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Psicologia Social Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Profa. Ms. Nirley Dragonetti Revisão Textual: Prof. Dra. Selma Aparecida Cesarin O Ser Humano nos Ambientes Sociais • Introdução • A Significação da Interação Social • Atitudes e Comportamento • As Pessoas em Ambientes de Grupos · Esta Unidade tem por objetivo fazer com que entendamos a significação da Interação Social para o ser humano, assim como compreender as formas pelas quais os processos psicológicos acontecem e estão interligados com as experiências vividas em um contexto grupal e cultural. OBJETIVO DE APRENDIZADO Nesta Unidade, vamos aprender um pouco mais sobre o importante tema “O ser humano nos ambientes sociais”. Então, procure ler o conteúdo disponibilizado e o material complementar; eles ajudarão você na compreensão da Unidade. Lembre-se! A leitura é um momento oportuno e feliz para registrar suas dúvidas; por isso, registre-as e as transmita ao professor-tutor. Além disso, para que a sua aprendizagem ocorra no ambiente mais interativo possível, na pasta de atividades, você também encontrará as atividades de Avaliação, uma Atividade Reflexiva e a videoaula. Cada material disponibilizado é mais um elemento para seu aprendizado; por favor, estude todos com atenção! ORIENTAÇÕES O Ser Humano nos Ambientes Sociais UNIDADE O Ser Humano nos Ambientes Sociais Contextualização “Fernando é um estudante universitário muito preocupado com problemas sociais. Pertence ao Diretório Acadêmico, é filiado a um partido político de esquerda, participa ativamente de movimentos políticos, tanto no ambiente restrito da Universidade, como no da comunidade em que vive, e não se furta a dar sua colaboração quando seu partido necessita dele para participar de atividades de âmbito estadual ou nacional. Embora não seja estudante de Psicologia, Fernando decide matricular-se no Curso de Psicologia Social I, oferecido pelo departamento de Psicologia de sua universidade. Seu objetivo, ao fazê-lo, não era outro senão o de preparar- se melhor para o desempenho de sua atividade política em geral e, mais especificamente, aprender a lidar com as massas e habilitar-se melhor para resolver os graves problemas sociais dos países do Terceiro Mundo. Fernando é um aluno assíduo e interessado. Entretanto, após dois meses e meio de curso, ele decide trancar a matrícula na disciplina e diz para si mesmo: “Que vim eu fazer aqui? Nunca pensei que num curso de psicologia social se pudesse passar quase três meses sem uma referência sequer aos problemas da miséria, da injustiça social, da violência urbana, da iníqua distribuição de renda, do menor abandonado, enfim, dos graves ´problemas sociais´ que estão a exigir solução urgente. Não estou aqui para saber como se formam as atrações interpessoais, nem como uma unanimidade errada influencia o julgamento de outrem, nem por que minhas atribuições suscitam determinadas emoções e comportamentos, e muito menos para entender por que procuro justificar um comportamento contrário a minhas convicções íntimas. Vou deixar este curso já, pois isto de social não tem nada!” O texto apresentado foi extraído de RODRIGUES, A. Psicologia Social para principiantes – Estudo da Interação Humana. 10.ed.atual.acresc. Rio de Janeiro: Vozes, 2005. Ele nos fala sobre a inquietação de um estudante de Psicologia que ao ingressar na Disciplina esperava participar de discussões acaloradas ou ´receitas prontas´ para os grandes problemas sociais. Mas, a Psicologia Social contribuirá sensivelmente para o entendimento de muitos problemas sociais e até mesmo ofertará subsídios e bases para a solução de alguns deles, de acordo com a natureza dos problemas enfrentados. Pelo fato de os seres humanos não estarem isolados e vivermos constantemente em interação com os nossos pares e demais integrantes do nosso meio social, ela nos faz pensar também sobre as nossas contribuições particulares à Sociedade; principalmente porque à medida que nos propomos a estudar e entender essa realidade, nós nos tornamos atores de uma transformação social. Assim, ao estudarmos a Psicologia Social, no que se refere ao convívio social e como ele se processa, ela nos dá a oportunidade de entender a interação social (com todos os elementos culturais), bem como de agirmos respaldados em conhecimento e argumentos sólidos em prol dessa sociedade. Afinal, o trancamento da matrícula de Fernando pode ser caracterizado como um ato precipitado, vez que, por menor que pareça, o conhecimento ainda é a chave para o agir no mundo e modifica-lo. Ampliaria seu spectro de como ver esse mundo, já que é também composto por um fazer cotidiano e inevitavelmente grupal. 6 7 Introdução A Psicologia Social Contemporânea tem particular preocupação com o entendimento do ser humano e sua interação social. O ponto de partida para essa compreensão é processo perceptivo humano que abarca “uma série de variáveis que se interpõem entre o momento da estimulação sensorial e a tomada de consciência daquilo que foi responsável pela estimulação sensorial” (RODRIGUES, 1973, p.223-4). O que isso efetivamente quer dizer? Quer dizer que a partir do momento em que o ser humano entra em contato com o ambiente social, ele é capaz de perceber os outros e fazer interferências, inclusive julgamentos a partir da informação obtida por meio desse ambiente. A Signifi cação da Interação Social No contato com o ambiente social que nos cerca, fazemos uma imagem de nós mesmos, o que chamamos de autoconceito, e tendemos a criar categorias do nosso ambiente de forma a facilitar o relacionamento com ele. O termo mais adequado para todo esse processo é Cognição Social. Ao interagirmos com as pessoas e ambientes, podemos estabelecer rótulos, antes mesmo de conhecê-los, fazendo com que as primeiras impressões determinem a forma como vamos nos relacionar, formando “uma teoria acerca da personalidade de uma pessoa”. Assim, “os psicólogos sociais têm estudado esse processo pelo qual formamos impressões sobre nós mesmos em relação ao mundo social em que vivemos e sobre o próprio contexto social no qual estamos imersos” (RODRIGUES, A.; ASSMAR, E. M .L. & JABLONSKI, B., 2000, p.67-8). Então, por que a Psicologia Social se interessa tanto pelo tema Autoconceito? A resposta é que grande parte do autoconceito é formado da comparação com os outros seres humanos, assim como o nosso autoconceito é de suma importância e relevante em uma variedade de situações sociais. É através da percepção de nós mesmos (nosso sexo, as características de nossa família, nossas preferências etc.) e da percepção de como nos relacionamos com outros e de como nos comparamos com outras pessoas que nosso autoconhecimento se forma. Consequentemente, podemos dizer que formamos uma imagem de nós mesmos basicamente da mesma maneira que formamos uma impressão acerca de outras pessoas. (RODRIGUES, A.; ASSMAR, E .M. L. & JABLONSKI, B., 2000, p. 68). 