Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
1 OPERAÇÃO DE BROCHAMENTO Eng. Clayton T. Martins Hurth Infer – Ind. Máq. e Ferramentas LTDA 02/2005 2 Operação de Brochamento Introdução A operação de brochamento consiste do arranque de material da peça por uma sucessão progressiva e linear de gumes de corte. A ferramenta é denominada brocha. A máquina que executa esta operação é denominada brochadeira. É uma operação voltada para a produção de grandes lotes, pois cada operação exige o projeto e a execução de uma ferramenta própria, complexa e de alto custo. Brochadeiras As brochadeiras consistem basicamente de um mecanismo capaz de produzir o movimento relativo entre a ferramenta e a peça, que normalmente é linear. A grande maioria das máquinas é acionada hidraulicamente devido a grande força necessária. Pode-se ter máquinas verticais, como a apresentada na figura 1, que ocupam menos espaço e que normalmente trabalham com compressão da ferramenta. Algumas máquinas trabalham com compressão e tração simultaneamente. Há também as máquinas horizontais, como a representada pela figura 2, são mais utilizadas, pois torna viável o uso de longas ferramentas, o que traz vantagens em termos de produtividade. Normalmente trabalha apenas com força de tração na ferramenta. É muito empregada na construção de peças com chaveta brochada. 3 Em alguns casos faz-se necessário o giro da ferramenta durante o movimento de usinagem para se obter o brochamento helicoidal, cuja aparência pode ser observada na figura 3 Nestes casos a brochadeira horizontal é quase sempre a única opção. 4 Para ângulos de hélice pequenos (até 20 º) a rotação da ferramenta é assegurada pelo próprio conjugado produzido pela ação da força de corte, sem perigo de danificar a ferramenta ou a peça. Este é o brochamento helicoidal comum. Quando o ângulo da hélice é superior a 20 º , o movimento de rotação deve ser comandado pela montagem de brochamento, e é chamado de brochamento helicoidal comandado. Existem ainda as brochadeiras cuja mesa é que se movimenta levando a peça contra a brocha conforme figuras 4 e 5. Nesse caso denomina-se brochadeira Table Up. É um tipo de máquina mais econômica e versátil que a brochadeira vertical comum porque ocupa menos espaço e dispensa a construção de foço ou porão e gera uma melhor qualidade no brochado em comparação com a brochadeira horizontal. A Hurth Infer oferece ainda a brochadeira Table Up em diferentes capacidades de força, desde 12 até 35T, e com curso para brochas de até 2,5m. Um acessório muito bem aceito pelos usuários desse tipo de máquina é a troca rápida e automática da ferramenta durante o setup. Para isso a máquina conta com magazine porta brochas similar ao de um centro de usinagem, onde o operador chama a ferramenta que irá utilizar e esta vem para a posição de trabalho sem necessitar do manuseio ou intervenção humana. O que reduz o risco de acidente. 5 Aplicação A finalidade do brochamento é usinar superfícies especiais como as mostradas pela figura 6. Pode-se ter brochamento interno, quando se executa superfícies fechadas, ou brochamento externo, quando se executa superfícies abertas. O processo de brochamento interno, que é o mais comum, consiste na transformação de um furo redondo em um furo de perfil qualquer de maneira progressiva. 6 A figura7 ilustra alguns exemplos onde se pode perceber a evolução da forma do furo. No exemplo da esquerda o furo ganha gradualmente quatro ranhuras. Já no exemplo central o furo evolui para uma forma com seis pontas e, finalmente, no exemplo da direita pode-se observar que o furo redondo evolui para um furo quadrado. Métodos de brochamento Pode-se classificar a operação de brochamento de várias maneiras. Tem-se: TIPO DE SUPERFICIE DIREÇÃO DO MOVIMENTO TIPO DE MOVIMENTO APLICAÇÃO DO ESFORÇO TIPO DE BROCHAMENTO Interna * Vertical da Ferramenta * por Tração * Helicoidal Normal Externa Horizontal * da Peça por Compressão Helicoidal Comandado Normal (brocha reta) * Mais comum utilizado 7 Brochas As brochas internas de tração, que são as mais utilizadas, possuem três partes principais, que são: haste ou cabo, dentadura e guia