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Resumo+-+Teoria da norma (Arnaldo)

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FACULDADE DE DIREITO DA UFC
TEORIAS DO DIREITO
RESUMO
LIVRO: TEORIA DA NORMA JURÍDICA – ARNALDO VASCONCELOS
CAPÍTULO I – CONCEITO DE NORMA JURÍDICA
Normatividade do Direito
O Direito disciplina condutas, impondo-se como princípio de vida social. O Direito leva as pessoas a se ligarem, comprometendo-se entre si, quer dizer, obrigando-se mutuamente. “É um querer vinculatório, anárquico e inviolável”. (Stammler).
Norma jurídica é a expressão formal do Direito como disciplina de condutas. Prevê ela os modos de conduta interessantes ao convívio social. O conjunto dessas normas denomina-se ordenamento jurídico. Há ou haverá normas para todas as condutas. Não existe relação humana possível que não possa ser enquadrada no Direito.
Como o homem é livre, o Direito não poderia exprimir-se senão como um dever-ser, como uma possibilidade. O objetivo da norma jurídica é conciliar o individual com o social.
O Direito é uma ordem normativista, como dizia Kelsen, um sistema hierárquico de normas, as suas partes se integram na formação de um todo harmônico, com interdependência de funções, essa ordem assim estruturadas denomina-se de ordenamento jurídico.
Norma Jurídica e Direito
Norma não é Direito, embora, em linguagem metafórica, dizer-se que ela contém o Direito. “não é a regra que promana o direito, senão com base no direito, existente por si mesmo, que a regra é elaborada”. A regra nasce do Direito. Trata-se de um juízo de realidade. O certo é que o Direito antecede à sua expressão formal, que é a norma jurídica, devendo, só por esse motivo, prevalecer sobre ela. Exige-se que a lei tenha Direito, a saber, que seja justa. Se deve ser justa é porque, evidentemente, pode ser injusta.
Precisamente porque a norma não constitui Direito, é que se dá o fenômeno da ineficácia. O fato de a norma estar disponível, isto é, ter vigência, não implica a sua realização prática. Vigência e eficácia são momentos distintos do ser e do realizar-se pressupondo aquele, salvo em se tratando de norma consuetudinária, quando a vigência decorre da eficácia. E há de ser assim, porque a norma jurídica pertence ao mundo ético, mundo do dever-ser, que por definição deve ser, mas poderá sempre não vir a ser. O que a norma é, pura e simplesmente, é previsão. Quando acontece o fato da previsão, seja natural ou humano, nasce o Direito. E só se origina ela desse modo, e de mais nenhum outro.
Norma Jurídica e Sentença
O Direito é feito para os bons ou para os maus? Carnelutti, afirma que o Direio dirige-se aos medíocres, posto que os bons e os maus deles prescindem. Aqueles, por desnecessidade; estes, por destemor.
Segundo Arnaldo, não se pode crer na afirmativa de que o Direito que realmente importa para a vida é aquele que se realiza na sentença judicial. Estaria parcialmente correto se dizer que o Direito é realização prática, como o fez Ihering. Seria uma deturpação do que seja validade social ou eficácia. Destruiria, se assim o fosse, a sequência temporal, por natureza inarredável, existente entre norma-fato-Direito-ilícito-sentença, pulando-se de norma para sentença. 
Seria um paradoxo reduzir o Direito a Direito contencioso, pois o Direito, que se realiza pacifica e silenciosamente, não teria qualquer interesse para a ordem social. A Escola Egológica reconhece eminente lugar do Direito judicial, sem fazê-lo anular o Direito não contencioso, através da supressão de seu significado social. A tarefa de criação jurídica também se concretiza através das atividades negociais. No amplo campo da licitude, que lhe é reservado com deferência mais alta à sua dignidade de ser livre, o homem cria Direito a todo passo, porque a tanto as relações de convivência o obrigam.
Não destina a norma, senão eventualmente, a compor Direito judicial, quando se põe a alternativa que nela se contém: a possibilidade da sanção, ou o dever-ser da não prestação. A sentença relaciona-se, propriamente, com a não prestação. Essa é que lhe abre condições de existência. 
Nem se pense que a sentença garante o Direito apurado judicialmente, nem que esse coincide, sempre, com o verdadeiro Direito. O direito apurado é, apenas, aquele declarado oficialmente como devido. Não importa certeza de realização. Exemplo: se faltam condições materiais ao devedor, não haverá meio de fazê-lo pagar.
Kelsen estabelece como norma geral aquela proveniente da Constituição e norma individual aquela emanada da sentença. Arnaldo diz que Kelsen peca por imprecisão, pois a sentença só assume caráter de norma jurídica quando o Direito, a que ela se revela, por sua uniformidade, modelo de conduta social. Portanto, a norma jurisprudencial, e não a sentença, é que constitui norma jurídica. 
Aspectos fático, axiológico e normativo do Direito
O Direito constitui-se de fato, de valor e de norma. Portanto, não pode o fenômeno jurídico ser apanhado, em sua integridade, senão através da visualização desses elementos em conjunto. É o tridimensionalismo jurídico de Miguel Reale. 
Fato, valor e norma estão sempre presentes e correlacionados em qualquer expressão da vida jurídica;
A correlação entre estes três elementos é de natureza funcional e dialética.
A medida do valor, que se atribui ao fato, transporta-se inteiramente para a norma. O fato deve ser valorado levando em conta a sua utilidade para a manutenção e progresso da vida social e a necessidade de sua regulamentação jurídica.
O fato constitui a matéria do Direito, do qual a norma é forma. Surge o Direito, precisamente, ao incidir esta (norma) sobre aquele (valor). E ainda o fato, considerado no dinamismo de sua força social, responsável pelo progresso do Direito, promovendo-o a todo custo, quer através da interpretação evolutiva, quer mediante a reforma legislativa.
A norma jurídica, a norma ética e a norma moral
Norma jurídica é norma de Direito, do qual constituí a expressão formal, ou elemento nuclear.
A norma define, dentre as múltiplas possibilidades que se oferecem ao homem, os tipos de conduta desejáveis, ao considerar sua relevância para a manutenção e progresso da vida social. Apresenta-se, desse modo, como regra fim e instrumento de julgamento.
Definindo, isto é, selecionando e limitando, a norma incorpora, com os fatos que prevê, os valores que a estes são atribuídos, adquirindo a dimensão trivalente específica do Direito. Torna-se, assim, seu elemento nuclear.
