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Introdução às macromoléculas Pense no que você comeu em seu almoço. Alguns dos itens do seu almoço tinha um rótulo de "Informações nutricionais" atrás do produto? Se você deu uma olhada nas proteínas, carboidratos ou gorduras do alimento, você pode já estar familiarizado com diversos tipos de moléculas biológicas grandes que iremos discutir aqui. Se você está se perguntando o que algo que soa tão estranho como "moléculas biológicas grandes" está fazendo em sua comida, a resposta é que está lhe fornecendo os blocos de construção que você precisa para manter seu corpo - porque seu corpo também é feito de moléculas biológicas grandes! Assim como você pode ser visto como um conjunto sortido de átomos ou uma bolsa de água ambulante e falante, você também pode ser visto como uma coleção de quatro tipos principais de biomoléculas grandes: carboidratos (como os açúcares), lipídios (como as gorduras), proteínas e ácidos nucleicos (como o DNA e o RNA). Isso não quer dizer que essas sejam as únicas moléculas em seu corpo, mas que as moléculas grandes mais importantes podem ser divididas nesses grupos. Juntos, os quatro grupos de biomoléculas grandes compõem a maioria do peso seco de uma célula. (A água, uma molécula pequena, compõe a maior parte do peso líquido). Biomoléculas grandes executam diversas tarefas em um organismo. Alguns carboidratos armazenam combustível para futuras necessidades energéticas, e alguns lipídios são os componentes estruturais básicos das membranas celulares. Os ácidos nucleicos armazenam e transferem informações hereditárias, das quais a maioria fornece instruções para a formação de proteínas. As proteínas, por sua vez, têm talvez a maior variedade de funções: algumas oferecem suporte estrutural, mas muitas são como pequenas máquinas que desempenham papéis específicos em uma célula, como catalisar reações metabólicas ou receber e transmitir sinais. Vamos analisar com mais detalhes os carboidratos, lipídios, ácidos nucleicos e proteínas alguns artigos adiante. Aqui, nosso foco será mais voltado para as principais reações químicas que formam e quebram essas moléculas. Monômeros e polímeros A maioria das moléculas biológicas grandes são polímeros, longas cadeias feitas de subunidades moleculares repetidas, ou blocos de construção, chamados monômeros. Se você pensar no monômero como uma pérola, então você pode pensar no polímero como sendo um colar, uma série de pérolas juntas em cadeia . Carboidratos, ácidos nucleicos e proteínas são geralmente encontrados na natureza como polímeros longos. Por causa de sua natureza polimérica e seu grande (muitas vezes enorme!) tamanho, eles são classificados como macromoléculas, grande (macro-) moléculas feitas a partir da junção de subunidades menores. Os lipídios geralmente não são polímeros e são menores que os outros três, então não são considerados macromoléculas por algumas referências^{1,2}1,2start superscript, 1, comma, 2, end superscript. Entretanto, muitas outras fontes usam o termo "macromolécula" mais livremente, como um nome geral para os quatros tipos de biomoléculas grandes^{3,4}3,4start superscript, 3, comma, 4, end superscript. Isso é apenas uma diferença na nomenclatura, então não se preocupe muito com isso. Apenas lembre-se que os lipídios são um das quatro principais biomoléculas grandes, mas que eles geralmente não formam polímeros. Síntese por desidratação Como construímos polímeros a partir de monômeros? Moléculas biológicas grandes geralmente agregam-se via reações de síntese por desidratação, em que um monômero forma uma ligação covalente com outro monômero (ou com uma cadeia crescente de monômeros), liberando uma molécula de água no processo. Você pode lembrar como ocorre apenas pelo nome da reação: desidratação - pela perda de uma molécula de água - e síntese - pela formação de uma ligação. Reação de síntese por desidratação entre duas moléculas de glicose, formando uma molécula de maltose com a liberação de uma molécula de água. Na reação de síntese por desidratação acima, duas moléculas de glicose (monômeros) combinam- se para formar uma única molécula de maltose. Uma das moléculas de glicose perde um H, a outra perde um grupo OH, e uma molécula de água é liberada, enquanto uma nova ligação covalente se forma entre as duas moléculas de glicose. Como monômeros adicionais