7 UNIDADE O Ser Humano nos Ambientes Sociais A teoria da comparação social tem seus estudos voltados para o que falamos anteriormente, e sua hipótese básica refere-se à tendência que temos de nos avaliar constantemente quanto a nossas opiniões e capacidades. Essa comparação se dá por meio de comparação com uma realidade objetiva e/ou por meio de comparação com outros seres humanos, inclusive na mesma situação em que elas se encontram. Mesmo sendo estranho, essa teoria diz que para que se possa “saber quem somos nós ´por dentro´, é preciso que dirijamos nosso olhar para ´fora´ de nós” (RODRIGUES, A.; ASSMAR, E. M. L. & JABLONSKI, B., 2000, p.69). O autoconceito diz respeito à ideia que temos de nosso eu, este que apresenta- se complexo e multifacetado. O ser humano acumula crenças sobre quem é e influenciado por fatores diversos resultantes da interação social. Por isso a Psicologia Social procura estudar as influências do ambiente na vida das pessoas, ou seja, “[...] como os pensamentos,sentimentos e ações dos outros modificam ou refletem no funcionamento da pessoa” (LORENA, 2014, p. 61). Nos estudos sobre o ser humano e sua relação com o ambiente social, também é necessário entender os fatores que influenciam o processo seletivo desse ser humano. Esses fatores dizem respeito à seletividade perceptiva, experiência prévia e consequente disposição para responder, fatores contemporâneos ao fenômeno perceptivo, defesa perceptiva e acentuação perceptiva. Na seletividade perceptiva, os órgãos sensoriais de uma pessoa são atingidos por muitos estímulos de forma simultânea, e a concentração limitada de estimulação sensorial caracteriza essa seletividade, ou seja, quando estamos conversando, nós nos concentramos no que o outro está falando e nos esquecemos de tudo o que está em volta. O mesmo acontece no âmbito social, quando se tem um comportamento preconceituoso de determinados grupos como os homofóbicos por exemplo: “Pessoas com preconceitos contra determinados grupos neles só veem manifestações que se coadunam com sua visão preconceituosa e passam por cima de tudo aquilo que contradiz tal visão” (RODRIGUES, A.; ASSMAR, E. M. L. & JABLONSKI, B., 2000, p.70). Na experiência prévia e consequente disposição para responder, podemos relacionar as experiências passadas que ajudam na percepção dos estímulos com os quais já entramos em contato. Quando previamente já conhecemos os estímulos, fica mais fácil de serem comunicados e, obviamente, será também mais facilitada a resposta e a comunicação persuasiva. Quando falamos de fatores contemporâneos ao fenômeno perceptivo, estamos nos referindo ao estado específico do percebedor em um determinado momento, vivido por ele. Podemos dar exemplo de quando alguém está com fome, sede ou deprimido; esses fatores podem influenciar sensivelmente na percepção de estímulos. Assim como a experiência passada pode impactar o processo perceptivo, fatores presentes, vividos por uma situação, e até uma época da vida de um ser humano o predispõe a certas percepções. 8 9 Fonte: istock/getty images Por defesa perceptiva, podemos entender como se dá o bloqueio na conscientização de estímulos perturbadores sob o ponto de vista emocional. Em experimentos, pesquisadores puderam chegar à conclusão de que estímulos aversivos são, no início, potencializadores ao suscitar maior acuidade perceptiva, que a percepção se dá em estágios múltiplos de processamento e que o fenômeno da acentuação perceptiva (distorções de percepção) nos faz perceber a influência acentuada de fatores vividos pelos homens no processo de percepção. Outro fator fundamental para a Interação Social é a linguagem. O ser humano pensa e produz um conjunto de símbolos que favorecem a transmissão de ideias e sentimentos. A linguagem humana fica responsável por transformar essas ideias e sentimentos em expressão por meio de fonemas, sons e símbolos. Nessa combinação, as palavras são agrupadas e formam os pensamentos mais complexos; assim, quando criamos pensamentos a respeito de uma pessoa e situações, fazemos uso de linguagem, imagens e conceitos para expressá-los. Os conceitos são aplicados na classificação de objetos, acontecimentos ou seres humanos. Ou seja, assim como as palavras, os conceitos favorecem a criação desses pensamentos. Quando falamos anteriormente sobre cognição, nós nos referimos à aplicação das “[...] palavras, as imagens e os conceitos, com a finalidade de modelar uma representação do mundo, resolver problemas e tomar decisões” (LORENA, 2014, p.60). Um conceito importante para a Psicologia Social é o Estereótipo, que consiste na atribuição de traços a membros de um determinado grupo. Trata-se da generalização de observações individuais para todo o grupo a que pertence o indivíduo em que recaiu a observação. Dessa forma, quando passamos por uma experiência desagradável com uma pessoa pertencente a um grupo, tendemos erroneamente a dizer que todos daquele grupo agem do mesmo modo que a pessoa da qual estamos falando inicialmente. 