Para o jusprivativista, Pietro Cogliolo, a causa determinante de se tornar jurídica uma norma é dupla: por um lado a sua importância na sociedade, por outro, as suas freqüentes violações. Para ela a passagem de uma norma à esfera do Direito é motivada pelas violações que ela sofre frequentemente e por haver desaparecido força de adesão dos costumes.
A grande discussão se encontra no campo das relações entre o Direito Natural e o Direito positivo. Os contratualistas já resolveram essa questão pelo, demonstrando, como Kant, que esse momento se teria caracterizado pela institucionalização da sanção, que passaria a ser pública e monopólio do Estado. 
Por que o homem violaria a norma ética? O desejo de experimentar, de criar e de promover, promovendo-se, é sua vocação de ser incompleto, finito.
São ambas espécies de norma ética – a norma moral e a norma jurídica – pelo quê se ocupam de condutas. Enunciam-se, porém, de modo bem distinto, porquanto uma regra de vivência, a outra de convivência. Ao passo que a norma moral se expressa através de um juízo hipotético simples – “A”deve ser “B”-, a norma jurídica o faz mediante um juízo hipotético disjuntivo, que é composto ou complexo? “Dado H, deve ser P, ou dado não-P, deve ser S”. Em termos concretos: dada uma situação em que alguém (H), obrigado diante de um pretensor, na qualidade de devedor, deve ser a prestação (P), isto é, o pagamento; ou dada a não prestação (nP), deve ser a sanção.
Porque vincula o devedor ao credor, e este àquele, a norma jurídica é bilateral; por contemplar alternativamente as situações possíveis da experiência jurídica, que secingem no satisfazer ou não satisfazer a prestação, diz-se disjuntiva: e porque, finalmente, materializa a garantia da obrigação, apresenta-se como sancionadora. Bilateralidade, disjunção e sanção constituem, pois, as notas caracterizadoras e discriminatórias da norma jurídica.
Conteúdo e Conceito da Norma Jurídica
A norma é elaborada com base no Direito, existente em si mesmo. Não é Direito, mas contém Direito, no sentido de enunciá-lo e veiculá-lo. Por isso, só se forma Direito a partir de uma norma que o preveja. Com a norma, fórmula ou forma, faz-se o Direito previsto, e apenas esse.
O Direito é previsto porque a elaboração de seu modelo, a norma, decorreu de uma opção, entre várias possíveis. Os fatos escolhidos para seu suporte, são somente aqueles considerados relevantes para a vida de convivência social. São, por isso, fatos valorados. E a medida desses valores dimensiona-se, objetivamente, na norma.
A característica primordial do valor é a polaridade, ou seja, sua afirmação com o confronto com o antivalor. Os valores são, ainda, polivalentes: Além do verdadeiro e do falso, configuram-se o possível, o indeterminado etc. 
Max Scheller distingue dois tipos de dever-ser, um ideal, outro normativo, aquele se convertendo neste, quando especialmente o possível se torna desejável. A distinção entre lei física e norma é que aquela estabelece critérios de certeza, esta propõe critérios de validez.
O conteúdo da norma constitui uma relação de justiça. Norma que não envolva tal relação, seguramente, não pode pretender ser jurídica. A falta de justiça leva à descrença no Direito, antes de determinar a deterioração das instituições sociais.
A relação que se estabelecia entre patrões e empregados, no século XIX, era jurídica, sem ser justa. Faltava conteúdo à norma.
O conceito de Direito Natural é o conjunto de condições histórico-axiológicas da experiência humana, sem que isto implique na existência de duas regiões ônticas distintas. O Direito Natural é, em suma, direito positivo mesmo enquanto referido às suas fontes possibilitantes e, ao mesmo tempo, enquanto projetado na linha ideal de seu desenvolvimento. 
Norma Jurídica é norma de Direito, isto é, norma de fazer Direito. A norma jurídica é norma de fim. Dimensiona-se os aspectos formal e material do Direito. A norma, que é fórmula ou forma do Direito, deve, ademais, ter Direito. O Direito de que se trata, logo se vê, é aquele que se põe através da norma. Direito positivo, portanto. O Direito posto na norma é Direito-previsão, ou previsão de Direito. Acontecendo o fato normativo realiza-se a previsão, surgindo daí o Direito.
Pelo que se observa, as propaladas estabilidade e segurança de própria norma escrita são relativas, porque, em verdade, o que significa é a interpretação normativa, e nunca a norma em seu presumível e problemático significado original. Ou melhor, suas reinterpretações, dado que interpretada ela já foi, quando de sua criação. A norma funciona como esquema de interpretação. 
Assim sendo, o juízo em que se enuncia que um ato de conduta humana constitui um ato jurídico (ou antijurídico), é o resultado de uma interpretação específica, a saber, de uma interpretação normativa. A vocação especial da norma jurídica é realizar o Direito. E só há Direito a partir de uma norma, que o preveja. O campo de incidência das normas jurídicas constitui o mundo do Direito. Enquanto, sempre haverá normas para todas as hipóteses possíveis. Se não se encontram explícitas no ordenamento, com certeza nele estão implícitas.
A predicação das normas implícitas, que se faz indispensável tanto do ponto de vista teórico, como prático, está, por si só, a indicar o dinamismo do Direito que não pode ficar contido em fórmulas rígidas, desmobilizado. O Direito, pois, está sempre sendo e refazendo-se, posto que o próprio fato de concretizar-se requer desenvolvimento e atualização. 
Qualquer definição de norma jurídica seria, se não impossível, pelo menos insuficiente. Em todo caso, jamais se alcançaria a definição exata das ciências naturais.
As notas caracterizadoras da norma jurídica são a bilateralidade, a disjunção e a sanção. A sanção é a institucionalização do poder posto a serviço do Direito por intermédio do Estado ou das associações, que o elaboram e o garantem. Não se há, pois, de conceituar a norma jurídica como criação exclusiva do Estado. Pessoas individuais e os entes coletivos criam-nas todos os dias. Não se deve reduzir o conceito de norma jurídica à sanção estatal. 
A visão de Direito como sistema de limites. A norma demarca, separando e estremando. Para Goldschmidt – distiguindo Direito de Moral – “o Direito separa os homens, enquanto a moral os une”. Essa visão é refutada por Arnaldo. 
Os campos da jurisdicidade
Não há conduta ajurídica, ou seja, sem referebilidade a Direito. Toda conduta, seja ela jurídica ou antijurídica, tem significação para o Direito. Mesmo o fato natural, quando interfere com as relações sociais, tem suas consequências juridicamente reguladas. O mundo do Direito coincide plenamente com o mundo da sociabilidade. Têm ambos as mesmas dimensões. 
