Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
ÍNDICE Introdução ................................................... 7 As regiões ................................................. As causas da guerra .................................... 39 A guerra civil ............................................ 65 O impacto da guerra .................................. 79 A reconstrução .......................................... ... Conclusão ..... .......................................... 109 Indicações para leitura ............................ 114 Queremos agradecer a Rudolph Bell, Eríc Foner e Michael M. Hall pelas suas sugestões bibliográficas, e a Eni Orlandi pelas correções e melhoramentos no Português. Reconhecemos também a nossa divida para com os alunos das matérias de História da América II e Estados Unidos Contemporâneos que, através de suas perguntas e criticas nas salas de aula da Universidade Estadual de Campinas, muito nos ensinaram. “Sentimos que a nossa causa é justa e sagrada; solenemente proclamamos, para todo o gênero humano, que desejamos a paz ao preço de qualquer sacrifício, menos o da honra e da independência. Não procuramos conquista alguma, nem enaltecimento, nem concessão alguma de qualquer espécie dos Estados dos quais faz pouco tempo éramos confederados. Tudo que pedimos é sermos deixados em paz; que aqueles que nunca mandaram em nós agora nâo tentem subjugar-nos pela força das armas.** Jefferson Davis, primeira fala ao Congresso dos Estados Confederados da América, 1861. “Um oitavo de toda a população era formado de escravos de cor, não distribuídos de um modo geral pela União, porém localizados na sua parte meridional. Tais escravos constituíam um interesse peculiar e poderoso. Todos sabiam que esse interesse, de certo modo, foi a causa da guerra. Fortalecê-lo, perpetuá-lo e ampliá-lo era o objetivo pelo qual os insurretos pretendiam dividir a União, nem que tivessem de recorrer à guerra, ao passo que o governo não reclamava outro direito que o de restringir sua difusão territorial.*’ Abraham Lincoln, segundo discurso de posse da presidência dos Estados Unidos da América, 1865. ★ A meus filhos, José e Zena, para quem a História Comparativa já é familiar. INTRODUÇÃO A Guerra Civil Norte-americana (1861-65) merece a atenção do estudante brasileiro por diversos motivos. Primeiro, foi uma guerra que marcou profundamente a evolução histórica dos Estados Unidos da América (EUA). Até esta guerra, todos os conflitos políticos mais importantes entre as grandes regiões norte-americanas, do Norte e do Sul, tinham sido resolvidos, adiados ou escamoteados dentre as linhas da Constituição de 1787, e através de processos pacíficos de barganha, conchavo, negociação e voto. A guerra representou uma confissão de que o sistema político falhou, esgotou os seus recursos sem encontrar uma solução. Foi unia prova de que, mesmo numa das democracias mais antigas, houve uma época em que somente a guerra podia superar os antagonismos políticos. O total dos mortos ajuda a apreciar a magnitude deste evento traumático para os EUA. Calcula-se que um total de 618000 americanos combatentes morreram nos dois lados, um total que excede o de todos os mortos americanos na Primeira Guerra Mundial (1914-18, com 125000 mortos americanos); na Segunda Guerra Mundial (1939-45, com 322000 mortos americanos), na Guerra da Coreia (1950-53, com 55000 mortos americanos), e na Guerra do Vietnã (1961-75, com 57 000 mortos americanos). Em segundo lugar, esta guerra lembra vários aspectos da história do Brasil, quando questões semelhantes surgiram. Para começar, a guerra foi uma reação a um movimento separatista. O Sul declarou a sua independência do Norte, e estabeleceu uma nova nação, os Estados Confederados da América (ECA). O Norte teve que invadir o Sul e lutar por quatro anos até destruir este separatismo. Da mesma forma, o Governo Imperial Brasileiro teve que reprimir com armas a Confederação do Equador no Nordeste, em 1824; e a República de Piratini e a República Catarinense, criadas pela Revolução dos Farroupilhas no Rio Grande do Sul, em 1835-45. A abolição da escravidão foi outra questão que convulsionou a vida política dos EUA e do Brasil, no século XIX. No Sul dos EUA, a escravidão foi tão importante quanto nas regiões brasileiras de grande lavoura. Em ambos os países os setores escravistas passaram a maior parte do século à procura de maneiras de preservar esta relação de trabalho contra as restrições gradativamente colocadas por grupos fora destes setores. Mas nos EUA a abolição final foi imposta a ferro e fogo pela vitória do Norte no fim da Guerra Civil, enquanto no Brasil a abolição resultou de uma combinação de longas campanhas de mobilização popular, das revoltas dos próprios escravos, e do oportunismo dos escravocratas, que, antes da abolição, já acharam substitutos para os seus escravos, ou entre os trabalhadores nacionais, ou entre os imigrantes estrangeiros. Finalmente, muitos historiadores norte-americanos entendem a Guerra Civil como um conflito entre duas sociedades diferentes: a do Norte, baseada nas manufaturas e caminhando rapidamente para a industrialização, e a do Sul, baseada na economia agrária de exportação e procurando expandir a área destas lavouras. Embora em escala bem menor, e em data bem posterior, o Brasil também experimentou momentos de atrito entre o setor nascente das manufaturas e o setor agrário, como por exemplo nos debates sobre o nível de tarifas aduaneiras na Primeira República. É notável, entretanto, que a historiografia brasileira moderna em geral reconheça uma certa complementaridade dos interesses dos industriais e dos grandes agricultores, ao contrário da situação nos EUA no século passado. Os paralelos entre a história dos EUA e a do Brasil, nestas questões de separatismo, abolição e competição entre a indústria e a agricultura, convidam a uma reflexão bem maior sobre a razão pela qual, no Brasil, tais questões encontraram um encaminhamento e uma solução às vezes bastante diferente dos encontrados pelos EUA, e o que isso teria a ver com as diferenças atuais entre as políticas, as economias e as sociedades dos dois paises. Ao longo desta história, que aliás não pretende fornecer mais do que uma introdução ao estudo da guerra, procuraremos levantar diversos pontos de comparação específica entre os EUA e o Brasil no século XIX. Caberia ao leitor, entretanto, partir destas informações para desenvolver as suas próprias explicações das diferenças. AS REGIÕES O Norte Vamos agora examinar as raízes das contradições profundas entre o Norte e o Sul, através de um estudo da evolução de cada região. Como foi que cada região desenvolveu as suas atividades econômicas mais dinâmicas? Como se formaram as classes sociais principais, de modo que cada região chegasse a defender posições políticas tão diferentes, particularmente com respeito a uma terceira região, o Oeste, que somente uma guerra conseguiu resolvê-las? A economia O Norte dos EUA incluía a região da costa atlântica, desde o atual Estado de Maine até Maryland.1 Os povoadores ingleses, e os seus descendentes na época colonial (1607-1776), tinham estendido o Norte na direção ocidental até a cordilheira das Montanhas Apalaches, e, no começo do século XIX, o movimento de povoamento atravessou as montanhas e chegou até a margem oriental do Rio Mississippi. A vida econômica do Norte tinha começado nas colônias de Nova Inglaterra e nas do Meio, com núcleos de pequenos agricultores produzindo apenas o necessário para a sua própria subsistência. A abundância de peixes, perto do litoral, e as grandes matas induziram o crescimento da pesca e da construção de barcos a vela. Da mesmaforma, as jazidas de minério de ferro e a facilidade de fabricar carvão vegetal permitiram a criação de muitas pequenas fundições. Como consequência, já no século XVIII as pequenas comunidades rurais do Norte viram surgir um vigoroso comércio de carne seca e de bacalhau, de produtos derivados da baleia como sebo e velas, de provisões para barcos e de farinha de trigo e cereais. Comerciantes radicados nos portos de Boston, Nova Iorque e Filadélfia mandaram estes produtos ao Caribe 1 (*) Por motivos técnicos, não foi possível incluir mais do que um mapa detalhado. O leitor está convidado a consultar Manoel M. de Albuquerque, Arthur C. Ferreira Reis e Carlos Delgado de Carvalho, Atlas Histórico Escolar, 7? ed., Rio de Janeiro, MEC/FENAME, 1977, pp. 52-57 e 62-t>3. para suprir as necessidades das colônias mais preciosas da metrópole inglesa na época, as ilhas açucareiras de Barbados, Jamaica e as Ilhas de Barravento e Sotovento. Em troca, estas ilhas mandaram melaço e açúcar para as refinarias continentais do Norte, que por sua vez exportavam rum para a África. Lá o rum era trocado por escravos, que eram trazidos para as ilhas para continuar a produção de produtos de cana-de-açúcar. Este comércio triangular foi complementado por um comércio recíproco de peixe salgado e frutas do Norte para manufaturas da Inglaterra. Antes de começar a sua revolução industrial, por volta de 1760, a metrópole inglesa não se incomodava muito quando as colônias do Norte aplicaram o capital acumulado no comércio triangular para construir novas manufaturas de móveis, carroças, panos, sapatos, ferramentas e sabão, desde que estas mercadorias fossem consumidas internamente nas colônias continentais. Tampouco a metrópole reclamava se estas manufaturas eram exportadas para as colônias inglesas no Caribe, já que a própria metrópole não conseguia abastecê-las por preços mais baratos, devido ao maior custo de