9 UNIDADE O Ser Humano nos Ambientes Sociais E, quando o estereótipo está vinculado a aspectos genuinamente negativos, estamos diante do Preconceito. Esse processo é vivido pelas pessoas em seu dia a dia, vez que resulta em rotulação de pessoas e grupos sociais, nos quais podemos incluir as funções desempenhadas por certos grupos de trabalhadores. Assim, podemos dizer que o preconceito é uma atitude negativa em relação a indivíduos de um grupo, tendo como base cognitiva o estereótipo. Nesse processo, podemos considerar que “[...] o preconceito deriva da tendência que temos a categorizar as pessoas e a diferenciar ´nós´ dos ´outros´. Tudo que pertence ao ´nós´ é bom e elogiável e tudo que pertence à categoria ´outros´ é mau e reprovável” (RODRIGUES, 2005, p.24). Pesquisadores dessa área de conhecimento dizem que o preconceito poder ser amenizado ou definitivamente eliminado quando há a oportunidade de termos contato estreito entre os grupos, favorecendo maior conhecimento mútuo para que possa existir mudança nos estereótipos que sustentam o preconceito. Quando um grupo é estimulado a ser cooperativo, ele também tende a ser menos preconceituoso. Além de uma situação de exija união entre grupos preconceituosos frente a uma ameaça, pode ocorrer consequente diminuição da atitude negativa entre eles. O ser humano tem sobre si mesmo um conjunto de crenças acerca de como ele é e essas crenças podem ser verdadeiras ou não. Na luta de compreendermos o outro e suas intenções, poderemos nos basear em expressões faciais e gestos corporais que parecem muitas vezes equivocados. Isso quer dizer que a linguagem do corpo exerce função nos processos de interação social, apesar de que “[...] nossas impressões sobre os outros se formam através de processos bem mais complexos do que o mero registro de significados associados a certas expressões corporais” (RODRIGUES, 2005, p.26). O processo de percepção social (percepção de outrem) envolve várias etapas. Primeiramente é necessário que o comportamento do outro atinja os nossos sentidos. Para isso é necessário não só que nossos sentidos (visão, audição etc.) estejam em bom estado de funcionamento, como também é importante que as condições ambientais (luminosidade, relativo silêncio etc.) sejam boas. Depois que nossos sentidos registram o comportamento de outra pessoa, inicia-se então a ação de nossos interesses, preconceitos, estereótipos, valores, atitudes, e ainda a ação de outros esquemas sociais, tudo conduzindo à formação de um conceito onde se harmonizem as características do estímulo (o comportamento de outra pessoa) e toda essa bagagem psicológica que filtra este estímulo antes que ele se torne um conceito em nossa atividade perceptiva” (RODRIGUES, 2005, p.26-7). 10 11 Importante! O processo de percepção de outrem recebe infl uências das nossas atitudes, interesses, estereótipos, preconceitos e esquemas sociais. Muito longe de registrarmos o nosso ambiente com uma fi lmadora ou máquina fotográfi ca; porém, nós o vemos por meio da distorção decorrente de nossas idiossincrasias pessoais. O preconceito pode ser defi nido como uma atitude negativa dirigida aos componentes de um grupo e tem nos estereótipos sua base cognitiva. Ele pode ser dirimido ou totalmente eliminado quando os estereótipos são modifi cados devido ao contato direto, quando os grupos são modifi cados a atitudes cooperativas e quando se apresenta uma ameaça externa que impacta os grupos preconceituosos. Em Síntese Idiossincrasia diz respeito a uma característica comportamental ou estrutural peculiar a um indivíduo ou grupo. Ex pl or Outro estudo importante que vem sendo alvo de atenções dos pesquisadores é o de como o ser humano faz atribuições. Esses estudos do processo atribuicio- nal constituem um dos tópicos mais importantes da Psicologia Social científica na contemporaneidade. Tendemos a formar uma série de atribuições, que estãointerligadas, ao conhecermos uma pessoa. Além disso, também atribuímos nossas ações e a dos outros a fatores internos e a fatores externos. Quando falamos em fatores internos estamos nos referindo às disposições e intenções próprias e fatores externos que podem ser entendidos com as pressões sociais que vivemos, às características das situações e circunstâncias. Dessa forma, quando entramos em contato com as pessoas, temos a tendência de julgar as suas ações e descartar os possíveis fatores externos capazes de fazer com que tenhamos um “[...] comportamento observado e focalizamos apenas as disposições internas da pessoa” (RODRIGUES, 2005, p.28). Assim, quando somos apresentados a uma pessoa, ativamos os esquemas rela- tivos a esses aspectos, formados pela vivência humana particular, e somos influen- ciados por eles ao emitirmos julgamento. Tudo isso dá base à primeira impressão dessa pessoa, assimilando de forma fácil suas características, que são congruentes com a primeira impressão que fizemos dela, rejeitando as características que não condizem com essa primeira impressão. Nós tendemos, também, a atribuir um julgamento a partir dos fatores internos quando julgamos alguém, e a fatores externos quando estamos julgando as nossas próprias ações. Vamos dar um exemplo: quando uma pessoa erra, falamos que isso aconteceu porque que ela é desatenta; porém, quando nós cometemos o mesmo erro, atribuímos a fatores externos, como às condições desfavoráveis e às circunstâncias situacionais do ambiente. 11 UNIDADE O Ser Humano nos Ambientes Sociais Somos influenciados, inclusive, por algo que chamamos de tendenciosidade autosservidora, na qual tendemos a fazer atribuições que nos preservem e protejam, que atendam às nossas expectativas e ao nosso ego, que façam com que nos percebamos bem, inclusive aos olhos dos outros. Dessa forma, atribuímos a razão de um sucesso às nossas características e qualidades quando temos êxito em situações e a razão do fracasso aos fatores externos ou a alguém. Quantas vezes nos vitimizamos em situações que nós mesmos criamos e atribuímos aos outros a culpa de algo que deu errado? Ou quando nós responsabilizamos os outros a nossa volta, por exemplo, da nossa infelicidade? Ex pl or O teórico Harold H. Kelley, da Universidade da Califórnia, em Los Angeles, mostrou critérios essenciais para as atribuições de causalidades internas ou externas. Lembre-se de que quando falamos em atribuições internas, estamos nos referindo aos motivos e intenções de uma pessoa e externas às influências de fatores do ambiente exterior. O primeiro critério é o consenso, o segundo a consistência e o terceiro a especificidade. Por consenso entendemos a reação de uma pessoa igual àquela cujo comportamento está sendo considerado por nós diante do mesmo estímulo ou situação. Consistência é quando “[...] a pessoa reage