O homem faz Direito sem estar conscientizado disso. Quanta gente ignora que os mínimos e insignificantes atos da vida rotineira – como usar gravata nacional ou estrangeira, algodão ou náilon, curta ou comprida etc. – podem, esses atos, vir receber proteção judicial. A falta de conhecimento da ciência não afasta a ideia, intuição e sentimento do Direito que existe em cada um dos homens. “O homem faz Direito naturalmente, como respira”(Georges Gusdorf).
Existe Direito para tudo, seja ele explícito na norma ou implícito. Já se vê que um dos equívocos de piores consequências é reduzir o Direito à lei. O território jurídico comporta três qualificações distintas, constituindo os campos específicos da legalidade, da ilicitude e da licitude. 
Legalidade: é uma espécie de juridicidade qualificada. Abrange o campo do jurídico legal. Sua expressão própria é lei, que a caracteriza e a define. Só merece esse qualitativo a conduta que se enquadra nas previsões da lei. O legal está na lei;
Ilicitude: Se a descoberta das potencialidades da noção de licitude, como anota Hans Kelsen, foi obra da Escola Egológica de Carlos Cossio, a reformulação e revalorização do principio da ilicitude constituem mérito creditável ao próprio formulador da Teoria Pura do Direito, ou incluir o ilícito no âmbito jurídico. Desse modo, não poderia o Direito (jurídico) regular o antidireito (injurídico), eram alternativos, devendo-se eliminar um deles. A teoria do juízo hipotético de Kelsen muda isto, “dada a não prestação, deve ser a sanção; dado o fato temporal, deve ser a prestação. A primeira jurídica, por excelência, e mediante a qual prevê a sanção; e a segunda, despida de qualquer interesse jurídico para o Direito, e através da qual se prediz a realização voluntária da prestação”. O ilícito está dentro do Direito, e é por esta determinada. Ao fazer o ilícito a única via de acesso ao Direito, avança Kelsen demasiado em sentido oposto à Teoria Clássica. Carlos Cossio retifica, dizendo ser jurídica a ilicitude, porém não exclusiva. O Direito, segundo a teoria disjuntiva, é liberdade jurídica. O jurídico ou é licito ou é ilícito;
Licitude: O conceito de licitude pode formular-se negativamente sendo tudo o que não está regulado de expressamente é livremente permitido. Uma das dificuldades dos Positivistas é solucionar o problema da lacunosidade que advém ao se reduzir o Direito à lei. As normas do jurídico qualificado como licito são as normas implícitas de que falou Ihering e têm positividade. O argumento de que procedem da vontade dos particulares, no uso da liberdade que lhes confere o próprio direito positivo e não da autoridade pública como convinha. Desempenha o princípio da licitude duas funções de fundamental importância para a afirmação e progresso do Direito. Do ponto de vista teórico, fecha o ordenamento jurídico, respondendo pela predicaçãode sua plenitude lógica: a lei é lacunosa, o ornamento não. E motivo de segurança jurídica, que alimenta a possibilidade do Direito. Sob o ponto de vista prático, permite a participação do povo no processo de renovação e criação do Direito. Se não demarcar materialmente o campo da licitude, deve-se, contudo, traçar-lhe os limites ideológicos, especialmente os de ordem ético-política. 
O pseudoproblema do destinatário da norma jurídica
O tema acerca do destinatário da norma jurídica torna-se problemático a partir do instante em que, aprofundando-se, esbarra em antinomia (contradição entre leis) entre seus próprios termos da qual resulta insuperável contradição doutrinária. E caracteriza-se como falso problema, desde que teve por meta não resolver a situação colocada pela prática do Direito, mas apenas dar coerência a particulares teorias jurídicas, flagrantemente vulneráveis em pontos essenciais.
A questão do destinatário da norma jurídica foi levantada, inicialmente, no âmbito do Direito Penal, por Biding. Seu ponto de partida é a admissão de dois tipos fundamentais de expressões jurídicas: a norma e a lei, com antecedência daquela sobre esta. Constitui a norma um conjunto de imperativos destinados, previamente, ao povo; a lei, um juízo hipotético, de função repressiva, como tal dirigido ao juiz. Ficava descartada, portanto, a hipótese de o mandato normativo endereçar-se ao Estado, dada a impossibilidade, como lembra Ihering, de alguém impor uma ordem a si próprio, ao mesmo tempo coagindo e coagindo-se. Visaria à coação ao povo, ao juiz ou ao Estado? Logo, afasta o Estado, pois seria contraditório a ideia de imperativo postos por alguém a si mesmo. Ihering não faz distinção clara, as normas são destinadas, de modo exclusivo ao juiz, e, em geral, se dirigem, originalmente, ao povo. Ao individuo é que se impõe, sob ameaça da coação e da pena, o dever irretorquível de cumpri-la. 
Posteriormente, passa a admitir Ihering, a existência de normas legais desprovidas de qualquer imposição aos particulares, apesar de deverem ser aplicadas pelo juiz, a exemplo das disposições relativas aos princípios gerais de Direito, à maioridade e à influência do erro nos atos jurídicos. Reconhecendo que tais regras não são imperativos. Porém subsistindo dirigindo-se ao juiz encarregado de aplicas as normas. 
Ferraz Junior afirma que a norma jurídica é uma espécie de imperativo despsicologizado, por ser um comando no qual não se identifica o comandante nem o comandado, posto que, de um lado a figura do legislador ou quem quer que seja o emissor de normas parece perder sua importância depois de posta a norma e, de outro, os destinatários da norma não se identificam, posto que normas jurídicas são comandos genéricos e universais. Arnaldo diz que estas normas são dirigidas às autoridades e funcionais estatais responsáveis de aplicá-las, e nunca aos particulares, posto que não os obriga o Direito.
Quando se afasta a teoria imperativista, com ela desaparece as questões do destinatário da norma, por isso considerado um pseudo-problema. 
As contestações de Villanova respondem às teses implicadas na afirmação da imperatividade da norma: 
1º) Não há porque tentar se identificar o sujeito emissor das normas consuetudinárias; 
2º) As normas formuladas pelo legislador o obriga também, aí o absurdo de o sujeito emissor dar-se uma ordem a si mesmo;
3º) A declaração transmitida através do testamento seria ordem emanada de um morto;
4º) Diante da presunção de ignorância do Direito, resultaria do absurdo de ter-se de obedecer a ordens desconhecidas;
5º) A norma vincularia também aqueles que se opuseram.
