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Cap´ıtulo 19 Func¸o˜es Inversas e suas Derivadas 19.1 Motivac¸a˜o Muitas obras de arte expostas em museus precisam ser protegidas por medidas de seguranc¸a especiais para impedir atos de vandal- ismo. Suponha que se deseja colocar uma corda de isolamento paralela a` parede onde um quadro famoso esta´ exposto. Calcule o aˆngulo α de visa˜o de um observador junto a` corda em func¸a˜o da distaˆncia x da corda a` parede. Considere que a altura me´dia (a) dos visitantes e´ de 1,70 m, a distaˆncia da base do quadro ao solo (b) e´ de 2,70 m e que a altura do quadro (c) e´ de 3 m, conforme mostra o esquema ao lado. dβα x c b a Este ca´lculo e´ importante para se determinar a distaˆncia da corda de isolamento que permita um aˆngulo ma´ximo de visa˜o ao observador. De acordo com o nosso conhecimento de func¸o˜es trigonome´tricas, as grandezas esta˜o relacionadas pelo seguinte sistemas de equac¸o˜es tg(α+ β) = c+ d x tg(β) = d x Para resolver o problema proposto, e´ necessa´rio determinar o valor de um aˆngulo sabendo-se o valor do seu seno ou do seu cosseno ou a da sua tangente, isto e´, conhecendo-se x encontrar α, tal que, por exemplo, sen(α) = x. Isto equivale a achar uma func¸a˜o g tal que g(x) = α. Em muitas situac¸o˜es pra´ticas, como a do problema anterior, e´ preciso refazer uma sequ¨encia de passos desfazendo o que foi feito em cada etapa, na ordem inversa. A seguir sa˜o dados outros exemplos em que este procedimento e´ usado: 1. Qual e´ o nu´mero que multiplicado por cinco e somado com treˆs e´ igual a 18? 2. Qual e´ o nu´mero positivo que elevado ao quadrado e´ igual a 4? 3. Se um trem se movimenta com velocidade constante v em um trecho reto de uma estrada de ferro, sua posic¸a˜o em cada instante de tempo t e´ dada pela equac¸a˜o s = v t+ s0, onde s0 representa a posic¸a˜o do trem no momento em que se iniciou a contagem do tempo. Voceˆ e´ capaz de achar a expressa˜o que define t como uma func¸a˜o de s? (Para o chefe da estac¸a˜o, as duas informac¸o˜es sa˜o importantes, a primeira para que ele possa programar as partidas dos trens que saem de sua estac¸a˜o em sentido contra´rio e a segunda para informar a hora de embarque aos que desejam viajar.) O problema acima e´ equivalente a: sendo dada uma func¸a˜o arbitra´ria y = f(x), determinar x como func¸a˜o de y, isto e´, a partir da func¸a˜o y = f(x), determinar x = g(y). Neste caso, dizemos que f e g sa˜o func¸o˜es inversas. Os exemplos estudados na pro´xima sec¸a˜o determinam as condic¸o˜es necessa´rias a` resoluc¸a˜o de problemas deste tipo. 249 250 Cap. 19. Func¸o˜es Inversas e suas Derivadas 19.2 Func¸o˜es inversas Considere as func¸o˜es s(x) = x2 e f(x) = x3 e seus respectivos gra´ficos: 0 20 40 60 80 100 –10 –8 –6 –4 –2 2 4 6 8 10x –30 –20 –10 0 10 20 30 y –10 –8 –6 –4 –2 2 4 6 8 10x A func¸a˜o f(x) = x3 goza das seguintes propriedades: 1. Cada reta horizontal corta o gra´fico de f no ma´ximo uma vez (veja o gra´fico a` esquerda, a seguir). 