da mesma forma ao mesmo estímulo ou evento em outras ocasiões; e especificidade, ou seja, na medida em que a pessoa reage da mesma forma ou não a outros estímulos diferentes” (RODRIGUES, 2005, p.31). Quando nós procuramos compreender como percebemos os outros seres humanos e os nossos comportamentos em direção a uma pessoa e como nossos pensamentos processam as informações derivadas do processo de interação social, denominamos heurística e tendenciosidade. Fonte: istock/getty images 12 13 Heurística é o nome dado a regras simples e rápidas, isto é, a verdadeiros ´atalhos´ por nós utilizados para fazermos inferências (nem sempre corretas...) Tendenciosidade é o nome usado para significarmos os erros e as distorções que cometemos em nosso processo de percepção e de cognição social. O erro fundamental de atribuição e a tendenciosidade autosservidora, já mencionadas anteriormente, são exemplos de tendenciosidades cognitivas (RODRIGUES, 2005, p. 32). Outro atalho é o “falso consenso”, que diz respeito à tendência de acharmos que a nossa ideia a respeito de algo é considerada também por um número alto de pessoas, ou seja, “todo mundo pensa assim” e nem sempre é verdadeiro. Temos de considerar que a causa de um comportamento de uma pessoa pode estar relacionada ao processo de atribuição de causalidade, no que se refere à internalidade e à externalidade, estabilidade ou instabilidade e controlabilidade ou incontrolabilidade. Assim, dizemos que: As características das causas (internalidade / externalidade, estabilidade / instabilidade e controlabilidade / incontrolabilidade) influem nos afetos que se seguem à atribuição causal, bem como nos comportamentos que suscitam” (RODRIGUES, 2005, p.35). Um estudioso desse assunto foi Bernard Weiner que, baseado nas pesquisas de F. Heider, um dos maiores psicólogos sociais, efetuou pesquisas sobre o tema atribuição de causalidade. Os estudos de Weiner se originaram e desembocaram na “[...] proposta de uma taxonomia de dimensões causais (locus, estabilidade e controlabilidade) e no estabelecimento das ligações existentes entre tais dimensões e determinadas emoções e comportamentos” (RODRIGUES, A.; ASSMAR, E. M. L. & JABLONSKI, B., 2000, p.92). Para o autor, quando ocorre uma situação positiva ou negativa, as emoções sempre a acompanham. Compartilhamos, por exemplo, alegria e prazer quando a situação é positiva e tristeza e frustração quando for negativa, principalmente, queremos saber o porquê de os fatos acontecerem se inesperados. Nesse momento, atribuímos a causa e se ela é de ordem interna ou externa, se é estável ou instável. E, por último, se é controlável ou incontrolável. Segundo Weiner a dimensão locus está ligada às emoções, como orgulho e autoestima. Já a dimensão estabilidade impacta a expectativa de que a situação aconteça de forma idêntica à outra no futuro. A dimensão controlabilidade está relacionada às emoções de vergonha, culpa em relação a si e à outra pessoa, às de raiva, gratidão e pena. Durante os anos de pesquisa, de aproximadamente 30 anos, Weiner e todos os envolvidos com suas pesquisas sobre a utilização do pensamento atribuicional, foi possível criar uma teoria, denominada Teoria da Conduta Social. 13 UNIDADE O Ser Humano nos Ambientes Sociais Por essa teoria, chega-se a um ponto interessante, de que “o mundo é um tribunal”, onde o ser humano constantemente está julgando aos outros e a si próprio. Nesse julgamento “procuramos determinar a responsabilidade pelo ato cometido e, na determinação de responsabilidade, o fator fundamental é a atribuição do ato a uma causa interna e controlável” (RODRIGUES, A.; ASSMAR, E. M. L. & JABLONSKI, B., 2000, p.94). Segundo Lorena (2005), esse processo de atribuição é flexível e variável, vez que as informações podem ser fáceis de obter, demandando pouco esforço para compreender o comportamento do outro; em outras vezes, necessitamos analisar as “pistas” para descobrir por que uma pessoa agiu ou reagiu de determinada forma. Se não tomarmos cuidado, podemos cometer um erro ao interpretarmos de maneira equivocada os traços de uma pessoa. O que podemos afirmar é que o processo de atribuição é “contínuo e dinâmico durante toda a vida”, já que as explicações sobre os fatos e fenômenos do nosso cotidiano podem mudar constantemente, podendo se tornar mais vorazes à medida que observamos esses fatos de forma mais detalhada e minuciosa. Atitudes e Comportamento Já vimos que as pessoas, ao entrarem em contato com seu ambiente social, formam impressões sobre as outras pessoas e procuram meios mais fáceis de interarem e conhecerem esse ambiente. As pessoas se utilizam de esquemas sociais, heurísticas e atribuição diferencial de causalidade. Elas tomam atitudes, e estas podem ser definidas como sentimentos pró ou contra perante outras pessoas e coisas com as quais interagimos, sendo “uma consequência direta do processo de tomada de conhecimento do ambiente social que nos circunda” e “se formam durante nosso processo de socialização” (RODRIGUES, A.; ASSMAR, E. M. L. & JABLONSKI,B., 2000, p.97). As atitudes são decorrentes de um processo de aprendizagem e podem aparecer em atendimento a certas funções, além de serem consequências de características de personalidade (individuais) ou de determinantes sociais. Assim como podem se formar em decorrência de processos cognitivos, como busca de equilíbrio e busca de consonância. Podemos definir atitudes como sendo “[...] uma organização duradoura de crenças e cognições em geral”; “[...] uma carga afetiva pró ou contra”; “[...] uma predisposição à ação”; “[...] uma direção a um objeto social” (RODRIGUES, A.; ASSMAR, E. M. L. & JABLONSKI, B., 2000, p. 97-8). As atitudes são integradas por três componentes: o componente cognitivo, o componente afetivo e o componente comportamental. 