CAPÍTULO II – A NATUREZA DA NORMA JURÍDICA
Importa, pois, iniciar-se pelo entendimento do que seja natureza, termo componente da expressão “natureza da norma jurídica”. As coisas apresentam-se como essência (razão de ser) e como existência (modo de ser). A essência condiciona a existência. O existente existe em razão da essência. O que é essência? Responde Spinoza: “Digo que pertence à essência de uma coisa aquilo que, sendo dado, faz necessariamente com que a coisa exista, e que, sendo suprimido, faz necessariamente que a coisa não exista”.
As normas jurídicas e moral constituem espécies do gênero norma ética. O debate se cinge na diferença entre norma moral e jurídica, e não entre esta e a norma ética, pois careceria de sentido. A norma jurídica é antes de mais nada, norma ética, sem qualquer determinação qualitativa.
Norma jurídica não é lei, conquanto lei seja norma jurídica. Com efeito, o gênero norma jurídica envolve as espécies de norma legal, consuetudinária, jurisprudencial e doutrinária.
Imperativismo da norma
Momento decisivo para a formação da teoria é o aparecimento, em 1651, do famoso ensaio de Thomas Hobbes, Leviathan. Com procedentes razões, Hobbes tem sido considerado o fundador do Positivismo jurídico. No seu entender, lei é ordem. Ordem do soberano – como tal, o único legislador – aos súditos, na qualidade de participantes do pacto social.
Quem realiza a incorporação definitiva do imperativismo jurídico à ciência do Direito é a Escola Analítica Inglesa, no século XIX. Autin, como um dos representantes do chamado Positivismo analítico da Universidade de Londres declara que “toda lei positiva é ditada por um soberano a uma pessoa ou grupo de pessoas a ela sujeitas”. Esse conceito de soberania é partilhado aos juízes que criam Direito, inserindo o imperativismo no Common Law.
Em essência, configura-se a norma jurídica revestindo a forma de um imperativo mediante o qual se transmitiriam as ordens dos governantes a seus súditos, consistentes essas num mandato de fazer ou não fazer alguma coisa. Com outras palavras um imperativo positivo ou negativo.
Thon, em seu livro Norma Jurídica e Direito subjetivo, afirma: “todo direito de uma comunidade não é outra coisa senão um complexo de imperativos” A norma que não assuma a postura imperativa, conquanto integre o corpo da lei, não é norma jurídica. Note-se como o Direito é dimensionado através da norma, caracterizando-se o normativismo da teoria.
Binding é o primeiro a colocar em dúvida a serventia da norma imperativista para traduzir o enunciado das normas penais. Impõe-se-lhe a evidência de que, em sua maneira de expressar-se – matar, furtar etc. – não se continha nenhuma ordem, quer positiva quer negativa. Pretende resolver o problema diferenciando norma jurídica de lei. Aquela, constituindo-se um conjunto de imperativos destinados ao povo (sendo antecedente a lei com função repressiva) e esta, um juízo hipotético destinado ao juiz (papel simplesmente preventivo). Para Arnaldo é inconcebível tal diferenciação, por eleger o Estado como único produtor de leis. Critica ainda a confusão causada pela vinculação da imperatividade com o a sanção. Pois se a norma já é imperativa não é necessária a sanção, porque naquela já estaria implícita. 
Qualquer preceito pode assumir a qualidade de norma jurídica, desde que o Estado o queira. Como o Estado não se manifesta senão por órgãos do governo, o verdadeiro poder de criar o Direito vai residir, afinal, na vontade onipotente dos governantes. O modo de compatibilizar essa forma de absolutismo com o Direito NÃO SE APLICA. 
Formas qualificadas de imperativismo
2.1 A teoria do imperativismo de Leon Duguit
Duguit parte da caracterização da norma social, indo da classe ao gênero. São duas as notas discriminadoras da norma social: por se aplicarem a fatos humanos, a) não são leis de causa, mas leis de fins, precisamente regras de conduta ou normas; em razão disso, b) não contém um imperativo categórico, mas um imperativo hipotético.
Duguit invoca a primeira concepção kelsiana sobre a norma jurídica, para confirmá-la. No seu entender, “enunciar uma norma social não significa, de modo algum, expressar um comando, um imperativo, mas sim – segundo a terminologia de Kelsen – formular um juízo hipotético. Se A faz tal coisa ou não faz tal coisa, n se produzirá; e n é uma desordem social que acarretará,naturalmente, uma reação”.
A norma jurídica propriamente dita, ou regra normativa, manifesta-se, pela razão invocada, na forma de um imperativo, de um comando. Não se trata, porém, de ordem partida de uma vontade superior e endereçada a vontades subordinadas.
A norma jurídica é imperativa no exclusivo sentido do estatuto social que liga necessariamente todos os indivíduos do grupo. As regras normativas se impõem independente do poder social. O Estado, pressuposto pela regra construtiva, não mais representa o monopólio da força social. 
2.2 Kelsen: do juízo hipotético ao imperativismo despsicologizado 
Em oposição ao juízo categórico do ser, pertinente às coisas do mundo do ser, o dever-ser normativo reveste a forma de um juízo hipotético. 
Estruturalmente, comporta-se a norma um desdobramento mediante os seguintes termos:
- dada a não prestação deve será sanção;
- dado o fato temporal, deve ser a prestação.
Para Kelsen, pois, a norma jurídica é um juízo hipotético, pelo qual se figura determinadas situações fáticas e consequências que se espera delas advenham. 
O dado fato temporal é acontecimento no mundo natural ou um ato praticado pelo homem; coloca-se no mundo do ser. O devido (prestação), que será sempre uma ação humana, vincula-se ao mundo do dever-se. E, porque o homem é livre, tanto poderá vir a ser como não ser.
Para Kelsen arremete a doutrina que considera o ilícito como o não-Direito, quebra do Direito ou violação do Direito. O ilícito aparece como pressuposto (condição) e não como uma negação do Direito, o ilícito é um fato que dentro do Direito e é por este determinado. 
Após ser contestado por Carlos Cossio em seu juízo disjuntivo, Kelsen, em sua Teoria Pura do Direito, é obrigado a reformar o seu pensamento e firma-se na distinção entre norma jurídica e regra de Direito. 
O imperativismo despsicologizado de Kelsen é praticamente sinônimo do imperativo independente de Karl Olivecrona. 
