência manifestada por pacientes difíceis irá depender do tipo de esquema que será ativado na terapia. O paciente narcisista, por exemplo, que apresenta esquemas de grandiosidade, tende a se considerar especial. As sim, a condição de paciente é bastante desconfortável e humilhante para ele. Nesse caso, a resistência pode tomar a forma de desvalorizar a terapia e/ou o terapeuta, para preservar a autocrença de ser especial. O paciente com trans torno obsessivo-compulsivo de personalidade tende a ser perfeccionista e tem dificuldade de reconhecer os próprios ganhos. Geralmente resiste às tare fas de auto-ajuda por considerar que não conseguirá realiza-las com perfei ção. O paciente dependente, por se sentir inseguro, tende a resistir a tomada de decisão e a mudanças. Pacientes que necessitam de validação costumam se lamentar com muita freqüência e rejeitam qualquer tentativa de solucionar os seus problemas. O que eles desejam é o reconhecimento de que os seus problemas são realmente difíceis e qualquer tentativa do terapeuta para bus car uma solução será rejeitada (Leahy, 2001). As soluções propostas anteriormente para facilitar a adesão às deman das da terapia costumam ser eficazes no tratamento de pacientes com transtor 143 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015 7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! INDEX BOOKS GROUPS nos de ansiedade. Nesse caso, o terapeuta pode identificar alguns sinais de resistência do paciente (por ex., chegar atrasado com freqüência às sessões, não realizar tarefas entre as sessões etc.) e apontá-los gentilmente, para identi ficar os problemas subjacentes. Algumas vezes, as técnicas de reestruturação cognitiva ou de vantagens e desvantagens em mudar podem ser úteis. Entre tanto, tais procedimentos não costumam funcionar com pacientes que possuem esquemas de personalidade, uma vez que estes mal interpretam as ações do terapeuta, levando para o consultório os seus estilos interpessoais mal adaptativos (Beck e Freeman. 1993). Assim, o manejo da resistência em pacien tes com esquemas de personalidade exige que o terapeuta abra mão tempora riamente da mudança, para explorar o conteúdo esquemático do paciente. Liotti (1989) já havia chamado atenção para essa questão, ao criticar as contribuições cognitivo-comportamentais quanto à forma de avaliar as origens da resistência. Segundo o autor, os terapeutas orientados cognitivamente abordam a questão da resistência identificando crenças irracionais, bloqueios cognitivosou ansie dades mais elevadas, subjacentes à falha do paciente em aderir a um determi nado procedimento terapêutico. Tais contribuições à avaliação das origens da resistência são limitadas, uma vez que se baseiam no “aqui e agora” e dão pouca atenção a uma investigação sobre quando, como e por que as crenças, bloqueios e ansiedades foram adquiridas no curso da vida do paciente. Liotti propõe que o significado da resistência do paciente, ou seja, o comportamento ou cognição rotulado de “resistência”, poderia servir a um propósito adaptativo a partir do ponto de vista do paciente. O trabalho com a resistência de pacientes com transtorno de persona lidade deve acontecer primeiro através da reconstrução de experiências pas sadas que provocaram a construção de estruturas disfuncionais. Somente após o paciente reconhecer as origens históricas de sua construção da reali dade é que este deve ser encorajado pelo terapeuta a se descentrar deste modelo e a revisa-lo, através do enfrentamento com representações alternati vas. Assim, o terapeuta deve trabalhar com a resistência, explorando os seus significados, em vez de contra a resistência, rotulando-a imediatamente de “irracional" (Liotti, 1982). Safran (2002) afirma que o cliente percebe o significado das ações de outras pessoas a partir de expectativas generalizadas de interações com os outros ou esquemas interpessoais, os quais são baseados em experiências passadas. Quando esses esquemas são disfuncionais, eles ativam ciclos cognitivo-interpessoais mal-adaptativos. Nesse caso, o cliente cria expectati vas que geram comportamentos, os quais acabam confirmando as expectati vas disfuncionais. Como exemplo, Safran cita o caso de um indivíduo que antecipa ser abandonado pelos outros. Tal expectativa provoca comporta mentos de dependência e carência, alienando as pessoas e confirmando as expectativas de ser abandonado. 