14 15 O componente cognitivo da atitude diz respeito ao pensamento pró ou contra a representação cognitiva em relação a um objeto, sendo essas atitudes constituídas também pelas crenças e demais componentes cognitivos, como o conhecimento sobre o objeto e a maneira como o encaramos; isso vale também para as situações que vivenciamos. Por componente afetivo, entendemos os sentimentos pró e contra referentes ao objeto social. O componente afetivo é o componente mais notoriamente característico das atitudes. As atitudes se diferenciam das crenças e das opiniões, vez que não são necessariamente impregnadas de conotação afetiva. Após estudos sobre o assunto, podemos concluir que os componentes cognitivo e afetivo das atitudes tem a tendência de serem congruentes. O outro componente importante para ser estudado por nós é o comportamental, que diz respeito às atitudes que são uma mola propulsora do estado de prontidão, e se fomentado por uma motivação específica desembocará em um determinado comportamento. Ou seja, as atitudes sociais propiciam um estado de predisposição à ação que, quando misturado com uma situação específica desencadeante, desemboca em comportamento. Assim, podemos concluir que: [...] as atitudes sociais contém em si um elemento cognitivo (o objeto tal como conhecido), e um elemento afetivo (o objeto como alvo de sentimento pró ou contra), e um elemento comportamental (a combinação de cognição e afeto como instigadora de comportamentos, dadas determinadas situações” (RODRIGUES, A.; ASSMAR, E. M. L. & JABLONSKI, B., 2000, p.101). Estudos e teorias psicossociais, reconhecidas como teorias de consistência, di- zem que os três componentes das atitudes necessitam ser internamente consisten- tes: “De fato, causaria surpresa verificar-se que alguém é atraído por um objeto que ele considera cognitivamente como possuidor de características mais negativas, ou vice-versa” (RODRIGUES, A.; ASSMAR, E. M. L. & JABLONSKI, B., 2000, p.101). Apesar de que não é raro identificarmos inconsistências entre as atitudes e os comportamentos manifestos pelos seres humanos. Segundo Triandis (1971) apud Rodrigues, A.; Assmar, E. M. L. & Jablonski, B. ( 2000), nós seríamos ingênuos demais se considerássemos que não existe relação entre atitude e comportamento. Pode-se definir que atitudes abarcam o que as pessoas pensam, sentem e como elas desejam se comportar em relação a um “objeto atitudinal”. Assim, o comportamento não é somente determinado pelo que as pessoas desejam ou gostam de fazer, mas sim pelo que elas “pensam que devem fazer” (normas sociais), pelo que elas têm feito (hábitos) e pelos resultados e consequências previstas de seu comportamento. Podemos acrescentar dizendo que “é maior a correspondência entre atitude e comportamento quanto maior o interesse pessoal envolvido no assunto sobre o qual versa a atitude” (RODRIGUES, A.; ASSMAR, E. M. L. & JABLONSKI, B., 2000, p.103). 15 UNIDADE O Ser Humano nos Ambientes Sociais Importante! Procuramos manter coerência entre o que pensamos, sentimos e agimos. Os compo- nentes cognitivo, afetivo e comportamental das atitudes sociais influenciam-se mutua- mente buscando coerência entre eles. Quando essa coerência não existe, procuramos atingi-la e, se não logramos êxito, experimentamos desconforto (RODRIGUES, 2005, p.61). Importante! Segundo os Behavioristas, as atitudes podem ser decorrentes dos processos tradicionais de aprendizagem, por exemplo decorrentes de condicionamento clássico ou operante. Para outras correntes da Psicologia, as atitudes são resultados da busca de coerência entre afetos, cognições e comportamentos ou “decorrentes da identificação com certos grupos de referência positiva” ou, ainda, “decorrentes do tipo de personalidade”. Por último, podemos entender, também, que as atitudes são: [...] decorrentes de um exame racional da relação custo-benefício feita pela pessoa no exame dos prós e dos contras dos argumentos a sua disposição e relativos a um determinado objeto social (por ex.: gosto de estudar porque estudando terei mais chances de levar uma vida melhor, enquanto se não gostar de estudar não vou ser nada na vida) (RODRIGUES, 2005, p.63). Outros estudos podem ser considerados quando falamos de atitudes e comportamento e sua relação. Citamos, aqui, as contribuições de Fishbein (1966) e Ajzen & Fishbein (1980) apud Rodrigues, A.; Assmar, E. M. L. & Jablonski, B. (2000) que, ao contrário da teoria que apresentamos anteriormente, consideram que o que caracteriza as atitudes são os aspectos afetivo e a determinação do seu papel na constituição de uma “intenção de comportamento que, por sua vez, constitui-se em bom preditor do comportamento da pessoa” (RODRIGUES, A.; ASSMAR, E. M. L. & JABLONSKI, B., 2000, p.104). Para esses estudiosos, existem dois componentes principais que são capazes de “predizer intenções” que, em decorrência, predizem os comportamentos, são eles: as atitudes das pessoas e a percepção do que outras pessoas esperam que ela faça e sua motivação a se confirmar esta expectativa, o que podemos chamar de norma subjetiva. Esses estudiosos também procuraram explicar os precursores da formação das atitudes e da norma subjetiva. E, concluem que as nossas atitudes são impactadas pelas “[...] nossas crenças relativas a certos resultados ou consequências de determinados comportamentos; a norma subjetiva é consequência de nossas crenças sobre os julgamentos de outras pessoas em relação ao nosso comportamento” (RODRIGUES, A.; ASSMAR, E. M. L. & JABLONSKI, B., 2000, p.104). 16 17 Apesar de bastante coerentes, os estudos desses autores não se encontram esgotados. Outros autores como Gorsuch e Ortberg (1983) apud RODRIGUES, A.; Assmar, E. M. L. & Jablonski, B. (2000), por exemplo, consideram que quando estamos diante de comportamentos em situações que envolvem aspectos morais, outro componente precisa ser acrescido, a obrigação moral. E, mais recentemente, com Ajzen e Madden (1986) apud RODRIGUES, A.; Assmar, E. M. L. & Jablonski, B. (2000), afirmam que quando estamos falando de situações que envolvam controle e para que se forme uma intenção de se comportar de determinada maneira, faz-se necessário que a pessoa se perceba capaz de controlar o comportamento. Ou seja, uma pessoa não pode ter a intenção de se comportar de uma determinada forma que escape totalmente de seu controle. Os valores também são extremamente importantes para entendermos as atitudes e os comportamentos de uma pessoa. Eles podem ser defi nidos por “[...] categorias gerais dotadas também de componentes cognitivos, afetivos e predisponentes de comportamento, diferindo das atitudes por sua generalidade. Uns poucos valores podem encerrar