2. Para cada nu´mero y no conjunto imagem de f , a equac¸a˜o y = f(x) = x3 tem exatamente uma soluc¸a˜o (veja o gra´fico a` direita). Por exemplo, tomando-se y = −8, temos −8 = x3 ⇔ x = −2, e mais geralmente, y = x3 ⇔ x = y 1 3 . –30 –20 –10 0 10 20 30 –10 –8 –6 –4 –2 2 4 6 8 10 –30 –20 –10 0 10 20 30 y –10 –8 –6 –4 –2 2 4 6 8 10x 3. Se voceˆ refletir o gra´fico de f em relac¸a˜o a` diagonal principal, o novo conjunto obtido e´ o gra´fico de uma func¸a˜o. Em verdade, e´ o gra´fico da func¸a˜o g(x) = x 1 3 . –2 –1 0 1 2 y –2 –1 1 2 x Neste caso, dizemos que x = (f−1)(y) = g(y). As func¸o˜es f e g sa˜o ditas inversas. Ale´m disso, como g deve “desfazer ou anular” o efeito de f , temos tambe´m que (f ◦ g)(y) = y, qualquer que seja y no domı´nio de g e (g ◦ f)(x) = x, qualquer que seja x no domı´nio de f . Vamos examinar agora a func¸a˜o s(x) = x2. Esta func¸a˜o na˜o goza de nenhuma das propriedades enunciadas acima para a func¸a˜o f , a saber: 1. Retas horizontais cortam duas vezes o gra´fico de s. 2. Para y > 0, a equac¸a˜o y = x2 tem duas soluc¸o˜es: x = √ y e x = −√y. Veja as figuras: 0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 26 28 30 y –10 –8 –6 –4 –2 2 4 6 8 10x 0 2 4 6 8 10 y –10 –8 –6 –4 –2 2 4 6 8 10x W.Bianchini, A.R.Santos 251 3. Se voceˆ refletir o gra´fico de s em relac¸a˜o a` diagonal principal, o novo conjunto de pontos obtido na˜o e´ o gra´fico de nenhuma func¸a˜o, pois retas verticais interceptam este gra´fico duas vezes. –2 –1 0 1 2 y –2 –1 1 2 x As observac¸o˜es anteriores permitem concluir que esta func¸a˜o na˜o e´ invert´ıvel. Se voceˆ raciocinar um pouco chegara´ a conclusa˜o de que as treˆs condic¸o˜es enunciadas acima sa˜o equivalentes. Neste caso, dizemos que a func¸a˜o e´ biun´ıvoca . Definic¸a˜o 1 Uma func¸a˜o f e´ dita biun´ıvoca quando uma reta horizontal cortar o seu gra´fico em apenas um ponto, ou, equiva- lentemente, quando a equac¸a˜o y = f(x) tiver uma u´nica soluc¸a˜o. Esta condic¸a˜o pode ser expressa em termos alge´bricos, da seguinte maneira: Definic¸a˜o 1’ Sejam x1 e x2 no domı´nio de f , tais que x1 6= x2. Dizemos que f e´ biun´ıvoca se f(x1) 6= f(x2). Assim, se uma func¸a˜o f e´ biun´ıvoca, a equac¸a˜o y = f(x) pode ser resolvida para x, ou seja, e´ poss´ıvel determinar a func¸a˜o g tal que x = g(y). Neste caso, f e´ invert´ıvel e g e´ a func¸a˜o inversa de f . Definic¸a˜o 2 Uma func¸a˜o f , biun´ıvoca, e´ tambe´m invert´ıvel e sua inversa e´ uma func¸a˜o g