juntam-se a cadeia por esse mesmo processo, a cadeia pode ficar cada vez mais longa e formar um polímero. Mesmo que polímeros sejam feitos de unidades de monômeros repetidas, pode haver muita variedade em sua forma e composição. Carboidratos, ácidos nucleicos e proteínas podem conter diversos tipos de monômeros e sua composição e sequência são importantes para a sua função. Por exemplo, há quatro tipos de monômeros de nucleotídeos no seu DNA, bem como vinte tipos de monômeros de aminoácidos comumente encontrados nas proteínas do seu corpo. Mesmo um único tipo de monômero pode formar diferentes polímeros com diferentes propriedades. Por exemplo, amido, glicogênio e celulose são todos carboidratos feitos de monômeros de glicose, mas eles possuem diferentes padrões de ligação e ramificação. Hidrólise Como os polímeros se transformam em monômeros (por exemplo, quando o corpo precisa reciclar uma molécula para construir uma outra diferente)? Polímeros são quebrados em monômeros através de reações de hidrólise, em que uma ligação é quebrada, ou lisada, pela adição de uma molécula de água. Durante uma reação de hidrólise, uma molécula composta por múltiplas subunidades é dividida em duas: uma das novas moléculas ganha um átomo de hidrogênio, enquanto a outra ganha uma hidroxila (-OH), ambos são doados pela água. Esse é o contrário da reação de síntese por desidratação, e libera um monômero que pode ser usado na construção de um novo polímero. Por exemplo, na reação de hidrólise abaixo, uma molécula de água divide a maltose para liberar dois monômeros de glicose. Essa reação é o contrário da reação de síntese por desidratação mostrada acima. Hidrólise da maltose, na qual uma molécula de maltose se combina com uma de água, resultando na formação de dois monômeros de glicose. Reações de síntese por desidratação constroem moléculas e geralmente requerem energia, enquanto reações de hidrólise quebram moléculas e geralmente liberam energia. Carboidratos, proteínas e ácidos nucleicos são construídos e quebrados através desses tipos de reações, embora os monômeros envolvidos sejam diferentes em cada caso (na célula, os ácidos nucleicos, na verdade, não são polimerizados via síntese por desidratação; iremos estudar como eles são formados no artigo sobre ácidos nucleicos). Reações de síntese por desidratação estão também envolvidas na montagem de certos tipos de lipídios, mesmo que eles não sejam polímeros. No corpo, enzimas catalizam, ou aceleram, ambas as reações de síntese por desidratação e de hidrólise. As enzimas envolvidas em quebrar ligações geralmente recebem nomes que terminam em -ase: por exemplo, a enzima maltase quebra maltose, lipases quebram lipídios e peptidases quebram proteínas (também conhecidas como polipeptídeos, como veremos no artigo sobre proteínas). À medida que a comida viaja pelo seu sistema digestório - de fato, desde o momento que encosta na saliva - ela está sendo digerida por enzimas como essas. As enzimas quebram moléculas biológicas grandes, liberando os blocos menores, que podem ser rapidamente absorvidos e usados pelo seu corpo. Carboidratos Introdução O que há em uma batata? Além de água, que compõe a maior parte do peso da batata, há um pouco de gordura, um pouco de proteína... e muito de carboidrato (aproximadamente 37 gramas em uma batata média). Parte desses carboidratos está na forma de açúcares. Eles fornecem à batata e à pessoa que a come, uma fonte de combustível disponível.Um pouco mais dos carboidratos da batata é em forma de fibra, incluindo os polímeros de celulose que dão estrutura às paredes das células da batata. A maior parte do carboidrato, entretanto, está na forma de amido, longas cadeias de moléculas de glicose ligadas, que é uma forma de estocagem de combustível. Quando você come batatas fritas, chips ou batata assada com todo aquele recheio, enzimas do seu trato digestivo começam a trabalhar nas longas cadeias de glicose, quebrando-as em açúcares menores que suas células podem utilizar. Carboidratos são moléculas biológicas feitas de carbono, hidrogênio e oxigênio em uma proporção de aproximadamente um átomo de carbono (C) para uma molécula de água (H2O). Essa composição dá aos carboidratos o seu nome: são feitos de carbono (carbo-) mais água (- hydrate). As cadeias de carboidrato podem variar de tamanho, e os carboidratos biologicamente importantes