uma infi nidade de atitude” (RODRIGUES, A.; ASSMAR, E. M. L. & JABLONSKI, B., 2000, p.106). Ex pl or Outro aspecto importante dentro de nossos estudos a ser considerado é a mudança de atitude, ou seja, a alteração da postura interna de uma pessoa. Para entendermos melhor, estamos nos referindo à modificação do afeto pró ou contra um objeto social que se tornará duradoura se de fato a mudança de atitude aconteceu. Existem fatores que são extremamente importantesnesse processo de mudança de atitude, são eles: a credibilidade de quem está comunicando algo para alguém, a natureza da comunicação, a natureza da audiência e a combinação desses fatores (RODRIGUES, 2005, p.66). Podemos considerar que, segundo Festinger apud Rodrigues (2005), para que aconteça uma mudança de atitude eficaz e duradoura, é preciso que a própria pessoa na qual se dá a mudança crie razões próprias coerentes com a mudança de posição. Um exemplo do que estamos falando é o de uma pessoa que fuma indiscrimi- nadamente e geramos um estado de dissonância nela. Nós podemos confrontá-la com provas indiscutíveis dos malefícios do fumo à saúde e conseguirmos fazer com que ela concorde com a veracidade das provas; ela se deparará com um estado muito desconfortável de dissonância cognitiva, que fará com que mobilize forças interiores conducentes à resolução da dissonância. Dissonância signifi ca a reunião de sons desagradáveis ao ouvido, desacordo de sons. P.ext. Ausência de harmonia; característica daquilo que, numa comparação, não combina com outra(s) coisa(s). Ex pl or 17 UNIDADE O Ser Humano nos Ambientes Sociais Se ela efetivamente resolver essa dissonância decidindo não mais fumar, essa mudança de atitude tem muito mais chances de ser duradoura do que uma obtida por uma comunicação persuasiva de uma autoridade médica ao mostrar a radiografia de um pulmão lesado pelo fumo. Isso quer dizer que as razões internas, próprias, para a mudança de atitude são muito mais eficazes do que as externas. Assim, diante do exposto, podemos dizer que “[...] quando conseguimos provocar dissonância nas pessoas de forma tal que a busca das razões próprias mencionadas no parágrafo anterior é desencadeada, o resultado desta atividade é a autopersuasão” (RODRIGUES, 2005, p. 68). Agora podemos entender por que um conselho ou recomendação tem mais poder de persuasão do que variadas propagandas publicitárias. É por isso que a mídia se utiliza de pessoas conhecidas e formadoras de opinião para vincular a uma marca ou a um produto ao público consumidor. Ex pl or Diante de tudo o que foi estudado aqui, podemos concluir que: A autopersuasão é a maneira mais eficaz de provocar mudança de atitude. Quando razões próprias (internas à própria pessoa) são responsáveis pela mudança (e não pressões externas à pessoa), a mudança de atitude obtida é mais duradoura. Autopersuasão é também mais eficaz do que pressões externas em termos da quantidade de pessoas que logramos persuadir” (RODRIGUES, 2005, p.69). As Pessoas em Ambientes de Grupos O Homem é um ser que jamais poderá ser compreendido de forma isolada. Podemos entender que o ser humano vive e participa de grupos. Esses grupos são influenciados e influenciadores dos indivíduos. Existe toda uma influência complexa do meio social e cultural sobre as pessoas em sua totalidade. “O grupo social e cultural amolda o indivíduo aos seus padrões totais” (RAMOS, 2003, p.225). Como vimos, o ser humano é moldado também pelos grupos sociais dos quais faz parte. Assim, necessita viver em grupo. Para isso, também escolherá de forma natural a qual grupo irá pertencer, já que toda pessoa tem a tendência de procurar algo ou alguém com quem se identifique. Então, a partir do momento em que um ser humano se identifica com outro e nasce um vínculo social, acontece o que se chama de associação. Dessa forma, podemos pensar que não existe “[...] interação social sem a criação de algum tipo de grupo, e não há grupo social se não houver interação social” (LORENA, 2014, p.46). As influências que o ser humano tem do meio social e da cultura merecem ser estudadas e entendidas como “totalidades” e certamente também as pessoas membros desses grupos, mesmo não havendo um critério uniforme para a 18 19 classificação e caracterização dos grupos sociais; podemos considerar que desde os tempos mais primitivos as sociedades foram organizadas em categorias. Spencer apud Ramos (2003) defende a ideia de que a sociedade organizada comporta cinco categorias. São elas: “os órgãos de sustento econômico”, “os órgãos de perpetuação”, “os sistemas de comunicações”, “os grupos culturais” e “os sistemas protetores”. Por órgãos de sustento econômico, entendemos os órgãos ligados às funções de produção, de extração, de transformação e de transportes, entre outros. Já os órgãos de perpetuação, podemos considerar a família, os grupos médicos e sanitaristas; os sistemas de comunicações podem ser identificados como a imprensa, a aviação e a telefonia, por exemplo. Os grupos culturais podem ser entendidos como os grupos de igrejas, de instituições de educação, de clubes, grupos recreativos e até mesmo os grupos científicos. Os sistemas protetores compreendem o Estado, as Instituições, as Associações Voluntárias e os Partidos em geral. Fonte: istock/ getty images O que temos de considerar é que um grupo social é composto de pessoas que são vistas como um todo, em um agrupamento de seres humanos com tradições, normas e morais comuns; com a ideia de coletividade. O grupo ainda permanecerá mesmo se alguém resolver não mais pertencer a ele, ou seja, continua sendo um grupo na sua formação. A palavra nós é a prioridade do coletivo; “existindo uma consciência coletiva com valores, princípios e objetivos comuns” (LORENA, 2014, p. 46). A partir do nascimento, o ser humano se insere na cultura por meio dos grupos sociais de forma natural e ao longo de toda a existência interagirá e se associará a vários grupos sociais. 