144 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015 7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! INDEX BOOKS GROUPS 0 terapeuta não deve atuar de modo consistente com o esquema interpessoal disfuncional do cliente, uma vez que isso irá perpetuá-lo. Assim, se o terapeuta responde á hostilidade do cliente com hostilidade, este poderá confirmar a crença do cliente de que o mundo é hostil e deve ser encarado com hostilidade. Por outro lado, se o terapeuta não participa do ciclo cognitivo- interpessoal do cliente, ele estará colaborando para desafiar as crenças disfuncionais deste (Safran, 2002). A resistência constitui uma oportunidade para o terapeuta explorar o conteúdo esquemático do paciente, assim como a sua história que contribuiu para a construção desse esquema (Leahy, 2001; Safran, 2002; Young, 2003; Young, Klosko & Weishaar, 2003). O sucesso na realização desse impasse, sem que o terapeuta se comporte de forma complementar ao esquema do paciente, agindo de modo diferente daquele apresentado pelas pessoas do contexto interacional do paciente, permitirá que este último desconfirme as suas crenças disfuncionais sobre os outros. Resumindo, ao lidar com a resistência de pacientes com transtorno de personalidade, o terapeuta deve: a) Reconstruir as experiências passadas que provocaram a construção de estruturas disfuncionais, antes de o paciente ser encorajado ao enfrentamento com representações alternativas; b) Tentar identificar o conteúdo esquemático presente do paciente, relacionando-o com dados de sua história que contribuíram para a construção desse esquema; c) agir de forma diferente daquela apresentada pelas pessoas do contexto interacional do paciente, favorecendo que este último desconfirme as suas crenças disfuncionais sobre os outros. 3) Os ESQUEMAS PESSOAIS DE RESISTÊNCIA DO TERAPEUTA Os esquemas disfuncionais do paciente podem fazer com que este se comporte na terapia de maneira hostil, dependente, exigente, manipuladora ou exploradora. Tais comportamentos podem ativar os esquemas individuais do terapeuta. Quando o paciente desvaloriza o terapeuta, isso significa que ele provavelmente está desvalorizando as outras pessoas em seu contexto interacional. Assim, o terapeuta que é capaz de identificar as próprias emo ções e vulnerabilidades desencadeadas pelo comportamento do paciente na sessão, poderá entender como o comportamento desse paciente afeta os outros e como se desenvolveu esse modo de interagir. Isso possibilita que o terapeuta seja mais efetivo na relação, provendo um modelo de papel para o paciente, sem desvaloriza-lo, ajudando-o a desenvolver modos mais apropri ados de comunicação. Por outro lado, quando o terapeuta ignora ou negligen cia os próprios esquemas e vulnerabilidades, ativados a partir da interação com o seu paciente, os seus comportamentos (ex., esconder-se atrás das técnicas, rotular o paciente etc.) podem sabotara terapia (Leahy, 2001). 145 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015 7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! INDEX BOOKS GROUPS Entretanto, como aponta Strupp (1980, in Safran, 2002), qualquer terapeuta, assim como qualquer ser humano, pode ter dificuldade para perma necer imune a reações negativas de seu paciente, especialmente quando estas se manifestam de forma moderada ou severa. Ao penetrar no mundo interior de seu paciente, o terapeuta pode não resistir à necessidade de lidar com sua própria resposta às demonstrações de resistência deste. No estudo de Strupp, mesmo os terapeutas experientes e analisados, apresentaram tendência a res ponder a pacientes hostis com contra-hostilidade, manifestada através de frieza, distanciamento e outras formas de rejeição. Tal constatação chama atenção para a necessidade de um aprimoramento do entendimento do terapeuta no sentido de lidar mais eficazmente com pacientes problemáticos. A reação pessoal do terapeuta frente ao comportamento do paciente é referida como contratransferência. O conceito de contratransferência foi intro duzido pela psicanálise e, por essa razão, negado durante muito tempo pelos comportamentalistas, uma vez que estes rejeitavam a utilização de conceitos psicanalíticos (Freeman, 2001). Na opinião de Leahy (2001), o otimismo ex cessivo dos terapeutas cognitivo-comportamentais com relação ao poder das técnicas fez com que estes, durante muito tempo, ignorassem a contratransferência. Atualmente, esta começa a ser considerada na terapia cognitivo-comportamental e é definida como “a