pertencem a três categorias: monossacarídeos, dissacarídeos e polissacarídeos. Neste artigo, iremos aprender mais sobre cada tipo de carboidrato, bem como seus papéis energéticos e estruturais essenciais nos humanos e em outros organismos. Monossacarídeos Monossacarídeos (mono- = “um”; sacarídeo- = “doce”) são açúcares simples, o mais comum dentre eles é a glicose. Os monossacarídeos têm a fórmula ( (CH2O)n e geralmente contêm de três a sete átomos de carbono. A maioria dos átomos de oxigênio nos monossacarídeos são encontrados nos grupamentos hidroxila (OH), mas um deles é parte de um grupamento carbonila (C=O). A posição da carbonila (C=O) pode ser usada para categorizar os açúcares: Se o açúcar tem um grupo aldeído, o que significa que a carbonila C é a última na cadeia, ele é conhecido como uma aldose. Se a carbonila C é interna na cadeia e há outros carbonos em ambos os lados desta, há formação de um grupo cetona e o açúcar é chamado cetose. Os açúcares também são nomeados de acordo com o número de seus carbonos: alguns dos tipos mais comuns são trioses (três carbonos), pentoses (cinco carbonos) e hexoses (seis carbonos). Estruturas dos monossacarídeos. Por posição da carbonila: gliceraldeído (aldose), dihidroxiacetona (cetose). Por número de carbonos: gliceraldeído (triose), ribose (pentose) e glicose (hexose). Estrutura do aldeído: carbonila ligada a um H em um lado e a um grupo R (grupo contendo carbono) do outro. Estrutura da cetona: carbonila ligada a grupos R e R' (grupos contendo carbono) em ambos os lados. Imagem adaptada de OpenStax Biology. Glicose e seus isômeros Um monossacarídeo importante é a glicose, um açúcar de seis carbonos com a fórmula C6H12O6. Outros monossacarídeos prevalentes incluem a galactose (que forma parte da lactose, açúcar encontrado no leite) e a frutose (encontrado nas frutas). A glicose, galactose e frutose possuem a mesma fórmula química C6H12O6, mas elas diferenciam- se na organização de seus átomos, tornando-as isômeros uma da outra. A frutose é um isômero estrutural da glicose e da galactose, o que significa que seus átomos estão ligados em ordens diferentes. Glicose e galactose são estereoisômeros (têm átomos ligados na mesma ordem, mas organizados de forma diferente no espaço). Eles diferem em sua estereoquímica em carbono 4. Frutose é um isômero estrutural da glicose e galactose (tem os mesmos átomos, mas eles são ligados em uma ordem diferente). Imagem adaptada de OpenStax Biology. A glicose e galactose são estereoisômeros uma da outra: seus átomos estão ligados na mesma ordem, mas elas têm uma organização atômica tridimensional diferente em um de seus carbonos assimétricos. Você pode observar isso no diagrama, é a mudança na orientação do grupo hidroxila (HO), marcado em vermelho. Essa pequena diferença é suficiente para que as enzimas diferenciem a galactose da glicose, escolhendo apenas um desses açúcares para participar das reações químicas. Formas cíclicas de açúcares Você pode ter notado que os açúcares que observamos até agora são moléculas lineares (cadeias retas). Isso pode parecer estranho, porque os açúcares geralmente são desenhados em anéis. Mas ambos estão corretos: muitos açúcares de cinco- ou seis- carbonos podem existir tanto em cadeia linear quanto em forma de anel. Essas formas existem em equilíbrio umas com as outras, mas o equilíbrio favorece fortemente as formas em anel (particularmente em solução aquosa ou baseada em água). Por exemplo, em solução, a principal configuração da glicose é um anel de seis membros. Mais de 99% da glicose é tipicamente encontrada nessa forma. Mesmo quando a glicose é um anel de seis membros, isso pode acontecer de duas formas diferentes, com diferentes propriedades. Durante a formação do anel, o O da carbonila que é convertido em grupamento hidroxila, será preso ou na parte superior do anel (no mesmo lado que o grupo CH2O) ou abaixo do anel (no lado oposto desse grupo). Quando a hidroxila está abaixo, diz-se que a glicose está em sua forma alfa (α), e quando está acima, diz-se que a glicose está em sua forma beta (β). Formas linear e cíclica de glicose. A forma linear pode converter-se na forma cíclica alfa ou beta, com as duas formas diferindo na posição do grupo hidroxila derivado da carbonila da forma linear. Se a hidroxila estiver em cima (do mesmo lado desse grupo), então, a molécula é beta-glicose