posterior (com ou sem suporte). Todas estas partes podem ser observadas na figura 8. A haste é formada pela cabeça de tração e pela guia de entrada (ou guia anterior). A dentadura é composta de três partes, que são dentadura de desbaste, de acabamento e de calibração. Quando o brochamento é executado apenas por tração a guia posterior não possui o suporte, que é utilizado quando também utiliza-se força de compressão. Já, as brochas internas de compressão, não possuem a cabeça e o cabo, ou seja, a haste é composta apenas da guia anterior, como pode-se observar pela figura9. As demais partes da brocha são as mesmas. Deve-se observar que a nomenclatura dos dentes desta figura está diferente da apresentada anteriormente. Alguns autores adotam o primeiro padrão apresentado e segundo, mas a finalidade e forma dos dentes são as mesmas. 8 A cabeça de tração é a parte da brocha onde se conecta o dispositivo de tração da Brochadeira. Sua forma depende do tipo de fixação permitida pela máquina. Há vários padrões, como mostra a figura10. A guia anterior tem por finalidade centrar a ferramenta no furo inicial. Deve ter um comprimento mínimo igual ao comprimento a ser brochado (espessura da peça) e seu diâmetro deve ser igual ao do furo inicial. Na figura11 tem-se um exemplo de uma guia anterior em ação, ou seja, centrando e guiando a brocha. 9 A guia posterior tem diâmetro igual ao mínimo diâmetro da forma brochada para que possa passar por ela. Seu comprimento é usualmente adotado entre 0.5 ou 0.7 do comprimento a ser brochado (desde que não seja menor que 10 mm). A dentadura é responsável pela remoção do material. Como já foi dito, é composta de três partes: desbaste, acabamento e calibração. A região de calibração possui de 3 a 6 dentes, todos com a mesma dimensão, e que tem por objetivo, como o próprio nome diz, calibrar a forma e dar o acabamento final. O aspecto das ferramentas para brochamento helicoidal é um pouco diferente das já apresentadas. A figura12 apresenta exemplos de brochas helicoidais. Geometria dos dentes A figura13 apresenta uma vista em perspectivados dentes de uma brocha onde é possível notar as principais superfícies além das ranhuras quebra-cavaco. 10 Os detalhes geométricos podem ser melhor observados na figura14. A distância entre um dente e outro é definido como P, ou seja, o passo dos dentes. A altura medida entre o fundo do dente e a ponta de corte é h. Tem-se os ângulos de saída (αo) e folga (a). A diferença entre as alturas dos gumes cortantes (a) é o avanço. Os raios de concordância R e r devem ser definidos de forma ajudar a formação do cavaco, buscando não parti-lo, como mostra a figura13. O cavaco bem formado enrola-se e não possui arestas pontiagudas em contato com a ferramenta. Um cavaco que se parte gera diversas arestas que podem danificar o acabamento da peça que está sendo usinada e também a própria ferramenta. 11 A seguir é apresentado o mecanismo de formação do cavaco com os dentes da brocha em penetração na peça. As figuras 16 e 17 servem para demonstrar essa operação em detalhe. 12 Condições de Usinagem As condições de usinagem são referenciadas por tabelas. É mais simples de se determinar o avanço devido inúmeros testes realizados e ensaiados por técnicos que elaboraram uma tabela de avanços. Essa tabela é recomendada pela norma DIN8580: Material Avanço [m/min] Aços de boa usinabilidade 6 - 10 Aços de 700 a 800 N/mm2 3 - 6 Aços muito duros (de 800 a 900 N/mm2) 1 - 3 Ferro Fundido maleável 5 - 9 Ferro Fundido cinzento 6 - 9 Latão e Bronze 8 - 12 Ligas de Alumínio 10 - 14 Muitas máquinas são equipadas com dial de avanço, porém um bom número não funciona adequadamente ou em alguns casos não o tem. Para o operador avaliar se o avanço da máquina está devidamente enquadrado na tabela acima, pode ser realizada a verificação manual do avanço. Para isso necessita-se de um cronômetro para medir o tempo que a brocha leva para passar pela peça. Também é necessário conhecer o comprimento total da brocha, o que pode ser obtido pelo desenho ou por medida aproximada com trena. A fórmula para esse cálculo é apresentada a seguir: t = tempo que a brocha