calculada da seguinte maneira: x = g(y)⇔ y = f(x) . Repare que o domı´nio de g e´ a imagem de f e a imagem de g e´ o domı´nio de f . Para a func¸a˜o f(x) = x3, temos y = f(x) ⇔ y = x3 ⇔ x = y 13 . Assim, a inversa da func¸a˜o f(x) = x3 e´ a func¸a˜o g(x) = x 1 3 . Como seria de se esperar, o procedimento inverso de “elevar ao cubo” e´ “extrair a raiz cu´bica”. Se f e g sa˜o func¸o˜es inversas, a definic¸a˜o acima nos diz que o ponto (x, y) esta´ no gra´fico de f se, e somente se, o ponto (y, x) esta´ no gra´fico de g. Vamos interpretar geometricamente esta informac¸a˜o: A reta y = x e´ formada pelos pontos que teˆm abscissa igual a ordenada. Assim, dado um ponto qualquer (x, y) do plano, o ponto (y, x) e´ o seu sime´trico, isto e´, a sua imagem espelhada em relac¸a˜o a esta reta. Em outras palavras, a reta y = x e´ a mediatriz do segmento que liga (x, y) a (y, x). (Veja o gra´fico a` esquerda.) Assim, podemos obter o gra´fico de uma func¸a˜o a partir do gra´fico da sua inversa e vice-versa, refletindo cada um dos pontos de um dos gra´ficos em relac¸a˜o a` reta y = x (Observe o gra´fico a seguir, a` direita). (y,x) (x,y) 0 1 2 3 1 2 3x –2 –1 0 1 2 y –2 –1 1 2 x Como vimos, a func¸a˜o s(x) = x2, definida em toda a reta na˜o e´ biun´ıvoca, portanto, na˜o tem inversa. No entanto, se restringirmos o domı´nio dessa func¸a˜o ao intervalo [0,+∞), esta nova func¸a˜o e´ biun´ıvoca e a reflexa˜o do seu gra´fico em relac¸a˜o a` reta y = x da´ origem ao gra´fico de uma outra func¸a˜o que sera´ a sua inversa. Esta inversa e´ a raiz quadrada positiva, porque se x ≥ 0, y = x2 ⇔ x = √y. Assim, a func¸a˜o g(x) = √ x e´ a inversa de f(x) = x2, com domı´nio restrito a [0,+∞), como mostra o gra´fico: 252 Cap. 19. Func¸o˜es Inversas e suas Derivadas 0 0.2 0.4 0.6 0.8 1 1.2 1.4 1.6 1.8 2 y 0.2 0.4 0.6 0.8 1 1.2 1.4 1.6 1.8 2 x Este mesmo racioc´ınio pode ser empregado para achar inversas das demais func¸o˜es poteˆncias positivas, restritas ao intervalo [0,+∞). 19.3 Derivada da func¸a˜o inversa O objetivo desta sec¸a˜o e´ deduzir uma maneira de calcular a derivada da inversa de uma func¸a˜o deriva´vel f . Para isso vamos raciocinar geometricamente. Considere um ponto(x1, y1) do gra´fico de f −1. O ponto correspondente no gra´fico de f e´ o ponto (y1, x1). E´ inteiramente razoa´vel supor que, se o gra´fico de f tem uma tangente, na˜o vertical, no ponto (y1, x1), enta˜o o gra´fico obtido pela reflexa˜o deste u´ltimo em torno da reta y = x tem uma tangente, na˜o vertical, em (x1, y1), e a tangente do gra´fico refletido e´ a reflexa˜o da tangente ao gra´fico original, como ilustra a figura a` esquerda. A declividade da reta original e´ dada por m1 = d−b c−a . A declividade da reta refletida e´ m2 = c−a d−b . Consequ¨entemente, m2 = 1 m1 , se m1 6= 0. Veja o gra´fico a` direita. (y1,x1) (x1,y1) x1 (c,d) (a,b) (d,c) (b,a) Vamos retornar agora a` func¸a˜o f e a` sua inversa f−1. Suponha que f tenha uma reta tangente com declividade m2 6= 0 em (y1, x1). Enta˜o, a declividade da reta tangente a` f−1, em (x1, y1) e´ 1m2 . Mas, m2 = f ′(y1) e y1 = f−1(x1). Consequ¨entemente, m2 = f ′(f−1(x1))⇒ m1 = 1 f ′(f−1(x1)) . Mas m1 e´ precisamente o valor da derivada de f −1 em x = x1. Assim, obtemos a fo´rmula: (∗) (f−1)′(x1) = 1 f ′(f−1(x1)) e esta fo´rmula vale qualquer que seja o ponto x = x1 do domı´nio de f −1, tal que o denominador da frac¸a˜o acima seja diferente de zero. Uma vez que se saiba isto, a fo´rmula acima pode ser deduzida como uma aplicac¸a˜o simples da regra da cadeia. Como f e f−1 sa˜o func¸o˜es inversas, temos f(f−1(x)) = x. Usando a regra da cadeia para derivar esta equac¸a˜o, obtemos f ′(f−1(x)) [Df−1(x)] = 1 e da´ı segue a fo´rmula (*). Esta segunda maneira de deduzir a fo´rmula (*) e´ mais fa´cil de usar que a pro´pria fo´rmula. Vamos exemplificar com alguns casos que ja´ conhecemos. Exemplo 1: A func¸a˜o raiz cu´bica A func¸a˜o raiz cu´bica f(x) = x( 1 3 ) satisfaz a equac¸a˜o (1) (f(x))3 = (x 1 3 ) 3 = x. (Repare que com isto estamos afirmando que f e´ a func¸a˜o inversa de g(x) = x3.) Derivando a equac¸a˜o (1), obtemos 3 f2 f ′ = 1 e da´ı vem que f ′(x) = 1 3 f2(x) = 1 3x 2 3 = x− 2 3 3 . W.Bianchini, A.R.Santos 253 Exemplo 2: A func¸a˜o raiz n-e´sima A func¸a˜o f(x) = x 1 n , para 0 < x <∞, satisfaz a equac¸a˜o [f(x)]n = x, para 0 < x <∞ , pois f e´ definida como sendo a inversa de g(y) = yn, 0 < y < ∞. Supondo que f tem derivada, podemos derivar ambos os lados da equac¸a˜o e obter n [f(x)](n−1) f ′(x) = 1 , para 0 < x <∞ , logo, f ′(x) = 1 n [f(x)](n−1) = 1 nx( n−1 n ) = x( 1 n−1) n ,para 0 < x <∞ Quando n e´ ı´mpar, o mesmo racioc´ınio se aplica para −∞ < x <∞ e na˜o somente para 0 < x <∞. A fo´rmula deduzida acima conduz diretamente a fo´rmula ana´loga para a derivada de x( m n ). Usando a notac¸a˜o de Leibniz, temos d(x( m n )) dx = m n x( m n −1) . Os exemplos acima sugerem que as derivadas das func¸o˜es inversas podem ser facilmente calculadas, mas em cada caso foi necessa´rio supor, de partida, que a derivada existia. Esta hipo´tese e´ justificada pelo teorema a seguir, que mostra que, em todos os casos razoa´veis, a func¸a˜o inversa realmente possui derivada. Teorema da func¸a˜o inversa Suponha que o domı´nio de g e´ um intervalo aberto I e que (i) g′(y) > 0 para todos os pontos y em I ou (ii) g′(y) < 0 para todos os pontos y em I. Enta˜o g e´ biun´ıvoca (o que implica que g tem uma inversa) e a sua inversa f tem derivada em todos os pontos do seu domı´nio. Ale´m