Quis Olivercrona invalidar premissas fundamentais da teoria tradicional, através da formulação de três antíteses: uma ordem não é uma manifestação de vontade, uma norma jurídica não é uma ordem em sentido próprio, o Direito não é uma criação do Estado. A norma é um imperativo independente. 
Resumo:
AS TEORIAS EXPLICATIVAS DA NORMA JURÍDICA
Essa parte do trabalho tenta demonstrar os diversos pensamentos defendidos nas mais diversas teorias que se evidenciaram na tentativa de explicar a natureza da norma jurídica, onde mostraremos pontos positivos e negativos no tocante a sua tentativa de impor um pensamento ideal, fazendo com que percebamos que praticamente todas são falhas no seu intento final, mesmo assim, torna-se de fundamental importância seu entendimento para a melhor analise da norma jurídica atual que com certeza muito se aprimorou desde o aparecimento dessas teorias que são usadas até hoje. Com essa rápida introdução relacionamos as mais discutidas dentre outras. 
5.1. Imperativista 
Segundo os teóricos imperativistas a norma jurídica é imperativa porque se caracteriza por ser um comando, impondo um tipo de conduta que deve ser observada, tanto sendo imperativa quando impõe uma conduta quanto quando a proíbe, isso tudo para garantir a ordem social, pois se assim não fosse, não conseguiria lograr êxito, de uma maneira geral se tinha uma ordem jurídica como uma ordem de alguém que detém o poder para quem estar antecipadamente obrigado a obedecer, como se refere Paulo Nader: "O caráter imperativo da norma significa imposição de vontade e não de mero aconselhamento", e também assim se refere Arnaldo Vasconcelos: "A norma que não assuma a postura imperativa, conquanto integre o corpo da lei, não é norma jurídica".
Essa teoria se mantém intacta até sua contestação por Kelsen que passou a tratar a norma jurídica como um juízo hipotético, sendo que mais tarde voltou a defender a norma como imperativo despsicologizado. Houve mais tarde tentativas de corrigir os problemas dessa teoria, como por exemplo Léon Duguit com a teoria do imperativo hipotético, Karl Olivecrona com o imperativo independente, Leon Petrasizky com a teoria do imperativo atributivo e Godrofedo Telles Júnior com o imperativo autorizante. Mas como sabemos que a teoria imperativa refere-se à norma como um imperativo do soberano ao súdito com essas modificações chega-se à conclusão de que não mais é imperativa. 
5.2. Coatividade e Coação 
Essa teoria vislumbra o cumprimento do direito pela força, segundo a mesma o sujeito paga seu debito por vontade própria ou forçadamente, ponto de vista que foi defendido nos estudos de Kant, essa teoria é estudada sob confusões de termos, onde tanto se usa a coatividade quanto a coação com o mesmo significado. 
Sabemos que tanto a coatividade quanto a coação, não fazem parte da essência da norma jurídica como queriam os teóricos que a defendiam, visto que a coatividade está antes da norma e a coação vem depois, além do que a coação é um ato estatal, pois não é a norma que coage e sim o Estado o faz, o Estado com o poder institucionalizado, a norma jurídica não depende da coação mas a coação é que depende da norma para ser justa. 
5.3. Indicativista 
Essa teoria que foi pouco utilizada pregava a norma jurídica como apenas um indicativo de condutas, você segundo ela teria dois caminhos a seguir, ou cumpria a prestação, ou não cumpria a prestação e sofria a sanção, justamente o contrario do imperativismo, outro ponto importante é que essa teoria colocou o sujeito como detentor somente do direito no que mais uma vez se chocava com o imperativismo, desprezava as obrigações no que mais tarde foi contestada pois ia de encontro a teoria do juízo disjuntivo, mas o que mais interessa é que a teoria indicativista não determinava conduta a ser seguida, mas simplesmente indicava os possíveis caminhos. 
5.4. Juízo Hipotético/Imperativo Despsicologizado 
Um dos doutrinadores de maior repercussão no tocante a natureza da norma jurídica foi sem duvida Hans Kelsen com a teoria pura do direito, onde se coloca o ilícito como única forma de atuação do Direito. Kelsen defende a idéia de um juízo hipotético onde a norma comporta os seguintes termos: - Dada ñP deve ser S, - Dado Ft deve ser P, sendo que para o mesmo a norma primária é a sancionadora pois só essa seria o Direito, a norma da prestação seria tão somente uma indicação ou uma norma secundaria que para ele estaria fora do Direito, caracterizando assim um juízo hipotético simples, o que mais tarde seria contestado por Carlos Cossio através da teoria do juízo disjuntivo.
Com o aumento das pressões e a tentativa de adequar sua teoria, mais tarde Kelsen volta ao imperativismo descaracterizando sua teoria com a defesa de uma teoria agora denominada imperativo despsicologizado que vinha de encontro a sua teoria original e se assemelhando a teoria do imperativo independente de Karl Olivecrona. 
5.5. Juízo Disjuntivo 
Com essa teoria Carlos Cossio firme e decisivamente o imperativismo da norma jurídica, "...demonstrando, através de argumentos de origem vária, que a tese imperativista não passa de falsa interpretação do problema normativo." Cossio através da análise fenomenológica, chega a conclusão de que a norma jurídica não pode deixar de ser um juízo disjuntivo onde: - Dado Ft deve ser P ou - Dado ñP deve ser S, definindo as duas partes como endonorma e perinorma, dois juízos hipotéticos que mediante a disjunção "ou" formam o juízo disjuntivo.
Vale colocar que a teoria defendida por Cossio representa a estrutura da norma de uma maneira diferente da defendida anteriormente por Kelsen onde o licito estava fora do Direito, aqui ao contrario, tanto o licito quanto o ilícito tem seu lugar no Direito, a incorporação do ilícito não teve como conseqüência a exclusão do licito, e alem do mais é contemplando o fato da preferência ao que é prioritário ao Direito, ou seja, a prestação, e como secundário a não prestação, dessa forma contemplando-se todos os aspectos possíveis no campo da jurisdicidade, como relata Arnaldo Vasconcelos:"Há lugar para o ilícito no Direito, sem que isso importe em conceder-lhe predomínio absoluto, com exclusão das outras faixas da juricidade." 
5.6. Estrutura Trivalente 
Através dessa teoria Miguel Reale defende a norma jurídica em três enfoques distintos, observando-a no plano fático, normativo e axiológico, para Reale a norma é o momento de integração fático-valorativo em pólos diferentes mais ao mesmo tempo implicativos, no estudo do mesmo percebemos uma afirmação de normativismo concreto, ou seja, norma com fato e valor, justamente o contrário do normativismo de Kelsen que era meramente abstrato.