passa pela peça (s) c = comprimento total da brocha (m) A = avanço da brocha (m/min.) A = c x 60 t Exemplo: t = 40s c = 2,5m A = 2,5 x 60 � A = 150 � A = 3,75m/min. 40 40 13 Limpeza da Ferramenta Os cuidados com a limpeza da ferramenta durante o uso e no armazenamento são essenciais para um aumento da vida útil da ferramenta. Por isso recomenda-se a utilização de escovas com cerdas de nylon na limpeza da ferramenta por mecanismos basculante. Dessa forma a limpeza se realizará no sentido das costas dos dentes para frente. A figura18 a seguir apresenta um exemplo de ferramenta utilizada sem a devida limpeza. Isso ocasionou o lascamento e desgaste prematuro dos dentes. Nesse exemplo, a ferramenta produzia ~1000 peças e era reafiada. Em alguns casos havia até quebra e perda da ferramenta. Depois de avaliadas as possíveis melhorias, optou-se em instalar uma escova de nylon para limpeza da brocha. O resultado foi a elevação na quantidade de peças por afiação para 5000, com uma remoção mínima de material no peito de corte dos dentes. Óleo Refrigerante A boa refrigeração da peças durante o brochamento também é fundamental para um melhor rendimento da ferramenta e pela boa qualidade do produto. São utilizados diversos tipos de refrigerantes, tais como óleos vegetais, óleos de corte preparados, óleos de corte emulsáveis e produtos sintéticos solúvel em água. Suas funções são: - refrigerar; - lubrificar (diminuir atrito): - remover cavacos; - proteger a peça e a máquina contra corrosão. As qualidades do meio refrigerante e lubrificante geralmente são contrárias entre si. Assim, para melhor refrigeração e fácil remoção de cavacos é indicado um meio de baixa viscosidade, enquanto que o meio de alta viscosidade tem o filme lubrificante entre a ferramenta e a peça mais resistente. 14 O operador deve sempre estar atento ao fluxo de óleo que sai dos bicos de refrigeração e interromper o ciclo caso ocorra baixa vazão ou falha. Principalmente nos casos onde a brocha tem diâmetros acima de 100mm de diâmetro a atenção deve ser redobrada por se tratar de perímetro que requer mais vazão para alcance do jato de óleo. A limpeza e verificação dos tanques e reservatórios da máquina devem ser feitas semanalmente para evitar entupimento dos bicos e danificar as bombas. 15 Adequado armazenamento de brochas Para evitar empenamento, batidas e outros incidentes com as brochas e que impossibilitem seu uso, sugere-se que sejam devidamente armazenadas em suporte tipo “Varal” conforme figura 20. Presas pelo puxador frontal ou pelo traseiro, assegura-se assim que não ocorrerá empenamento e a exposição a batidas será minimizada. Tomada de ações na operação de brochamento À seguir são apresentadas as ocorrências mais freqüentemente observadas na operação de brochar e as ações indicadas a se tomar: Causa Defeito Ações Placa de apoio batida ou mal fixada Alta excentricidade e batida na face do produto 1) limpar a placa e monta-la novamente; e ou 2) substituir a placa e enviar a danificada para recuperar; e ou 3) ajustar utilizando calço apropriado. Desalinhamento entre puxador traseiro e dianteiro na máquina Alta excentricidade e batida na face do produto 4) acionar o setor de manutenção e solicitar um realinhamento dos puxadores. Brocha com dentes batidos ou com desgaste excessivo Mal acabamento na superfície gerada pela brocha e excentricidade .elevada 5) enviar a brocha para reafiar e remover desgaste ou lascamento; e ou Folga excessiva entre o dia. do pré- furo e o dia. da guia da brocha. Excentricidade elevada 6) O dia. do pré furo deve ser ajustado para 0,05mm maior que o dia. da guia da brocha visando maior ajuste para inicio do brochado. Rebarbas deixadas pela operação de torno no pré-furo. Excentricidade elevada 7) Solicitar execução de pequeno chanfro de alívio para quebra canto e rebarbas na entrada e saída do pré-furo. Brocha empenada Excentricidade e batida nas faces do produto elevadas. 8) enviar a brocha para avaliação de retrabalho; e ou 9) substituir a ferramenta. 16 Bibliografia Hoffmann Raeumpraxis – Kurt Hoffmann Dilson Pahl – Apostila Técnica – SP Sucesso aos colegas e parceiros!
Compartilhar