transporte. Este abastecimento reduzia os custos de produção dos artigos coloniais como açúcar, cacau e café, os quais eram muito cobiçados pela metrópole. Quando a revolução industrial começou na Inglaterra, o governo metropolitano tentou reduzir a concorrência colonial em manufaturas, para que os americanos comprassem mais dos ingleses, e fazer com que os colonos pagassem uma porção maior das despesas de administração das colônias. Mas os americanos não aceitaram este enrijecimento do sistema colonial, e declararam a sua independência. Na Guerra de Independência (1776-81), como numa outra guerra contra a Inglaterra (1812-14) durante a época napoleônica, ficou claro para os americanos que eles não podiam contar com a importação de manufaturas inglesas, e que eles tinham que montar a sua própria manufatura. Assim, expandiram-se no Norte as pequenas fábricas de linhas e pano de lã e de algodão, de sapatos e de relógios, e apareceram mais oficinas produzindo ferramentas e armas. Os comerciantes forneceram o capital para muitas destas manufaturas cujo valor, em 1860, pela primeira vez igualou o valor dos produtos agropecuários. O crescimento das manufaturas no Norte também devia muito à introdução de invenções mecânicas para aumentar a produtividade, e aos novos métodos de organizar a produção. A relativa falta de mão-de-obra, em comparação com a Inglaterra, e os salários consequentemente mais altos, levaram os empresários a se interessarem mais pela adoção de máquinas que fariam o trabalho de pessoas. Mesmo quando a população crescia rapidamente, este crescimento não se transformava em força de trabalho para os outros, porque muitas das pessoas, que incrementaram a população, preferiram trabalhar como lavradores autônomos. Assim, na agricultura, o arado de ferro e depois de aço, o rasteio e a sementeira foram desenvolvidos e divulgados entre 1820 e 1850. Na década antes da Guerra Civil, os arados de aço de John Deere, os debulhadores de Jerome Case e as colhedeiras mecânicas de Cyrus McCormick permitiam ao trabalhador agrícola fazer numa hora o que antes levava até um dia inteiro. No setor industrial, a produção de peças intercambiáveis, desenvolvida por Eli Whitney, foi a grande novidade, porque significava que não era mais necessário que cada peça fosse feita sob medida para cada produto. Agora podia-se organizar uma linha de montagem, com cada operário fazendo repetitivamente algumas simples operações e uma produção em massa. A linha de montagem foi adaptada especialmente na fabricação de armas brancas, parafusos, porcas, relógios, máquinas agrícolas, fechaduras, cadeados, teares, máquinas de escrever e de costurar e ferramentas. A agricultura do Norte expandiu-se para o Noroeste durante a primeira parte do século XIX. Empurrados pela multiplicação das propriedades agrícolas e o crescimento das cidades no Nordeste, os posseiros, pequenos proprietários e nativos e imigrantes sem terra procuraram as áreas ao redor dos Grandes Lagos. Lá, eles estabeleceram pequenas fazendas, de um tamanho médio de 50 hectares, nas terras sem dono, ou nas terras de índios das tribos de Algonquins. Iroquois e Sioux, cujos protestos foram ignorados ou reprimidos. Estes lavradores trabalharam com a sua própria família, cultivaram trigo, milho, uvas, gado bovino, carneiros e suínos, e venderam esta produção para o Nordeste em troca de manufaturas. A economia do Norte expandiu-se ainda mais porque o mercado foi muito ampliado pelos melhoramentos nos transportes. Durante a primeira metade do século XIX, o Norte experimentou um surto de investimentos públicos e particulares nos transportes. Primeiro, o dinheiro fluía para as estradas e pontes, sobre as quais viajavam os vagões puxados por animais, e onde os postos de pedágio produziam rendas para os seus construtores. Depois, a presença dos diversos rios navegáveis no interior de Massachusetts, Nova Iorque e Pensilvânia levou capitalistas e governadores a investir na construção de canais, rios artificiais, para ligar o litoral com os Grandes Lagos e com os rios que desaguavam no Rio Mississippi. Embora a construção de um quilômetro de canal custasse cinco a oito vezes o que custava um quilômetro de estrada, o transporte de fretes e passageiros em grandes chatas puxadas por animais ao longo dos canais eliminou até 90% do custo para os usuários. O aperfeiçoamento do veleiro rápido clipper na década de 1840 e a introdução de barcos movidos com máquinas a vapor apresentaram outros avanços na área de transporte sobre a água, que reduziriam significativamente o tempo de viagem e os custos de frete e passageiros. O barco a vapor em 1860 fazia a viagem de Liverpool até Nova Iorque em duas semanas, quando o barco a vela, quarenta anos antes, levava entre seis a sete semanas para o mesmo percurso. Os barcos menores a vapor agilizavam o transporte fluvial, porque eles — um exemplo são as “gaiolas” que ainda transitam no Rio São Francisco no Brasil — podiam subir facilmente contra as fortes correntezas dos rios. Ainda durante a fase áurea da construção dos canais (1830-50), a extensão das estradas de ferro proporcionou benefícios mais importantes, não somente para os usuários, mas também para o parque industrial do Norte, em geral. A estrada de ferro gozava de grandes vantagens sobre os canais, como as de não congelar no inverno, de não depender de níveis variáveis de água, de não oferecer perigo algum para a navegação noturna, de poder subir ou penetrar através de túneis as montanhas mais altas, de ter uma velocidade alta constante e a força de puxar cargas enormes e de possibilitar a construção de ramais até as portas das fábricas e das fazendas. Num período de febril investimento privado e público, americanos e europeus correram para comprar ações em companhiasferroviárias, que pagavam bons dividendos e ainda recebiam subsídios do governo na forma de parcelas de terras a cada lado dos trilhos. As companhias vendiam as terras, lucrando a curto prazo na revenda e a médio prazo, quando as terras começaram a produzir e os fazendeiros transportavam a sua produção pela estrada de ferro. Em 1850, quando os canais tinham uma extensão de 5120 quilômetros, as estradas de ferro já alcançavam 14400 quilômetros, e, na véspera da Guerra Civil, os EUA tinham 48 000 quilômetros de trilhos, dos quais 62% estavam localizados no Norte. O Brasil hoje tem 32000 quilômetros de trilhos. Além de baratear o transporte e possibilitar que vilas e fazendas mais distantes do litoral atlântico pudessem mandar os seus produtos para os centros de população, as estradas de ferro exerceram uma forte demanda sobre as oficinas que fabricavam insumos para a sua construção, como pregos, trilhos, locomotivas, vagões e máquinas a vapor. Assim, a extensão da rede ferroviária nos EUA, no século passado, estimulou a implantação de uma grande variedade de fábricas de peças, e estabeleceu numa base duradoura a indústria de bens de produção, num papel muito semelhante àquele desempenhado pela indústria automobilística no Brasil no século XX. As classes sociais O crescimento rápido da população do Norte contribuiu muito para o aumento da demanda de mercadorias na sua economia. Entre 1800 e 1850, a população dos EUA mais do que quadruplicou, numa velocidade bem acima daquela conseguida pela população brasileira, na mesma época (Tabela 1). Calcula-se que três quintos desta população americana moravam no Norte ou no Oeste do país. TABELA 1 — POPULAÇÃO (milhões de habitantes) Ano EU/t Brasil 1800 5.3 3,8 1850 23,1 7,5 1870 39,8 (1872) 10,1 As grandes massas de imigrantes europeus contribuíram de uma maneira essencial para este crescimento demográfico. Elas começaram a chegar aos EUA a partir de 1828, quando pela primeira vez o número de imigrantes anuais ultrapassou 30000, uma cifra só atingida pelo Brasil na década de 1880. Durante os anos de 1830-40, a imigração para os EUA chegou a uma média anual de 59000; de 1840-50, a 171000; e de 1850-60, a 260000. Estes imigrantes vieram empurrados pelas más condições econômicas e pela perseguição política e religiosa na Irlanda (50% dos imigrantes), Alemanha (26%) e Inglaterra (16%), além de serem atraídos pelos salários relativamente melhores e pelas facilidades em adquirir terras próprias no Norte e no Oeste. Em 1850, os imigrantes constituíam 10% da população total. Qual era a composição desta sociedade no Norte? Em primeiro lugar, não houve escravos. No fim do século XVIII e no começo do século XIX, a maior parte dos estados do Norte aboliu a escravidão ou a estava abolindo, através de leis do ventre livre. A classe dos trabalhadores livres, que incluiu a maioria dos imigrantes recém-chegados, empregou-se nas oficinas como aprendizes e oficiais, e como trabalhadores braçais na construção civil e na construção dos canais e das estradas de ferro. As mulheres serviram como empregadas, ou encontraram serviço como operárias nas tecelagens. No campo, o pobre empregava-se como jornaleiro e aspirava a chegar a ser parceiro ou inquilino, nas fazendas dos outros. A grande classe média, a classe mais numerosa do Norte, encontrava-se predominantemente no campo, onde a agricultura e a pecuária com trabalho familiar foi a base da vida econômica. Tanto nos pequenos sítios de legumes e frutas criados nos solos inférteis e pedregosos da Nova Inglaterra, quanto nas fazendas maiores de centeio, cevada, aveia e trigo, ou de laticínios e suínos, nas campinas de Nova Iorque, Pensilvânia, Ohio, Indiana, Illinois, Michigan e Wisconsin, os próprios donos das fazendas e granjas e as suas famílias fizeram quase todas as tarefas. Apenas