disso f ′(x) = 1 g′(f(x)) Observac¸a˜o: A demonstrac¸a˜o desse teorema e´ complicada, mas, como ja´ vimos antes, geometricamente e´ fa´cil observar que o resultado e´ verdadeiro. Se g′(y) > 0 ou (g′(y) < 0), para todos os y em I a func¸a˜o g e´ crescente (ou decrescente) e possui uma tangente na˜o horizontal em todos os pontos deste intervalo, cuja inclinac¸a˜o e´ dada por g′. O gra´fico refletido tera´, portanto, uma tangente na˜o vertical e a inclinac¸a˜o desta tangente fornece o valor de f ′. Para calcular a derivada da inversa de uma func¸a˜o, procedemos como nos exemplos dados, simplificando, no passo final, a expressa˜o g′(f(x)). Os detalhes desta simplificac¸a˜o dependem da func¸a˜o que esta´ sendo derivada. 19.4 As func¸o˜es trigonome´tricas inversas e suas derivadas Nenhuma func¸a˜o trigonome´trica e´ invert´ıvel, pois, como estas func¸o˜es sa˜o perio´dicas, retas horizontais cortara˜o seu gra´fico um nu´mero infinito de vezes. Assim, dado um nu´mero entre [−1, 1] a equac¸a˜o x = sen(θ) tem uma infinidade de soluc¸o˜es. Veja esta afirmac¸a˜o ilustrada no gra´fico da func¸a˜o seno. > plot([sin(x),0.5],x=-30..30); –1 –0.8 –0.6 –0.4 –0.2 0 0.2 0.4 0.6 0.8 1 –30 –20 –10 10 20 30x No entanto, como no caso da func¸a˜o f(x) = x2, podemos restringir o domı´nio das func¸o˜es trigonome´tricas de tal modo que elas sejam invert´ıveis em algum intervalo. 254 Cap. 19. Func¸o˜es Inversas e suas Derivadas 19.4.1 As func¸o˜es arcsen(x) e arccos(x) Define-se o valor principal da func¸a˜o seno como sendo a restric¸a˜o do seno ao intervalo [−pi2 , pi2 ]. Continuamos denotando esta func¸a˜o por seno (sen). A func¸a˜o valor principal do seno tem uma inversa (por queˆ?) que vamos chamar de arco seno (arcsen). Assim, y = arcsen(x)⇔ x = sen(y). • Qual o domı´nio da func¸a˜o arco seno? Qual a sua imagem? • Qual o valor de arcsen(12 )? E de arcsen(−1)? Repare abaixo o gra´fico da func¸a˜o arcsen(x), obtido a partir de uma reflexa˜o em relac¸a˜o a` diagonal principal do gra´fico da func¸a˜o y = sen(x), definida no intervalo [−pi2 , pi2 ]. > plot(arcsin(x),x=-1..1,scaling=constrained); –1.5 –1 –0.5 0.5 1 1.5 –1 –0.5 0.5 1 x De maneira ana´loga, definimos o valor principal do coseno como sendo a restric¸a˜o do cosseno ao intervalo [0, pi], a qual continuamos chamando de coseno. Esta func¸a˜o e´ invert´ıvel e sua inversa denotada por arccos(x ) . –1 –0.8 –0.6 –0.4 –0.2 0 0.2 0.4 0.6 0.8 1 0.5 1 1.5 2 2.5 3 x Cos(x) 0 0.5 1 1.5 2 2.5 3 –1 –0.8 –0.6 –0.4 –0.2 0.2 0.4 0.6 0.8 1x arccos(x) Vamos agora calcular as derivadas das func¸o˜es arcsen e arccos. Pelo teorema da func¸a˜o inversa, arcsen′(x) = 1 cos(arcsen(x)) para todo x em (−1, 1) Seja arcsen(x) = θ. Sabemos que cos(θ) = ± √ 1− sen2 θ = ± √ 