resposta frente ao paciente que está enraizada nos esquemas ativos e inativos do terapeuta” (Freeman, Pretzer, Fleming & Simon, 1990, em Freeman, 2001, p. 21). Ao investigar como a contratransferência afeta os terapeutas, Leahy (2001) encontrou, entre os seus supervisionados, alguns problemas típicos de contratransferência, tais como: 1. Ambivalência com relação ao uso de técnicas pelo medo de indispor o paciente; 2. Culpa ou medo da raiva do paciente; 3. Sentimentos de inferioridade no trabalho com pacientes narcisis tas: 4. Desconforto quando o paciente é sexualmente atraente; 5. inabilidade para impor limites em pacientes sexualmente provocantes ou hostis; 6. Ses sões terapêuticas estendidas além dos limites usuais; 7. Ausência de asserção na cobrança do preço ou no cumprimento do contrato; 8. Inibição na coleta adequada da história sexual; 9. Raiva de pacientes que telefonam entre as sessões; 10. Catastrofização sobre as questões relativas a hospitalizar um paciente. O autor também encontrou alguns pensamentos automáticos distorcidos de terapeutas na contratransferência: "Esse paciente é resistente" (rotuiação); “Ele nunca vai melhorar' (adivi nhação); “Ele não está melhorando” (pensamento tudo ou nada); "O paciente ainda está deprimido por minha culpa“ (personalização); ‘Eu não posso aguentaras lamentações do meu paciente“ (catastrofização); "O paciente deveria fazer a tarefa de casa"(deverias); “Meus padentes não irão melhorar"(Supergeneralizaçâo) (Leahy, 2001, p. 239). 146 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015 7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! INDEX BOOKS GROUPS Assim como os esquemas do paciente resultam em resistência, os es quemas pessoais do terapeuta resultam em contratransferência. Leahy (2001) aponta alguns esquemas mais comuns de terapeutas que afetam a contratransferência: 1) Padrões elevados de exigência ou perfeccionismo ôo terapeuta, fazendo com que este veja o cliente que não adere ao tratamento como irresponsável. Pelo medo excessivo do fracasso, o terapeuta se torna exigente, fazendo com que o paciente se sinta culpado ou controlado. 2) Preocupação com abandono. Terapeutas com esse esquema vêem a resis tência do paciente como rejeição pessoal. Assim, eles tendem a evitar tópicos dificeis na sessão, deixando de confrontar certas distorções e comportamen tos destrutivos do paciente. Tornam-se defensivos quando o paciente ameaça deixar a terapia. 3) Crenças de ser superior e especial. Terapeutas com esquema narcisista vêem a terapia mais como uma oportunidade para brilhar do que para ajudar o paciente. A resistência deste último é ofensiva para os esquemas de grandiosidade do terapeuta, que se distancia, podendo até mesmo humilhar o paciente. 4) Necessidade de aprovação. O terapeuta “agradável com as pessoas” pos sui uma motivação excessiva para fazer com que o paciente se sinta bem, evitando qualquer coisa que possa irritá-lo ou frustra-lo. Sua necessidade de aprovação faz com que ele evite abordar assuntos perturbadores para o paci ente. O papel de “amigo” pode levar o cliente a acreditar que o seu terapeuta não se importa com os seus comportamentos mais negativos. Assim, eles podem sabotar a terapia, chegar atrasado ou faltar às sessões ou não fazer as tarefas. 5) Senso superdesenvolvido de autonomia. Terapeutas autônomos tendem a primar pela eficiência e se sentem ameaçados com pacientes dependentes e que se lamentam. Eles vêem a necessidade de validação do paciente como uma invasão de limites e se sentem irritados quando este último solicita cuida dos extras. Leahy (2001) sugere que o terapeuta deve utilizar os recursos da tera pia cognitiva, identificando os próprios sentimentos e desafiando os seus pen samentos automáticos e suposições na contratransferência. Em seguida, ele deve investigar como os outros reagem ao paciente e de que maneira essas reações têm mantido o esquema do paciente, partindo do princípio de que os indivíduos procuram os relacionamentos que os levam a manter os seus trans tornos (ex., pacientes narcisistas podem selecionar indivíduos dependentes, que serão subservientes ou indivíduos narcisistas, para compartilhar um sen so de superioridade, através de contratos de gratificação mútua). 