Reale em seus estudos afirma a existência de duas espécies de norma jurídica, a de conduta e a de organização, com estruturas diferentes discordando mais uma vez da estrutura unitária de Kelsen, e sobre esses aspectos assim se refere: "O que efetivamente caracteriza uma norma jurídica, de qualquer espécie, é o fato de ser uma estrutura proporcional enunciativa de uma forma de organização ou de conduta que deve ser seguida de maneira objetiva e obrigatória".
O início do estudo de Reale está fundamentado na teoria de Kelsen, mas com o estudo da estrutura trivalente ele ampliou mais os conhecimentos, vale ressaltar que a teoria de Reale é bastante vinculada na idéia de imperativismo e hipoteticismo, mesmo que ele não coloque isso muito claramente, com isso sua teoria assume uma forma de imperativo hipotético, o que a aproxima de uma teoria anteriormente estudada por Léon Duguit.
TEXTO DIREITO E FORÇA – ARNALDO VASCONCELOS
Preliminares Epistemológicas 
Alguma vez, em qualquer lugar e em qualquer tempo, consumou-se algum Direito sem a necessidade de coação? A coação, sendo aleatória, não é, e nem poderia ser aquela força constrangedora que atuaria com plena continuidade, a sinalizar, de modo espetaculoso, a existência da violência em todos os atos da vida jurídica. O melhor Direito seria aquele que dispensasse até o apelo acidental à força para fazer-se valer, consumando-se de maneira silenciosa e tranqüila, por ser intrinsecamente justo.
A essência é una e permanente, habita no mundo do ser, o mundo da verdade, enquanto a existência, múltipla e variável, tem lugar no mundo do dever ser, o mundo da aparência. O primeiro é invisível, só temos acesso através da intelecção racional; o segundo, é visível é-nos dado conhecer mediante percepção dos sentidos. Isto posto, tem-se que, ou a coação integrará a essência, ou participará da existência do Direito. A coação não pode compor ao mesmo tempo o mundo da essência e o mundo da existência, pois, além de opostos, são excludentes.
Coação é um instrumento, através do qual pretende-se obter alguma coisa, a saber, a recuperação de um Direito não satisfeito.
A Teoria da Coação não pode ser Legitimada por quem a fez vitoriosa: o Positivismo Jurídico
A teoria da coação é criação peculiar do positivismo jurídico, que se instala com o empirista Aristóteles e se prolonga até nossos dias com Hans Kelsen. Os positivistas desprezam toda a outra metade da realidade, a superior e dirigente, representado pelo mundo metafísico, valorizando apenas os fatos e acontecimentos fenomênicos cognoscitivos. Ao fazerem isto, praticam o reducionismo e descartam instrumentos capazes de legitimar fundamentar as suas próprias teorias. Neste mundo positivista estão ausentes os seres metafísicos, a exemplo do Direito Natural e da ideia de Justiça. Ocupam seus lugares os puros fatos da vida social, como o Direito positivo e a ideia de força. Para os Positivistas Direito sem coação é fogo que não queima, é chama que não alumia. 
“ Foi Kant, nos tempo modernos, quem teve a infeliz ideia de transportar a coação para dentro do Direito, dando lugar intra-sistemático”.
O mútuo reforço entre coação e imperatividade em nada melhora o desempenho de nenhuma das teorias
A pesquisa acerca da natureza do Direito e da norma jurídica comporta quatro teorias, são elas: as teorias da coação, da imperatividade, do juízo hipotético e do juízo disjuntivo. As duas primeiras adotam a lógica deôntica (do ser) e as duas últimas a lógica ôntica (do dever ser). Neste época, passou a firmar-se o entendimento, hoje unânime, de que a lógica do ser seria a forma particular de pensamento das ciências da natureza, enquanto a lógica do dever ser seria a adequada ao modo de pensar das ciências sociais e humanas.
Para dar conta do conhecimento da realidade sensível ou fenomenal, haveria, agora, duas espécies de ciências. A ciência natural, pretensamente neutra e causal, e a ciência social ou humana, axiológica e normativa. 
O vínculo entre coação e imperatividade passou a assumir uma das três formas:
absoluta identidade entre os dois conceitos (Kant) – “ a representação de um principio objetivo, na medida em que coage a vontade, denomina-se mandamento (da razão), e a fórmula do mandamento chama-se imperativo”;
a presença da imperatividade ao lado da coação importaria o abrandamento da força no Direito (Max Weber). Estes dois conceitos juntos mitigariam o uso da força pelo Direito por limitar as ações;
a coação teria por objetivo assegurar o cumprimento do comando ou ordem legal, sinônimas de lei ou norma jurídica (Carnelutti). É um pressuposto pratico da eficácia do comando, não um elemento lógico da sua existência. 
O Direito, de que aqui se cuida, é o único que se conforma com a vontade incondicional do monarca absoluto, a saber, o Direito positivo. Para que o absolutismo fosse realmente efetivo, eliminou-se o Direito Natural. E então o Direito, em essência definido como coordenação entre iguais, passou a ser visto como relação de subordinação entre desiguais.
A concepção do Direito como imperativo, por sua origem e naturezas autoritárias, não poderia jamais conformar-se com a concepção democrática de Direito e de Estado. Não nos enganemos, portanto, a respeito de um possível motivo superior de sustentação dessas teorias.
As Normas Constitucionais Programáticas faltariam o comando ou eficácia ou ainda o conteúdo perceptivo ou a imperatividade. A presença desse tipo de norma teria um valor meramente simbólico, desprovidas de um caráter vinculatório. Porém, não alcançar jamais, imporem-se ao juiz, em última instância por lhes faltar imperatividade.
	A afirmação da existência de normas legais desprovidas de juridicidade conduz a uma teoria hoje inteiramente superada, a saber, aquela que proclama necessária lacunosidade do Direito. Lacunosa é a lei; o Direito, não. Não há, na vida social, nenhum ato, por pequeno e insignificante que possa parecer, capaz de subtrair-se à regência do Direito. Existem normas jurídicas sem juridicidade, pois na essência do Direito, sua juridicidade reside em seu caráter intersubjetivo, ou seja, no vínculo de coordenação que ligam pessoas iguais e livres. (Del Vecchio).