durante a safra ou outra época de trabalho mais intenso recorria-se à ajuda de algum assalariado, inquilino, ou mesmo ao mutirão dos vizinhos. Foi esta classe que, junto com os fazendeiros do Sul, procurou os solos novos e terras sem donos para ela e os seus filhos, e assim empurrou mais as fronteiras dos EUA para o Oeste. A outra classe média nascia nas poucas grandes cidades como Nova Iorque que, em 1860, foi a primeira a ultrapassar um milhão de habitantes. Esta classe média urbana inclui a pequena burguesia dos artesãos e mecânicos com oficinas próprias, as profissões liberais como advogados, médicos, professores, jornalistas e os funcionários públicos. Embora menor, em número, do que a classe média rural, a classe média urbana teve uma expressão política desproporcionalmente maior do que os seus números. No cume da pirâmide social do Norte — as classes mais ricas — apareceram as pessoas que acumularam as suas fortunas no comércio de importação e exportação, nas finanças e nas atividades bancárias. Eles residiam nos grandes centros portuários de Boston, Nova Iorque, Filadélfia e Baltimore. À frente desta elite, apenas 1% dos homens adultos livres detinha 27% da riqueza da região. Os manufatureiros também pertenciam à classe rica, mas devido à prevalência ainda do sistema doméstico e da pequena manufatura, apenas alguns poucos ganhavam o bastante para entrar naquela fração de 1%. O Sul A economia No começo da colonização inglesa, o Sul compreendia quatro colônias fundadas no século XVII: Maryland, Virgínia, Carolina e Geórgia. Graças à fertilidade das grandes várzeas recortadas por rios perenes desaguando no Atlântico, estas colônias prosperaram na base de uma agricultura de exportação de fumo, índigo e arroz. As grandes fazendas produzindo estas lavouras formaram-se com doações do governo inglês — muito semelhante à maneira pela qual Portugal tinha instalado os sesmeiros no Brasil — e por prêmios concedidos aos colonizadores para estimular a imigração e o povoamento. Na última década da colônia, a de 1760, o fumo dominava a exportação do Sul, e junto com o arroz conseguia uma renda média anual igual à metade do valor médio do açúcar exportado pelo Brasil durante a época colonial. As colônias do Sul vendiam a maior parte de sua produção para a Inglaterra, e, nos fins do século XVII, a renda da exportação do Sul era cinco vezes maior do que a renda das exportações do Norte. Mas a diferença no valor das exportações das duas regiões foi diminuindo, de modo que, na última década da colônia, o Sul ganhava praticamente o mesmo dinheiro que o Norte através de seu comércio exterior. Isso se dava em parte porque as outras colônias do Caribe, tanto as inglesas quanto as espanholas, faziam uma forte concorrência com o fumo e o índigo do Sul. O começo da revolução industrial inglesa no último quartel do século XVIII deu um novo estímulo para a economia do Sul. Para o setor de ponta da revolução industrial, isto é, os têxteis, a matériaprima de algodão era essencial. Os fazendeiros do Sul substituíram suas lavouras em declínio pelas de algodão, e engrenaram na rápida expansão da economia inglesa. Inicialmente, cultivavam a variedade de algodão de fibra comprida, que florescia apenas em certas áreas litorâneas da Geórgia e Carolina do Sul. Logo depois, os fazendeiros introduziram a variedade de fibra curta, que se adaptava melhor às condições de solo e clima variadas. Para acelerar o processo custoso de separar a semente desta fibra curta, o inventor Eli Whitney já em 1794 aperfeiçoou uma máquina descaroçadora que multiplicou por um fator de 50 a quantidade que um homem podia limpar em um dia. Assim, o algodão ficou “rei”, dominando a economia e a sociedade do Sul, contribuindo com sete oitavos da produção mundial desta matéria-prima, e gerando quase dois terços da renda das exportaçõesamericanas nos anos 1836-40. A Inglaterra comprava dois terços deste algodão americano; as fábricas americanas de linha e pano também cresceram nesta época, de modo que três quartos do algodão não exportado foram alimentar os teares do Norte, e um quarto ficou para as fábricas do próprio Sul. Para realizar a produção de algodão, que foi dobrando em cada década até atingir o auge de quase 4,5 milhões de fardos (cada fardo tinha 227 quilogramas) na véspera da Guerra Civil, era necessário terra, dinheiro e mão-de-obra. Na medida que o mercado expandia-se e prevalecia o desinteresse em adubos, rotatividade de lavouras e outras técnicas preservativas de fertilidade nas terras mais velhas, os fazendeiros procuravam as terras mais férteis e mais fáceis de trabalhar com máquinas. Em terras boas, o algodão rendia até três safras por ano. Essas terras encontravam-se no Sudoeste, nos estados limítrofes com o Golfo do México, chegando os fazendeiros, na véspera da guerra, às partes orientais do Texas, além do Rio Mississippi. As grandes fazendas abrangiam mais do que 800 hectares, o que fez com que o tamanho médio da propriedade rural no Sul fosse o dobro do tamanho médio da mesma no Norte. Em propriedades menores também se produzia algodão. Casas comerciais e bancos localizados no Sul em cidades portuárias como Nova õrleans, Mobile, Savannah e Charleston, e no Norte, especialmente em Nova Iorque, emprestaram o dinheiro para o custeio dos fazendeiros de algodão. Aquelas casas também se encarregavam da comercialização e exportação, e de comprar ou importar as necessidades da fazenda, numa maneira muito semelhante àquela pela qual os comissários e casas de correspondentes financiavam e comercializavam a produção de açúcar e café no Brasil. Os comerciantes de Nova Iorque também providenciavam os barcos para as viagens oceânicas e asseguravam as cargas contra acidentes e perdas. Para a mão-de-obra das fazendas, os plantadores importavam escravos africanos ou compravam escravos a outras regiões do Sul. O Governo Federal declarou o tráfico internacional de escravos ilegal em 1808. No Sul, a escravidão continuou sendo uma relação de trabalho muito importante, e um contrabando de africanos escravizados florescia até a guerra (1808-61). O volume médio anual deste contrabando, entretanto, era de 5 000 escravos, cifra que não representou nem um quinto dos escravos contrabandeados anualmente da Ãfrica para o Brasil no período de ilegalidade deste tráfico (1831-50). Como a lavoura de algodão, ao contrário do beneficiamento, não podia ser mecanizada na época, estes escravos eram essenciais para plantar, cultivar, desbastar, colher e secar o produto. Em 1860, aproximadamente a metade dos escravocratas nas áreas de algodão tinham entre 16 e 50 escravos, e um terço dos escravocratas nestas áreas tinha mais do que 50 escravos. No Sul em geral, nesta época, uma em cada quatro famílias tinha pelo menos um escravo. Outras lavouras desempenharam papeis importantes no Sul. O milho cobria uma área três vezes maior do que o próprio algodão e era um alimento básico das pessoas, dos suínos e das galinhas, embora não produzisse rendas monetárias iguais às do algodão. Nos estados do Alto Sul, Virgínia, Carolina do Norte e Kentucky, o fumo mantinha a sua posição, mas contribuiu apenas com 6% das exportações nacionais do quinquênio 1845-49. Em alguns estados havia plantações de cânhamo, arroz e trigo e em Louisiana e Texas concentravam-se os engenhos de açúcar. A indústria no Sul engatinhava em comparação com o Norte, e se concentrava principalmente no beneficiamento de produtos agrícolas. Engenhos de açúcar, moinhos de arroz, milho e trigo e serralherias para a confecção de tábuas, telhas, barris e aguarrás, ao lado de algumas poucas fábricas de linha e pano de algodão, praticamente esgotam a lista. Empresários sulistas exploraram minas de carvão, ferro, cobre e chumbo, mas a transformação destes minerais em produtos finais foi realizada no Norte. Em 1860, o Sul detinha apenas 15% da capacidade industrial nacional e apenas 5% dos escravos foram empregados fora das lavouras. O sistema de transportes no Sul aproveitava os grandes rios perenes, como o Mississippi e os seus muitos afluentes, para a condução de cargas entre as fazendas e os mercados. Companhias ferroviárias construíram apenas 10 500 quilômetros de trilhos no Sul antes da guerra, menos de uma terça parte da rede nacional. Embora o transporte fluvial escoasse bem a produção, ele pouco estimulava o surgimento de indústrias fornecedoras, como vimos acontecer no Norte. As classes sociais A sociedade do Sul, assim como a sua economia, parecia-se muito com a sociedade e a economia brasileiras da época. Na base da pirâmide social ficaram os escravos, a classe mais numerosa. Em 1860 o Sul tinha 3950000 escravos, um pouco mais do que o dobro do número de escravos no Brasil nesta década. Mas estes escravos americanos representaram um terço da população do Sul, o dobro da proporção de escravos na população brasileira. Quáse a metade dos escravos no Sul trabalhava nas fazendas de algodão e a outra metade foi distribuída entre as outras lavouras, as pequenas manufaturas e o artesanato, e os serviços nas vilas e cidades. O fato de que a população escrava americana dobrou entre 1820 e 1860, apesar da ilegalidade do tráfico internacional e do papel relativamente pequeno do contrabando, sugere que as condições de trabalho e da vida do escravo, embora ruins, pelo menos permitiam um crescimento natural da população, com o número de crianças escravas nascidas e sobreviventes excedendo o número de escravos morrendo, o que nunca foi o caso no Brasil em geral. Também se pode constatar que houve menos revoltas de escravos e menos quilombos no Sul dos EUA do