1− [sen(arcsen(x))]2 = ± √ 1− x2. Como para −pi2 < θ < pi2 , cos(θ) > 0, tem-se arcsen′(x) = 1√ 1− x2 para x ∈ (−1, 1) Note que, para x ∈ (−1, 1), arcsen′(x) e´ sempre positiva, como o gra´fico dessa func¸a˜o mostrava que deveria ser. Nos pontos extremos deste gra´fico as tangentes sa˜o verticais. De maneira semelhante prova-se que arccos′(x) = − 1√ 1−x2 , para x ∈ (−1, 1). Esta derivada e´ negativa, como o gra´fico do arco cosseno indicava. 19.4.2 As func¸o˜es arctg(x) e arcsec(x) Define-se o valor principal da func¸a˜o tangente como sendo a restric¸a˜o da tangente ao intervalo (−pi2 , pi2 ). Continuamos denotando esta func¸a˜o por tangente (tg). W.Bianchini, A.R.Santos 255 A func¸a˜o valor principal da tangente tem uma inversa (por queˆ?) que vamos chamar de arco tangente (arctg) . Assim y = arctg(x)⇔ x = tg(y) • Qual o domı´nio da func¸a˜o arco tangente? Qual a sua imagem? • Qual o valor de arctg(1)? E de arctg(−1)? Observe os gra´ficos das func¸o˜es tg(x) e arctg(x). –3 –2 –1 0 1 2 3 y –1.5 –1 –0.5 0.5 1 1.5x Tg(x) –1.2 –1 –0.8 –0.6 –0.4 –0.2 0 0.2 0.4 0.6 0.8 1 1.2 –3 –2 –1 1 2 3x arctg(x) • Quais sa˜o as ass´ıntotas horizontais ao gra´fico dessa func¸a˜o? Da mesma forma que nos casos anteriores, vamos calcular a derivada da func¸a˜o arctg. Pelo teorema da func¸a˜o inversa, arctg′(x) = 1 [sec(arctg(x))]2 para todo x real. Seja θ = arctg(x). Como sec2 θ = 1 + tg2 θ, [sec(arctg(x))]2 = 1 + [tg(arctg(x))]2 = 1 + x2 Logo, arctg′(x) = 1 1 + x2 , para todo x real. Paraa func¸a˜o secante a situac¸a˜o e´ um pouco pior. Examine o gra´fico desta func¸a˜o: –4 –2 0 2 4 y –6 –4 –2 2 4 6x Em primeiro lugar, e´ preciso escolher um intervalo apropriado onde esta func¸a˜o tenha inversa e, portanto, seja poss´ıvel aplicar o teorema da func¸a˜o inversa para calcular a sua derivada. O gra´fico da secante consiste de va´rias partes a`s quais o teorema se aplica, por exemplo, uma para 0 < θ < pi2 e outra para pi 2 < θ < pi. Consideraremos o primeiro intervalo e definiremos uma nova func¸a˜o g como a restric¸a˜o da secante ao intervalo (0, pi2 ), isto e´, g(θ) = sec(θ), para 0 < θ < pi 2 . Como g′(θ) = sec(θ) tg(θ), temos que para 0 < θ < pi2 , g ′(θ) > 0 e o teorema da func¸a˜o inversa garante que a func¸a˜o inversa de g, que designaremos por arcsec(x ), tem derivada e que arcsec′(x) = 1 sec(arcsec(x)) tg(arcsec(x)) . Ja´ sabemos que sec(θ) = x. Precisamos simplificar o fator tg(arcsec(x)). Para isso, como das outras vezes, vamos chamar arcsec(x) = θ. Usando a igualdade sec2 θ = tg2 θ + 1, temos que tg(arcsec(x)) = ±√x2 − 1. Como 0 < θ < pi2 , vemos que tg(θ) = tg(arcsec(x)) > 0. Portanto, podemos abandonar o radical negativo. Assim, arcsec′(x) = 1 x √ x2 − 1 , para 1 < x <∞. 