19 UNIDADE O Ser Humano nos Ambientes Sociais Assim, o primeiro grupo de que fazemos parte é a família, que tem papel fundamental de nos apresentar e transmitir a língua, os valores e também a cultura da sociedade em que vivemos. Segundo Lorena (2014), na medida em que a pessoa vai crescendo e se desenvolvendo, frequenta outros grupos e, é claro, modificando-se e se transformando em um ser social. Todo esse processo tornará a pessoa um ser único e integrado na sociedade, vez que iniciou sua inserção em grupos como a família e, por exemplo, a classe social. Com o seu crescimento, por si só irá compor outros grupos, já que passará a constituir seus valores e os procurará de acordo com suas preferências. É importante considerar que cada grupo social possui suas características particulares e seus membros pertencentes têm condutas parecidas, além de conterem objetivos comuns. E as normas, símbolos e valores são seguidos por esses membros. Faz-se necessário diferenciar o grupo social da categoria, termo usado anteriormente por nós. Assim, “categoria é um conjunto de pessoas que partilham de características comuns, mas que não propriamente interagem entre si. Por exemplo, uma fila de pessoas na entrada do cinema não é um grupo social, afinal, não estão interagindo” (LORENA, 2014, p.47), da mesma forma como pessoas do mesmo sexo, da mesma faixa etária e do mesmo tipo de trabalho ou profissão também formam categorias, que em um determinado momento podem se transformar em grupos sociais. Como vimos, “os grupos sociais possuem características próprias, independente da soma das partes que os integram” (RODRIGUES, 2005, p.156), tendo-se a necessidade de estudar e entender a dinâmica que surge da interação entre os membros que os compõem, já que, segundo Lorena (2005), cada grupo exerce objetivos, oferece tarefas e possui uma função social e uma forma própria também de interagir e de se comunicar. Os grupos sociais influenciam direta ou indiretamente no desenvolvimento comportamental e da personalidade da pessoa. Esses grupos podem ser chamados de grupos psicológicos, que se diferenciam pela intensidade da coesão existente entre os membros que o compõem. Por coesão grupal podemos entender “[...] a quantidade de pressão exercida sobre os membros do grupo para que nele permaneçam. É a resultante das forças que agem sobre um membro para que ele permaneça no grupo” (RODRIGUES, 2005, p.157). Existeminúmeras razões para uma pessoa pertencer a um determinado grupo e não a outro. Podemos citar a atração pelo grupo ou pelos componentes dele, assim como a facilidade propiciada pelo grupo para que atinja alguns objetivos. Os comportamentos dos integrantes do grupo são semelhantes, vez que esses membros propiciam que a pessoa se sinta bem e fique à vontade em pertencer e interagir nesse espaço. Obviamente, isso se deve ao grau de coesão desse grupo. 20 21 Segundo Rodrigues (2005), em decorrências de estudos sobre o assunto, em relação à coesão grupal, podemos dizer que: quanto maior for a coesão do grupo, maior será a satisfação experenciada pelos seus integrantes; quanto maior a coesão do grupo, maior a quantidade de comunicação entre as pessoas que a ele pertencem, quanto maior a coesão do grupo, maior a quantidade de influência exercida pelo grupo em seus integrantes e quanto maior a coesão do grupo, maior a sua produtividade. Assim, grupos que possuem coesão alta são mais favoráveis e agradáveis de se pertencer, além de suscitar maior comunicação entre seus integrantes. Em decorrência disso, são muito mais produtivos do que grupos com baixa coesão. Esses últimos, quando precisam tomar decisões, necessitam ter mais cautela em relação a possíveis distorções da realidade decorrentes do desejo de seus integrantes de se esquivarem de discordâncias. Infelizmente, esse desejo impacta a capacidade de crítica construtiva entre seus integrantes. Para que um grupo funcione adequadamente, é necessário o estabelecimento de normas a serem seguidas. O que facilita definirmos como normas sociais: [...] os padrões ou expectativas de comportamento partilhados pelos membros de um grupo. Estes membros utilizam estes padrões para julgar a propriedade ou adequação de suas percepções, sentimentos e comportamentos. Normas existem em grupos de qualquer tamanho e até mesmo numa relação entre duas pessoas que interagem constantemente” (RODRIGUES, 2005, p.158). Ao se estabelecer as normas grupais, podemos substituir o uso do poder no grupo. Isso provoca no grupo uma tensão, desgaste e prejuízo para os integrantes. O uso habitual de normas favorece principalmente o líder do grupo, vez que poderá investir no seu tempo para busca de atualização e melhorias para o grupo como um todo, não havendo necessidade de demonstrar poder para que as coisas caminhem, além de favorecer a convivência entre seus membros, inclusive para os novatos, vez que ao ingressarem nesse grupo entenderam como “funciona a regra do jogo”. Diferentemente de grupos com baixa coesão, devido a dificuldades no estabelecimento de normas. Isso se deve à multiplicidade de interesses e de pontos de vista. Diante de tudo o que expusemos, o papel do líder no grupo é de fundamental importância, já que “[...] uma boa liderança pode transformar totalmente a atmosfera prevalente num grupo e, com isso, o comportamento de seus membros”. Assim, podemos também dizer que “uma característica essencial ao exercício de uma boa liderança é o reconhecimento de sua legitimidade pelos liderados” (RODRIGUES, 2005, p.160-1). Dessa forma, a imposição de força de um líder a um grupo traz resultados desastrosos e, por consequência, a perda da coesão grupal. 