que no Brasil. Em todo o século XIX, por exemplo, realizaram-se apenas duas revoltas, uma em Nova Õrleans em 1811 e outra em Virgínia em 1831, embora várias outras tivessem sido planejadas mas descobertas e reprimidas antes de começar. Mas seria um erro sucumbir à tentação de afirmar que a escravidão era mais branda entre os americanos do que entre os brasileiros. Os escravos no Sul sofriam os mesmos castigos como o tronco, marcação de ferro quente, e açoites no pelourinho. Os escravos no Sul defendiam-se através de sabotagem, roubo, fingimento de doenças e ataques físicos contra os feitores e os senhores. Quando o escravo tinha a coragem e encontrava a oportunidade, ele fugia e procurava chegar até os estados do Norte, ou mesmo até o Canadá. Esta fuga foi ajudada por uma rede de coiteiros e informantes chamada “a estrada de ferro subterrânea”. Fugindo de noite, orientando-se pela estrela do Norte, mais de 50OCX) escravos, inclusive os abolicionistas militantes Harriet Tubman, uma exempregada, e Frederick Douglass, um ex-calafate de navios, assim conseguiram a sua liberdade. Os brancos mais pobres, que tinham pelo menos a sua liberdade e o orgulho de sua cor, faziam parte da classe dos pequenos lavradores. Trabalhando sem escravos nas piores terras das montanhas e dos pântanos, estes agricultores tinham normalmente roças próprias onde eles plantavam as culturas de subsistência. Eles eram auto-suficientes, sem ligações importantes com as grandes fazendas. Os negros livres também pertenciam a esta classe, mas eles eram muito poucos. Calcula-se que em 1860 no Sul havia 16 escravos para cada negro livre, enquanto no Brasil em 1.872 a razão era mais do que dois negros livres para cada escravo. Outros agricultores brancos, radicados nas regiões periféricas como o Vale do Rio Shenandoah em Virgínia e a área de capim-do-campo (bluegrass) em Kentucky, criaram frutas, legumes, cereais,batatasdoces e diversos tipos de gado. Eles tinham ajguns poucos escravos, ou empregavam assalariados, e as suas terras eram maiores do que as roças simples dos brancos pobres. Ao contrário do Norte, no Sul faltava uma classe média urbana importante, em parte porque faltavam cidades grandes. A maior cidade sulista em 1860 era Nova Õrleans, com 168000 habitantes, bem inferior a Nova Iorque (1,2 milhões, incluindo o Brooklyn), Filadélfia (565000), e Baltimore (212000), e apenas parecida com Boston e as cidades do velho Noroeste como Cincinnati e Saint Louis. A expansão da rede ferroviária do Nordeste até o Rio Mississippi, na década de 1850, permitiu que Nova Iorque tirasse de Nova Õrleans o privilégio de receber a maior parte das exportações do Oeste e frustrou o crescimento do porto sulista. No cume da pirâmide social do Sul, dominavam os grandes fazendeiros, que tinham os melhores solos, e os maiores planteis de escravos. De todos os fazendeiros produzindo algodão com escravos, os dez por cento mais ricos detinham 61% dos escravos e 68% da produção de algodão. Esta oligarquia considerava-se uma aristocracia, com tudo menos os títulos. Como a elite urbana no Norte, a elite rural no Sul patrocinava as artes, as boas maneiras e a vida suntuosa. Diferente do que a sua contrapartida no Norte, a oligarquia sulista gostava da carreira militar, recorria ao duelo como uma maneira honrada de resolver diferenças entre gente livre, e tinha poderes de vida e morte sobre os escravos, com os quais o Estado quase nunca interferia. Esta oligarquia de fazendeiros ricos dividia o poder político do Sul com donos das grandes casas de exportação e importação. Através de suas ligações comerciais com as firmas do Norte, que financiavam e compravam a sua produção, a oligarquia manteve uma rede de interesses comuns com a classe dominante nortista até a Guerra Civil. O Oeste O Oeste significava uma área de fronteira dinâmica, não uma região específica. Nos meados do século XVIII, o Oeste denotava a área entre as Montanhas Apalaches e a margem leste do Rio Mississippi, além do qual as terras eram reivindicadas pela França, a Espanha e a Inglaterra. Cem anos depois, o Oeste veio a indicar a área além do Rio Mississippi até o Oceano Pacífico. Aos poucos esta área foi incorporada aos EUA, através da compra e da conquista. Quando no começo do século XIX, Napoleão precisava de dinheiro para guerrear contra os ingleses, o presidente americano Thomas Jefferson aproveitou e comprou por 15 milhões de dólares em 1803 o território de Louisiana. Esta área estendia-se desde o Golfo do México até o Canadá no Norte, e até as Montanhas Rochosas no Oeste, e deu para os EUA controle total sobre o Rio Mississippi. os seus afluentes ocidentais dos Rios Missouri, Arkansas e Vermelho, e o porto de Nova Ôrleans. A incorporação das terras mais ao Oeste do Rio Mississippi acelerou-se depois de 1821. Para proteger o seu sistema colonial, a Espanha tinha proibido às nações estrangeiras de fazer comércio com o México. Mas quando o México conseguiu a sua independência da metrópole espanhola em 1821, a nova nação imediatamente abriu-se para o comércio e a colonização estrangeira e os americanos não tardaram em aproveitar. Sulistas levando os seus escravos entraram no distrito do Texas, do estado mexicano de Coahuila, e se radicaram perto dó Golfo do México, onde começaram a plantar algodão e milho. A pequena colônia floresceu, e em 1835 a sua população americana já excedeu a mexicana no Texas por uma taxa de mais de 8 para 1. Os americanos anglo-saxônicos e protestantes desprezaram os mexicanos latinos e católicos, e se ressentiram das pressões mexicanas de abolir a escra- vidão, ilegal no México desde 1829. Pressões exercidas também para limitar o influxo de mais imigrantes americanos, para suspender a distribuição de terra, e para negar autonomia política ao Texas. Rebelando-se e derrotando os exércitos mexicanos, os americanos estabeleceram a República do Texas, também conhecida como a República da Estrela Solitária (a bandeira tinha uma só estrela), em 1836. Esta República durou 10 anos. Em 1845, quando a Inglaterra e a França mostraram-se interessadas numa aliança com o Texas — um produtor considerável de algodão, açúcar e gado a essa altura — o governo americano do Presidente James Knox Polk, com pleno apoio dos texanos, rapidamente anexou a pequena nação. Outros americanos entraram no México independente, na área do estado de Alta Califórnia. Chegando por via de uma viagem de barco a vela ao redor do Cabo de Hornos, estes americanos venderam todo tipo de manufatura aos fazendeiros e missionários da Califórnia, e compraram couros e sebo, para a fabricação de sapatos e velas. Este comércio levou ao estabelecimento de feitorias e, na década de 1840, às primeiras migrações por terra até a Califórnia, e à criação de pequenas colônias agropecuárias no Vale do Rio Sacramento. Os EUA anexaram a Califórnia através de uma guerra com o México. Quando este país recusou-se a negociar a venda da área a oeste do Texas, o governo de Polk, receoso de que o México vendesse a área para a Inglaterra ou a França, declarou guerra, justificando-se com a doutrina popular de “destino manifesto”, segundo a qual o próprio Deus queria que os EUA chegassem até o Pacifico. Depois de 21 meses de vitórias seguidas contra os mexicanos, incluindo acaptura do porto principal de Vera Cruz e da capital. Cidade do México, os EUA compraram pelo preço de 15 milhões de dólares quase a metade do território nacional mexicano, uma área hoje em dia compreendendo os estados da Califórnia, Nevada, Utah e partes do Arizona, Novo México, Colorado e Wyoming. Para maior desgosto dos mexicanos, logo depois de concluir a venda forçada em 1848, descobriu-se ouro na Califórnia. Em 1853, os EUA pagaram mais 10 milhões ao México para uma faixa de território no sul do Arizona e Novo México, onde se pensava construir uma estrada de ferro até a Califórnia, e onde, de fato, descobriu-se logo depois minas de ouro e de prata. Os EUA não precisaram fazer guerra para anexar o território do Oregon no extremo Noroeste, na área hoje composta pelos estados de Oregon, Washington, Idaho e partes de Montana e Wyoming. Por um acordo de 1818, os ingleses e os americanos deram-se direitos mútuos de explorar esta área. Os ingleses entraram primeiro em 1821, quando a Companhia da Bahia de Hudson começou a caça ao castor e outros animais apreciados por suas peles. Nos meados da década de 1830, missionários metodistas e presbiterianos dos EUA lideraram caravanas de migrantes para o Oregon, mais à procura de terras novas do que de almas indígenas para converter. Uma centena de pessoas em dez a vinte carroções cobertos de lona, as famosas “escunas das pradarias”, acompanhados de seus rebanhos de gado e cavalos, seguiram cada ano, a partir de 1842, com destino ao Vale do Rio Willamette. Estimulada por propaganda nos EUÁ, a migração para o Oregon cresceu, e a população americana lá ultrapassou a inglesa por uma razão de 6 americanos para cada inglês, em 1845. No ano seguinte, o Presidente Polk pediu aos ingleses a abdicação de suas pretensões no Oregon. Com a caça rareando, e a pouca esperança de igualar a colonização americana, os ingleses concordaram em se retirar, em troca de uma linha divisória fixa na latitude de 49°, e uma tarifa aduaneira que favorecia as exportações inglesas para os EUA. Nos anos de 1803 a 1853, os EUA tinham estendido a sua fronteira do Rio Mississippi até o Pacífico, e triplicado o território nacional. Quais as atividades econômicas que motivaram esta expansão? Nas décadas de 1820 a 1840, uma das atividades mais importantes foi acaça de animais como