e, se estiver embaixo (do lado oposto), então, a molécula é alfa-glicose. Também estão representadas as formas cíclicas de ribose e frutose. Diferente dos anéis de glicose de seis membros, estes anéis têm cinco membros. Imagem adaptada de OpenStax Biology. Dissacarídeos Dissacarídeos (di- = “dois”) formam-se quando dois monossacarídeos se juntam via reação de desidratação, também conhecida como reação de condensação ou síntese por desidratação. Nesse processo, o grupo hidroxila de um monossacarídeo combina-se com o hidrogênio de outro, liberando uma molécula de água e formando uma ligação covalente conhecida como ligação glicosídica. Por exemplo, o diagrama abaixo mostra os monômeros de glicose e frutose combinando-se, via reação de desidratação, para formar sacarose, um dissacarídeo que conhecemos como açúcar comum (Essa reação também libera uma molécula de água, não mostrada no diagrama). Formação de uma ligação glicosídica 1-2 entre glicose e frutose via síntese por desidratação. Figura: OpenStax Biology. Em alguns casos, é importante saber quais carbonos nos dois anéis do açúcar estão conectados por uma ligação glicosídica. A cada átomo de carbono, em um monossacarídeo, é dado um número, começando com o carbono terminal mais próximo ao grupo carbonila (quando o açúcar está na forma linear). Esta numeração é mostrada, acima, para a glicose e a frutose. Em uma molécula de sacarose o carbono 1 da glicose está conectado ao carbono 2 da frutose, então essa ligação é chamada ligação glicosídica 1-2. Dissacarídeos comuns incluem lactose, maltose e sacarose. Lactose é um dissacarídeo que consiste em glicose e galactose e é encontrado naturalmente no leite. Muitas pessoas não podem digerir lactose quando adultos, resultando em intolerância à lactose (com a qual você, ou seus amigos podem estar bem familiarizados). Maltose, ou açúcar do malte, é um dissacarídeo feito de duas moléculas de glicose. O dissacarídeo mais comum é a sacarose (açúcar comum, de mesa) que é composta de glicose e frutose. Dissacarídeos comuns: maltose, lactose e sacarose Figura: OpenStax Biology. Polissacarídeos Uma longa cadeia de monossacarídeos, unida por ligações glicosídicas, é conhecida como polissacarídeo (poli- = “vários”). A cadeia pode ser ramificada ou não-ramificada e pode conter diferentes tipos de monossacarídeos. O peso molecular de um polissacarídeo pode ser bem alto, alcançando 1000000 Dalton ou mais, se monômerossuficientes se ligarem. Amido, glicogênio, celulose e quitina são os principais exemplos de polissacarídeos importantes nos organismos vivos. Polissacarídeos de armazenamento Amido é a forma armazenada dos açúcares nas plantes e é composto de uma mistura de dois polissacarídeos, amilose e amilopectina (ambos são polímeros da glicose). As plantas são capazes de sintetizar glicose usando a energia da luz coletada na fotossíntese. e o excesso de glicose, que estiver além da necessidade imediata de energia da planta, é armazenada em amido em diversas partes da planta, inclusive nas raízes e sementes. O amido nas sementes fornece alimento para o embrião que está germinando e pode também servir como fonte de alimento para seres humanos e animais, que vão quebrá-lo em monômeros de glicose usando enzimas digestivas. No amido, os monômeros de glicose estão na forma α (com o grupo hidroxila do carbono 1 colocado abaixo do anel) e eles estão conectados primeiramente por ligações glicosídicas 1-4 (isto é, ligações em que os átomos de carbono 1 e 4 de dois monômeros formam uma ligação glicosídica). Amilose consiste inteiramente de cadeias não-ramificadas de monômeros de glicose conectados por ligações 1-4. Amilopectina é um polissacarídeo ramificado. Embora a maioria de seus monômeros estejam conectados por ligações 1-4, ligações adicionais 1-6 ocorrem periodicamente e resultam em pontos de ramificação. Devido à forma que as subunidades estão ligadas, as cadeias de glicose na amilose e na amilopectina tipicamente tem uma estrutura helicoidal, como mostrado no diagrama abaixo. No alto: a amilose tem uma estrutura linear e é composta de monômeros de glicose conectados por ligações glicosídicas 1-4. Embaixo: a amilopectina tem uma estrutura ramificada. Grande parte é composta de moléculas de glicose conectadas por ligações glicosídicas 1-4, mas possuem moléculas de glicose conectadas por ligações 1-6 nos pontos de