	A teoria imperativista se contradiz até mesmo em sua própria denominação, pois “as leis não são costumeiramente escritas em tom imperativo”, a exemplo daquelas do Direito Penal. Até mesmo a norma penal pode não conter imperativos, ou qualquer ordem, quer positiva, quer negativa. A exemplo: matar, furtar etc. Bilding contornou este problema diferenciando norma jurídica de lei: aquela, constituindo um conjunto de imperativos destinados ao povo, e esta, um juízo hipotético dirigido ao juiz. Ao juízo legal matar, expresso, corresponderia ao imperativo normativo não matar, implícito.
	Para Balladore Palliene: se a teoria que identifica a norma jurídica com um comando fosse exata, deixaria de existir, propriamente, Direito e Ciência do Direito, restando apenas fatos políticos e políticas. Outro problema é o psicológico de saber como a vontade de quem comanda poderá influenciar ou determinar a vontade do comandado.
	Bobbio, mesmo diante das intermináveis criticas ao imperativismo, propõe a sua classificação: 1. Imperativos positivos e negativos; 2. Imperativos autônomos e heterônomos; 3. Imperativos pessoais e impessoais; 4. Imperativosgerais e individuais; e 5. Imperativos abstratos e concretos.
	A rigor, todas as versões da teoria imperativista, atraentes como possam ser, abrigam perversa contradição, qual seja: se, de um lado, pretendem reforçar a garantia de eficácia da norma jurídica, em nome da segurança do Direito, um dos valores fundamentais deste, por outro lado, ao proclamarem a existência de normas imperativas (jurídicas) e não imperativas (ajurídicas) na legislação, umas vinculantes e outras não- vinculantes, levam à insegurança e ao descrédito do Direito. Enquanto a segurança prometida pela teoria é de todo ilusória, é real e funesta a insegurança decorrente da negação da aplicabilidade da norma.
Lugar epistemológico da coação jurídica
	P
N 	F=Dir 
	Ñp – S – C 
Lê-se: a norma (N) incide sobre o fato (F), gerando o Direito (Dir); dado o Direito, deve ser a prestação (P) ou a não prestação (ñP); dada a não prestação (ñP) deve ser a sanção (S); dada a sanção (S), deve ser a coação (C). Como se observa, o fenômeno jurídico é constituído de diversas fases ou etapas, com autonomia a partir de concreção do Direito, vale dizer, do nascimento da relação jurídica, as quais se realizam sucessivamente segunda a ordem do tempo.
1ª fase: há, com antecedência, uma norma, que prevê os fatos para a criação do Direito;
2ª fase: surge o fato ou suporte fático da norma, o que desencadeia de moro automático a criação do Direito. A este fenômeno dar-se o nome de concreção, significando que o Direito abstrato, que se continha na norma como modelo, encontrou sua realização, passando a Direito concreto ou Direito-relação;
3º fase: o Direito, uma vez criado, faz nascer para ambas as partes o encargo de cumprir as prestações. Significa o mesmo dizer que as partes da relação estão vinculadas, por direito e obrigações correlatos e recíprocos. Nunca, na relação jurídica, uma parte poderia ter só Direito e a outra, só obrigações. 
4ª fase: satisfeitas de modo integral as prestações respectivas, desfaz-se, também de modo automático, o vinculo que unia as partes. Diz-se, então, que o Direito se consumou, encerrando-se assim o fenômeno jurídico, sem que tenha se verificado, contudo, todas as suas possíveis fases.
Esse processo constitui-se a maneira espontânea e silenciosa de manifestar-se o Direito no mundo existencial. Surge o Direito de modo silencioso, sem a absoluta necessidade de coação. 
O fenômeno jurídico poderá ter o surgimento, terminando em qualquer das fases seguintes, sem precisar ainda percorrê-las todas.
5ª fase: verifica-se o descumprimento de qualquer das prestações a que as partes estavam obrigadas, vale dizer, configura-se a não-prestação ou inadimplência de uma delas. A partir de então se considera possível a caracterização do Direito contencioso;
6ª fase: o poder judiciário, chamado a solucionar a pendência, termina por decidir, por exemplo, que A deve pagar a B, a titulo de obrigação não cumprida, x reais, no prazo de y dias. Interpõe-se a alternativa: acatar ou não acatar a decisão, realizando o pagamento determinado na sentença judicial;
7ª fase: configurando-se o não pagamento deverá partir-se para a execução forçada da decisão judicial. Agora, ou a parte devedora resolve finalmente acatar a decisão, ou, não convencida e inconformada, resiste mais uma vez. Dada a primeira hipótese, outra vez se consuma o Direito sem ter havido coação. 
8ª fase: resistência ao cumprimento da decisão judicial e conseqüente autorização da execução forçada, ainda podendo ser evitado em derradeiro o uso da força se a parte decide não resistir mais, caso contrário ocorrerá a coação forçada do pagamento.
Descumprida que seja a obrigação o Direito já estará comprometido, mesmo que a injustiça tenha sido o recebimento fora do prazo, ou ainda se o devedor não foi encontrado, ou encontrado não pode pagar por não possuir bens etc.
Verifica-se a absoluta primazia do licito sobre o ilícito, pois o Direito se realiza de maneira espontânea em oposição aos raros momentos de sua execução forçada. Isto significa dizer que a coação, toda vez que se manifesta, o faz de forma acidental, com este caráter de contingência que sempre, ate o derradeiro instante, pode ser afastado.
A coação é a instância final e o recurso extremo com vistas à recuperação da obrigação violada. E além do mais, um instrumento muito limitado, sem nada de milagroso ou sobrenatural.
Elenca-se as inconsistências da teoria da coação:
a coação, estando fora da norma e do Direito, não pode ser essência nem de um nem de outro. Ela existe não na norma, nem no Direito, mas em função deste, ou melhor, em razão de ter sido o Direito infringido;
a coação não é sanção, nem com ela deve se confundir. Inexiste, pois, a figura da sanção coativa. A sanção funciona no Direito, como condição preliminar da coação. Sem sanção que autorize o uso da força, é abuso de pode;
a coação é o exercício da força, depende de agente que a acione. Assim, nem a norma jurídica, nem o Direito poderá por si só coagir.
	TEXTO: A ESSÊNCIA DO DIREITO - GLAUCO BARREIRA
Fontes formais do fenômeno jurídico
As fontes formais ou formas de manifestação do Direito têm sempre origem em um poder. A lei procede do poder do Estado no exercício da função legislativa. A jurisprudência também procede de um poder estatal, só que no uso da função jurisdicional. O costume, por sua vez, origina-se do poder difuso da sociedade, enquanto a doutrina impõe-se pelo poder ideológico. 