castor, veado e bisão, na Região das Montanhas Rochosas. Inicialmente as companhias comerciais conseguiram as peles através de escambo com os índios das tribos Blackfoot, Crow, Grosventre e Blood, mas a partir de 1822 as companhias incentivaram os brancos, os “homens das montanhas”, a passar o ano caçando isolados para depois se reunirem todos para vender aos representantes das companhias. Esta caça prosseguiu por vinte anos, até que não havia mais animais suficientes para pagar as despesas. Nas mesmas décadas florescia o comércio com o México através do entreposto de Santa Fé. Aberta ao comércio estrangeiro pela independência mexicana. Santa Fé tornou-se um pólo de atração para americanos aventureiros que levaram pelo “Caminho de Santa Fé” os têxteis, ferragens e bugigangas para trocar por ouro, prata, peles e mulas. Este comércio durou até a década de 1840, quando as tensões políticas na fronteira provocaram restrições por parte dos mexicanos. Em algumas áreas como os vales férteis da Califórnia e do Oregon, e na região a leste e ao sul do Grande Lago Salgado, onde os dissidentes religiosos chamados Mórmons souberam irrigar e cultivar conforme um plano cooperativista a partir de 1847, a agricultura e a pecuária em pequena escala fincaram raízes. Mas as pequenas populações e as grandes distâncias dos centros maiores impediram que muitas fazendas do Oeste chegassem a se integrar economicamente com o resto da nação, até depois da Guerra Civil, quando os trilhos das estradas de ferro ligaram o Oeste ao Norte e ao Sul. Sem dúvida, a atividade econômica mais rentável no Oeste, antes da guerra, era a mineração. A descoberta de ouro na Califórnia em 1848, de ouro no Colorado em 1858, e de ouro e de prata em Nevada em 1859, provocaram corridas frenéticas de dezenas de milhares de americanos e europeus sonhando em fazer suas fortunas. De fato, os primeiros a chegar muitas vezes conseguiram enriquecer: no primeiro ano de exploração, as minas da Califórnia produziram 10 milhões de dólares, e no auge da extração, em 1852, a produção subiu para 81 milhões, aproximadamente seis a sete vezes o valor anual do açúcar exportado por Louisiana e de um terço a um quarto do valor do algodão produzido pelo Sul nos melhores anos antes da guerra. Só o filão de Comstock em Nevada rendeu 300 milhões em vinte anos de exploração. Desde que a produção mineira ocorreu em regiões isoladas cujas populações somadas mal ultrapassavam 400000 pessoas, possibilitando uma renda per capita altíssima, é fácil apreciar a atração exercida por ela sobre os migrantes. As classes sociais Até a época da mineração, o maior grupo no Oeste era o dos índios das tribos como Sioux, Nez Percé, Arapaho, Comanche, Osage, Pawnee, Cheyenne, Yuma, Blackfoot, Crow e Apache. Estes índios, nômades de uma cultura neolítica, tinham incorporado como meio de transporte o cavalo, introduzido pelos espanhois no México colonial. Os índios viviam principalmente da caça e da pesca. Fora da Califórnia e do Oregon, onde foram reduzidos a trabalhadores nas fazendas, poucos índios integravamse na sociedade dos brancos e muitos resistiam a estes com uma guerra de guerrilhas baseada nas táticas de cavalaria. Os brancos trabalhavam nas suas próprias fazendas, ajudados pelas famílias, ou alguns vaqueiros assalariados, com a exceção das áreas como Califórnia e Oregon, perto do Oceano Pacífico, onde a possibilidade de escoar a produção por mar incentivou a criação de maiores fazendas com turmas grandes de trabalhadores indígenas. As minas trouxeram inicialmente uma população de garimpeiros que viviam catando ouro e prata na superfície da terra e nos riachos. Quando estes depósitos esgotaram-se, entraram as grandes companhias mineiras, que cavavam longos túneis subterrâneos, e instalaram moinhos para quebrar a pedra e o quartzo retirados. Como a procura de ouro e prata exigia tempo integral dos mineiros, ao redor das minas surgiram pequenas vilas vendendo alimentos, roupas, ferramentas e outras mercadorias essenciais, e oferecendo serviços para o lazer dos mineiros como o jogo e a prostituição. Assim, o Oeste parecia a terra da oportunidade para todos, onde nem grandes capitais nem grandes extensões de terras eram os privilégios de poucos, mas cada homem com os seus próprios esforços podia construir uma vida digna. Talvez por este motivo, o Oeste tornou-se muito cobiçado pelo Norte que esperava que lá a pequena e média propriedade desenvolveriam uma agricultura e uma pecuária voltadas para o abastecimento das grandes populações do Norte, e para a compra das suas manufaturas. Era cobiçado também pelo Sul, que esperava poder aproveitar as terras além do Texas, para a expansão da lavoura de algodão e outras plantas, trabalhando com a mão-de-obra escrava. Como veremos, era o conflito entre estas duas visões do Oeste que aguçava as tensões que levaram à Guerra Civil. AS CAUSAS DA GUERRA Quando a Guerra Civil começou, ninguém devia ter ficado muito surpreso, porque os conflitos de interesse entre Norte e Sul, e a incapacidade crescente dos meios tradicionais de resolvê-los, tinham uma longa história que remonta às próprias origens da república americana. Os políticos tinham encontrado diversas maneiras de contornar, adiar ou ignorar estes conflitos antes de 1861. O início da guerra significou que tais meios pacíficos não funcionavam mais. Quais eram os pontos principais de conflito entre Norte e Sul? Um deles foi a questão da tarifa sobre importações. Desde 1816, o Norte queria que este imposto fosse elevado o bastante para oferecer alguma proteção contra a concorrência de matériasprimas e manufaturas importadas; o Sul, e por um certo tempo o Oeste, queriam que o imposto fosse sempre baixo, para assim permitir que estas regiões, que não tinham manufaturas tão importantes quanto o Norte, pudessem importar as suas necessidades pelos preços mais baratos possíveis. Os debates sobre a tarifa repercutiram durante as décadas antes da Guerra Civil. Quando o Congresso aprovou uma nova lei de tarifa alta em 1832, os representantes da Carolina do Sul protestaram, convocando uma assembleia no seu estado. Nesta assembleia os participantes declararam que tal tarifa era “nula, vazia e nenhuma lei, sem obrigação para este estado, os seus funcionários, ou os seus cidadãos”. A assembleia proibiu aos funcionários da alfândega que cobrassem o novo imposto, e ameaçou que qualquer tentativa de forçar o estado a obedecer às leis seria “incompatível com a permanência da Carolina do Sul na União”. O Vice-presidente John C. Calhoun, da Carolina do Sul, defendia a legalidade de um estado invocar “a doutrinha de nulificação” para tornar leis federais sem' efeito, e ele se demitiu no meio da crise, que só foi resolvida em 1833, quando o Presidente Andrew Jackson e os protecionistas do Norte concordaram em diminuir o nível da tarifa. O imposto sobre manufaturas importadas ficou gradativamente reduzido até chegar aos 20% do valor em 1842, para depois flutuar entre 20% e 30% até a Guerra Civil. Um segundo ponto de atrito entre Norte e Sul, que também envolvia o Oeste, era a questão do acesso às terras novas conquistadas ou compradas aos índios, ao México e à França. Inicialmente a política territorial visava a venda destas terras públicas, como uma medida de arrecadar dinheiro para o Governo Federal. Nas primeiras leis de terras (1785, 1796), o Congresso impôs preços elevados a serem pagos à vista, ou com 50% de entrada, e grandes parcelas mínimas de 259 hectares. Os capitalistas do Norte apoiavam estas leis, porque receavam que, se as terras do Oeste fossem de fácil aquisição, os operários deixariam as fábricas ou forçariam um aumento dossalários. Eles também se opuseram aos esquemas de vender as terras pobres mais barato, e de permitir que os posseiros tivessem a preferência para comprar as terras onde residiam. Contra os defensores de terras caras, formou-se uma aliança forte. Os pequenos proprietários do Norte queriam terras mais baratas, porque previram que eles ou os seus filhos poderiam formar novas fazendas mais para o Oeste. Os operários, mesmo quando não dispostos a trocar a fábrica pela fazenda, perceberam que, se os imigrantes tivessem acesso fácil à terra, haveria menos concorrência no mercado de trabalho fabril. Na década de 1840, surgiu em Nova Iorque o Partido de Solo Gratuito, liderando um movimento popular reivindicando a distribuição gratuita das terras públicas. Estes nortistas argumentavam que o Oeste funcionaria como uma válvula de escape para as tensões sociais nas cidades do Leste. No seu auge, eles conseguiram 10% da votação popular nas eleições presidenciais de 1848, e na década de 1850 continuavam a agitar. Os sulistas apoiavam as reivindicações de terra barata, porque imaginavam que as terras do Oeste prestavam para as suas lavouras, e porque eles receavam que sem o dinheiro das vendas de terras o Governo Federal teria que aumentar o imposto sobre a importação. Os fazendeiros do Oeste perto do rio Mississippi sentiam-se à vontade em aliança com o Sul, porque eles escoavam a sua produção através de Nova Órleans e vendiam muito para o consumo do Sul. Como consequência desta aliança entre elementos do Norte, do Sul e do Oeste, as novas leis de terras do século XIX (1800, 1804 e 1820) tendiam a facilitar a aquisição a mais longo prazo, e por preços inferiores, e em parcelas mínimas menores. Quando o avanço do algodão para o Oeste chegou aos seus limites naturais no Texas, na década de 1850, as regiões trocaram de posição a respeito da disposição das terras públicas. Agora, os políticos do Sul, acreditando que o