ramificação. Figura: OpenStax Biology. Isso é ótimo para as plantas, mas e quanto a nós? O Glicogênio é a forma de estoque da glicose nos humanos e em outros vertebrados. Como o amido, o glicogênio é um polímero de monômeros de glicose e é ainda mais ramificado que a amilopectina. O glicogênio é geralmente armazenado no fígado e nas células musculares. Quando os níveis de glicose plasmática (glicemia) diminuem, o glicogênio é quebrado via hidrólise para liberar monômeros de glicose que as células podem absorver e usar. Polissacarídeos estruturais Embora a estocagem de energia seja um papel importante dos polissacarídeos, eles são cruciais também por outra razão: fornecer estrutura. A Celulose, por exemplo, é um dos componentes principais nas paredes celulares das plantas, que são estruturas rígidas que rodeiam as células (e ajudam a deixar o alface e outros vegetais crocantes). Madeira e papel são feitos principalmente de celulose, e a própria celulose é feita de cadeias não-ramificadas de monômeros de glicose unidos por ligações glicosídicas 111-444. Fibras de celulose e estrutura molecular da celulose. A celulose é composta de monômeros de glicose na forma beta, e isto resulta em uma cadeia onde a cada dois monômeros, um está de ponta cabeça em relação aos seus vizinhos. Imagem adaptada de OpenStax Biology. Diferente da amilose, a celulose é composta de monômeros de glicose em sua forma β, o que lhe proporciona propriedades muito diferentes. Como mostrado na figura acima, cada monômero de glicose na cadeia está virado na direção oposta de seus vizinhos, o que resulta em uma cadeia longa, reta e não-helicoidal de celulose. Essas cadeias aglomeram-se para formar feixes paralelos que são mantidos unidos por ligações de hidrogênio entre grupos hidroxila. Isso fornece à celulose rigidez e alta resistência à tração , que são importantes para as células vegetais. As ligações β glicosídicas na celulose não podem ser quebradas pelas enzimas digestivas humanas, então os humanos não são capazes de digerir celulose. (Isso não quer dizer que a celulose não é encontrada em nossa dieta, ela apenas passa pelo nosso sistema digestório como uma fibra indigerível, insolúvel). Entretanto, alguns herbívoros, como as vacas, coalas, búfalos e cavalos, possuem micróbios especializados que os auxiliam no processamento da celulose. Esses micróbios vivem no trato digestório e quebram a celulose em monômeros de glicose que podem ser utilizados pelo animal. Cupins também quebram a celulose com o auxílio de microorganismos que vivem em seu intestino. Imagem de uma abelha. O exoesqueleto da abelha (carapaça dura externa) contém quitina, que é composta de unidades modificadas de glicose que possuem um grupo funcional azotado ligado a elas. Crédito da imagem: Louise Docker. A celulose é específica das plantas, mas os polissacarídeos também têm um papel estrutural importante nas espécies não vegetais. Por exemplo, os artrópodes (como insetos e crustáceos) possuem um esqueleto externo duro, chamado de exoesqueleto, que protege suas partes internas, mais moles. Este exoesqueleto é composto da macromolécula quitina, que lembra a celulose mas é composta de unidades modificadas de glicose que contém um grupo funcional com nitrogênio, A quitina também é um importante componente nas paredes celulares dos fungos, que não são nem animais ou plantas, mas formam seu próprio reino. Lipídeos Introdução Às vezes falamos da gordura como se ela fosse uma substância maléfica que corrompe a nossa dieta. Na realidade, as gorduras são pequenas moléculas engenhosas, cada uma composta por três longas caudas de hidrocarbonetos anexadas a uma molécula chamada glicerol, parecida com um gancho. Assim como as demais macromoléculas biológicas, elas desempenham papéis essenciais na biologia dos seres humanos e outros organismos. (Além disso, muitos estudos recentes sobre a dieta consideram o açúcar causador de mais problemas de saúde do que a gordura!) Gorduras são apenas um tipo de lipídio, uma categoria de moléculas unidas por suas inabilidades de se misturarem bem com a água. Os lipídios tendem a ser hidrofóbicos, apolares e feitos em sua maior parte de cadeias de hidrocarbonetos, apesar de haver algumas variações, que explicaremos abaixo. Os diferentes tipos de lipídios têm diferentes estruturas e, correspondentemente, diversas funções nos organismos. Por