21 UNIDADE O Ser Humano nos Ambientes Sociais Os estudos referentes à liderança vêm aumentando sensivelmente, principal- mente porque é sabido que as atitudes dele impactam demasiadamente o desem- penho e a harmonia do grupo. A liderança é um processo de interação do grupo; porém, é muito difícil identificar qual seria a melhor pessoa para ser o líder de determinado grupo: “O líder terá de emergir do grupo durante o processo de in- teração com seus membros” (RODRIGUES, 2005, p.162). Caso ele surja em de- corrência do status do grupo, sua perspicácia está ligada à capacidade de adaptar sua liderança às necessidades e anseios dos integrantes do grupo, de forma real. Como nos grupos temos líderes, esses só existem se tivermos liderados e/ou integrantes. É fácil estabelecermos qual o status de cada membro do grupo, assim como o papel de cada integrante dele. Para a Sociologia, o status diz respeito à posição que alguém ocupa no sistema social. Estamos nos prendendo aqui apenas ao status como sentido de posição e prestígio de uma pessoa dentro desse grupo. Quando falamos de prestígio, estamos nos referindo ao status subjetivo (como a pessoa o percebe) e status social (consenso do grupo a respeito dessa pessoa). Algo a ser pensado é que nem sempre o status subjetivo corresponde ao status social e, dependendo da natureza do grupo, certos atributos pessoais terão ou não significância no momento de se conferir o status social. Em relação à congruência no grupo social, podemos dizer que “[...] quando não há congruência entre estas expectativas e o que ocorre na realidade, surgem necessariamente problemas de adaptação da pessoa ao grupo” (RODRIGUES, 2005, p.163). A discrepância entre expectativas e resultados é um tema interessante e por vezes polêmico para a Psicologia Social, vez que “a percepção dessa discrepância leva a pessoa que a percebe a sentir-se injustiçada” (RODRIGUES, 2005, p.164). Segundo Stacy Adams apud Rodrigues (2005), o ser humano experimenta sensações de mal-estar quando participa de situações sociais caracterizadas por inequidade. Assim, podemos dizer que: A congruência entre expectativas e resultados obtidos numa relação grupal é fundamental para a harmonia e a coesão entre seus membros. Esta congruência é importante não só em relações grupais, mas em qualquer situação social. A não existência de tal congruência gera sentimentos de insatisfação e injustiça e conduz ao término da relação social” (RODRIGUES, 2005, p. 165). Quando falamos de equidade nos grupos sociais sob o ponto de vista da coesão, podemos considerar que ao se detectar uma situação de injustiça nesses grupos, eles tenderão a se desfazer de forma rápida. Assim, os grupos sociais podem viver em conflito ou em harmonia, e o mais interessante nessa história pode ser a forma que restabeleceram suas positividades entre os seus membros. 22 23 Os conflitos poderão ser saudáveis para um grupo crescer e pensar em alternativas para soluções de problemas, propiciando um ambiente cooperativo, ou destrutivo, quando prevalece a postura de competição exacerbada, tão desfavorável e aniquiladora para o ser humano. Um aspecto relevante a ser considerado, também, quando falamos de grupos sociais, e mais uma vez enfatizado por nós aqui, é a Cultura. A influência da Cultura é notória nas nossas atitudes e nos nossos comportamen- tos, vez que as soluções de problemas e conflitos podem ser dirimidos à luz dela. Dessa forma, conseguimos compreendê-la como um “conjunto de pessoas com valores, hábitos e ideias em comum” (LORENA, 2015, p.61), em que juntos interagimos e seguimos exemplos. Exemplos esses de grandes líderes, que por meio da cultura passam valores, normas, padrões e costumes que são compartilhados pelos integrantes desses grupos sociais. Entender e compreender a cultura de um grupo social nos ajudará na atuação como profissionais das Ciências Sociais Humanas, principalmente ao respondermos à pergunta de qual a relação entre os processos socioculturais e os processos sociopsicológicos ? E, teremos várias respostas para ela. Uma delas, bastante interessante para nós é o fato de que “[...] grandes acontecimentos socioculturais podem ser mais amplamente compreendidos se forem considerados como um macrocosmo dos processos sociopsicológicos” (LAMBERT & LAMBERT, 1981, p.199). Isso quer dizer que temos sempre de lembrar que os acontecimentos socioculturais são constituídos de acontecimentos sociopsicológicos, que mudanças sociais dependem de mudanças de hábitos e valores das pessoas. Dessa forma, quando os profissionais das Ciências Sociais Humanas conseguem aplicar os conhecimentos adquiridos ao longo de suas vidas e de seus estudos sobreos acontecimentos pequenos e esses repercutem nos acontecimentos maiores, verificam o valor da Psicologia Social para a Sociedade e para os problemas sociais. Da mesma maneira, considerando a relação entre o sociocultural e o sociop- sicológico, em que os processos psicológicos são habitualmente acompanhados ou causados por processos socioculturais, reconhecemos que os processos ou acontecimentos sociopsicológicos podem mediar ou integrar aspectos do mundo social mais abrangente, favorecendo mudança mais ampla e futura da sociedade em que vivemos. Encerramos aqui nossas discussões a respeito do ser humano e seus ambientes sociais, e esperamos que você tenha adquirido muitos conhecimentos e ensinamentos que poderão ser aplicados de forma consciente e ética na sua atuação profissional. 23 UNIDADE O Ser Humano nos Ambientes Sociais Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Vídeos ilha das flores - filme curta metragem Para ilustrar as situações sociais que envolvem o convívio social, que é palco para a instalação de estereótipos e preconceitos, recomendamos o curta metragem Ilha das Flores https://youtu.be/KAzhAXjUG28 Ilha das Flores: depois que a sessão acabou Para complementar assista também ao curta metragem a Ilha das Flores: depois que a sessão acabou para compreender a visão dos moradores e envolvidos com a população que participou do curta Ilha das Flores https://youtu.be/Ch-LIsnG9Wc Leitura Psicologia Social e Processo Grupal Para aprofundar os conhecimentos a respeito da Psicologia Social e processo grupal indicamos o artigo científico Psicologia Social e processo grupal: coerência entre fazer, pensar sentir em Silvia Lane. https://goo.gl/0HnpDH 24 25 Referências LAMBERT, W. W.; LAMBERT, W. E. Psicologia Social. 5.ed. Rio de Janeiro: Zahar, 1981. LORENA, A. B. (org.). Psicologia Geral e Social. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2014. RAMOS, A. Introdução à Psicologia Social. 4.ed. São Paulo: Casa do Psicólogo/ UFSC, 2003. RODRIGUES, A. Psicologia Social para Principiantes - Estudo da Interação Humana. 10.ed.atual.acresc. Rio de Janeiro: Vozes, 2005. RODRIGUES, A.; ASSMAR, E. M. L. & JABLONSKI, B. Psicologia Social. 19.ed. reform, RJ: Vozes, 2000. Sites Visitados http://cruzeirodosul.bv3.digitalpages.com.br/users/publications/9788543005195 <http//www.dicio.com.br/dissonância/>. Acesso em: 8 out. 2016. <https//pt.wikipedia.org/wiki/idiossincrasia>. Acesso em: 8 out. 2016 25