território entre Texas e Canadá constituía “o Grande Deserto Americano”, tanto que o exército federal importou camelos para transportes em 1856 e 1857, desistiram de apoiar o fácil acesso a essas terras. No Norte, por outro lado, os empresários perceberam que o crescimento, no Oeste, de propriedades agrícolas e pecuárias aumentaria a oferta de gêneros alimentícios às cidades, baixaria o custo de vida, e assim contribuiría para que os salários não aumentassem tanto. Os políticos nortistas também perceberam que, se eles apoiassem o Oeste para abrir as terras ao povoamento, podiam receber em troca o apoio do Oeste para tarifas aduaneiras mais elevadas. Um terceiro ponto de atrito entre Norte e Sul visava à natureza de bancos e dinheiro. Os centros de finanças no nordeste emprestavam ao país inteiro o capital acumulado por décadas nos negócios do comércio, e portanto eram centros de credores. Eles queriam um banco nacional com direitos exclusivos de emitir dinheiro, e queriam o fim das múltiplas variedades de dinheiro emitido por bancos particulares licenciados pelos governos estaduais, variedades que circulavam conforme a fama de cada banco e o seu estado. Eles queriam também um dinheiro “forte”, que, quando usado para pagar uma dívida, tivesse o valor real correspondente ao valor impresso na cédula. Os fazendeiros do Sul e do Oeste, ao contrário, grupos devedores na sua maior parte, favoreciam maior flexibilidade das emissões de dinheiro, e um dinheiro mais inflacionado, que facilitaria o pagamento de suas dívidas. Estes grupos apoiavam medidas inflacionárias também porque, ganhando em libras e francos por causa de seu grande envolvimento no comércio exterior, na hora de cambiar esta moeda estrangeira eles receberiam mais dinheiro nacional se este estivesse desvalorizando-se. Por estes motivos, as classes dominantes e populares do Sul e do Oeste se juntaram contra os centros credores do Norte para derrotar projetos de manter um banco nacional depois de 1836. O quarto ponto de atrito entre o Norte e o Sul visava o que era chamado de “melhoramentos internos”. Inicialmente esta frase queria dizer estradas, canais e melhoramentos de portos, todos custeados pelo Governo Federal. Quando começou a época das estradas de ferro, os melhoramentos internos significaram subsídios federais para ajudar nà sua construção. O Norte e o Oeste, em geral, favoreciam os programas federais de melhoramentos internos, porque eles iam ganhar novos mercados e lucrar com a extensão das redes de transportes. Mas os fazendeiros do Sul desconfiavam de que eles teriam que pagar uma grande parte do custo destes melhoramentos através de elevados impostos na alfândega, sem receber os benefícios, uma vez que o sistema fluvial tornou tais melhoramentos no transporte terrestre menos importantes no Sul. Na década de 1850. com a descoberta das minas no Oeste, muita gente pensava em promover a construção de uma estrada de ferro transcontinental, com ajuda do Governo Federal, que traria vantagens para todas as regiões. Mas cada cidade maior, ao longo do Vale do Rio Mississippi, queria ter o terminal oriental dos trilhos, e. nesta concorrência regional sobre o traçado. frustraram-se os projetos de subsidiar a construção. A escravidão As questões da tarifa das terras públicas, do banco nacional e dinheiro forte e dos melhoramentos internos, dividiam as regiões. Mas nem todo atrito político explode em guerra civil, e através dos dois partidos políticos principais, os Whigs e os Democratas, estas diferenças foram negociadas. Os Whigs representaram os grandes comerciantes e manufatureiros do Norte, os fazendeiros mais ricos e das famílias com maiores pretensões aristocráticas no Sul, e os fazendeiros mais interessados em melhoramentos internos no Oeste. Os Whigs defendiam um papel maior para o Governo Federal na promoção da economia e a regulação da sociedade, e ganharam as eleições presidenciais em 1840 e 1848. Mas estas vitórias aconteceram menos como resultado da popularidade dos ideais dos Whigs, do que da circunstância de que os candidatos dos Whigs também eram herois militares das guerras contra os ingleses, os índios e os mexicanos. Os Democratas tinham o apoio dos pequenos comerciantes e fazendeiros do Norte e do Oeste, dos trabalhadores urbanos e imigrantes no Norte e dos fazendeiros menores no Sul. Eles defendiam uma filosofia politica do laissez-faire, acreditando que o Governo Federal devia-se abster de se intrometer na economia e na sociedade. Por sua base popular maior, os Democratas ganharam as eleições presidenciais de 1828, 1836, 1844, 1852 e 1856. Durante o período de 1828 a 1854, estes dois partidos políticos conseguiram apoio em todas as três regiões dos EUA, sem que qualquer um deles se identificasse demais com qualquer uma das regiões. Isso foi feito de tal maneira que foi possível que o Congresso Federal debatesse, repetidamente, todos os pontos de atrito entre as regiões, e encontrasse resoluções parciais negociadas entre os representantes do Norte, Sul e Oeste. Nenhum destes pontos de atrito, portanto, deve ser considerado o grande responsável pela Guerra Civil. A escravidão, porém, provocou conflitos muito mais profundos do que estes. Esta relação de trabalho escravo, generalizada apenas no Sul, claramente diferenciava esta sociedade da do Norte. Os sofrimentos dos escravos nas fazendas e as crueldades com as quais os capitães-do-mato perseguiram e trouxeram de volta os fugitivos, excitaram as paixões morais no Norte. Os debates sobre a escravidão eventualmente polarizaram os partidos políticos e desembocaram na Guerra Civil. Ao longo dos 85 anos entre a declaração da independência e o começo da Guerra Civil, as brigas políticas mais sérias estouravam nos momentosde debater a escravidão. Na Ordenança do Noroeste de 1787, os representantes dos novos estados da então chamada Confederação dos Estados Unidos da América concordaram que o território ao noroeste do Rio Ohio, bem ao norte dos então limites da agricultura sulista, seria livre da escravidão. Mas pressões sulistas fizeram com que eles também garantissem que qualquer escravo fugido para tal território teria de ser devolvido ao seu dono. No mesmo ano, as deficiências diversas da Confederação induziram a convocação de uma constituinte para reformular as bases do governo central. Nesta constituinte, realizada em Filadélfia, os delegados do Norte e do Sul entraram em conflito sobre a escravidão, e foi feita uma série de acordos. Uma questão foi a da representação da Câmara dos Representantes do Congresso Federal. Os comerciantes do Nordeste temiam que. se a representação fosse calculada como uma proporção da população total, os fazendeiros do Sul ganhariam um poder político exagerado, porque incluiriam o número de seus escravos, embora os escravos não tivessem direito político algum. Os nortistas chegaram a perguntar: se os sulistas podiam contar com os seus escravos para aumentar a sua representação, por que os nortistas não podiam contar com o seu gado? Por outro lado. os sulistas não queriam que os impostos federais fossem cobrados na base da população, incluindo os escravos. Se incluíssem, a carga tributária seria muito mais pesada para os contribuintes do Sul, isto é, os livres, do que para os contribuintes do Norte. Para sair do impasse, os constituintes concordaram em considerar um escravo como o equivalente a três quintos de um livre, tanto para o cálculo da representação, quanto para o dos impostos. Os constituintes também consideraram o tráfico internacional de escravos e os escravos fugidos, e encontraram soluções favoráveis ao Sul. Eles resolveram não debater o fechamento do tráfico internacional antes de 1808, mas permitir que se cobrassem impostos sobre este tráfico. Também os sulistas garantiram o direito de reaver os escravos fugidos, mesmo quando estes fugiam para estados sem escravidão. Quando em 1808 o Congresso aprovou a lei proibindo o tráfico internacional de escravos, o Sul aceitou a decisão sem problema. Como no Brasil, onde uma medida semelhante foi aprovada em 1850, as áreas do Alto Sul plantadas com arroz e fumo já tinham muitos escravos e a lei serviu para valorizálos. As áreas de crescimento mais rápido no Baixo Sul sustentaram um contrabando pequeno, mas a fonte principal de novos escravos para o algodão era o ventre da mãe escrava e o tráfico interno, que drenava escravos dos estados do Alto Sul para as fazendas do Baixo Sul. Na sociedade civil, uma das primeiras reações à escravidão ocorreu, em 1816, quando um grupo de brancos ricos em Virgínia criou a Sociedade Americana de Colonização. Esta Sociedade partia do princípio de que a melhor solução para a escravidão era a emigração dos negros. Eles ganharam apoio no Alto Sul, atraindo escravocratas querendo se livrar dos negros subversivos e atraindo abolicionistas céticos da possibilidade da coexistência entre negros e brancos. O governo do Presidente James Monroe, em 1819, comprou terras na África ocidental para os negros emigrados. Até a Guerra Civil, esta Sociedade convenceu apenas 12 000 negros a emigrar, mas era o( bastante para criar a República de Libéria, em 1846, com a capital de Monróvia. O próprio presidente Abraham Lincoln, posteriormente autor da abolição, apoiava esta colonização de negros americanos na África, América Central e no Caribe. O atrito entre Norte e Sul agravou-se muito nas discussões sobre a organização política do Oeste, e sempre a questão da escravidão transparecia nestes debates. A referida Ordenança de 1787 estabeleceu algumas regras para o Oeste. Na medida que os americanos fossem