exemplo, lipídios armazenam energia, fornecem isolamento, compõem membranas celulares, formam camadas repelentes à água em folhas e fornecem blocos de construção para hormônios como a testosterona. Aqui, examinaremos com mais detalhes alguns dos tipos mais importantes de lipídios, incluindo gorduras e óleos, ceras, fosfolipídios e esteroides. Gorduras e óleos Uma molécula de gordura consiste em dois tipos de componentes: um esqueleto de glicerol e três caudas de ácidos graxos. O glicerol é uma molécula orgânica pequena com três grupos hidroxila (OH), enquanto um ácido graxo consiste em uma longa cadeia de hidrocarbonetos ligada a um grupo carboxila. Um ácido graxo típico contém 12 - 18 carbonos, embora alguns tenham somente 4 ou até 36. Para fazer uma molécula de gordura, os grupos hidroxila no esqueleto de glicerol reagem com os grupos carboxila de ácidos graxos em uma síntese por desidratação reação. Isso produz uma molécula de gordura com três caudas de ácidos graxos ligadas ao esqueleto de glicerol via ligações de éster (ligações contendo um átomo de oxigênio ao lado de um grupo carbonila, ou C=O). Os triglicerídeos podem conter três caudas de ácidos graxos idênticas ou três caudas de ácidos graxos diferentes (com diferentes comprimentos ou padrões de ligação dupla). Síntese de uma molécula de triacilglicerol a partir de um esqueleto de glicerol e três cadeias de ácido graxo, com a liberação de três moléculas deágua. Imagem adaptada de OpenStax Biology. Moléculas de gordura são também chamadas de triacilgliceróis, ou, no exame de sangue feito pelo seu médico, triglicerídeos. No corpo humano, as triglicérides são primeiramente estocados em células de gordura especializadas, chamadas adipócitos, que fazem um tecido conhecido como tecido adiposo. Enquanto muitos ácidos graxos são encontrados em moléculas de gordura, alguns também são encontrados livres no corpo e são considerados um tipo de lipídio por si próprios. Ácidos graxos saturados e insaturados Como mostrado no exemplo acima, as três caudas de ácidos graxos de um triglicéride não precisam ser idênticas. Cadeias de ácidos graxos podem diferir em comprimento, bem como em seu grau de insaturação. Se há apenas ligações simples entre carbonos vizinhos na cadeia de hidrocarbonetos, um ácido graxo é tido como saturado. (Os ácidos graxos são saturados de hidrogênio; em uma gordura saturada, o máximo possível de átomos de hidrogênio estão ligados ao esqueleto de carbono.) Quando a cadeia de hidrocarboneto tem ligação dupla, o ácido graxo é tido como insaturado e tem menos hidrogênios. Quando há apenas uma ligação dupla em um ácido graxo, ele é monoinsaturado, ao passo que se houver múltiplas ligações duplas, ele é poliinsaturado. As ligações duplas nos ácidos graxos insaturados, como outros tipos de ligações duplas, podem existir tanto na configuração cis quanto na configuração trans. Na configuração cis, os dois hidrogênios associados à ligação estão do mesmo lado, enquanto em uma configuração trans, eles estão em lados opostos (veja abaixo). Uma ligação dupla cis gera uma dobra no ácido graxo, uma característica que tem consequências importantes para o comportamento das gorduras. Exemplo de ácido graxo saturado: ácido esteárico (forma reta). Exemplos de ácido graxo insaturado: ácido oleico cis (ligação dupla cis, cadeia dobrada), ácido oleico trans (ligação dupla trans, cadeia reta). Figura: OpenStax Biology. Caudas de ácidos graxos saturados são lineares, portanto moléculas de gordura com caudas totalmente saturadas podem se compactar firmemente umas com as outras. Isso resulta em gorduras que são sólidas na temperatura ambiente (têm um ponto de fusão relativamente alto). Por exemplo, a maior parte da gordura da manteiga é saturada. Em contraste, caudas de ácidos graxos cis-insaturados estão ligadas por uma dupla ligação cis. Isso torna difícil para as moléculas com uma ou mais caudas de ácidos graxos cis-insaturados se compactar firmemente. Portanto, gorduras com caudas insaturadas tendem a ser liquidas na temperatura ambiente (têm um ponto de fusão relativamente baixo) - são o que comumente chamamos de óleos. Por exemplo, o azeite de oliva é em grande parte feito de gorduras insaturadas. Gorduras trans Neste ponto, você pode notar que deixei algo de fora: eu não falei nada sobre gorduras insaturadas com ligações duplas trans em suas caudas de