O que entende-se por Direito Natural não é um Direito Cósmico ou inerente à natureza (sentido amplo). É o Direito fundado na natureza humana, atrelado aos elementos que dignificam o homem. O Direito Natural não pode servir de legitimação de uma livre expressão de impulsos instintivos não orientados finalisticamente pela razão ou não inseridos em limites de razoabilidade. O Direito Positivo deve fundamentar-se no Direito Natural e complementá-lo. O Direito Positivo deve fazer adaptações dos princípios contidos no Direito Natural, sempre se moldando as modificações sociais constantes.
Quando o Direito Positivo se divorcia do Direito Natural ocorre deturpação. Para alguns ainda será Direito, mas Direito corrompido; para outros, ele perderá a juridicidade, tornando-se arbitrariedade. Do ponto de vista individual, se uma norma obriga uma pessoa a praticar injustiça, ela deve resistir à imposição do preceito por razoes da consciência. Se, porém, o sistema legal faz a sociedade sofrer injustiças, um número significativo de jusnaturalistas defende o surgimento do direito de resistência coletiva.
O Direito como fenômeno cultural
	A cultura consiste na alteração que o homem faz na natureza para satisfação de determinado fim que pressupõe um valor. O Direito Positivo é substrato do Direito Natural. Isto não significa que o Direito Positivo deve alterar o Direito Natural para atender os fins arbitrariamente escolhidos pelos homens, mas sim, deve ocorrer uma adaptação das exigências éticas inerentes à natureza humana no contexto histórico, a fim de se atingir concretamente a realização do valor da justiça.
	
O conceito de Direito
	
	3.1 A redução eidética (eidos = essência)
	
	Ocorre no momento em que eu submeto o objeto em minha mente a muitas variações, observando, então, aquilo que não sofreu mutações. O elemento que não sofreu mutações é a essência da coisa. 
A visão egológica do Direito (Carlos Cossio)
Cossio chegou a conclusão de que Direito, como fenômeno existencial, é conduta em interferência intersubjetiva, ou seja, é a conduta apreciada pelas interferências na vida de terceiros. É conduta medida pelo grupo. A conduta jurídica é, do ponto de vista do Direito Positivo, lícita ou ilícita. Sendo licita, o outro tem que suportá-la e, sendo ilícita, o outro tem que exigir uma sanção sobre aquele que agiu inadequadamente. O Direito seria um contínuo de licitudes e um descontínuo de ilicitudes. 
Conduta é o comportamento consciente que só os seres humanos têm. A Éticaé a conduta valorada, apreciada. É a conduta em interferência. A Ética é gênero, enquanto o Direito e Moral são suas espécies, ambas de condutas em interferência, sendo o Direito intersubjetivo (entre os sujeitos - bilateral) e a Moral subjetiva (emana da própria consciência do agente- unilateral).
Mesmo que a conduta imoral prejudique outros, ela é imoral não pelos seus efeitos na vida de terceiros, mas porque feriu o dever e o valor da consciência. Uma pessoa isolada poderia ferir os preceitos da Moral, mas nunca transgredir uma prescrição jurídica, pois não haveria outro para fechar o vinculo jurídico que deve ser bilateral.
O direito subjetivo é a possibilidade, sob a proteção da ordem jurídica, exigir o cumprimento de uma prestação por parte de alguém., o que no supracitado caso, não existiria.
O Direito é coordenação objetiva (Del Vecchio), é alteridade (Tomás de Aquino), é bilateralidade-atributiva (Miguel Reale) é competição de liberdade (Arnaldo Vasconcelos). Onde existir sociedade, existirá Direito.
A finalidade ou valor ético do Direto é a Justiça. 
	Relação entre Direito Positivo (normas) e Direito Natural (princípios)
O Direito Positivo é aquele que está posto pela vontade por meio de normas. O Direito Natural é o Direito pressuposto pela razão por meio de princípios. 
No Direito Positivo a conduta é qualificada como licita ou ilícita no Direito Natural a conduta é qualificada como justa ou injusta. O Direito Positivo injusto é Direito, mas é Direito de má qualidade, pois todo ordenamento jurídico deve ser um ensaio de Direito Justo.
O Direito Natural é modelo do Direito Positivo, não um modelo estático, mas, antes, um modelo conformador dinâmico. É verdade que os princípios básicos de Direito Natural são imutáveis, entretanto eles também são referenciais dos quais se tirarão conclusões para problemas histórico-condicionados. 
Direito Natural
A lei eterna, fonte do Direito Natural, é o princípio diretivo universal presente na razão divina pelo qual a Sabedoria Altíssima conduz a totalidade do universo para o fim supremo da criação. As criaturas, então, participam da lei eterna segundo o grau de sua perfeição na escala dos seres. O homem participa da lei eterna pelo sentir intencional e pela razão. 
Os primeiros princípios de Direito Natural são intuídos imediatamente, sendo, portanto, auto-evidentes. Assim, esses princípios primários são universais e permanentes. Deles se forma uma ordem objetiva de deveres da qual são deduzidos aqueles direitos subjetivos que foram conhecidos como direitos fundamentais da pessoa humana.
O Direito Natural também compõe-se de conclusões práticas. Em sentido mais abrangente, ou seja, mais sociológico do que causuístico, pode-se dizer que as conclusões são adaptações das exigências de justiça contidas nos princípios às necessidades locais de uma sociedade localizada no tempo e no espaço.
Vê-se claramente que acreditar no Direito Natural não é defender a estagnação do Direito Positivo ou opor-se ao avanço das conquistas de direitos subjetivos. A ideia de Direito Natural é plenamente adequada à concepção de aperfeiçoamento cultural e institucional, imprescindíveis à sociedade humana, pois a Lei Natural tem núcleo duro e uma periferia variável.
A sociedade, entretanto, devido à inclinação egoística do ser humano, tende às desigualdades e às desproporções. O Direito Positivo, tendo como fundamento o Direito Natural, é um instrumento de reformas sociais orientadas para a Justiça, mas não sem luta, quer seja esta para a afirmação de direitos humanos, quer para sua correta interpretação. 
O Direito Positivo deve reconhecer os primeiros princípios de Direito Natural, prescrever suas conclusões e estabelecer as determinações. As determinações não podem contrariar o Direito Natural, mas são de natureza totalmente histórico-condicionada, pertencendo, com exclusividade, ao Direito Positivo.

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