povoando estes territórios, eles passariam a ser governados por pessoas nomeadas pelo Congresso. Quando tivesse pelo menos 5000 homens livres, o território podia eleger uma assembleia legislativa própria. Ao chegar aos 60000 habitantes, o território podia escrever a sua própria constituição e pedir sua admissão como estado à União. Assim, até 1820, entraram na União mais nove estados. No Norte, e proibindo especificamente a escravidão nas suas constituições, entraram Vermont (1791) , Ohio (1803), Indiana (1816) e Illinois (1818). No Sul, permitindo a escravidão, entraram Kentucky (1792) , Tennessee (1796), Louisiana (1812), Mississippi (1817) e Alabama (1819). Incluindo os treze estados originais, manteve-se um equilíbrio entre onze estados livres e onze estados escravistas. Tal equilíbrio foi ameaçado em 1819, quando o território de Missouri, na margem leste do Rio Mississippi, pediu admissão como um estado escravista, e um representante de Nova Iorque apresentou uma emenda estipulando a abolição gradual da escravidão no Missouri. Os sulistas reagiram fortemente e os nortistas tiveram que suprimir a emenda e deixar o Missouri entrar como estado escravista. Em troca, o Norte ganhou a entrada do estado livre do Maine, e uma proibição da escravidão no Oeste ao norte da latitude 36’ 30”, com a exceção do Missouri, que se comprometeu a nunca barrar a entrada de negros livres. Estes “Acordos do Missouri”, como a barganha ficou conhecida, efetivamente diminuíram a área do Oeste que tinha sido deixada aberta para a escravidão pela lei de 1787, e reafirmaram o poder do Congresso Federal de interferir com um direito de propriedade e legislar sobre a escravidão, no Oeste. Mas também garantiram que, no Congresso Federal, o equilíbrio entre os senadores e representantes das áreas livres e escravistas seria mantido. Este equilíbrio não se alterou durante a década de 1830, quando o Arkansas entrou na União como estado escravista em 1836, e o Michigan entrou como estado livre em 1837. Da mesma forma, na década de 1840, a Flórida e o Texas entraram como estados escravistas em 1845, e Iowa e Wisconsin entraram como estados livres em 1846 e 1848, respectivamente. Na mesma época em que os políticos no Congresso realizaram os acordos mantendo o equilíbrio entre os estados escravistas e os estados livres, a primeira campanha de abolicionismo radical surgia em Boston, Massachusetts, em 1829. Iniciado por um negro livre, David Walker, que pregava aos escravos “matem, ou sejam mortos”, o movimento tinha como seu líder principal o redator William Lloyd Garrison. Garrison publicava o jornal O Libertador, de 1831 a 1865, no qual se reivindicava a abolição imediata e sem indenização. Ele ajudou a fundar a Sociedade Americana contra a Escravidão em Filadélfia, em 1833, e durante a década de 1830 estes abolicionistas circularam propaganda pelo correio, promoveram conferências e inundaram o Congresso com abaixoassinados. O movimento enfatizava a imoralidade da escravidão, e Garrison condenava tanto o governo quanto as igrejas como cúmplices dos escravocratas. Garrison defendia um anarquismo cristão que repudiava a força, as leis e os governos. Outros grupos fora do governo também lutavam contra a escravidão. Abolicionistas negros como Fre derick Douglass, Harriet Tubman e Sojourner Truth pregaram a favor da causa, e 17 jornais negros circulavam no Norte antes da Guerra Civil. O Partido da Liberdade, fundado em 1840 por abolicionistas não anarquistas, apresentou o primeiro candidato, em eleições presidenciais de 1840 e 1844, que defendia a exclusão da escravidão dos territórios, o fim do trá-i fico interestadual, e a abolição na capital federal de Washington, D.C. Entretanto, este partido ganhou poucos votos, e praticamente se fundiu com o Partido de Solo Gratuito em 1848. Os movimentosabolicionistas no Norte antes de 1850 não atraíram mais apoio devido a duas circunstâncias. Primeiro, as elites do Norte mantinham estreitas relações comerciais com .os fazendeiros do Sul, e não tinham interesse em provocá-los. Segundo, os operários do Norte receavam que os negros livres concorressem no mercado de trabalho, e rebaixassem o nível dos salários. Ambas as classes guardavam fortes preconceitos raciais contra os negros. Muitas vezes os abolicionistas foram corridos de seus pódios, e pelo menos um redator, Elijah Lovejoy, foi linchado em Illinois, em 1837. Seria necessário que os meios políticos se mostrassem incapazes de resolver o conflito sobre a escravidão, e que as paixões morais se exacerbassem tanto no ataque quanto na defesa da escravidão, para que um movimento político emergisse com a força precisa para precipitar uma crise definitiva da questão. Este movimento apareceria na década de 1850, e teria como o seu elemento principal o Partido Republicano. O fim dos acordos Na década de 1850, a capacidade de realizar acordos políticos ao nível nacional esgotou-se. Isto aconteceu por dois motivos principais. Primeiro, o próprio crescimento demográfico mais rápido no Norte fez com que o número de representantes nortistas na Câmara superasse definitivamente o número de representantes sulistas. Como a Tabela 2 demonstra, em 1820, quando houve os Acordos de Missouri, a diferença entre as populações do Norte e do Sul era pequena; mas em 1850 esta diferença pesava bastante em favor do Norte. Indicativo desta mudança foi o fato de que a Câmara dos Representantes, onde a representação era diretamente proporcional à população, aprovasse um projeto de David Wilmot, da Pensilvânia, em 1848, segundo o qual a escravidão ficaria proibida nos territórios conquistados através da guerra com o México. Mas no Senado, onde cada estado tinha a mesma representação, os senadores do Sul conseguiram derrotar o projeto repetidamente. TABELA 2 — POPULAÇÃO AMERICANA POR REGIÕES (mllhdei de posou) Ano Norte Sul 1790 1,96 1,96 1820 5,22 4,42 1850 14,21 8,98 1860 20,70 9,15 Em segundo lugar, nos novos territórios do Oeste, as condições de solos, de climas mais áridos e mais frios e a maior distância dos mercados não favoreciam a expansão da escravidão. Assim, em 1849 e 1850 os territórios da Califórnia e do Novo México — que incluíam todas as terras entre o Texas e a Califórnia — e de Deseret — que incluía toda a área ao norte do Novo México e ao sul do Oregon — pediram entrada na União como estados livres. Os sulistas não encontraram uma contrapartida de territórios escravistas. Então, eles abandonaram o velho jogo de equilibrar as entradas de estados novos, e descobriram novas maneiras de preservar o equilíbrio político. Pelo Acordo de 1850, a Califórnia entrou sem escravidão e o tráfico de escravos foi proibido na capital federal, o Distrito de Colúmbia. Mas o preço para o Norte foi caro. O Deseret ou Utah, como vinha a ser chamado, e o Novo México não entraram na União e ficaram como territórios, até 1896 e 1912 respectivamente, e sem definição alguma sobre a legalidade da escravidão. O estado escravista do Texas recebeu 10-milhões de dólares para desistir de suas reivindicações de partes do Novo México. Certamente, a concessão mais importante para o Sul neste Acordo de 1850 foi uma nova e muito severa lei sobre escravos fugitivos. Esta lei estipulava que qualquer pessoa acusada de ser um escravo fugitivo perdia os direitos ao processo por júri e de dar testemunho. Com apenas a declaração por escrito do alegado senhor, ela tinha que ser devolvida àquele. Quem ajudasse a fuga teria que pagar multas e danos de um total de até S2.000; o juiz que desse ganho ao senhor receberia $10, mas se desse ganho ao escravo receberia apenas $5. Além de todas estas cláusulas contra o fugitivo, a lei foi promulgada retroativamente, em violação aberta à Constituição. O Acordo de 1850 encontrou aceitação no Norte e no Sul, embora quatro estados sulistas convocassem reuniões para discutir a secessão da União, porque, como nos acordos anteriores, este deu vantagens para as duas regiões. O Acordo também funcionou porque a conjuntura econômica da época permitia uma certa prosperidade, que inibia o acirramento das paixões. No Norte, os homens de negócios estavam enriquecendo com o movimento provocado pela descoberta de ouro na Califórnia, e pela rápida extensão das estradas de ferro. Depois que a Inglaterra aboliu em 1846 as Leis do Trigo, que por décadas tinham barrado importações de alimentos básicos para defender os negócios dos grandes proprietários rurais ingleses, os fazendeiros nortistas entraram de cheio no novo mercado inglês. Os comerciantes do Norte também estavam lucrando com as vantagens da aceleração do comércio internacional, que resultaram destes novos mercados e dos velozes barcos Clipper e barcos a vapor. No Sul, os fazendeiros de algodão tiveram anos prósperos no começo da década de 1850, porque os preços do algodão, depois de uma queda na década anterior, estavam em ascensão novamente, devido aos melhoramentos introduzidos na indústria têxtil no Norte, na Inglaterra e na Europa. E os fazendeiros de fumo, com variedades e técnicas novas, gozaram também de uma recuperação. Mas, se o Acordo de 1850 satisfez aos líderes políticos das duas regiões, ele elevou a questão da escravidão a um novo patamar de consciência popular. A nova lei sobre escravos fugitivos incentivou muitos escravocratas e capitães-do-mato a viajar para o Norte, onde eles prenderam impunemente a negros, acusando-os de ser fugitivos, e levando-os de volta para o Sul. Os operadores da “estrada de ferro subterrânea”, que antes tinham o seu terminal nos estados do Norte, agora estenderam o seu sistema de coiteiros e informantes até