256 Cap. 19. Func¸o˜es Inversas e suas Derivadas Refazendo os ca´lculos acima, considerando agora g(θ) = sec(θ), para pi2 < θ < pi, obtemos arcsec′(x) = 1 (−x)√x2 − 1 , para −∞ < x < −1. Combinando estes dois resultados, obtemos uma func¸a˜o cujo domı´nio consiste nos dois intervalos (−∞, −1) e (1, ∞). Veja o seu gra´fico: 0 0.5 1 1.5 2 2.5 3 y –4 –3 –2 –1 1 2 3 4 x Observe que o termo 1√ x2−1 na˜o esta´ definido para |x | ≤ 1. Para x = 1 e x = −1, o gra´fico da func¸a˜o arcsec(x ) apresenta uma tangente vertical e portanto a derivada na˜o existe nestes pontos. Para x < −1 e x > 1, podemos combinar os dois resultados obtidos acima e escrever que arcsec′(x) = 1 |x | √x2 − 1 . Exemplo 3 Retornando ao problema da corda de isolamento de um quadro, t´ınhamos que tg(α+ β) = c+ d x e tg(β) = d x . Assim, α, que e´ o aˆngulo que queremos tornar ma´ximo, pode ser expresso como α = arctg( c+ d x )− arctg(d x ). Substituindo os valores de c e d, derivando esta func¸a˜o e igualando o resultado a zero, obtemos: > f:=x->arctan(4/x)-arctan(1/x): > g:=diff(f(x),x); g := − 4 x2 (1 + 16 x2 ) + 1 x2 (1 + 1 x2 ) > g1:=simplify(g); g1 := −3 x 2 − 4 (x2 + 16) (x2 + 1) > solve(g1=0,x); 2, −2 Como x e´ a distaˆncia da parede ao observador, podemos desprezar a raiz negativa. Vamos agora usar o teste da derivada primeira para comprovar que este e´ o ponto de ma´ximo procurado. Como o denominador da expressa˜o − 3 (x2−4)(x2+16) (x2+1) e´ sempre positivo, o sinal da derivada depende do termo −3x2 + 12. Como −3x2 + 12 > 0 para x < −2 e −3x2 + 12 < 0 para x > 2, conclu´ımos, imediatamente, que no ponto x = 2 o aˆngulo α atinge o seu ma´ximo absoluto. Devemos, portanto, colocar a corda de isolamento a dois metros da parede onde o quadro esta´ pendurado. 19.5 Exerc´ıcios 1. Considere a func¸a˜o dada pela tabela: x -1 -0,9 -0,8 -0,7 -0,6 -0,5 -0,4 -0,3 -0,2 -0,1 0 f(x) 0,1 0,12 0,15 0,2 0,25 0,31 0,39 0,5 0,6 0,7 1 W.Bianchini, A.R.Santos 257 (a) Determine o domı´nio e a imagem de f . (b) Construa a tabela da func¸a˜o g inversa de f. 2. (a) Mostre que f(x) = 3x− 5 e´ invert´ıvel e ache sua inversa g. Calcule f(g(x)) e g(f(x)). (b) Calcule a func¸a˜o g(x) inversa de f(x) = 2 x+1x+1 . Verifique que f(g(x)) = g(f(x)) = x. (c) De um modo geral, se a, b, c, d, sa˜o constantes tais que ad − bc 6= 0 e f(x) = ax+bcx+d , existe uma func¸a˜o g(x) = αx+βγ x+δ tal que f(g(x)) = g(f(x)) = x. Calcule as constantes α, β, γ, δ em func¸a˜o de a, b, c, d. Por que a condic¸a˜o ad − bc 6= 0 e´ necessa´ria? Qual a relac¸a˜o existente entre f e g ? 