ácido graxo, ou gorduras trans. Gorduras trans são raras na natureza, mas são prontamente produzidas em um procedimento industrial chamado de hidrogenação parcial. Neste processo, passa-se o gás hidrogênio em óleos (feitos em sua maioria de gorduras cis- insaturadas), convertendo algumas - mas não todas - as ligações duplas em ligações simples. O objetivo da hidrogenação parcial é conferir aos óleos algumas propriedades desejadas das gorduras saturadas, como a solidez à temperatura ambiente, mas uma consequência não intencional é que algumas das ligações duplas cis mudam a configuração e viram ligações duplas trans. Ácidos graxos trans insaturados podem se compactar mais firmemente e são mais propensos a serem sólidos na temperatura ambiente. Alguns tipos de gorduras vegetais hidrogenadas, por exemplo, contêm uma alta fração de gorduras trans. A hidrogenação parcial e as gorduras trans parecem ser uma maneira conveniente de se obter uma substância parecida com a manteiga, mas com o preço de um óleo. Entretanto, infelizmente, as gorduras trans mostraram ter um impacto bastante negativo sobre a saúde humana. Devido a uma forte ligação entre gorduras trans e doenças coronarianas, a FDA (agência que regula alimentos e medicamentos nos EUA) publicou, recentemente, uma proibição de gorduras trans nos alimentos, dando um prazo de três anos para que as empresas eliminem as gorduras trans de seus produtos. Ácidos graxos ômega Outra classe de ácidos graxos que merece menção inclui os ácidos graxosômega-3 e ômega-6. Existem diferentes tipos de ácidos graxos ômega-3 e ômega-6, mas todos eles são feitos de duas formas básicas precursoras: ácido alfa-linolênico (ALA) para ômega-3 e ácido linoleico (LA) para ômega-6. O corpo humano precisa destas moléculas (e seus derivados), mas não pode sintetizar ALA ou LA . Nesse sentido, ALA e LA são classificadas como ácidos graxos essenciais e devem ser obtidos através da dieta da pessoa. Alguns peixes, como o salmão, e algumas sementes, como chia e linhaça, são boas fontes de ácidos graxos ômega-3. Os ácidos graxos ômega 3 e ômega 6 têm ao menos duas ligações cis-insaturadas, que confere a eles uma forma curva. O ALA, representado abaixo, está bastante dobrado, mas não é o exemplo mais extremo - o DHA, um ácido graxo ômega 3 feito a partir do ALA pela formação de ligações duplas adicionais, tem seis ligações cis-insaturadas e é curvado quase em um círculo! Imagem do ácido alfa-linolênico (ALA), mostrando seu formato encurvado devido às suas três ligações duplas cis. Figura: OpenStax Biology. Os ácidos graxos ômega-3 e ômega-6 desempenham diversas funções diferentes no corpo. Eles são os precursores (matéria inicial) da síntese de muitas moléculas importantes de sinalização, inclusive daquelas que regulam processos inflamatórios e de humor. Os ácidos graxos ômega-3, em particular, podem reduzir o risco de morte súbita causada por ataques cardíacos, diminuir os níveis de triglicérides no sangue, baixar a pressão sanguínea e evitar a formação de coágulos sanguíneos. Função das gorduras As gorduras receberam muita publicidade ruim, e é verdade que comer grandes quantidades de frituras e outros alimentos "gordurosos" podem levar ao aumento de peso e causar problemas de saúde. No entanto, gorduras são essenciais ao corpo e tem um número importante de funções. Por exemplo, muitas vitaminas são solúveis em gordura, o que significa que elas devem ser associadas às moléculas de gordura para serem absorvidas pelo organismo. As gorduras também fornecem uma maneira eficiente de armazenar energia por longos períodos de tempo, já que elas contêm mais de duas vezes mais energia por grama que os carboidratos, e além disso fornecem isolamento para o corpo. Como todas as outras grandes moléculas biológicas, as gorduras na quantidade certa são necessárias para manter seu corpo (e os corpos de outros organismos) funcionando corretamente. Ceras As ceras são outra categoria biologicamente importante de lipídios. A cera cobre as penas de algumas aves aquáticas e a superfície de folhas de algumas plantas, nas quais suas propriedades hidrofóbicas (repelentes de água) não deixam que a água fique aderida ou que atravesse a superfície. Essa é a razão para que a água se acumule nas folhas de muitas plantas, e que as aves não fiquem encharcadas quando chove. Imagem da superfície brilhante de folhas