o Canadá, especialmente a província central de Ontário, para onde se dirigiram vários milhares de pessoas de cor. Alguns estados do Norte aprovavam "leis de liberdade pessoal”, que garantiram aos fugitivos os mesmos direitos negados pela lei federal, e impuseram multas para quem cumprisse tal lei. Em Massachusetts, houve motins populares tentando, em vão, impedir que supostos fugitivos fossem retirados do estado. O romance lacrimoso de Harriet Beecher Stowe, A Cabana do Pai Tomás, dramatizou os males da escravidão e especialmente os sofrimentos dos fugitivos. Este livro apareceu em 1852, vendeu um milhão de exemplares em dois anos, conseguiu ser proibido no Sul e inspirou várias peças de teatro popular. Na época do Acordo de 1850, alguns senadores tinham cogitado em tirar a questão da escravidão do Congresso Federal e deixar para a.população de cada território resolver como bem entendesse. Esta sugestão, conhecida como “a doutrina de soberania popular”, ganhou força quando os territórios do Kansas e de Nebraska pediram admissão na União, em 1853. Os congressistas do Norte queriam admitir estes estados como livres, e o Senador Stephan Douglas de Illinois, estado do velho Noroeste, interessouse especialmente pelo projeto. Douglas queria ganhar o apoio das populações destes territórios para a construção de uma estrada de ferro transcontinental com terminal em seu estado de Illinois. Mas a resistência dos Sulistas fez com que Douglas procurasse evitar a questão da escravidão através de um apelo para a doutrina da soberania popular. A Lei de KansasNebraska foi aprovada nestes termos, com cada território entrando na União como determinariam os seus habitantes. Efetivamente, o Congresso derrubou os Acordos do Missouri, de 1820, que delimitaram áreas proibidas para a escravidão no Oeste. Ao contrário do que esperavam os seus proponentes, a Lei de Kansas-Nebraska nãodiminuiu as tensões sobre a questão da escravidão, mas provocou diversas reações fortes. No Norte, muitos militantes dos partidos Whig, Democrata e Solo Gratuito, todos hostis à extensão da escravidão aos territórios, cindiram com os seus correligionários e criaram o Partido Republicano, em 1854. Este partido cresceu tão rapidamente que no mesmo ano, em aliança com o Partido Americano, os “sabe-nadas”, que se opuseram à imigração maciça e especialmente à imigração católica, ganharam a maioria na Câmara dos Representantes, e os governos em vários estados do Norte. A Lei de Kansas-Nebraska também fez explodir a violência. Conforme a lei e a doutrina da soberania popular, os próprios habitantes do Kansas e de Nebraska resolveriam a legalidade da escravidão nos seus respectivos estados. Imediatamente, sulistas do Missouri e, depois, números equivalentes de nortistas vindos de tão longe como da Nova Inglaterra migraram para o Kansas, para influenciar na decisão. Cada lado andava armado, os tiroteios tornaram-se constantes, e mais de 200 pessoas morreram nos conflitos. Num dado momento, o Kansas tinha um governador, uma assembleia legislativa e uma constituição pró-escravidão e outro governador, assembleia e constituição antiescravidão. Depois de quatro meses da guerra de guerrilhas que “fez Kansas sangrar”, o Governo Federal enviou tropas e acalmou os ânimos. Alguns sulistas ambicionaram encontrar novos territórios para a escravidão além das fronteiras nacionais. Eles apoiaram expedições militares particulares para anexar a Baixa Califórnia (1855), Nicarágua (1855) e Honduras (1860), lideradas pelo aventureiro William Walker, do Tennessee. Essas expedições todas fracassaram e Walker finalmente foi fuzilado por hondurenhos indignados. Outros sulistas, com o apoio dos Presidentes Polk e Franklin Pierce, também pensavam em ajudar a Cuba escravista a se libertar da Espanha, para depois anexá-la aos EUA, mas este plano tampouco deu certo. De qualquer forma, entretanto, estes esforços no Kansas e no exterior para decidir pelas armas a questão da escravidão constituíram ensaios para a Guerra Civil, que não tardaria muito para começar. No segundo quinquênio da década de 1850, o Governo Federal tornou-se ainda mais favorável ao Sul. Nas eleições presidenciais de 1856, 14 dos estados escravistas votaram no candidato vencedor James Buchanan, cujo Partido Democrata capturou o controle tanto do Senado como da Câmara. Buchanan, embora um nortista da Pensilvânia, acreditava com Stephen Douglas na soberania popular e também apoiava a conquista do México e a compra de Cuba. Logo no começo do seu mandato, a Corte Suprema, enquanto o tribunal de último recurso e o intérprete oficial da Constituição, decidiu que os Acordos, do Missouri, de 1820, eram anticonstitucionais. A Corte chegou a esta conclusão quando considerou o processo de um escravo, Dred Scott, cujo senhor o tinha levado para as áreas livres de Illinois e Minnesota. Scott argumentou que, por ter residido onde a escravidão era ilegal, ele teria ganho a sua própria liberdade, mas a Corte resolveu que não. Segundo ela, não somente o Congresso não tinha o poder de privar um cidadão de seus direitos de propriedade em escravo, mas tinha a obrigação de incentivar e proteger a escravidão como qualquer outro tipo de propriedade particular. A Corte ainda acrescentou que nenhum negro, escravo ou livre, podia ser cidadão e gozar de direitos iguais aos dos brancos. Um outro golpe contrá o Norte foi o Pânico financeiro de 1857, Este Pânico, o começo de uma depressão, resultou de vários fatores. Primeiro, o preço dos cereais americanos caiu de repente, quando, depois do fim da guerra europeia na Crimeia (1854-56), os europeus voltaram a produzir as suas safras normais. Segundo, os europeus liquidaram muitos investimentos e depósitos bancários nos EUA, para poder custear esta guerra e outras na Ãfrica, no Oriente Médio, na índia e na China, e isso deprimiu a Bolsa de Valores de Nova Iorque, drenou ouro das reservas e levou vários bancos à falência. Finalmente, a especulação desenfreada nas companhias ferroviárias, muitas das quais estenderam os trilhos além das áreas onde a renda dos fretes e dos passageiros pagava os juros sobre o capital emprestado, provocou a falência destas companhias, e dos bancos e companhias de seguro a elas ligadas. Este Pânico iniciou uma depressão de vários anos no Norte e no Oeste, enquanto o Sul, em geral, gozava de preços altos e exportações de algodão cada ano maiores. Mas, se o Governo Federal e o momento econômico favoreciam o Sul, outras forças prometiam para o Norte. Os territórios de Minnesota e Oregon entraram na União como estados livres em 1858 e 1859, respectivamente, sem contrapartida de novos estados escravistas. Nas eleições para o Congresso em 1858, os Republicanos recapturaram na Câmara a maioria, que tinham perdido em 1856. Um dos veteranos da guerra de guerrilhas em Kansas, John Brown, com apoio financeiro de abolicionistas do Norte, liderou um movimento que tentou tomar um arsenal de guerra em Virgínia. Brown planejava usar as armas para levantar uma rebelião de escravos. Quando preso e enforcado, Brown tornou-se um mártir para os abolicionistas. Segundo uma canção que se popularizou muito na época e que virou uma marcha para as tropas nortistas durante a guerra, “o corpo de John Brown está apodrecendo na terra, mas a sua alma vai marchando para frente”. As eleições de 1860 Nas eleições presidenciais de 1860, a tensão política entre Norte e Sul chegou ao ponto máximo. Os Democratas dividiram-se fatalmente e escolheram dois candidatos para presidente. Os do Norte e do Oeste nomearam Stephen Douglas, o campeão da soberania popular, mas os do Sul nomearam John Breckinridge, o então Vice-presidente, um escravista do Kentucky que queria que o Governo Federal protegesse a escravidão nos territórios. Os antigos Whigs e os mais conservadores do Norte e do Sul escolheram o Senador John Bell do Tennessee, para tentar continuar com a política de acordos e não enfrentar diretamente a questão da escravidão; estes formaram o efêmero Partido da União Constitucional. Os Republicanos indicaram Abraham Lincoln de Illinois. Lincoln tinha pouca experiência política e tinha perdido uma eleição disputadíssima para senador de Illinois em 1858. Mas durante esta campanha para senador Lincoln tinha realizado uma série de debates muito comentados com o vencedor, Stephen Douglas, e tinha defendido a legalidade da escravidão no Sul e a ilegalidade da mesma nos territórios. Lincoln, entretanto, previa que “uma casa dividida contra si mesma não subsistirá. Acredito que esse governo, meio escravocrata e meio livre, não poderá durar para sempre... e ele se transformará só numa coisa, ou só noutra”. Lincoln, nestes debates, tinha obrigado Douglas a reconhecer a contradição entre a soberania popular, que sujeitava a escravidão ao voto do povo, e a decisão judicial no caso de Dred Scott, que colocou o escravo na categoria sagrada da propriedade particular intocável pelas leis. Embora Douglas ganhasse a eleição para senador em 1858, desprestigiou a Corte Suprema e se . desmoralizou seriamente com os Democratas do Sul, o que contribuiu para a cisão neste Partido, em 1860. Com os Democratas divididos, Lincoln ganhou as eleições presidenciais em 1860. Ele recebeu 40% do voto popular, o apoio de todos os dezesseis estados do Norte, e de dois dos três estados do Oeste, enquanto o Sul distribuía os seus votos entre Breckinridge (onze estados), Bell (três estados) e Douglas (um estado). Embora os Republicanos não tivessem ficado com maiorias nem no Senado nem na Câmara, eles conseguiram, pela primeira vez, a presidência, e pela
Compartilhar