3. Ache expresso˜es alge´bricas para as seguintes func¸o˜es, especificando o seu domı´nio: (a) sen(arctg(x )) (b) tg(arcsen(x )) (c) cos(arctg(x )) 19.6 Problemas propostos 1. Prove que cada uma das func¸o˜es dadas abaixo e´ invert´ıvel no intervalo considerado. Deduza a fo´rmula para a derivada da sua inversa e esboce o gra´fico desta inversa especificando o seu domı´nio. (a) g(θ) = cotg(θ), 0 < θ < pi. g(θ) = cossec(θ) 0 < | θ | < pi2 . 2. Determine a equac¸a˜o da reta tangente ao gra´fico de uma func¸a˜o f no ponto (2, f(2)), sabendo que f(2) = 7 e D(f−1)(7) = 8. 3. Seja f(x) = √ x3 + 3 para 0 < x < ∞. Usando o teorema da func¸a˜o inversa, mostre que f e´ invert´ıvel e calcule (f−1)′)(2). Encontre a equac¸a˜o da reta tangente ao gra´fico de f−1 no ponto (2, 1). 4. Seja a func¸a˜o f(x) = x5 + x3 + 3x. (a) Em que conjunto a func¸a˜o admite inversa? Justifique. (b) Determine (f−1)′(5). 5. Use o teorema da func¸a˜o inversa para mostrar que f(x) = (x5 + 7) 1 3 , x > 0 e´ invert´ıvel e calcule (f−1)′(2). Encontre uma equac¸a˜o da reta tangente ao gra´fico de f−1 no ponto (2, 1). 6. Seja f(x) = arctg(x 3 3 − x), x > 1. (a) Usando o teorema da func¸a˜o inversa, mostre que f e´ invert´ıvel e calcule D(f−1)(0). (b) Encontre uma equac¸a˜o da reta tangente ao gra´fico de f−1 no ponto (0, f−1(0)). 7. Use o teorema da func¸a˜o inversa para mostrar que f(x) = arctg(x2 − 1), x > 0 e´ invert´ıvel e calcule D(f−1)(pi4 ). 19.7 Para voceˆ meditar: Inversas? Vimos que se f e g sa˜o func¸o˜es inversas, enta˜o f(g(x)) = x e g(f(x)) = x. Observe os gra´ficos das func¸o˜es sen(arcsen(x )) e arcsen(sen(x )): > plot(sin(arcsin(x)),x=-10..10); –10 –8 –6 –4 –2 2 4 6 8 10 –10 –8 –6 –4 –2 2 4 6 8 10x > plot(arcsin(sin(x)),x=-10..10); –1.5 –1 –0.5 0.5 1 1.5 –10 –8 –6 –4 –2 2 4 6 8 10x 1. Observando os gra´ficos acima, e´ poss´ıvel concluir que se g e f sa˜o func¸o˜es inversas tem-se que f(g(x)) = x e g(f(x)) = x? 2. Para que valores de x valem essas identidades? 258 Cap. 19. Func¸o˜es Inversas e suas Derivadas 3. Qual o domı´nio da func¸a˜o arcsen(sen(x))? 4. Em que intervalo essa func¸a˜o coincide com a func¸a˜o h(x) = x? 5. Em que intervalos a func¸a˜o y = sen(x) e´ invert´ıvel? 6. Trace os gra´ficos de arcsen(sen(x)) e sen(arcsen(x)) e explique a diferenc¸a para o exemplo anterior. 7. Fac¸a essa mesma ana´lise para os pares de func¸o˜es abaixo: (a) arccos(x) e cos(x) (b) arctg(x) e tg(x) (c) x2 e √ x . 8. Para que valores de x e´ poss´ıvel calcular arcsen(sen(x)). 9. Explique porque arcsen(sen(pi3 )) = arcsen(sen( 2pi 3 )). 10. O que se pode afirmar a respeito do valor de arcsen(sen(x+ 2pi))? 11. Calcule essa func¸a˜o nos seguintes casos: (a) para x em [−pi2 , pi2 ] . (b) para x em [pi2 , 3pi2 ] . (c) para x em [(2 k − 12 )pi, (2 k + 12 )pi] onde k e´ um inteiro qualquer. (d) para x em [(2 k + 12 )pi, (2 k + 3 2 )pi] onde k e´ um inteiro qualquer.
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