cobertas por cera. Figura: OpenStax Biology. Quanto à estrutura, as ceras tipicamente contêm longas cadeias de ácidos graxos conectados a álcoois por ligações éster, apesar de que ceras produzidas por plantas geralmente também têm hidrocarbonetos simples misturados. Fosfolipídios O que impede a gosma aguada (citosol) dentro de suas células de vazar? As células são cercadas por uma estrutura chamada de membrana plasmática, que servecomo barreira entre o interior da célula e o exterior. Lipídios especializados chamados de fosfolipídios são os componentes principais da membrana plasmática. Como as gorduras, eles são tipicamente compostos de cadeias de ácidos graxos ligados a um esqueleto de glicerol. Em vez de ter três caudas de ácidos graxos, no entanto, os fosfolipídios geralmente têm dois, e o terceiro carbono do esqueleto de glicerol é ocupado por um grupo fosfato modificado. Fosfolipídios diferentes têm diferentes modificadores no grupo fosfato, com a colina (um componente contendo nitrogênio) e serina (um aminoácido) sendo exemplos comuns. Modificadores diferentes conferem aos fosfolipídios diferentes propriedades e funções na célula. Estrutura de um fosfolipídio, mostrando caudas de ácido graxo hidrofóbicas e cabeça hidrofílica (incluindo ligações éster, espinha dorsal de glicerol, grupo fosfato e grupo R ligado no grupo fosfato). Uma membrana formada por fosfolipídios organizados em duas camadas, com as cabeças voltadas para fora, e as caudas agrupadas na região central, também é mostrada. Imagem adaptada de OpenStax Biology. Um fosfolipídio é uma molécula anfipática, ou seja, ele tem uma parte hidrofóbica e outra parta hidrofílica. As cadeias de ácido graxo são hidrofóbicas e não interagem com a água, enquanto o grupo que contém fosfato é hidrofílico (devido à sua carga) e interage de imediato com a água. Em uma membrana, os fosfolipídios são organizados em uma estrutura chamada de bicamada, com suas cabeças de fosfato voltadas para a água, e suas caudas voltadas para a parte interna (veja acima). Esta organização evita que as caudas hidrofóbicas entrem em contato com a água, criando uma disposição estável e de baixo gasto energético. Se uma gota de fosfolipídios é colocada na água, ela pode espontaneamente formar uma estrutura em forma de esfera conhecida como micela, na qual as cabeças de fosfato hidrofílicas ficam voltadas para o exterior e os ácidos graxos ficam voltados para o interior dessa estrutura. A formação da micela é favorecida energeticamente porque sequestra as caudas de ácidos graxos hidrofóbicas, permitindo que o grupo de cabeças hidrofílicas de fosfato interaja com a água circundante. Esteroides Esteroides são outra classe de moléculas de lipídios, identificados por sua estrutura de quatro anéis interligados. Apesar de não se assemelharem a outros lipídios estruturalmente, esteroides são incluídos nessa categoria porque também são hidrofóbicos e insolúveis na água. Todos os esteroides têm quatro anéis de carbono ligados e muitos deles, como colesterol, têm também uma cauda curta. Muitos esteroides também tem um grupo funcional -OH ligado a um sítio específico, conforme representado abaixo para o colesterol; tais esteroides também são classificados como álcoois, e são chamados portanto de esteróis. Exemplos de esteroides: colesterol e cortisol. Ambos têm a estrutura característica de quatro anéis de hidrocarboneto interligados. Figura: OpenStax Biology. O Colesterol, o esteroide mais comum, é sintetizado principalmente no fígado e é o precursor de muitos hormônios esteroides. Esses incluem os hormônios sexuais testosterona e estradiol, que são secretados pelas gônadas (testículos e ovários). O colesterol também serve como matéria- prima para outras moléculas importantes no corpo, incluindo vitamina D e ácidos biliares, que auxiliam na digestão e absorção das gorduras de origens dietéticas. É também um componente chave das membranas celulares, pois alteram sua fluidez e dinâmica. O colesterol é encontrado também na corrente sanguínea, e os níveis sanguíneos de colesterol são o que geralmente ouvimos sobre no consultório médico ou em reportagens. O colesterol no sangue pode ter ambos efeitos protetivos (em sua forma de alta densidade, ou HDL) e efeitos negativos (em sua forma de densidade baixa, ou LDL) na saúde cardiovascular.
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