147 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015 7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! INDEX BOOKS GROUPS Após identificar o esquema interpessoal do paciente, o terapeuta deve especular, na história deste, como os outros o fizeram se sentir daquela ma neira. Esse entendimento permite que o próprio paciente compreenda o seu esquema, favorecendo posterior negociação entre terapeuta e paciente. Em vez de rotular o paciente como borderline, narcisista etc., o terapeuta deve tirar proveito das experiências vivenciadas na relação terapêutica para refletir sobre suas emoções e esquemas ativados pelas reações do paciente. Dessa forma, tanto o paciente quanto o terapeuta irão se beneficiar com o autoconhecimento, aumentando o vínculo e favorecendo a mudança para ambos. C onclusões Os estudos sobre os fatores que contribuem para a resistência do paci ente e para a contratransferência do terapeuta são relativamente novos na tera pia cognitivo-comportamental, que tem investido mais na verificação de eficácia das técnicas terapêuticas do que na relação terapeuta-paciente. Treinados em um modelo terapêutico que focaliza a mudança, os terapeutas cognitivo- comportamentais tendem a lidar com os problemas de resistência utilizando técnicas baseadas no aqui-e-agora, encarando a resistência como um obstácu lo ao tratamento, mais do que uma oportunidade para conhecer os esquemas do paciente. Tais procedimentos podem ser úteis na relação com pacientes que apresentam transtornos de ansiedade, depressão maior, conflitos conjugais ou problemas existenciais. Entretanto, são ineficazes quando utilizados com paci entes que manifestam transtornos de personalidade ou transtornos crônicos. Espera-se que esse capítulo tenha contribuído, através de uma breve revisão da literatura, para mostrar a importância da relação terapêutica na abordagem à resistência de pacientes difíceis. R eferências American Psychiatric Association (1994). Diagnostic and statistical manual of mental disorders. 4a Ed. Washington DC. Beck, A. e Freeman, A. (1993). Terapia cognitiva dos transtornos de personalidade. Porto Aiegre: Artes médicas. Beck, J.S. (1997). Terapia cognitiva: Teoria e prática. Porto Alegre: Artes Médicas. Freeman, A. (2001). Entendiendo la contratransferência: um elemento que falta em la terapia cognitiva y dei comportamiento. Revista Argentina de Clinica Psicológica, 10:01, pp. 15-31. 148 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015 7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! INDEX BOOKS GROUPS Golden, W.L. (1989). Resistance and change in cognitive-behaviour therapy. Em W.Dryden e RTrower (Eds.). Cognitive psychotherapy: Stasis and change.London: Cassell. Leahy, R.L. (2001). Overcoming resistance in cognitive therapy. New York: Guilford. Liotti, G. (1989). Resistance to change in cognitive psychotherapy: Theoretical remarks from a constructivistic point of view. Em W.Dryden e P. Trower (Eds.). Cognitive psychotherapy: Stasis and change .London: Cassell. IMewman, C.F. (2002). A cognitive perspective on resistance in psychotherapy. JCLP/in Session: Psychotherapy in Practice, 58 (2), 165-174. Safran, J.D. (2002). Ampliando os limites da terapia cognitiva: O relacionamento terapêutico, a emoção e o processo de mudança. Porto Alegre: Artmed. Wells, A. (1997), Cognitive therapy of anxiety disorders: A practice manual and conceptual guide. Chichester: Wiley. Young, J.E. (2003). Terapia cognitiva para transtornos da personalidade: Uma abordagem focada no esquema. Porto Alegre: Artmed. Young, J.E.; Klosko, J.S.& Weishaar, M.E. (2003). Schema therapy: A practitioner’s guide. New York: Guilford. 149 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015 7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015 7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! INDEX BOOKS GROUPS 16 P r o c e s s o s c o m p o r t a m e n t a is n a P s ic o t e r a p ia Sonia Meyer' Os processos de aquisição e mudança de comportamentos foram descri tos por Skinner (1957,1974/1953, 1982/1974,) e seus seguidores podendo ser agrupados em condicionamento respondente e condicionamento operante, sen do esse último de especial interesse ao analisar o que ocorre em psicoterapia. Uma das descrições do comportamento operante feita por Skinner (1957) foi: Homens agem sobre o mundo mudando-o e são mudados, por sua vez, pelas conseqüências de suas ações. Certos processos, que os humanos com partilham com outras espécies, alteram o comportamento de forma que ele alcança um intercâmbio mais seguro e útil com um ambiente particular. Quan do comportamento apropriado foi estabelecido, suas conseqüências